28 expressa-se pelos mecanismos psicofísicos (atos de fonação) necessários à produção dessas combinações. A distinção linguagem/língua/fala situa o objeto da Lingüística para Saussure. Dela decorre a divisão do estudo da linguagem em duas partes: uma que investiga a língua e outra que analisa a fala. As duas partes são inseparáveis, visto que são interdependentes: a língua é condição para se produzir a fala, mas não há língua sem o exercício da fala. Há necessidade, portanto, de duas Lingüísticas: a Lingüística da língua e a Lingüística da fala. Saussure focalizou em seu trabalho a Lingüística da língua, “produto social depositado no cérebro de cada um”, sistema supra-individual que a sociedade impõe ao falante. Para o mestre genebrino, “a Lingüística tem por único e verdadeiro objeto a língua considerada em si mesma, e por si mesma”. Os seguidores dos princípios saussureanos esforçaram- se por explicar a língua por ela própria, examinando as relações que unem os elementos no discurso e buscando determinar o valor funcional desses diferentes tipos de relações. A língua é considerada uma estrutura constituída por uma rede de elementos, em que cada elemento tem um valor funcional determinado. A teoria de análise lingüística que desenvolveram, herdeira das idéias de Saussure, foi denominada estruturalismo. Os princípios teórico- metodológicos dessa teoria ultrapassaram as fronteiras da Lingüística e a tomaram “ciência piloto” entre as demais ciências humanas, até o momento em que se tomou mais contundente a crítica ao caráter excessivamente formal e distante da realidade social da metodologia estruturalista desenvolvido pela Lingüística. Em meados do século XX, o norte-americano Noam Chomsky trouxe para os estudos lingüísticos uma nova onda de transformação. Chomsky propõe uma definição de linguagem de como UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA 29 um conjunto (finito ou infinito) de sentenças, cada uma finita em comprimento e construída a partir de um conjunto finito de elemento. Essa definição abrange muito mais do que as línguas naturais, mas também todas as línguas naturais são, seja na forma falada, seja na escrita, linguagens, no sentido de sua definição, visto que toda língua natural possui um número finito de sons (e um número finito de sinais gráficos que os representam, se for escrita); mesmo que as sentenças distintas da língua sejam em número infinito, cada sentença só pode ser representada como uma seqüência finita desses sons (ou letras). Cabe ao lingüista que descreve qualquer uma das línguas naturais determinar quais dessas seqüências finitas de elementos são sentenças, e quais não são, isto é, reconhecer o que se diz e o que não se diz naquela língua. A análise das línguas naturais deve permitir determinar as propriedades estruturais que distinguem a língua natural de outras linguagens. Chomsky acredita que tais propriedades são tão abstratas, complexas e específicas que não poderiam ser aprendidas a partir do nada por uma criança em fase de aquisição da linguagem. Essas propriedades já devem ser “conhecidas” da criança antes de seu contato com qualquer língua natural e devem ser acionadas durante o processo de aquisição da linguagem. Para Chomsky, portanto, a linguagem é uma capacidade inata e específica da espécie, isto é, transmitida geneticamente e própria da espécie humana. Assim sendo, existem propriedades universais da linguagem, segundo Chomsky e os que compartilham de suas idéias. Esses pesquisadores dedicam-se à busca de tais propriedades, na tentativa de construir uma teoria geral da linguagem fundamentada nesses princípios. Essa teoria é conhecida como gerativismo. UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA 30 Assim como Saussure - que separa língua de fala, ou o que é lingüístico do que não é - Chomsky distingue competência de desempenho. A competência Lingüística é a porção do conhecimento do sistema lingüístico do falante que lhe permite produzir o conjunto de sentenças de sua língua; é um conjunto de regras que o falante construiu em sua mente pela aplicação de sua capacidade inata para a aquisição da linguagem aos dados lingüísticos que ouviu durante a infância. O desempenho corresponde ao comportamento lingüístico, que resulta não somente da competência Lingüística do falante, mas também de fatores não lingüísticos de ordem variada, como: convenções sociais, crenças, atitudes emocionais do falante em relação ao que diz, pressupostos sobre as atitudes do interlocutor etc., de um lado; e, de outro, o funcionamento dos mecanismos psicológicos e fisiológicos envolvidos na produção dos enunciados. O desempenho pressupõe a competência, ao passo que a competência não pressupõe desempenho. A tarefa do lingüista é descrever a competência, que é puramente Lingüística, subjacente ao desempenho. A língua - sistema lingüístico socializado - de Saussure aproxima a Lingüística da Sociologia ou da Psicologia Social; a competência - conhecimento lingüístico internalizado - aproxima a Lingüística da Psicologia Cognitiva ou da Biologia. Alguns nos após a divulgação do modelo de Shanon, Bertil Malmberg (1969) e Roman Jakobson (1969), apresentam suas propostas. A preocupação de Jakobson e Malmberg é “completar” ou “ampliar” as propostas anteriores, para que pudesse ser usado para a comunicação verbal, o modelo de comunicação excessivamente simplificado da teoria da informação, da teoria da comunicação ou da cibernética, ou dele aproveitar apenas os elementos necessários ao exame da comunicação humana. “Caixas” são assim acrescentadas ou excluídas. UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA 31 Para Jakobson, na esteira dos estudos sobre a informação, há na comunicação um remetente que envia uma mensagem a um destinatário, e essa mensagem, para ser eficaz, requer um contexto (ou um “referente”) a que se refere, apreensível pelo remetente e pelo destinatário, um código, total ou parcialmente comum a ambos, e um contato, isto é, um canal físico e uma conexão psicológica entre o remetente e o destinatário, que os capacitem a entrar e a permanece em comunicação. Bertil Malmberg e Roman Jakobson foram responsáveis pelo processo de reformulação do modelo de comunicação. Os autores ampliam o modelo com a representação do código, situando a atualização das unidades lingüísticas entre o código e o emissor; introduzem também a preocupação com a relação do emissor e elementos extralingüísticos. O modelo resultante dessa ampliação é um dos mais conhecido entre os estudiosos da linguagem na atualidade. Confira na figura 1, a seguir: LOCUTOR => DISCURSO => RESPOSTA DO OUVINTE
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DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA 32 Quadro 2: Modelo do processo de comunicação, segundo Roman Jakobson. Se as propostas de Jakobson ampliam o modelo da teoria da informação, sobretudo no que diz respeito aos códigos e subcódigos e à variação lingüística, sua contribuição mais conhecida e igualmente relevante para o estudo da comunicação está relacionada com a questão da variedade de funções da linguagem. Jakobson mostrou que a linguagem deve ser examinada em toda a variedade de suas funções, e não apenas em relação à função informativa (ou referencial ou denotativa ou cognitiva), que, por ser a função dominante em certo tipo de mensagem e por ser a que interessa ao teórico da informação, foi, muitas vezes, no século XX principalmente, considerada a única ou a mais importante. UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA 33 1.4 FUNÇÕES DA LINGUAGEM As funções da linguagem propostas por Jakobson partem da consideração do modelo de comunicação acima, focalizando cada um dos elementos presentes na comunicação. Assim, em qualquer processo comunicativo, alguns elementos assumem papel central e são mais focalizados do que os outros. A função da linguagem que ganha destaque é, por isso, aquela que melhor se adequa à centralidade de qualquer um dos itens constantes no processo comunicativo. O realce particular de cada um dos componentes do modelo comunicativo é feito a partir de uma das funções da linguagem, apresentadas nas figuras a seguir: Figura 2: Esquema de comunicação UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA 34 A função referencial, ou informativa, é centrada no componente contextual da comunicação, focando o conteúdo da mensagem, ou seja, apresenta a informação a ser veiculada de modo objetivo e claro, sem fazer referência ao emissor ou destinatário. Esta função é a mais encontrada no discurso jornalístico e acadêmico. Figura 3: Elementos da Comunicação/Funções da linguagem Fonte: www. jackbran.pro.br JORNAL ESPANHOL NOTICIA PRIVATIZAÇÃO DE PARTES DA AMAZÔNIA O diário El Pais afirma que o presidente Lula deu sinal verde para o início da privatização de parte da floresta brasileira. O jornal espanhol ressalta que Lula sempre foi contra as privatizações, assim como o PT, mas se rendeu aos problemas insolúveis relativos à preservação da Amazônia. Segundo o El Pais, o objetivo do governo brasileiro é inibir o desmatamento com a chegada de empresas para a extração de madeira e outros produtos de forma sustentável. Uma área de 90 mil hectares de floresta amazônica em Rondônia seria a primeira a ser privatizada, já em 2008. (Fonte: opiniaoenoticia.com.br/) UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA 35 A função emotiva centra-se no emissor da mensagem. As estratégias lingüísticas encontradas nessa função destacam o remetente como parte do conteúdo veiculado, expressando, o caráter emocional e afetivo do enunciador. Os efeitos dessa função são a subjetividade e proximidade do sujeito que veicula a mensagem do conteúdo desta. Esta função predomina em textos que destacam o eu-lírico ou o próprio enunciador, como as poesias. A função conativa procura organizar o texto de forma a que se imponha sobre o receptor da mensagem, persuadindo-o, seduzindo-o. Nas mensagens em que predomina essa função, busca-se envolver o leitor com o conteúdo transmitido, levando-o a adotar este ou aquele comportamento. da linguagem focalizada o destinatário. Essa função é bastante utilizada quando agimos sobre o outro, dando conselhos, fazendo perguntas, pedidos e ordens. Outro uso bastante comum da função conativa é na linguagem da publicidade em que se procura convencer e persuadir o destinatário, produzindo nele comportamentos desejados. Atinja suas metas comerciaisMultiplique cada dólar investido. Atingimos lucro máximo com o mínimo de investimento. UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA 36 A função fática diz respeito ao fato de que usamos certos signos para chamar a atenção (ruídos como psiu, ahn, ei), ocorrendo quando a mensagem se orienta sobre o canal de comunicação ou contato, buscando verificar e fortalecer sua eficiência. da linguagem centra-se na utilização do canal de contato entre emissor e destinatário. Os efeitos dessa função são a aproximação entre os interlocutores, produzindo interesses comuns, e efetivando a manutenção da interação. A função poética da linguagem se manifesta quando a mensagem é elaborada de forma inovadora e imprevista, utilizando combinações sonoras ou rítmicas, jogos de imagem ou de idéias. Essa função é capaz de despertar no leitor prazer estético e surpresa. A língua é utilizada para produzir mensagens que chamem à atenção o destinatário pela forma como são construídas, elaboradas. A publicidade, assim como a literatura, são formas de uso da língua em que se encontra com mais freqüência a aplicação dessa função. UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA 37 A função metalingüística se caracteriza quando a linguagem se volta sobre si mesma, transformando-se em seu próprio referente. Geralmente o entendimento da metalingüística se define pelo fato de o código se tornar objeto da comunicação, possibilitando assim sua avaliação, sua adequação, e sua significação no processo comunicativo. A metalingüística é encontrada nos glossários e dicionários. Pirâmide s.f. Monumento de base retangular e quatro faces triangulares, que formam uma ponta na extremidade superior. / Fig. Amontoamento de objetos em forma de pirâmide. / Apresentação de acrobacia em que umas pessoas se apóiam sobre outras, formando uma espécie de pirâmide. // Pirâmide das idades, representação gráfica das idades de um grupo humano (geralmente um estado), apresentando-se em abscissas negativas o número dos homens e em abscissas positivas o número das mulheres. // Anatomia. Pirâmide de Malpighi, elemento cônico que forma a substância medular do rim. // Matemática. Pirâmide regular, a que tem por base um polígono regular e cujo vértice se projeta ao centro desse polígono. (As faces de uma pirâmide regular são triângulos isósceles iguais.) (A área lateral de uma pirâmide regular tem por valor o semiproduto do perímetro de sua base por seu apótema. O volume de uma pirâmide é igual à terça parte do produto da superfície da base pela altura.)