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SÃO PAULO
Suspeito de participação em assalto com morte é preso em Ribeirão Preto (SP); polícia deve deixar de publicar imagens de suspeitos. — Foto: Reprodução/EPTV
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/01/10/policias-param-de-divulgar-nomes-e-fotos-de-presos-apos-lei-de-abuso-de-autoridade-entr… 1/11
10/01/2020 Polícias param de divulgar nomes e fotos de presos após lei de abuso de autoridade entrar em vigor | São Paulo | G1
Polícias militares e civis de pelo menos 5 unidades da federação (São Paulo, Espírito Santo, Distrito Federal, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul), ouvidas pelo G1, deixaram de publicar em redes sociais, em páginas institucionais e
de divulgar à imprensa fotos e nomes de suspeitos ou presos desde o dia 3 de janeiro, quando entrou em vigor a
nova lei de abuso de autoridade.
A lei, criticada por juristas e magistrados quando foi sancionada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro
(PSL), em 2019, define cerca de 30 situações que configuram abuso e é alvo de questionamentos de organizações
que defendem agentes públicos no Supremo Tribunal Federal (STF).
Agora, passam a ser crimes ações que até então eram consideradas infrações administrativas ou atos ilícitos
punidos no âmbito cível. Um exemplo são os atos de constranger o detento a exibir seu corpo “à curiosidade
pública” ou de divulgar a imagem ou nome de alguém, apontando-o como culpado". Agora isso pode levar uma
autoridade a ser punida com penas de 1 a 4 anos de detenção e de 6 meses a 2 anos, mais multa, respectivamente.
Não é necessário que a vítima acuse o agente público pelo fato. Os crimes são de ação pública incondicionada,
quando é dever do estado investigar e punir.
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A exceção para divulgação de nome e fotos ocorre com suspeitos foragidos com mandado de prisão em aberto.
Para o delegado Gustavo Mesquita Galvão Bueno, presidente da Associação dos Delegados de Polícia Civil de São
Paulo (ADPESP), a proibição da divulgação das imagens de suspeitos "causa prejuízo nas investigações".
"A divulgação de fotos de presos, não de forma irresponsável e indiscriminada, mas com responsabilidade e em
casos com prova de autoria do crime, é um instrumento que nos ajudava a solucionar inúmeros crimes, porque a
população reconhecia. Infelizmente, isso será prejudicado, para não dizer, anulado", diz Bueno.
Além da divulgação ou exposição indevida da imagem de detentos, passam a ser considerado crimes:
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10/01/2020 Polícias param de divulgar nomes e fotos de presos após lei de abuso de autoridade entrar em vigor | São Paulo | G1
A Polícia Militar do Espírito Santo fez uma cartilha de bolso para lembrar aos policiais que, no dia a dia do trabalho,
não podem expor, em determinadas situações, o preso a uma situação vexatória, mas diz que continuará
repassando à imprensa o histórico das ocorrências, sem divulgar nomes.
A Polícia Civil capixaba também orientou, por meio de um documento interno, seus agentes a tomarem precauções
em entrevistas "atentando-se para a não divulgação de dados qualificativos de presos/indiciados/investigados ou
qualquer elemento que possa qualificar como criminalização prévia ou exposição da intimidade."
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10/01/2020 Polícias param de divulgar nomes e fotos de presos após lei de abuso de autoridade entrar em vigor | São Paulo | G1
PM do Espírito Santo faz cartilha 'lembrando' policiais de usar a identi cação pro ssional e para não divulgarem imagens de pressos — Foto: Reprodução
Outras corporações militares, como as de Minas Gerais, São Paulo e Amazonas informaram ao G1 que ainda
estudam como regulamentar os procedimentos. Em Belo Horizonte, o Estado-Maior da PM (como é denominado o
alto comando da corporação) se reuniu ao longo desta semana para finalizar uma recomendação que será emitida a
todos os PMs.
Em São Paulo, a Academia de Polícia Civil publicou 10 súmulas orientando delegados sobre como proceder no
inquérito, defendendo a independência na investigação e no ato de indiciamento.
"Ao fazer o indiciamento, o delegado está amparado pelo estrito cumprimento de dever legal, que é uma excludente
de ilicitude. Ele não pode ser responsabilizado [pela lei de abuso, por apontar uma culpa anterior do suspeito] por
estar fazendo o seu trabalho, ele está balizado e respaldado pela independência funcional", defende o delegado
Gustavo Galvão Bueno.
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10/01/2020 Polícias param de divulgar nomes e fotos de presos após lei de abuso de autoridade entrar em vigor | São Paulo | G1
Até o m de 2019, polícia divulgava imagens de rosto de suspeitos, como o caso de ex-marido preso por ameaçar mulher em Cuiabá — Foto: Polícia Civil de Mato
Grosso/Assessoria
Um tenente da corporação ouvido pelo G1 afirmou que não poderá mais enviar imagens de presos em uma
operação contra ladrões de casas, por exemplo.
“A população pode sentir, talvez, que há um ‘estado de impunidade’. Mas, se você está procurando vítimas e não
pode divulgar, como fazer?”, questiona Silva.
· Divulgação de imagem ou exibição de preso: constranger preso a expor corpo ou submetê-lo à situação
vexatória ou constrangimento público e divulgar imagens de suspeitos atribuindo a eles culpa por um crime.
· Identificação: o policial não usar, por exemplo, a tarjeta de identificação na farda, ou mentir o nome.
· Condução de detidos: manter, na mesma cela, confinamento ou no carro no deslocamento, presos de sexos
diferentes e também crianças e adolescentes até 12 anos.
· Domicílio: entrar em uma casa ou local sem autorização, sem informar o dono, ou sem autorização judicial.
· Mandado de prisão: cumprir mandado de prisão à noite ou entrar em local privado à noite, entre 21h e 5h.
· Interrogatório: continuar questionamentos após preso dizer que quer ficar calado, levar sob condução
coercitiva para depoimento sem antes intimar para comparecimento, pressionar ou ameaçar a depor ou obrigar
a fazer prova contra si mesmo.
· Prisão: determinar ou manter prisão ilegal ou deixar de relaxar prisão quando devida.
· Bloqueio de bens: o juiz decretar a indisponibilidade de valores em quantia que extrapole exacerbadamente a
dívida.
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10/01/2020 Polícias param de divulgar nomes e fotos de presos após lei de abuso de autoridade entrar em vigor | São Paulo | G1
· Investigação: dar início a inquérito sem indício de crime, divulgar trechos da investigação ou gravações com a
imagem do preso falando ou prestando depoimento.
Nas páginas das corporações na internet e nas redes sociais e na internet, como no caso do Rio Grande do Sul, é
possível ver a transição na mudança de ano: até 31 de dezembro de 2019, em notícias divulgadas, há várias imagens
de presos. Em janeiro de 2020, não há fotos de detidos nem de costas. Agora há apenas reproduções de materiais
apreendidos e informações sobre casos, sem citar o nome de suspeitos.
Polícia Civil do RS para de divulgar nas redes sociais imagens de presos, colocando cartela anunciando a prisão — Foto: Reprodução
"A lei tipifica condutas muito abertas e estamos orientando nossos peritos a, na dúvida, não fazerem algo sem
autorização judicial, como, por exemplo, perícia em telefones apreendidos, o que até hoje não foi regulamentado",
complementa Tagliariani.
Defesa da intimidade
Enquanto alguns agentes públicos acreditem que a lei pode vir a atrapalhar o serviço, a advogada criminalista
Jacqueline Valles, professora e mestre em Direito Penal pela PUC de São Paulo, tem uma posição contrária. Para ela,
a nova lei define condutas que preservam a privacidade e a intimidade dos suspeitos e também a imagem deles,
impedindo que sejam "julgados" publicamente enquanto o fato ainda não foi analisado pela Justiça.
"Eu vejo que, em muitas ocasiões, ao divulgar a foto de um preso, a polícia acaba focando a investigação naquele
suspeito, bloqueando oportunidades, o que pode levar a encerrar uma investigação errônea", diz Jacqueline.
"A Constituição resguarda o direito da imagem e diz que ninguém será considerado culpado antes do trânsito em
julgado. [A lei] não é um benefício ao preso, é um resguardo de um direito de que ele não seja linchado
publicamente por algo que pode vir a ser inocentado. Ao ter sua imagem exposta, a pessoa não tem que se explicar
por aquele ato só na Justiça, mas também é alvo de um julgamento público", pondera a advogada.
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