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A bem-humorada artista

plástica americana Suzanne Heintz teve uma grande sacada. De tanto ouvir que deveria
arranjar alguém, que era incompreensível uma mulher bacana como ela estar solteira,
tomou uma atitude pra lá de original: comprou dois manequins para representarem seus
marido e filha. Com os bonecos em tamanho real saiu a retratar cenas em família do
“american way of life”: à mesa do jantar, lavando a louça, assistindo à TV e até em
viagens de férias. Um tapa de luva na cobrança desenfreada que, em pleno século XXI,
impinge às mulheres a “obrigação” de casar e ter filhos.

Ser mulher é nascer predestinada a povoar o mundo. Não é explícito, mas é o que (ainda)
se espera dela. Que seja recatada, submissa, serviçal, que case e tenha filhos. É o “curso
natural das coisas”, alguns dizem. “Está escrito: o papel da mulher é X e do homem é Y”,
outros insistem. E seguimos criando filhos e filhas conforme o que esperam de nós, não o
que realmente desejamos para nós mesmas. Mas isso está mudando.

Tenho muitas amigas maduras que não casaram, nem tiveram filhos. Ou que juntaram as
escovas de dente, mas optaram em não se tornar mães. E quando eu digo “muitas”, leia-
se mais de 30 mulheres. Para algumas foi opção, para outras, indecisão (não sabiam se
queriam e, na dúvida, não pariram), grande parte apostou na carreira e, quando foi pensar
no assunto, ficou tarde demais para o relógio biológico dar conta do recado. Isso quer
dizer que são pessoas frustradas, deprimidas, amarguradas? Não mesmo.

Elas são livres. Leves. Soltas. Inteligentes, bonitas, bem-resolvidas e com tudo em cima,
estão felizes, viajando, curtindo a vida. Juro, o que menos vejo é lamentação. Aliás,
conheço mais mães frustradas com a maternidade do que amigas sem filhos padecendo
com seus estilos de vida. Estilosíssimas. Por que é tão difícil aceitar esta escolha?

Ah, porque não estão dando sua contribuição (biológica?) ao planeta, porque mulher
solteira, sabe como é, é um perigo (periguete?). Ou o clássico: porque na velhice não vão
ter ninguém para lhes cuidar. A mim, essas teorias conspiratórias soam como inveja.
Quem disse que filho é garantia de cuidados futuros? O livre arbítrio é direito de
todos. Está na hora de parar de enxergar o sexo feminino como propriedade do estado,
da família, do companheiro.

Muitas mulheres não se veem como procriadoras natas. Não apostam todas as suas fichas
na maternidade. Não almejam sequer casar! Com poder de voz (e de voto) e métodos
anticoncepcionais em punho, estão questionando conceitos seculares arraigados. Ter ou
não ter descendentes hoje é opção, não mais obrigação implícita. Socorro, as mulheres
querem tomar as próprias decisões, saber o que é melhor para elas e têm desejos? É um
choque. A sociedade está pasma. A Igreja está em alerta. Os estatísticos estão
preocupados.

É, as coisas estão feias para o índice de natalidade do planeta. Como toda ação gera uma
reação igual e em sentido contrário, os homens também estão mudando suas posturas. Ao
perderam o lugar de provedor, já não se sentem assim tão “obrigados” a constituir família e
seguir protocolos. Sem papel definido, estão perdendo o interesse inclusive em relações
sexuais. Pasmem. Mas é o que já está acontecendo no Japão.

Na terra do Sol Nascente o número de solteiros é recorde. Os jovens japoneses não


apenas estão desiludidos com o casamento, como evitam relações casuais. O celibato
voluntário está virando regra.

Uma pesquisa de 2011 descobriu que 49% das mulheres e 61% dos homens solteiros,
com idades entre 18-34 anos não estão envolvidos em nenhum tipo de relacionamento e
um terço dos jovens até 30 anos jamais sequer namorou. Outra, de 2013, da Japan Family
Planning Association (JFPA), descobriu que 45% das mulheres entre 16-24 anos não
estão interessadas ou inclinadas a terem contato sexual e mais de um quarto dos homens
sente o mesmo. Aparentemente, em breve, só o sol vai nascer por lá. Será que
caminhamos para este mesmo fim?

Eu tenho uma teoria, estamos vivenciando duas ondas comportamentais: a da redefinição


de papeis femininos e masculinos e a era do relacionamento virtual. A primeira está
mudando a configuração do que somos, as funções e posturas “macho X fêmea”, o que
gera estranhamento, recuo, dúvidas, isolamento. E desilusão. Homens e mulheres estão
se sentindo sozinhos, já não encontram mais pares “ideais”. O mito da alma gêmea caiu
por terra. As mulheres, antes “caça”, agora são caçadoras. Os homens usufruem dessa
liberalidade, mas estão meio chocados. Travados. Incorporamos as mudanças, porém
nossas referências (que geram as expectativas) ainda são do século passado. Quais são
as regras do novo jogo?

Junte-se a isso a alteração na forma de se relacionar: do real para o


virtual. Trocamos o olho no olho, o chegar pertinho e sentir o cheiro, o tocar, abraçar,
beijar, por teclar. O encontro pela videoconferência. A visita física pela curtida no post da
rede social. A convivência por fones de ouvido. Nem falar mais, falamos. Calamos. Há
quanto tempo você não ouve a voz das suas amigas de Facebook? Abreviamos
sentimentos. Mandamos SMS cada vez mais curtos. Não rimos mais, fazemos “kkkk”. Aos
poucos, desligamos. Do outro, de nós mesmos.

Homens e mulheres sem papeis definidos estampados em telas de proteção de


computadores. Tudo o que sabíamos sobre relacionamentos está mudando. E o que isso
tem a ver com um blog de mães? É o futuro dos nossos filhos que está em
jogo. Conseguiremos nos libertar de conceitos e preconceitos passados? E aceitar de
peito aberto o que está por vir?

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