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OCUPAÇÃO PRÉ-HISTÓRICA NA REGIÃO

DIEGO DE TOLEDO LIMA DA SILVA

Sabe-se que os abrigos e as cavernas têm sido utilizados desde há aproximadamente 500 mil anos,
servindo de acampamento, moradia, palco de rituais, cemitério e, mais recentemente, como suporte
para grafismos, popularmente conhecidos como arte rupestre.

De fato, achados arqueológicos de grande antiguidade vêm se multiplicando pelo interior do estado
e fornecendo informações a respeito do modo de vida desses pioneiros: povos que viviam da caça, da
pesca e da coleta de frutos e tubérculos. Viviam em pequenos grupos, sempre se deslocando ao longo
dos vales (WICHERS, 2010).

No geral, os grupos caçadores-coletores se deslocavam dentro de uma macrorregião já conhecida e


muito bem mapeadas. Os cristais de quartzo foram a principal matéria-prima utilizada pelos grupos
pré-históricos na fabricação de ferramentas de pedra lascada (NEVES & PILÓ, 2008). Assim, os
sítios arqueológicos destes primeiros habitantes são encontrados em grutas, terrenos a céu aberto,
próximos aos cursos d’água, ou em locais onde encontravam rochas adequadas ao feitio de seus
instrumentos (pontas de flecha, machados, facas, etc.). Esses testemunhos nos conectam a evidências
similares, com mais de 11 mil anos, em outros estados brasileiros e países da América do Sul,
indicando que grupos de caçadores-coletores foram os pioneiros na ocupação da América
(WICHERS, 2010).

Uma característica marcante dos grupos humanos caçadores-coletores é a mobilidade, popularmente


conhecida como nomadismo, fundamental nas suas estratégias de obtenção de recursos e de
sobrevivência, pois de 10 mil a 2,5 mil atrás os grupos indígenas viviam exclusivamente da coleta e
da caça (NEVES & PILÓ, 2008).

Com relação aos paleoíndios que ocuparam a região, este artigo aborda dois sítios arqueológicos
identificados na região: o Abrigo Fazenda do Matão (Cód. CNSA MG00781), em Extrema (MG),
e a Toca da Paineira (Cód. CNSA SP01059), em Bragança Paulista (SP) - dois abrigos sob rocha,
com existência de pinturas e gravuras rupestres, sendo que ambos estão localizados à meia
encosta/topo de morro, com o rio Jaguari nas proximidades. Para tanto, será realizada uma pequena
discussão com o caso da ocupação da região de Lagoa Santa (MG), relatado por NEVES & PILÓ
(2008).

Outro fator comum entre os dois sítios arqueológicos é que ambas as áreas estão em locais de
ocorrência de campos cerrados. O campo cerrado do Abrigo Fazenda do Matão foi identificado em
visita de campo realizada em maio de 2013; já a Toca da Paineira está localizada no Bairro do
Guaripocaba, área conhecida antigamente como Campos do Guaripocaba, devido os possíveis
fragmentos de campos cerrados da área.

Quanto aos abrigos sob rocha, estes podem ser formados simplesmente por uma inclinação
significativa de um paredão rochoso ou pela boca de uma gruta. Esses nichos foram especialmente
convidativos para o estabelecimento do homem pré-histórico, tendo em vista que proporcionam ao
mesmo tempo áreas naturalmente abrigadas e bem iluminadas, diferentemente do interior das grutas,
que são geralmente escuras e úmidas (NEVES & PILÓ, 2008).

No Abrigo Fazenda do Matão, também conhecido localmente como Pedra do Índio, existe um
abrigo sob rocha e arte rupestre com idade estimada de 2.500 anos atrás (segundo Jean Marie Polli,
informação pessoal). Apresenta vários fragmentos de Floresta Ombrófila Densa Montana em contato
com campo cerrado. Está localizado a 7 km da área urbana do município de Extrema, apresentando
uso econômico para pecuária e turismo.

Sua posição topográfica abrange parte da encosta e do topo de morro, com um imenso afloramento
de rocha granítica. O terreno apresenta declividade média de 28,9%, altitude (entrada da área) de
1.004 m. e solo classificado como Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico (LVAd), mediamente
profundo, de textura argilosa; variando a solo raso (Neossolo litólico – RL), com diversos
afloramentos rochosos e matacões. A estrutura varia de blocos a granular, dependendo do tipo de solo
e da posição no relevo.
A fisionomia deste campo cerrado é de arbustos, subarbustos, ervas e árvores tortuosas entremeadas
no substrato de gramíneas, composto basicamente da invasora Braquiária (Brachiaria sp. - Poaceae)
e de touceiras de Capim-barba-de-bode (Aristida sp. - Poaceae) em alguns locais. Entre as principais
famílias identificadas estão Fabaceae, Asteraceae, Bromeliaceae, Solanaceae, Malvaceae,
Melastomataceae e Poaceae.

No sítio da Pedra do Índio as plantas apresentam um sistema de enraizamento específico, com


extensas raízes e/ou presença de xilopódio, um órgão túbero e lenhoso, grosso e duro, constituído de
hipocótilo e raiz primária (em alguns casos foi identificada apenas a raiz primária). Outra
característica das espécies vegetais desta unidade de paisagem é a abundante presença de espinhos ou
pelos (no caso das espécies da família Melastomataceae).

Esta unidade de paisagem campestre apresenta variação de vegetação e fisionomia conforme o tipo
de solo, o maior ou menor sombreamento, a proximidade com cursos d’água e o grau de distúrbio de
cada local. Os principais distúrbios identificados foram o pastoreio por bovinos e as trilhas percorridas
por turistas.

A florescência dos vegetais campestres é bastante representativa, colorida e variada, com flores de
cores branca, laranja, rosa e amarela, bem como é destaque a frutificação de alguns indivíduos –
principalmente a Paineira-rosa e espécies do gênero Solanum.

Quanto à fauna, foram encontradas aves como o Anú-preto (Crotophaga ani - Cuculidae), o Urubu-
rei (Sarcoramphus papa – Cathartidae) e o Urubu-de-cabeça-preta (Coragyps atratus – Cathartidae),
bem como a espécie de réptil Calango-cego (Polychrus acutirostris - Polychrotidae).

A Toca da Paineira, abrigo sob rocha com pinturas e gravuras rupestres, localizado no Bairro do
Guaripocaba, em Bragança Paulista, foi descoberto graças à realização de um programa de
Arqueologia Preventiva para o licenciamento de uma pedreira. No interior do abrigo foram
encontradas não só as ferramentas dos artistas pré-históricos, mas também fragmentos de antigas
garrafas indicando o seu uso em diversas épocas (WICHERS, 2010).

Na Toca da Paineira foram encontrados artefatos líticos lascados e polidos (tradição lítico não
ceramista), com estrutura de combustão (mancha de queima no teto – fuligem). NEVES & PILÓ
(2008) apontam que, em Lagoa Santa, a indústria lítica é muito generalizada, expedita, com poucas
peças retocadas e quase nenhuma formalização, artefatos estes encontrados em abrigos rochosos.
RAMBELLI et al. (2000) descreve o achado de um “tacape” de madeira encontrado nas
proximidades da Toca da Paineira, próximo ao rio Jaguari, para o qual foi realizada datação de
Carbono 14, que após calibração gerou como resultado a possibilidade de corresponder a dois
períodos:

- 2345 a 2302 anos AP (Antes do Presente);

- 2257 a 2183 anos AP.

Assim, o sítio arqueológico da Toca da Paineira apresenta entre 2183 e 2345 anos AP,
contemporâneo à estimativa de antiguidade para o Abrigo Fazenda do Matão (2.500 anos AP), em
Extrema. É possível também se tratar do mesmo bando, levando em conta que esses indígenas se
deslocavam numa região maior. Outra possibilidade é que esse deslocamento se deu pelas margens
do rio Jaguari.

No Sítio Lund, a céu aberto, localizado nas margens da Lagoa do Sumidouro (MG), foram realizadas
datações de carvões obtidos nas sondagens, que geraram datas ao redor de 2 mil anos. Possivelmente,
trata-se de uma ocupação de caçadores-coletores de indústria lítica tardios, que chegaram à região
pouco antes dos grupos ceramistas, ou até em concomitância (NEVES & PILÓ, 2008).

É de conhecimento que a paisagem regional era um mosaico de Floresta, Mata de Araucária, campos
cerrados e de altitude, com frutos como o pinhão, o araticum e outros, tradicionalmente consumidos
pelos grupos indígenas. Essa prática é concordante com o apresentado por NEVES & PILÓ (2008)
para os antigos grupos humanos de Lagoa Santa, pois estes apresentavam um sistema de subsistência
generalizado, baseado no alto consumo de carboidratos de origem vegetal (espécies do cerrado e da
mata) e caça de pequeno porte, ou seja, eram muito mais coletores que caçadores.
Por fim, a Arqueologia aponta que a ocupação do território paulista é muito antiga, chegando a cerca
de 10 mil anos.

DICAS DE LEITURA E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GRAFISMO RUPESTRE. (2011) Abrigo da Pedra do Índio – Extrema – MG. Disponível em:
http://www.grafismorupestre.com/archives/533. Acesso em: 26 Junho 2013.

GRAFISMO RUPESTRE. (2011) Formas geométricas do Abrigo da Pedra do Índio. Disponível em:
http://www.grafismorupestre.com/archives/563. Acesso em: 26 Junho 2013.

NEVES, W.A. & PILÓ, L.B. O povo de Luzia: em busca dos primeiros americanos. São Paulo:
Editora Globo, 2008. 334p.

RAMBELLI, G.; TOMAZELLO, M.; CAMARGO, P.B. A canoa monóxila indígena de Bragança
Paulista: uma análise arqueológica interdisciplinar. Revista FESB, Bragança Paulista, v.01, n.01, p.
30-43, 2000.

WICHERS, C.A.M. (Org.) Mosaico paulista: guia do patrimônio arqueológico do estado de São
Paulo. São Paulo: Zanettini Arqueologia, 2010. 48p.

Por Diego de Toledo Lima da Silva


ÍNDIOS LOPOS

A referência aos índios lopos é evidenciada na cartografia e mapas elaborados no século XVI e
principalmente no século XVII, em que o Morro do Lopo era como uma bússola natural dos viajantes
e das bandeiras realizadas, que passavam pela região. O Morro citado é atualmente conhecido pela
população local do município de Joanópolis (SP) como Serra do Lopo ou Gigante Adormecido, sendo
um mosaico paisagístico de Floresta Ombrófila Densa Alto-Montana, campos de altitude e Mata de
Araucária, localizado no setor sul da Serra da Mantiqueira.

Este artigo busca congregar parte dos relatos históricos existentes sobre esses índios, que habitaram
a região bragantina do estado de São Paulo, a Serra da Mantiqueira e o sul de Minas Gerais,
pertencentes ao tronco linguístico Macro-Jê (tapuias).

Também busca demonstrar a relação ecológica dos índios lopos com a Floresta de Araucária,
paisagem que era predominante na região apontada.

Denominações, aspectos culturais, guerras e alimentação

Essa tribo dos lopos também era conhecida como Caiapós, Kayapós, [caiapós] Rubrica:
etnologia.grupo indígena que se divide nos subgrupos caiapó-aucre, caiapó-cararaô, caiapó-
cocraimoro, caiapó-cubem-cram-quem, caiapó-gorotire, caiapó-mecranoti, caiapó-metuctire,
caiapó-pau-d'arco, caiapó-quicretum e caiapó-xicrim [No passado eram tb. chamados de coroados,
e os de Mato Grosso, coroás.]

Bilreiros, Ibirajara e Ybirajara, além do termo genérico “Bugres”. O pirata inglês Anthony Knivet
(2008), que participou da entrada dirigida por Martim Correia de Sá, iniciada em outubro de 1596,
traz um relato detalhado das tribos indígenas do litoral e do sertão. Assim ele descreve essa tribo:

“Então chegamos à terra de um tipo de canibal chamado lopos, que os


portugueses chamam de bilreiros.

Esses canibais ficam sempre nas montanhas de pinheiros e não têm nada além
de pinhas para comer. Nunca vi qualquer cabana em que morassem, mas sim
galhos amarrados com ripas. Eles se aproximavam e nos diziam muitas
coisas, acompanhando-nos por uns dois ou três dias, e então fugiam. Muitas
vezes, quando encontravam algum de nossos índios ou portugueses, se
aponderavam daquilo que os nossos traziam mas deixavam-nos ir, sem
machucá-los. Em nossa viagem por essa região encontramos muitas minas de
ouro, do qual nosso capitão conseguiu obter boa quantidade com esses índios,
além de muitas pedras preciosas. Não há local mais rico do que esse em toda
a América, mas fica tão distante do litoral e é tão populoso que nem
portugueses nem espanhóis conseguem morar lá. Os lopos são homens de
baixa estatura e de pele muito morena, toda pintada como a dos outros
canibais que já mencionei. As mulheres são morenas como os homens e muito
grosseiras e despudoradas, pois se comportam como animais selvagens e em
tudo o mais se parecem com estes”.

Essa foi uma entrada pioneira no sertão regional, pois os europeus desconheciam o local em que
estavam. KNIVET ([1596] 2008) relata isso:

“(...) De lá todos decidiram voltar, menos eu e doze jovens. Pedimos ao


capitão que nos desse permissão para seguir nosso caminho, e ele nos deixou
fazermos aquilo que quiséssemos. De minha parte, pedi que me liberasse
apenas por medo de que, na volta para casa, ele me armassse alguma cilada.
Além disso, pensamos que dificilmente conseguiríamos voltar, já que não
sabíamos onde estávamos e não ousávamos retomar o caminho de ida por
medo dos puris, lopos e temiminós, além de outros canibais que, nos vendo
enfraquecidos, poderiam nos atacar”.

A literatura histórica encontrada aponta que, em 1601, uma expedição sob o comando de D. Francisco
de Souza, esteve no Morro do Lopo, depois de explorar o sul de Minas Gerais. Posteriormente, as
entradas em busca de indígenas e o ciclo do ouro atraíram os Bandeirantes, que marcaram sua
passagem pelo sertão do Lopo (HARRIS, 1996; CASSALHO, 2010).

É certo que o leito dos rios foi a trilha preferida pelos exploradores. Estes, organizados em expedições
particulares, avançaram sobre os sertões, a partir do século XVI, motivados pelo aprisionamento dos
índios e a descoberta de ouro e outras pedras preciosas (COSTA, 2011). Portanto, foi assim que os
cursos d’água da região foram descobertos e nomeados, como os rios Jaguari, Atibaia, Jacareí,
Sapucaí e Verde.
COSTA (2011) cita a bandeira estudada por LEFORT (1996), a de Matias Cardoso de Almeida, com
o seguinte relato:

“Já no ano de 1664, estando em São Paulo, [o bandeirante] resolveu abrir uma
picada diferente, mais reta e sem as dificuldades daquela oficial pela
Mantiqueira. E o fez passando por Atibaia e vindo até o [rio] Sapucaí, depois
de ter afugentado um bando de terríveis índios lopos, que infestavam [sic] a
região. Este caminho passou a ser conhecido pelo seu nome e levava maiores
vantagens. (...) Este caminho vai ser, três séculos depois, a rodovia Fernão
Dias, traço de união entre Minas e São Paulo”.

ANASTASIA (2005) cita uma bandeira apresadora desses índios de 1692 no sul de MG, liderada por
três sertanistas de Taubaté (Antonio Delgado da Veiga, João da Veiga e Miguel Garcia, o Velho).

Outra citação é trazida por NEME (1969):

“Nos princípios do século XVII os Caiapó, também chamados Bilreiros, eram


um povo pacífico e assentado, mantendo relações amigáveis com os brancos
de São Paulo... É com a entrada de levas seguidas de mineradores,
aventureiros e traficantes, soldados e colonos, nas terras de domínio dos
Caiapó, a partir de 1726, que estes índios se tornam mais agressivos”.

A mobilidade e a ampla distribuição territorial desses índios estão evidenciadas na literatura histórica.
Segundo o bandeirante paulista Antonio Pires de Campos, eles seriam habitantes da área
compreendida desde

“a zona do Pardo e Camapuã, no sudeste de Minas Gerais até a área (...) do


Triângulo Mineiro; e para cima até a altura quase da embocadura do
Araguaia”.

PREZIA (2000) traz relatos da presença dessa tribo indígena, além da fronteira do Médio Tietê, a
Oeste. Segundo LEOPOLDINO (2009), entre 1721 e 1725, o bandeirante Luiz Pedroso de Barros,
sob ordens do governador Rodrigo César de Menezes, abriu um picadão cruzando os rios Capivari,
Piracicaba e os Campos de Araraquara, aproveitando-se de uma antiga rota indígena chamada
“estrada velha do sertão dos Bilreiros”.

Bilreiros era um nome genérico dado a grupos jê (tapuias), assim identificados pelo hábito que tinham
de lutar com um cacete, chamado na época de bilro. Mais tarde, com as incursões no baixo Tietê,
foram denominados de Kayapós Meridionais (NEME, 1969; PREZIA, 2000).

Os Lopos/Caiapós foram um dos grupos mais perseguidos. O relato do Capitão Antonio Pires de
Campos, em 1723, afirmava que os mesmos eram considerados perigosos, não só pelas guerras
constantes que moviam na região, mas também pelo uso de práticas culturais nada aceitáveis pela
sociedade branca. AMANTINO (2006) traz o relato do Capitão:

“Este gentio [Caiapó] é de aldeias, e povoa muita terra por ser muita gente,
cada aldeia com seu cacique, que é o mesmo que governador, a que no estado
do Maranhão chamam principal, o qual os domina, estes vivem de suas
lavouras, e no que mais se fundam são batatas, milho e outros legumes, mas
os trajes destes bárbaros é viverem nus, tanto homens como mulheres, e o seu
maior exercício é serem corsários de outros gentios de várias nações e
prezarem-se muito entre eles a quem mais gente há de matar, sem mais
interesse que de comerem os seus mortos, por gostarem muito da carne
humana, e nos assaltos que dão aqui e presas que fazem reservam os pequenos
que criam para seus cativos.”

Também foram conhecidos como Bugres, pois quando da colonização lusitana no Brasil, os
portugueses denominavam assim os índios, por causa de seus hábitos “selvagens” (nudez e
antropofagia) e da sua “moral vacilante” (poligamia e sodomia) (FREYRE, 1963 apud
LEOPOLDINO, 2009).

Considerações finais

Esses índios, após terem sido sistematicamente guerreados em diferentes momentos e regiões, foram
praticamente extintos. Após a invasão de suas terras pelos europeus, essa extinção é evidenciada pela
diminuição dos relatos históricos ao longo do tempo.

Chama a atenção que esses índios tinham uma alimentação baseada na coleta do pinhão da Araucaria
angustifolia, conífera conhecida popularmente como Araucária, Pinheiro-bragantino ou Pinheiro-
brasileiro. A ampla distribuição desses indígenas no território regional demonstra como a Mata de
Araucária (Floresta Ombrófila Mista) era uma unidade de paisagem predominante na região, bem
como o impacto do desmatamento seletivo (e não seletivo) provocado pelo homem branco.

Essa ponderação é confirmada pelo relato de CARDIM ([1590] 1978), citado por PREZIA (2000),
que na sua passagem por Piratininga (São Paulo-SP) no final do século XVI já anotava que

“há muitos pinheiros, as pinhas são maiores nem tão bicudas como as de
Portugal: e os pinhões são também maiores, mas muito mais leves e sadios,
(...) e é tanta a abundância que grande parte dos índios do sertão se sustentam
com pinhões”.

Dois séculos depois, outro importante relato histórico que confirma essa hipótese é encontrado em
SANCHES (2007), com base em MARTINS & LAURITO (1943), que citam a viagem dos
naturalistas alemães von Spix e von Martius à capitania de São Paulo e que chegaram ao Morro do
Lopo em 1823:

“O Morro do Lopo, quasi por toda parte coberto de bosques espessos, deve
ter pelo menos três mil pés de altura e domina a serra. (...) O caminho vai
sempre coleando pela montanha, cujos vales ficam tanto mais estreitos
quando mais se sobe. Fora de algumas miseráveis casas e ranchos habitados
por mamelucos e outros mestiços não se encontra nenhum indício de homem
nesta região solitária. As araucárias que crescem nos declives da montanha se
harmonisam com o caráter sombrio da paisagem. Seus altos troncos retilíneos
só se esgalham a grande altura em ramos regularmente postos e
espressamente cobertos de acúleos chatos... Estas árvores magestosas estão
sempre separadas umas das outras, tocam-se somente pelas altas frondes.
Simulam grandes colunatas de teto plano que são habitadas por bandos de
papagaios (‘Psitacus aestivus’). A araucária é a única espécie da família
natural das árvores de estróbilo que encontramos durante toda a viagem...”

Certo que esses índios se deslocavam por uma ampla região (o chamado macroterritório) e mantinham
uma vigilância sobre as Araucárias, pela importância que o pinhão tinha para sua sobrevivência. Outra
certeza é que essa nação não eram os únicos índios da região que tinham o pinhão como base
alimentar, outros como os Puris [O termo "puri" surgiu a partir de uma expressão pejorativa que lhes
havia sido dada por seus vizinhos, os índios coroados. Significa "povo miúdo, gentinha, fraco, de
pequena estatura " OLIVEIRA, Enio Sebastião Cardoso de O Paradigma da Extinção:
Desaparecimento dos Índios Puris em Campo Alegre no Sul do Vale do Paraíba. Anais do XV
encontro regional de história da ANPUH-Rio. Acesso em 7 de junho de 2013. - O aldeamento de
São Luís Beltrão: os índios puris e a política indigenista de 1788 a 1808 em Campo Alegre da
Paraíba Nova. Vassouras: Universidade Severino Sombra, 2012], e Maromomi também. Os
maromomis, índios da nação jê, falavam uma língua que o português descrevia como travada, difícil
de pronunciar. Pertenciam a um grupo índios diferente dos tupiniquins. Eles se afastaram de suas
aldeias que ficavam nas margens do Rio Paraná por não aceitar ser subordinado as ordens dos chefes
e da sua sociedade. Por isso, perambularam em pequenos grupos familiares, até chegarem aos vastos
campos das margens do rio anhenby, (Tietê), região onde é hoje a Grande São Paulo. Esses índios
viviam em cavernas que cavavam nas encostas dos morros ou mesmo em buracos no chão, sempre
com entrada disfarçada com folhas. Isso para não serem descobertos e caçados pelos tupiniquins e
posteriormente pelo português. Com hábitos coletores, consumiam o que a natureza oferecia, e de
maneira auto-sustentável, quando as frutas e os animais se tornavam escassos, logo se transferiam.

Também abandonavam seus abrigos quando percebiam o tupiniquim ou o português. Viviam nus e
adornavam pouco o corpo. Cobrir o corpo com barro estava mais relacionado à proteção contra
mosquitos do que a vaidade. O repertorio de cantos e danças era bem reduzido comparado com os
Tupis. Dóceis, não realizavam a antropofagia. A sua defesa sempre foi à fuga. Quando capturados
pelos tupiniquins, eram levados para a aldeia e não tentavam fugir, pois isso seria uma das maiores
vergonhas.

Lá, na aldeia do tupiniquim, o prisioneiro maromomis esperava pacificamente o momento de sua


execução nos rituais antropofágicos dos tupiniquins. Talvez esta docilidade e o fato de que se
capturados não fugiam, tenham feito deste grupo de índios o mais cobiçado pelos portugueses para
trabalhos escravo, no inicio da colonização de São Paulo. Em 1553, os maromomis, perceberam que
os portugueses acompanhados dos índios tupiniquins estavam construindo uma aldeia entre os rios
Anhagabaú e Piratininga, abandonaram aquela região e se espalharam pela Serra da Jaguamimbaba
(Serra da Cantareira), Barueri, Pinheiros, São Miguel. Em 1560, os jesuítas preocupados com o
fastamentos dos índios que habitava naturalmente a região do pátio do colégio são bento e
incentivados pela cora portuguesa em ocupar a colônia, organizaram os primeiros aldeamentos em
áreas em volta do colégio são bento. O padre Manuel Paiva Formou então, um grupo com jesuítas,
portugueses e índios tupiniquins abrindo caminho pelas densas florestas. E em 8 de dezembro houve
o encontro entre os maromomis, tupiniquins, jesuítas e portugueses. Foi então que o tupiniquim
apelidou os maromomis de guaru, por serem barrigudos e pequenos. Nessa época os tupiniquins
apresentavam para os primeiros paulistas a sua forma de ver e compreender a região que esta hoje a
grande São Paulo, assim Manuel Paiva adotou o apelido de guaru como sendo a identificação daquele
grupo de índios. E assim, da relação dos povos e uma miscigenação dos fonemas surgiu a palavra
guarulhos, que veio a ser o nome de uma grande cidade Brasileira.

[http://guarulhosdepontaaponta.com.br/historia-de-guarulhos/indios-maromomis-hisoria-de-
guarulhos-450-anos/]

Para finalizar e provocar a curiosidade do leitor, a recorrência aos veredictos históricos não pode ser
tomada como conclusiva, mas sim como mais uma evidência da extensão da Mata de Araucária e dos
“terríveis” ÍNDIOS LOPOS que habitaram a região.

Na região entre Camanducaia, Itapeva, Extrema, Joanópolis, Vargem, Piracaia, Bom Jesus, Nazaré,
Igaratá, São José dos Campos e região, peregrinavam então os índios Tamoios, Temiminós e os
Tupiniquins.45

CASSALHO, Valter.

Lopo de Souza Guarapuava

A ORDEM DA MISSÃO E OS JOGOS DA AÇÃO – O indio Lopo de Souza Guarapaúba

DICAS DE LEITURA E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMANTINO, M. As guerras justas e a escravidão indígena em Minas Gerais nos séculos XVIII e
XIX. Varia História, Belo Horizonte, v.22, n.35, p. 189-206, jan./jul. 2006.

ANASTASIA, C.M.J. A geografia do crime: violência nas Minas setecentistas. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2005. 173p.

CASSALHO, V. VII Encontro de Verônicas: A Quaresma na região Entre Serras e Águas e o Canto
da Verônica. Revista Brasil-Europa, 128/28 (2010:6). Disponível em: http://www.revista.brasil-
europa.eu/128/Encontro-de-Veronicas.html. Acesso em: 28 Junho 2013.

COSTA, M.L.P. Capacitação de educadores em educação ambiental e educação patrimonial focada


em recursos hídricos: A Fazenda-Escola Fundamar (Paraguaçu/MG, baixo curso do rio Sapucaí).
2011. 237p. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
HARRIS, T.G. Ecos distantes: Primórdios e evolução histórica de Joanópolis. São Paulo: EDICON,
1996. 320p.

KNIVET, A. As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet: Memórias de um


aventureiro inglês que em 1591 saiu de seu país com o pirata Thomas Cavendish e foi abandonado
no Brasil, entre índios canibais e colonos selvagens. 2. ed. Organização, introdução e notas: Sheila
Moura Hue. Tradução do original de 1625: Vivien Kogut Lessa de Sá. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
154p.

LEFORT, M.J.P. O Sul de Minas e as Bandeiras. Trabalho histórico apresentado no Congresso de


História do Bandeirantismo, por ocasião do tricentenário da bandeira de Fernão Dias, ocorrido a 21
de julho de 1974. Centro de Estudos Campanhenses Mons. Lefort/ Prefeitura Municipal de Campanha
(Série Campanhenses Ilustres), n.8, Campanha, Minas Gerais, nov. 1996.

LEOPOLDINO, E.A. A fala dos tiroleses de piracicaba: um perfil linguístico dos bairros Santana e
Santa Olímpia. 2009. 373p. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, São Paulo.

MARTINS, N.S.; LAURITO, D. Bragança 1763 - 1942. Coleção “São Paulo” através da História.
São Paulo: Mario M. Ponzini & Cia., 1943.

NEME, S. Dados para a história dos índios Caiapó. Anais do Museu Paulista, São Paulo, n.23, 1969.

PREZIA, B. Os indígenas do planalto nas crônicas quinhentistas e seiscentistas. São Paulo:


Humanitas/FFLCH/USP, 2000. 268p.

SANCHES, R.C. Análise da alteração da paisagem através de sensoriamento remoto entre 1984 e
2006: entorno da represa dos rios Jaguari e Jacareí, leste do estado de São Paulo, Brasil. 2007. 67p.
Dissertação de Mestrado. Universidade de Guarulhos, Guarulhos.
ÍNDIOS MAROMOMI

Essa nação indígena é tradicionalmente citada como habitante da região bragantina por diversos
autores. É tipicamente centro de equívocos e discussões pelos que dela se ocupam, por diversos
motivos: etnônimo, linguagem, traços culturais, área territorial, etc. Assim, serão predominantemente
utilizados neste artigo os nomes Maromomi, Goarulhos e Guarús.

O pesquisador especializado na temática indígena, Benedito Antônio Prezia, na sua obra “Os
indígenas do planalto paulista nas crônicas quinhentistas e seiscentistas”, baseado na documentação
jesuítica e nas Atas da Câmara de São Paulo (ACSP), afirma que Guarulhos foi fundada com o nome
de Nossa Senhora da Conceição dos Maromomi, por volta de 1607, sendo que este nome indígena foi
mudado para Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos, entre 1630 e 1640 (DE OLIVEIRA et al.,
2010).

Já os autores da região bragantina atribuem o etnônimo de Guarulhos ou Guarús a estes indígenas.

REZIA (2000) apresenta diversos etnônimos para esse povo, como: Maromomi, Maromomis,
Maramomís, Moromemim, Moromomins, Gurumimins, Jeromomis, entre outros; sendo mais tarde
(metade do século XVII) denominados Goarulho/Guarulho e/ou Guarús, estes últimos vocábulos de
origem tupi.
No entanto, a literatura histórica não deixa dúvidas que estes indígenas eram tapuias (povos do grande
tronco linguístico jê). PREZIA (2000) evidencia que Maromomi ou Maromemin parece ter sido a
autodenominação, já que este nome foi transmitido pelos jesuítas que trabalharam junto a eles, como
Viegas e Anchieta. As demais formas seriam deformações da primeira.

As regiões montanhosas da Mantiqueira devem ter sido uma área onde viveu parte do grupo dos
Maromomi, pois no início do século XVII esta serra foi chamada pelo naturalista Glimmer de “montes
Guarimunis ou Marumininis, onde há minas de ouro” (PREZIA, 2000).

Essa etnia indígena também habitava o Vale do Paraíba, bem como além da Serra dos Órgãos.
Também existem citações desses índios como vizinhos dos Puris e dos Manipaque. Alguns
consideram que eram aparentados dos Puris.

Expulsão dos Maromomi do litoral


Do Vale do Paraíba, os Maromomi devem ter descido com frequência ao litoral, para a coleta de
moluscos, como atesta o topônimo registrado por Simão de Vasconcelos – “enseada dos Maramomis,
fronteira à ilha dos Porcos, próximo à vila de São Sebastião”. E foi no litoral de Bertioga e não na
montanha, que os jesuítas, pela primeira vez, entraram em contato com eles (PREZIA, 2000).
Atualmente, a enseada citada por Vasconcelos é a enseada de Caraguatatuba, litoral norte de São
Paulo.

Os Maromomi foram expulsos do litoral norte paulista pelos povos tupi. Esses indígenas tupi
migraram para a costa leste, por volta do século XIV, num movimento de expansão que lhes era
próprio. Os Maromomi, depois da expulsão, passaram a viver num território entre a Serra do Mar e a
Serra da Mantiqueira. Ao contrário dos tupi, que eram grandes ceramistas, os Maromomi eram de
tradição coletora, não dominavam a técnica da cerâmica. Falavam uma língua da família Puri, que
era do tronco linguístico Macro-Jê (DE OLIVEIRA et al., 2010).

Há indícios de que os tupis que vieram a ocupar o território paulista tiveram sua origem na Amazônia
há mais de 2 mil anos. A partir daí foram se deslocando para sul e para o litoral. De acordo com suas
lendas tradicionais, estes povos estariam sempre em busca de uma terra sem males, onde reinaria a
felicidade. Esses grupos eram divididos em várias nações, algumas aliadas e outras inimigas
(WICHERS, 2010).
Segundo SCHMITZ (2006), uma forma de dar vazão ao número crescente de indivíduos e à exaustão
do solo na região amazônica era a busca de novos rios cobertos de matas, uma “terra sem males”,
onde a vida poderia ser reproduzida sem grandes preocupações. Por isso, ao redor do tempo de Cristo
começariam migrações maiores buscando outras matas, principalmente dos ascendentes da família
Tupi-guarani.

Para PREZIA (2000), há um grande consenso dos pesquisadores em afirmar que a cultura tupi
dominava o planalto paulista. VILLANUEVA (2006) afirma que entre os municípios da região
bragantina peregrinaram os índios Tamoios, Temiminós e os Tupiniquins (estes de língua tupi).

Descrição dos Maromomi

PREZIA (2000) apresenta o missionário Jácome Monteiro, que conheceu os Maromomi em 1610, e
deixou talvez a mais completa descrição desse povo:

“É o sertão desta Piratininga povoada de muitas e mui várias nações de gentio,


dos quais os Moromomins, e destes a menor parte se vieram à Igreja. No viver
são mui semelhantes aos Aimurés, porque sua habitação não é certa,
sustentam-se de caça, frutos do mato, não plantam mandioca, nem outro
algum legume à guisa do mais gentio, dormem no chão sobre ramos ou ervas,
falam com muita pressa, e na pronunciação vizinham muito com os
Castelhanos e ainda nas feições. Têm muitos e mui vários jogos, os quais
festejam em público terreiro, ganhando e perdendo arcos, frechas e qualquer
outra cousa de que usam; e nisto são singulares, porque nenhum gentio põe
preço a jogo algum”.

Assim como outros tapuias que habitavam a região (os Lopos e Puris), os relatos de jesuítas
confirmam que essa nação vivia dos pinhões e da sapucaia, e secundariamente da caça.

Como exemplo, com a expulsão dos jesuítas da cidade de São Paulo em 1640, os Maromomi foram
para a região de Atibaia (conforme situam diversos textos seiscentistas), como se vê na doação de
várias sesmarias. Uma dessas citações, do início do século XVII denomina a sua localização como
“numa paragem que chamam os Pinhaes” (PREZIA, 2000).

DE OLIVEIRA et al. (2010) descrevem que o pinhão da Araucária foi um dos itens de alimentação
que atraíram os indígenas Maromomi para a região de Guarulhos. Consequentemente, a exploração
dos recursos florestais de forma irracional pelo homem branco em seu processo “civilizatório”
extinguiu não só a Mata de Araucária, mas quase todas as matas do município de Guarulhos.

Padre Anchieta reafirma esta preferência para regiões mais altas e cobertas por florestas quando
escreve que “a maior força deles vive pelos matos e serras” (PREZIA, 2000). Era um povo com
ausência de antropofagia e da poligamia, característica diferenciadora de outros povos
(principalmente os de cultura tupi e algumas tribos tapuias).

Sabe-se que a partir de 1665 vão desaparecendo as referências a estes índios, significando o
desaparecimento desse grupo, causado pela escravização e outros males causados pelos portugueses.

Considerações finais

Bem antes dos 500 anos de dominação, expropriação dos territórios indígenas e exploração da sua
força de trabalho, prevaleciam atividades dos indígenas coletores Maromomi. Com a chegada dos
colonizadores brancos, instaurou-se a escravidão para a extração de ouro e para o transporte de carga
(DE OLIVEIRA et al., 2010).

Era um povo “muito gentio e propenso à fé”, sendo que diversos grupos foram aldeados pelos jesuítas.
A localização dos Maromomi/Goarulho na Serra da Mantiqueira e nas proximidades de Atibaia
revelam um traço cultural característico dos povos de língua jê (tapuias) da região: o pinhão da
Araucária como base alimentar. Era uma tribo nômade, que se deslocava por um grande território.
Esses deslocamentos também tinham por objetivo a fuga da escravização portuguesa e dos índios
tupi, estes últimos buscavam a guerra constantemente e o aprisionamento de “inimigos” para os rituais
antropofágicos.
Há de se considerar que foi bem difícil a permanência dos Maromomi/Goarulho nos aldeamentos
missionários, pois eram povos coletores, de muita mobilidade e com ausência de tradição agrícola.
Mais uma vez, ressalta-se que a recorrência aos veredictos históricos não pode ser tomada como
conclusiva, mas sim como mais uma evidência buscando contar a história dos índios Maromomi,
denominados posteriormente como Goarulho, bem como sua relação com a Mata de Araucária.
DICAS DE LEITURA E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DE OLIVEIRA, F. et al. Revelando a história do Bonsucesso e região: nossa cidade, nossos bairros!
São Paulo: Noovha América, 2010. 120p.

PREZIA, B. Os indígenas do planalto nas crônicas quinhentistas e seiscentistas. São Paulo:


Humanitas/FFLCH/USP, 2000. 268p.

SCHMITZ, P.I. Migrantes da Amazônia: a tradição Tupiguarani. In: SCHMITZ, P.I. (ed.) Pré-história
do Rio Grande do Sul. 2. ed. São Leopoldo, RS: Instituto Anchietano de Pesquisas – UNISINOS,
2006. 164p.

VILLANUEVA, A. Os marcos geográficos como referências na ocupação do território paulista: o


caso do morro do Lopo e os núcleos urbanos no “Caminho de Atibaia”, no século XVII. URBANA,
Ano 1, n.1, set./dez. 2006. Dossiê: Religião, poder, civilização e etnia na cidade colonial.

WICHERS, C.A.M. (Org.) Mosaico paulista: guia do patrimônio arqueológico do estado de São
Paulo. São Paulo: Zanettini Arqueologia, 2010. 48p.
PURIS, MOLAPOQUES E JAGUAMIMBABA

No tocante à ocupação indígena da região, o aprofundamento da pesquisa histórica demonstra que a


Serra da Mantiqueira era um mosaico cultural de tribos indígenas, de línguas tupi e jê (tapuias). Eram
diferentes tribos se deslocando pelas áreas atuais da Serra da Mantiqueira, da região bragantina e do
sul de Minas Gerais, cruzando os rios e as paisagens da região. Atenção especial merece a Mata de
Araucária (Floresta Ombrófila Mista), pois o pinhão foi base alimentar de várias tribos indígenas que
aqui estiveram.

Entre as nações que habitavam a região estão diversas tribos citadas nos primórdios do povoamento
da região sul mineira. Sendo assim, este artigo tem como objetivo descrever os grupos dos
Molapoques e Puris, que eram habitantes da região, além de outras tribos pouco citadas nos livros
históricos.

O povoamento do sul de Minas Gerais PRADO (1949) cita os Morupaks (gente atilada), os
Abatinguaras (comedores de gente branca) e os Mandibóias (cobra enroscada) como presentes nas
bacias do rio Verde e Sapucaí, no sul mineiro. O historiador Nelson de Senna confirma a presença
dos Abatinguaras, nas margens do rio Sapucaí e Grande, Morupaks, entre o rio Sapucaí e Jaguari, e
Mandibóias, nas margens do rio Sapucaí e Verde (REBELLO, 2006; COSTA, 2011).

O pirata inglês Anthony Knivet (2008), que participou da entrada dirigida por Martim Correia de Sá,
iniciada em outubro de 1596, apresenta um relato detalhado das tribos indígenas do litoral e do sertão.
Entre as tribos que habitavam o sertão estão os Molapoques:

“Depois de cruzar o famoso rio Paraíba, chega-se a uma região de canibais chamados molapoques.
Esses se parecem bastante com holandeses em tamanho, têm a pele muito clara
e barbas como as dos outros homens, ao contrário de outros canibais, entre os
quais raramente se encontra um com barba. A maioria cobre suas partes íntimas
e se comporta de maneira gentil. Suas aldeias são bem fortificadas, rodeadas
de muros de terra e de grandes troncos, dentro dos quais há muitas cabanas para
os homens e suas famílias. (...) Entre esses canibais havia boa quantidade de
ouro, para o qual não dão valor nem têm uso, exceto para prender nas redes de
pesca quando vão pescar no rio Pará, onde conseguem peixe farto e bom e que
fica a umas oitenta léguas além do Paraíba. (...) Esses canibais comem carne
humana”.

A tribo dos Molapoques foi encontrada pela entrada nas proximidades do rio Pará, afluente da
margem direita do rio São Francisco, no estado mineiro (KNIVET, [1596] 2008). Segundo Teodoro
Sampaio, molapoque seria derivado de mirapac, que significa “gente esperta”; esses índios seriam
habitantes do Sapucaí-Guaçu, no atual estado de MG. Na verdade, trata-se da mesma tribo que
habitava a região entre os rios Sapucaí e Jaguari (Morupaks), o que demonstra uma característica das
tribos que habitavam a região: a mobilidade (nomadismo) e a distribuição da população por
extensivas áreas do sertão.
Navegando pelo rio Jaguari, no seu trecho mineiro, KNIVET ([1596] 2008) descreve o encontro de
uma aldeia abandonada, provavelmente da tribo dos Molapoques:

“Depois que deixamos o capitão, fizemos uma canoa bem grande da casca de
uma árvore e começamos a descer um rio chamado Jaguari. Uma semana
depois chegamos a uma pequena aldeia de seis casas que parecia estar há
muito desabitada. Abandonamos então nossa canoa e decidimos continuar o
trajeto por terra. Nessa aldeia encontramos grande quantidade de vasos de
cerâmica e, dentro de alguns, pepitas de ouro amarradas a linhas com as quais
os índios costumam pescar”.

Quanto à localização geográfica dessa aldeia, Teodoro Sampaio afirma ser a confluência dos rios
Jaguary com o Camanducaia, próximo à atual cidade de Extrema (MG).

Já para Diego de Vasconcellos, na obra “História Antiga das Minas Geraes”, o sul de Minas também
era habitado pela nação dos Cataguá em seus primórdios. Também eram conhecidos como Catauá,
Katauá ou Catu-auá – “gente boa” (REBELLO, 2006; COSTA, 2011). Segundo AMANTINO (2006),
os Caitaguás ou Caitaguases habitavam o Centro, o Oeste e o Sul do estado mineiro até o século
XVIII.

Índios Puris
O grupo Puri vivia no sul de Minas Gerais, no norte do Rio de Janeiro, no sudoeste do Espírito Santo
e no nordeste de São Paulo e sofreu constantes guerras justas e os que restaram foram muitas vezes
transportados de um lado para outro, a fim de liberar novas áreas de terras aos colonos (AMANTINO,
2006).
Esses canibais (Puris) viviam pelo menos cem milhas no interior adentro e se pareciam com os
guaianases. Eram homens de baixa estatura e se alimentavam somente de pinhas e de pequenos cocos
do tamanho de maçãs, com um tipo de casca um pouco mais dura que uma noz, conhecida pelos
indígenas por airiris (KNIVET, [1596] 2008).
Em seu detalhado relato desses indígenas, KNIVET ([1596] 2008) diz:

“(...) Têm boa aparência e gostam muito de roupas, se porventura conseguem


se apoderar de alguma. As mulheres se pintam de várias cores, como
vermelho, azul e amarelo. Vivem em paz com os portugueses e não lutam
contra nenhuma tribo. Tampouco comem carne humana se tiverem algum
outro tipo de carne. Dormem em pequenas redes feitas de casca de árvores e
não têm cabanas, mas amarram dois ou três galhos e os cobrem com folhas
de palmeira se por acaso chove. Nessa região vi muitos leopardos e leões e
muitos gatos montanheses grandes, que os índios chamam de maracajás,
enquanto chamam os leopardos de jaguaretê e os leões de jaguaraçu. Nessa
tribo pode-se trocar uma faca ou um pente por cinco ou seis galões de óleo
balsâmico”.

O historiador Valter Cassalho explica que, com certeza, nestas regiões existiram em abundância as
onças, estando isso claro em 2 nomes: “Jaguary” – rio das onças; e “Jaguamimbaba” – como o lado
paulista da Serra da Mantiqueira era conhecido nos seus primórdios. Ainda sobre o nome
Jaguamimbaba, CASSALHO (2010) descreve:

“(...) Em 1560, o Governador Geral Mem de Sá, tendo expulsado os franceses


da Baía de Guanabara, deteve-se na Capitania de São Vicente (...), os
sertanistas percorrem trezentas léguas de sertão em busca de ouro e prata.
Partindo de São Paulo e passando por Mogi das Cruzes, desceram o Rio
Paraíba, guiados pelos índios até a paragem de Cachoeira, onde encontraram
o caminho que atravessava do litoral para a serra acima e tomando por esse
caminho subiram a Serra de Jaguamimbaba (Mantiqueira). Não sei precisar
quando estes nomes se fundiram, ou melhor, quando toda a montanha passou
a chamar-se Mantiqueira”.

NELSON DE SENNA (1938) citado por DE OLIVEIRA (2010) ao rever sua classificação de 1908
dos indígenas de Minas Gerais, acaba por propor ser o nome Puri um designativo coletivo para

“... todos os bugres da região da Matta de Este a Sudeste. ‘Bugres’, ‘Puris’ e


‘Caiapós’ – foram designativos geraes de Índios bravos, em Minas, no
período colonial, embora taes nomes se referissem a tribos de varia ou diversa
origem ethnica”.

Por fim, os Puris pertenciam ao grande tronco linguístico jê, denominados no período das entradas
e bandeiras como tapuias.

Considerações finais
Assim como os índios Lopos, os Puris apresentavam um traço cultural típico das nações de índios
caçadores-coletores que habitavam o sertão regional: o pinhão da Araucária como base alimentar.
Isso demonstra a extensão que a Mata de Araucária ocupava no passado e como a região foi um
importante território desses indígenas.

O resgate dessa história indígena é muito importante, não só pelo conhecimento das tribos indígenas
que habitavam a região, mas também pela possibilidade de reconstituição indireta da Mata de
Araucária no passado histórico. Também é importante o conhecimento do nosso passado e da nossa
cultura, além de sua difusão por diversos meios, pois “povo forte é povo com memória”!

DICAS DE LEITURA E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMANTINO, M. As guerras justas e a escravidão indígena em Minas Gerais nos séculos XVIII e
XIX. Varia História, Belo Horizonte, v.22, n.35, p. 189-206, jan./jul. 2006.

CASSALHO, V. Jaguamimbaba, Mantiqueira e Lopo. In: DE OLIVEIRA, F. et al. Revelando a


história do Bonsucesso e região: nossa cidade, nossos bairros! São Paulo: Noovha América, 2010.
120p.

COSTA, M.L.P. Capacitação de educadores em educação ambiental e educação patrimonial focada


em recursos hídricos: A Fazenda-Escola Fundamar (Paraguaçu/MG, baixo curso do rio Sapucaí).
2011. 237p. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

DE OLIVEIRA, A.P.P.L. Identidades genéricas dos grupos Macro-Jês e suas implicações para os
estudos arqueológicos da Zona da Mata Mineira. Clio – Arqueológica, v.25, n.2, 2010, p. 71-85.

KNIVET, A. As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet: Memórias de um


aventureiro inglês que em 1591 saiu de seu país com o pirata Thomas Cavendish e foi abandonado
no Brasil, entre índios canibais e colonos selvagens. 2. ed. Organização, introdução e notas: Sheila
Moura Hue. Tradução do original de 1625: Vivien Kogut Lessa de Sá. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
154p.

PRADO, O. Os Mandibóias. O Paraguassu. Paraguaçu (MG). 18. set. 1949.

REBELLO, R.M. O município de Machado até a virada do milênio. Tomo I e II. Machado (MG),
2006.

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