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Instituto de Educação de Minas Gerais
Ano 2 \ n° 02\ Maio \ 2013 \ Belo Horizonte – MG
FICHA TÉCNICA
Governador do Estado de Minas Gerais
Antônio Augusto Anastácia
Superintendente da Metropolitana A
Elci Pimenta
Concepção do projteto
Angela Machado Teles
Conselho da revista
Angela Machado Teles
Ronaldo Campos
Rosa Ribeiro
Texto e pesquisa
Ronaldo Campos
Revisora
Silvana Gonçalves Cayres Durães
Impressão
Gráfica BH
Tiragem
xxx exemplares
Distribuição dirigida e gratuita
Patrocínio
Chromos Colégio e Pré-Vestibular
Imagem da capa
Alunas do 3° ano do Curso de Formação do IEMG – 1956
(Foto: reprodução | acervo do IEMG)
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“Quando cada um dá um pouco, o pouco torna-se muito”. Essa frase dita
por Irmã Dulce exemplifica muito claramente o meu sentimento diante de
mais um trabalho muito bem realizado. Sendo assim quero demonstrar
o meu agradecimento a todos que contribuíram para a realização deste
projeto. Incialmente, é importante destacar a parceria com o Colégio e
Pre-vestibular Chromos. Agradeço o valiosíssimo apoio do senhor Valter
Batista Teixeira (Presidente da Rede Cromos), de Adriana Rocha Macena
(Gerente da Unidade Centro do Colégio Cromos) e toda equipe Chromos
na realização e publicação dessa revista. Agradeço os meus colegas pelo
carinho, apoio e dedicação. Em especial, aos professores e parceiros de
jornada Rosa Vicente e Ronaldo Campos que são pessoas e profissionais
de quilates que não se medem.
Segundo a constituição brasileira de 1988, é direito de todos os cidadãos brasileiros o acesso à educação. Para que ocorra a efetivação desse
direito, a sociedade busca se organizar para que cada um dos brasileiros, independentemente do sexo, orientação sexual, identidade, gênero,
raça, cor, credo religioso, idade, classe social e localização geográfica, tenha garantido o acesso à educação pública, gratuita e de boa qualidade
em todos os níveis, etapas e modalidades. Desde os últimos anos do século passado, percebe-se que as políticas educacionais brasileiras têm
obtido grandes avanços na oferta e expansão da educação.
A educação busca responder antigos e novos desafios cada vez mais complexos: ação dos professores, gestão democrática da educação, escola
inclusiva, diversidade e multiculturalismo. Certamente, a disponibilidade de recursos (acesso à livros, revistas, biblioteca e salas de leitura, internet,
laboratórios de informática, de ciências naturais, ciências exatas e ciências humanas, acessibilidade, quadras de esportes, oficinas e workshop, etc)
contribui para a melhoraria da qualidade do processo formativo.
A normalista Beatriz Gomes de Oliveira, recebendo das mãos do presidente da república do Brasil, Juscelino Kubitschek, o Prêmio Brasil – 1° lugar .
(Foto: reprodução \ acervo IEMG)
Nesse contexto, a Revista Pedagógica do IEMG tem o desafio de criar um espaço para se apresentar novas propostas, pensar e redefinir as práticas
educativas, construir uma gestão democrática dentro da escola. Pois, é sabido por todos que os grandes desafios atuais da educação brasileira
podem ser superados e até vencidos através do contato, da conversa e da troca de experiências, que envolve alunos, pais, professores, coordenadores,
gestores e, claro, a comunidade em que a nossa escola faz parte. Então, essa revista pode ser considerada um reforço pedagógico adicional para
melhorar a nossa prática educativa\formativa.
Outro objetivo da Revista Pedagógica do IEMG é levar os nossos alunos a descobrir a importante história do Instituto de Educação de Minas
Gerais, ao mesmo tempo em que contribui para revelar uma instituição de ensino público extremamente dinâmica e produtiva. Nas páginas do
seu segundo número, há uma ampla diversidade de propostas e discussões. Destacando a importância de práticas pedagógicas inovadoras, bem
como a relevância do IEMG ( a partir da ação dos seus professores do passado e do presente) para a história da educação no Brasil. Assim, aliando
teoria e prática, modernidade e tradição, a Revista Pedagógica do IEMG se compromete com a inclusão, a qualidade e a inovação do ensino.
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EDITORIAL
É com imenso prazerque apresentamos o segundo número da Revista Pedagógica do IEMG, voltada para a redescoberta da história dessa
importante instituição de ensino, a analise das ideias pedagógicas contemporâneas, a compreensão da problemática educacional e para a
inovação e experimentação pedagógica realizada por professores e alunos através de projetos e oficinas.
O lançamento de um segundo número sempre é acompanhado de expectativas e esperanças. É também um momento de celebração, depois de
meses de trabalho intenso por parte de toda a equipe envolvida na preparação dos textos, nas pesquisas de imagens, na criação e desenvolvimento
da revista. Essa revista nasceu do sonho e da dedicação de professores, alunos e funcionários que todos os dias ajudam a construir uma escola
melhor, mais dinâmica, participativa e democrática. É um importante instrumento pedagógico que representa a confiança num ensino público de
qualidade capaz de transformar positivamente para alunos, professores e demais pessoas da comunidade. É uma publicação que busca integrar
teoria e prática de forma dinâmica e inovadora.
O objetivo desse número é oferecer ao leitor a oportunidade de conhecer mais um pouco a história do IEMG e a de fornecer um balanço do
conhecimento e das atividades elaboradas pelo Instituto ao longo do último ano. O resultado é um panorama da complexidade de perspectivas
que o debate dos temas aqui apresentados requer, apontando para a exigência de um ethos escolar sempre dinâmico.
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SUMÁRIO
10
A participação do Instituto de Educação de Minas Gerais na Olimpíada
Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) no ano
de 2012
11
O desempenho dos alunos do Instituto de Educação de Minas Gerais
(IEMG) nas provas oficiais, nos concursos de vestibulares e no
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)
22 Exposições e Projetos
32 Referências
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Lançamento da primeira edição da
Revista Pedagógica do IEMG
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Magistra – Escola de formação e
desenvolvimento profissional de
educadores:a escola da escola
Ao longo da sua história, o Estado de Minas Gerais se destacou na área da educação pelo seu dinamismo e inovação. A Escola Normal Modelo,a
Escola de Aperfeiçoamento, o curso de Administração Escolar são exemplos do pioneirismo e vanguardismo do nosso Estado. Dentro dessa
tradição, na atual gestão do governador Antônio Augusto Anastasia, foi criada a Escola de formação e desenvolvimento profissional de educadores
– Magistra.Localizada, no bairro Gameleira, em Belo Horizonte, na antiga sede da Secretaria de Estado de Educação (avenida Amazonas, 5855).
Também fazem parte do novo espaço, o Museu da Escola Ana Maria Casasanta e a Biblioteca Bartolomeu Campos de Queirós. As duas instituições
possuem, em seu acervo, material de pesquisa e documentos que contam a história da educação em Minas Gerais.
O foco de ação da Magistra é o educador como sujeito – nas suas dimensões pessoal, profissional, cultural, ética e estética. A sua meta é se tornar
uma instância capaz de coordenar, difundir e induzir políticas de formação de educadores em rede, articulando instituições formadoras, órgãos
de pesquisa, entre outros, atingindo todas as Redes Públicas de Ensino no Estado de Minas Gerais. Promovendo a formação e a capacitação de
educadores, gestores e demais profissionais da Secretaria de Estado da Educação do Estado de Minas Gerais, nas diversas áreas do conhecimento
e em gestão pública e pedagógica.
Não é objetivo da Magistrar substituir as instituições formadoras regulares. Mas se transformar em um espaço do educador, devendo acolhê-lo
numa rede de pertencimentos por meio da adesãoaos processos de formação, articulados e em rede.Potencializando os processos de formação,
através da criação, pesquisa, divulgação, avaliação, relflexão e experimentação de boas práticas de gestão e interação pedagógica. Assim, o seu
objetivo principal é o de melhorar o desempenho educacional das escolas, dos educandos de modo geral e consequentemente dos estudantes
mineiros.
Ângela Imaculada Loureiro de Freitas Dalben e Paula Vianna Cambraia são respectivamente diretora e vice diretora da da Escola de formação e
desenvolvimento profissional de educadores – Magistra.
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Encontro de professores (2012) e de
especialistas (2013) da rede estadual de
educação no Resort Hotel Tauá (Caeté)
Durante quatro dias, em setembro de 2012, os professores de escolas estaduais mineiras e especialistas convidados participaram de um importante
encontro organizado pela Magistra e Secretária de Estado de Educação de Minas Gerais. Realizado no Resort Hotel Tauá, esse congresso possibilitou
a troca de experiências na área da educação e a apresentação e o registro dos projetos exitosos realizados na rede pública.
Os objetivos desses encontros foram conhecer as prioridades da política da Educação Mineira, avaliar os trabalhos desenvolvidos no ano anterior,
consolidar conhecimento sobre o SIMAVE e discutir os resultados do PROEB, ampliar conhecimentos sobre a concepção e a estrutura dos
Conteúdos Básicos Comuns – CBC e sua implementação no currículo dos Anos Finais do Ensino Fundamental e Médio, desenvolver oficinas dos
diferentes conteúdos curriculares tendo em vista a capacitação dos professores; eestreitar os laços de companheirismo e solidariedade entre os
professores, compartilhar conhecimentos e experiências.
Entre os dias 11 e 15 de março de 2013, no Resort hotel Tauá (município de Caeté) foi realizado pela Magistra um encontro com orientadores,
coordenadores e supervisores para discutir o papel dos especialistas da educação básica. Mais de mil profissionais de 530 escolas da Região
Metropolitana (Metropolitanas A, B e C) de Belo Horizonte participam desse evento. Foi ressaltada a importância desses profissionais junto ao
diretor na gestão da escola, na efetivação de uma escola inclusiva, participativa e democrática; na construção de uma educação de qualidade;
entre outros. Durante esse evento, palestras, conferências, oficinais e minicursos abordando temáticas variadas (da elaboração de projetos ao
cuidado com a voz) foram realizados.
Fotografia 1 - Plateia do
Encontro de professores da
rede estadual de educação
no Resort Hotel Tauá, em
Caeté (2012). Fotografia 5.
Fotografia 3 - Platéia do
Encontro de especialistas da
rede estadual de educação
no Resort Hotel Tauá, em
Caeté (2013).
Fotografia 7 - Encontro de
Especialistas: professora Benta
Maria de Oliveira ( filha da
nossa ex- Diretora do IEMG - D.
Zélia de Andrade Paiva ) com
as especialistas de Educação do
Instituto de Educação Ângela Teles e
Quitéria Andrade (Foto: reprodução
Fotografia 4. - acervo Angela Machado Teles).
A participação do Instituto de Educação
de Minas Gerais na Olimpíada Brasileira
de Matemática das Escolas Públicas
(OBMEP) no ano de 2012
10
O desempenho dos alunos do Instituto
de Educação de Minas Gerais nas provas
oficiais, nos concursos de vestibulares e
no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)
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Formandos IEMG - 2012
A cerimônia de conclusão do ensino médio foi realizada no auditório do IEMG. Contou com a participação dos alunos, professores, funcionários,
pais, demais familiares e amigos. O Baile de formatura foi realizado no Mix Garden, no bairro Jardim Canadá. O salão com ótima estrutura destacou-
se pela beleza e modernidade. A festa foi impecável.
A formatura tem um valor simbólico muito grande na nossa sociedade, pois representa um importante ritual de passagem da vida escolar para a
vida acadêmico-profissional. É um momento muito especial, por que representou o primeiro passo para a conquista da independência profissional
do jovem. Mas, é também o inicio de uma vida repleta de compromissos e responsabilidade. A formatura dos alunos do ensino médio significa
uma conquista. É um símbolo do reconhecimento da capacidade e da maturidade pessoal\intelectual do jovem formando. É o momento que
encerra a vida escolar e que inaugura uma nova vida em um curso superior onde estará em busca da conquista de uma profissão e do pleno
domínio da sua cidadania. É certo que ao formar o aluno não tem a garantia de total sucesso, apenas indica uma transição que registra a superação
das dificuldades do mundo escolar e obtenção de um saber importante para a sua futura qualificação profissional.
O ensino fundamental e médio é uma fase importante no amadurecimento e na formação do individuo. É uma época em que se aprende a viver
em grupo, contribuindo positivamente para a construção social do conhecimento. A escolarização tem o seu início e fim marcados por rituais
que lhes abrem as portas, em festas públicas, dando ao grupo social do qual o aluno faz parte a satisfação necessária para que esse continue
acreditando na necessidade da existência e da importância da escola para a sociedade.
A cerimonia de conclusão do ensino médio pode ser vista como uma festa performática, onde, alunos, familiares e convidados extravasam os seus
sentimentos, comunicam as suas conquistas e anunciam os seus futuros projetos acadêmico-científicos-culturais. A conclusão ou formatura faz
parte dos meios que as sociedades desenvolveram ao longo da história da humanidade e que servem de identidade e formas de socializar, ou
seja, nesses momentos os hábitos, costumes, valores e tradições sociais são reafirmados e transmitidos para as novas gerações. A formatura nos
diz qual é o nosso papel na sociedade e indica o caminho que podemos seguir, deixando marcado nas nossas memorias (individuais e coletivas)
os elementos importantes para que essas informações sejam processadas.
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Uma história de muitas histórias:
A presença feminina nas artes e na
educação em Belo Horizonte
A narração da própria vida é o testemunho mais eloquente
dos modos que a pessoa tem de lembrar.
Ronaldo Calefe
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A obra de Jeanne Louise Helena Antipoff
Milde no IEMG
No hall de entrada do Instituto de Educação de Minas Gerais, há um
amplo e belo salão ornamentado com elementos arquitetônicos neo-
clássicos. Ao lado das escadarias que conduzem a parte superior do
edifício, destacam-se os baixos-relevos decorativos de autoria da
professora e artista belga Jeanne Louise Milde. Os painéis representam
o ensino das artes e das ciências.
De modo geral, podemos caracterizar a obra de Mademoiselle Milde, a
partir de uma temática refinada e vigorosa. Dotada de grande inspiração
e liberdade de elaboração, Milde possui um senso de harmonia e
elegância que revela uma escultura pura, sensível e sensual. Pode-se Fotografia 7 - Helena Antipoff na (Foto:
perceber elementos influenciados pela art-déco e pelo expressionismo. reprodução – Disponível no site: http://
A sua obra combina uma extraordinária percepção clássica formal com www.cliopsyche.uerj.br/arquivo/antipoff.
a leveza dos volumes e movimentos, o que confere uma magnifica html)
longilineidade às suas peças. Milde se especializou nas figuras e mitos
femininos, para onde são transpostos sensações, emoções e expressão
A psicóloga e educadora Helena Antipoff nasceu em 1892, na cidade
próprias à mulher, transcendendo-se espiritualmente em seu trabalho
de Grodno, Russia. Filha de Sofia Constantinovna e de Wladimir
No caso específico dos painéis em baixo relevo do IEMG, Milde
Vassilevitch Antipoff. Em virtude da carreira do seu pai (um militar
retratou(na forma de dois grupos de cinco mulheres) o sentimento de
de alta patente) e pela origem materna aristocrática, viveu parte
amor e dedicação dos alunos às artes, às ciências e à cultura. Cada uma
da infância na cidade de São Petersburgo e recebeu uma educação
das figuras femininas representadas tem a posse (e, por consequência,
internacional. Com a separação dos pais, em 1909, foi viver com a mãe
o domínio) de um elemento associado ao conhecimento. E todas estão
e os irmãos em Paris (França). Estudou na Sorbonne e no Collège de
iluminadas pela luz do sol (conhecimento).No painel do ensino das
France. Formou-se em psicologia. Trabalhou no Instituto de Ciências da
artes, a primeira jovem segura um martelo; a segunda, um formão; na
Educação e no Instituto Jean Jacques Rousseau em Genebra.
parte central, o sol; a quarta mulher segura um livro; e a quinta uma
Em 1916, Helena Antipoff retornou a Rússia, na época da ocupação
paleta de pintor. No outro, na representação das ciências, há também
alemã, para reencontrar o seu pai que havia sido ferido durante a
um grupo de cinco mulheres: a primeira segura um galho de café; a
Primeira Grande Guerra. Assistiu os fatos históricos da Revolução
segunda, um globo; na parte central, o sol, a quarta jovem segura um
Russa. Trabalhou em estações médico-pedagógicas em Viatka e em São
livro; e a última um compasso e um esquadro.
Petersburgo com adolescentes abandonados, sem teto e sem rumo
É uma obra que deve ser apreendida a partir do seu simbolismo,
(na época, eles eram denominados como jovens delinquentes). Em
por que a artista se utilizou de uma linguagem cifrada e com muitas
1921, atuou como colaboradora científica no Laboratório de Psicologia
alegorias. Objetos facilmente reconhecíveis como um martelo, um livro
Experimental de São Petersburgo, fundado por Netschaieff.
ou o sol não representam apenas eles mesmos. São conceitos (ideias)
Casou-se com Viktor Iretsky, jornalista e escritor russo, que foi perseguido
de significado mais profundo ou abstrato. Assim, o martelo é o símbolo
e preso em decorrência das suas ideias literárias, consideradas nocivas
da razão orientando a vontade. O sol é a glória, a espiritualidade,
à sociedade soviética. Essa situação levou o casal a se exilar em Berlim,
a iluminação e o conhecimento. O livro e o globo representam
na Alemanha. Como não oportunidades de trabalho para Helena
respectivamente o conhecimento (a sabedoria) e a primeira matéria
Antipoff em território alemão, ela retornou a Suíça. E lá trabalhou no
(alquimia).
Laboratório de Psicologia da Universidade de Genebra como assistente
Ao associar a figura da mulher ao conhecimento, a artista belga nos
de Édouard Claparède e como professora de Psicologia da Criança na
mostra uma representação de mundo que rompe com a imagem
Escola de Ciências da Educação no Instituto Jean Jacques Rousseau.
tradicional da mulher e propõe uma nova representação do feminino.
Foi colaboradora de Claparède na pesquisa sobre os processos de
Ou seja, a mulher deixa de ser uma pessoa destinada à procriação, ao
pensamento inteligente. Nessa época, recebeu o convite do governo de
lar, para agradar o outro.
Minas Gerais para lecionar na Escola de Aperfeiçoamento. Inicialmente,
A figura feminina aqui não está associada nem a maternidade
recusou o convite. Mas, em 1929, aceitou assinar o contrato por dois
(representando os papeis de mãe e esposa) nem ao erotismo
anos para lecionar psicologia na Escola de Aperfeiçoamento de
(representando a mulher como objeto de desejo do homem). E passa a
professores de Minas Gerais. Ficou responsável pela disciplina de
ser sujeito do conhecimento. Nesse sentido, essa obra tem um caráter
psicologia, a coordenação do Laboratório de Psicologia e assessoria do
revolucionário e mostra a artista belga como uma mulher a frente do
sistema de ensino na aplicação de testes de inteligência.
seu tempo. Pelo contrário, é uma imagem que simboliza a conquista
Na Escola de Aperfeiçoamento, recria o ambiente de integração entre
dos direitos à educação e à profissionalização. A obra de Milde nos traz
teoria e prática experimentando nos seus trabalhos no Laboratório de
uma nova mulher inserida em uma sociedade em transformação. A
Psicologia da Universidade de Genebra.Os trabalhos desenvolvidos
mulher passa a ter uma identidade própria, com desejos e angústias
nessa época subsidiaram e originaram o extenso programa de pesquisa
que são próprios da condição humana.
sobre o desenvolvimento mental, ideais e interesses das crianças de
Os dois painéis decorativos foram feitos por uma mulher especialmente
Minas Gerais. Helena Antipoff buscou comprometer as suas alunas no
para a Escola Normal Modelo. Certamente, porque era naquela época
processo de construção de uma pedagogia científica, com o objetivo
um dos raros espaços na capital mineira em que as mulheres poderiam
de prepara-las para conhecer as crianças através de novas teorias e
desenvolver os seus talentos, as suas individualidades. Nos dias de
novas metodologias desenvolvidas pela psicologia.
hoje, essa bela obra ganha um novo significado. Passa a representar o
Em 1932, um grupo de médicos, educadores e religiosos, sob a
lugar privilegiado que as mulheres conquistaram na nossa sociedade.
presidência de Helena Antipoff, criou a Sociedade Pestalozzi de
Belo Horizonte. Esta instituição tinha vários objetivos. Certamente,
o primeiro era o de cuidar das crianças excepcionais e assessorar as
professoras de “classes especiais” dos grupos escolares. Além de atuar
sobre diversos focos de exclusão social (provocados pela miséria,
abandono e por questões de deficiência mental no sentido estrito).
“Em todos os casos, tratava-se de procurar resguardar os direitos das
crianças em situação de risco social. O consultório médico-pedagógico
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para crianças deficientes ou problemáticas instalado pela Sociedade
em 1934 passou a atender regularmente essas ‘crianças-problema’, e
tornou-se o embrião do futuro do Instituto Pestalozzi de Minas Gerais,
posteriormente transformado em instituição pública, financiada pelo
governo do Estado de Minas Gerais.” (CAMPOS, 2002, p.26) Em 1940,
a Sociedade Pestalozzi instalou no município de Ibirité (Minas Gerais)
sob a denominação de Escola da Fazenda do Rosário. O objetivo
dessa instituição era educar e reeducar crianças abandonadas ou
excepcionais. Aplicava-se os métodos da Escola Ativa, centrados na
atividade espontânea da criança. Foi a partir dessa época que Helena
Antipoff produziu um extensa e importante obra educativa (educação
especial, educação rural, criatividade, superdotação) que influenciou
a formação de muitas gerações de psicólogos e professores. Nessa
mesma época, tornou-se professora fundadora da cadeira de Psicologia
Educacional na Universidade Minas Gerais (atual UFMG), lecionando
na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras as disciplinas de didática
e psicologia. Fotografia 8 - Busto de Lucia
Casasanta, no hall de entrada
As ações pedagógicas de Helena Antipoff dedicadas à educação
do IEMG, ao fundo baixo relevo
rural foram marcadas por uma filosofia pedagógica com ênfase na de Jeanne Louise Milde (Foto:
atividade e autonomia do aluno, numa atitude democrática, com o Ronaldo Campos)
respeito à diversidade e a fé na ciência como um importante elemento
de transformação da vida. Para a educadora, “talento e inteligência
Lúcia Casasanta atuou como professora e trabalhou muito para
não são de geração espontânea, mas precedidos de longo trabalho
concretizar a reforma de ensino proposta por Francisco Campos e para
de gerações: quem será pintor num meio rural, onde a criança nem
estabelecer uma nova forma metodológica no ensino\aprendizagem
mesmo tem o direito de usas o lápis de cor?” (CAMPOS, 2002, p.29)
da leitura e da escrita, em um momento de muita incerteza pedagógica
da nossa história. Defendeu de forma contundente a utilização do
Lúcia Casasanta
Método Global de Contos para o ensino da leitura. Enfatizou a ideia que
as escolas deveriam trabalhar com a formação do leitor, incentivando
os professores a se tornarem leitores e formadores de novos leitores.
A educadora foi defensora do espírito científico na sala de aula. O
Lúcia Schmidt Monteiro de Castro nasceu em 29 de maio de 1908 em processo de ensino-aprendizagem deixou de ser o resultado do “dom”
Carancas (Santa Luzia), região metropolitana de Belo Horizonte. Filha natural (da “intuição”) do mestre para ser uma ação planejada, resultado
do fazendeiro Eduardo Olavo Monteiro de Castro, neto do Barão de de estudo e pesquisa. Especialista em metodologia da linguagem. É
Congonhas do Campo, e da professora Clodilte Schmidt Monteiro lembrada até os dias de hoje pela sua contribuição para a alfabetização.
de Castro , neta de educadores alemães, Félix Schmidt e Verônica Defensora do método global de contos para aprendizagem da leitura.
Klaiser. A sua formação teve início na cidade de Ouro Preto no Grupo Um método revolucionário que obteve resultados surpreendentes no
Escolar D. Pedro II. O curso primário foi concluído em Belo Horizonte processo de alfabetização. Foi amplamente adotado dos anos 30 até
no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Em 1922 ingressou no curso a década de 70.
de magistério na Escola Normal Modelo de Belo Horizonte. Na época,
esse era considerado um destino obrigatório para as moças de boa
família. Antes da sua formatura de normalista, no ano de 1926, iniciou
sua carreira no magistério ao assumir o cargo de professora substituta
de Música, Canto e Teoria Musical, no Grupo Escolar Barão do Rio
Branco. O seu trabalho era preparar alunos para o exame final, cujos
resultados seriam publicados no jornal “Minas Gerais”. Os seus alunos
se destacaram com sucesso e, em virtude disso, recebeu inúmeros
elogios.
Por seu desempenho brilhante como aluna da Escola Normal Modelo e
como professora do Grupo Escolar Barão do Rio Branco, aos 19 anos, foi
convidada pelo então governador de Minas Gerais, Francisco Campos,
para fazer parte de um grupo de bolsistas que seria enviado para a
Teacher´s College, da Columbia University (Nova York). Essa instituição
norte-americana era considerada “o maior centro educacional do
mundo” e irradiador do idealismo liberal. Na universidade, especializou-
se em Metodologia do Ensino da Língua Pátria. Fotografia 9 - “As mais belas
Ao retornar ao Brasil, em parceria com Alda Lodi (uma das fundadoras histórias” é o livro mais famoso
do curso de Filosofia da UFMG) fizeram parte da criação e estruturação de Lúcia Casasanta (foto:
Ronaldo Campos)
da Escola de Aperfeiçoamento, uma escola laboratório que tinha por
objetivo formar uma nova classe de professores. Um local importante
para a produção de conhecimento sobre a metodologia da linguagem No ano de 1933, casou-se com o professor Mário Casasanta. E
e sedimentação da prática pedagógica. Essa escola correspondia assumiu os quatro filhos do professor, com idades que variavam de
ao curso pós-médio, direcionado a professoras que já exerciam 2 a 6 anos. Cinco anos mais tarde, ocupou a cadeira de professora
o magistério. Ao fim de dois anos, voltariam às suas escolas de adjunta de didática da linguagem na Universidade do Rio de Janeiro.
origem, como elementos multiplicadores das teorias e metodologias Em 1946, atua no Curso de Administração Escolar (CAE). Em 1953,
aprendidas no curso. O corpo docente da Escola de Aperfeiçoamento como integrante da Comissão Organizadora do Programa do Ensino
tinha uma formação teórico-prática originária dos Estados Unidos e da Primário, foi responsável por elaborar a parte relativa à Língua Pátria.
Europa. No ano seguinte, lançou o pré-livro “Os três Porquinhos” e deu início a
série didática “As mais belas histórias”. Em 1963, ficou viúva e assumiu
o lugar do seu marido no Conselho Estadual de Educação (permaneceu
até a sua aposentadoria em 1977). Participou também do Conselho
Estadual de Educação no triênio 1969-1971. Em 1970, tornou-se a
primeira diretora do Instituto de Educação de Minas Gerais depois do
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seu reconhecimento como entidade de ensino superior pelo Conselho José Oswaldo de Araujo, Abgar Renault, Mário Campos, Aníbal Matos,
Federal de Educação. Foi uma das fundadoras (1970) e a primeira a escultora Jeanne Louise Milde, Mário e Lúcia Casassanta,
reitora da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). Dentre as Nasceu na capital mineira no ano de 1915. Cresceu e vive até hoje no
suas principais realizações, destaca-se a criação da primeira biblioteca bairro Santa Ifigênia, em Belo Horizonte. Iniciou os seus estudos aos
infantil do Brasil e da primeira clínica para correção de problemas e seis anos de idade no curso primário no Grupo Escolar Henrique Diniz.
leituras e linguagem. Repetiu a quarta série do ensino primário duas vezes por não ter a
Faleceu em 04 de junho de 1989. Mas a sua obra permanece viva na idade mínima de 12 anos para iniciar seus estudos como normalista (
memória de educadores, antigos alunos e das inúmeras crianças que repetiu não por reprovação, mas para completar a idade exigida para o
não se esquecem de “As mais belas histórias” ingresso na escola normal).
Estudou na Escola Normal Modelo (atual Instituto de Educação de
Minas Gerais – IEMG) e na Escola de Aperfeiçoamento. Após a sua
Alaíde Lisboa formatura, ficou seis anos sem lecionar por opção pessoal. Nesta época,
estudou piano e canto. Foi convidada por uma amiga para lecionar no
Grupo Escolar Lúcio dos Santos e depois no Grupo Escolar Flávio dos
Professora, escritora, pesquisadora, memorialista, política e figura de Santos.
destaque no meio cultural brasileiro, Alaíde Lisboa de Oliveira nasceu Adepta da Escola Nova e de métodos como a gramática funcional. Elza
no dia 22 de abril de 1904, na cidade de Lambari (sul de Minas Gerais), já gravou programas educacionais na extinta TV Itacolomi. Participou
onde passou a sua infância. Filha de Maria Rita Vilhena Lisboa e do ativamente das atividades doComplexo Educacional Fazenda do
conselheiro João de Almeida Lisboa. É irmã da poetisa Henriqueta Rosário. Foi Orientadora técnica no Grupo Escolar Sandoval de Azevedo.
Lisboa e do poeta José Carlos Lisboa (a quem sucedeu na cadeira Orientadora técnica e diretora no Grupo Escolar Henrique Diniz. Ainda
número seis da Academia Mineira de Letras). Fez o primário no Grupo hoje ela é convidada para palestras e escreve artigos para jornais.
Escolar Dr. João Bráulio Júnior. Foi uma aluna que gostava muito de Destacou-se na imprensa mineira escrevendo para suplementos
estudar. Fez o curso normal no internato do Colégio Nossa Senhora de infantis e publicou diversos livros, dentre eles destacam: Lili e Paulinho
Sion (na cidade mineira de Campanha.), e desenvolveu uma carreira estudam ciências naturais (Editora do Brasil), Pequeno Cientista (Editora
estudantil brilhante na Escola de Aperfeiçoamento Pedagógico de do Brasil), Orientação Metodológica (Editora Bernardo Alvares), entre
Minas Gerais, onde conviveu com a educadora e psicóloga Helena outros.
Antipoff, trazida para Minas Gerais graças ao empenho do professor Em artigos para jornal, chamou atenção para as possibilidades que tem
José Lourenço de Oliveira, com quem Alaíde Lisboa veio a casar, em a escola primária de realizar um trabalho de reatamento das relações
1936.Helena Antipoff foi a sua madrinha de casamento. Teve quatro entre o poeta/poesia e o público/sociedade. Dizia a professora, que
filhos: Abigail, José Carlos, Sílvio e Maria. vários autores modernos brasileiros eram comumente utilizados pelo
É autora de mais de trinta livros, entre didáticos, ensaios e literatura programa oficial do ensino primário em Minas Gerais. Através de
infantil. Atuou até 1957 como professora na Escola Normal Modelo leituras, declamações, corais falados e leituras silenciosas, os meninos
(atual Instituto de Educação de Minas Gerais – IEMG) e na Universidade tomavam conhecimento de poemas de Drummond, Bandeira, Cecília
de Minas Gerais (que mais tarde daria origem a Universidade Federal Meireles, Vinícius de Morais e outros. Isto, bem se vê, é um avanço
de Minas Gerais – UFMG). Durante a sua carreira no magistério, extraordinário; principalmente quando se considera que mais da
desenvolveu um produtivo trabalho de base, não só nas funções de metade de nossos professores secundários têm sólidos e impenetráveis
professora e de diretora, mas também como pedagoga e incentivadora preconceitos contra a poesia dita moderna ou qualquer sombra de
dos movimentos de renovação do ensino no nosso estado.Foi inovações em arte.
professora em cursos de extensão em várias universidades brasileiras.
Jornalista no jornal mineiro O Diário, durante quinze anos.Presidente
da APPMG por dois mandatos.
Dezessete anos após a conquista do direito ao voto feminino no
Brasil, foi a primeira mulher eleita para o cargo de vereadora em Belo
Horizonte (em 1947, como suplente, assumindo efetivamente dois
anos depois). Na época do seu mandato, conseguiu um aumento dos
salários dos professores do Estado.
Em 1957, doutorou-se em didática pela UFMG, da qual se tornou
catedtática por concurso público. Exerceu vários cargos de direção na
universidade. Durante treze anos, foi diretora do Colégio de Aplicação
da UFMG, além de exercer o cargo de vice-diretora da Faculdade
de Educação, primeira coordenadora do mestrado em educação e,
finalmente, professora emérita. Fotografia 10 - Elza de Moura.
Deixou o seu nome gravado na história da literatura infantil com a
obra A bonequinha preta que contribuiu para despertar o interesse
pela leitura de várias gerações há sessenta e cinco anos.Sua obra, em
especial o livro Nova didática, foi classificada por Carlos Drummond Fotografia 11 - Elza de Moura no
de Andrade como um trabalho altamente inovador e criativo, “um XXIX, no auditório do Instituto de
trabalho feito de experiência, reflexão e amor à tarefa, com apoio em Educação – Encontro Nacional
um grande talento”. da AMAE \ Belo Horizonte 30 -07
- 1997(Foto: reprodução- acervo:
Elza de Moura)
Elza de Moura
Elza de Moura é uma das mais importantes educadoras do nosso país
e uma das mulheres mais atuantes na segunda metade do século XX.
Educadora, escritora, pesquisadora, maestrina, gestora e comunicadora
de rádio e televisão. É reconhecida por sua vasta experiência e grande
Fotografia 12 - O professor e
competência.Presenciou as modificações pelas quais a educação vem pesquisador Ronaldo Campos e
passando em nosso país e atuou de forma dinâmica. Trabalhou com a educadora e escritora Elza de
nomes importantes como a psicóloga e educadora Helena Antipoff, Moura (acervo Ronaldo Campos)
17
Fotografia 13 - Obras importantes das educadoras Elza de Moura e Alaíde Lisboa
(foto: Ronaldo Campos)
Elza de Moura
As mudanças que estão ocorrendo no mundo todo têm sido tão rápido que não há tempo para avaliação de resultados. Perguntamos: se em
determinadas modificações deram certo, por que muda-las? Vaidade, novidades, espírito de destruição para dar lugar ao novo? A descontinuidade
nos processo tem destruído muitas inteligentes iniciativas.
Fui do glorioso tempo da antiga Escola Normal Modelo, que tinha o objetivo principal de formar professores, que foram educadores. Se meninas
eram visadas, por que também os meninos não seriam educadores? Mas os meninos queriam outras carreiras.
Frequentei durante sete anos contínuos a Escola Normal Modelo. Nessa escola, toda a organização, todos os programas de ensino visavam a
formação da professora. E como tudo foi pensado e vivido em função desse objetivo, a menina que se matriculava na Escola, vindo do curso
primário, frequentava o Curso de Adaptação, durante dois anos. Que coisa inteligente essa adaptação da criança para a pré-adolescência,
amadurecendo sem atropelo. Terminando esse curso, vinha o Curso Preparatório, aquisição de cultura, alicerce da futura professora, feito em
três anos. Professor tem que ter bases sólidas para despertar no aluno aquele “interesse profundo e permanente pela leitura”, como proclamava a
professora Lúcia Casasanta, nas suas magníficas aulas de metodologia da língua, na antiga Escola de Aperfeiçoamento. Hoje o uso exagerado da
informática é golpe da cultura, onde o limite de interesses variados é golpe de cultura.
Na Escola Normal Modelo líamos muito e com paixão. Depois do importante Curso Preparatório, passávamos ao Curso de Aplicação, durante dois
anos, onde o objetivo principal era a formação futura professora, com mestras especializadas em pedagogia. E as alunas entravam no mundo
do ensino, onde os grandes pedagogos, filósofos e psicólogos do mundo se tornaram nossa leitura corriqueira. Na observação das aulas nas
classes anexas, o mundo da realidade nos era revelado. Período decisivo porque mostrava as verdadeiras vocações para o magistério. Nada era
improvisado, e as alunas sabiam o que queriam na carreira de trabalho. Os cursos de magistério de escolas públicas e de colégios particulares
foram profundamente importantes na história da educação em Minas. Por que foram extintos esses cursos? A troco do quê?Os atuais cursos de
pedagogia não preparam os alunos para a importante missão de educar, mas para ter um emprego (embora ganhando uma miséria em trabalho
que eleva uma nação). O amor ao trabalho de educar foi substituído por uma atividade desinteressante e cansativa.
Os professores da antiga Escola Normal Modelo marcaram as alunas com sua dedicação, cultura, preparo específico e nos transmitiram amor
profundo e permanente pelo estudo. Através da minha saudade, lembro-me de D. Irene de Paula Magalhães, minha professora de metodologia
e de suas colegas Benedita Valadares, Iris Rezende, Zélia de Almeida, Filocelina Matos de Almeida, do Curso de Aplicação e da figura inesquecível
do diretor, professor Firmino da Costa. Do Curso de Adaptação e do Preparatório, há nomes que vivem conosco, apesar das falhas da memória:
José Oswaldo de Araujo, Abgar Renault, Mário Campos, Rosaura Gonzaga, Edézia Rabelo, Branca de Carvalho Vasconcelos, Aníbal Matos, Maria
Rita Bournier,a escultora Jeanne Louise Milde, famosa artista belga, privilégio único para nós, meninas adolescentes na época e muitos outros.
Que os alunos de pedagogia de hoje também tenham no futuro lembranças tão significativas, como nós, alunas da antiga Escola Normal Modelo,
tivemos.
18
Transformações do espaço e da
arte: a educação do olhar através
do ensino das artes
Fotos de Rosa Maria Vicente na época em que era normalista do Instituto de Educação (Foto: reprodução\acervo de Rosa Maria Vicente)
O ensino de arte possibilita ao aluno reconhecer as diversidades, A arte possibilita ao educando desenvolver uma sensibilidade estética
estabelecer uma auto imagem positiva, a se unir com o grupo, uma vez e esta amplia a sensibilidade, criatividade, percepção, originalidade,
que o estudo das artes implica em trabalhos coletivos, o que também flexibilidade, reflexão, imaginação, inventividade, o senso crítico e o
ajuda na construção da sua autonomia. Além disso, o ensino em Artes senso estético, possibilitando também, um grande crescimento e um
expande o repertório cultural do aluno a partir dos conhecimentos aumento de sua capacidade de visualização e memória visual, isso sem
estético, artístico e contextualizado, aproximando-o do universo esquecer que contribui para que o aluno consiga resolver problemas
cultural da humanidade nas suas diversas representações. de ordem técnica e estética.
A disciplina de Artes, na escola, não tem por objetivo ilustrar A arte ao mesmo tempo em que é uma expressão da alma, uma
conhecimentos, festas cívicas ou escolares. Como todas as outras áreas manifestação da nossa humanidade; é também a necessidade do ser
do conhecimento humano, tem por finalidade a construção e aquisição humano se expressar. É um tipo de fazer que utiliza uma gama muito
de conhecimento. A educação deve ser capaz de formar um cidadão variada de materiais na criação de obras que podem ser relativamente
consciente dos seus deveres e direitos que é capaz de participar duradouras (como as grande catedrais góticas) ou efêmeras (como os
ativamente da sua sociedade, da sua época. O ato de educar implica em belos movimentos do ballet clássico). Esses materiais são: a pedra, os
fazer escolhas, em fazer opções de modo consciente. As aulas de arte se pigmentos, papeis, o espaço, o corpo, os gestos, a voz, entre muitos
destacam por contribuírem de modo enfático para a educação do olhar. outros.
19
Nas aulas de arte, no decorrer da realização de propostas artísticas, o estudo do desenho ganha uma grande importância tanto para a criança
como para os mais velhos. O desenho é a base de tudo. É o primeiro passo para toda e qualquer criação artística. Representa a memorização
daquilo que foi imaginado. No espaço branco do papel, em desenhos de observação ou desenhos de criação, o aluno pode se expressar de
muitas formas. Pode explorar o espaço em primeiro plano. E é a partir daí que o professor percebe o potencial criativo dos seus alunos. Pela
percepção e pelo olhar, o ser humano capta (como se fosse uma câmera fotográfica) o mundo que o rodeia. E através da sua capacidade criativa e
dos procedimentos artísticos, ele recria através aquilo que os seus sentidos apreendem. O ser humano é por natureza um ser criativo. Não existe
ninguém que não sabe desenhar ou não tem condições de representar através de signos e formas os seus sentimentos, os seus sonhos, as suas
ideias e o mundo que conhece. Ou seja, o gesto do artista recria com a sua técnica o mundo (seja ela o mundo real ou o mundo imaginário).
Como nos diz Bachelard, no livro “O direito de sonhar”, “o próprio papel, com seu grão e sua fibra, provoca a mão sonhadora pra rivalidade da
delicadeza. A matéria é, assim, o primeiro adversário do poeta da mão. Possui todas as multiplicidades do mundo hostil, do mundo a dominar..”
Logo, a partir do domínio da técnica do desenho pode-se trabalhar com as cores, o sombreamento, o claro e escuro, as perspectivas, entre outros.
A história da arte pelos veículos - de mãos dadas estamos aqui com os nosso jovens artistas contemporâneos.
Composição artística com cores primárias. Desenho de observação a partir de fotos. Desenho de
Desenho de Camila (1° ano C – 2011) Izabela (1° C – 2011)
20
Elza de Moura
¹Ex-aluna do Instituto de Educação de Minas Gerais, professora de língua portuguesa do ensino médio do IEMG, graduação em comunicação
social pela PUC-MG e em licenciatura plena em Letras (Português\Inglês) pela Faculdade Pitágoras de Belo Horizonte. 21
A Escola de Aperfeiçoamento foi provavelmente a primeira experiência
no Brasil de implantação de instituição de ensino superior no Brasil. A Mostra Cultural 2012 -
escola funcionou por duas décadas. E foi uma instituição modelo para
todo o país.
A Escola de Aperfeiçoamento formou com a Escola Normal Modelo em
“Preservação e conservação
1947 Instituto de Educação de Minas Gerais
A Escola de Aperfeiçoamento foi extinta em 1945, transformando-se do patrimônio”
no Curso de Administração Escolar do Instituto de Educação de Minas
Gerais, que deu origem, em 1972, ao Curso de Pedagogia daquele
Instituto; neste é que Lúcia Casasanta se aposentou, em 1977. A Escola
de Aperfeiçoamento, bem como a atuação de Lúcia Casasanta nessa
instituição, é tema desenvolvido na segunda e terceira partes deste
trabalho.
Anos depois a Escola de Aperfeiçoamento foi transformado no Curso
de Administração Escolar (CAE). Mais tarde originou o Curso de
Pedagogia do Instituto de Educação de Minas Gerais e, na Faculdade
de Educação da UEMG.
Exposições
e Projetos
Alunos do primeiro ano do ensino médio (turno tarde) apresentando oficina de
reciclagem e reutilização de materiais que podem ser reutilizados
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Simulado do ENEN de cordel,de gênero comédia com traços dobarrococatólicobrasileiro.
Essa peça mescla a cultura populare tradição religiosa. Além disso, é
possível através do seu estudo e encenação compreender questões
como a variação linguística, os regionalismos, a diferença entre a
O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é composto por norma culta e as expressões coloquiais, entre outros.
180 questões de múltipla escolha, divididas em quatro áreas de
conhecimento: linguagens, códigos e suas tecnologias (incluindo
redação); ciências humanas e suas tecnologias; ciências da natureza
e suas tecnologias e matemáticas e suas tecnologias. Cada grupo de
testes é composto por 45 itens de múltipla escolha, aplicados em dois
dias.
O “Projeto Simulado do ENEM” tem por objetivo familiarizar os alunos
do último ano do ensino médio com a realidade dos vestibulares
e do Exame Nacional do Ensino Médio, além de desenvolver as suas
capacidades cognitivas e emocionais. No simulado, o aluno é preparado
para o ambiente do exame, através de provas que irão reproduzir as
condições da avaliação. Esse projeto é coordenado pela supervisora
Ângela Machado conta com a parceria do Centro Universitário UNA
e envolve todos os professores do último ano do ensino médio do
I Seminário de Dança –
Instituto de Educação de Minas Gerais (IEMG).
IEMG (2013)
Nas últimas décadas, a dança (considerada um campo de pesquisa e
de produção) conseguiu o reconhecimento no cenário nacional. O que
por sua vez, acabou por criar e consolidar espaços próprios de difusão
artística e cultural, através, principalmente, da exposição de trabalhos
práticos.
Minas Gerais é um estado com forte tradição nesse campo cultural e
artístico. Destacando-se o “Grupo Corpo”, “Primeiro Ato”, “Mimulus”
e a “Cia. de Dança Palácio das Artes”, mantida pela Fundação Clóvis
Salgado e que integra o Sistema Estadual de Cultura, entre outros.
Entretanto, ainda são raras as opções de eventos que promovam
reflexões e debates teóricos, além de disponibilizar para o público
exemplos importantes da tradição da dança
O 1º Seminários de Dança foi realizado no Teatro do Instituto de
Educação de Minas Gerais, priorizando o encontro de estudantes
com artistas, profissionais de dança e de áreas afins e educadores.
Idealizado e realizado por Duna Dias, professora de educação física
Teatro na escola: “O auto da do ensino médio do Instituto de Educação de Minas Gerais (IEMG).
Experiente profissional de dança e teatro, performer e colaboradora no
compadecida”, de Ariano
Grupo Contemporâneo de dança livre.
O evento estabeleceu um diálogo entre teoria e prática. A programação
de 2013, que ocorreu nos dias 02 e 03 de julho, foi dividida em dois
Suassuna blocos. O primeiro dia foi dedicado a uma mostra de dança que
mesclou apresentações de bailarinos amadores (alunos do IEMG) e
profissionais em números variados (ballet clássico de repertório, dança
contemporânea, hip hop, dança folclórica brasileira, dança árabe e
dança latino americana) No segundo dia, dedicado a apresentação de
trabalhos científicos realizados pelos alunos do ensino médio do IEMG.
23
A Educação Ambiental As Sete Artes Universais -
A Educação Ambiental é um processo participativo, onde o educando
“NÃO EXISTE CONHECIMENTO
assume o papel de elemento central do processo de ensino/
aprendizagem pretendido, participando ativamente no diagnóstico
SEM EMOÇÃO”
dos problemas ambientais e busca de soluções, sendo preparado como
agente transformador, através do desenvolvimento de habilidades e É muito importante que o ensino/aprendizagem tenha como foco
formação de atitudes, através de uma conduta ética, condizentes ao atividades significativas voltadas para a emoção, através de histórias,
exercício da cidadania. jogos, música, teatro,...etc
Em 1992, a ONU declarou a data 22 de março como o Dia Mundial da Projeto idealizado pela professora Mônica Zanetti com alunos do
Água, e a cada ano o órgão promove um assunto relevante relacionado Projeto Tempo Integral, contou com a participação das professoras do
à principal fonte de vida da Terra. No ano de 2011, o assunto é “Água 2º, 3º, 4º, 5º e 6º anos e da presença da artista plástica Yara Tupinambá,
nas Cidades”. do escritor Ronald Claver, da pianista Margareth Zanetti Bester e do
De acordo com dados a agência de água de São Paulo, a Sabesp, um estilista Vlad Mendonça.
brasileiro consome até 200 litros de água por dia - número muito O diretor Orivaldo Diogo abriu o evento falando da importância da
superior aos 3,3 m³/pessoa/mês (cerca de 110 litros de água por dia) comunidade no IEMG. A exposição dos trabalhos dos aluno no saguão
indicados pelas Nações Unidas. do IEMG, abrilhantou o evento.
Em trabalho de campo, os alunos do 4º e 5º anos do Ensino
Fundamental, participam do projeto da COPASA – Centro de Educação
Ambiental - BARREIRO. Os alunos participam de palestra sobre a água
e a preservação do Meio Ambiente, fazem caminhada na dentro da
área de preservação e conhecem como é realizado o tratamento da
água que consumimos em Belo Horizonte.
24
A Festa Junina Projetos de conscientização
e combate a dengue
A festa Junina dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, foi muito
animada e divertida, com barraquinhas, danças, muita música,
brincadeiras, sorteios de brindes, e rifa do carrinho da fartura.
25
inicial é aplicado na turma a fim de verificar as mudanças no nível
de informação e conhecimento sobre a doença, sendo que temos Grutas de Maquiné e
Capitão do Mato - Pesquisa
percebido que todo esse processo tem o efeito de, entre outras coisas,
desencadear discussões sobre o tema, por exemplo, ao longo das
três semanas que dura a intervenção. Como é defendido na teoria
educacional, jovens são eficientes multiplicadores de valores em suas
comunidades, portanto, são importantes protagonistas de mudanças
de campo e exposição
comportamentais sobre diversos assuntos.
Desde 2010 tais estratégias estão sendo aplicadas em escolas públicas A escola contemporânea exige do professor uma atitude inovadora.
de Belo Horizonte e região metropolitana, tendo começado na cidade Reivindica também novas estratégias e instrumentos que incentivem
de Sete Lagoas, passou por escolas como Estadual Central e Pedro o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias para
II, onde foram desenvolvidos também curtas-metragens realizados que o estudante (do ensino fundamental e médio) se conscientize
como sujeito social e crítico de sua história e do ambiente onde atua.
O trabalho de campo (visitas guiadas a região das grutas do Maquiné
e do Rei do Mato) propõe aos alunos uma nova experiência que
exija a integração interdisciplinar e a cooperação por parte de todas
as disciplinas envolvidas no Projeto (Ciências, Geografia, História,
Matemática e Português)
O projeto coordenado pelo professor Antônio Amaro Ferreira
(ensino fundamental e ensino médio) foi dividido em quatro
etapas: fundamentação teórica, pesquisa de campo na região das
grutas do Maquiné e do Rei do Mato, sistematização dos dados
inteiramente pelos alunos (desde a produção até a atuação cênica) e exposição dos resultados. O objetivo primordial desse trabalho
com o suporte do grupo do PIBID Artes também da UFMG. Ao final, é o de incentivar o desenvolvimento de habilidades básicas nos
foi realizado um festival com a apresentação desses curtas chamado 1 alunos, tais como a observação, a criticidade, a autonomia, a leitura,
Minuto Contra a Dengue. Ainda na Escola Estadual Pedro II foi criado a pesquisa, a extrapolação, a reelaboração de conhecimentos prévios
o Blog Escolar que contem informações sobre a dengue e as ações e a sistematização do conhecimento científico. Possibilitando aos
educativas no INCT naquela instituição. (texto de Adla Betsaida Martins educandos confrontar o conhecimento obtido nas diversas áreas do
Teixeira e Marcel de Almeida Freitas). conhecimento, por meio de pesquisa bibliográfica, aulas expositivas,
relatos de alunos, com a observação de dados concretos através das
visitas aos locais selecionados, e durante todo o itinerário da excursão.
Curtindo física no IEMG – O resultado produzido pelos alunos foi exposto no salão nobre do
Instituto de Educação e recebeu a visita de todos os alunos e demais
PIBID\UFMG
membros da comunidade dessa instituição.
(Foto: reprodução)
26
Eleições, Ética e Cidadania
27
Primeira Mostra Cultural
de Língua Inglesa
Projeto interdisciplinar coordenado pela professora de língua inglesa
Tânia Lopes. (3° ano do ensino médio). Objetivando que os educandos
conheçam a história e a cultura dos povos falantes de língua inglesa,
através da apresentação da vida e da obra de diferentes personagens
que marcaram sua época, em qualquer área do conhecimento humano.
As turmas foram divididas em grupos. Cada um deles escolheu um
personagem, que tenha sido um marco para o desenvolvimento em
sua área. Os resultados das pesquisas foram apresentados no formato
de um trabalho escrito (segundo as normas científicas) e de um banner
que foi exposto no Salão Nobre da escola.
Dia D
O“Dia D”ocorre uma vez por mês (sempre em dias alternados da semana)
e tem por objetivo criar um clima de amizade e confraternização entre
alunos e professores do terceiro ano do ensino médio. Ocorre sempre
PIBID PUC Minas\ IEMG –
no horário do intervalo (“hora do recreio”). É marcado por música e
muita animação. Cada “dia D” tem um tema específico e o aluno que
Educação Física
não vier trajado adequadamente tem que pagar uma multa. O valor O PIBID é um Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência,
é simbólico e vai para os eventos da formatura. Na verdade, esse valor do governo federal. Está em atuação no IEMG, com parceria da PUC
monetário tem pouca importância. O que importa realmente para um Minas, desde o 2º semestre de 2012. Atuando com a disciplina
aluno do terceiro ano que vai fazer o exame do ENEM, é que o “dia d” se Educação Física conta com a participação dos bolsistas, alunos da PUC
tornou um momento importante para diminuir a ansiedade, estresse e Minas: Cristiane Cassimiro de Jesus, Guilherme Augusto Coelho de
a pressão da família. Oliveira, Lucas Iago Silva de Almeida, Natália Roberta Vieira e Samuel
Tomaz Domingos Gualberto, que é ex-aluno do IEMG. A professora
Vivian Reis de Educação Física, atua juntamente com eles incluindo a
participação dos alunos do 1º ano do ensino médio do turno da tarde.
A partir de um diagnostico feito com os alunos sobre as aulas de
Educação Física neste semestre, foi desenvolvido um projeto sobre
os esportes, com o objetivo de desconstruir “o esporte NA escola” e
construir “o esporte DA escola”. Os alunos do 1º ano fizeram
uma pesquisa sobre as diversas modalidades esportivas, além da
construção de maquetes, debates, aulas práticas visando reconhecer
maneiras de como adaptar os esportes para serem jogados na
escola, proporcionando a todos a oportunidade de vivências práticas
esportivas, com uma visão crítica.
28
Oficina de textos em Língua O evento apresentou os resultados do “IV Projeto: História de Sergipe
para a Terceira Idade, divulgou as pesquisas realizadas pelos alunos
de graduação do curso de história, promoveu a discussão da temática
Portuguesa “Indignação e História”.
No Museu da Gente Sergipana, foram apresentados os eventos
inaugurais do IV Simpósio: lançamento do livro “O Pulso de Clio” e a
entrega do Troféu “Indignação”. Foi uma bela e comovente homenagem
à onze cidadãos sergipanos que contribuíram na conquista e garantia
dos direitos humanos. A palestra de abertura foi realizada pela
professora Marta Abreu, da Universidade Federal Fluminense (UFF),
com o tema “Anonimato e indignação no pós-abolição na capital do
Brasil”. Em seguida, foram realizadas mesas-redondas.
Um dos destaques do simpósio foi a realização de mesas redonda no dia
06 de junho, no Auditório da Reitoria da UFS (Campus de São Cristovão).
Dentre elas, destaca-se a mesa-redonda intitulada “as indignações que
cercam o Ensino de História”. A mesa foi coordenada pela professora
da UFVJM Mônica Liz Miranda e contou com a participação dos
professores Ronaldo Campos (IEMG e UNIBH) e Maria Luiza Domingues
Vale (UFVJM). Cada um dos participantes apresentou uma abordagem
especifica do tema. A professora Mônica Liz Miranda apresentou a sua
pesquisa sobre o livro didático de história e a participação do sujeito
anônimo na construção do conhecimento histórico. Maria Luiza
Fotografia 1. Fotografia 2. Domingues Vale apresentou uma rica e detalhada análise sobre os dez
anos da Lei 10.639/03 e o ensino da história e cultura afro-brasileira e
Nas aulas de português, é muito comum a produção de redações africana. Ronaldo Campos apresentou o tema “paradoxos da Educação
narrativas, descritivas e dissertativas, nas quais não conseguem garantir contemporânea: reflexões sobre o conflito entre inclusão, exclusão e
efetivamente o conhecimento necessário para produzir os textos que os indignação.”
alunos terão de escrever ao longo da vida. Pois, as antigas composições No Brasil a educação sempre foi um problema social e político. O descaso
muitas vezes eram realizados de forma mecânica (simplesmente, para para com a educação partia de um entendimento de que os pobres não
cumprir uma tarefa e garantir uma nota no final positiva) . tinham necessidade de conhecimento intelectual, sendo tratados como
Para mudar esse quadro é importante formar nos alunoscomportamentos mera mão de obra. Contudo, a educação (e, em consequência, a escola)
de leitores e escritores. Os nossos alunos têm que participar de modo é um importante meio de transformação social, pois através dela,
eficaz (produtivo e criativo) das atividades da vida social que envolvam conseguimos nos socializar, transmitir e produzir conhecimentos, etc.
escrita e a leitura. Vivemos o processo de globalização, dos avanços tecnológicos dos
No ano de 2012, com as turmas do terceiro ano do ensino médio, o meios de comunicação e de transportes. O mundo contemporâneo é
professor Mauricio Fonseca produziu com seus alunos revistas referentes marcado por profundas transformações sociais, econômicas e políticas.
aos assuntos da língua portuguesa (gramática, literatura, gênero Muitas mudanças já ocorreram visando a inclusão e a acessibilidade
textuais). Esse projeto foi elaborado tendo a interdisciplinaridade como dos direitos. Contudo, nos últimos anos, no Brasil, pode se perceber
foco central. Aliando teoria e prática. facilmente a grande frustração e indignação de professores e alunos
Produzir uma revista não é algo simples. Exige uma postura crítica, onde diante de problemas estruturais no sistema educacional e na própria
o aprendizado deve ocorrer de forma dinâmica. O aluno descobriu ao sociedade brasileira. Por exemplo, nos livros escolares de história, apesar
longo do processoque cada ação ou objetivo envolve um tipo de texto de alguns avanços, a ênfase continua numa visão eurocêntrica marcada
com uma finalidade, um suporte e um meio de veiculação específicos. por um etnocentrismo que deixa à margem a trajetória de grupos
Conhecer esses aspectos é condição mínima para decidir, o que vai identitários minoritário, tais como negros, mulheres, homossexuais,
escrever e de que forma fazer isso. Evidenciando que não são apenas entre outros. Ao excluírem as suas histórias dos livros didáticos, esses
as questões gramaticais ou notacionais (a ortografia, por exemplo) que grupos não conseguem construir uma identidade que possa ser
ocupam o centro das atenções na construção da escrita, mas a maneira reconhecida socialmente e que garanta o acesso aos seus direitos e a
de elaborar o discurso. plena participação na cidadania.
O não cumprimento da lei n° 10.639\03 que torna obrigatório o
ensino da história e da cultura afro-brasileira nas escolas particulares e
públicas pode ser considerada uma violação dos direitos dos grupos de
IV Simpósio afrodescendentes.
O grande desafio da nossa época é o enfrentamento da injustiça que
permeia todo o sistema educacional. Torna-se necessário planejar,
Entrevista
30
RC: Inicialmente, gostaria que a senhora contasse um pouco como procedimento racional de aquisição desse acordo) mediado pela
foi o início da sua trajetória acadêmica-profissional. linguagem no seu uso comunicativo cotidiano (a fala). O foco principal
aqui é basicamente a força das razões apresentadas (o argumento),
EMM: Sou professora da Faculdade de Medicina e iniciei a minha e, neste sentido, não envolve nem um outro tipo de coerção. O que
trajetória acadêmico-profissional um ano depois de formada como é estabelecido nessa relação é uma ação intersubjetiva, onde, todas
professora no internato rural. São trinta anos de muito trabalho, onde as pessoas envolvidas se reconhecem reciprocamente como sujeitos.
muita coisa aconteceu. As minhas escolhas me conduziram ao lugar Em suma, o filosofo trabalha exatamente com as interações do
onde estou agora e tenho muito orgulho do meu trabalho como cotidiano (na práxis comunicativa do cotidiano) de sujeitos que usam
médica, da minha formação acadêmica (mestrado e doutorado) e dos a linguagem na perspectiva de se entenderem e de construírem um
projetos e pesquisas que coordeno aqui. mundo.
No começo, encontrei muitas dificuldades para desenvolver projetos Em resumo, a teoria da ação comunicativa de Habermas é o fundamento
e programar ações. Eu era uma médica clínica que trabalhava com teórico da minha prática. As ideias habermasianas ofereceram um
o orgânico e com questões próprias da saúde e da doença. Era uma subsidio tão radical, pois o filosofo trabalha exatamente as interações
jovem recém-formada de vinte e poucos anos que contava apenas com na práxis comunicativa do cotidiano de sujeitos que usam a linguagem
a ajuda de alguns alunos do curso de medicina e tinha que resolver o na perspectiva de se entenderem e de construírem um mundo.
dilema de trazer algum nível de desenvolvimento para a saúde de uma A premissa do meu trabalho e dos nossos projetos é essencialmente
determinada cidade do interior do nosso país. prática. É nascida no cotidiano, na minha interação com as outras
A única certeza era a impossibilidade de trabalhar os problemas da pessoas. A teoria veio como uma resposta para uma pergunta que eu
área de medicina preventiva e social como se fossem autônomos em já buscava e que já havia sido posta pela minha prática.
relação ao contexto social, político e ideológico do país e do mundo.
Era preciso trabalhar com a sociedade como um todo, com a população RC: A sua atuação na Faculdade de Medicina se destaca em vários
inteira. Nesse momento, essa tarefa parecia impossível e durante campos. Certamente, os projetos que a senhora coordena têm
muito tempo me senti impotente diante da grande complexidade da uma grande visibilidade e importância social. Como ocorreu a
realidade.Apesar de tudo isso, tinha a convicção de era possível levar gênese desses projetos? E quais foram os desdobramentos desses
o conhecimento que foi adquirido aqui na universidade para regiões projetos?
carentes do nosso estado. E assim iniciávamos os projetos.
EEM: Não adianta fazer lindos projetos de cima para baixo. Ou é feito
RC: No inicio, quais foram as dificuldades para implementar de maneira participativa ou então não vai acontecer. Nessa perspectiva,
projetos e ações? E como esse impasses foram resolvidos? nasceram os projetos “Pirapora Adolescente”, “Meninos do rio”, “Frutos
do morro”, “Núcleo de promoção de saúde e paz”. Este núcleo é fruto
EMM: No Brasil, em grande parte das vezes, não há uma continuidade da história de vários projetos interligados que foram se articulando,
político-administrativa. O que é começado em um mandato pode ser somando. Entendendo que quanto mais a gente se agrupava, maior
interrompido imediatamente no mandato seguinte. E, assim, durante era a nossa capacidade de enfrentar os problemas e atuar do jeito que
um bom tempo, começávamos um projeto e logo em seguida “ele se queriamos com os objetivos que estabelecemos.
desmanchava”. Para em seguida começar novamente outro projeto Os projetos nasceram da experiência e da participação dos seus
que por sua vez também poderia ser “desmanchado”. E nesse começar próprios integrantes. Por exemplo, no caso da Maria Inês Pereira, ele
e recomeçar quase que contínuo, compreendi que era preciso fazer chegou até nós e disse: “ – eu não estou representando um projeto.
algo imediatamente. Eu sou uma professora que está começando uma experiência numa
Percebi que era preciso encontrar mecanismos que não deixasse e escola e quero saber se me cabe aqui.” E eu disse sim. E ela apresentou
que não permitissem que os progressos obtidos pelos nossos projetos a sua experiência. Simultaneamente, outras pessoas foram convidadas.
fossem desperdiçados sempre que ocorresse a substituição do partido E essas pessoas foram trazendo outras. Ficamos um ano, numa
político dominante, a posse de um novo prefeito, a mudança do espécie de grande seminário, assistindo as apresentações de tantas
secretário de saúde do município ou a substituição dos profissionais experiências. E estas foram discutidas,analisadas e sistematizadas.
da área de saúde. Era preciso criar alguma base, uma raiz, um vinculo, E desta sistematização nasceu uma primeira matriz curricular que a
uma durabilidade para aqueles projetos. universidade aprovou como um curso de aperfeiçoamento. Deste
curso de aperfeiçoamento com aquela experiência nós formamos três
RC: Que elemento é esse? turmas.
EMM: Esse elemento pode ser sintetizado da seguinte forma: qualquer RC: Para os projetos desenvolvidos, qual é a importância de ter
projeto só pode ter durabilidade se for um projeto que pertença a uma equipe formada por pessoas com formação e experiência de
todos os sujeitos envolvidos nele. Por isto é tão importante estabelecer vida tão ampla e diversificada?
parcerias, onde, os participantes são sujeitos reconhecidos e portadores
EEM: Nós nos beneficiamos com o conhecimento que cada um dos
de competências, de vontades e, assim, capazes de construir um
professores trouxe. Pois, foi possível transformar todos esses saberes
mundo, de manter viva a possibilidade de um conhecimento
pulverizados em saberes interelacionados e que dialogam com outros
progressivo, cada vez mais racional, cada vez mais avançado do ponto
e com a própria realidade na qual estamos inseridos. Gerando um
de vista do desenvolvimento humano. Portanto, é possível elaborar e
saber coletivo e que por sua vez gerou também uma matriz curricular
implantar projetos efetivos e duradouros que tenham como base o agir
de um curso de pós-graduação latu senso da universidade federal.
coletivo, respeitoso, que preserva comemora as pessoas. E essa ação já
contém em si mesma a possibilidade de superação da violência. RC: O que a senhora sentiu quando o curso de pós-graduação
latu senso nascido de todo esse processo foi aprovado pela
RC: E como foi constituída a fundamentação teórica dessa prática? Universidade Federal de Minas Gerais?
EEM: De fato foi a prática que me sinalizou um caminho a percorrer. EEM: Quando esse curso foi aprovado, eu me sentia a pessoa mais
Mas, faltava definir de modo claro e preciso uma fundamentação feliz que você possa imaginar. Porque a universidade que tem o papel
sólida para a minha práxis. Por isto resolvi investir na minha formação de gerar as matrizes do conhecimento, as formas de transmissão do
acadêmica. ensino reconheceu algo que nasceu da experiência das pessoas na sua
Fiz o mestrado em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas vida, nos seus lugares de trabalho, nas suas cidades, nos seus bairros.
Gerais. Escolhi essa área exatamente por que ela abre um campo de Isto é muito simbólico no sentido de que é possível trabalhar nessa
possibilidades para pensar os fenômenos sociais de forma ampla e perspectiva participativa. Para o mestrado profissional foi um pulo.
integral. A fundamentação teórica para discutir desafios – como, por Hoje temos muitos projetos (alguns com alcance nacional e de grande
exemplo, o da superação da violência – foi encontrada nas ideias do porte) e sessenta mestrandos. Tudo e todos nascidos da convicção de
filósofo Jurgen Habermas (a “Teoria da Ação Comunicativa”), cuja base que se a gente unificar, somos capazes de vencer atritos, conflitos e
é o entendimento linguístico ou pacto racional entre sujeitos (ou o vaidades egoístas e individualistas.
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REFERÊNCIAS
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Disponível em http://educa.fcc.org.br/pdf/edur/n11/n11a30.pdf, acessado em 23 de fevereiro de 2013.
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APROVA E COMPROVA
MEDICINA
2º, 4º, 5º, 7º, 8º LUGAR
S
APROVADO
4º
UFMG2013
LUGAR
MEDICINA
Lucas Martins
DIREITO
1º AO 7º LUGAR
1.042 APROVADOS
RECORDE DO MERCADO
ENGENHARIAS
92 PRIMEIROS LUGARES
1ºLUGAR EM 8 DAS 11 P
TOTAL
de aprovados
1008 1015 1026 1042
PRIMEIROS
lugares
15 17 24 92
SEGUNDOS
lugares
20 17 17 69
TERCEIROS
lugares
21 15 18 40
DESTAQUES
CEFET
APROVADOS 2013 DESTAQUES em dos cursos
lugar
COLTEC
aprovados no
em cada CEFET COLTEC
lugar
em dos cursos
1/4 do Total de aprovados
PREPARATÓRIO
TURMAS
DE AGOSTO
INTENSIVO
2° SEMESTRE DESCONTO
30% PARCELAS
INÍCIO ATÉ 27/JUL
7 DE AGOSTO
INTENSIVO
ENEM UFMG
SISU TURMAS DE
AGOSTO
INÍCIO DESCONTO
06/08 50% MATRÍCULA
PARCELAS
Preços especiais para
alunos do Ari da Franca
ATÉ 27/JUL
Este projeto
é uma parceria com
iemg
Instituto de Educação de Minas Gerais