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Nesse ínterim, uma nova leitura anglófona começa a tratando o gênero como
identidade, enquanto na Europa, as feministas de orientação lacaniana substituíram-no
por “diferença sexual”. De início nenhuma dessas correntes buscava suplantar o
marxismo, mas superar suas leituras demasiadamente economicistas. Nos anos 90,
entretanto, ocorre o que Fraser chama de “giro cultural”, e o feminismo passa a fazer
parte do ramo dos estudos culturais, perdendo seus vínculos históricos com o marxismo
e com a teoria social e economia política em geral.
Uma tal política de reconhecimento não identitária se estende também aos outros
eixos de subordinação social. Em caso de conflitos entre eles, seria preciso aplicar duas
vezes o princípio de paridade participativa. Primeiramente no plano intergrupal e depois
aplica-lo no plano intragrupal, avaliando em cada caso os efeitos dos padrões de valor
culturais vigentes. Isto coloca, portanto, uma dupla exigência no campo do
reconhecimento.
Por fim, Fraser retoma sua proposta inicial: não é possível ter políticas de
reconhecimento sem políticas de redistribuição. Pensá-las de modo separado, apartado e
antitético é correr o risco de reforçar o neoliberalismo com um culturalismo
despreocupado com desigualdades econômicas, por um lado, e por outra parte significar
negar importância ao reconhecimento, tomando uma perspectiva economicista, incapaz
de questionar e transformar os padrões de valores institucionalizados na sociedade como
um todo.