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Publisher: Acta Editora/CERPCH CANAIS DE ADUÇÃO PARA GERAR ENERGIA:
DOI:10.14268/pchn.2017.00069
ISSN: 1676-0220 UMA EXPERIÊNCIA COM O USODA GEOMEMBRANA
Subject Collection: Engineering
Subject: Engineering, measurement
1
Bruno Alexandre de Oliveira;
RESUMO
O corrente artigo traz conhecimentos práticos hidráulico, geotécnico e estudo econômico aplicados ao uso da geomembrana concatenado
com canais de adução para gerar energia. Um estudo teórico é proposto fundamentado na comparação de alternativa de uso de material
concorrente à geomembrana quando analisadas as propriedades dos respectivos coeficientes de rugosidade e condutividade hidráulica.
Quanto a análise do coeficiente de rugosidade, é feita por Standard Step Method via modelo de Manning-Strickler. Alusiva a condutividade
hidráulica, examinados e aplicados foram os resultados ad hoc de ensaio denominado Razão de Transmissão de Vapor d’água via pesquisa
bibliográfica. Os elementos embasam um estudo econômico que, após análises dos resultados, leva ao projetista em se inclinar ou declinar
na decisão de revestir o canal de adução para gerar energia. É apresentada uma experiência com uso da geomembrana utilizada como
alternativa para o revestimento de um canal componente do circuito hidráulico de uma PCH no interior de Santa Catarina, sul do Brasil.
ABSTRACT
Abstract – The current paper brings practical knowledge of hydraulic, geotechnical and economic study applied to the use of
geomembrane concatenated with adduction channels to generate energy. A theoretical study is proposed based on the comparison of
alternative use of competing material to the geomembrane when analyzing the properties of the respective coefficients of roughness
and hydraulic conductivity. As for the analysis of the roughness coefficient, it is made by Standard Step Method via Manning-Strickler
model. Allusive to hydraulic conductivity, examined and applied were the ad hoc test results called Water vapor transmission ratio via
bibliographic research. The elements are based on an economic study that, after analysis of the results, leads the designer to lean or
decline in the decision of coating the adduction channel to generate energy. Is presented an experiment using the geomembrane used as
an alternative for the coating of a component channel of the hydraulic circuit of a SHP in the interior of Santa Catarina, southern Brazil.
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ARTIGOS TÉCNICOS
CANAIS DE ADUÇÃO PARA GERAR ENERGIA:
UMA EXPERIÊNCIA COM O USO DA GEOMEMBRANA
A análise da perda de carga nos canais de adução, orienta 2007 como o ano base, válidos para engolimento máximo e total de
Eletrobrás (2003), é feita pelo método das diferenças finitas turbinamento das vazões na casa de força no seguinte intervalo: 50
“Standard Step Method” via modelo de Manning-Strickler, ≤ Qt ≤ 1000. A seguir são reproduzidos estes modelos:
conforme segue: Para canal escavado em solo com revestimento em concreto:
hf = L . [(n.V/R2/3)]2 (1) CCESRC = -0,0096 . Qt2 + 37,091 . Qt + 10076 (2)
Em que: Em que:
hf Perda de carga no canal, em m CCESRC Custo do canal escavado em solo com revestimento em
L Comprimento do canal, em m concreto, em R$ (1000 R$/m)
n Coeficiente de rugosidade, consultado via QUADRO 1 Qt Engolimento máximo e total de turbinamento das
V Velocidade média na seção de interesse, em m/s vazões na casa de força, em m3/s
R Raio hidráulico, razão entre a área molhada, em m2 e o Para canal escavado em rocha sem revestimento:
perímetro molhado, em m
CCERSR = 26,33 . Qt + 1263,8 (3)
[Quadro 1]: Coeficiente de rugosidade de Manning, “n” Em que:
CCERSR Custo do canal escavado em rocha sem revestimento,
Tipo de Superfície n em R$ (1000 R$/m)
Qt Engolimento máximo e total de turbinamento das
Plástico, vidro ou lucite 0,010
vazões na casa de força, em m3/s
Madeira ou concreto acabado 0,013 Para canal escavado em solo e rocha sem revestimento:
Concreto não-acabado, tijolo, concreto ou ferro 0,015
CCESRSR = 20,141 . Qt - 300,62 (4)
Tubo de aço rebitado ou espiral 0,017
Em que:
Canal em solo liso e uniforme 0,022 CCESRSR Custo do canal escavado em solo e rocha sem
Canais e rios sem pedras grandes e sem muita vegetação 0,025 revestimento, em R$ (1000 R$/m)
Qt Engolimento máximo e total de turbinamento das
Canais e rios com muitas pedras e vegetação 0,035
vazões na casa de força, em m3/s
Fonte: KOERNER (1999).
Para canal escavado em solo sem revestimento:
Relativamente ao exame da permeabilidade, avalição é
feita mediante conhecimento do coeficiente de condutividade CCESSR = 10,698 . Qt + 513,5 (5)
hidráulica (conhecido também por coeficiente de migração ou Em que:
permeabilidade) proveniente de resultados de ensaios utilizando CCESSR Custo do canal escavado em solo sem revestimento,
métodos baseados na lei da difusão. O ensaio é denominado Razão em R$ (1000 R$/m)
de Transmissão de Vapor d`água (WVT – sigla internacional) e Qt Engolimento máximo e total de turbinamento das
realizado de acordo com a ASTM E96. Este coeficiente pode ser vazões na casa de força, em m3/s
compulsado no QUADRO 2. (PINTO, 2002), (MARÇAL, 2012). Adicionalmente ao assunto custo da estrutura, para um
orçamento ainda mais próximo, sugerido o QUADRO 3 para
[Quadro 2]: Coeficiente de condutividade hidráulica associado
preenchimento dos itens vinculados ao canal de adução,
ao tipo de superfície
devendo, a cada alternativa projetada, elaborada uma versão
associada a ela. Este quadro se trata de um extrato similar do
Coeficiente de Condutividade OPE (Orçamento Padrão Eletrobrás). Quanto ao valor presente
Tipo de Superfície
Hidráulica da energia perdida combinada com a proposta de alternativa
Geomembrana de PEAD 10-12 cm/s projetada, e servindo exclusivamente para efeito de análises
preliminares das alternativas propostas, pode ser utilizado o
Argila 10-9 cm/s
seguinte modelo, baseado em MME (2007):
Silte 10-6 - 10-9 cm/s
Ep = (Q . hf . 0,0088) . TME . VE . h (6)
Areia argilosa 10-7 cm/s
Em que:
Areia fina 10-5 cm/s
Ep Valor presente da energia perdida, em R$
Areia média 10-4 cm/s Q Descarga líquida média turbinada, em m3/s
Areia grossa 10-2 cm/s hf Perda de carga no canal, em m
Fonte: PINTO (2002).
TME Tarifa média anual de energia, em R$/MWh
Estas análises podem significar em reduzir volumes de VE Vida econômica da usina, em anos
escavações, tratamentos e serviços correlatos combinado com h Número de horas no ano, em geral assumido 8.760 horas
aumento da geração de energia, quando decidido em revestir Como exemplo típico para realizar análises de alternativas,
o canal com geomembrana de PEAD. Desta forma, chega-se é desenvolvido um sistema cartesiano ortogonal em que a
ao princípio fundamental do dimensionamento de um canal de abscissa é considerada pelas alternativas projetadas e a ordenada
adução para gerar energia, conforme Eletrobrás (2003): corresponde a soma dos custos associados a cada alternativa. O
gráfico apresentado na FIGURA 3 mostra típicos resultados de “N”
“O dimensionamento do canal de adução será alternativas de canais de adução propostas para às análises. A partir
feito com base em um estudo econômico objetivando das combinações dos custos da estrutura e dos valores presentes
a minimização da soma do custo da estrutura e do da energia perdida é que se pode tirar conclusões para definir a
valor presente da energia perdida.” alternativa a ser selecionada para o projeto: que para o exemplo é
Em relação ao custo da estrutura, Oliveira (2015) apresenta a alternativa “N”, pois a soma dos custos da estrutura combinada
modelos para estas estimativas, adaptados de MME (2007), tomado com a da energia perdida é a menor dentre as demais alternativas.
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[Quadro 3]: Coeficiente de condutividade hidráulica associado 2.1 Seleção da Alternativa de Canal Sem o Revestimento
ao tipo de superfície Com Geomembrana de PEAD
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UMA EXPERIÊNCIA COM O USO DA GEOMEMBRANA
2.8 Executar a Alternativa de Canal Sem o Revestimento 30cm conforme apresentado. Importante é manter o material
Com Geomembrana de PEAD, se a Soma dos Custos da escavado da canaleta ao lado para facilitar o posterior reaterros
Estrutura e da Energia Perdida Resultar Menor Quando dela quando concluída a obra. A ancoragem a ser feita no concreto
Comparada no Caso do Canal ser Revestido é comentada na etapa 15.
Etapa marcada caso a alternativa com o revestimento com a 2.13 Recepção e Armazenagem
geomembrana de PEAD tiver a soma superior a alternativa sem
Nesta etapa é feita a checagem dos produtos e se
ele. Executa a alternativa sem o revestimento.
estão conforme o estabelecido no pedido, além de estarem
2.9 Fim Deste Método Quando a Alternativa Selecionada acompanhados de seus certificados de qualidade. Ainda no
Sem o Revestimento com Geomembrana de PEAD meio de transporte dos materiais, são realizadas as inspeções
Apresentar a Soma dos Custos da Estrutura e da Energia visuais externa aos produtos e suas verificações concomitante de
Perdida For Menor Quando Comparada Com a Alternativa ausências de perfurações, bolhas, cortes e rachaduras.
Revestida Descarregamentos destes materiais devem ser feitos via
equipamentos adequados e tipicamente são utilizados o caminhão
O método é concluído nesta etapa quando executada a
“munck”, empilhadeiras e até pá-carregadeira.
alternativa sem o revestimento com geomembrana de PEAD.
Para movimentações das geomembranas vedado os usos de
2.10 Cotação e Definição dos Possíveis Fornecedores cabos e cintas metálicas, isolados ou simultâneos. Importante
também ressaltar é quanto a superfície de armazenagem: deve
Nesta etapa, para uma precisa cotação e definição dos possíveis
ser plana, lisa, livre de pedras e materiais pontiagudos, afastados
fornecedores, necessário é levantar as informações disponíveis da
de agentes químicos e fontes de calor. Quanto ao empilhamento
alternativa de projeto do canal a ser revestido com geomembrana
seguir recomendações do fabricante, caso não as tenha, a IGS
de PEAD, dentre as informações relevantes se destacam as
(Associação Internacional de Geossintéticos) recomenda em no
especificações, desenhos, croquis e principalmente condições de
máximo três linhas de bobinas.
campo via imagens e visitas em campo feito por estes possíveis
fornecedores, para validação das condições apresentadas. 2.14 Instalação
2.11 Preparação das Superfícies Esta etapa é iniciada com a abertura das bobinas, recortes
dos painéis e respectivos posicionamentos na obra, de acordo
Esta etapa requer que a superfície que servirá de apoio
com sua numeração e sequencia prevista no projeto executivo.
da geomembrana deva estar isenta de quaisquer tipos de
Devem ser previstas ancoragens temporárias para que os painéis
interferências que venha a contribuir com uma possível ruptura
não levantarem devido a possível ocorrência do vento. Para as
por puncionamento que normalmente ocorre devido a dois
emendas entre os painéis, necessário é realizar traspasse de no
mecanismos: puncionamento das zonas 1 e 2 mostrados no
mínimo 10cm além de estarem limpos e isentos de umidade.
croqui apresentado na FIGURA 5.
Basicamente há os tipos de solda por termo-fusão (traspasse de
no mínimo de 10cm) via cunha quente dupla e os de extrusão
(traspasse de no mínimo de 7,5cm) por aporte do mesmo material
da geomembrana de PEAD precedida pelo tipo de solda por ar
quente. Estes tipos pode ser observado pelo croqui apresentado
na FIGURA 7.
A etapa 12 se trata da execução das ancoragens, que são Antes de iniciar as soldas, deve-se calibrar a máquina: esta
canaletas feitas, conforme apresentado na FIGURA 6, distância calibragem deve ser feita quando iniciar os trabalhos, na manhã
de 60cm da borda do talude e de geometria quadrada de lado e à tarde, também quando houver mudanças climáticas.
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Os testes devem ser feitos em dois corpos de provas de 1,00m Ensaio também não-destrutivo é o do tipo “Spark test”, que serve
de comprimento por 0,30m de largura. Devem ser ensaiados para para verificar descontinuidades em painéis. Via fonte de energia
verificar suas resistências ao cisalhamento e ao descolamento via de baixa amperagem e alta tensão (de 20 a 100 kV) vinculados
tensiômetros. Para aferir se a resistência da solda permanece por um fio e uma haste acoplada na ponta a uma escova ou barra
intacta é feito um teste é denominado FTB (Film Tear Bond), em metálica, o painel da geomembrana é examinado paulatinamente,
que a geomembrana rompe antes da solda. e como a geomembrana funciona como um isolante, quaisquer
A FIGURA 8 mostra a execução de solda entre painéis, solda descontinuidades é detectada por uma faísca acompanhada de
esta do tipo termo-fusão por cunha quente dupla. No croqui sinal sonoro, indicando o local onde deve haver o reparo. Ensaios
apresentado na FIGURA 9 é apresentada a ancoragem da destrutivos avalia (estatisticamente 5 corpos de prova de 2,54cm
geomembrana no concreto. Neste existe um inserto embutido feito de largura por 15,00cm de comprimento) a qualidade da solda
do mesmo material da geomembrana, o PEAD, e soldados entre si quanto as resistências ao cisalhamento e ao descolamento.
via solda do tipo extrusão precedida de solda por ar quente. Como pode ser observado na FIGURA 11, para o cisalhamento,
uma força se desloca para o lado esquerdo, tenciona a parte
superior da solda, uma outra força inversa tenciona a parte inferior.
Para o descolamento, uma força puxa para cima a parte superior
e, inverso, uma outra força puxa para baixo a parte inferior, no
sentido de induzir literalmente o descolamento da solda.
Para o ensaio de cisalhamento, o critério aceito é que 4
corpos de prova tenham resultados iguais ou superiores a 95%
da tensão de escoamento da geomembrana; e 1 corpo de prova
deve apresentar no mínimo 80% do valor de cada um daqueles
4 corpos de provas.
Analogamente é feita análise para o ensaio de descolamento,
porém, os 4 corpos de provas devem apresentar 62% da tensão
de escoamento da geomembrana.
Fig. 8: Execução da solda - Fonte: Acervo pessoal. Pressão (kPa) 1,00 1,50 2,00 2,50
Mínima 165 185 205 205
Máxima 205 205 205 205
Queda Máxima durante 5 minutos 28 21 14 14
Fonte: IGS BRASIL (2003).
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Fig. 12: Revestimento concluído - Fonte: Acervo pessoal. Fig. 14: Trecho do canal em solo revestido mostrando a transição em
concreto - Fonte: Acervo pessoal.
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