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O aquecimento global e as secas podem reduzir a produção global de trigo

"A mudança climática é agora uma emergência planetária que


representa uma ameaça existencial para a humanidade"
Jem Bendell

O trigo é um dos principais alimentos da humanidade. Em termos globais, o trigo é a segunda


maior cultura de cereais, perdendo apenas para o arroz e ficando à frente do milho. O grão de
trigo é o insumo básico para fazer pão e massas diversas para a preparação de bolos, tortas,
pizzas, além de ser ingrediente na fabricação de cerveja.

O trigo é originário do Crescente Fértil – região do Oriente Médio – e começou a ser cultivado
há cerca de 10 mil anos e foi uma das fontes de caloria e proteína responsáveis pelo sucesso da
revolução agrícola que possibilitou o avanço das cidades e da civilização humana. O grão de trigo
possui vários nutrientes, destacando-se os carboidratos, as proteínas e as vitaminas do
complexo B, sendo que o integral possui grande quantidade de fibras.

Atualmente, o trigo fornece um quinto de todas as calorias para a humanidade. É a maior


colheita alimentada por chuva do mundo e o comércio global de trigo corresponde às transações
de arroz e milho combinadas. Dez regiões representam 54% dos campos de trigo do planeta.
Mas as mudanças climáticas ameaçam a produção global deste cereal.

No momento, 15% das regiões produtoras de trigo do mundo correm risco de escassez severa
de água ao mesmo tempo. Mesmo que se o aquecimento global ficar abaixo de 1,5º C até 2100,

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a chance de estresse hídrico simultâneo nos continentes ainda dobrará entre 2030 e 2070,
conforme mostra artigo de Miroslav Trnka et. al. publicado na revista Science Advance
(setembro de 2019).

Mas se a comunidade internacional falhar na mitigação da mudança climática e os extremos de


calor e chuva seguirem inevitavelmente o aquecimento global descontrolado, as chances de
uma perda devastadora das colheitas de trigo na Europa, na América do Norte, na Austrália,
Rússia, Ucrânia e Cazaquistão, serão enormes.

O referido artigo – trabalhando com simulações de computador para modelar o futuro clima
global da escassez de água com mudanças de temperatura nas próximas oito décadas – mostra
que os extremos de calor e seca devastadoras podem acontecer em mais de um continente ao
mesmo tempo, provocando uma repentina queda da produção de trigo, que é uma colheita
bem-sucedida, em parte porque suas necessidades de água são relativamente baixas, mas não
pode florescer sem chuvas confiáveis antes e durante o crescimento.

Quando isso aconteceu no século 19, a fome global se seguiu. As previsões já alertam que a
cada aumento de 1º C na temperatura, a produção global de trigo cai entre 4% e 6,5%. Os
pesquisadores alertaram repetidamente que extremos de calor podem reduzir a produção e
limitar os nutrientes vitais nas colheitas de cereais.

Pior poderia acontecer quando uma onda de calor é seguida imediatamente por outra. E tudo
isso pode acontecer em um mundo em que, à medida que a população cresce, a demanda por
trigo pode aumentar em pelo menos 43%. Os autores do artigo analisaram evidências do
passado próximo para descobrir que, entre 1985 e 2007, o impacto da seca na produção mundial
de trigo foi duas vezes maior que entre 1964 e 1984.

O fato é que existem diversos elementos que mostram a degradação dos solos e das fontes de
água potável, colocando em xeque a futura produção de comida e aumento o risco de
insegurança alimentar.

O artigo de Trnka et. al. (2019) vem reforçar o alerta do relatório “Climate Change and Land”,
do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, publicado em agosto
de 2019, que mostra o efeito perverso de retroalimentação entre a produção de alimentos e o
aquecimento global. O relatório do IPCC constata, de forma inquestionável, que o crescimento
da população mundial e o aumento do consumo per capita de alimentos (ração, fibra, madeira
e energia) têm causado taxas sem precedentes de uso de terra e água doce, com a agricultura
atualmente respondendo por cerca de 70% do uso global de água doce, sendo responsável por
cerca de 30% de todas as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e 80% do desmatamento
global.

Em síntese, o avanço científico e tecnológico aliado ao uso generalizado dos combustíveis fósseis
reduziu a fome no mundo, que atingiu o nível mais baixo da história até 2015. Porém, a
insegurança alimentar e a desnutrição global aumentou nos últimos 3 anos e pode aumentar
muito no futuro próximo em função do agravamento do aquecimento global.

Como alerta o professor Jem Bendell: “"A mudança climática é agora uma emergência planetária
que representa uma ameaça existencial para a humanidade". Com base na ética de "pós-
sustentabilidade", o professor afirma que devemos desistir da esperança de que nossa
sociedade possa seguir amplamente sua trajetória atual - de crescimento das atividades
antrópicas com crescentes emissões de CO2. O mundo caminha para uma “mudança climática

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descontrolada” e necessita uma ação de grande magnitude - o que ele chama de "adaptação
profunda" (ver artigo no link abaixo).

A biocapacidade da terra está diminuindo e os meios naturais para o sustento da humanidade


estão definhando. Por isto é preciso levar em conta que o progresso humano está levando o
mundo para a beira de um precipício em função de uma catástrofe ambiental cada vez mais
provável.

A volumosa produção de alimentos, para uma população que não para de crescer, está
degradando as condições de solo e água e desestabilizando o clima. Uma crise na produção de
trigo é uma péssima notícia para uma população mundial estimada em 11 bilhões de habitantes
em 2100, sendo mais um sinal de disrupção do insustentável modelo fóssil da economia
internacional.

Referência:
Miroslav Trnka et. al. Mitigation efforts will not fully alleviate the increase in water scarcity
occurrence probability in wheat-producing areas, Science Advances, Vol. 5, no. 9, 25 Sep 2019
https://advances.sciencemag.org/content/5/9/eaau2406
Jem Bendell. Deep Adaptation: A Map for Navigating Climate Tragedy, IFLAS Occasional Paper,
27 July 27th 20181 http://lifeworth.com/DeepAdaptation-pt.pdf

José Eustáquio Diniz Alves


Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

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