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FUNDAÇÃO CARMELITANA MÁRIO PALMÉRIO - FUCAMP

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS - FACIHUS


CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

ANA CAROLINE DALILA FERREIRA

O PROCESSO DE ADOÇÃO NO BRASIL E SUA EFETIVIDADE

MONTE CARMELO/MG
2019
ANA CAROLINE DALILA FERREIRA

O PROCESSO DE ADOÇÃO NO BRASIL E SUA EFETIVIDADE

Artigo apresentado junto ao Programa de


Graduação em Direito da Fucamp, como requisito
parcial para a obtenção do título de Bacharel em
Direito, sob orientação da professora Mestre
Jucilaine Figueira de Moura.

________________________________________

MONTE CARMELO/MG
2019
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, que foi minha maior força nos momentos de angustia e desespero.
Sem ele, nada disso seria possível. Obrigada senhor, por sempre me mostrar o caminho certo,
por colocar esperança, amor e fé no meu coração.
Agradeço aos meus pais Maria Marta e Adailton e ao meu irmão Nathanael, eu jamais
serei capaz de retribuir todo carinho, amor e incentivo que recebi de vocês. Eu nunca teria
conseguido sem o apoio de vocês. Obrigada por tudo, de coração.
Agradeço ao meu noivo Jhonata, pelo apoio, carinho e paciência, sempre presente nos
momentos difíceis com uma palavra de incentivo. Obrigada amor.
Agradeço, a professora e orientadora Mestre Jucilaine Figueira De Moura, por sempre
estar presente para indicar a direção correta que o trabalho deveria tomar, pelas valiosas
contribuições dadas durante todo o processo.
Agradeço também à Fucamp e a todos meus professores do curso de Direito pela
excelência da qualidade técnica de cada um.
Muito obrigada a todos. Vocês fizeram toda diferença para ser quem eu sou.
“A conquista é um acaso que talvez dependa mais das
falhas dos vencidos do que do gênio do vencedor.”
(Madame de Stael)
RESUMO

O presente trabalho abordou como tema central, o processo de adoção no Brasil e suas
legislações pertinentes. O objetivo geral da pesquisa foi analisar se há problemas a serem
enfrentados para que o Estado possa garantir às crianças e adolescentes institucionalizados, o
direito fundamental à convivência familiar. Diante da relevância do tema, a problemática da
pesquisa objetivou responder se o processo de adoção apresenta-se efetivo e célere na busca
de garantir as crianças e adolescentes em condições de adoção uma nova família. A pesquisa
se justificou considerando a importância e relevância do instituto da adoção, para a efetivação
dos direitos e garantias dos menores em situação de vulnerabilidade social. Assim, a presente
pesquisa buscou averiguar o porquê de muitas crianças crescem nas instituições de abrigo,
sem que sejam adotadas, apesar da vasta lista de pretendentes a adoção no Brasil. Foi
abordado no primeiro capítulo conceito e natureza jurídica da adoção; no segundo, a adoção
no ordenamento jurídico brasileiro, com análise das principais legislações e, no terceiro e
último, os procedimentos legais para adoção e os resultados do processo de adoção no Brasil,
no que tange a efetividade. A metodologia utilizada no presente trabalho, foi o tipo de
pesquisa bibliográfico, por meio da análise de livros, artigos, monografias e outros atinente ao
tema. Também foi adotado, o tipo de pesquisa documental, por meio da análise da
Constituição Federal e leis que regulamentam a adoção, como fonte primária para exploração
do conteúdo discutido. Adotou-se o procedimento metodológico dedutivo, para a realização
da pesquisa bibliográfica e documental, com intuito responder a problemática da presente
pesquisa. Pelo exposto, o trabalho se dedicou à análise do processo de adoção no Brasil e suas
legislações pertinentes, a fim de avaliar os principais problemas a serem enfrentados.

Palavras-chave: Processo de Adoção. Poder Judiciário. Efetividade.


ABSTRACT

The present work addressed as its central theme the adoption process in Brazil and its
pertinent legislations. The general objective of the research was to analyze if there are
problems to be faced so that the State can guarantee to institutionalized children and
adolescents, the fundamental right to family life. Given the relevance of the theme, the
research problem aimed to answer if the adoption process is effective and fast in order to
ensure children and adolescents in the conditions of adoption a new family. The research was
justified considering the importance and relevance of the adoption institute for the realization
of the rights and guarantees of minors in socially vulnerable situations. Thus, the present
research sought to ascertain why many children grow up in shelter institutions without being
adopted, despite the vast list of applicants for adoption in Brazil. It was covered in the first
chapter concept and legal nature of adoption; in the second, the adoption in the Brazilian legal
system, with analysis of the main legislations and, in the third and last, the legal procedures
for adoption and the results of the adoption process in Brazil, regarding the effectiveness. The
methodology used in the present work was the type of bibliographic research, through the
analysis of books, articles, monographs and others related to the theme. It was also adopted,
the type of documentary research, through the analysis of the Federal Constitution and laws
that regulate the adoption, as primary source for exploration of the content discussed. The
deductive methodological procedure was adopted for the bibliographic and documentary
research, in order to answer the problem of the present research. Therefore, the work was
devoted to the analysis of the adoption process in Brazil and its pertinent legislations, in order
to evaluate the main problems to be faced.

Keywords: Adoption Process. Judicial Power. Effectiveness


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 7

1.ADOÇÃO: CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA........................................................ 8

2. ADOÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ..................................... 10

2.1 Adoção e Constituição de 1988 .......................................................................................... 12

2.2 Adoção e Estatuto da Criança e do Adolescente ................................................................ 13

2.3 Adoção à luz da Lei Nacional de Adoção de n.º 12.010 de 2009....................................... 15

3. PROCEDIMENTOS LEGAIS PARA ADOÇÃO NO BRASIL .................................... 16

3.1 O resultado do processo de adoção no Brasil, no que tange à efetividade ......................... 20

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 27

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 29
7

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como tema central o processo de adoção no Brasil, e suas
legislações pertinentes. O objetivo geral da pesquisa visa analisar se há problemas a serem
enfrentados para que o Estado possa garantir às crianças e adolescentes institucionalizados o
direito fundamental à convivência familiar.
Diante da relevância do tema, a problemática da pesquisa objetiva responder se o
processo de adoção apresenta-se efetivo e célere na busca de garantir as crianças e
adolescentes em condições de adoção uma nova família.
No Brasil não faltam casais ou pessoas que desejam adotar. Segundo dados
do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), há mais pessoas pretendendo adotar, do que criança
disponíveis para a adoção, e ainda assim, muitas crianças passam anos aguardando uma nova
família e não conseguem ser adotadas, cujos principais problemas serão apontados na presente
pesquisa.
Justifica-se a pesquisa, considerando a importância e relevância do instituto da adoção,
para a efetivação dos direitos e garantias dos menores em situação de vulnerabilidade social.
Assim, a presente pesquisa visa averiguar o porquê de muitas crianças crescem nas
instituições de abrigo sem que sejam adotadas, apesar da vasta lista de pretendentes a adoção
no Brasil.
Será abordado no primeiro capítulo conceito e natureza jurídica da adoção; no segundo
capítulo a adoção no ordenamento jurídico brasileiro, com análise das principais legislações e,
no terceiro e último, os procedimentos legais para adoção e os resultados do processo de
adoção, no que tange a efetividade.
A metodologia a ser utilizada no presente trabalho, será o tipo de pesquisa
bibliográfico, por meio da análise de livros, artigos, monografias e outros atinente ao tema.
Também será adotado o tipo de pesquisa documental, por meio da análise da Constituição
Federal e leis que regulamentam a adoção, como fonte primária para exploração do conteúdo
discutido.
Será adotado o procedimento metodológico dedutivo para a realização da pesquisa
bibliográfica e documental, com intuito responder a problemática da presente pesquisa. Pelo
exposto, o trabalho se dedicará a análise do processo de adoção no Brasil e suas legislações
pertinentes, a fim de avaliar os principais problemas a serem enfrentados.
8

1.ADOÇÃO: CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA

O instituto da adoção é conceituado pela maioria dos doutrinadores como ato solene
pelo qual uma pessoa, ou um menor estranho a uma determinada família é recebido como
filho.
Sobre o conceito, Maria Berenice Dias afirma se tratar de “ato jurídico em sentido
estrito, cuja eficácia está condicionada à chancela judicial. A adoção cria um vínculo fictício
de paternidade-maternidade-filiação, entre pessoas estranhas, análogo ao que resulta da
filiação biológica” (DIAS, 2013, p. 497).
Já, Carlos Roberto Gonçalves aponta a adoção como “ato jurídico solene pelo qual
alguém recebe em sua família, na qualidade de filho, pessoa a ela estranha”. O aludido
autor, destaca também a necessidade de observância do princípio do melhor interesse da
criança, no procedimento da adoção, já que o Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe
que só se admite a adoção se apresentar efetivo benefício ao adotando. (GONÇALVES,
2013, p. 379).
Neste diapasão, o procedimento da adoção jamais pode ser admitido se não
apresentar benefício para o adotando, ou seja, com a evolução dos direitos fundamentais e
do direito de família, é inadmissível nos dias atuais prezar pelo interesse dos adotantes. O
princípio do melhor interesse da criança e do adolescente deve ser observado rigorosamente
no procedimento de adoção, a fim de evitar prejuízo ao menor.
Conforme destacaram os referidos autores, a adoção cria um novo parentesco entre
adotantes e o menor adotado, não por laços consanguíneos, mas por laços de afetividade.
A adoção é, por conseguinte, um vínculo de parentesco civil, em linha reta, que
estabelece entre adotante e adotado um liame de paternidade e filiação civil. Esse liame será
definitivo e irrevogável, para todos os efeitos legais, uma vez que desliga o adotado e sua
família biológica (DINIZ, 2013, p. 568).
Portanto, nota-se na adoção a instituição de parentesco civil para o adotado, que terá
desconstituído seu parentesco consanguíneo com sua família natural, para dar origem a um
novo parentesco civil com os adotantes e sua família, parentesco esse que se dá em 1º grau
na linha reta.
Porém a despeito da desconstituição do parentesco natural, no que tange aos
impedimentos de casamento, ainda continuam existindo, já que seria uma aberração, a lei
permitir que pessoas adotadas pudessem estabelecer matrimonio com pais biológicos ou
9

irmãos, já que, por mais que seja desconstituído o parentesco, legalmente falando, há ainda
vínculos consanguíneo que relação jurídica nenhuma consegue revogar.
No entanto, os demais efeitos sucessórios só existirão com relação à nova família,
assim, os vínculos com a família biológica serão desconstituídos após a adoção (DINIZ,
2013, p. 568).
Diante disso, constata-se que adoção é um procedimento de suma relevância no direito
de família, já que visa garantir à criança em abrigos, a possiblidade de ingressar em uma nova
família, para que seja garantido seus direitos e bem estar, assegurando sempre seu melhor
interesse.
Desta forma, para as famílias que sonham em ter filhos e não conseguem por questões
de esterilidade, ou mesmo por optar pela criação de filhos sem ligação genética, o
procedimento da adoção apresenta-se como uma alternativa viável, já que possibilitam a essas
famílias a realização de um sonho, que para além de suprir com os objetivos dos adotantes,
possibilitam aos adotados crescerem dentro de uma nova família acolhedora, que garantirá sua
segurança e bem estar.
Quanto à natureza jurídica da adoção, há muitas divergências doutrinárias, pois
alguns doutrinadores apontam que a adoção seria um contrato, outros, dizem se tratar de ato
solene ou mesmo instituto de ordem pública.
Carlos Roberto Gonçalves afirma ser controvertida a natureza jurídica da adoção.
Para ele, no Código Civil de 1916, era nítido o caráter contratual do instituto, tratava-se de
um negócio jurídico, bilateral e solene, já que era realizada mediante escritura pública,
presente o consentimento de ambas as partes. Se adotado fosse maior e capaz comparecia
em pessoa, se fosse incapaz, seria representado pelos pais, tutor ou curador.
Supreendentemente, admitia-se a dissolução do vínculo, sendo as partes maiores, pelo
acordo de vontade (GONÇALVES, 2013, p. 380).
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a adoção passou a constituir-
se por ato complexo e a exigir sentença judicial, prevendo-se expressamente o ECA em seu
art. 47 e o Código Civil em seu art. 1.619.
A norma constitucional, ao determinar que a adoção será acompanhada pelo Poder
Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetividade por parte de
estrangeiro, demonstra que a matéria refoge dos contornos da simples apreciação
juscivilista, passando-se a ser interesse de ordem pública (GONÇALVES, 2013, p. 380-
381).
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Há doutrinadores que apontam natureza híbrida no instituto da adoção, pois possui


um misto de contrato com instituto de ordem pública. Já outros, dentre eles Clóvis
Bevilacqua atribui à adoção, natureza jurídica de ato solene, em que se exige o
consentimento do adotando ou de seu representante legal (BEVILACQUA, 1954, p. 819).
Nesse mesmo sentido, Paulo Lobo afirma que a natureza jurídica da adoção é de ato
jurídico em sentido estrito, com natureza complexa, pois está condicionada a decisão
judicial para que produza efeitos jurídicos, e não se trata de um negócio jurídico unilateral,
mas sim bilateral, e diante de sua indisponibilidade do estado de filiação não pode ser
revogada (LOBO, 2006, p. 273).
Nestes termos, parece assistir razão no apontamento de Paulo Lobo, já que
indiscutivelmente, a adoção trata-se de um ato solene, estrito, cujos procedimentos estão
preestabelecidos pela legislação, devendo ser rigorosamente cumprido para que produza
efeito jurídico.
Ademais, em todo ato solene, a manifestação da vontade das partes é imprescindível,
principalmente no que se refere à adoção, assim é necessário a manifestação inequívoca dos
adotantes, bem como do menor de 12 anos, sempre que possível e, obrigatoriamente quando
se tratar de maior de 12 anos, pois uma vez instituída não pode ser revogada.
Além do mais, para que haja afetividade entre adotante e adotado, é indispensável
que haja interesse de ambas as partes no procedimento da adoção, que a partir de então, há
de se construir um novo parentesco civil, pautado no afeto e no melhor interesse do adotado,
conforme exige a legislação.

2. ADOÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

A adoção no Brasil buscava-se muito além de atender aos interesses dos menores,
atender às famílias que pretendiam ter filhos e não conseguiam. O instituto era restrito e
somente as pessoas casadas e sem filhos poderiam adotar.
O Código Civil de 1916 denominava-se de simples a adoção de filhos, que era
realizada em Cartório e se tratava de um contrato meramente solene, e sem qualquer
intervenção do Estado, sendo que só as famílias sem filhos poderiam adotar (DIAS, 2013,
497).
A adoção se realizava mediante escritura pública em cartório, e o vínculo de
parentesco estabelecia somente entre adotante e adotado não estendia aos ascendentes e
11

colaterais. A adoção era vista de forma extremamente restritiva e preconceituosa, havia


distinção entre filhos biológicos e adotivos (DIAS, 2013, 497).
Sobre o tema, destaca-se:

Com o primeiro Código Civil a adoção recebeu regulamentação, porém eram


ineficientes. Somente pessoas casadas podiam adotar e não era possível a
adoção se esses tivessem prole legítima. Além disso, o processo de adoção
era basicamente contratual, as partes (adotante e adotando) assinavam um
contrato de mudança de pátrio poder, antes do biológico agora àquele que
adota. Observa-se que o Estado não interferia no processo de adoção, atuava,
única e exclusivamente, a autonomia privada dos contratos (FERREIRA;
SOUZA; CRUZ, 2018, p. 10)

Logo, verifica-se que o instituto da adoção pouco preocupava com o interesse da


menor, pelo contrário, não havia intervenção estatal e reinava-se os interesses privados dos
adotantes sob os direitos dos adotados.
Com o advento da Lei nº.4. 655/65, foi instituída mais uma forma de adoção, a
denominada legitimação adotiva. O procedimento dependia de decisão judicial, e era
considerada irrevogável, fazia cessar a relação de parentesco com a família biológica do
adotado (DIAS, 2013, p. 498).
O Código de Menores, Lei nº. 6. 697/79 substituiu a legitimação adotiva pela adoção
plena, mas manteve-se o mesmo espírito, contudo, houve uma evolução, tendo em vista que
o vínculo de parentesco do adotado estendeu-se à toda a família dos adotantes, de modo que
o nome dos avos passasse a constar no registro de nascimento do adotado,
independentemente de consentimento expresso dos mesmos (DIAS, 2013, p. 498).
Com a edição do Código de Menores de 1979, passou a existir a adoção plena, ou
seja, mais abrangente, porém, destinada apenas aos menores em situação irregular. A adoção
simples estabelecia um parentesco somente entre adotante e adotado, sem desvincular o
adotado da família biológica, era revogável pelas partes e não extinguiam os direitos e
deveres resultante do parentesco natural (GONÇALVES, 2013, p. 385).
Por conseguinte, com a evolução do instituto para adoção plena, o adotado passou a
adquirir parentesco com toda a família dos adotantes, como se filho biológico fosse,
modificando-se seu assento de nascimento e pondo fim ao parentesco do adotado com sua
família natural, hipótese que passou a não se admitir mais a revogação da adoção
(GONÇALVES, 2013, p. 385).
12

Assim sendo, nota-se que o Código de menores trouxe uma evolução significativa
para o instituto da adoção, pois a adoção simples não assegurava o melhor interesse do
menor, vista que podia ser revogável, não estabelecia parentesco com a família dos
adotantes, e se mostrando extremamente preconceituosa.

2.1 Adoção e Constituição de 1988

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a adoção veio ser


constitucionalizada, para que pudesse ser garantido o melhor interesse da criança e do
adolescente, não permitindo qualquer espécie de discriminação entre filhos biológicos e
filhos por adoção (DIAS, 2013, p. 497).
Assim, mesmo as adoções levadas a efeito antes da promulgação da Constituição,
prevalecem os mesmos direitos e garantias, não se permitindo qualquer forma de
discriminação ou distinção (DIAS, 2013, p. 497).
A doutrina de proteção integral e a vedação a práticas discriminatórias alteraram
profundamente o instituto da adoção, rompendo com a ideologia do assistencialismo e da
institucionalização que privilegiava o interesse a vontade dos pretendentes, sob o interesse
do adotando, assegurando o melhor interesse da criança e do adolescente (DIAS, 2013, p.
498).
Desde o advento da Constituição, os mesmos direitos e qualificações são assegurados
aos filhos havidos ou não da relação do casamento ou adoção. É inadmissível falar em filho
adotivo ilegítimo, com isso, a denominação passou a ser filho por adoção ao invés de
adotivos, como eram denominados anteriormente.
Ademais, a origem da filiação é única e se apaga quando da adoção. Logo, a partir da
sentença judicial deferindo a adoção, é retificado o registro de nascimento do menor, ocasião
em que o adotado passa a ser filho sem qualquer distinção (DIAS, 2013, p. 497).
O adotado adquire os mesmos direitos e obrigações como qualquer filho, tem direito
ao nome, parentesco, alimentos e sucessão, em contrapartida, também corresponde a esse, os
deveres de respeito e obediência para com os pais, que, por sua vez possuem os deveres de
guarda, criação, educação e fiscalização.
Apesar do avanço com o advento da Constituição de 1988, nem sempre o processo de
adoção alcança a proteção integral do menor, já que a morosidade judiciaria e a
burocratização acabam prejudicando a efetivação do procedimento, gerando prejuízos
13

irreparáveis aos menores, que, não raras vezes, acabam crescendo em abrigos, ocasião em
que diminui suas chances de serem adotados, já que o perfil exigido pela maioria dos
pretendentes é de criança de 0 a 4 anos de idade (DOMINGOS, 2006, p. 543).
No entanto, é indiscutível a importância da constitucionalização do instituto, visto
que não permite qualquer forma discriminatória de filhos por adoção, estabelece os mesmos
direitos e obrigações, assegurando sempre o melhor interesse do menor.

2.2 Adoção e Estatuto da Criança e do Adolescente

Com o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/1990, o instituto da adoção


passou por nova regulamentação, trazendo como principal inovação a exigência de que
adoção para menores de 18 anos fosse sempre plena, assegurando todos os direitos
sucessórios aos adotados (DIAS, 2013, p. 498).
O Estatuto da Criança e do Adolescente foi instituído com o intuito de proteger
integralmente a criança e ao adolescente, menores de 18 anos. No que se refere à adoção, o
referido estatuto consagra em diversos artigos, dispositivos regulamentadores do instituto,
incluindo, inclusive regulamentações a respeito da adoção internacional.
O referido Estatuto, prevê que a adoção é medida excepcional e irrevogável à qual se
deve recorrer apenas quando esgotado os recursos de manutenção do menor na família
natural ou extensa. Inclusive, prevê que em casos de conflito do adotando com outras
pessoas, incluindo os pais biológicos, devem prevalecer os interesses do adotando (DIAS,
2013, p. 498).
No que diz respeito aos requisitos para o procedimento da adoção, o Estatuto exige
em relação aos adotantes, que esses sejam maiores de 18 anos e, por obvio, capaz, ou seja,
para que a adoção seja válida, necessita que o adotante esteja em pleno gozo de saúde
mental, e que tenham capacidade para os atos da vida civil.
A emancipação civil não autoriza a adoção, é necessário que o interessado tenha 18
anos ou mais, logo, menores de 18 anos emancipados civilmente não poderão adotar.
Quanto ao estado civil dos adotantes, pouco importa para legislação, o que significa
dizer que pessoas solteiras, viúvas, divorciadas, casadas ou separadas, poderão se habilitar à
adoção. Porém, caso optem por adoção em conjunto, o Estatuto exige que haja união estável
ou casamento, com a comprovação da estabilidade familiar.
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O adotante há de ser pelo menos dezesseis anos mais velho que o adotando. Os
divorciados ou separados judicialmente e os ex companheiros podem adotar conjuntamente,
conquanto que acordem sobre a guarda e o regime de visita e desde que o estágio de
convivência tenha sido iniciado na constância do casamento ou da união, e que seja
comprovada a existência de vínculo de afinidade e afetividade com aquele não detentor da
guarda, que justifiquem a excepcionalidade da concessão, o que poderá ser deferida a guarda
compartilhada, caso apresente benéfica ao menor.
O Estatuto traz ainda que a adoção depende de consentimento dos pais biológico ou
representante legal do adotando, no entanto, se os pais forem destituídos do poder familiar,
ou se tratar de desconhecido não será necessário o consentimento dos mesmos.
Ademais, o ECA em seu art. 41, § 1º estabelece de forma excepcional, a manutenção
dos vínculos biológicos, na hipótese de um dos cônjuges ou companheiro adotar o filho do
outro, assim, em relação ao adotando com o genitor biológico e sua respectiva família,
permanece inalterado.
Com o intuito de preservar o melhor interesse da criança e do adolescente, e por se
tratarem de sujeitos de direito, deverão, sempre que possível, serem previamente ouvido a
respeito da adoção. Logo, as crianças com 12 anos de idade deverão obrigatoriamente
manifestar em audiência o seu consentimento a respeito da adoção, conforme prevê o art. 45,
§ 1º e 168 do ECA.
Consequentemente, a discordância do adotando com 12 anos ou mais acarreta a
improcedência do pedido de adoção, em contrapartida, sua concordância não tem caráter
absoluto, ou seja, mesmo concordando, deverão ser cumpridas as demais exigências para que
haja êxito no pedido.
Ademais, o referido Estatuto traz em seu art. 46, que a adoção será precedida de
estágio de convivência com a criança ou adolescente, por um período de até noventa dias,
observada a idade do adotando e as peculiaridades do caso concreto. Todavia, o prazo de
noventa dias poderá ser prorrogado por igual período, mediante decisão fundamentada.
Portanto, só pode haver separação de irmãos caso reste constatado a existência de
risco ou abuso ou outra circunstância que justifique a excepcionalidade da medida,
procurando-se em qualquer caso, evitar que haja o rompimento definitivo dos vínculos
fraternais.
Por fim, com relação aos efeitos da adoção, após o trânsito em julgado, os adotantes
poderão modificar o nome do adotado, inclusive o sobrenome. Por conseguinte, nota-se que
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a adoção estabelece um novo vínculo familiar, extinguindo o anterior, através da inserção do


adotado em uma nova família, assegurando sua filiação plena, garantido todos seus direitos
como se filho biológico fosse, sem qualquer distinção.
Diante disso, se os pais adotivos vierem a falecer não haverá respaldo jurídico para
responsabilizar os genitores ao pagamento de pensão alimentícia e guarda, salvo se esses
manifestarem interesse em ajudar o menor.

2.3 Adoção à luz da Lei Nacional de Adoção de n.º 12.010 de 2009

A lei que rege o instituto da adoção no ordenamento jurídico é a Lei de nº 12.010 de


2009 que, como dito anteriormente, efetuou diversas modificações no Estatuto da Criança e
do Adolescente, bem como revogou o art. 10 do Código Civil de 2002.
O objetivo da referida lei, foi dar mais celeridade e segurança nos procedimentos de
adoção, o que infelizmente ainda não obteve tanto êxito, no que se refere à celeridade, bem
como instituiu o Cadastro Nacional de Adoção, cujo objetivo é facilitar a inserção da criança
ou do adolescente nas famílias que estejam preparadas para a adoção.
A referida lei, em seu art. 8º, com o desiderato de dar mais efetividade à adoção
prevê a possibilidade de acompanhamento de profissionais da saúde, da Assistência Social e
outros, para as genitoras que possuem interesse de doar seus filhos à adoção, para que sintam
seguradas e acolhidas, tanto durante a gravidez, quanto após o parto.
Destarte, nota-se que essa inovação é de suma relevância, pois, para que exista uma
criança disponível à adoção alguém tem que conceber, passar pelo procedimento da gravidez
e pós gravidez, o que necessita de apoio do Estado, tanto para sua saúde e a do nascituro,
quanto após a doação do menor, já que, via de regra, as genitoras só doam seus filhos para
adoção, quando enfrentam problemas familiares, de saúde ou financeiros, ou seja, quando
não se sentem preparadas para a maternidade, hipótese em que necessitam de todo um apoio
para que possam se sentirem seguras.
Outro fator importante implementado pela referida lei, é o prazo máximo que a
criança ou o adolescente pode permanecer em abrigos, prazo esse de até 2 anos, salvo
necessidade em contrário, que deverá ser notificada ao juiz responsável pela Vara da
Infância e Juventude, conforme dispõe o art. 19 da referida lei.
Ademais, dispõe a norma em comento, conforme prevê em seu art. 50 a criação de
cadastros estaduais e nacionais de crianças e adolescentes aptos a adoção, e de pessoas e
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casais habilitados, possibilitando também a habilitação de casais que residem fora do país,
como última medida, consultados nos casos de falta de postulantes que residem no país.
Insta trazer à baila, outro aspecto importante, qual seja, a necessidade dos casais ou
pessoas solteiras que pretendem adotar de se submeterem a um curso preparatório ofertado
pela Justiça da Infância e Juventude, com o objetivo de orientá-los e estimulá-los a adoção
de crianças fora do perfil escolhido pela maioria dos candidatos, como a adoção inter-racial,
adoção tardia, adoção de criança doentes, com deficiência e até mesmo grupos de irmãos
(DIAS, 2013, p. 515).
Cabe destacar que a Lei Nacional de Adoção praticamente revogou a adoção no
Código Civil, já que essa apresentava divergência com o ECA, no que se refere ao tema. A
referida norma estabeleceu o ECA como norma responsável por regulamentar a adoção de
menores de 18 anos, deixando para o Código Civil apenas estabelecer parâmetros gerais em
relação a adoção de maiores de 18 anos.
Assim, atualmente existem apenas dois arts. no CC/02 sobre a adoção, o art. 1.618,
que dispõe acerca da necessidade de observância do ECA para a adoção de crianças e
adolescentes e o art. 1.619, que prevê acerca da adoção de maiores de dezoito anos,
estabelecendo que este procedimento dependerá de assistência efetiva do Poder Público, e de
sentença constitutiva, aplicando-se, no que couber, as regras gerais do Estatuto da Criança e
do Adolescente (CUNHA, 2011, n/p).
Ante o exposto, verifica-se se que a Lei n.º 12.010 de 2009 dispõe cuidadosamente
do procedimento de adoção, visando dar mais segurança ao instituto e celeridade, a fim de
preservar, acima de tudo, o melhor interesse das crianças e adolescentes disponíveis para a
adoção, porém devido a outros fatores não atribuídos diretamente ao Estado, à adoção ainda
carece de efetividade, conforme será relatado adiante.

3. PROCEDIMENTOS LEGAIS PARA ADOÇÃO NO BRASIL

Para que o interessado em adotar uma criança ou um adolescente realize esse


objetivo, é necessário passar por determinados procedimentos indispensáveis. Dentre eles, o
denominado Cadastro Nacional de Adoção.
O Estatuto da Criança e do Adolescente determina que cada comarca ou foro
mantenha um duplo registro, isto é, um de criança e adolescente em condições de ser
adotados e outro de candidatos à adoção. A inscrição no cadastro deve ocorrer em 48 horas,
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sendo que sua alimentação e a convocação dos candidatos devem ser fiscalizada pelo
Ministério Público.
Além da listagem local, existe um cadastro estadual e nacional, para que, crianças de
um Estado possam ser adotadas por pessoas residentes em outro. Também há a previsão de
cadastro de candidatos fora do país (DIAS, 2013, p. 517).
A finalidade da lista é justamente agilizar o processo de adoção, pois se fosse
necessário aguardar crianças serem destituídas do poder familiar, para inserir no rol dos
adotáveis, para só então, proceder com à habilitação do candidato à adoção, muito tempo
passaria, o que não atenderia ao melhor interesse da criança ou do adolescente (DIAS, 2013,
p. 517).
Embora seja a regra, a exigência prévia de cadastro dos candidatos na lista, há
exceções, conforme dispõe o ECA em seu art. 50 § 13, nos casos de adoção unilateral,
formulada por parente com o qual o menor mantém vinculo de afinidade e afetividade, ou
nos casos de quem já possui a guarda ou tutela da criança maior de três anos ou adolescente,
desde que o lapso temporal de convivência comprove a existência de vínculos de afinidade e
afetividade.
Outra possibilidade de adoção sem prévio cadastro se dá nos casos que a criança é
colocada em família substituta, ocasião em que bastam os pais concordarem com o pedido, o
que pode ser formulado diretamente em cartório, sem a necessidade de advogado, bastando
tão somente ser ouvidos judicialmente, conforme dispõe o art. 166 § 1º. Em qualquer dessas
hipóteses, devem os candidatos comprovarem que preenchem os requisitos para adoção, nos
termos do disposto no art. 50 § 4º do ECA.
O procedimento para a habilitação, é de jurisdição voluntária, e a competência para
tramitação é da Vara da Infância e Juventude, não prescinde de advogado.
Por conseguinte, nota-se que o cadastro serve para organizar o procedimento da
adoção, a fim de agilizar e facilitar a concessão da medida, e não para obstaculiza-la. No
entanto, quem já estabeleceu vínculo afetivo com a criança deve ter preferência sob o
inscrito, pois o objetivo da adoção é priorizar o melhor interesse da criança ou adolescente e,
com certeza, para o menor é muito mais benéfico ser adotado por quem já possui afetividade
do que por um estranho que está com preferência no cadastro.
Na petição inicial para a habilitação, deve o candidato informar o perfil do menor que
deseja adotar, juntar uma série de documentos, dentre eles, comprovante de renda, de
endereço, atestado de sanidade física e mental, certidão de antecedentes criminais e negativa
18

de distribuição cível. O Ministério Público pode requerer a designação de audiência para


oitiva dos candidatos e possíveis testemunhas, conforme prevê o art. 197-B, II do ECA.
A inscrição dos candidatos está condicionada a um período de preparação
psicossocial e jurídica, mediante frequência obrigatória a programa de preparação
psicológica, orientação e estímulo a adoção de crianças maiores ou adolescente, com
necessidades específicas, com deficiência, grupos de irmãos, adoção tardia e outros (DIAS,
2013, p. 521).
Nessa fase, há uma exigência difícil de ser cumprida e que pode acarretar frustrações
tanto para os candidatos, quanto para as crianças, pois é obrigatório o contato entre adotante
e os menores que se encontram institucionalizados e em condições de serem adotados
(DIAS, 2013, p. 521).
Assim, além de expor os menores à visitação, podem gerar neles e nos candidatos
falsas expectativas, que, consequentemente, acarretarão frustrações. Essa obrigatoriedade,
deveria ser exigida após a habilitação, já que seria mais adequado, já que ao final, pode
ocorrer do pretendente não conseguir sequer a inscrição no cadastro, por não cumprir
determinado requisito, por isso, essa exigência deveria ser pós inscrição.
Por fim, deferida a habilitação, os candidatos são inscritos no Cadastro, cuja ordem
cronológica deve ser rigorosamente cumprida, nos termos do disposto no art. 197-E§ 1º do
ECA.
Superada a 1º fase do processo de adoção, com a inscrição do postulante no Cadastro
de Adoção, e encontrado o menor com as caraterísticas exigidas, passa então para a fase de
adoção, cuja procedimento será de jurisdição voluntária ou contenciosa.
No que se refere à competência de Varas onde tramitará o processo, Maria Berenice
Dias afirma que, tanto a adoção de maiores de dezoito anos, como a adoção de menores
tramitarão na Vara da Família, mas, a adoção de menores deverá obrigatoriamente, tramitar
na Vara da Infância e Juventude. A fixação de competência deve atender ao princípio do juiz
imediato, do juiz onde se encontra o adotando, para uma prestação jurisdicional mais célere e
eficaz (DIAS, 2013, p. 522).
A petição inicial deverá ser formulada nos termos do art. 282 do Código de Processo
Civil, conjugada com as exigências do artigo 165 do ECA, bem como em conformidade com
todos os dispositivos acerca da adoção (DOMINGOS, 2006, p. 532).
Como o ECA prevê que adoção requer o consentimento dos pais ou representante
legal, estes serão citados para, no prazo de 10 dias oferecerem contestação, indicando as
19

provas a serem produzidas e oferecendo desde logo o rol de testemunhas, nos termos do
disposto no art. 158 do ECA, prazo esse que diverge do estabelecido no CPC, de 15 dias
(DOMINGOS, 2006, p. 532).
Devem esgotar todos os meios de citação pessoal dos pais ou represente legal e na
impossibilidade, serão citados por edital, no entanto, não se plicará os efeitos da revelia nos
processos de adoção e deverá ser nomeado curador especial para defender os interesses da
criança ou do adolescente (DOMINGOS, 2006, p. 532).
É necessário também a elaboração de um relatório que será observado pelo
magistrado. Sobre o relatório minuciosos, Carla Hecht Domingos afirma que:

É fase mais importante do processo de adoção e, talvez, a mais difícil, dada a


complexidade do papel do assistente social, qual seja: de verificar a
compatibilidade daquele menor integrar aquela determinada família
substituta. Neste sentido, através da entrevista, o Assistente Social
pesquisará e enfocará: a qualificação completa dos requerentes; a
constituição familiar-financeira; a situação habitacional, sanitária e
econômico-financeira; a educação e o lazer; o relacionamento familiar
(aspectos afetivos e emocionais); as razões que determinam o pedido da
adoção; o diagnóstico social; e, por fim, fará a conclusão. A partir desses
dados definirá se a pretensa família substituta tem compatibilidade ou não
com a natureza da medida, além de avaliar se o ambiente familiar é
adequado (DOMINGOS, 2006, p. 533-534).

Nestes termos, nota-se que o relatório a ser elaborado pela equipe interprofissional é
imprescindível no processo de adoção e, por mais que a lei processual estabelece que o juiz
não está adstrito a laudo pericial, nos casos de adoção, o relatório será a prova indispensável
para que o juiz fundamente sua decisão.
Assim, caso o relatório apresente informações incompatível com a adoção,
comprovando que a família não atende às exigências legais, a sentença será de improcedência,
pois o princípio do melhor interesse da criança permeia todo o processo de adoção e, caso a
adoção seja desfavorável para o menor, dado as circunstâncias pessoais e familiar dos
postulantes, não pode ser deferida.
Diante do exposto, nota-se que, nos casos de pais vivos ter-se-á o procedimento de
jurisdição contenciosa, pois os mesmos serão citados a apresentar defesa, salvo se concordar
com a adoção (DOMINGOS, 2006, p. 538).
Mas, nos casos de pais falecidos, ou destituídos do poder familiar ou quando os
próprios genitores tiverem interesse na adoção, o procedimento de jurisdição será voluntário,
20

podendo ser formulada pelos próprios requerentes em Cartório, devendo ser ouvidos pela
autoridade judiciaria (DOMINGOS, 2006, p. 536).
Por fim, a adoção é estabelecida por sentença judicial, que dispõe de eficácia
constitutiva e produz efeito a partir de seu trânsito em julgado, no entanto, nos casos que
ocorrer o falecimento do adotante no curso do processo, a sentença retroagira à data do óbito,
desde que tenha havido inequívoca manifestação de vontade do adotante (DIAS, 2013, p.
523).
Ademais, insta salientar que a sentença judicial de adoção tem eficácia imediata, logo,
eventual recurso não terá efeito suspensivo, exceto nos casos de adoção internacional ou nos
casos de eventual risco ao menor, também não goza de efeito suspensivo a sentença que
desconstituir um ou ambos os genitores do poder familiar (DIAS, 2013, p. 523).
Aplica-se nos casos de recurso o disposto no CPC, esses recursos independem de
preparo, e o prazo é de 10 dias, salvo nos embargos de declaração. O recurso tem prioridade
absoluta e o julgamento deve ocorrer dentro de 60 dias (DIAS, 2013, p. 523).
Pelo Exposto, verifica-se que há duas fases no processo de adoção, a primeira diz
respeito à habilitação para inscrição no Cadastro Nacional de Adoção e a segunda fase dá
início, após o postulante encontrar a criança com o perfil exigido, ocasião em que ajuizará o
pedido de adoção.

3.1 O resultado do processo de adoção no Brasil, no que tange à efetividade

Conforme relatado acima, existem diversos procedimentos no processo de adoção para


garantir os direitos fundamentais e o melhor interesse da criança e do adolescente, porém, no
que se refere a efetividade e celeridade ainda existe muita discussão e controvérsias.
Sobre isso, a problemática da pesquisa visa responder se o processo de adoção
apresenta-se efetivo e célere, na busca de garantir as crianças e adolescentes em condições de
adoção uma nova família.
No entanto, apesar de apresentar uma série de garantia ao adotando, infelizmente o
processo de adoção no Brasil ainda carece de efetividade, pois estendem-se por longos
períodos no Poder Judiciário, tornando, cada dia que passa, mais difícil para os menores que
esperam ansiosos por uma nova família, bem como para os postulantes que apostam na
adoção a realização do sonho da paternidade ou maternidade.
21

Leandro Barreto e Brenda Neves afirmam que “a adoção é um meio de inserção e de


acolhimento. É um ato de amor. É um procedimento que busca ao máximo fazer com que,
crianças e adolescentes não percam um direito que deveria ser de todos sem distinção: o
direito a convivência familiar” (GOMINHO E NUNES, 2019, n/p).
Se existem mais pessoas com interesse na adoção do que crianças disponíveis e ainda
assim muitas crescem em abrigos e seus sonhos de ter uma família tornam-se cada vez mais
escasso, é preciso constatar o que vem impedindo essas crianças de ter uma nova família, para
que seja garantida a todas, o direito constitucional e humano à convivência familiar.
Há vários problemas que geram essa morosidade no procedimento de adoção, dentre
eles, as exigências dos candidatos em relação ao perfil do menor, que pretendem adotar; já
que, os postulantes acabam dando preferências à crianças do sexo feminino, de no máximo
três anos de idade, outro fator constatado por pesquisas realizadas em diversos setores como
Promotoria, Defensoria, Poder Judiciário, Orfanatos, Conselho Nacional de Justiça e pelo
Cadastro Nacional de Adoção) constataram que a demora na efetivação da adoção é que os
prazos não são cumpridos, ou quando são, extrapolam o limite estabelecido pela legislação
(GOMINHO E NUNES, 2019, n/p).
Os que questionam a lentidão do procedimento de adoção apontam a burocratização
do processo judicial e a morosidade do Poder Judiciário. Porém, Rosa Geane Nascimento,
magistrada da 16ª Vara da Infância e Juventude de Aracaju (SE), discorda desse apontamento,
e considera que a adoção, não é burocrática, afirmando que a demora não paira no processo
em si, mas sim, em problemas criados pelos próprios candidatos, qual seja, o perfil exigido
pela maioria. Segundo a magistrada, tanto o processo de habilitação, quanto o de adoção tem
prazo máximo de 120 dias (FREITAS, 2018, n/p).
Divergindo do entendimento da nobre magistrada, Maria Berenice Dias critica a
burocratização, afirmando que a Lei Nacional de Adoção foi editada com intuito de agilizar o
procedimento de adoção e reduzir o tempo de espera das crianças em abrigos, mas, não faz jus
ao nome, pois só veio dificultar o processo de adoção. Busca dar preferência à família
biológica, o que leva o Poder Judiciário a despender muito tempo buscando encontrar algum
parente que deseja ficar com o menor. (DIAS, 2013, p. 516)
Segundo Maria Berenice Dias:

A chamada Lei de Adoção não consegue alcançar os seus propósitos. Em


vez de agilizar a adoção, acaba por impor mais entraves para sua concessão,
tanto que onze vezes faz referência à prioridade da família natural (L
22

12.010/09 1.º § 1.º e ECA 19, § 3.º, 39 §1.º 50 § 13 II, 92 I e II, 100,
parágrafo único X 101 §§1.º, 4.º, 7.º, 9.º). Claro que ninguém questiona que
o ideal é crianças e adolescentes crescerem junto a quem os trouxe ao
mundo. Mas é chegada a hora de acabar com a visão romanticamente
idealizada da família biológica (DIAS, 2013, p. 516).

Diante disso, verifica-se que, infelizmente, existe burocracia no processo de adoção,


que acaba atrapalhando a celeridade do procedimento. Não significa, necessariamente que
manter o menor na família natural, ou em família extensa atenderá melhor seus interesses,
pois a depender do caso concreto, encontrar uma nova família para o menor, atenderá muito
mais seus interesses, e isso deve ser constatado no caso concreto. Ademais, questiona Maria
Berenice Dias:

O filho não é uma “coisa”, um objeto de propriedade da família biológica.


Quando a convivência com a família natural se revela impossível ou é
desaconselhável, melhor atende ao interesse de quem a família não deseja,
ou não pode ter consigo, ser entregue aos cuidados de quem sonha
reconhecê-lo como filho. A celeridade deste processo é o que garante a
convivência familiar, direito constitucionalmente preservado com absoluta
prioridade. (CF 227), Para esse fim – e infelizmente – não se presta a nova
legislação, que nada mais fez do que burocratizar e emperrar o direito à
adoção de quem teve a desdita de não ser acolhido no seio da sua família
biológica (DIAS, 2013, p. 516).

Como se vê, a adoção se tornou medida excepcional, e só deve ser recorrida para os
casos em que restarem esgotados todos os recursos de manutenção da criança ou adolescente
na família natural ou extensa. Devido isso, a Lei Nacional de Adoção não consegue alcançar
seu propósito.
Para mais, existe apontamento na dificuldade de cumprir rigorosamente os prazos
processuais, em todo o tipo de processo, o que não é diferente no processo de adoção. Assim,
é difícil acreditar que esses prazos são cumpridos rigorosamente, tendo em vista que depende
não só do Poder Judiciário, mas de uma equipe interprofissional, o que acaba por dificultar o
cumprimento dessa exigência. O Judiciário, o Ministério Público com a demanda exacerbada
de processo, vem enfrentado um caos crítico de lentidão, difícil de ser abolida.
A demanda exacerbada de processo no Judiciário é um problema social, que precisa
ser resolvido, mas, que requer uma conscientização por parte da sociedade, que acaba levando
tudo para discussão judicial, e o que era para ser exceção, acaba sendo regra. O Poder
Judiciário é para ser provocado quando outros meios alternativos não puderem resolver a
demanda, no entanto, tem se tornado regra.
23

Porém, de forma paulatina, o Judiciário vem buscando meios de diminuir o excesso de


processo, criando, por exemplo, centro de conciliação e resolução de conflito com
conciliadores e mediadores, para que as lides sejam resolvidas diretamente pela parte, sem
necessidade de intervenção do magistrado, que apenas homologa as decisões das partes. Há
também, a criação em diversas Comarcas no cejusc de meios pré processuais, de tentativa de
resolução de conflito, através de conciliadores.
Isso já tem si mostrado uma evolução, contudo, mas, é necessário que a sociedade se
conscientize da necessidade de auto resolver determinadas demandas, que, com
conscientização, reeducação e respeito com o direito do outrem possa resolver, sem
necessidade de recorrer ao Judiciário para tudo.
Ademais, no que diz respeito às exigências dos candidatos em relação ao perfil dos
menores, tem se mostrado um problema difícil de solucionar, que depende tão somente de
conscientização, solidariedade com crianças e adolescentes que são excluídos pela maioria,
por serem portadoras de necessidades especiais, maiores de 6 anos, negras, ou que tenham
irmãos e não podem se separar. Sobre o assunto, Yasmin de Freitas comenta:

No Brasil, embora muitos pretendentes tenham se aberto para a possibilidade


de ampliar a faixa etária de seus perfis, mais de 50% ainda só aceitam
crianças com até três anos. Nestes casos, a espera será maior, porque além de
já existirem muitas pessoas também no aguardo por esse perfil, entre as 4.902
crianças disponíveis para adoção, apenas 2,5% delas se encaixam nessa faixa
etária. Assim, quanto mais se aumenta a abrangência do perfil, menor é o
tempo de espera (FREITAS, 2018, n/p).

Portanto, como relatado acima, 50% dos postulantes ainda exige criança de até três anos, o
que faz com outras crianças que não encaixam nesse perfil, e acabam passando muito tempo em
casas de abrigo, à espera de adoção, o que pode acarretar uma série de problemas psicológicos,
culpa, frustações e, quando acabam adotados, carregam consigo uma carga negativa que pode até
trazer problemas com sua nova família, pois o sentimento de rejeição não acaba da noite para o dia.
Outro fator que vem gerando discussão, diz respeito a redução dos prazos processuais
no processo de adoção, visando garantir uma maior celeridade. Inclusive, em novembro de
2017 foi sancionada a Lei 13.509, que visa reduzir esses prazos processuais.
No entanto, não se pode permitir que a busca por efetividade comprometa a qualidade
do serviço prestado nesses processos, por isso, é necessária muita cautela, principalmente para
evitar prejuízo às crianças, pois se forem adotadas por famílias que não estejam preparadas,
pode acarretar prejuízos irreparáveis a esses menores.
24

Outro fator que acarreta morosidade, é a priorização da criança na família natural ou


extensa, o que defere à adoção, caráter excepcional. Assim, para que seja decretada a
destituição do poder familiar, há uma ordem de medidas a serem tomadas, a primeira delas, diz
respeito a averiguação da possibilidade de reinserir o menor em sua família, ou seja,
comprovado a impossibilidade dos genitores ficarem com o menor, passa-se à análise de outros
parentes mais distantes, tais como irmãos do menor se houver, avós, tios, primos etc
(FREITAS, 2018, n/p).
Superada essa primeira análise, passa-se a averiguação de familiares de pessoas que o
menor tenha laços de afetividade, caso reste infrutíferas todas as tentativas, há a destituição do
poder familiar, esse procedimento tem prazo de 120 dias para conclusão, porém, nem sempre é
possível cumprir esse prazo. Após a destituição, a criança é inscrita no Cadastro Nacional de
Adoção.
Em muitos casos, os processos de adoção são cumulados com o de destituição do poder
familiar, e quando os genitores residem em Municípios ou Estados diferente dos postulantes, a
dificuldade de citação dos mesmos acabam por carretar morosidade a esses processos, já que
os pais, obrigatoriamente, devem compor o polo passivo da demanda, devem manifestar, bem
como devem passar por estudo social, a fim de evitar prejuízos, e caso se arrependam, podem
inclusive recorrer da demanda nos casos de destituição do poder familiar (FREITAS, 2018,
n/p).
Outro fator que acabam acarretando morosidade nos processos de adoção em
determinadas comarcas, se dá em razão da escassez de profissionais que integram a equipe
interprofissional, que são extremamente relevantes para o processo de adoção.
Em muitos Estados faltam assistentes sociais e psicólogos, profissionais que
desempenham papeis importantíssimos dentro do processo, já que avaliam se os postulantes
cumprem os requisitos exigidos por lei, para adoção, e acompanham o processo de adaptação
da criança, e, na falta deles devem ser nomeados outros profissionais de confiança do
magistrado que, poderão não ter a mesma experiência dos profissionais destinados a esses
serviços (FREITAS, 2018, n/p).
Segundo dados do Cadastro Nacional de Adoção de 2019, no que se refere à crianças e
adolescentes que aguardam adoção, existem no país 5.021 crianças e adolescentes aguardando
famílias substitutas, sendo 496 somente no Paraná (dados de maio de 2019) (BRASIL,
MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ, 2019, n/p).
25

O que preocupa é que dessas 5.021 crianças e adolescentes cadastrados no CNA,


91,94% tem mais de seis anos de idade; 19% são negras e 35,21% tem problemas de saúde ou
deficiência, o que dificulta indiscutivelmente a adoção. Ou seja, quase todas as crianças aptas
a adoção, infelizmente não se enquadram no perfil exigido pelos candidatos (BRASIL,
MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ, 2019, n/p).
Ainda, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) há 42.480 pretendentes
à adoção, 86,73% não aceitam adotar crianças com mais de 06 anos, 44,53% não querem
adotar crianças negras e 62,01% não adotariam crianças portadoras de necessidades especiais
ou outros problemas de saúde (BRASIL, MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ, 2019, n/p).
Infelizmente, é lastimável esses dados, pois se existem tão poucas crianças disponíveis
para adoção, em comparação ao número de candidatos inscritos, por que a maioria das
crianças permanecem por muito tempo em abrigo ou passam toda sua infância
institucionalizada?
Diante dos dados apresentados, percebe-se que a falta de efetividade do processo de
adoção vai muito além da morosidade do Poder Judiciário, da falta de profissionais que
integram a equipe interprofissional, ou da dificuldade e morosidade da destituição do poder
familiar. O problema maior paira na exigência do perfil escolhido pelos mais de 90% dos
candidatos inscritos no CNA.
É lamentável, que crianças especiais, negras ou maiores de seis anos sejam rejeitadas
pela maioria dos candidatos inscritos no CNA, que sonham ter filhos por adoção.
O afeto é um elemento determinante nas relações familiares e interpessoais, e na Carta
Constitucional está intrínseca à dignidade da pessoa humana, e é interpretado pelos juristas
como algo determinante e como um direito fundamental (OLIVEIRA, ET AL, 2018, n/p).
Por conseguinte, o afeto não está relacionado a cor da pele, a saúde física ou mental, a
faixa etária. A afetividade que permeia o instituto da adoção, é intrínseca ao amor, amor pelo
próximo, solidariedade e cuidado com alguém que precisa ser inserido em uma nova família,
que precisa de uma oportunidade para ser feliz, e não a questões de aparência, cor da pele ou à
saúde. Afetividade, vai muito além.
Mas, infelizmente, essas pessoas não sabem o que de fato a afetividade representa, elas
mesmas criam barreiras impeditivas do afeto com essas crianças inocentes, sofredoras e
rejeitadas.
É preciso haver o incentivo à adoção tardia, à adoção de crianças especiais para que a
conta comece a fechar, se as pessoas esperam ansiosamente por filhos por adoção, por que
26

exigir perfil tão insignificante como esses? De fato, infelizmente a maioria dessas crianças e
adolescentes se tornarão adultos sem encontrarem uma nova família, o que representa um
trauma insuperável para a maioria.
Lamentavelmente, as pessoas não param para pensar que pequenos gestos tornariam
seus sonhos e de muitas crianças realidade, e somente no dia 25 de maio essa discussão vem à
tona, ou seja, no dia nacional da adoção.
É preciso conscientização não só dos candidatos, mas de toda a sociedade, pois é
difícil para os pais adotivos verem seus filhos sofrendo preconceito por serem adotivos, por
serem negros, quando eles são brancos. Infelizmente, a sociedade ainda tem preconceito com
filhos por adoção, o que é lastimável.
Existem iniciativas que podem amenizar o sofrimento dessas crianças e adolescentes
nas instituições, como os projetos de apadrinhamento. Essas iniciativas são de extrema
relevância e representam muito para esses menores (BRASIL, MINISTÉRIO PÚBLICO DO
PARANÁ, 2019, n/p).
Por isso, é importante cobrar do Poder Público providências, inclusive com destinação
de verbas para custear esses projetos e exigir da sociedade comprometimento com essa
questão, que se trata de um problema social, que indiscutivelmente trarão prejuízos futuros
para essas crianças e adolescentes na fase adulta, e até mesmo para a sociedade.
Na rede paranaense de comunicação, foi desenvolvido pelas Varas da Infância e da
Juventude e pelas Promotorias de Justiça, um projeto denominado, “cuida de mim”. Essa
iniciativa objetiva encontrar padrinhos para adolescentes nos termos do disposto no art. 19-B
ECA, com divulgação de imagem desses jovens para que as pessoas tomem conhecimento da
existência desses menores (BRASIL, MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ, 2019, n/p).
Ante o exposto, nota-se que é preciso um comprometimento dos três Poderes, no que
se refere à adoção, com intuito de desburocratizar o que ainda apresenta-se burocrático,
desenvolver projetos visando uma maior conscientização e comprometimento de toda a
sociedade com essas crianças e adolescentes institucionalizados em abrigos, para que não haja
discriminação em relação a cor, sexo, idade, grupos de irmãos e deficiência.
Que essas discriminações seja apenas um problema do passado, e que a conta comece
a fechar, a ponta de terem candidatos disponíveis sem ter nenhuma criança aguardando ser
adotadas, pelo menos é o que se deve esperar, pois se existe muito mais pretendentes a
adoção, não deveria haver crianças aguardando adoção, e que tudo isso não seja uma utopia,
mas sim, uma realidade bem próxima.
27

Na tentativa de tornar essa utopia realidade, existe um projeto do Senado, de autoria


do Senador Randolfe Rodrigues de n.º 394 de 2017, com o objetivo de instituir um estatuto
próprio para a adoção, que se encontra desde o dia 29/03/2019 na Comissão de Constituição,
Justiça e Cidadania (Secretaria de Apoio à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania).
O objetivo desse projeto é facilitar e desburocratizar o processo de adoção, no entanto,
já vem recebendo críticas. Contudo, se for aprovado e relativizar algumas garantias, em prol
de efetivar o direito desses menores à convivência familiar, será muito válido, desde que não
exponham os mesmos em situação de risco, com famílias despreparadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O instituto da adoção no Brasil se evoluiu significativamente com o advento da


Constituição Federal de 1988, que instituiu normas proibitivas de distinção entre filhos
biológicos e por adoção, assegurando a esses todos os direitos inerentes àqueles.
Ademais, a Lei Nacional de Adoção, também representa um marco importantíssimo
para o instituto da adoção, já que transferiu as regulamentações atinente ao tema, do Código
Civil para o Estatuto da Criança e do Adolescente, criando uma série de garantias, a fim de
preservar o melhor interesse do adotando.
Houve diversas mudanças importantes, com a edição da Lei Nacional de Adoção, tais
como a criação do Cadastro Nacional de Adoção, que indiscutivelmente, facilitou o
procedimento, já que, tanto as crianças quanto os postulantes são inscritos nesse cadastro, que
possui lista local, estadual e nacional, inclusive internacional.
Criou obrigações para o Estado, no que se refere ao acompanhamento das gestantes,
com auxilio necessário nos casos em que essas manifestam interesse em disponibilizar os
recém nascidos à adoção; estipulou prazo máximo para abrigamento dos menores; trouxe a
inovação da família extensa, ou seja, tios, primos, avós etc, que terão prioridades para ficar
com o menor; regulamentou o direito do adotado em conhecer sua família biológica, inclusive
ter acesso aos autos do processo, além de inovação na habilitação previa à adoção.
Assim, nota-se que a referida lei trouxe um avanço indiscutível para adoção, no
entanto, seu principal objetivo de dar celeridade e efetividade aos processos de adoção ainda
carece de efetividade, já que em certos pontos acabou por instituir mais burocracia, que,
consequentemente, acarreta morosidade a esses processos.
28

Ademais, conforme relatado acima, o problema de institucionalização de crianças em


abrigo é um problema social, de toda a sociedade e a referida norma, apesar de ter estipulado
prazo máximo para permanência dessas crianças em abrigos, não consegue resolver esse
problema.
Caso esgote este prazo, se a família extensa do menor não puder ou não quiser o
mesmo, e se não houver pretendentes para adotá-los, infelizmente eles vão permanecer em
abrigos até que sejam adotados.
O problema maior a ser enfrentado, conforme dados do Conselho Nacional de Justiça,
diz respeito aos perfis exigidos pelos candidatos. Neste ano, há 5.021 crianças e adolescentes
aguardando adoção, e 42.480 candidatos que querem adotar, porém, 86,73% não aceitam
adotar crianças com mais de 06 anos, 44,53% não querem adotar crianças negras e 62,01%
não adotariam crianças portadoras de necessidades especiais. E das crianças disponíveis
91,94% estão fora do perfil exigido pelos candidatos, ou seja, quase todas as crianças aptas à
adoção são rejeitadas pelos candidatos.
O maior problema está no preconceito com crianças negras, doentes e especiais, bem
como crianças mais velhas, se não houver programas eficaz de conscientização desses
postulantes a adoção dessas crianças rejeitadas, o procedimento da adoção jamais terá a
efetividade que se espera.
É preciso desburocratizar o procedimento, naquilo que se apresenta burocrático,
conscientizar e até mesmo oferecer incentivos a adoção desses menores, para que, o quanto
antes essas crianças tenham assegurado seu direito fundamental à convivência familiar.
29

REFERÊNCIAS

BRASIL, Código Civil. Lei nº. 10.402, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>.
Acesso em mai. de 2019.

________. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Diário


Oficial da União. Disponível em:
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