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O MST NA GESTÃO DA ESCOLA ITINERANTE INSTITUCIONALIZADA

PELO ESTADO NO PARANÁ

Vanderlei Amboni1
Natieli da Silva Celestino2

Introdução

Escolas existem em acampamentos de Sem Terras desde o início das ocupações de


terras que deram origem ao MST no início dos anos 1980, porém a denominação
Escolas Itinerantes é usada no MST desde 1996 para designar estas escolas presentes
em acampamentos, quando da luta e legalização destas escolas pelo estado do Rio
Grande do Sul. Posteriormente, Escolas Itinerante foram criadas em outros estados
do país como no Paraná em 2003, Santa Catarina em 2004, Goiás e Alagoas em
2005 e Piauí em 2008, [...] Estas possuem a particularidade de se encontrarem em
contextos de luta social, de contestação da propriedade privada, de concentração de
populações marginalizadas, de desenvolvimento de coletivos e de auto-organização
dos acampados (DALMAGRO, 2016, p. 03).

Partimos de uma premissa básica do marxismo, sob a qual “homens e mulheres


fazem sua própria história”, mas eles “não a fazem livres de qualquer limitação
material e com uma série ilimitada de possibilidades. “Eles a fazem” sob determinadas
circunstâncias e o “processo histórico concreto depende, em primeiro lugar, do resultado
de suas lutas (‘fator subjetivo da história’)”, sendo “‘subordinados’ por uma série de
fatores históricos e sociais sobre os quais não tem controle direto (‘os fatores objetivos
da história’). Mas essa ‘sobredeterminação’ nunca é de tal forma que abre apenas uma
única possibilidade histórica” (MANDEL, 2001, p. 34). O campo da história é a
materialidade das lutas de classes, na qual os homens escrevem a história com letras
indeléveis de sangue nas sociedades de classes. Portanto, comer, beber, vestir-se, ter um
teto para se abrigar é parte constitutiva da existência do homem por ter-se “afastado da
barreira natural”, tendo que produzir pelo trabalho sua própria reprodução humano-
social, que é condição sine qua non para fazer sua própria história e eles a fazem na
diversidade da vida. Na produção da vida há a reprodução social da existência do
homem e este processo é materializado no processo de acumulação do conhecimento e
na reprodução do conhecimento de forma sistematizada, passo este dado pela sociedade
e por grupos sociais no interior da sociedade. Há, portanto, uma educação dada pela
sociedade e outra dada no interior dos grupos sociais que compõem a sociedade. Para
exemplificar, temos o MST e a materialidade da educação no seu interior. Ou seja o
MST não descola das lutas da reforma agrária seu projeto educacional. Nesta
perspectiva, o MST sustenta que “a escola não pode ter uma finalidade em si mesma”,
pois “ela sempre reflete seu tempo e por isso deve se colocar a serviço das necessidades
concretas do grupo social que a está usando e fazendo”. Dessa forma, “deve
1
Doutor em Educação..
2
Educadora da Escola Itinerante Herdeiros de Porecatu e da Coordenação do Setor de Educação do
MST-Paraná, Licenciada em Letras pela Universidade Estadual de Londrina (UEL)
instrumentalizar para a ação imediata e preparar para a construção do futuro”. Portanto,
o MST sustenta que o “grande objetivo da escola deve ser a de educar sujeitos para a
transformação da realidade atual” (MST, 1992, p. 04). Diante do exposto, a escola para
o MST, além do processo de escolarização universal, deve cumprir com um ato político,
cujo centralidade é a formação de quadros, sob a qual desenvolve os princípios
filosóficos e pedagógicos3, que é peculiar às formas de sua organização educacional. A
escola, portanto, está no horizonte das lutas do MST e, coloca no plano das lutas a
ocupação da escola pública, quer sejam para as áreas de assentamento, quer sejam em
territórios de ocupação. A escola do MST no nosso plano de estudo é a escola itinerante
nos marcos da educação pública no Paraná. Na exposição do objeto faremos referência à
escola itinerante no espaço do acampamento do MST, a escola que se faz na luta da
reforma agrária.
A escola pública institucionalizada no acampamento do MST é a materialização
de uma utopia e uma emulação à luta por reforma agrária. Pacientemente a vida no
acampamento segue sua rotina de trabalho e de organização social, pois produzir a vida
humano-material é um ato necessário à reprodução do homem de forma imediata, cuja
necessidade é imposta pelo ato de comer, beber, vestir-se e abrigar-se de forma contínua
e perene. Um ato imposto ao homem quando este, na luta pela vida, se afastou da
barreira natural e necessita produzir os meios que garantam sua reprodução humana. Os
meios primários para obtenção do necessário à vida é a posse da terra, ou seja, possuir a
terra para plantar, colher, alimentar-se como ato humano. Neste ato de possuir a terra
implica uma determinada relação que os homens estabelecem entre si como propriedade
e com ela, uma determinada relação de trabalho constituída pelos homens no seu dever
histórico. A terra ocupada traz, portanto, um determinado modo de produção da vida
social.
No Brasil, a vida social foi impactada com a construção do trabalho escravo de
negros e índios (negros da terra) alicerçada sob o domínio da grande propriedade
territorial. Desde seu nascimento, o Brasil possui uma terra concentrada, e traz as
marcas das desigualdades e uma intensa luta de classes pela posse da terra, quer como
território (indígena, quilombolas etc.), quer como propriedade (desconcentração da
terra) via reforma agrária. Há, portanto, uma necessidade social de regulamentação da
posse da terra em suas várias frentes de lutas, sem perder a dimensão da realidade
histórico-social dos grupos sociais (sujeitos) que colocam em disputa o espaço territorial
e sua natureza de luta. Na luta pela terra outros sujeitos se incorporam pela perda da
propriedade em virtude de ações jurídicas ou por construções de barragens, aumentando
o fosso das desigualdades e um crescimento constante de sem-terra. Dessa forma, há
singularidades nas lutas de classes pela posse da terra, cujo objeto deste trabalho é
analisar um movimento específico (MST), que na luta por terra, trouxe um polo
importante para o acolhimento familiar, que é a luta e conquista da escola na espera a
reforma agrária, que foi cristalizada pelo MST, uma escola sob seus interesses, uma
3
A educação no MST: Princípios filosóficos: 1) educação para a transformação social; 2) educação para
o trabalho e a cooperação; 3) educação voltada para as várias dimensões da pessoa humana; 4) educação
com/para valores humanistas e socialistas; e 5) educação como um processo permanente de
formação/transformação humana. Princípios pedagógicos: 1) relação entre prática e teoria; 2)
combinação metodológica entre processos de ensino e de capacitação; 3) a realidade como base da
produção do conhecimento; 4) conteúdos formativos socialmente úteis; 5) educação para o trabalho e pelo
trabalho; 6) vínculo orgânico entre processos educativos e processos políticos; 7) vínculo orgânico entre
processos educativos e processos econômicos; 8) vínculo orgânico entre educação e cultura; 9) gestão
democrática; 10) auto-organização dos/das estudantes; 11) criação de coletivos pedagógicos e formação
permanente dos educadores/das educadoras; 12) atitude e habilidades de pesquisa; e 13) combinação entre
processos pedagógicos coletivos e individuais (MST, 1996).
escola para escolarizar e também formar seus quadros. Nesta perspectiva, Saveli afirma
que
O MST tem muita clareza quando marginaliza a escola real, falida, que chega às
camadas populares, e também busca uma experiência alternativa sem cair em
proposições imaginárias, mas mergulhada no cotidiano das relações sociais. Só assim
é possível a construção da Escola Necessária para se defender como classe e para a
transformação coletiva de sua condição de classe. Este é, com certeza, um grande
projeto político social (SAVELI, 2000, p. 29).
O foco deste trabalho é a escola itinerante 4 no acampamento5 do MST. Não é
uma escola qualquer, é uma escola com base social, uma escola que forma os sujeitos
para “defender-se como classe”, que possui princípios filosóficos e diretrizes
pedagógicas e que estão alicerçados nas ações do Movimento e no trabalho do campo,
conforme veremos nas páginas seguintes.

O MST na ocupação da escola no campo


A escola no MST emerge na luta pela terra, pois o processo de ocupação do
latifúndio não é um ato isolado do homem, mas traz a família no campo das lutas da
reforma agrária. Em 07 de setembro de 1979 foi feita a ocupação das fazendas Macali e
Brilhante no Rio Grande do Sul, a primeira ocupação de terra realizada por sem-terra,
sob liderança de João Pedro Stédile. Antes do nascimento do MST, uma ala disposta a
radicalizar a luta por reforma agrária imprimi as marcas das lutas sociais por terra,
estabelecendo o princípio da ocupação como forma de pressão política junto ao governo
para efetivar a conquista da terra. Neste aspecto, as ocupações de terra se tornaram uma
ferramenta de expressão camponesa na luta pela democratização do acesso à terra e, ao
mesmo tempo, de contestação do autoritarismo presente na sociedade brasileira.
No processo de ocupação do latifúndio está presente a família e, com ela, os
problemas de escolarização dos filhos. Esta história inicia em 1985, no acampamento da
Fazenda Anonni em Sarandi (RS). Como a vida no acampamento é uma vida de
incerteza, mas carregada de esperança, aparece no interior do movimento a preocupação
em não perder o ano letivo, com o processo de formação escolar, pois o saber sem o
comprovante de escolaridade não há o pleno reconhecimento social. Na ocasião, a
equipe de educação trouxe a discussão sobre a escola pública no acampamento, para que
as crianças não perdessem o ano escolar. Trouxeram algo novo e inusitado para as
lideranças do movimento, “pois isso significava trazer para dentro de uma situação de
conflito e de mobilidade uma instituição que representa uma dimensão de estabilidade”
(SAVELI, 2000, p. 21). Saveli destaca que Caldart explica que naquele momento “havia
4
“As escolas itinerantes são escolas públicas que compõem a rede estadual de ensino e são aprovadas
pelos Conselhos Estaduais de Educação. Por se movimentarem com a luta, têm de estar vinculadas
legalmente a uma escola base que é responsável por sua vida funcional: matrícula, certificação, verbas,
acompanhamento pedagógico etc. Geralmente, a escola base localiza-se em um assentamento do MST,
referenciando-se no projeto educativo do Movimento” (BAHNIUK; CAMINI, 2012, p. 332). Elas “[...] se
materializam, por vezes, em barracos de lona utilizados como salas de aula, mas também se fazem em
outros espaços como na beira da estrada, nas marchas, nas ocupações de latifúndios e prédios públicos, e
em outros tipos de mobilizações. Enfim, acompanhando o itinerário do acampamento. Estas escolas são
escolas públicas da rede estadual de ensino, conquistadas por meio de pressões, mobilizações e
financiadas pelo Estado” (MST, 2010, p.19).
5
O Acampamento é um território do MST constituído por barracos de lona preta, que se encontra em uma
área ocupada pelo movimento, cujo objetivo é ocupar, resistir, produzir de forma organizada para forçar o
Estado a realizar a reforma agrária.
mais uma intuição sobre a necessidade de lutar também por este direito de cidadania que
é a educação, do que propriamente a clareza da relação que poderia haver entre o acesso
à escola e a condução da luta pela terra e pela Reforma Agrária” (CALDAT apud
SAVELI, 2000, p. 21). Nesta luta por terra se conquistou na escola em 1986, tornando
este ato um fato histórico, um ato singular dentro das lutas de classes, “pois ao colocar
uma escola oficial num acampamento, o Estado estava, contraditoriamente,
reconhecendo a legitimidade daquela ocupação” (SAVELI, 2000, p. 21).
Mas a escola debatida pelo movimento teria uma conotação distinta, pois seu
fazer teria que ser diferente, uma escola que se adequasse aos interesses da luta da
reforma agrária.
A luta pela escola, portanto, é uma luta política que toma corpo com o processo
de redemocratização da sociedade e as lutas sociais por uma constituinte que espelhasse
o sentimento da nação. Em 7 de setembro de 1979, portanto, foi o marco na luta por
reforma agrária, pois pôs em movimento uma categoria de trabalhadores expropriados e
marginalizados, cujo interesse material era ter acesso a terra e, para esse fim, se
mobilizaram como categoria social de trabalhadores sem-terra e se organizaram
politicamente com o objetivo de romper os entraves políticos postos à reforma agrária,
com a ocupação das fazendas Macali e Brilhante. No processo da luta por terra, em
1985, ganhou força a intenção de conquistar também a escola no acampamento, tendo
em vista a particularidade das ações, pois estas envolviam a família, e com ela, as
crianças se tornam sujeitos de ação também de luta por terra e educação. Portanto, o
movimento se pôs em ação na defesa da escola no acampamento, pois esta, de acordo
com Caldart, se coloca no âmbito do direito de cidadania, portanto, uma luta necessária
a ser desenvolvida pelo MST. Para esse fim, o Movimento assume algumas tarefas
como: “[...] organizar e articular por dentro de sua organicidade esta mobilização,
produzir uma proposta pedagógica específica [...], e formar [...] educadores capazes de
trabalhar nesta perspectiva” (CALDART, 2003, p. 62).
Com a constituição de 1988, avanços e permanências aconteceram, mas nos anos
vindouros milhares de famílias sem-terra foram assentadas, conquistando a terra e a
escola. Portanto, as pressões se intensificam e, com ela a agudização das lutas de classes
emparelhando o poder público a dar respostas. Os camponeses querem mais, querem
uma escola no campo que traga uma educação do campo para os povos que habitam o
campo. No calor desta luta conquistam em 1996, no Rio Grande do Sul, a Escola
Itinerante nos acampamentos do MST e, em nível nacional, a LDB 9394/96, que
estabelece no Artigo 28, uma educação para a população do “meio rural” uma
adequação educacional às peculiaridades da vida no campo nas suas dimensões
regionais. Para tanto, a educação básica do campo deve ter:
I - conteúdos curriculares e metodologia apropriadas às reais necessidades e interesses
dos alunos da zona rural;
II - organização escolar própria, incluindo a adequação do calendário escolar às fases do
ciclo agrícola e às condições climáticas;
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural (BRASIL, 1996, p. 25).
Este marco de conquista da educação no campo pôs em movimento a
constituição de um Movimento por uma Educação Básica do Campo, cuja premissa era
uma educação que ressignificasse o campo, o trabalho e os sujeitos que habitam o
campo. Dessa forma, no corpo da lei, o campo foi reconhecido como locus de educação,
com o reconhecimento de suas funções sociais com as peculiaridades de vida dos povos
que habitam o campo, com sua identidade e natureza do trabalho de forma diversa e
plural, com necessidades educacionais que respeitem a pluralidade regional e as
particularidades do aluno do campo, conforme destacou a LDB.
Como não há imobilidade na vida humano-material, as lutas e mobilizações
sociais são perenes na conquista de objetivos. Na luta por educação do campo, os
movimentos sociais conseguiram levar o Estado a reconhecer a necessidade de pensar
uma norma específica à educação aos povos do campo, passo que foi dado pelo
Conselho Nacional de Educação, que em 2002 aprovou as Diretrizes Operacionais para
a Educação Básica nas Escolas do Campo, que foi normatizada pela Resolução
CNE/CEB n. 1, de 3 de abril de 2002. Essa resolução, em seu artigo 13, pontua que a
proposta pedagógica da escola do campo deve valorizar “na organização do ensino, a
diversidade cultural e os processos de interação e transformação do campo”, como eixo
central as atividades ligadas ao mundo do trabalho no campo, cuja identidade “é
definida pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade, ancorando-se na
temporalidade e saberes próprios dos estudantes”. Nesta relação traz a experiência de
vida como eixo norteador do processo pedagógico conforme argumenta Arroyo, pois
“os processos educativos passam pelo conjunto de experiências, de vivências que o ser
humano tem ao longo de sua vida. E a experiência que nos marca a todos é a
experiência do trabalho, da produção, o ato produtivo que nos produz como pessoas”
(ARRROYO, 2004, p. 76). Neste campo, Thompson parte da premissa que “as pessoas
não experimentam sua própria experiência apenas com ideias, no âmbito do pensamento
e de seus procedimentos, ou (como supõem alguns praticantes teóricos) como instinto
proletário”, elas experimentam sua existência material também como sentimento e
“lidam com esses sentimentos na cultura, como normas, obrigações familiares e de
parentesco, e reciprocidades, como valores ou (através de formas mais elaboradas) na
arte ou nas convicções religiosas” e esta forma de agir “pode ser descrita como
consciência afetiva e moral” (THOMPSON, 1981, p. 189). Entretanto, há um campo
ideológico onde os sujeitos atuam e buscam consolidar sua hegemonia de classe ou
grupo de classe. Neste terreno, temos concordância com Dias, para quem “a Educação é
a forma pela qual as classes estabelecem – ou podem estabelecer – sua hegemonia”
(Dias 2011, p. 44), que na compreensão de Gramsci, é o poder da sociedade civil
exercido sobre a sociedade política, por isso, o domínio de classe se manifesta na
sociedade moderna por meio das leis universais, como é o caso da educação do campo.
Experiência proletária e hegemonia política são resultados das lutas de classes, na qual o
MST está inserido na luta por reforma agrária e educação do campo. Na ocupação da
escola, o setor de educação do MST desenvolve 10 princípios orientativos 6 de como
deve ser uma escola de assentamento. O MST mostra, com isso, que quem quer a escola
deve ter um projeto educacional que consagre escolaridade, produtividade, prática
social, experiência com formação de militante. Esses princípios são adotados nas
escolas do campo do MST (assentamentos e acampamentos), cujo primado pedagógico
segue a orientação da escola do trabalho soviética.
A ocupação da escola pelo MST, nesta conjuntura, é o sintoma de uma sociedade
que coloca um segundo plano a educação no campo, cujo ausência de políticas públicas
6
Princípios de orientação da escola no MST: 1 - A Escola do Assentamento deve preparar as crianças para
o meio rural; 2 – A escola deve capacitar para a cooperação; 3 - A Direção da Escola deve ser coletiva e
democrática, 4 – A Escola deve refletir e qualificar as experiências de trabalho produtivo das crianças no
Assentamento; 5 – A Escola deve ajudar no desenvolvimento cultural dos Assentados; 6 – O Ensino deve
partir da prática e levar ao conhecimento científico da realidade; 7 – O Coletivo da Escola deve se
preocupar com o desenvolvimento pessoal de cada aluno; 8 – O professor tem que ser militante; 9 – A
Escola deve ajudar a formar militantes e exercitar a mística da luta popular; 10 – A Escola também é lugar
de viver e refletir sobre uma nova ética (MST, 1992, p. 02).
é sentida pelos movimentos sociais e setores organizados da sociedade civil, que
reclamam a urgência do atendimento aos povos do campo de uma educação que traga
infraestrutura escolar e educação de qualidade no campo, norteadas por um processo de
reconhecimento e valorização dos povos que habitam os campos. Nesta perspectiva, o
MST ocupa a escola na perspectiva de romper o isolamento social e a marginalização
que estava estabelecida para a escola no campo justamente “pela ausência de políticas
públicas para a educação no campo, posto que, historicamente, este ‘tipo de educação’
não constava na agenda política do Brasil. [...] (AMBONI, 2014, p. 101). Ocupar a
escola, portanto, traz o sentido da luta por educação do campo na perspectiva dos
movimentos sociais, dentre eles o MST, que consegue, via política, a escola pública em
seus assentamentos e acampamentos.
(...), o MST percebe que o ensino oficial não atende as necessidades de formação dos
seus membros, pois podemos dizer, com relação à educação, o que já se disse com
relação à ideologia. Na sociedade de classes, a educação dominante é a educação das
classes dominantes, ainda que a ideologia pedagógica oficial se apresente travestida na
forma de conhecimentos, valores e habilidades universais (DAL RI e VIEITEZ, p. 3,
2004).
A Educação no MST enquadra-se na luta por Educação do Campo. O Estado
possui uma dívida histórica para com os povos do campo, ao negligenciar a qualidade
da escolarização oferecida aos camponeses, isso quando ainda era ofertada, pois “por
muito tempo, a vida no campo pautada na monocultura tornava a instrução escolar
dispensável aos olhos dos governantes” (HOELLER, 2013, p. 38).
Os direitos começam a ser pautados e dentre eles está a educação, porém não a
instrução que estava sendo passada até o momento para o homem do campo, mas sim
uma educação que trabalhasse a realidade como um todo, do campo e da cidade, e que
levasse em conta as especificidades presentes na vivência do campo, sua identidade.
Assim, “a Educação do Campo, é um conceito cunhado pelos movimentos e
organizações sociais do campo” (ONÇAY apud HOELLER, 2013, p.15), e em muito
tem que avançar para garantir seu espaço nas políticas públicas.

O MST na conquista da escola itinerante no acampamento no Paraná


“Ocupar, Resistir, Produzir” são as palavras de ordem do MST, cuja origem se
fez presente no 2º Congresso Nacional do MST, que foi realizado em Brasília, de 08 a
10 de maio de 1990, como uma resposta dada ao governo federal frente à forte repressão
às lutas por reforma agrária e a retração da reforma agrária. As ocupações de terras
emergiram como fator principal da luta por reforma agrária, por isso, a necessidade de
uma lema forte, mobilizador e, ao mesmo tempo, capaz de criar um processo de
emulação, levou o MST a propor as palavras de ordem “Ocupar, Resistir, Produzir”
como centralidade das lutas sociais por reforma agrária. Ou seja, para o MST propor
estas palavras de ordem, já havia um acúmulo de experiência em organização e
mobilização, bastava acrescentar o sentido da produção para criar uma unidade à luta da
reforma agrária, tornando a terra produtiva no processo de ocupação. Neste sentido, eles
ousaram e escreveram com letras indeléveis o sentido de sua luta nas ocupações da terra
e da escola, pois “o acampamento é a expressão mais visível da exclusão social que o
sistema capitalista produziu” e, entretanto, é “a expressão mais forte da organização e
da resistência deste povo, que não aceita isso como sendo o fim da história, se junta para
lutar pela terra e transformar esse sistema” (MST, 2008, p. 73).
Entretanto, esta luta tem história e a escola no acampamento nasce das
necessidades impostas pela conjuntura social que são condicionadas pelas condições de
moradia das famílias, cuja presença de crianças impõe a luta por escola no interior do
acampamento.
Para o MST,
A necessidade das escolas itinerantes surgiu em um contexto no qual as crianças e
jovens dos acampamentos encontravam dificuldades de locomoção para as escolas das
cidades próximas. Normalmente, não havia vagas disponíveis. E quando havia, as
escolas convencionais estavam distantes dos anseios de um jovem do campo. A
alternativa foi construir as escolas "nômades", projeto que começou em 1996, no Rio
Grande do Sul. (MST, 2000...)
A Escola Itinerante no MST cumpre com três funções sociais: escolarizar,
formar militante e forjar o homem novo. Escolarizar porque a sociedade valoriza os
títulos e não o conhecimento; formar militante, pois a luta por reforma agrária exige
conhecimento, posicionamento político e ações conscientes; forjar o novo homem,
forjar um ser coletivo, com base formativa na omnilateralidade, que aprenda a
coordenar e ser coordenado para o processo produtivo, portanto, um ser formado sob as
premissas do trabalho/educação, cujo alicerce está centrado na democracia de grupo e
na participação direta nas instâncias de poder, quer sejam localizadas nos
acampamentos, quer sejam nos espaços de gestão da escola. Nosso foco é a gestão da
escola, por isso, a escolaridade e a formação de militantes não será explorada de forma
consistente.
A conquista da escola, além das necessidades de ocupação das crianças, a priori,
tem também uma intencionalidade, forjar o homem coletivo e fortalecer as bases da
identidade dos Sem Terra, cuja marca se faz presente nas místicas, no hino, nas
indumentárias e na linguagem comum na defesa da terra. Formar este homem é
imprescindível ao MST, pois carregam a insígnia do individualismo e do interesse
privado. Romper com essa lógica passa pela vida em conjunto, na divisão não só de
tarefas, mas de responsabilidades nos acampamentos, onde cada qual ocupa uma função
e passa a ter responsabilidades coletivas, nas quais a vida dos acampados exige. Neste
processo, o princípio da democracia se consolida, pois o sujeito aprende a dar valor nas
coisas simples e a focar nos interesses gerais para consolidar a conquista da terra. A
conquista de escola, dessa forma cria as condições para a reprodução como grupo
social, pois ao conquistar a escola assegura três processos formativos distintos entre si
mas que conjugados formam a totalidade MST.
Na Escola Itinerante, a gestão da escola é um princípio de gestão da vida. Os
acampados, tendo em vista o sentido da provisoriedade, buscam romper com o
individualismo e colocam a coletividade em primeiro plano. Isto é, passam a viver uma
vida coletiva, com uma gestão democrática, onde os valores individuais são suplantados
pela vida coletiva e isto significa que novos valores humanos passa a fazer parte da vida
dos acampados. A escola, neste caso, integra a formação direta da cidadania coletiva em
detrimento da defesa dos interesses individuais. Se a vida é coletiva, o MST consagra os
interesses coletivos na defesa da reforma agrária e isto se materializa também no
processo formativo que leva em consideração o movimento da luta por formação e por
reforma agrária como um todo integrado. Este processo, portanto, só pode ser coletivo.
Por isso,
A escola funciona dentro do acampamento e reflete os problemas dos trabalhadores rurais sem-
terra, que pautam os 'temas geradores'7, estudados ao longo do ano. Dessa forma se estabelece
um espaço de diálogo das famílias. As escolas itinerantes se tornaram um espaço da comunidade,
que tem a responsabilidade pelo seu planejamento junto aos educadores e à coordenação (MST,
2006).
Na perspectiva do MST, essa escola se materializa de forma consistente no
Paraná deste o ano de 2004. Dessa forma, o Estado do Paraná manteve o direito dos
acampadas à Escola no acampamento. A escola conquistada na luta por reforma agrária
se materializa no acampamento em toda extensão da educação básica, o que demonstra
a força política que o MST possui no Estado e junto à sociedade.
A Tabela 1 mostra o atual quadro das escolas itinerantes no Estado.
Quadro: Escolas Itinerantes no Paraná – 2017
ACAMPAMENTO OU
ESCOLA ITINERANTE MUNICÍPIO EI AIEF AFEF EM
PRÉ-ASSENTAMENTO
Caminhos do Saber Maila Sabrina Ortigueira X X X X
Valmir Motta de Oliveira Companheiro Keno Jacarezinho X X X X
Carlos Marighella Elias Gonçalves de Meura Carlópolis X X X X
Herdeiros da Luta de Porecatu Herdeiros da Luta de Porecatu Porecatu X X X X
Semeando Saber Zilda Arns Florestópolis X X X X
Paulo Freire Reduto de Caraguatá Paula Freitas X X X X
Herdeiros da Terra Herdeiros da Terra de 1º de Maio Rio Bonito do Iguaçu X X X X
Herdeiros da Terra II Herdeiros da Terra de 1º de Maio Rio Bonito do X X - -
Herdeiros da Terra III Herdeiros da Terra de 1º de Maio Rio Bonito do Iguaçu X X - -
Herdeiros da Terra IV Herdeiros da Terra de 1º de Maio Rio Bonito do Iguaçu X X - -
Vagner Lopes I Dom Thomas Balduíno Quedas do Iguaçu X X X X
Vagner Lopes II Vilmar Bordin Quedas do Iguaçu X X - -
Legenda: EI – Educação Infantil; AIEN – Anos Iniciais do Ensino Fundamental; AFEF – Anos Finais do Ensino
Fundamental; EM – Ensino Médio
Autores: Natieli da Silva Celestino e Vanderlei Amboni

No Mapa, pode-se localizar as escolas existentes.

7
Hoje o processo não é mais o de “temas geradores”. O MST, na dinâmica e processos de
aperfeiçoamento da educação, trabalha com complexos de estudo, cuja matriz é a pedagogia soviética
centrada em Moisey M. Pistrak, para dinamizar a vida escolar e trazer os elementos presentes na vida
material como processo de ensino. Para os intelectuais orgânicos do MST, “Um complexo representa
uma “complexidade” cujo entendimento a ser desvendado pelo estudante ativa sua curiosidade e faz uso
dos conceitos, categorias e procedimentos das várias ciências e artes que são objeto de ensino em uma
determinada série. O complexo tem uma prática social real embutida em sua definição. Ele é mais que
um tema ou eixo e não se resume à idealização de uma prática que apenas anuncia a aplicabilidade
longínqua de uma aprendizagem. É o palco de uma exercitação teórico-prática que exige do estudante
as bases conceituais para seu entendimento, permite criar situações para exercitação prática destas bases
plenas de significação e desafios e ao mesmo tempo permite que estes conceitos sejam construídos na
interface da contribuição das várias disciplinas responsáveis pela condução do complexo. O complexo é
uma unidade curricular do plano de estudos, multifacetada, que eleva a compreensão do estudante a
partir de sua exercitação em uma porção da realidade plena de significações para ele. Por isso, o
complexo é indicado a partir de uma pesquisa anteriormente feita na própria realidade das escolas (...).
É uma exercitação teórico-prática que acontece na realidade existente no mundo do estudante,
vivenciada regularmente por ele em sua materialidade cotidiana e que agora precisa ter sua
compreensão teórica elevada (FREITAS, SAPELLI e CALDART, 2012, p.22).
A proposta de escola nos acampamentos do MST foi uma concepção e um
conceito que foi se materializando com o dia a dia dos acampamentos, a partir das
necessidades e das lutas pela sua garantia. Quando foi conquistada a legalidade, foi feita
a luta por sua estrutura, tendo a estrutura foi a vez da luta pela remuneração dos
educadores, com os educadores na escola, era necessário realizar encontros de formação
continuada com eles, e assim por diante. Não necessariamente nessa ordem, mas dentro
dessa lógica, conquistas geram mais lutas, que também geraram mais conquistas. Porém
as precariedades dos problemas sociais em um acampamento são mais aflorados, e
nesse caso a realidade de um acampamento é organizada para que todos tenham as
mínimas condições para que todos tenham as mínimas condições de vida até que o
sonho do assentamento se torne realidade. E na escola não seria diferente, as questões
do acampamento fazem parte do cotidiano da escola ao ser problematizada pelos
conhecimentos escolares.
A escola funciona dentro do acampamento e reflete os problemas dos trabalhadores
rurais sem-terra, que pautam os “temas geradores”, estudados ao longo do ano. Dessa
forma se estabelece um espaço de diálogo das famílias. As escolas itinerantes se
tornaram um espaço da comunidade, que tem a responsabilidade pelo seu planejamento
junto aos educadores e à coordenação (MST, 2006).
É essa a relação que diferencia a proposta da Escola Itinerante, é essa relação
com a comunidade e a sua realidade que fortalece e garante a continuidade da escola. É
o compromisso político de defender essa educação no e do campo. E em sua proposta
isso se explicita sendo a Escola Itinerante uma escola pública que se opõem a tutela
política e pedagógica do Estado.
Não significa que sua proposta seja contrária à necessidade de apropriação dos
conteúdos socialmente úteis historicamente acumulados pela humanidade, mas que sua
pedagogia está pautada na construção do sujeito crítico, lutador e construtor de sua
própria história, contrariando à ideia de educação bancária do Estado.
Aprovada pelos Conselhos de Educação estaduais, com base na LDB (Lei de Diretrizes e Bases),
seu método é desenvolvido de acordo com a realidade do campo, obedecendo aos parâmetros
curriculares nacionais. Tem como princípio a pedagogia do movimento, baseada em Paulo Freire
(1921-1997), um dos principais pensadores da educação no país e no mundo (MST, 2006).
A Pedagogia do Movimento foi construída a muitas mãos. Foi a experiência dos
das primeiras escolas de assentamento e de acampamento, as discussões no coletivo de
educadores e de quem acompanhava essa realidade, as escritas e reescritas, nas
reflexões a partir das práticas de outros países e governos socialistas, que de certa forma
foram se encontrando e tecendo o que hoje chamamos de princípios, de matrizes, que
foram sendo passadas às novas escolas conquistadas, e então nessa nova realidade a
formação transformava a ação, novos apontamentos surgiam, tínhamos novas questões a
discutir e incorporar. Definitivamente não é uma pedagogia estudada por um doutor ou
um grupo e trazida para ser aplicada na realidade específica, e sim a construção dos
próprios que vivem e experienciam seus limites e avanços diárias, escrevendo e
reescrevendo sua própria história, refletindo sobre sua pedagogia.
Uma pedagogia que para além das paredes da escola, uma pedagogia que se
baseia na luta dos trabalhadores, na luta Sem Terra, dentro do acampamento e fora dele.
Da mesma forma o ensino se dá dentro da escola e fora dela. O meio educativo do
Movimento é a ocupação de terra, são as reuniões, as assembleias, o acampamento na
porta dos órgãos públicos, as marchas... E não é diferente na Escola do Movimento.
No começo os sem-terra acreditavam que se organizar para lutar por escola era apenas
mais uma de suas lutas por direitos sociais; direitos de que estavam sendo excluídos
pela sua própria condição de trabalhador sem (a) terra. Logo foram percebendo que se
tratava de algo mais complexo. Primeiro porque havia (como há até hoje) muitas outras
famílias trabalhadoras do campo e da cidade que também não tinham acesso a este
direito. Segundo, e igualmente grave, se deram conta de que somente teriam lugar na
escola se buscassem transformá-la. Foram descobrindo, aos poucos, que as escolas
tradicionais não têm lugar para sujeitos como os sem-terra, assim como não costumam
ter lugar para outros sujeitos do campo, ou porque sua estrutura formal não permite o
seu ingresso, ou porque sua pedagogia desrespeita ou desconhece sua realidade, seus
saberes, sua forma de aprender e de ensinar (CALDART, 2003, p. 63).
O objetivo de ocupar os latifúndios do conhecimento dia a dia estão
acontecendo, pois não é uma escola que se contenta nem com o pouco e nem com o
mínimo de conhecimento. As escolas do Movimento na medida em que objetivam
formar sujeitos se distancia da concepção de educação do Estado que pretencia forma o
cidadão. Como cidadão entende-se o indivíduo dotado de direitos e deveres como se
tanto a carga de deveres e o acesso a direitos fosse linear. Porém a formação do sujeito
vai a além, pois é um sujeito coletivo, que compreende a luta de classes e que por isso
se organiza. É o sujeito da classe trabalhadora. E a essa formação o Estado não se
encarregará de dar, uma vez que contesta a forma de organização da sociedade.
Cabe à classe trabalhadora pensar e organizar a escola que formará seus filhos.
Por isso que “a gestão escolar é autônoma, uma vez que o Estado entra com o
investimento mas não organiza o modelo. A escola itinerante hoje é a que mais contraria
a lógica capitalista, pela liberdade de poder construí-la”, afirma Camini” (MST, 2006).
E isso também se refere aos educadores contratados pelo Estado que chegam nas
escolas do Movimento, pois “(...). Mesmo os educadores de ensino médio, que devem
ser indicados e subsidiados pelo governo, acabam se integrando ao cotidiano do MST
para conseguir fazer um projeto educacional mais próximo da realidade dos alunos”
(MST, 2006).
Não é a escola do governo, nem por ele dirigida. Conduzida pelo povo organizado, a
Escola Itinerante caminha por outros rumos, os rumos da resistência, da rebeldia que
ocupam os latifúndios, organizam o povo, fazem a reforma agrária e produzem poesia.
Uma escola teimosa, dirigida pela teimosia lucida dos trabalhadores Sem Terra, que
exigem que o governo a financie, o que a muitos desagrada. (CAMINI; GEHRKE,
2008, p. 72).
Porém em muitos momentos as condições mínimas de funcionamento não são
garantidas, e o que deveria ser um direito reconhecimento fica à mercê de orçamentos
sucateados e falta de recurso. “Isabela Camini, do setor nacional de Educação do MST,
denuncia que nem sempre os governos estaduais cumprem seus deveres e, com isso, os
acampamentos têm que se virar sozinhos debaixo das lonas pretas para manter a escola”
(MST, 2006). Contudo, são nesses momentos que a comunidade se fortalece faz a luta.
E na construção das condições possíveis para as escolas de acampamento e
assentamento, cada realidade, cada experiência pedagógica em prática torna-se um
acúmulo na caminhada do Movimento. São diversas as experiências que vem
acontecendo em todo o Brasil, mas que busca o diálogo para as próximas conjunturas do
Movimento. “Camini ressalta que cada estado tem a sua pedagogia em construção. (...)
No Paraná e no Rio Grande do Sul, as conquistas estão bem adiantadas. Dependendo do
estado, há diferenças de concepções sobre as escolas itinerantes”. (MST, 2006).
Estudar é direito de todos e todas e não privilégio de alguns. É com essa convicção que
desde 1984, nas ocupações de terra e marchas, o MST luta por uma política de Reforma
Agrária que inclua o tema da educação pública, de qualidade e gratuita para o campo e
no campo. Em toda a nossa história, os Sem Terra conquistaram aproximadamente três
mil escolas públicas nos acampamentos e assentamentos em todo país, abrindo as portas
de um ensino de qualidade a 200 mil crianças e adolescentes.
De todas as formas, a experiência da Escola Itinerante é muito rica, e ricos
também são os sujeitos que passam por ela, que fazem parte de sua história.
Infelizmente, hoje podemos contar apenas com a permanência das Escolas Itinerantes
do Paraná, porém a história não se inicia e se encerra dessa forma. Aos que vieram e ao
que virão tudo se torna um acúmulo para continuar a luta, onde ela surgir, pois
independentemente dos passos que já foram dados os princípios e os objetivos
continuarão os mesmos, pois “(...). Seus objetivos e princípios são os mesmos, que todavia,
se aplicam de um modo determinado a depender da situação concreta. [...] (MST, 2009, p. 118).
São aspectos que caracterizam a Escola Itinerante como uma forma de fazer escola no e do
campo, estejam elas localizadas em Santa Catarina ou no Piauí: a estrutura física, a relação com
o Estado, o nome e a proposta de uma escola “diferente” que respeite os sujeitos acampados,
que tenha como foco a vida no campo, que procure formar o ser humano, que tem problemas
semelhantes e às vezes tão divergentes, que tem os mesmos desafios, que lute por uma política
pública educacional e pelo direito à saúde, moradia, trabalho e cultura (Daniela Oliveira, 2014, p.
65)
Que a Escola Itinerante do Paraná continue resistindo na luta mostrando em
todos os sentidos que uma educação pública e de qualidade é possível e é um direito e
não esmola, de forma que as contribuições dos trabalhos sobre a Escola Itinerante do
MST frutifiquem no campo crítico do embate aos valores da sociedade capitalista.

Organização e gestão pedagógica da escola itinerante no Paraná


O espaço da escola itinerante é um território pedagógico, assim como é a
sociedade. No território escolar há espaços para o exercício de gestão da escola, cuja
centralidade é a democracia. Na perspectiva do MST (1992), a direção é coletiva porque
as decisões sobre a estruturação e o funcionamento da escola devem ser tomadas por um
coletivo que represente o Acampamento/Assentamento como um todo, com participação
real dos envolvidos no interior dos espaços de gestão, dentro a organização racional de
competência de cada coletivo. Assim, a gestão da escola se faz nos coletivos, ou seja,
nas partes, e seus resultados aparecem como totalidade, como concreto pensado. Neste
processo
A organização e a gestão da escola são elementos fundamentais de qualquer sistema ou
unidade de ensino, pois, dependendo de como elas se processam, a vivência na escola
pode ser democrática ou não. Para vivenciar a democracia, o MST propõe para as suas
escolas a gestão democrática, a auto-organização dos alunos e o coletivismo (DAL RI;
VIEITEZ, 2010, p. 61).

Seria muito contraditório ter a proposta do Movimento para a formação da


autonomia e da coletividade se a organização escolar não viesse de encontro a esse
propósito. A escola que temos atualmente, a formação pela escola do capitalismo, em
sua estrutura engessada e hierárquica, não contribuição para a libertação e sim para
manutenção do modelo de exploração e opressão. Toda e qualquer proposta que almeje
trabalhar a criticidade deverá se contrapor e romper com tais estruturas.
Como apresentado anteriormente, o MST possui autonomia pedagógica das
escolas de acampamentos e assentamentos, e mais propriamente as escolas itinerantes
em acampamentos possui uma escola-base da qual se legitima a proposta. “A linha
pedagógica é elaborada pela “escola base” e modificada de acordo com a situação de
cada acampamento” (MST, 2006).
É muito claro que “Para o MST, pensar a educação no e do campo é pensar em
um processo de humanização e de resgate da dignidade. A escola do campo não deve ser
ignorada e marginalizada, como é a lógica implementada em grande parte do país.” Essa
educação diferenciada está não somente na organização e no poder de decisão ampliado,
sendo este o grande objetivo da gestão democrática, mas também o princípio de divisão
de tarefas, uma vez que assumir tarefas dentro na organicidade é tão importante quanto
a decisão coletiva. “Ela tem que ser uma educação inovadora, que contribua para que os
trabalhadores e as trabalhadoras do campo se apropriem da sua história, tornando-se
sujeitos com consciência e capacidade de transformar a realidade social onde vivem”. E
o principal que se explicita é que a própria vivência do Movimento ensinou a escola
essas novas relações. Foi o meio educativo presente no Movimento que contribuiu com
as reflexões de novos valores mais humanos e socialistas de uma nova sociedade.
“Trata-se de uma educação dos e não para os que vivem no campo, combinando o
estudo com trabalho, cultura e organização coletiva, cooperação agrícola e solidariedade
com os trabalhadores urbanos, ou seja uma educação que recupere valores socialistas”.
Os estereótipos e estigmas seculares que o homem do campo recebe, de atrasado, sem
cultura, ignorante, de que quem mexe na enxada não precisa de estudo, na verdade isso
advém de uma não preocupação das políticas públicas sem proporcionar a garantia de
uma educação pública de qualidade. “O povo do campo quer estudar, aprender e
fortalecer a cultura camponesa”. Por isso uma educação no campo e do campo,
pensadas por seus próprios sujeitos, e o MST já vem construindo sua educação. “(...) O
desafio é superar a exclusão do conhecimento, como já vem sendo feito nos
acampamentos e assentamentos do MST, territórios livres do analfabetismo”. Dessa
forma, uma educação diferenciada necessita de uma organização diferenciada, de
diferentes relações para uma sociedade diferente. “Quando rompemos a cerca do
latifúndio, rompemos a cerca da ignorância e do capital e construímos ali um novo
futuro, mais fraterno e humano”.
Dessa forma todos os sujeitos assumem um grande papel na condução desse
processo. Na experiência das Escolas Itinerantes do Paraná o que de mais recente vem
acontecendo em termos de proposta é a organização em Complexos de Estudo. Esse foi
novamente um movimento de reflexão sobre a educação pós Revolução Russa,
conhecida como uma importante proposta na história da classe trabalhadora já cultivada
na história da sociedade e que veio para contribuir com elementos estruturais para
pensar a intencionalidade da educação escolar naquele período.
Por meio de estudos foram sendo incorporados os elementos pedagógicos da
Pedagogia Soviética, que vem de encontro com uma proposta de escola para a classe
trabalhadora (“Escola Única do Trabalho” e “Escola Comuna” Pistrak, ano), com base
no trabalho Politécnico (“Rumo ao Politecnismo”, Shulgin, ano).
Não é a adoção de uma proposta de educação que não faz parte da atualidade,
algo ultrapassado ou uma outra forma que o MST pensou em fazer educação de uma
hora para outra. Pois as concepções de auto-organização dos educandos, ensino e
prática, uma educação para o trabalho, a cooperação e a transformação social, não são
novidade para a prática educativa do Movimento.
Propõe, efetivamente, uma nova forma escolar, composta de quatro aspectos.
O primeiro aspecto é a estrutura orgânica da escola: embasada na forma de organização
dos acampamentos, com princípios de gestão democrática, auto-organização dos
estudantes, coletivos pedagógicos, direção coletiva e divisão de tarefas.
O segundo é o ambiente educativo, que assinala a importância de organização dos
espaços e relações na escola, a fim de educar o ser humano integralmente e em sintonia
com o projeto do MST, por isso propõe tempos educativos como aula, trabalho, oficina,
esporte/lazer, estudo, mutirão, coletivo pedagógico; e relações pautadas pela luta,
mística, ecologia, entre outros valores.
O terceiro aspecto se refere à matriz formativa do trabalho e discorre sobre a
importância de espaços distintos de trabalho para os estudantes na escola e da relação
desta com o trabalho realizado na família e com outras formas de trabalho. Objetiva-se
desenvolver, dentre as várias possibilidades emanadas dessa dimensão, especialmente a
cooperação, a agroecologia e a experiência da produção material da vida.
No quarto e último aspecto apresenta-se formas de estudos para além das aulas,
propondo, inclusive, uma dinâmica distinta de organização desta, tendo como objetivo o
máximo envolvimento dos educandos (as) na produção do conhecimento (MARIANO,
HNOPF, 215, p. 639).
Em tese, a proposta e Complexos de Estudos vem para criar novas dinâmicas
para o fazer pedagógico. É romper com a lógica seriação, da gestão vertical, e criar
espaços de participação e aprendizagem. Uma prática muito comum nas escolas do
Movimento são as coordenações de turma definidas pela indicação de educandos (um
menino e uma menina) e educadores para essa coordenação. Assim todas as formas de
organização, discussão e encaminhamento ocorrem na organização da turma. A proposta
dos Complexos necessita que essa organização seja rompida, que espaços de
participação e aprendizagem ocorram para além. Surgem os núcleos setoriais com essa
tarefa.
Os núcleos setoriais são células organizativas da Escola Itinerante, constituem-se
espaços dos educandos exercitarem a auto-organização e o trabalho real. Essas duas
terminologias “núcleo” e “setorial” têm origem na estrutura organizativa do MST, que
concebe o “núcleo de base” como uma célula organizativa do movimento em cada
assentamento/ acampamento. Os núcleos de base são geralmente formados por 7 a 10
famílias, representadas por um coordenador e uma coordenadora, podemos também
chamá-lo de espaço de decisões da organização local. A terminologia “setorial”
referencia-se nos setores do movimento, que assumem um conjunto de tarefas da
organização, sendo eles: produção, saúde e gênero, comunicação e cultura, finança,
formação, frente de massa e educação.
Percebe-se que núcleo setorial não é algo tão novo, pois está na própria
organicidade do Movimento. Nesse momento a referência não é mais de qual
turma/ano/seriação o educando é, e sim a qual núcleo setorial pertence. Ao romper com
essa lógica novas formas de aprendizagem e interação podem acontecer com o princípio
da auto-organização. “Os Núcleos Setoriais agrupam estudantes das diferentes turmas e neste
espaço/tempo articulam ações práticas específicas da função de cada núcleo e possíveis
trabalhos demandados pela articulação de determinada porção da realidade em execução”.
Ao apresentar alguns dos Núcleos Setoriais, podemos considerar que “os
Núcleos Setoriais são organizados com reagrupamento horizontal de várias idades e
ano, durante o turno ou contra turno escolar”. Essa variação de idades proporciona uma
experiência muito mais rica. Tanto para os maiores quanto para os menores
proporcionará o exercício do princípio de auto-organização, trabalho relacionando às
aprendizagens das aulas, além das próprias relações de convivência entre as diferentes
idades. “A quantidade de núcleos setoriais é determinada pelos principais aspectos da
vida, que a escola identifica que necessitam da intervenção real dos estudantes e por
isso necessita organizar um certo número de núcleos encarregados destes aspectos”. A
partir da realidade e da necessidade de cada escola poderá ser feita a indicação de quais
núcleos setoriais funcionarão. “Alguns exemplos de núcleos setoriais são: memória,
comunicação, apoio ao ensino, embelezamento, agrícola, saúde e bem-estar, finança e
infraestrutura”.
A estrutura organizativa é o jeito de organizar a gestão da Escola, engloba a organização
e as relações entre as instâncias que devem ser planejadas e acompanhadas como parte
do processo pedagógico, condizente com as várias dimensões de nossa matriz formativa
postas em marcha e se desenvolvem em consonância com o desenvolvimento cognitivo
do estudante (MARIANO, HNOPF, 215, p. 642).
Assim como no próprio Movimento, que possui o princípio da Direção Coletiva,
e um dos métodos é a troca de tempo em tempo dessas pessoas de suas tarefas, e na
organização dos Núcleos Setoriais não é diferente. “Os coordenadores dos Núcleos
devem ser trocados de tempo em tempo, para que todos aprendam a coordenar e ser
coordenado, garantindo assim a participação efetiva de todos em processos coletivos e
complexos na escola”.
SETORIAL FUNÇÃO QUE ESTUDANTES CONHECIMENTOS
EXERCEM
Memória Os estudantes são responsáveis em guardar São demandados e exercitados
a memória da escola, produz registros conhecimentos de ortografia, redação,
escritos da vida coletiva da escola, através tipologias de textos, organização e
de três instrumentos: a) Diário da Escola, b) arquivamentos de documentos, leitura
Pasta de Acompanhamento das Práticas em voz alta etc.
Pedagógicas dos Complexos, c) Arquivo
Fotográfico e Audiovisual.
Comunicação Os membros deste núcleo setorial atuam no O conhecimento que perpassa este
processo de socialização de informação na núcleo é as diversas linguagens
escola e acampamento, proporcionando a como: linguagens escritas, faladas e o
todos a conexão com os fatos que estão domínio das diversas tecnologia
acontecendo na escola, na comunidade e ao como: radio, internet, jornal, mural.
em torno, para isso organizam radio escolar,
jornal e murais. Realizam leitura do diário
no tempo formatura para toda comunidade
escolar.
Apoio ao Ensino Este núcleo se auto organiza em torno de Os estudantes nessas tarefas
tarefas ligadas a dimensão do ensino na apreendem o processo de organização
escola e o acesso ao conhecimento e controle de equipamentos,
cientifico, desde o planejamento de ensino, catalogação de livros e informações,
o quadro de tempos educativos e fazem isso recepção de pessoas externas,
desde a organização de materiais e compreensão da proposta pedagógica
equipamentos de suporte ao ensino (TV, o da escola, lógica dos planos de ensino
Rádio DVD), e os materiais didáticos, a etc.
organização da biblioteca, secretaria
escolar. São responsáveis em receber visitas
na escola e apresentar a proposta
pedagógica e organização no cotidiano
escolar.

Finanças/Estrutura Exerce a função de planejamento financeira Os conhecimentos de cálculos,


e administrativo da estrutura da escola. planilha de Excel, gestão e
Organizar os processos de finanças da planejamento financeiro que serão
escola, entradas de recursos, saídas, apreendidos desde a prática deste
planejamento financeiro, prestações de núcleo setorial.
contas. Além disso faz o controle do
patrimônio da escola e da merenda escolar.
Embelezamento É o núcleo responsável pela organização Aprenderam conhecimentos da área
dos espaços, possibilitando a primazia do da estética, organização de ambientes
belo na escola. Tem a função de e o plantio e cuidado de plantas,
proporcionar que os espaços da escola flores ornamentais. Também cuidarão
mesmo improvisado, sejam acolhedores em dos símbolos bandeiras na escola,
harmonia com a natureza e a produção exposição e artes na escola.
humana. Neste sentido os estudantes se
auto organizam através de três atividades
centrais: plantio de flores, árvores, arbustos
ou seja o jardinamento da escola, a
organização estética da escola:
identificação dos espaços, exposição de
trabalhos e a valorização dos símbolos na
escola.
Saúde e Bem É responsável pelo bem estar da Aprenderam conhecimentos
Estar coletividade, que se preocupa com as procedimentos práticos de limpeza e
diversas questões da vida humana: higiene.

Os núcleos setoriais além das atividades e trabalhos específicos,é também o


espaço de participação efetiva das decisões coletivas. Os educandos coordenadores dos
núcleos setoriais, juntamente com as demais instâncias da administração escolar
(coletivo de educadores, coordenação pedagógica, direção) e da comunidade
(organização, setor de educação, APMF, quando há), se reúnem e se tornam uma
Comissão Executiva. “A Coordenação da escola é composta pelos estudantes
responsáveis (coordenadores dos Núcleos Setoriais). É neste espaço que se unificam as
diferentes ações que movimentam a escola em cada período letivo”.
A Comissão Executiva tem a tarefa de discutir os aspectos da vida escolar.
Porém na forma de gestão que o MST propõe, a gestão não é apenas representativa, e
sim participativa. Todos os aspectos discutidos na Comissão Executiva são decididos na
instância da assembleia. “(...) ela é a instância máxima da escola e pode acontecer no
início e no final de cada semestre, com participação dos educandos, educadores e
funcionários”. Nesse sentido, todos os sujeitos que vivenciam o espaço escolar decidem
coletivamente. “Na assembleia são socializados encaminhamentos que movimentam a
escola, articulando o trabalho específico dos núcleos setoriais, o ensino e a gestão da
escola com ações que envolvem a comunidade”.
Dessa forma, “A coordenação executiva da escola, composta pelos
coordenadores dos núcleos setoriais, é responsável por zelar e executar o cumprimento
das decisões coletivas tomadas em assembleia”. Entende-se aqui que a instância maior
de decisões não é a Comissão Executiva, e sim a assembleia. “Deste modo, os núcleos
setoriais tornam-se espaço de execução do trabalho, mas também de estudo e gestão da
escola”. A proposta de gestão por meio dos Núcleos Setoriais, da Comissão Executiva e
da Assembleia ainda é um grande desafio para que a cada dia novas relações sejam
construídas na escola.

Normas escolares (projeto político pedagógico e regimento escolar


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Estruturas organizativas da escola itinerante no acampamento do MST


(assembleia, conselho escolar, coletivos e coordenações)

Para o MST,
Educador é aquele cujo trabalho principal é o de fazer e o de pensar a
formação humana, seja ela na escola, na família, na comunidade, no
movimento social. Eles são integrantes do MST e moram nos assentamentos
e acampamentos, o que facilita o aprendizado coletivo e pedagógico, pois
convivem no mesmo cotidiano dos educandos.

Em março de 2004, foi celebrado entre o MST e a SEED um convênio que envolve a
Associação de Cooperação Agrícola e Reforma Agrária do Paraná (ACAP), pessoa jurídica
de direito. O Convênio é renovado anualmente, após prestação de contas realizada pelo
Setor de Educação do MST, mediante apresentação de um relatório à SEED, no qual
constam informações acerca do número de educadores, coordenadores, matrículas. A partir
dele e dos termos aditivos a ele incorporados, tem-se assegurada a remuneração dos
educadores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e dos coordenadores pedagógicos das
Escolas Itinerantes. Além dos salários, estão previstos o pagamento de encargos sociais, 13º
salário, terço constitucional e verbas rescisórias. O recurso é liberado em parcelas mensais
(SAPELLI, 2013). (OLIVEIRA, 2014, p. 67).
A EI Carlos Marighella possuía a coordenação político pedagógica, composto pelo coordenador da
escola e membros da comunidade; coletivo de educadores, espeça que era coordenado pela coordenação
pedagógica da escola e coletivo de educandos, que se organizavam acerca de suas demandas específicas,
as quais eram apresentadas pelos educadores no coletivo de educadores. Foram poucas às vezes em que
exercitamos a participação dos educandos na reunião dos educadores, pois as crianças eram pequenas
dos anos iniciais do EF e ainda não havia maior compreensão sobre (CURITIBA, KNOPF, 2014).

A organização e a gestão da escola são elementos fundamentais de qualquer


sistema ou unidade de ensino, pois, dependendo de como elas se processam,
a vivência na escola pode ser democrática ou não. Para vivenciar a
democracia, o MST propõe para as suas escolas a gestão democrática, a auto-
organização dos alunos e o coletivismo (DAL RI; VIEITEZ, 2010, p. 61).

A direção coletiva de cada processo pedagógico implica a participação efetiva da


comunidade na gestão da escola, bem como a relação desta com o conjunto de escolas
ligadas ao Movimento e sua subordinação crítica e ativa aos seus princípios (MST, 1996).
Segundo o MST (1999: 9), a direção coletiva é uma forma de garantir a participação de
todas as pessoas na tomada de decisões, de dividirem-se as tarefas e as funções de acordo
com as qualidades e as aptidões pessoais e, também, de superação do paternalismo e do
presidencialismo (DAL RI; VIEITEZ, 2010, p. 61).

Núcleos de Base ou Grupos de Atividades que consistem num coletivo de 5 a


10 educandos, a depender do número em cada turma. Cada núcleo possui um
coordenador e coordenadora que assumem essa responsabilidade por
determinado período. É interessante que durante o ano, todos possam assumir
essa tarefa em seu grupo, para ir rompendo com práticas autoritárias.
Organizam-se para fazer um trabalho escolar em grupo, para discutir as
místicas, a estrutura da escola, avaliar os educadores, a participação dos pais e
acampados na escola, enfim, tudo que diz respeito à escola e à vida destes
educandos. [...] (MST, 2009b, p. 35).
2. Coletivo de educadores, conforme traz o MST:
Os educadores se organizam em coletivos pedagógicos, assumindo que sua
formação também se realiza neste espaço, ou seja, quem educa precisa se
educar continuamente, e faz isso por meio da reflexão sobre a prática, do
estudo, do planejamento coletivo das atividades de sua turma, da escola
(MST, 2009b, p. 37).

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campo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
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Sem-Terra: Instituto de Educação Josué de Castro. Revista Educação e Sociedade.
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