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XVI SEMINÁRIO NACIONAL DE PESQUISA EM MÚSICA

Fernando Lacerda Simões Duarte


PPG-MUS/UFMG, Bolsista de pós-doutorado, PNPD-CAPES

PATRIMÔNIO ARQUIVÍSTICO-MUSICAL DO ARQUIVO PÚBLICO DE ALAGOAS:


MULHERES NAS PRÁTICAS MUSICAIS EM INÍCIOS DO SÉCULO XX, POLÍTICA E
OUTRAS NARRATIVIDADES POSSÍVEIS

Goiânia
2016
Patrimônio cultural
Ampliação do reconhecimento (Choay,2011), para
além dos bens de “pedra e cal” (Fonseca, 2005)
Música > patrimônio imaterial, mas com um
aspecto material: partituras, tratados,
documentos, discos e outros suportes materiais
de gravações, enfim, meios pelos quais ela é
produzida, registrada e transmitida (Mendes,
2012)
Têm em comum com os lugares de memória (Nora,
1993) – monumentos e sítios – a capacidade de
deter o esquecimento do passado > há lugares
porque não há meios > distanciamento, mas não
tão grande a ponto de se perder.
Arquivo Público de Alagoas (APA)
Recolhe diversos fundos, dentre os quais, alguns
com partituras > tipologia identificada > 18 caixas
com partituras + 3 com documentação pública
relativa a práticas musicais > amostragem:
consulta 11 das 18 caixas (não foram analisadas as
de documentação).
Distintos períodos, ambientes e práticas musicais
Objetivo do trabalho: apontar alguns caminhos para
o estudo destas fontes musicais (alguns resultados
parciais) > 1ª possibilidade: catalogação musical
(métodos da musicologia) com investigação da
procedência das fontes (separação de fundos).
Problemas
Dentro da amostragem, a quais períodos e
práticas musicais se referem tais fontes?
É possível identificar sua procedência ou reuni-
las em fundos documentais?
Quais músicos alagoanos podem ser localizados
em tais fontes?
Estas fontes podem trazer alguma contribuição
relevante para as práticas musicais no Brasil
no período a que se referem?
Procedimentos e teorias
Pesquisa documental no APA e outras instituições
de Maceió e Penedo (Marechal Deodoro sem
sucesso): bibliotecas públicas, agremiações
musicais, Instituto Histórico e Geográfico, igrejas,
cúrias, dentre outras. Pesquisa bibliográfica
acerca das práticas musicais e músicos do estado.
Taxonomia da memória de Candau: protomemória,
memória de alto nível e metamemória > Não tem
a “objetividade” da história (Le Goff)
Necessidades dos indivíduos no presente >
narratividade > representações (Chartier)
Traço marcante: presença feminina, compositoras e
intérpretes na Belle époque de Alagoas.
Em busca de ordenação
Diversidade de fontes. Dentro da amostragem:
Termos inicial e final: déc.1870-déc.1990
Sem identificação de procedência: busca por padrões:
- Ernani Méro (arquivo pessoal: Artiéres, 1998)
- Outros fundos que precisam ser separados: MIS (alagoanos), Deolinda
Josina Violanta de Vasconcellos Correia(?), documentos produzidos por
órgãos públicos (arquivo)
Procedências:
- Maceió, Pilar e São Miguel dos Campos. Mata Grande e Deodoro (menos
frequentes), Aracajú e grande quantidade de Propriá-SE: circulação
- Lauro Carmo: Propriá-SE, sem fontes na cidade (Lyra Industrial, déc.1920)
- Penedo: Chuva de Lyrios, de Rosalvo Abreu (1910) > Cópia: Henrique Méro
Casas publicadoras de Alagoas
Bandas / orquestras: marciais, jazz (cine orquestra) etc.
Missa in honorem beatissimi patri nostri Francisci
Ernani Méro, 1994
Pós-conciliar?  Restaurista?
Convento de Penedo
Música para banda de Lauro Carmo (caderno), 1910, São Miguel [dos Campos] > Circularidade
Mulheres da Belle époque
Presença feminina na Belle époque: Lucila Basile (2015) em Fortaleza e
Mónica Vermes, Rio de Janeiro > piano. 1895, dos 401 alunos
matriculados, 347 eram mulheres e elas não eram candidatas
“naturais” ao exercício profissional da música (Vermes, 2011. p. 9).
Procedimento onomásico:
- Copistas (intérpretes): Carmosina, Deolinda Josina Violanta de
Vasconcellos Correia, Maria E. L. Rodrigues e Lucilla Mauricio
Valente
- Dúvida (compositoras ou copistas): Adelia Leite, Maria José de
Almeida e Maria José dos Santos Farias (até déc.1920, sem o
“Farias”)
- Compositoras: Ernestina Jucá Rêgo Lima, Isabel Alvim Medeiros,
Joaquina Viveiros, Julia Candida Paraguassú (cópia de Alcino[?] do
Rego Lima) e Zilah Lígia Mota Menezes
Alagoas e seus músicos (Joel Bello Soares)
Esquecimento: verbetes somente de Maria José (Zezé) de Almeida e
Isabel Alvim Medeiros
Mais de trinta outros nomes de outras musicistas que não constam na
amostragem (pelo menos três, da Belle époque alagoana).
Maria José de Almeida (1914-?) foi cantora de rádio, pianista e rádio-
atriz, tendo atuado na Rádio Difusora de Alagoas entre 1948 e 1986
(Soares, 2014. p. 16-17)
Rádio Difusora de Alagoas (1948): Cantores: [homens +] Yasinha
Calmon, Zezé de Almeida, Renalva Carvalho, Terezinha Araújo, Sady
Brandão, Marlene Silva, Maria Oiticica e Nilda Neves. Locutores:
[homens +] Odete Pacheco [...] Conjuntos Musicais: Nicácio e sua
Orquestra, Conjunto Serenata, Regional do Juraci e Reinaldo, Banda
Feminina de Cachoeira e Banda do 20º Batalhão de Caçadores
(Exército). Solistas: [...] Zezé de Almeida (Ferro, Ramires, 2013. p. 9,
itálico nosso).
Isabel Alvim de Medeiros: compositora atuante principalmente na década de
1920. Soares (2014) listou doze obras de sua autoria, encontrando-se no
acervo do APA um possível autógrafo da valsa Inconsolável.
Gênero e política: narrativas que se cruzam
Cópia do tanguinho O votante, assinada por Maria José dos Santos em 1919 > crônica política:
Nós fomo tudo chamado / Fomo inté intimado / Prá tudo mais vim votá. / E desta feita sem ganhá
/ Foi só pra sastifazé nosso chefre biteré [?] / que tirou mais sorte io Não sei lá pro que no
meio nóis é votante / Do tempo de dante / Que se inlegia / Os que nóis queria.
[Coro:] Mais hoje em dia que patifaria / É no cesto e [falta letra para as notas restantes da
melodia].
2º Avisô bem pr’a nóis / Candidato, é o Valois / Que nos deve inlezê / Com Barreto nem mexê / Se
votá no Barreto / O negoço fica preto / Vanceis vae pr’o xadreis / A pão e agua uns dois méis.
3º Cumpadre digo em segredo / Concordei, já foi de medo! / Se votei no dito cujo / Foi só pra não
ficá sujo / Que disgraça pr’a nação / Esse maldito allamão / Que os ôtro allamão braço / Só
pr’a sê adulado. Nós é votante, etc.
4º Nóis sabe que elle não presta, / E que o Barreto é mio / Mais porem, no fim da festa / Há de
entrá mesmo o pio... / Não presta nem pr’o sabão / O demo do tar sacy / É amigo dos
allamão / É inimigo do Brazi. Nóis é votante etc. Pertence a Maria José dos Santos. Maceió 27
de Setembro de 1919 (Anônimo, 1919).
Em 1918, quando da disputa por uma cadeira no Senado estadual, [Júlio Mesquita] defendeu a
candidatura de Luís Pereira Barreto, lançada pelos estudantes de direito, contra o candidato
do PRP, o cônego Valois de Castro, conhecido por suas posições germanófilas. Em 1919, O
Estado apoiou novamente a candidatura de Ruy Barbosa à presidência da República, que viria
a ser derrotada por Epitácio Pessoa (Ribeiro in Abreu, 2015).
Marcha Democrata: homenagem da Loja America [“Fazendas,
modas, miudezas e artigos para homens”] ao Bloco
Femenino Alagoano, composição do alagoano Tavares de
Figueiredo (1891-1925), regente da Orquestra do Cinema
Odeon e autor de mais de 40 composições. Anotação
manuscrita: “Redação d’O Semeador. Maceió” [Periódico
católico].
[1] Nossa paz ameaçada / Pede esforços radicaes / Salvemos a
pátria amada / Dos dois grandes marechaes. / Côro: Vamos,
povo de Alagôas / A lutar pelo dever; / Quem defende as
causas boas / Há de, na luta, vencer. / [2] Avante! A
democracia / Não supporta escravidão! / Para cada tyrania
/ Ha sempre uma abolição. / Vamos povo de Alagôas, etc. /
Seja qual fôr nossa sorte, / Que ninguém recue d’ahi! /
Jamais cede a lei da morte, Quem morrer como o Zumbi! /
[3] Vamos povo de Alagôas [...] (Figueiredo, Marroquim,
[19--]).
Misturam-se: gênero, religião, política e mitos de origem de
Alagoas (marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto,
e Zumbi dos Palmares )
Mitos fundadores, heróis locais
Professor Benedicto
Por Joaquina Viveiros
“Offerecido...”: profissional
Reurbanização?
Comércio de rua?
Estudo das capas:
representações sociais
Considerações finais
Para além de serem suportes materiais para obras musicais do
passado que podem ser reintegradas às práticas do presente, as
fontes musicais do Arquivo Público de Alagoas se revelam
documentos históricos passíveis de narratividades metamemoriais,
seja com o objetivo de dar suporte à identidade coletiva alagoana,
seja com uma intenção eminentemente histórico-musicológica.
Dentro da amostragem consultada: período de aprox.120 anos,
revelando práticas musicais de função religiosa, civil, militar e
doméstica, desde Belle époque até um passado recente. Tal
diversidade constitui se revela um desafio em termos de
organização, sendo possível identificar poucos fundos documentais
com algum grau de certeza.
Finalmente, é possível afirmar que o estudo de tais fontes pode
contribuir para a compreensão das práticas musicais não apenas em
Alagoas, mas, em comparação com fontes de outros arquivos,
revelar para semelhanças e particularidades.
Referências
ABREU, Alzira Alves de (coord.). Dicionário histórico-biográfico da Primeira República [Recurso eletrônico]: 1889-1930.
Formato EPUB. São Paulo: FGV, 2015.
ABREU, Rosalvo de. Chuva de Lyrios. Partitura. Arquivo Público de Alagoas, cx.5272. Maceió: cópia de Henrique Méro, 1910.
ALBUQUERQUE, Padre Julio. [Caderno de música]. Partitura. Arquivo Público de Alagoas, cx.5276. São Miguel dos Campos:
Julio de Albuquerque[?], [193-].
ANÔNIMO. O votante: Tanguinho. Partitura. Arquivo Público de Alagoas, cx.5278. Maceió: cópia de Maria José dos Santos,
1919.
ARTIÈRES, Philippe. Arquivar a própria vida. Estudos históricos, Rio de Janeiro, v.11, n.21, 1998, p. 9-34.
BASILE, Lucila Pereira da Silva. O piano na praça: "Música ligeira" e práticas musicais no Ceará (1900-1930). 2015. Tese
(Doutorado em História) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2015.
BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Arquivística: objetos, princípios e rumos. São Paulo: Associação de Arquivistas de São Paulo, 2002.
CABRAL, Otávio et al. O radioteatro em Maceió: histórias, estórias, pessoas e personagens. In: ENCONTRO NACIONAL DE
HISTÓRIA DA MÍDIA, 9., 2013, Ouro Preto. Anais. Ouro Preto: UFOP, 2013. 12 p. Disponível em
<http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/encontros-nacionais/9o-encontro-2013/artigos/gt-historia-da-midia-
sonora>. Acesso em 10 jan. 2016.
CAMPELLO, Maria de Fátima de Mello Barreto. A construção coletiva da imagem de Maceió: cartões postais 1903/1934. 2009.
Tese (Doutorado em Desenvolvimento Urbano) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2009.
CANDAU, Joël. Memória e Identidade. São Paulo: Contexto, 2011.
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Tradução de Maria Manuela Galhardo. Lisboa: Difel,
1990.
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade: UNESP, 2006.
Referências (2)
DUARTE, Fernando Lacerda Simões Duarte. Memórias da restauração: aspectos da obra musical de Ernani Méro e M. Bezerra
no contexto musical católico pós-conciliar. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
EM MÚSICA, 25., 2015, Vitória. Anais. Vitória: ANPPOM, 2015. 9 p. Disponível em <http://www.anppom.com.br/
congressos/index.php/25anppom/Vitoria2015/paper/view/3374>. Acesso em 10 jan. 2016.
ESTADO DE ALAGOAS. Secretaria de Estado do Gabinete Civil. Arquivo Público de Alagoas. Catálogo documental do acervo
[Recurso eletrônico]. Maceió: Arquivo Público de Alagoas, [20--].
FERRO, Ricardo J. O., RAMIRES, L. M. M. P. Rádio Difusora de Alagoas – a caçula das Américas. In: ENCONTRO NACIONAL DE
HISTÓRIA DA MÍDIA, 9., 2013, Ouro Preto. Anais. Ouro Preto: UFOP, 2013. 12 p. Disponível em
<http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/encontros-nacionais/9o-encontro-2013/artigos/gt-historia-da-midia-
sonora>. Acesso em 10 jan. 2016.
FIGUEIREDO, [Tavares de], MARROQUIM. Marcha Democrata: homenagem da Loja America ao Bloco Femenino Alagoano.
Partitura. s.l.: s.n., [19--].
FONSECA, Maria Cecília L. O Patrimônio em processo: trajetória da polí ca federal de preservação no Brasil. 2. ed. Rio de
Janeiro: UFRJ/MinC-IPHAN, 2005.
LE GOFF, Charles. História e memória. Campinas: UNICAMP, 1990.
LOJA AMERICA: Fazendas, modas, miudezas e artigos para homem. Panfleto. Arquivo Público de Alagoas, cx.5279. Maceió:
Lith. Trigueiros, [19--].
LOPES DE CARVALHO, Guilhermina Maria, NOGUEIRA, Lenita Waldige Mendes. A presença feminina em três obras
historiográficas panorâmicas sobre a música brasileira. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO DE PESQUISA E PÓS-
GRADUAÇÃO EM MÚSICA, 24., 2014, São Paulo. Anais. São Paulo: ANPPOM, 2014. 8p. Disponível em
<http://www.anppom.com.br/congressos/index.php/24anppom/SaoPaulo2014/paper/ view/3147>. Acesso em 10 jan.
2016.
MEDEIROS, Isabel Alvim. Inconsolável. Partitura. Arquivo Público de Alagoas, cx.5273. [Maceió]: [Autógrafo?], 19--.
MENDES, António. O que é património cultural. Olhão: Gente Singular, 2012.
Referências (3)
MÉRO, Ernani. Penedo Tênis Clube. Partitura. Arquivo Público de Alagoas, cx.5274. [Penedo?]: [Autógrafo], 1966.
NORA, Pierre. Entre a memória e a história: a problemática dos lugares. Projeto História, São Paulo, n.10, dez. 1993, p. 7-28.
RAFAEL, Ivanildo. Dobrado Presidente Fernando Collor. Maceió: Serviços Gráficos de Alagoas (Sergasa), 1990.
ROMARIZ, Antonio. Hymno 16 de setembro: comemmorativo do desmembramento. Partitura. Arquivo Público de Alagoas,
cx.5272. [Maceió]: s.n., 1917.
ROSA, Robervaldo Linhares. Como é bom poder tocar um instrumento: pianeiros na cena urbana brasileira. Goiânia: Cânone
Editorial, 2014.
SANTUCCI, Jane. Cidade Rebelde: As revoltas populares no Rio de Janeiro no início do século XX. Rio de Janeiro: Casa da
Palavra, 2008.
SOARES, Joel Bello. Alagoas e seus músicos. 2.ed. Maceió: EdUFAL, 2014.
SOUZA, Antonio Lopes et al. Argemiro e a lâmpada das Alagoas: uma experiência na Belle époque. Revista Brasileira de Ensino
de Física [online], v.35. n.1, 2013. Disponível em <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-
11172013000100027>. Acesso em 15 mar. 2016.
VERMES, Monica. As mulheres como eixo de difusão musical no Rio de Janeiro da Belle Époque. In: ENCONTRO
INTERNACIONAL DE MÚSICA E MÍDIA, 7., 2011, São Paulo. Anais [recurso eletrônico]. São Paulo: Musimid, 2011.
Disponível em <http://ufes.academia.edu/MonicaVermes>. Acesso em 14 jun. 2016.
Agradecimentos e contato
Aos organizadores do XVI SEMPEM
À supervisora de pós-doutorado
À CAPES (PNPD)
Ao Arquivo Público de Alagoas
A todos os presentes

lacerda.lacerda@yahoo.com.br

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