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Kohlert
A regra da noite
Para o meu irmão
A ordem das coisas é sempre baseada em alguma forma de poder; onde não há o
poder, estabelece-se o caos.
Rubem Fonseca, A Grande Arte
Parte 1
Reunidos
(1995-6)
1.
Mas, por enquanto, havia coisas mais importantes a se tratar do que o encontro com
Laura. Ele ocorreria apenas na terça e, antes mesmo disso, já havia fatores importantes a
serem eliminados da equação. Obviamente, o mais importante de todos era o
representado pelo caso Victor e, assim sendo, Maurílio se obrigou a chegar ao Circo
Barbosa pontualmente às oito horas e vinte minutos da noite de sábado. Ainda na direção
de seu Honda Civic, ele olhou entusiasmado para as tendas do circo, e este ato foi o
responsável por lhe entregar a incrível sensação de diversão no trabalho. Uma sensação
que, sobretudo, podia ser sentida através da animação que perpassava o seu corpo, tal
qual ondas de energia perpassam os fios de cobre das tomadas. Sem se deixar levar pelos
devaneios que poderiam surgir a partir disso, ele estacionou o carro rente a calçada do
outro lado da rua, desligou o motor, saiu batendo a porta atrás de si e atravessou.
O ingresso havia sido comprado de antemão, de modo que Maurílio não foi obrigado
a esperar na enorme fila da bilheteria para comprar o seu. Apenas precisou ir à outra fila,
exponencialmente menor, localizada junto a entrada do circo, para entregar o ingresso a
outro funcionário. Ao fazê-lo, não pôde deixar de reparar os dizeres “AQUI TEM MÁGICA,
AQUI TEM FELICIDADE” no uniforme deste. Em se tratando do nível do Circo Barbosa,
não era algo que pudesse ser tido como muito criativo.
Quando já estava se pondo novamente em movimento para alcançar a entrada, o
funcionário, que até então nem sequer havia olhado com atenção para Maurílio, lhe disse:
“Muito obrigado por vir. E aproveite o show.”
E ele, maliciosamente, retribuiu:
“Sou eu que tenho que pedir obrigado. Adoro esse circo.”