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01/02/2018 - G1
Grandes obras de infraestrutura de transporte não geram apenas melhorias em mobilidade. Elas
são também um motor para o desenvolvimento urbano, com o aumento na qualidade de vida da
população e a geração de empregos.
“Essas obras que modernizam o sistema de mobilidade têm um potencial incrível de longo prazo,
que vai gerar renda de impostos para o poder público, atividade econômica, e tudo isso vai
representar um processo virtuoso", afirma Pedro da Luz Moreira, presidente da regional Rio de
Janeiro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).
Mudança em Salvador
Salvador é a terceira cidade do Brasil que mais recebeu recursos federais em mobilidade urbana nos
últimos anos, de acordo com o Ministério das Cidades (perde apenas para Rio de Janeiro e São
Paulo). Um projeto que mudou a cara da cidade foi o metrô, inaugurado em 2017. Depois de passar
anos como uma “lenda”, ele começou a sair do papel em 2013, com um investimento de R$ 5,6
bilhões. Quatro anos depois, as duas linhas do sistema trouxeram uma mudança nos deslocamentos
da população da capital baiana. Hoje, uma média de 270 mil pessoas usa o metrô em dias úteis.
Esse número deve chegar a 500 mil ao fim de 2018.
Além disso, todo o transporte coletivo de Salvador e da região metropolitana está integrado. As
linhas de ônibus municipais estão em processo de reorganização e os ônibus metropolitanos já não
entram mais na capital, o que reduziu o fluxo de veículos nas ruas. "A cidade está mais fluída", diz
o diretor-presidente do Metrô Bahia, Luis Valença.
Outro benefício do sistema foi a criação de postos de trabalho. Para construir o metrô, foram
empregadas mais de 8 mil pessoas. Hoje, na operação, são cerca de 1,5 mil funcionários, sendo
que 95% contratados locais.
A expansão do aeroporto traz não só mais oferta de voos – atualmente são 45 destinos domésticos
e internacionais – mas também outros benefícios, como agilidade nas operações, internet rápida
para seus usuários e um ambiente de compras focado em produtos locais valorizando a cultura
mineira. "Passa a ser não só uma porta de entrada de ir e vir, mas uma porta de entrada de negócios,
de turismo”, afirma o diretor-presidente da BH Airport, Adriano Pinho.
De todos os modais de transportes, as rodovias foram as que mais receberam investimentos nos
últimos anos. Em 2017, foram R$ 6,7 bilhões investidos pela União em estradas, quase 80% do
total despendido em infraestrutura no setor.
Em Jundiaí (SP), a primeira fase do Complexo Viário foi entregue em novembro de 2017 pela
concessionária CCR AutoBAn. A obra, que empregou 500 pessoas, consiste em um novo trevo com
duas novas alças e viadutos, calçadas e 1100 metros de ciclovias, visando desafogar o trânsito no
acesso à cidade.
As marginais também foram ampliadas para que os veículos que circulam apenas pela cidade não
precisem se misturar com os da rodovia. A segunda etapa deve ficar pronta ainda em 2018: sua
principal obra é o Viaduto das Valquírias, que tem como objetivo facilitar o acesso dos moradores
da região oeste de Jundiaí ao centro, melhorando a integração.
Caminhos a percorrer
Apesar dos investimentos feitos, entidades estimam que o país tem muito a fazer para suprir suas
necessidades no setor. Para se ter uma ideia, o total investido em infraestrutura de transportes no
Brasil desde 2005 corresponde a apenas 0,25% do PIB do mesmo período. Já a crise fiscal dos
últimos anos fez o montante despendido no setor cair, chegando em 2017 a pouco mais de R$ 8
bilhões - quase metade do registrado em 2014.
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) avalia que são necessários mais
R$ 235 bilhões apenas para linhas de metrô, corredores expressos de ônibus e Veículos Leves sobre
Trilhos (VLT) nas grandes cidades. Já para a CNT (Confederação Nacional do Transporte), o
investimento necessário na infraestrutura do transporte em geral (incluindo portos, aeroportos,
rodovias e ferrovias) encosta em R$ 1 trilhão.
Para o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista, o maior pecado cometido pelo Brasil em termos de
infraestrutura foi não ter conseguido manter níveis de investimento em patamar elevado ao longo
do tempo. “O Orçamento da União oscila muito, cerca de 30% dele fica sem ser executado
anualmente. Fica difícil manter a qualidade com esse cenário”, diz.
Para ele, além de se voltar para hidrovias e ferrovias, que são modais mais econômicos, o país
precisa repensar os modelos de ocupação das capitais, distribuindo melhor as atividades e reduzindo
os deslocamentos da população.