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Nome: Carolina Duarte Zambonato

Obra: Fortunas do Feminismo – Traficantes de sonhos de Nancy Fraser

Fichamento 06: Capítulo 06

Fraser inicia este capítulo abordando os distintos enfoques do feminismo e como


eles se relacionam com o “espírito do tempo”. Nos anos 70, quando emergiu a segunda
onda feminista, ela estava marcada pela influência do marxismo, centralizando os
debates no campo da economia política (pensavam-no na amplitude do trabalho
doméstico, da reprodução e da sexualidade). Tempos depois, o paradigma centrado no
trabalho passa a ser considerado limitado e outros terrenos começam a ser considerados
importantes para as análises de gênero, como a psicanálise.

Nesse ínterim, uma nova leitura anglófona começa a tratando o gênero como
identidade, enquanto na Europa, as feministas de orientação lacaniana substituíram-no
por “diferença sexual”. De início nenhuma dessas correntes buscava suplantar o
marxismo, mas superar suas leituras demasiadamente economicistas. Nos anos 90,
entretanto, ocorre o que Fraser chama de “giro cultural”, e o feminismo passa a fazer
parte do ramo dos estudos culturais, perdendo seus vínculos históricos com o marxismo
e com a teoria social e economia política em geral.

Este processo de substituição dos estudos centrados no trabalho para concepções


baseadas na cultura e na identidade vai ao encontro das mudanças políticas que
culminaram no neoliberalismo. Se inicialmente a intenção não era suprimir as
preocupações com a economia política, mas complementar as interpretações do mundo
do trabalho com estudos sobre o campo simbólico cultural, o que se coloca
recentemente no campo dos estudos feministas é uma reação culturalista, algo que está
em consonância com o neoliberalismo hegemônico, num momento de aprofundamento
das desigualdades sociais.

Há, neste quadro de substituição da redistribuição pelo reconhecimento, uma


dupla mudança. De um lado, o reconhecimento representou uma ampliação da
interpretação dos conflitos e justiças de gênero, colocando em questão temas como
representação, identidade e diferença. Por outro lado, Fraser afirma que não está claro
que os esforços por uma política de reconhecimento esteja servindo para ampliar e
aprofundar a redistribuição. Ao contrário, oque se apresenta é uma paralisação das
políticas de redistribuição em uma troca paradigmática do economicismo para o
culturalismo. Com isso, o objetivo deste capítulo é responder a este diagnóstico a fim de
impedir que ele se realize.

Em primeiro lugar, a autora propõe revisar o conceito de gênero para que


abarque tanto a problemática centrada no trabalho como na cultura, sem leituras
sectárias que considerem estas abordagens antitéticas. Por isso busca uma concepção
bidimensional do gênero, que exige teorizar sobre estas dimensões analiticamente
distintas do sexismo: a classe e o status; ou seja, a dimensão da distribuição e do
reconhecimento.

Da primeira perspectiva, o gênero aparece arraigada na estrutura econômica


sublinhada pela divisão entre trabalho produtivo remunerado e trabalho
reprodutivo/doméstico não remunerado, cabendo às mulheres a realização do segundo.
Além disso cumpre aqui também pontuar as diferenças entre atividades profissionais
bem pagas e outras menos, estando estas majoritariamente ocupado por funções
domésticas ou ligadas ao cuidado e preenchidas por mulheres.

Do ponto de vista do reconhecimento, o gênero aparece como diferença de


status, codificado por padrões culturais de interpretação e avaliação dominantes, como o
androcentrismo, que privilegia os traços associados à masculinidade enquanto
desvaloriza aqueles associados ao feminino. Estes aspectos se expressam no direito, na
relação com a intimidade, a autonomia, na política governamental, nas práticas
profissionais, etc. Assim, as mulheres sofrem formas de subordinação de status
específicas de gênero, como abuso sexual, violação e violência doméstica, estereotipias
objetificantes, menosprezo na vida cotidiana, no campo da cidadania etc... Estes danos
se dão por uma falta de reconhecimento e são relativamente independentes da economia
política, restando insuficiente superá-las apenas por meio da distribuição.

Deste modo, cada dimensão (político-econômica/cultural-discursiva) possui uma


relativa independência, sem estarem uma subordinada a outra. Portanto, nenhuma delas
pode ser resolvida indiretamente pela outra, mas precisam ser transformadas em
conjunto. É possível debater que ambas possuem o mesmo peso, mas o mais importante
é reconhecer a necessidade de transformação tanto da estrutura econômica como da
ordem de status da sociedade contemporânea. Por isso, combater a subordinação das
mulheres exige uma combinação de política de redistribuição com uma política de
reconhecimento.

A concepção de justiça de gênero proposta autora se centra no princípio da


paridade participativa, o qual exige soluções sociais que permitam a todos os membros
adultos de uma sociedade interagir entre si como iguais. Para isso são necessárias duas
condições, uma objetiva, que garanta recursos materiais para garantir a independência e
a voz dos participantes e outra subjetiva, a qual expresse o mesmo respeito por todos os
participantes e garantam igualdade de oportunidades para alcançar a consideração
social.

Ambas concepções concernem à bidimensionalidade da redistribuição e do


reconhecimento, sem que uma exclua a outra, já que ambas compõem o critério
normativo proposto pela justiça de gênero para garantir a paridade participativa. Busca,
então, esclarecer sua concepção de paridade, a qual não se refere a uma igualdade
estritamente numérica de representação (concepção francesa de parité), mas a 1) uma
condição qualitativa de estar a par com os outros, interagindo em condições de
igualdade real, sem cair nas propostas falsamente simétricas de representação formal; 2)
um alcance concreto das condições que possibilitem o reconhecimento, o que recai em
discutir a redistribuição (ex, eliminar a dupla jornada, equiparar salários, etc); 3) uma
não redução do alcance à cargos eletivos de representação política formal no Estado,
mas nos múltiplos lugares da vida, como a família, o mercado de trabalho, as relações
sexuais, etc e as especificidades que tais paridades representam; 4) uma concepção não
reducionista, capaz de abarcar não apenas o gênero mas todos os eixos principais de
diferenciação social (ração, religião, nacionalidade, etc).

O terceiro ponto deste capítulo diz respeito à diferença conceitual entre o


reconhecimento tal como Fraser elabora e as políticas identitárias. Neste modelo, é
preciso reparar a degradação da feminidade construída pelas imagens androcêntricas e
adotar novas auto-representações, nas quais as mulheres se sintam respeitadas e com
estimas na sociedade em geral. Apesar deste modelo possuir observações perspicazes
sobre os efeitos psicológicos do sexismo, é, por outro lado, deficiente em dois aspectos
levantados pela autora: 1) tende a coisificar a feminidade e ocultar os eixos de
subordinação que se cruzam, ao mesmo tempo em que recicla os estereótipos de gênero
dominantes, promovendo o separatismo e a correção política; 2) trata a falta de
reconhecimento como um dano cultural independente, ocultando os vínculos deste com
a má distribuição sexista e, portanto, obstaculizando seu combate. Por isso é preciso um
enfoque alternativo.

O que requer reconhecimento, para Fraser, não é a identidade feminina mas a


posição das mulheres como plenas participantes na interação social. “A falta de
reconhecimento, em consequência, não significa depreciação e deformação da
feminidade. Significa, pelo contrário, subordinação social no sentido de que impede às
mulheres de participar como iguais na vida social.” (FRASER, p. 199) Portanto, é a
superação da subordinação social enquanto reconhecimento recíproco e igualdade de
status o núcleo da compreensão de reconhecimento de Fraser, e não uma política de
identidade. Pretende, em consequência, desinstitucionalizar os padrões de valor
androcêntricos que impedem a paridade entre sexos e institucionalizar outros capazes de
fomentá-los.

Uma tal política de reconhecimento não identitária se estende também aos outros
eixos de subordinação social. Em caso de conflitos entre eles, seria preciso aplicar duas
vezes o princípio de paridade participativa. Primeiramente no plano intergrupal e depois
aplica-lo no plano intragrupal, avaliando em cada caso os efeitos dos padrões de valor
culturais vigentes. Isto coloca, portanto, uma dupla exigência no campo do
reconhecimento.

Por fim, Fraser retoma sua proposta inicial: não é possível ter políticas de
reconhecimento sem políticas de redistribuição. Pensá-las de modo separado, apartado e
antitético é correr o risco de reforçar o neoliberalismo com um culturalismo
despreocupado com desigualdades econômicas, por um lado, e por outra parte significar
negar importância ao reconhecimento, tomando uma perspectiva economicista, incapaz
de questionar e transformar os padrões de valores institucionalizados na sociedade como
um todo.

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