Locação em questão que se encontra regida pelas regras do direito privado, sendo de todo irrelevante que o locatário seja Município, independente da destinação pública. Precedentes do Colendo Superior Tribunal de Justiça e deste Egrégio Tribunal de Justiça. Inexistência de nulidade. Inadimplência comprovada. Réu que não purgou a mora, para evitar o desalijo, nos termos do art. 62, inciso II, letra “d” da Lei 8.245/1991. Honorários advocatícios sucumbenciais que, de fato, foram excessivamente arbitrados em R$ 2.000,00 (dois mil reais), que se reduz a R$ 1.000,00 (mil reais), tendo em vista a presença da Fazenda Pública no pólo passivo, na forma art. 20 § § 3º e 4º do C.P.C. Provimento parcial do recurso somente para reduzir a verba honorária, mantida, no mais, a sentença.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação
Cível nº 0001641-87.2008.8.19.0050, em que é apelante Município de Aperibé, e apelado Espólio de Maria de Lourdes Martins Bragança.
ACORDAM os Desembargadores da 10ª Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao recurso, para reduzir a verba honorária, mantida, no mais, a sentença.
Trata-se de ação de despejo com pedido cumulado com o
de cobrança, ajuizada pelo Apelado em face do Apelante, alegando que as partes celebraram contrato de locação de imóvel constituído pelo prédio s/nº da Rua Antônio Ferreira da Luz, Centro, Aperibé, pelo período de 01/06/2007 a 31/12/2007; que o réu não desocupou o imóvel na data aprazada; que o aluguel não é quitado desde outubro de 2007, totalizando a dívida em R$ 12.418,68 (doze mil, quatrocentos e dezoito reais e sessenta e oito centavos).
Assinado em 18/09/2013 18:12:00
GILBERTO DUTRA MOREIRA:6771 Local: GAB. DES GILBERTO DUTRA MOREIRA 217
condenação do réu ao pagamento dos aluguéis vencidos e vincendos até a efetiva desocupação do imóvel, com os consectários legais.
Contestando o feito (fls. 22), o réu invocou a nulidade do
contrato.
O Ministério Público, às fls. 58/60, manifestou seu
desinteresse na espécie.
As testemunhas arroladas pela autora foram ouvidas por
carta precatória, consoante termos de fls. 91/92 e 93, sendo informada pelo usuário do imóvel a desocupação do bem.
Ofício do TCE informando o desconhecimento do contrato
de locação e noticiando a não obrigatoriedade de remessa ao órgão do referido documento.
Sobreveio a notícia do falecimento da parte autora às fls.
108.
Na sentença de fls. 122/123v., modificada pela decisão
de fls. 126 que acolheu os embargos de declaração de fls. 124/125, o douto Juiz a quo julgou procedente o pedido, para declarar rescindido o contrato de locação em dezembro de 2008, bem como para condenar o réu ao pagamento dos aluguéis vencidos e vincendos até a efetiva desocupação do imóvel, acrescido de correção monetária a contar do vencimento de cada obrigação e de juros de mora a partir da citação, impondo-lhe, ainda, os ônus da sucumbência, fixados os honorários advocatícios em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação em R$ 2.000,00 (dois mil reais) e a reserva de 20% (vinte por cento) ao patrono da autora.
O réu apelou, às fls. 127/131, requerendo a reforma da
sentença, insistindo na nulidade do contrato e, alternativamente, a redução da verba honorária.
Em contra-razões, o apelado prestigiou o julgado (fls.
133/138).
A douta Procuradoria de Justiça, às fls. 206/208, opinou
Inicialmente, ao contrário do que sustenta o apelante, a
locação em questão se encontra regida pelas regras do direito privado, sendo de todo irrelevante que o locatário seja Município, independente da destinação pública, conforme entendimento do Colendo Superior Tribunal de Justiça: LOCAÇÃO. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA DE ALUGUÉIS ATRASADOS EM FACE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. RELAÇÃO JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO. NÃO INCIDÊNCIA DO DECRETO N.º 20.910/32. AÇÃO EXTINTA SEM JULGAMENTO DE MÉRITO. CITAÇÃO VÁLIDA. INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL. OCORRÊNCIA. PRESCRIÇÃO. NÃO CONFIGURADA. 1. O Decreto 20.910/32 regula relações jurídicas tipicamente de Direito Público e, portanto, não deve reger as relações jurídicas de direito privado, nas quais a Administração atua sem as prerrogativas que lhe são inerentes. 2. O negócio jurídico ora sob exame – locação de imóvel – é tipicamente de direito privado e, portanto, o fato de o Locatário ser a Administração Pública não basta para que preponderem os ditames específicos de direito público em detrimento das normas de direito privado, inclusive as atinentes à prescrição. 3. A citação válida interrompe o prazo prescricional, ainda que promovida em processo posteriormente extinto sem julgamento do mérito, salvo se o fundamento legal da extinção for o previsto no art. 267, incisos II e III, do Código de Processo Civil. 4. Aplicando-se à espécie as regras de direito privado, interrompida a prescrição, o curso desta volta a correr por inteiro – 05 (cinco) anos –, a partir do último ato do processo que a interrompeu, a teor do disposto no art. 173 c.c. o art. 178, § 10, inciso IV, do Código Civil e não pela metade – 2 anos e meio – na forma prevista no Decreto n.º 20.910/32. 5. Recurso especial conhecido e provido.
Em iguais termos, já decidiu este Egrégio Tribunal de
Justiça:
APELAÇÃO CÍVEL. MUNICIPALIDADE RÉ QUE
CELEBROU E DESCUMPRIU CONTRATO DE LOCAÇÃO COM PARTICULAR. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA QUE MERECE PARCIAL REPARO. 219
TRATAMENTO LEGAL DA MUNICIPALIDADE QUE DEVE SER IDÊNTICO AO DE QUALQUER OUTRO LOCATÁRIO, INDEPENDENTEMENTE DA DESTINAÇÃO DADA AO IMÓVEL. PRECEDENTES DESTA E. CORTE DE JUSTIÇA. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, À SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO OU À CONTINUIDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS, OS QUAIS PODERÃO SER PRESTADOS EM OUTRO LOCAL. VALOR RELATIVO AOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS QUE MERECE REDUÇÃO, NOS TERMOS DO ART. 20 §4º DO CPC, SENDO A QUANTIA DE R$ 1.500,00 RAZOÁVEL E CONSENTÂNEA COM A NATUREZA E COMPLEXIDADE DA CAUSA, BEM COMO COM O TRABALHO DESENVOLVIDO PELO PROFISSIONAL. INEXISTÊNCIA DE ISENÇÃO AO PAGAMENTO DAS CUSTAS PROCESSUAIS E TAXA JUDICIÁRIA QUANDO A MUNICIPALIDADE RÉ É SUCUMBENTE E O DEMANDANTE DESPENDEU VALORES PARA INGRESSO COM A DEMANDA. SÚMULA Nº 145 TJ/RJ. APELAÇÃO A QUE SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO. (Apelação 0027912-89.2009.8.19.0021 - Des. Fernando Fernandy Fernandes - 23/08/2012 - Decima Terceira Câmara Cível)
REEXAME NECESSÁRIODESPEJO POR FALTA DE
PAGAMENTO. IMÓVEL PARTICULAR LOCADO A PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO. CONTRATO SUBMETIDO ÀS REGRAS DE DIREITO PRIVADO. AÇÃO EM QUE SE DISCUTE APENAS A MORA DO LOCATÁRIO, NA FORMA DO ART. 62, II, DA LEI Nº 8.245/91. ALEGAÇÃO DE FORMALIZAÇÃO DE ACORDO. INEXISTÊNCIA DE PROVA DA QUITAÇÃO DOS VALORES INDICADOS. USO DO BEM SEM A RESPECTIVA CONTRAPRESTAÇÃO. ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA VEDADO PELO ORDENAMENTO JURÍDICO. DÉBITO A SER APURADO EM LIQUIDAÇÃO, COMPENSANDO-SE OS VALORES PAGOS NO CURSO DA DEMANDA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA QUE SE CONFIRMA EM REEXAME NECESSÁRIO. 220
FALTA DE PAGAMENTO. LOCAÇÃO NÃO RESIDENCIAL. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA COMO LOCATÁRIA. REGIME DE DIREITO PRIVADO DERROGADO EM PARTE PELO INTERESSE PÚBLICO. A LOCAÇÃO DE IMÓVEL PARA O SERVIÇO PÚBLICO NÃO É CONSIDERADA CONTRATO ADMINISTRATIVO E É REGIDA PELAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS ENTABULADAS ENTRE AS PARTES EM IGUALDADE DE CONDIÇÕES, AFASTANDO-SE OS PRIVILÉGIOS DO ENTE POLÍTICO. INTELIGÊNCIA DE DISPOSIÇÃO ESPECIAL DA LEI DE LOCAÇÕES. INADIMPLÊNCIA RECONHECIDA POR PARTE DO LOCATÁRIO, QUE IMPUGNOU TÃO SOMENTE OS VALORES COBRADOS. NÃO PURGAÇÃO DA MORA. DESPEJO LEGALMENTE DECRETADO. NA AÇÃO DE DESPEJO POR FALTA DE PAGAMENTO, COMPETE AO LOCATÁRIO A PROVA DO ALEGADO PAGAMENTO DOS ALUGUÉIS, CONSOANTE O INCISO II DO ART. 333 DO CPC. DESPROVIMENTO DA APELAÇÃO. SENTENÇA QUE, EM REEXAME NECESSÁRIO, SE REFORMA EM PEQUENO PONTO, TÃO SOMENTE PARA EXCLUIR A CONDENAÇÃO DO ESTADO AO PAGAMENTO DE CUSTAS. (Apelação 0089845-65.2005.8.19.0001 - Des. Roberto Guimaraes - 28/11/2007 – 11ª Câmara Cível)
Ação de despejo por falta de pagamento ajuizada por
entidade privada em face do Município de Araruama, pessoa jurídica de direito público interno. Inadimplemento contratual da municipalidade. Sentença que extingue o feito, sem o exame do meritum causae, com base em falta de interesse processual, sob o entendimento de inexistência da locação alegada, mas de contrato administrativo. Reforma do julgado. Sujeição da administração pública, locatária às normas de direito privado. Não se cuida de concessão de uso de bem público, remunerada, mas de propriedade particular, na espécie. Acerto do parecer Ministerial 221
contrário à manutenção da sentença, que se reforma,
provendo-se a apelação. (Apelação 0002865-93.2004.8.19.0052 - Des. Denise Levy Tredler - 08/03/2007 - Quarta Câmara Cível)
Ação de despejo por falta de pagamento cumulada com
cobrança de aluguéis. Imóvel onde funciona posto de saúde municipal, figurando como locatário o respectivo Município. As locações também são contratos de direito privado, figure a Administração como locadora ou como locatária." Incontroversa a inadimplência do Município locatário que não apresentou contestação, manifestando-se nos autos quase dois anos após ser citado, limitando-se a sustentar a impossibilidade da produção dos efeitos da revelia contra órgãos públicos, a inexistência de negligência na defesa do interesse público, a incompetência do Juizo ante a. existência de litisconsórcio passivo necessário com a União Federal e a Fundação Nacional de Saúde, a impossibilidade de decretação de despejo contra ente público, a não comprovação da titularidade do imóvel, a exorbitância do valor cobrado pelos alugueres, a não utilização do pavimento que se encontra no subsolo, a impossibilidade de renovação automática de contrato administrativo, o direito de retenção pelas benfeitorias realizadas, e cobrança excessiva com prática de anatocismo. Não trouxe o inquilino, em momento algum, comprovação de pagamentos dos aluguéis cobrados. Nas locações de imóveis utilizados por hospitais, unidades sanitárias oficiais, asilos, estabelecimentos de saúde e de ensino autorizados e fiscalizados pelo Poder Público, bem como por entidade religiosas devidamente. registradas, o contrato poderá ser rescindido na hipótese de falta de pagamento do aluguel e demais encargos. Inteligência do artigo 53, inciso I, combinado com artigo 9º, inciso II, da Lei 8.245/91. Provimento do recurso para julgar procedente o pedido de despejo e. em conseqüência, rescindir o contrato de. locação, concedendo ao locatário 6 (seis) meses para desocupar o imóvel, ao pagamento dos aluguéis vencidos e. que forem apurados em liquidação de sentença por artigos, tendo em vista as imprecisões e dúvidas sobre a fixação dos mesmos, acrescidos de juros, correção monetária e pena convencional, bem como honorários de advogado, estes fixados cm 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação. 222
aluguéis e demais encargos, bem como o réu não purgou a mora, oportunidade concedida pelo texto legal para evitar o desalijo, conforme disposto no art. 62, inciso II, letra “d” da Lei 8.245/1991, verbo ad verbum:
Art. 62. Nas ações de despejo fundadas na falta de
pagamento de aluguel e acessórios da locação, observar- se-á o seguinte: (...) II - o locatário poderá evitar a rescisão da locação requerendo, no prazo da contestação, autorização para o pagamento do débito atualizado, independentemente de cálculo e mediante depósito judicial, incluídos: a) os aluguéis e acessórios da locação que vencerem até a sua efetivação; b) as multas ou penalidades contratuais, quando exigíveis; c) os juros de mora; d) as custas e os honorários do advogado do locador, fixados em dez por cento sobre o montante devido, se do contrato não constar disposição diversa;
Dessa forma, o inadimplemento contratual resta
caracterizado, legitimando, pois, o desalijo, bem como a condenação do réu ao pagamento dos débitos locatícios vencidos e vincendos e demais encargos.
Quanto aos honorários advocatícios sucumbenciais, de
fato, o valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais) se mostra excessivo, tendo em vista a presença da Fazenda Pública no pólo passivo, devendo ser reduzidos a R$ 1.000,00 (mil reais), ficando atendidos os critérios previstos no art. 20 § § 3º e 4º do C.P.C., in verbis: Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários advocatícios. Esta verba honorária será devida, também, nos casos em que o advogado funcionar em causa própria. (...) § 3º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o máximo de vinte por cento (20%) sobre o valor da condenação, atendidos: 223
b) o lugar de prestação do serviço; c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço. § 4o Nas causas de pequeno valor, nas de valor inestimável, naquelas em que não houver condenação ou for vencida a Fazenda Pública, e nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão fixados consoante apreciação eqüitativa do juiz, atendidas as normas das alíneas a, b e c do parágrafo anterior
Por tais fundamentos, dá-se parcial provimento ao
recurso somente para reduzir a verba honorária, mantida, no mais, a sentença.
Apelado – Espólio de Maria de Lourdes Martins Bragança
RELATÓRIO
Trata-se de ação de despejo com pedido cumulado com o
de cobrança, ajuizada pelo Apelado em face do Apelante, alegando que as partes celebraram contrato de locação de imóvel constituído pelo prédio s/nº da Rua Antônio Ferreira da Luz, Centro, Aperibé, pelo período de 01/06/2007 a 31/12/2007; que o réu não desocupou o imóvel na data aprazada; que o aluguel não é quitado desde outubro de 2007, totalizando a dívida em R$ 12.418,68 (doze mil, quatrocentos e dezoito reais e sessenta e oito centavos).
Pretende seja decretada a rescisão contratual e a
condenação do réu ao pagamentos dos aluguéis vencidos e vincendos até a efetiva desocupação do imóvel, com os consectários legais.
Contestando o feito (fls. 22), o réu invocou a nulidade do
contrato.
O Ministério Público, às fls. 58/60, manifestou seu
desinteresse na espécie.
As testemunhas arroladas pela autora foram ouvidas por
carta precatória, consoante termos de fls. 91/92 e 93, sendo informado pelo usuário do imóvel a desocupação do bem.
Ofício do TCE informando o desconhecimento do contrato
de locação e noticiando a não obrigatoriedade de remessa ao órgão o referido documento.
Sobreveio a notícia do falecimento da parte autora às fls.
Na sentença de fls. 122/123 verso, o douto Juiz a quo
julgou procedente o pedido, para declarar rescindido o contrato de locação em dezembro de 2008, bem como para condenar o réu ao pagamento dos aluguéis vencidos e vincendos até a efetiva desocupação do imóvel, acrescido de correção monetária a contar do vencimento de cada obrigação e de juros de mora a partir da citação, impondo-lhe, ainda, os ônus da sucumbência, fixados os honorários advocatícios em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação em R$ 2.000,00 (dois mil reais) e a reserva de 20% (vinte por cento) ao patrono da autora (embargos de declaração às fls. 126).
Os embargos de declaração de fls. 124/125 foram
acolhidos pela decisão de fls. 126.
O réu apelou, às fls. 127/131, requerendo a reforma da
sentença, insistindo na nulidade do contrato e, alternativamente, a redução da verba honorária.
Em contra-razões, o apelado prestigiou o julgado (fls.
133/138).
A douta Procuradoria de Justiça, às fls. 206/208, opinou