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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

Núcleo de Apoio à Educação à Distância - NAPEAD UFRGS


Curso de Extensão em Karate-Dō UFRGS
Professor Mestre Tiago Oviedo Frosi - 3º Dan JKS - CREF 16973-G/RS

HISTÓRIA DO KARATE-DO

Entre os séculos XIII e XIV, no arquipélago de Ryūkyū Nacional de 1921). Gichin Funakoshi, o qual recebera
– cuja ilha principal era Okinawa, os pioneiros do educação nos clássicos chineses (Daikyo, Chukyo e
Tode foram os Heimin (camponeses). Nesse período, Shokyo) e uma educação formal que incluía a etiqueta
utilizavam-se de técnicas rudimentares (a qual japonesa, foi o escolhido para levar o Tode ao Japão.
chamavam apenas de Te) para se defenderem da classe Esse acontecimento deu início à transição das “Mãos
guerreira de Okinawa, os Peichin. Apartir do século XVII, Chinesas” para o “Caminho das Mãos do Vazio”.
os Peichin se apropriam da técnica do Te dando a ela o
nome de To-de. MÃOS CHINESAS, MÃOS DO VAZIO
A partir do século XV, a classe guerreira de Okinawa,
os Peichin, resolvem aprimorar suas técnicas de O Ti (Mão) de Okinawa parece ter surgido entre os
luta para conter as revoltas camponesas daquele Heimin (plebeus/agricultores) do arquipélago de Ryukyu
período. É possível dizer, pois, que foram os membros no século XIII ou XIV, e depois foi apropriado pelos
da casta de guerreiros de Okinawa que realizaram o Peichin (guerreiros), que passaram a aperfeiçoar a arte
desenvolvimento do que viria a se chamar de Karate- através do contato com militares chineses
Dō. (Sappushi), principalmente no século XVII. Essa
Um nome importante na história do Tode foi Ryosho antiga arte também foi conhecida por nomes como
Tobe que escreveu as Notas de Oshima. Nessas notas, Tode (Mão Chinesa), Okinawa-te (Mão de Okinawa),
Tobe transcreveu o Kushankū e o Kumiaijutsu, técnicas Shinpi Tode (Miraculosa Mão Chinesa) e Reimyo
as quais deram origem aos Kata modernos (Kushanku, Tode (Misteriosa Mão Chinesa). Entre os Peichin
Kosokun ou Kanku). Com isso, deixou um dos poucos (casta guerreira do Ryukyu), havia o costume de se
registros das práticas dos pioneiros da arte da “Mão passar os conhecimentos marciais, inclusive o Tode/
Chinesa”: Kanga Sakugawa, Kung Sian Chun, Chatan Ti, apenas para os primogênitos de cada família. Esse
Yara e Kishin Teruya. costume chamava-se Isshi-soden. Nesse contato
Foi no século XIX o início do treino de grandes mestres com os chineses, incorporaram parcialmente a ideia
que levariam o Tode moderno ao Japão Continental. de que existiam artes marciais internas (Nei-jia) e
Até então, o Tode era passado secretamente para artes marciais externas (Wai-jia), criando os conceitos
um primogênito (Ishi-soden). Sanga Sakugawa, Sokon para classificação dos Kata em Shorin e Shorei. Mais
Matsumura e outros aprimoraram o Te a partir do tarde, com a visita de Jigoro Kano à Okinawa (1927),
conhecimento de Wu-shu (técnicas de guerra) que os mestres locais criam a denominação das principais
trouxeram da China, formulando assim o Tode. Em linhas do Karate/ To-De de acordo com a cidade onde
especial, o Tode foi praticado em três cidades de teriam se originado: Naha-Te, Shuri-Te e Tomari-Te.
Okinawa: Shuri, Naha e Tomari nas quais, então, A maioria das pessoas quando inicia o treinamento
desenvolveram-se as linhas Shuri-te, Naha-te e do Karate-Dō, do Judō, do Aikidō ou de qualquer
Tomari-te. outra arte marcial japonesa (Budō) se pergunta o que
Com a proibição do Isshi-soden, Anko Itosu formulou essas palavras do idioma nipônico significam. Quando
os “Dez Artigos sobre o Tode” introduzindo o pesquisamos na internet ou mesmo em muitos livros
“Karate primitivo” no sistema educacional da época, (incluindo aí obras importantes como os volumes de
possibilitando o ensino dessa arte nas escolas de Nakayama sensei), encontramos a tradução Karate =
Okinawa. Tempos depois, após a visita do Imperador Mãos Vazias. De fato o primeiro ideograma (Kanji) para
Hirohito à Okinawa, surge a oportunidade de apresentar Karate é Kara (空), que significa Vazio, e tem muitos
o Tode no Japão continental(na I Exibição Atlética usos. Um dos usos é a designação de um espaço
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vazio comum, uma vaga de estacionamento livre, por para a tradução mais adequada “Caminho das Mãos
exemplo. Porém é também usado na Filosofia Oriental, do Vazio”. Essa tradução nos lembra que trilhamos
especialmente no Budismo, como designação para o uma senda (Dō) em que, através do aperfeiçoamento
mais profundo estágio e nível da Consciência ou da de nosso corpo, de nossas mãos e técnicas (Te),
Totalidade, o Anel do Vazio ou Kuurin (空輪). chegaremos à evolução de nosso caráter e também
Quando escreveu os livros Karate-Dō Kyohan e avançaremos espiritualmente, pois temos uma meta, que
Karate-Dō Nyumon, na primeira metade do século é nos aproximarmos desse Vazio (Kara). A mensagem
XX, Funakoshi Gichin sensei deixou bem claro que era por trás da mudança do nome Karate (唐手 = mãos
a esse “Vazio Espiritual” que se referia, afirmando dos Tang/China) para Karate-Dō (空手道 – Caminho
entre outras coisas que, para alcançar o verdadeiro das Mãos do Vazio) pretende sugerir-nos que trilhemos
domínio da arte, o karateka precisava livrar-se dos um caminho integral, desenvolvendo corpo, mente e
desejos, dos apegos e das suas limitações internas. espírito, dentro da tradição japonesa do Budō.
Estava diretamente influenciado pela filosofia budista. Mesmo sendo, atualmente, considerado um “desporto
No Ocidente, a Psicologia chamou esse processo de japonês”, as raízes do Karate-Dō enquanto prática
“integração da Sombra”. Este é, portanto, a primeira cultural remontam a períodos anteriores à sua
razão pela qual não devemos pensar em Karate como introdução no Japão (que só ocorreu de fato em 1921).
mãos vazias ou livre de armas, como muitos propõem. Antes disso, por cerca de oito séculos foi praticado
O próprio Funakoshi sensei nesses livros refuta esse e desenvolvido no arquipélago de Ryukyu, primeiro
significado. Ao entrar no tópico de que Karate é a “arte como técnica local de autodefesa e depois (a partir do
das mãos vazias”, em que não se usam armas, caímos século XVI ou XVII) como uma arte que se desenvolve
na segunda questão: não se usa mesmo nenhuma através das trocas culturais com os Chineses que
arma no treinamento de Karate-Dō? Ora, usa-se! São passaram a ser muito influentes na região. Só depois,
as armas tradicionais do Okinawa Kobudo, também portanto, com a Restauração Meiji e a normatização das
usadas na China e, conforme os mitos, inspiradas nas artes japonesas através da instauração da Dai Nippon
ferramentas rurais. Quando começou a lecionar no Butokukai (Associação das Virtudes Guerreiras do
Japão, Funakoshi sensei ensinava o uso do Bo (bastão Grande Japão) é que passamos a ter o Karate Moderno,
longo) e Sai (gancho de três pontas, ou ancinho), além ou Karate-Dō.
de usar outros equipamentos relacionados às práticas Há, entretanto, estudos que apontam que a primeira
com armas que são as ferramentas de enrijecimento aparição do Karate no Japão continental deveria ser
corporal (Tanren). creditada à famosa luta entre Motobu Choki e um
Por razões políticas (o Japão já tinha seu Kobudo, que pugilista russo que estava a vencer vários japoneses
empregava a Katana, a Naginata, o Kyu, o Yari e outras em Tóquio. Motobu Choki era considerado o Tijikun
armas), a Nihon Karate Kyokai (depois JKA) excluiu da sua época (o grande mestre do Ti, o escolhido de
o treinamento com armas dos currículos do Karate e Buzaganashi, o deus da guerra em Okinawa). A vitória
passou a defender a tradução do nome “Mãos Vazias” de Motobu sobre o russo rendeu entre outas coisas a
associado ao não uso de armas. Mesmo com essa curiosidade de Hirohito, herdeiro do trono japonês, em
jogada que dominou a mente de muitos praticantes por conhecer o Karate em sua visita à Okinawa em 1921
anos, outros estilos como Goju-ryu, Shito-ryu, Ryueiryu (que depois resultou na demonstração de Funakoshi, no
e muitos outros, além de dissidências dentro do próprio Japão).
Shōtōkan, mantiveram o treinamento de Kobudo Ainda nesse sentido, os Kata que hoje fazem parte
(Caminho das Armas Antigas) associado ao Karate-Dō. da pedagogia de treinamento do Karate-Dō têm
Sendo assim, para defender tanto a memória do trabalho origem nessa sistematização que ocorre em Okinawa,
de Funakoshi sensei quanto os fundamentos vitais do com muita influência dos militares chineses e são
Karate original, há muitos anos venho defendendo que classificados em Shorin ou Shorei, como se essas duas
se abandone a tradução “mãos vazias” e passemos vertentes fossem equivalentes à Wai-jia (arte externa)
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e Nei-jia (arte interna). Essa classificação falha às nas técnicas do Hung Gar Kuen e a segunda metade no
vezes nos afasta da compreensão da origem de alguns Mizhong Quan. Há uma dificuldade imensa em recuperar
Kata nos Quan-fa (método do punho, as artes marciais a origem de todas as técnicas do Karate-Dō, pois se
desarmadas da China). Um bom exemplo disso é o Kata desenvolveu o discurso dos japoneses para não se
Hangetsu, que faz parte do currículo de praticamente confundir a técnica oquinauense com a técnica chinesa
todos os estilos de Karate (com os nomes de Seishan, – um total desconhecimento ou negação dos fatos
Seisan e semelhantes), cuja metade inicial é baseada históricos.

REFERÊNCIAS

FROSI, Tiago Oviedo. Introdução ao Karate Shotokan. Porto Alegre: Ufrgs, 2015. 165 p.

JAPAN KARATE SHOTOFEDERATION BRAZIL. JKS: MANUAL DE INSTRUTORES. Porto Alegre, 2015-2017.
52 p.

FROSI, Tiago Oviedo. Uma história do karate-do no Rio Grande do Sul: de arte marcial a prática
esportiva. 2012. 224 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Programa de Pós-graduação em Ciências do
Movimento Humano., Escola de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012.

FROSI, Tiago Oviedo; LOPES FILHO, Brandel José Pacheco; MAZO, Janice Zarpellon. Kata de karate: a
cultura nos shiteigata da World Karate Federation. Efdeportes: REVISTA DIGITAL, Buenos Aires, n. 158,
p.1-1, jun. 2011. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd158/kata-de-karate-a-cultura-nos-shiteigata.
htm>. Acesso em: 08 out. 2017.

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