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Contexto

histórico e cultural
Literatura romântica:
contexto e características
No início do século xix, ocorrem transformações políticas relevantes
em Portugal. O Antigo Regime chega ao fim e, com o liberalismo,
afirma-se na literatura portuguesa o Romantismo.

Uma época de mudanças


Durante as primeiras décadas do século xix Portugal vive um período de grandes convulsões.
Estas começam com as Invasões Francesas, cuja consequência imediata é a ida da corte para
o Brasil, em 1807. A corte acaba por aí permanecer até 1821 e aquela colónia torna-se indepen-
dente em 1822.
A ausência da corte vai ser decisiva para os destinos políticos do País. À data da partida, D. João,
que virá a ser coroado em 1816 como D. João VI, era o regente do reino, devido à doença de
sua mãe, D. Maria. A permanência da corte no Brasil começa a gerar desconforto, e a divulga-
ção dos novos ideais liberais culmina na Revolução de 1820, obrigando o rei a regressar a
Portugal e a jurar a Constituição em 1822.
Começa então uma nova fase de agitação com a luta entre absolutistas, apoiantes de
D. Miguel, e liberais, fiéis a D. Pedro IV, que outorgara a Carta Constitucional em 1826. A derrota
de D. Miguel, em 1834, e o triunfo do liberalismo, que decreta a abolição das ordens religiosas,
marca o fim do Antigo Regime no País.
As profundas mudanças políticas e sociais repercutem-se no sistema literário: a partir deste
momento o autor já não depende da proteção da corte, do mecenato da nobreza ou do alto
clero, que foram até então os maiores promotores da vida cultural. As obras passam a ser ava-
liadas e legitimadas pela crítica e, em última instância, por um público de leitores, alargado
agora à cada vez mais dominante classe burguesa. Esta dá vida a um novo e florescente mer-
cado editorial, no qual jornais e revistas desempenham um papel decisivo na consagração das
carreiras literárias.

Aclamação de D. João VI no Rio de Janeiro (1818).

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Aspetos da cultura romântica
O Romantismo é um movimento complexo e multifacetado que se estendeu a diferentes
campos da arte e da cultura. A sua manifestação nas várias literaturas europeias revela-se, por
vezes, de modo diferente. Por este motivo, a crítica prefere distinguir um Romantismo alemão,
de forte coerência entre conceções filosóficas e estéticas e que dá origem ao Romantismo
inglês, de um Romantismo latino, muitas vezes incoerente e discordante nas suas posições esté-
ticas. A reação ao Racionalismo iluminista do Romantismo latino passa essencialmente pela
exaltação do sentimento e da paixão. No entanto, existe uma unidade de fundo, na conceção
da poesia, da arte e da Natureza, reflexo de uma visão do mundo e do indivíduo radicalmente
oposta à propugnada pelo Racionalismo do Século das Luzes. Abordam-se a seguir alguns
aspetos característicos da mentalidade romântica:
• O individualismo. O herói romântico é animado por um desejo absoluto de felicidade e
desafia sem medo as leis ou o destino que a ela se opõem. Figuras literárias como Prometeu
ou Satã simbolizam essa aspiração ao absoluto.
• O amor. Para os românticos é uma experiência fundamental. Caracteriza-se como paixão total
e exclusiva, à qual tudo deve ser sacrificado, e visa a união perfeita de duas almas.
• O mal do século. O choque com a realidade implacável que não cede à vontade individual
tem por consequência o desespero, a melancolia, o sofrimento, a saudade e mesmo o tédio,
que nascem justamente do insuprimível desejo de felicidade.
• A evasão no tempo e no espaço. A impossibilidade de satisfazer o desejo de felicidade no
mundo que os rodeia leva os românticos a procurarem uma evasão no tempo ou no espaço.
A glorificação da Idade Média, o medievalismo, resulta, por um lado, do fascínio que esta
época despertava nos românticos, pelos seus costumes pitorescos e pelo idealismo cavalhei-
resco e, por outro, da convicção de que nela era possível encontrar, na sua pureza e autenti-
cidade, o espírito do povo que estivera na origem das diferentes nações europeias. A evasão
no espaço elege alguns países, como a Itália e a Espanha, nos quais os costumes são ainda
marcados por paixões exacerbadas e primitivas, ou o Oriente, que fascina pela sua diferença
em relação à civilização europeia.
• O gosto pela literatura tradicional. Segundo a conceção romântica, o indivíduo não nasce
cidadão do mundo, mas sim cidadão de uma pátria cujas instituições, religião e língua mol-
dam a sua personalidade. Por isso, redescobrir e coligir a poesia popular e as lendas tradicio-
nais significa uma reaproximação das raízes da nação.
• O sobrenatural e o maravilhoso. Os românticos sentem-se atraídos por tudo aquilo que a
razão não explica. Na origem de um género literário que nasce com o Romantismo, o fan-
tástico, encontramos justamente a problematização da conceção materialista que estabele-
cera um rígida distinção entre natural e sobrenatural.
O Romantismo institui uma nova ordem estética cujo fundamento é a originalidade:
a criação da obra não obedece, como na poética classicista, a normas e modelos. Ela
é o produto do génio individual. Como consequência deste princípio, os escritores
românticos procuram uma expressão mais simples e direta e rejeitam a imitação dos
modelos clássicos, a distinção entre os géneros e o recurso à mitologia greco-latina.

PARA SABER MAIS

A origem de «romântico»
No século xvii, surgiu a palavra inglesa «romantic». Esta está ligada ao francês «roman», que designava
as obras medievais de aventuras, os romances, nas novas línguas europeias. O termo inglês estava,
pois, associado à ideia destas aventuras de cavaleiros medievais e começou a ser utilizado sempre
que se evocava essa atmosfera. Como, no século xix, se manifestava o apreço por tais ambientes, o
termo «romantic» generalizou-se por toda a Europa e deu origem, em português, ao adjetivo
«romântico».
Caspar David Friedrich,
O caçador no bosque.

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Contexto histórico e cultural
Teatro romântico
O Romantismo transforma o espetáculo teatral. Quebra-se a lei
das três unidades e dá-se grande relevo aos cenários. Na produção
dramatúrgica do século xix, destaca-se Frei Luís de Sousa,
uma obra ímpar, de Almeida Garrett.

Características gerais
A estética do Romantismo, segundo a qual o autor deve obedecer unicamente à
sua inspiração, teve consequências relevantes na prática do género dramático. Os
dramaturgos românticos, ao contrário dos autores neoclássicos, não respeitam a lei
das três unidades, julgando artificiais e forçadas a unidade de tempo e a unidade
de espaço que limitavam o enredo a um único dia e a um só cenário.
Estes autores rejeitam igualmente a separação rígida entre o cómico e o trágico
porque a obra de arte deve ser um espelho da natureza humana. Por este motivo,
como no homem há alternância de sentimentos contrários, nada devia impedir
que na mesma peça coexistissem o choro e o riso, o sublime e o grotesco.
O gosto ultrarromântico pelos sentimentos exacerbados, as paixões violentas e a
declamação empolada marcam, na sua quase totalidade, a produção dramatúrgica
portuguesa no período que vai de 1838, data da estreia pública do Auto de Gil
Vicente de Almeida Garrett, até ao fim da década de 1860. Numa primeira fase, os
Almeida Garrett autores privilegiam o drama histórico, que se baseia num assunto da história nacional; poste-
(pormenor de um riormente, o drama de atualidade.
painel de Columbano
Bordalo Pinheiro na Os enredos são sempre muito complicados e cheios de situações melodramáticas. As perso-
Sala dos Passos Perdidos, nagens dividem-se em demoníacas ou angélicas e agem sob o impulso indomável do ódio e
na Assembleia da da vingança ou do amor. Muitas vezes, pende sobre elas um destino inelutável, uma fatalidade
República). que as arrasta para um desfecho trágico.
Os lugares cénicos, que adquirem uma enorme importância na economia do espectáculo tea-
tral, têm a função de criar um clima propício para a representação de cenas patéticas ou terrí-
ficas. No caso do drama histórico, ambientado de preferência na Idade Média, os espaços onde
se desenrola a ação costumam ser as salas de armas dos castelos, as prisões subterrâneas, as
celas de conventos, as florestas lúgubres, ou seja, os lugares característicos da literatura gótica.

Frei Luís de Sousa


A obra-prima do teatro romântico português constitui uma exceção no panorama dramatúr-
gico nacional da primeira metade do século xix, o que explica a razão pela qual o acolhimento
do público oitocentista, acostumado a outro tipo de espetáculos, não foi entusiasta.
A ideia de Almeida Garrett foi a de escrever uma peça que tivesse a «índole» da tragédia clássica
apesar de, na sua «forma», se apresentar como um drama romântico. Com efeito, na peça não
é respeitada a regra clássica das três unidades, sobretudo ao nível do tempo e do espaço.
O Ato Primeiro desenrola-se no palácio de Manuel de Sousa, numa «câmara antiga, ornada
com todo o luxo e caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século xvii». O Ato
Segundo tem lugar no palácio de D. João de Portugal, «salão antigo de gosto melancólico e
pesado, com grandes retratos de família, muitos de corpo inteiro, bispos, donas, cavaleiros
monges». O Ato Terceiro desenrola-se também no palácio de D. João de Portugal, mas noutro
espaço, «um casarão vasto, sem ornato algum. Arrumadas às paredes, em diversos pontos,

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LITERATURA E ARTE

Frei Luís de Sousa


Do Frei Luís de Sousa há duas adaptações cinematográficas: a primeira, de António Lopes
Ribeiro, data de 1950, a segunda, de João Botelho, de 2001, com o título Quem és tu?
Entre as adaptações televisivas destaca-se a de Jorge Listopad, de 1967.

escadas, tocheiras, cruzes, ciriais e outras alfaias e guisamentos de igreja». Em


relação ao tempo, a ação decorre num espaço de oito dias. A ação do Ato
Primeiro passa-se num fim de tarde. Há um intervalo de oito dias, e a ação
dos Atos Segundo e Terceiro está concentrada num dia e numa noite. Toda-
via, esta dispersão espacial e temporal não redunda num alívio da tensão
dramática, porque há uma maior concentração, sobretudo nos Atos
Segundo e Terceiro.
A história, inspirada num episódio do passado nacional que já dera origem
a dramas e romances, é simples: sete anos depois de o seu marido, D. João
de Portugal, ter desaparecido na batalha de Alcácer-Quibir, D. Madalena
de Vilhena casa em segundas núpcias com Manuel de Sousa Coutinho, de
quem tem uma filha, Maria. Sobre a sua nova família abate-se uma catástrofe
quando, catorze anos mais tarde, aparece um romeiro, vindo da Terra Santa.
O momento culminante, o reconhecimento, é colocado no fim do Ato
Segundo. Anunciam-no vários sinais, ou presságios, disseminados ao longo do texto: as dúvi- Cartaz do filme Frei Luís
de Sousa, de António
das de Telmo, o fiel aio de D. João, acerca da morte do seu amo, a curiosidade de Maria pelo
Lopes Ribeiro
passado da família e o seu fascínio pelo sebastianismo, a intranquilidade constante de Mada- (Cinemateca Portuguesa).
lena, que se transforma em terror quando Manuel lhe comunica que irão mudar-se para a casa
do seu primeiro marido, D. João de Portugal.
O próprio ato heroico de Manuel de Sousa contra a ocupação espanhola contribui para aden-
sar os presságios funestos e prefigura, numa ironia trágica, a catástrofe que irá destruir a sua
família: «Mas fique-se aprendendo em Portugal como um homem de honra e coração, por
mais poderosa que seja a tirania, sempre lhe pode resistir, em perdendo o amor a coisas tão vis
e precárias como são esses haveres que duas faíscas destroem num momento… como é esta
vida miserável que um sopro pode apagar em menos tempo ainda».
A chegada do romeiro desencadeia a catástrofe inelutável que levará à morte a jovem e ino-
cente Maria e ao retiro num convento o casal. É significativo que a primeira personagem a
aparecer em cena no Ato Terceiro seja Manuel de Sousa, enquanto no primeiro fora Madalena
e no segundo, Maria. Com efeito, é neste ato que toma corpo, em toda a sua força e dramati-
cidade, o seu dilacerante conflito perante «os incompreensíveis mistérios de Deus». Aliás, para
título da peça foi escolhido o nome que esta personagem toma quando entra no convento,
o que reforça a importância de Manuel de Sousa.
Os vários temas do texto conferem-lhe uma densa polissemia que deu origem a múltiplas
interpretações, de tipo psicológico, existencial, político, histórico ou até autobiográfico.

LEITURA

Memória ao Conservatório Real


Na Memória ao Conservatório Real, Garrett expõe as ideias que nortearam a escrita de Frei Luís de Sousa.
«Nem amores nem aventuras, nem paixões, nem caracteres violentos de nenhum género. Com uma ação
que se passa entre pai, mãe e filha, um frade, um escudeiro velho e um peregrino que apenas entra em duas
ou três cenas — tudo gente honesta e temente a Deus —, sem um mau para contraste, sem um tirano
que se mate ou mate alguém, pelo menos no último ato, como eram as tragédias antes — sem uma dança
macabra de assassínios, de adultérios e de incestos, tripudiada ao som das blasfémias e das maldições, como
hoje se quer fazer o drama —, eu quis ver se era possível excitar fortemente o terror e a piedade ao cadáver
das nossas plateias, gastas e caquéticas pelo uso contínuo de estimulantes violentos, galvanizá-lo com sós
estes dois metais de lei.»

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