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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

Núcleo de Apoio à Educação à Distância - NAPEAD UFRGS


Curso de Extensão em Karate-Dō UFRGS
Professor Mestre Tiago Oviedo Frosi - 3º Dan JKS - CREF 16973-G/RS

OS PIONEIROS DO TODE/KARATE
(MÃO CHINESA)
Entre os séculos XIII e XIV, no arquipélago de Ryūkyū Gichin Funakoshi, o qual recebera educação nos clássicos
– cuja ilha principal era Okinawa, os pioneiros do chineses (Daikyo, Chukyo e Shokyo) e uma educação
Tode foram os Heimin (camponeses). Nesse período, formal que incluía a etiqueta japonesa, foi o escolhido
utilizavam-se de técnicas rudimentares (a qual para levar o Tode ao Japão. Esse acontecimento deu
chamavam apenas de Te) para se defenderem da classe início à transição das “Mãos Chinesas” para o “Caminho
guerreira de Okinawa, os Peichin. Apartir do século XVII, das Mãos do Vazio”.
os Peichin se apropriam da técnica do Te dando a ela o
nome de To-de.
A partir do século XV, a classe guerreira de Okinawa, MÃOS CHINESAS, MÃOS DO VAZIO
os Peichin, resolvem aprimorar suas técnicas de luta
para conter as revoltas camponesas daquele período. É O Ti (Mão) de Okinawa parece ter surgido entre os
possível dizer, pois, que foram os membros da casta de Heimin (plebeus/agricultores) do arquipélago de Ryukyu
guerreiros de Okinawa que realizaram o desenvolvimento no século XIII ou XIV, e depois foi apropriado pelos
do que viria a se chamar de Karate-Dō. Peichin (guerreiros), que passaram a aperfeiçoar a arte
Um nome importante na história do Tode foi Ryosho através do contato com militares chineses
Tobe que escreveu as Notas de Oshima. Nessas notas, (Sappushi), principalmente no século XVII. Essa
Tobe transcreveu o Kushankū e o Kumiaijutsu, técnicas antiga arte também foi conhecida por nomes como
as quais deram origem aos Kata modernos (Kushanku, Tode (Mão Chinesa), Okinawa-te (Mão de Okinawa),
Kosokun ou Kanku). Com isso, deixou um dos poucos Shinpi Tode (Miraculosa Mão Chinesa) e Reimyo Tode
registros das práticas dos pioneiros da arte da “Mão (Misteriosa Mão Chinesa). Entre os Peichin (casta
Chinesa”: Kanga Sakugawa, Kung Sian Chun, Chatan Yara guerreira do Ryukyu), havia o costume de se passar os
e Kishin Teruya. conhecimentos marciais, inclusive o Tode/Ti, apenas para
Foi no século XIX o início do treino de grandes mestres os primogênitos de cada família. Esse costume chamava-
que levariam o Tode moderno ao Japão Continental. se Isshi-soden. Nesse contato com os chineses,
Até então, o Tode era passado secretamente para incorporaram parcialmente a ideia de que existiam artes
um primogênito (Ishi-soden). Sanga Sakugawa, Sokon marciais internas (Nei-jia) e artes marciais externas (Wai-
Matsumura e outros aprimoraram o Te a partir do jia), criando os conceitos para classificação dos Kata em
conhecimento de Wu-shu (técnicas de guerra) que Shorin e Shorei. Mais tarde, com a visita de Jigoro Kano
trouxeram da China, formulando assim o Tode. Em à Okinawa (1927), os mestres locais criam a denominação
especial, o Tode foi praticado em três cidades de das principais linhas do Karate/ To-De de acordo com
Okinawa: Shuri, Naha e Tomari nas quais, então, a cidade onde teriam se originado: Naha-Te, Shuri-Te e
desenvolveram-se as linhas Shuri-te, Naha-te e Tomari- Tomari-Te.
te. A maioria das pessoas quando inicia o treinamento do
Com a proibição do Isshi-soden, Anko Itosu formulou Karate-Dō, do Judō, do Aikidō ou de qualquer outra arte
os “Dez Artigos sobre o Tode” introduzindo o “Karate marcial japonesa (Budō) se pergunta o que essas palavras
primitivo” no sistema educacional da época, possibilitando do idioma nipônico significam. Quando pesquisamos na
o ensino dessa arte nas escolas de Okinawa. Tempos internet ou mesmo em muitos livros (incluindo aí obras
depois, após a visita do Imperador Hirohito à Okinawa, importantes como os volumes de Nakayama sensei),
surge a oportunidade de apresentar o Tode no Japão encontramos a tradução Karate = Mãos Vazias. De fato
continental(na I Exibição Atlética Nacional de 1921). o primeiro ideograma (Kanji) para Karate é Kara (空),
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que significa Vazio, e tem muitos usos. Um dos usos é abandone a tradução “mãos vazias” e passemos para a
a designação de um espaço vazio comum, uma vaga de tradução mais adequada “Caminho das Mãos do Vazio”.
estacionamento livre, por exemplo. Porém é também Essa tradução nos lembra que trilhamos uma senda (Dō)
usado na Filosofia Oriental, especialmente no Budismo, em que, através do aperfeiçoamento de nosso corpo, de
como designação para o mais profundo estágio e nível da nossas mãos e técnicas (Te), chegaremos à evolução de
Consciência ou da Totalidade, o Anel do Vazio ou Kuurin nosso caráter e também avançaremos espiritualmente,
(空輪). pois temos uma meta, que é nos aproximarmos desse
Quando escreveu os livros Karate-Dō Kyohan e Karate- Vazio (Kara). A mensagem por trás da mudança do nome
Dō Nyumon, na primeira metade do século XX, Funakoshi Karate (唐手 = mãos dos Tang/China) para Karate-Dō (
Gichin sensei deixou bem claro que era a esse “Vazio 空手道 – Caminho das Mãos do Vazio) pretende sugerir-
Espiritual” que se referia, afirmando entre outras coisas nos que trilhemos um caminho integral, desenvolvendo
que, para alcançar o verdadeiro domínio da arte, o corpo, mente e espírito, dentro da tradição japonesa do
karateka precisava livrar-se dos desejos, dos apegos Budō.
e das suas limitações internas. Estava diretamente Mesmo sendo, atualmente, considerado um “desporto
influenciado pela filosofia budista. No Ocidente, a japonês”, as raízes do Karate-Dō enquanto prática
Psicologia chamou esse processo de “integração da cultural remontam a períodos anteriores à sua introdução
Sombra”. Este é, portanto, a primeira razão pela qual não no Japão (que só ocorreu de fato em 1921). Antes disso,
devemos pensar em Karate como mãos vazias ou livre de por cerca de oito séculos foi praticado e desenvolvido
armas, como muitos propõem. no arquipélago de Ryukyu, primeiro como técnica local
O próprio Funakoshi sensei nesses livros refuta esse de autodefesa e depois (a partir do século XVI ou
significado. Ao entrar no tópico de que Karate é a “arte XVII) como uma arte que se desenvolve através das
das mãos vazias”, em que não se usam armas, caímos na trocas culturais com os Chineses que passaram a ser
segunda questão: não se usa mesmo nenhuma arma no muito influentes na região. Só depois, portanto, com a
treinamento de Karate-Dō? Ora, usa-se! São as armas Restauração Meiji e a normatização das artes japonesas
tradicionais do Okinawa Kobudo, também usadas na através da instauração da Dai Nippon Butokukai
China e, conforme os mitos, inspiradas nas ferramentas (Associação das Virtudes Guerreiras do Grande Japão) é
rurais. Quando começou a lecionar no Japão, Funakoshi que passamos a ter o Karate Moderno, ou Karate-Dō.
sensei ensinava o uso do Bo (bastão longo) e Sai Há, entretanto, estudos que apontam que a primeira
(gancho de três pontas, ou ancinho), além de usar outros aparição do Karate no Japão continental deveria ser
equipamentos relacionados às práticas com armas que creditada à famosa luta entre Motobu Choki e um
são as ferramentas de enrijecimento corporal (Tanren). pugilista russo que estava a vencer vários japoneses
Por razões políticas (o Japão já tinha seu Kobudo, que em Tóquio. Motobu Choki era considerado o Tijikun
empregava a Katana, a Naginata, o Kyu, o Yari e outras da sua época (o grande mestre do Ti, o escolhido de
armas), a Nihon Karate Kyokai (depois JKA) excluiu Buzaganashi, o deus da guerra em Okinawa). A vitória
o treinamento com armas dos currículos do Karate e de Motobu sobre o russo rendeu entre outas coisas a
passou a defender a tradução do nome “Mãos Vazias” curiosidade de Hirohito, herdeiro do trono japonês, em
associado ao não uso de armas. Mesmo com essa jogada conhecer o Karate em sua visita à Okinawa em 1921
que dominou a mente de muitos praticantes por anos, (que depois resultou na demonstração de Funakoshi, no
outros estilos como Goju-ryu, Shito-ryu, Ryueiryu e Japão).
muitos outros, além de dissidências dentro do próprio Ainda nesse sentido, os Kata que hoje fazem parte da
Shōtōkan, mantiveram o treinamento de Kobudo pedagogia de treinamento do Karate-Dō têm origem
(Caminho das Armas Antigas) associado ao Karate-Dō. nessa sistematização que ocorre em Okinawa, com muita
Sendo assim, para defender tanto a memória do trabalho influência dos militares chineses e são classificados em
de Funakoshi sensei quanto os fundamentos vitais do Shorin ou Shorei, como se essas duas vertentes fossem
Karate original, há muitos anos venho defendendo que se equivalentes à Wai-jia (arte externa) e Nei-jia (arte
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interna). Essa classificação falha às vezes nos afasta técnicas do Hung Gar Kuen e a segunda metade no
da compreensão da origem de alguns Kata nos Quan- Mizhong Quan. Há uma dificuldade imensa em recuperar
fa (método do punho, as artes marciais desarmadas a origem de todas as técnicas do Karate-Dō, pois
da China). Um bom exemplo disso é o Kata Hangetsu, se desenvolveu o discurso dos japoneses para não
que faz parte do currículo de praticamente todos os se confundir a técnica oquinauense com a técnica
estilos de Karate (com os nomes de Seishan, Seisan chinesa – um total desconhecimento ou negação dos
e semelhantes), cuja metade inicial é baseada nas fatos históricos.

REFERÊNCIAS

FROSI, Tiago Oviedo. Introdução ao Karate Shotokan. Porto Alegre: Ufrgs, 2015. 165 p.

JAPAN KARATE SHOTOFEDERATION BRAZIL. JKS: MANUAL DE INSTRUTORES. Porto Alegre, 2015-2017.
52 p.

FROSI, Tiago Oviedo. Uma história do karate-do no Rio Grande do Sul: de arte marcial a prática
esportiva. 2012. 224 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Programa de Pós-graduação em Ciências do
Movimento Humano., Escola de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012.

FROSI, Tiago Oviedo; LOPES FILHO, Brandel José Pacheco; MAZO, Janice Zarpellon. Kata de karate: a
cultura nos shiteigata da World Karate Federation. Efdeportes: REVISTA DIGITAL, Buenos Aires, n. 158,
p.1-1, jun. 2011. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd158/kata-de-karate-a-cultura-nos-shiteigata.
htm>. Acesso em: 08 out. 2017

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