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A ética do fazer científico: contribuições da epistemologia marxista para o

estudo da Ética Intercultural em Informação

O cientista experimentador é um operário, e


não um puro pensador.
Antônio Gramsci

Introdução

A partir do estudo da Etica Intercultural em Informação (CAPURRO, 2010) aplicada ao


campo científico, este trabalho acompanha as contribuições de Marco Schneider para refletir
acerca das referências cruzadas (SCHNEIDER, 2015) entre a epistemologia marxista/marxiana e
o campo da ética em informação. Assim, como contribuição ao campo, apresentamos alguns dos
argumentos do pensamento marxista e marxiano que possibilitam enriquecer as contribuições de
Rafael Capurro na constituição da Ética Intercultural em Informação (EII).

Nesse sentido, reunimos elementos da epistemologia marxiana e marxista expresso nos


seguintes trabalhos: MARX E ENGELS (2014), GRAMSCI (2011), VAZQUEZ (2014) e
BAHKTIN (2011). Estes autores foram escolhidos em razão da existência de dois dos pressupostos
científicos que os orientam: a) negação da neutralidade axiológica e o b) método dialético, entre
teoria e prática expresso no conceito de práxis.

Estes pressupostos permitem uma abordagem científica do real que busca incidir na sua
transformação, possibilitando uma problematização ético-política das desigualdades e lutas sociais
existentes, a partir de uma abordagem fronteiriça entre a ética, a epistemologia e a política.
(SCHNEIDER, 2013; 2015; 2016). Por este argumento, entende-se que o campo da EII pode ser
enriquecido por esses procedimentos, uma vez que, a partir deles, torna-se possível constituir
pressupostos éticos que se distanciam tanto dos códigos universais de ética, quanto das pluralismos
e particularidades culturais1.

1
Daqui pode-se derivar uma reflexão ética acerca das consequências da afirmação das particularidades como conduta
universal, expondo o recuo no nível do diálogo entre os diferentes grupos sociais existentes, que passam a operar por
meio daquilo que os torna diferentes, e não daquilo que os associa.
Ética Intercultural em Informação

Pode-se dizer que o sentido mais universal da ética em informação está ligado ao fato de
que os conteúdos informacionais são substratos para a conformação de visões de mundo, gostos e
formas de consciência que incidem na política, no cotidiano e na vida das pessoas. Essa relação
complexa e em movimento configura o que González de Gomez (2012) conceituou como regime
de informação. Trata-se de um tipo particular de organizar a informação que objetiva-se em
políticas públicas, visões de mundo, teorias científicas, etc.

O conceito de regime de informação contempla o aspecto ético das questões


informacionais, uma vez que destaca as relações de poder, política e moral imbricadas na
sociedade. Um regime de informação é um

modo informacional dominante em uma formação social, o qual define quem são
os sujeitos, as organizações, as regras e as autoridades informacionais e quais os
meios e os recursos preferenciais de informação, os padrões de excelência e os
modelos de sua organização, interação e distribuição, enquanto vigentes em certo
tempo, lugar e circunstância (GONZALEZ DE GOMEZ, 2012, p.4).

Diante da centralidade dos regimes informacionais na normatização das relações sociais de


coorperação entre os indivíduos, GONZALEZ DE GOMEZ (2009) destaca a importância em
recuperar pressupostos da ética que possibilitem relacioná-los com as assimetrias sociais. E,
assim, conceber uma ética em informação que permita “pensar nas perspectivas e condições de
um desenvolvimento cultural sustentável, capaz de assegurar liberdade e justiça para todos,
visando à promoção das diversidades culturais assim como de sua interação” (GONZALEZ DE
GOMEZ, p.11, 2009).

Nesse aspecto, entendemos a “informação enquanto um saber, ao mesmo tempo


representacional e performático, cujo ciclo de vida sofre as seguintes metamorfoses: percepção,
pensamento, registro, circulação, acesso, decodificação, pensamento, e uso” (SCHNEIDER, 2013,
p. 60). Sendo, portanto, não somente conteúdo já codificado, mas também forma tácita do
pensamento, prefiguração do conhecimento e da cognição.

Diante desse contexto, aventamos que a Ética Intercutural em Informação corresponde a


um importante instrumento teórico-analítico e prático para analisar criticamente os regimes de
informação, e, por sua vez tensioná-lo, construindo outros modos de organizar a informação e o
conhecimento. Nesse sentido, sua abordagem está na fronteira entre a epistemologia, a política e
a ética (SCHNEIDER, 2016).

tanto a política (a gestão do poder) quanto a epistemologia (a gestão da


racionalidade) podem ser pensadas como meios para atingir aquilo que a ética
estabelece como correto ou desejável [...] Temos aqui um primeiro vislumbre,
quase simultâneo, da dimensão epistemológica da ética – cujo produto consiste
na fundamentação racional do problema do bem – e da política –, pois foi
colocado o problema do conhecimento racional a respeito de como atingir ou
produzir este bem (SCHNIDER, 2013, p.62).

CAPURRO (2010), idealizador da EII, informa que este aspecto ético não deve ser pensado
no sentido de uma generalidade abstrata, mas no sentido de uma construção, orientada por
prudência e responsabilidade que, por sua vez, nos remete a uma ideia de reciprocidade e obrigação
mútua. Trata-se de formular argumentos que se expressem como imperativos éticos e que possam
influenciar condutas. O autor uruguaio nega os parâmetros únicos e fixos para definir a moralidade
das ações, ao mesmo tempo em que afirma que, é na impregnância da prática e de sua análise, ou
seja na práxis, que pode-se formular argumentos ético-políticos para o campo informacional
(SCHNEIDER, 2016).

A proposta de Rafel Capurro nega o aspecto dogmático dos códigos genéricos de ética,
permitindo a elaboração de interpretações particulares das consequências práticas da atuação
humana. Deste modo, busca-se evitar tanto as condutas universais que se tornam hegemônicas, e
são produzidas e emanadas por centros colonizadores e imperialistas, quanto o seu oposto, o
relativismo moral que aparece sob o véu da diversidade e do pluralismo das culturas particulares
(SCHNEIDER, 2016).
Nesse sentido, exige-se uma interpretação constante do como e do quando esses princípios
devem ser colocados em prática. Pelo aspecto diverso e “problemático” da ética, os códigos são
sempre temporários, e devem ser construídos a partir de argumentações exaustivas, que, por sua
vez, negam o consenso artificial das do “decision making” (CAPURRO, 2010)

Capurro (2010) chama a atenção para a forma prudente com que deve ser tratado o tema,
uma vez que esses princípios podem tanto promover condutas de novo tipo, quanto provocar
estados de auto-complacência que ocultam condutas irresponsáveis, desviando a atenção dos
problemas essenciais e concentrando-os em questões de menor importância. A prudência delimita
o anti-critério de que “tudo está permitido”, nos fazendo conscientes de situações ambivalentes,
evitando a busca por soluções simplistas.

Através desse movimento, espera-se definir pressupostos em uma dimensão interativa com
a vida social que sejam, ao mesmo tempo, universais, porém não genéricos, e que contemplem a
diversidade, porém não relativize as particularidades culturais que não se ancorem no bem comum.
O objetivo é colaborar com a construção de visões de mundo e opções de vida que sejam
acolhedoras com as culturas, e também com aqueles que estão marginalizados e esquecidos,
tomando uma posição crítica a respeito da destruição em voga.

Esto presupone una concepción de la reflexión ética no limitada a la


fundamentación de normas morales dadas sino también a su problematización,
abierta a la interacción de las mismas con otras dimensiones de la vida social. Se
trata también de buscar no sólo normas sino formas de vida común que nos
permitan promover la variedad y la riqueza de las respuestas humanas […]
(CAPURRO, 2010, s/p.)

Schneider et all (2017) destaca que, por este aspecto, a EII elabora uma abordagem
dialética da Ética, pois contempla tanto a universalidade dinâmica e concreta da realidade, quanto
a mediação da unidade diversa dos particulares. Ele entende que Rafael Capurro cultiva uma
“desconfiança saudável” aos universalismos, ao mesmo tempo, em que nega uma postura ingênua
diante dos ponto de vista relativistas, que enfocam a questão da ética sobre o olhar das
particularidades.

A EII consiste em um esforço teórico e, por assim dizer, militante, de superar


dialeticamente as contradições entre normas morais particulares e entre estas e
aquelas de pretensão universal, como a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, no contexto das práticas informacionais nas redes digitais, mediante
um diálogo aberto e interessado entre diferentes atores e instituições, originários
de diversas culturas, de todos os continentes (BRISOLA, SCHNEIDER,
JÚNIOR, 2017, p.6).

A EII é uma disciplina em emergência, e, portanto, existe uma variedade de perspectivas


que podem ser abordadas nesse escopo. Trata-se de uma programa de estudos que propõe a
reflexão de valores e condutas, abordando-os de maneira heterogênea, e, portanto, afirmando a
necessidade de formulações e debates que possam chegar a imperativos ético-morais. Sua proposta
ético-política é construir um epaço aberto que deve ser criado em distintos contextos, incluindo o
acadêmico. Esforço que somamos na construção desse artigo.
Marx e marxismos: ciência, ação e transformação

No pensamento marxiano, a ética está no centro da análise. Isto porque trata-se de uma
forma de observação científica do real que expressa as contradições do mundo capitalista,
possibilitando uma crítica radical à reficiação humana (SCHNEIDER, 2015). Trata-se de uma
“ciência-ação” com objetivo de transformar a sociedade, ou seja, uma práxis, ciência que é, ao
mesmo tempo, elaboração científica do real e ação para transformá-lo (GRAMSCI, 2011).

A práxis é uma concepção da teoria que pressupõe a relação dialética entre a ciência e a
prática, em detrimento da teoria pura (GRAMSCI, 2011). Isto, com objetivo de construir uma
orientação ético-epistemológica que oriente a vida prática rumo à possibilidade de mudança social.
Afinal, é no terreno da consciência que se pode elaborar racionalmente a compreensão acerca da
realidade e, portanto, consturir a sua transformação.

Em trabalho de Artur Sampaio e Celso Frederico2 (apud SCHNEIDER (2013)), os autores


explicam que a categoria da práxis permite uma mediação material ativa da realidade que
possibilita conhecer o mundo, auxiliando a transformá-lo. Através dela, pode-se apreender uma
concepção de ciência que seja eticamente motivada.

Entendemos por “mediação material ativa” um modo privilegiado e fecundo de


conhecer o real, para além da mera contemplação e da busca do que é, pois
articula esta busca à exploração de nossa potência intelectual e prática de
transformar o real segundo nossos projetos (SCHNEIDER, 2013, p. 72).

Essa elaboração racional se constitui a partir de categorias que mediam a forma das
relações sociais. Categorias são “formas de pensamento socialmente válidas, portanto objetivas,
ajustadas às relações desse modo de produção historicamente definido” (MARX E ENGELS,
2014, p. 98). Trata-se de como a realidade é objetivada pelo pensamento, configurando uma
mediação entre o homem e o mundo, tendo, portanto consequências nas formas de ação e
intervenção.

Isso também nos afirma Gramsci (2011) quando define sua concepção da ciência:

a atividade experimental do cientista, é o primeiro modelo de mediação dialética


entre o homem e a natureza, é a célula histórica elementar pela qual o homem,

2
O autor acompanha as contribuições de SAMPAIO, Benedicto Arthur; FREDERICO, Celso. Dialética e
materialismo. Marx entre Hegel e Feuerbach. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2009
pondo-se em relação com a natureza através da tecnologia, a conhece e a domina.
[...] A experiência científica é a primeira célula do novo método de produção, da
nova forma de união ativa entre o homem e a natureza. O cientista experimentador
é um operário, não um puro pensador (GRAMSCI, 2011, p. 199).

O argumento do autor permite situar a centralidade do cientista no processo de


conhecimento da realidade, enfatizando seu papel ético-responsivo na relação de transformação
do real.

Para SCHNEIDER (2015), negar esse fato, correponde a negar o papel do sujeito na
história, e portanto, de sua humanidade, encobrindo o poder que possui de atuar deliberadamente
na modificação da forma e dos objetivos do trabalho social existente. Pressupondo, portanto, uma
objetificação do sujeito. Na concepção marxiana, o resultado disso são formulações nebulosas e
mistificadoras que justificam as contradições sociais, apresentando-as como eternas (MARX E
ENGELS, 2014).

Em essência, isto corresponde ao mecanismo de objetifição do sujeito cognoscente, posto


que separa o fator histórico da vida comum, excluindo a relação do homem com a sociedade
analisada (BAHKTIN, 2011). Avançando nessa discussão, observa-se que a negação do sujeito
reflete-se na afirmação da neutralidade axiológica como valor ético do campo científico.

Negando esse aspecto, Marx e Engels (2014) afirmam que sua filosofia pretende “refletir
sobre as formas da vida humana e analisá-las cientifícamente” (p. 96) para pontuar seu caráter
histórico e dinâmico, intervindo em sua transformação. Sua mais bem acabada expressão encontra-
se na tese 11 sobre Feuerbach: “Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras
diferentes; a questão, porém, é transformá-lo” (MARX e ENGELS, 2014, p. 535).

Aspecto também afirmado por Bahktin (2011), que entende que a neutralidade axiológica
nas ciências humanas, reifica tanto o sujeito pesquisador quanto o sujeito pesquisado, pois aborda-
os desde uma perspectiva da objetificação, posto que oculta a influência do componente humano
nos fatos sintetizados. Afinal, “o sujeito como tal não pode ser percebido e estudado a título de
coisa, porque como sujeito, não pode, permanecendo sujeito, ficar mudo” (BAHKTIN, p. 404,
2011) .
Nesse sentido, o autor destaca a importância em eliminar a concepção de coisa e de objeto,
do sujeito cognoscente, ressituando-o como um ente ético-responsivo que, participando da
existência, constroi resultados analíticos que estão em relação com a sociedade analisada.

Isto permite reafirmar a impossibilidade da neutralidade axiológica explicitando que, toda


síntese da realidade expressa um juízo de valor. Para Bahktin, o juízo de valor é o elemento
necessário da cognição e, portanto, derivado de qualquer ato de conhecimento. Assim, todo ser
que elabora uma síntese da realidade, interfere no sentido que constroi-se sobre ela. O autor é um
sujeito congnoscente que atua de maneira ético-responsiva na realidade, uma vez que sintetiza
teoricamente o real observado (BAHKTIN, 2011).

Adolfo Sanchez Vázquez (2011), também autor do campo marxista, destaca que a
elaboração racional, expressa em um conjunto de formulações, possibilita que determinados
grupos sociais tomem consciência do próprio ser social, da própria força e das tarefas históricas
do seu desenvolvimento. Em um primeiro momento, é o ato de de lançar-se a ação e, em seguida,
o momento reflexivo acerca desta ação.

De maneira esquemática, ele define que, de um lado, concentra-se a experiência do real, e


do outro, a construção de novas possibilidades através da elaboração intelectiva e objetiva de
análise desse real. A partir disso, é possível construir conhecimentos verdadeiros, não-
mistificadores e, portanto éticamente comprometidos com as assimetrias do mundo social
(VAZQUEZ, 2011).

Gramsci (2011) também elabora um largo escopo de seu trabalho em torno da práxis. O
autor acresce uma categoria importante em sua reflexão, trata-se do conceito de cartase. A catarse
é um momento de formação do pensamento que corresponde à síntese dialética entre ação e
reflexão. Ele particulariza sua análise afirmando que, no proceso dialético que envolve teoria e
prática, ocorre uma transformação qualitativa nas formas de pensamento que, por sua vez,
possibilitam modificações na forma de ação e apreensão do real.

É quando formam-se posições eticamente comprometidas com a superação das


contradições da sociedade. Nesse movimento “suscitam-se problemas de conhecimento que, além
da forma “prática” de solução, encontrarão mais cedo ou mais tarde, sua forma teórica”
(GRAMSCI, p. 197, 2011).Ele explica que trata-se da articulação do pensamento sistematizado
com o conhecimento que emana das práticas e das experiências de exploração e de luta. Nesse
movimento, o sujeito singular - que está plasmado de uma visão de mundo económico-corporativo
ou ego-pasonal – modifica suas formas de percepção e observação do mundo, incorporando uma
visão ético-política, que corresponde a assunção de uma posição diante das desigualdades sociais
do mundo real. Assim, tornando-se um “instrumento para criar uma nova forma ético-política, com
origem de novas iniciativas” (GRAMSCI, 2011, p. 192).

Nesse sentido, os pressupostos epistemológicos do marxismo: a negação da neutralidade


axiológica, e o método dialético entre a teoria e a prática, expresso no conceito de práxis, e também
no conceito de catarse, podem ser úteis e frutíferos do desenvolvimento de um ethos científico
(CAPURRO, 2010) que problematize e assuma posições em torno da mudança social. Nesse
sentido, a Ética Intercultural em Informação, disciplina situada no campo da Ciência da
Informação, também tem se apresentado como caminho para pensar e refletir sobre a temática
(SCHNEIDER, 2016).

Por fim, cabe destacar outra contribuição do marxismo ao pensamento da EII. Este,
apresentado por Schneider (2016). O autor mostra que além das pluraridades culturais que devem
ser consideradas na abordagem ampla da ética, é necessário considerar que há uma luta de classes
que também provoca cisões internas, culimando em objetivos e interesses diversos e não
equalizáveis. Estes, que, demandam problematização e complexificação para serem equacionados.
Trata-se de, considerar as assimetrias sociais, incluindo aquelas que existem entre membros de
uma mesma cultura, mas que tem distintos interesses de acordo com a classe social em que estão
inseridos.

Assim, Marco Schneider faz uma aproximação entre o marxismo e o campo da ciência da
informação, enriquecendo o debate da EII, apresentando as fronteiras existentes entre os campos
da ética, da política e da epistemologia. Nessa fronteira, não trata-se apenas da compreensão do
real - notadamente caracterizado pelas tensões sociais que se expressam na assimetria no acesso,
na produção e na distribuição dos recursos informacionais -, mas também de sua transformação.

Conclusões preliminares

No contexto informacional do capitalismo contemporâneo, os regimes de informação são


a síntese das relações que envolvem poder, política e moral. Nesse contexto, refletir sobre as
possibilidade de normatização de dimensões éticas nos mais diversos âmbitos em que se processam
as informações, torna-se relevante para o alcance de imperativos éticos que estejam
comprometidos com a diminuição das assimetrias e desigualdades sociais.

A EII aventa a necessidade em derivar um imperativo ético-moral que articule as reflexões


filosóficas com estudos empíricos e ações, assim, considerando a relação dialética entre o
universal, o particular e o singular. Este é o entendimento de SCHNEIDER (2016) acerca da Ética
Intercultural em Informação de Rafael Capurro. Trata-se de refletir sobre a universalização dos
valores, abordando-os de maneira heterogênea, e afirmando a necessidade de formulações e
debates que possam chegar a imperativos ético-morais, assim, descartando uma concepção
metafísica e abstrata da ética e possibilitando uma inserção na transformação do real.

Nesse aspecto, este trabalho apresentou alguns elementos de reflexão do campo da


epistemologia e que coaduam com a hipótese de SCHNEIDER (2013) de que os pressupostos
epistemológicos do marxismo produzem um instrumental teórico, prático e analítico que
possibilitam enriquecer as reflexões da Ética Intercultural em Informação, pois consideram o papel
ético-responsivo do cientista e de suas formulações na capacidade de influênciar o real.

Nesse sentido, demonstramos que a negação do pressuposto da neutralidade axiológica, e


a afirmação da práxis – que possibilita a constituição de um juízo de valor ético-responsivo diante
da realidade pesquisada - possibilitam dimensionar a dimensão ética da ciência. Em consequência,
negamos o aspecto dogmático e objetificado que produz-se acerca do sujeito/da ciência, posto que
afirmamos o campo científico como mediação relevante de apreensão do mundo, parte constitutiva
do conjunto de informações que modelam o real.

Deste modo, afirmamos a importância de uma “epistemologia não contemplativa, que


entende a verdade e a moralidade como frutos da observação, reflexão e ação”. (SCHNEIDER,
2013, p 63). Deste modo, objetiva-se colaborar com a construção de “imperativo categórico de
derrubar todas as condições em que o homem surge como um ser humilhado, escravizado,
abandonado, desprezível” (idem).

Afinal, sobre a neutralidade nas ciências humanas, nos lembra BAHKTIN (2011), é “como
o peixe dentro do aquário, toca o fundo e as paredes, e não pode ir mais longe nem mais fundo”.
Portanto, não serve para transformar a realidade e constituir imperativos éticos que orientem novas
ações.

Referências

BAHKTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo, Ed. Martins Fontes, 2011

BRISOLA, Anna. SCHNEIDER, Marco. JÚNIOR, Jobson. Competência Crítica em


Informação, Ética Intercultural da Informação e Cidadania Global na Era Digital:
Fundamentos e Complementaridades. Anais do Encontro da Enancib, GT5, 2017

CAPURRO, Rafael. Ética intercultural de la información: fundamentos y aplicaciones. In


Signo pensam. vol.28 no.55 Bogotá July/Dec. 2009

________________. Desafíos téoricos y prácticos de la ética intercultural de la información.


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GONZÁLEZ DE GÓMEZ, Nélida. Regime de informação: construção de um conceito.


Informação & Sociedade, v. 22, n. 3, 2012.
____________________________. Desafios Contemporâneos Da Ciência Da Informação: As
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GRAMSCI, Antônio. O leitor de Gramsci: escritos escolhidos 1916-1935. Org.: Carlos Nelson
Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011

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SÁNCHEZ VÁZQUEZ, Adolfo. Filosofía da práxis. São Paulo, Ed. Expressão Popular, 2ª
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SCHNEIDER, Marco. A dialética do gosto: informação, música e política. Rio de Janeiro, Ed.
Faperj, 2015

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da ciência da informação./ Sarita Albagli, organizadora. – Brasília, DF: IBICT, 2013.

_________________. Gramsci, Golem, Google: a Marxist Dialog with Rafael Capurro’s


Intercultural Information Ethics. 2016

__________________. Referências Cruzadas 2: Marx e a Ciência da Informação. In: Anais


do XVI Enancib, 2015, João Pessoa. Informação, Memória e Patrimônio: do documento às redes,
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