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Introdução ao Direito

PARTE I
TEORIA GERAL DO ESTADO

1. ESTADO:

Pessoa coletiva de Direito Público constituído por uma comunidade humana que exerce poder político,
num determinado território. É dotado de autoridade, soberania e coercibilidade.

A) Espaço de atuação do estado:

ELEMENTOS DO ESTADO

POVO TERRITÓRIO PODER POLÍTICO

Elemento humano do Estado: Elemento que estabelece Elemento estruturante do


conjunto de todos e não apenas fronteiras geográficas da Estado: consagra, disciplina e
de uma classe fixação com carácter sedentário ordena juridicamente a
de uma coletividade organização política da
coletividade, com a
consagração das instituições
jurídico-políticas

B) Soberania:

A Soberania reside no Povo.


Entidade que não conhece igual na ordem interna nem superior na ordem externa. Para que um sujeito
internacional possa ser considerado soberano deve possuir a faculdade de:
 Celebrar convenções internacionais
 Enviar e receber representantes diplomáticos
 Fazer a guerra e assinar a paz

C) Estados soberanos VS Estados não soberanos

Estado soberano: corresponde um poder político supremo e pleno.


Estado não soberano: o Estado sofre algumas limitações. Exemplos:
 Estados federados (50 Estados da federação norte-americana) que abdicam da sua soberania a
favor do Estado federal
 Estados protegidos (Mónaco/França): conservam parte da sua soberania dentro de limites
estipulados no estatuto de proteção. Parte da sua capacidade jurídica internacional é
transferida para o Estado protetor.
 Estados vassalos (Andorra): perdem grande parte da sua soberania em prole do Estado
soberano.

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1.1. AS DIFERENTES FORMAS DE ESTADO

ESTADOS

ESTADOS UNITÁRIOS ESTADOS COMPOSTOS

 Atribuição de funções a órgãos nacionais


 1 Constituição  São Estados formados por Estados
 As grandes instituições são comuns a todo o país  Possuem vários centros de impulsão política
 Possuem um único centro de impulso político

ESTADOS UNITÁRIOS ESTADOS UNITÁRIOS UNIÃO PESSOAL


SIMPLES COMPLEXOS Dois ou mais Estados têm o mesmo Chefe de Estado

UNIÃO REAL
Existe uma identidade governativa com órgãos comuns a dois
ESTADOS CENTRALIZADOS Várias entidades Estados. Os Estados isolados abdicam da capacidade
descentralizadas com internacional a favor da União. Ex. União entre Portugal e Brasil
 Total centralização da diferentes graus de no anterior Ultramar e antes da independência da colónia
titularidade e do poder autonomia mas com uma brasileira
político única Constituição

 Não há divisão de
competências nem
autonomia ESTADO FEDERAL E ESTADOS FEDERADOS
ESTADOS
Os Estados Unitários unem-se em benefício de um novo Estado
DESCENTRALIZADOS
(Estado Federal). Esses estados unitários transformam-se em
 Coletividades com poder
estados federados.
de se autogovernarem;
 Divisão de poderes por
O Estado Federal tem competências ao nível das relações
outros órgãos
externas, defesa nacional, orçamentos e receitas. Garante a
ESTADOS administrativos sujeitos a
participação dos Estados Federados.
DESCONCENTRADOS um poder tutelar pelos
Os Estados Federados mantêm estrutura política própria, uma
 Repartição de órgãos centrais do Estado
Constituição política, uma organização do poder e uma
competências entre os (autarquias locais, RA)
estrutura jurídica próprias (princípio da autonomia).
órgãos administrativos
centrais e os serviços da
EXEMPLO: os EUA – Estado Federal composto por 50 Estados
Administração Pública;
Federados
 Diferentes níveis de
carácter administrativo e
os serviços estão sujeitos CONFEDERAÇÃO
a um poder hierárquico Associação de Estados soberanos cujas atribuições são comuns
e dirigidas por estruturas coletivas, mas não abdicam da sua
soberania e independência.

Os laços existentes entre os Estados Confederados são menos


intensos do que os que existem entre os Estados Federados

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PORTUGAL: é um Estado Unitário Descentralizados, Desconcentrado e Parcialmente Regionalizados


porque é governado constitucionalmente como uma unidade única, dotado de apenas uma
Constituição, com o poder de se autogovernar, com uma repartição de competências entre os vários
órgãos administrativos centrais e com duas parcelas de território com competências próprias legislativas
(Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira).

1.2. AS FUNÇÕES DO ESTADO

O ESTADO POSSUI:

TAREFAS ACTIVIDADES OU FUNÇÕES

 Garantir a independência nacional e criar condições Conjunto de atos destinados à


políticas, económicas, sociais e culturais que a promovam prossecução de um fim comum ou
 Garantir direitos e liberdades fundamentais e o respeito semelhante.
pelos princípios do Estado de direito democrático
 Defender a democracia política, assegurar e incentivar a TRÊS GRUPOS DE FUNÇÕES DO
participação democrática dos cidadãos na resolução dos ESTADO:
problemas nacionais
 Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a  Função política em sentido amplo
igualdade real entre os portugueses, bem como a (inclui função legislativa e a
efetivação dos direitos económicos, sociais, culturais e função governativa ou política)
ambientais  Função administrativa
 Proteger e valorizar o património cultural do povo  Função jurisdicional
português, defender a natureza e o ambiente, preservar os
recursos naturais e assegurar um correto ordenamento do
território
 Assegurar o ensino e a valorização permanente, defender o
uso e promover a difusão internacional da língua
portuguesa
 Promover o desenvolvimento harmonioso do território
nacional, tendo em conta o carácter ultraperiférico dos
Açores e da Madeira
 Promover a igualdade entre homens e mulheres

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FUNÇÕES DO ESTADO

FUNÇÃO POLÍTICA FUNÇÃO ADMINISTRATIVA FUNÇÃO JURISDICIONAL

 Os seus órgãos definem o  Visa a satisfação das necessidades  Sentenças e acórdãos dos
interesse público através de meios coletivas de forma regular e tribunais
próprios contínua: segurança, cultura e  Atribuição aos tribunais de
bem-estar competência própria para verificar
 Exercício de competências de a conformidade de qualquer ato
natureza e conteúdo normativo normativo.
(regulamentos, decretos  Os tribunais asseguram a defesa
regulamentares, portarias, dos direitos e interesses dos
despachos normativos). cidadãos, reprimem a violação da
FUNÇÃO FUNÇÃO  Atos de conteúdo individual e legalidade democrática e dirimem
GOVERNATIVA LEGISLATIVA concreto: regulamentos, atos os conflitos de interesses públicos
unilaterais (atos administrativos) ou privados.
 Atos dos órgãos Aprovação de atos que disciplinam situações
governativos legislativos: leis concretas
respeitantes à (AR), decretos-lei  Atos bilaterais (ou contratos
condução da (Governo) e administrativos)
política do país e Decretos
das RA Legislativos
Regionais (ALRA)

1.3. A CHEFIA DO ESTADO

CHEFIA DE ESTADO

Órgão supremo de um Estado

COLEGIAL SINGULAR

Exemplos: triunviratos, consulados, Chefias individuais – Presidente da


diretórios República, Monarcas

PORTUGAL: República democrática com um chefe de Estado é o Presidente da República designado por
sufrágio universal e secreto

ESPANHA: República democrática com um Chefe de Estado (monarca), designado em 1.ª linha pelo
anterior ditador

EUA.: Governo presidencialista onde o presidente é, simultaneamente, Chefe de Estado e Chefe do


Executivo

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1.4. SISTEMAS DESIGNATÓRIOS

SISTEMAS DESIGNATÓRIOS – são métodos de escolha dos titulares de diferentes cargos.

A) ELEIÇÃO

 Ato de escolha através de um voto, direito de sufrágio, por parte de pessoas (colégio eleitoral).

CARACTERÍSTICAS DO SUFRÁGIO:
 Universal: podem votar os cidadãos que preencham os requisitos delimitados para a
capacidade eleitoral ativa e passiva.
 Igual: o sufrágio realiza-se independentemente do número de eleitores que vão votar
 Livre: não é obrigatório votar. Constitui apenas um dever cívico
 Secreto: é proibida qualquer sinalização de voto
 Pessoal: o voto é exercido pessoalmente e só excepcionalmente um cidadão se pode
fazer acompanhar por outro eleitor no ato eleitoral.
 Periódico: implica que os titulares de cargos políticos têm mandatos com duração
prefixada.
 Individual (Presidente da República) ou por lista (o voto recai sobre um elenco de
pessoas preparado pelos partidos políticos. Ex. Deputados da Assembleia da República)
 Uninominal (está em disputa um mandato) ou plurinominal (estão em disputa vários
mandatos).
O sufrágio por listas é sempre plurinominal. O sufrágio individual pode ser aplicado a
circunscrições uninominais ou plurinominais (por exemplo, nomes individualmente
considerados para vários mandatos em disputa, em vez de ser apresentada apenas uma
lista partidária).
 Direto (a eleição do titular acontece sem intermediação – PR) ou indireto (os eleitores
designam indivíduos que, após eleitos, procedem à eleição dos titulares dos órgãos
governativos – Presidente dos EUA)

B) HERANÇA - Exercício de funções ocorre por transmissão hereditária (monarquia), evitando


lutas de poder. Permite a independência dos governantes e a educação ao longo dos anos para
exercício de cargos públicos.

C) COOPTAÇÃO – sistema conhecido pela “eleição dos eleitos”. Pode ser simultânea - os membros
que já têm assento num órgão colegial designam alguém para preencher vagas (em Portugal, 3
dos 13 juízes do TC são cooptados pelos 10 juízes eleitos pelo Parlamento) – ou sucessiva (o
titular do órgão designa o seu sucessor

D) NOMEAÇÃO – ato unilateral de provimento num c argo cuja eficácia depende da aceitação do
nomeado. Por exemplo, o PM é nomeado pelo PR.

E) INERÊNCIA – forma de designar um titular de um cargo pelo fato de ele desempenhar outro
cargo. Por exemplo, o PR é, por inerência, o Comandante Supremo das Forças Armadas.

F) SORTEIO – utiliza-se um elemento aleatório para designar o titular de um cargo

G) CONCURSO – escolha de um titular em virtude da realização e utilização de um procedimento


concursal. Por exemplo, titulares de cargos dirigentes da Administração Pública.

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1.5. SISTEMAS ELEITORAIS

SISTEMAS ELEITORAIS
Formas para conversão de votos em mandatos

SISTEMAS MAIORITÁRIOS SISTEMAS PROPORCIONAIS


Pretendem garantir a estabilidade política Pretendem garantir a expressão das correntes políticas
dominantes.

1.º - MÉTODO DE HONDT


(Portugal – AR e Parlamento Europeu)

MAIORIA RELATIVA, A UMA MAIORIA ABSOLUTA OU A  Vários círculos eleitorais territorialmente definidos ou
VOLTA OU À PLURALIDADE DUAS VOLTAS com a existência de apenas um círculo coincidente com
DE VOTOS o território do Estado, mas são círculos plurinominais,
O mandato é atribuído ao com vários mandatos e por lista
O mandato é atribuído ao candidato que obtiver no
candidato que obtiver maior primeiro escrutínio a maioria
número de votos. absoluta dos sufrágios.
Apenas se disputa um 2.º - MÉTODO DE SAINT-LANGUE
mandato Se nenhum dos candidatos o
tiver, realiza-se uma 2.ª  Semelhante ao 1.º método. Constitui uma tentativa
volta apenas com os 2 para se alcançar maior proporcionalidade de forma a
candidatos com melhores maximizar a representação, principalmente do 2.º
resultados. partido.

O mandato é atribuído ao
que obtiver maior número
de sufrágios na 2.ª volta
3.º - MÉTODO DE SAINT-LANGUE MODIFICADO

A reter:
 Um sistema eleitoral de maioria relativa ou a uma volta tende a gerar um sistema bipartidário –
dois partidos têm 95% ou mais dos mandatos numa assembleia. Exemplo: sistema inglês, onde
existem dois grandes partidos políticos: O Trabalhista e o Conservador, ou nos EUA: Partido
Republicano e o Partido Democrata.

 Um sistema eleitoral de maioria absoluta ou a duas voltas tende a gerar um sistema


multipartidário normalmente de 4 partidos.

 Um sistema eleitoral proporcional tende a gerar um sistema partidário com vários partidos
rígidos.

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1.6. A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DO ESTADO

A) Titularidade e exercício do poder político:


Pertence ao povo, sendo exercido nos termos da Constituição.

B) Princípio estruturante do poder político:


Separação e interdependência de poderes – os órgãos de soberania agem por si próprios
autonomamente, devendo existir coordenação no exercício das suas competências.

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

DIREITO PÚBLICO DIREITO PRIVADO

Toda a competência resulta da CRP É legal tudo o que não é proibido

C) ÓRGÃOS COLEGIAIS: REGRAS – QUÓRUM DELIBERATIVO E DE FUNCIONAMENTO

 As reuniões das assembleias dos órgãos colegiais são públicas, salvo os casos previstos na lei.
 As deliberações dos órgãos colegiais são tomadas com a presença da maioria do número legal
dos seus membros e à pluralidade de votos, não contando as abstenções para o apuramento da
maioria.

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA:
 Só pode deliberar quando estão presentes a maioria legal dos seus membros (metade dos
Deputados mais um – 116)
 Para a aprovação de proposta ou projeto de lei, regra geral, funciona a pluralidade de votos
(mais votos a favor do que contra, as abstenções não contam para apuramento da maioria)

TIPOS DE MAIORIAS PARA APROVAÇÃO DE DIPLOMAS

MAIORIA RELATIVA OU SIMPLES MAIORIA ABSOLUTA MAIORIA QUALIFICADA

É a regra geral de aprovação dos


atos dos órgãos colegiais
Metade dos Deputados mais um a Maioria agravada e, normalmente,
Deliberações tomadas à pluralidade votar a favor do ato mais elevada que a maioria absoluta
de votos (mais votos a favor do que
contra, abstenções não contam para
apuramento de maioria)

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1.6.1. ÓRGÃOS DE SOBERANIA

Órgãos de soberania – são órgãos supremos do Estado que se ligam, necessária e primeiramente, à
soberania como poder próprio e originário do Estado. São peças essenciais do sistema político e não
dependem hierarquicamente uns dos outros. São centros institucionalizados de poderes cuja vontade
expressa é juridicamente atribuível ao Estado.

A) PRESIDENTE DA REPÚBLICA

 Órgão de soberania unipessoal (um único titular) que representa a comunidade nacional
 É, por inerência, o Comandante Supremo das Forças Armadas
 É o vértice do aparelho político, detém um poder moderador, imparcial e independente
 Legitimidade democrática direta – sistema eleitoral maioritário a duas voltas
 São elegíveis cidadãos eleitores, portugueses de origem, maiores de 35 anos
 Máximo de 2 mandatos – cada mandato tem a duração de 5 anos
 Pode renunciar o mandato
 Em caso de ausência de território nacional, é substituído pelo Presidente da AR

PODERES PRÓPRIOS PODERES QUANTO A OUTROS PODERES DE CONTROLO


 Funções de Comandante das FA ÓRGÃOS  Direito de controlo formal
 Promulgar e mandar publicar atos  Dissolver a AR  Direito de controlo material
legislativos  Nomear o PM e restantes Isto é, pode requerer a
 Referendar questões de interesse membros do Governo fiscalização preventiva da
nacional  Demitir o Governo constitucionalidade ou
 Declarar estado de sítio ou de  Nomear 5 cidadãos para desencadear a fiscalização
emergência abstrata sucessiva da
membros do Conselho de
 Requerer ao TC apreciação Estado constitucionalidade
preventiva da  Direito de veto político
 Presidir o Conselho de
constitucionalidade de normas (suspensivo nos diplomas da
Ministros e o Conselho de
ou requerer declaração de AR ou absoluto nos diplomas
Estado
inconstitucionalidade de
 Dissolver as AL das RA do Governo – poder de
normas direcção política

PODERES PARTILHADOS
 Referenda ministerial – função certificatória e implica responsabilização política em razão de atos de promulgação
praticados

CONSELHO DE ESTADO
Órgão político de consulta do PR

COMPOSIÇÃO CONSIDERAÇÕES
 Presidente da AR  Os seus membros são empossados pelo PR
 PM  Elaboram o seu regimento
 Presidente do TC  As reuniões não são públicas – os pareceres são tornados públicos
 Provedor de Justiça quando da prática do ato a que se referem
 Presidentes dos governos regionais  Princípio da irresponsabilidade – não respondem civil, criminal ou
 PR disciplinarmente pelos votos e opiniões emitidas no exercício de
 Antigos PR eleitos funções
 5 cidadãos designados pelo PR  Princípio da inviolabilidade – não podem ser detidos
 5 cidadãos eleitos pela AR  As funções dos membros do CE não são incompatíveis com outras
funções

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B) ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

 Órgão representativo dos cidadãos


 Deputados eleitos pelo método proporcional da média mais alta de HONDT - dispõem de
legitimidade direta (sufrágio universal, direto e secreto
 Só os partidos políticos podem apresentar candidaturas à AR
 Grupo parlamentar – Deputados eleitos por cada partido ou coligação
 Cada sessão legislativa tem a duração de 1 ano – inicia-se a 15 de Setembro até 15 de Junho.
Pode funcionar fora deste período por deliberação do Plenário, por iniciativa da Comissão
Permanente ou de mais de metade dos Deputados
 A legislatura tem a duração de 4 sessões legislativas
 O Parlamento português é um órgão unicamaral (apenas 1 Câmara

ESTRUTURA ORGÂNICA DA AR

PRESIDENTE DA AR COMISSÕES PARLAMENTARES


Pode desencadear a fiscalização MESA DA AR PERMANENTES, EVENTUAIS OU DE
abstrata sucessiva da INQUÉRITO
constitucionalidade e da legalidade

COMPETÊNCIAS

INTERNA COMO ÓRGÃO DE SOBERANIA RELAÇÕES INTERNACIONAIS

 Eleger 10 juízes do TC, o Provedor


 Elaborar e aprovar o seu próprio de Justiça, o Presidente do Conselho
Regimento interno Económico e Social, 7 vogais do
 Eleger, pela maioria absoluta dos Conselho Superior de Magistratura,  Aprovar Tratados internacionais
Deputados em efetividade de os membros da entidade de  Competência em matérias
funções, o Presidente da AR e regulação da comunicação social respeitantes à declaração de guerra
demais membros da Mesa da AR  Promover autorizações legislativas e feitura de paz
 Constituir a comissão permanente e ao Governo e às AL das RA
restantes comissões parlamentares  Autorizar o Governo a contrair ou
conceder empréstimos
 Confirmar a declaração de estado
de sítio ou de emergência

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FISCALIZAÇÃO OU CONTROLO FISCALIZAÇÃO LEGISLATIVA QUANTO A OUTROS ÓRGÃOS

 Vigiar o cumprimento da
Constituição e das leis  Desencadear a apreciação  Testemunhar a tomada de posse do
 Apreciar atos do Governo e da parlamentar de atos legislativos PR
Administração publicados desde que não sejam da  Assentir a ausência do PR
 Apreciar a aplicação da declaração competência exclusiva do Governo  Apreciar o programa do Governo
de estado de sítio e de emergência e, ainda, de decretos legislativos  Votar moções de confiança e de
 Apreciar, para cessação de vigência regionais aprovados censura ao Governo
ou alteração, os DL’s do Governo e  Suspender, no todo ou em parte, a  Eleger 5 membros do Conselho de
os decretos legislativos regional das vigência de um DL autorizado, Estado e os membros do Conselho
AL das RA desde que existam propostas de Superior do Ministério Público
 Apreciar as contas do Estado e alteração, até à entrada em vigor da  Entre outras
demais entidades públicas nova lei. - RESOLUÇÃO
 Apreciar os relatórios de execução
dos planos nacionais

Apreciação parlamentar de atos


legislativos
 É a alteração de atos legislativos ou
aprovação de uma resolução que
termine com a vigência de um DL ou
decreto legislativo regional
 Para o efeito, a AR dispõe de um
prazo, findo o qual não o poderá
fazer mais
 Exige-se requerimento apresentado
por 10 Deputados apresentado até
às primeiras 10 reuniões plenárias
subsequentes à publicação do DL
 A cessão de vigência ou suspensão
de DL’s designam-se de resolução –
publicada independentemente de
promulgação
 A deliberação parlamentar não tem
efeitos retroactivos
 Com a cessação de vigência não é
possível defender a repristinação
automática, mas nada impede que a
AR a determine

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA

 Genérica – regra geral, pode legislar exceto em matérias exclusivas do Governo e das RA
 Reservas absolutas ou relativas de competência legislativa face ao Governo
 Valor reforçado das leis de base de regimes jurídicos e das leis de autorização legislativa em
relação aos respetivos decretos-leis de desenvolvimento ou autorizados
 Susceptibilidade de apreciação política da atividade legislativa do Governo, através da apreciação
parlamentar
 Os vetos do PR para as leis da AR têm carácter suspensivo (ao contrário dos diplomas do Governo)

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C) GOVERNO

 Órgão superior da Administração Pública, de carácter colegial, cuja função é a de conduzir a


política geral do país
 Depende politicamente do PR e da AR
 Possui competência administrativa, política e legislativa (aprovação de atos legislativos, sob a
forma de decretos-leis
 Órgão constitucional, autónomo e solidário
 A tomada de posse de um novo PR não implica a existência de um novo Governo

ESTRUTURA

PRIMEIRO-MINISTRO MINISTROS SECRETÁRIOS E


SUBSECRETÁRIOS DE ESTADO

 É nomeado pelo PR, ouvidos  São nomeados pelo PR sob  São responsáveis perante o
os partidos representados na proposta do PM PM e o respetivo Ministro
AR e tendo em conta os  São responsáveis perante o  Coadjuvam os Ministros do
resultados eleitorais PM e só no âmbito da seu Ministério
 É responsável responsabilidade política do  Detêm competências
institucionalmente perante o Governo é que são delegadas nos termos da lei.
PR e politicamente perante a responsáveis perante a AR
AR  Têm competências próprias
 Propõe a nomeação dos Vice- no âmbito da política de cada
Primeiros Ministros, se os Ministério
houver, e dos ministros.
 É o Presidente do Conselho
de Ministros –
predominância política COMPETÊNCIAS DO PRIMEIRO-MINISTRO
 Dirigir a política geral do Governo, coordenando e orientando a ação
de todos os Ministros
 Dirigir o funcionamento do Governo e as suas relações de carácter
geral com os demais órgãos do Estado
 Submeter à apreciação da AR o programa do Governo (não necessita
de ser aprovado, basta não ser rejeitado
 Exercer as demais funções que lhe sejam atribuídas pela
Constituição e pela lei
 Informar o PR acerca dos assuntos respeitantes à condução da
política interna e externa.

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COMPETÊNCIAS DO GOVERNO

LEGISLATIVA NORMATIVIZADORA DIREÇÃO POLÍTICA

 RESERVADA – organização e
funcionamento do Governo
 CONCORRENCIAL – com a da AR  Susceptibilidade de aprovar  Sistema de Governo semi-
em matérias a esta não Regulamentos (Decretos presidencialista, onde há uma
reservadas regulamentares promulgados combinação de elementos
 DERIVADA OU AUTORIZADA – pelo PR; portarias emanadas por estruturantes do sistema
matérias da competência da AR um ou vários membros do parlamentar com elementos do
 COMPLEMENTAR – ou de Governo, despachos normativos sistema presidencialista
desenvolvimento dos princípios e outros decretos
gerais dos regimes jurídicos
contidos em leis que a eles se
circunscrevem

GOVERNOS DE GESTÃO
Só podem praticar atos de gestão corrente dos negócios públicos que estejam relacionados com
necessidades urgentes

Governos demitidos ao abrigo do Governos sem programa apreciado Governos demissionários


poder de demissão do PR na AR, mas já nomeados (demissão por parte do PM implica
a demissão de todo o Executivo)

D) TRIBUNAIS

 Órgão de soberania responsável pela administração da justiça em nome do Povo – função


jurisdicional (justa composição de litígios)
 São independentes e estão apenas sujeitos à lei – a independência não significa ausência de
fiscalização ou desresponsabilização
 Podem emitir juízos de constitucionalidade de normas e as suas decisões são obrigatórias para
entidades públicas e privadas

DECISÕES DOS TRIBUNAIS

SENTENÇA ACÓRDÃO
Decisão judicial sobre mérito da Decisão da mesma natureza que a
causa submetida a julgamento e sentença mas proferida por um
proferida por um tribunal singular tribunal coletivo

TRÂNSITO EM JULGADO
Decisão em que tenha esgotado a possibilidade de recorrer para outros tribunais superiores. É a
última palavra sobre o caso em concreto
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CATEGORIAS DE TRIBUNAIS

SUPREMO TRIBUNAL DE TRIBUNAIS


JUSTIÇA (Juízes-Conselheiros) SUPREMO TRIBUNAL TRIBUNAL DE MARÍTIMOS,
TRIBUNAL e os tribunais judicial de 1.ª ADMINISTRATIVO e demais CONTAS ARBITRAIS E
CONSTITUCIONAL (tribunais de comarca – Juízes tribunais administrativos e JULGADOS DE PAZ
de Direito) e 2.ª instâncias fiscais
(tribunais da relação – Juízes- (Juízes-Conselheiros)
Desembargadores)

1. O TRIBUNAL CONSTITUCIONAL

 Fiscaliza a constitucionalidade dos atos normativos – Fiscalização jurisdicional


 É formado por 13 Juízes-Conselheiros – 10 eleitos pela AR e os outros 3 cooptados
 O regime de fiscalização de normas jurídicas de Direito português abrange: a
inconstitucionalidade e a ilegalidade
 São fiscalizáveis:
 As normas de Direito Internacional Público
 Os atos legislativos
 Os decretos normativos do PR
 As normas regimentais que regulam a estrutura e o modo de funcionamento dos
órgãos
 As normas regulamentares

INVALIDADE DOS ATOS POLÍTICO-LEGISLATIVOS

INCONSTITUCIONALIDADE ILEGALIDADE
Existe quando uma norma viola a CRP

Por ação Por omissão  Surge quando é violada uma lei


 Atinge atos normativos (atos regulamentares ou
Comportamentos Comportamentos legislativos) e atos não normativos (atos
positivos – o regime negativos – ausência de administrativos)
jurídico aprovado existe regime jurídico que  Pode acarretar inconstitucionalidade indirecta (ex.
mas viola as normas da torne exequíveis quando um DL autorizado não respeita autorização
CRP normas constitucionais legislativa, ou quando os DL’s de desenvolvimento
violam as respetivas leis de base) – violação mediata e
indireta da Constituição

Consequências

No Direito Interno – invalidade


Normas internacionais – ineficácia

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TIPOS DE INCONSTITUCIONALIDADE POR AÇÃO

Forma ou processual Orgânica Material

A violação das regras Um determinado órgão aprova um Prende-se com o conteúdo da


constitucionais prende-se com as ato para o qual a CRP não lhe norma aprovada que viola os
formalidades estabelecidas atribui esse poder princípios constitucionalmente
estabelecidos

OUTROS TIPOS DE INCONSTITUCIONALIDADE

Consequente Originária ou Total ou parcial Presente e pretérita


superveniente

DL’s aprovados ao Originária – um ato é Total – a Presente – a norma


abrigo de autorização desconforme desde a inconstitucionalidade está em vigor
legislativa data de aprovação atinge todo o diploma Pretérita – a norma já
inconstitucional Superveniente – o ato Parcial – a não se encontra em
é desconforme após inconstitucionalidade vigor
revisão constitucional atinge uma parcela ou
parte do diploma

PROCESSOS DE FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE E DA LEGALIDADE


Forma para garantir a aplicação da CRP (atos políticos não são fiscalizados)

FISCALIZAÇÃO ABSTRATA POR FISCALIZAÇÃO FISCALIZAÇÃO POR


AÇÃO CONCRETA OMISSÃO

Acórdãos de Acórdãos de
Julgamento Verificação

PREVENTIVA SUCESSIVA

Acórdãos de Acórdãos de
Pronúncia Declaração

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FISCALIZAÇÃO ABSTRATA POR AÇÃO


Afere da compatibilidade da norma

PREVENTIVA SUCESSIVA

 Impede a entrada em vigor de normas  Pode requerer


inconstitucionais  PR, Presidente da AR,
 É feita antes de concluído o processo de  PM
formação da norma  Provedor de Justiça
 O PR é obrigado a solicitar a intervenção  Procura-Geral da Republica
preventiva no caso dos referendos  1/10 dos Deputados da AR
 Deve ser requerida no prazo de 8 dias. Caso o  Representantes da República
PR não requeira é porque vai promulgar ou  Estas entidades têm que especificar o pedido.
vetar o ato O TC só se pode pronunciar pela
 Também pode ser requerida pelo PM ou um inconstitucionalidade ou ilegalidade de normas
quinto dos Deputados em efetividade de cuja apreciação tenha sido requerida
funções de um decreto da AR para ser  Consiste na apreciação da
promulgado como lei orgânica inconstitucionalidade ou ilegalidade, com força
 O TC deve pronunciar-se no prazo de 25 dias obrigatória geral – significa que o acórdão tem
 Só pode ser apresentada desde que haja força formal de lei e afeta as normas, cessa a
iniciativa (o TC não se pode pronunciar por sua vigência e nenhum outro órgão pode
livre iniciativa) deixar de respeitar (exceto no princípio da
 É necessário especificar no pedido as normas intangibilidade do caso julgado)
que se pretende ver analisadas  A declaração produz efeitos desde a entrada
 Análise da fiscalização: por via principal – o em vigor da norma inconstitucional ou ilegal e
objeto do processo é a pretensa determina a repristinação das normas que
inconstitucionalidade ou ilegalidade de uma ou tenha revogado (exceto casos que já tenham
várias normas sido julgados)
 O acórdão é proferido por via negativa –
inconstitucionalidade ou não
inconstitucionalidade
 Caso o TC declare a inconstitucionalidade, o PR
ou Representante da República deve vetar o
diploma

FISCALIZAÇÃO SUCESSIVA CONCRETA


Desencadeada na pendência de um processo judicial e durante a aplicação de normas aplicadas a
uma situação concreta

 Durante a aplicação da norma, suscita-se a desconformidade com a CRp e a situação é sanada na


própria decisão (sentença ou acórdão)
 A fiscalização sucessiva concreta é um sistema misto porque é difuso e concentrado:
 Difuso porque qualquer tribunal pode emitir pareceres de constitucionalidade e deixar de
aplicar normas que considere violar a CRP;
 Concentrado porque o TC é o único que pode emanar acórdãos de julgamento de
inconstitucionalidade e a última instância a recorrer de decisões emitidas pelos restantes
tribunais quando estes tenham de emitir juízos de constitucionalidade ou ilegalidade em
situações concretas.
 Em Portugal, os cidadãos podem desencadear esta fiscalização por via incidental e acesso indireto
através de petição perante o Provedor de Justiça
 O TC pode discordar na decisão de inconstitucionalidade emanada por um tribunal
 O cidadão pode recorrer para o TC de norma que lhe tenha sido aplicada e que considere
Catarina Cruz inconstitucional 15
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Ex. Quando o tribunal recuse aplicar uma norma que considere inconstitucional ou quando aplique
norma cuja inconstitucionalidade haja sido suscitada durante o processo
 Efeitos do acórdão de julgamento - a decisão da questão incidental só se aplica ao caso em
concreto. Continuará a vigorar fora do processo até ser revogada ou o TC declarar
inconstitucionalidade por força obrigatória geral.
 A fiscalização concreta passa para abstrata quando a mesma norma, em 3 casos concretos, haja sido
julgada inconstitucional em sede de fiscalização sucessiva concreta – o TC pode declarar
inconstitucionalidade por força obrigatória geral para que a norma deixe de vigorar no
ordenamento jurídico português.

FISCALIZAÇÃO SUCESSIVA POR OMISSÃO

 Pode requerer o Provedor de Justiça e os presidentes das AL das RA, apenas no caso de violação de
direitos das RA

2. TRIBUNAIS JUDICIAIS

 Integram o Supremo Tribunal de Justiça, os tribunais da Relação e os tribunais de Comarca


 Supremo Tribunal de Justiça:
 Órgão de cúpula dos tribunais judiciais portugueses.
 Sede em Lisboa
 Pode funcionar em plenário ou em secções (cíveis, criminais e sociais)
 Tribunal da Relação:
 São 5: Lisboa, Porto, Coimbra, Évora e Guimarães
 São tribunais de 2.ª instância e, em regra, a eles se recorre das decisões dos tribunais
de 1.ª instância (de Comarca)
 Aos tribunais judiciais compete o julgamento da generalidade dos litígios que não estão afetos
à jurisdição de outros tribunais com competência específica.
 São tribunais comuns em matéria cível e criminal e exercem jurisdição em todas as áreas não
atribuídas a outras ordens judiciais.
 Existem tribunais criminais, de família, de trabalho, entre outros
 Quando está em causa crimes de natureza estritamente militar fazem parte do tribunal juízes
militares

3. TRIBUNAIS ADMINISTRATIVOS E FISCAIS

 ORDEM JUDICIÁRIA – Supremo Tribunal Administrativo, tribunais de 2.ª instância (tribunais


centrais administrativos – Lisboa e Porto), e os tribunais administrativos e fiscais
 Administram a justiça das relações jurídicas administrativas e fiscais

4. TRIBUNAL DE CONTAS

 Tem sede em Lisboa e duas secções regionais sediadas nas RA dos Açores e da Madeira
 Abrange toda a ordem jurídica portuguesa, tanto em território nacional como no estrangeiro
 Competências:

Catarina Cruz 16
Introdução ao Direito

 Emitir parecer sobre a Conta Geral do Estado, incluindo Segurança Social e as contas
das RA;
 Verificar ou julgar as contas que a lei mandar submeter-lhe, realizar auditorias e
exercer outras formas de controlo
 Fiscalizar previamente os atos e contratos previstos, nomeadamente os que geram
despesa ou representam encargos financeiros públicos;
 Assegurar, no âmbito nacional, a fiscalização da cobrança dos recursos próprios e da
aplicação dos recursos financeiros provenientes da UE;
 Julgar a efetivação das responsabilidades financeiras.
 O Presidente do TC é nomeado, sob proposta do Governo, pelo PR e o seu mandato tem a
duração de 4 anos
 É um órgão independente que controla as finanças públicas

1.6.1.2. RELAÇÕES ENTRE OS PRINCIPAIS ÓRGÃOS DE SOBERANIA

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA GOVERNO TRIBUNAIS

 Poder livre e discricionário para  Não pode interferir do exercício


dissolver a AR da função jurisdicional
 A dissolução da AR encontra  Pode nomear e exonerar o
limites circunstanciais e Presidente do TC e o Procurador-
temporais – o PR não pode Geral da República, sob proposta
dissolver a câmara legislativa nos  Nomeia o Governo e pode do Governo
6 meses posteriores à eleição da demiti-lo
 Pode designar 2 cidadãos para
mesma, no último semestre do vogais do Conselho Superior de
mandato do PR ou durante a Magistratura
vigência do estado de sítio ou do  Por crimes praticados no
estado de emergência exercício das suas funções, o PR
só responde perante o Supremo
Tribunal de Justiça

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

GOVERNO TRIBUNAIS

 Depende politicamente da AR e  Pode promover o processo de


sem a sua confiança política não acusação contra o PR por crimes
pode manter-se em funções praticados em funções
 A rejeição do programa do  Elege membros do Conselho
Governo, a rejeição de uma Superior de Magistratura
moção de confiança ou a  Elege 10 Juízes do TC e 7 vogais
aprovação pela AR de uma do Conselho Superior de
moção de censura, implicam a Magistratura
demissão do Governo
Catarina Cruz 17
Introdução ao Direito

GOVERNO

TRIBUNAIS

 Propõe ao PR a designação de
titulares de órgãos judiciais
 Os meios financeiros,
orçamentais e os recursos
humanos afetos aos tribunais
dependem em grande medida de
proposta ou decisão do Governo

1.6.2. CLASSIFICAÇÃO DO NOSSO SISTEMA DE GOVERNO

SISTEMAS DE GOVERNO

PARLAMENTARISTA PRESIDENCIALISTA SEMI-PRESIDENCIALISTA

O vértice do aparelho político é o O Presidente é simultaneamente O Governo (detentor do poder


Parlamento que predomina perante Chefe de Estado e detém o poder político) responde politicamente
os restantes órgãos do sistema executivo perante a AR e institucionalmente
perante o PR
Sistema britânico Sistema norte-americano
Sistema português

1.7. AS REGIÕES AUTÓNOMAS DOS AÇORES E MADEIRA

Integram a Administração do Estado e são consideradas pessoas coletivas de Direito Público, de base
territorial e populacional, com poderes próprios:

 Legislar no âmbito regional em matérias que não sejam competência exclusiva dos órgãos de
soberania
 Regulamentar legislação regional e leis emanadas pelos órgãos de soberania
 Exercer poder executivo próprio
 Administrar e dispor do seu património e celebrar atos de seu interesse
 Entre outros

Catarina Cruz 18
Introdução ao Direito

ÓRGÃOS DE GOVERNO DAS RA

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA REPRESENTANTE DA REPÚBLICA GOVERNO REGIONAL

 É eleita por sufrágio universal,  É nomeado pelo PR, ouvido o  É politicamente responsável
direto e secreto Governo perante a AL
 A sua competência versa sobre  O seu mandato tem a mesma  O Presidente do GR é nomeado
matérias de interesse específico duração do PR pelo Representante da República,
para as RA e não reservadas à AR  É substituído pelo presidente da tendo em conta os resultados
ou ao Governo (Decretos AL eleitorais
Legislativos Regionais)  Nomeia e exonera os membros  Toma posse perante a AL
do GR, sob proposto do respetivo  É responsável pela matéria
presidente respeitante à sua organização e
funcionamento

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA

 Primária
 Secundária ou derivada –
exercida ao abrigo de lei de
autorização legislativa
 Complementar – exercida para
desenvolver, no interesse das
regiões, leis de bases

1.8. A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PORTUGUESA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PORTUGUESA

OBJETIVO ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAS

Descentralização e
Visa a satisfação das necessidades desconcentração administrativas
coletivas – prática de regulamentos
administrativos, atos O Governo é o órgão superior da Conjunto de pessoas coletivas
administrativos e contratos administração pública públicas – Estado, RA, Autarquias
administrativos Locais e vários órgãos e serviços
Está subordinada ao Direito destas entidades
A função administrativa está Administrativo – os órgãos da AP
subordinada à legislativa e podem impor as suas decisões Pode ser desenvolvida por pessoas
compreende o reconhecimento e recorrendo à força pública. Os coletivas privadas
diagnóstico de necessidades Tribunais Administrativos resolvem
públicas litígios decorrentes de discordância
dos cidadãos e recursos

Catarina Cruz 19
Introdução ao Direito

 Os cidadãos têm direito a ser informados pela AP, sempre que o requeiram, sobre o andamento dos processos e têm
direito de aceso a arquivos e registos administrativos
 Os atos administrativos estão sujeitos a notificação dos interessados e carecem de fundamentação expressa e acessível
 Os cidadãos têm direito de impugnar as normas administrativas

TIPOS DE ADMINISTRAÇÃO

ADMINISTRAÇÃO DIRETA DO ESTADO ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRAÇÃO


INDIRETA DO ESTADO AUTÓNOMA DO ESTADO

Hierarquia Administrativa – Governo e  São entidades públicas


subalternos criadas com base no
princípio da Entidades sujeitas à tutela
PODER DE DIREÇÃO – emanar ordens ou descentralização do Executivo (fiscalização e
comandos vinculativos havendo por parte dos administrativa – estão controlo)
subalternos dever de obediência sujeitas à orientação
do Governo Autarquias Locais
PODER DE CONTROLO – fiscalizar  Institutos, compostas por Freguesias,
estabelecimentos, Municípios e Regiões
PODER DE INSPEÇÃO – é instrumental fundações públicas, Administrativas
relativamente ao controlo associações e
empresas públicas –
PODER DE SUPERVISÃO – faculdade de revogar EDP, CGD…
ou substituir atos praticados

PODER DISCIPLINAR – aplicação de sanções ADMINISTRAÇÃO INDEPENDENTE DO ESTADO

PODER DISPOSITIVO DE COMPETÊNCIA –


 Estruturas administrativas relativamente às quais o
dispor de competência de todos os seus
Governo não exerce qualquer poder organizatório.
subalternos, desde que esta não seja exclusiva
 Exemplo: Comissão Nacional de Eleições, Provedor de
Justiça, Etc.

1.9. MINISTÉRIO PÚBLICO E PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

MINISTÉRIO PÚBLICO: magistratura autónoma mas não independente a quem compete representar o
Estado, exercer a ação penal e defender a legalidade democrática

PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA: é a estrutura de cúpula do MP, Conselho Superior do MP,


Conselho Consultivo, Auditores Jurídicos, etc.
O Procurador-Geral da República tem um mandato de 6 anos, preside a Procuradoria-Geral da
República, é nomeado e exonerado pelo PR, sob proposta do Governo. É coadjuvado e substituído pelo
Vice-Procurador-Geral da República.

Catarina Cruz 20
Introdução ao Direito

1.10. A ADMINISTRAÇÃO MILITAR E DE SEGURANÇA

As Forças Armadas integram a Administração Pública direta do Estado – o Governo é a estrutura


hierárquica civil. Às FA incumbe a defesa militar da República

DIFERENÇAS ENTRE AS FA E OS RESTANTES CORPOS DA ADMINISTRAÇÃO CIVIL DO ESTADO:


 A CRP atribui ao Chefe de Estado a função de Comandante Supremo das FA – o PR tem
legitimidade para intervir na Administração militar, enquanto que na Administração Pública
Civil, o órgão de topo é o Governo
 O PR preside o Conselho de Defesa Nacional (órgão de consulta para assuntos relativos à defesa
nacional e à organização, disciplina e funcionamento das FA), nomeia e exonera, sob proposta
do Governo, as mais altas chefias militares e tem competência para declarar guerra e fazer paz.

Catarina Cruz 21
Introdução ao Direito

Catarina Cruz 22
Introdução ao Direito

2. O CONSTITUCIONALISMO

PERÍODOS CONSTITUCIONAIS

CONSTITUIÇÕES LIBERAIS E CENSITÁRIAS CARTAS CONSTITUCIONAIS E CONSTITUIÇÕES


PACTÍCIAS

 São Constituições revolucionárias porque  As cartas constitucionais são outorgadas por


resultam de um grande número de revoluções Monarcas e determinam o aumento das suas
 Consagram os direitos fundamentais dos competências, mas continuam a prever as
cidadãos e assentam na divisão de poderes liberdades individuais
 Os cidadãos passam a ter capacidade eleitoral  Carta Constitucional de 1826
ativa (podem eleger) e passiva (podem ser  As Constituições Pactícias são negociadas
eleitos conforme a posse de bens)  Constituição de 1838 – negociação entre
 Sufrágio censitário – conforme a posse de bens vintistas e cartistas
 Constituição de 1822

CONSTITUIÇÕES PARLAMENTARES DEMOCRACIAS FRÁGEIS E SUAS CONSTITUIÇÕES

Os parlamentos tornam-se a sede do poder  Período ligado à 1.ª Guerra Mundial


político começando a normativizar as liberdades  O sufrágio deixa de ser censitário e passa a ser
sociais e a surgir alguns partidos políticos sufrágio masculino geral
estruturados  Constituição de 1911

CONSTITUIÇÕES AUTORITÁRIAS CONSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS E SOCIAIS

 Antes da 2.ª Guerra Mundial  Pós 2.ª Guerra Mundial


 Instauração de regimes ditatoriais e autoritários  Maior rigor na delimitação de direitos,
 Constituição portuguesa do Estado Novo de liberdades e garantias dos cidadãos, vinculando
1933 entidades privadas e públicas
 Estabelecimento de mecanismos de controlo
dos atos normativos do Estado e dos órgãos do
FAMÍLIAS CONSTITUCIONAIS poder
 Consagração de direitos de carácter económico,
social e cultural, alargando-se os direitos às
 Caracterizadas pelo processo de descolonização prestações do Estado
– surgem novos Estados  Constituição de 1976
 O poder político, em regra, é de cariz militar e
monopartidário
 A separação de poderes e sociedade civil é
característica do sistema jurídico da antiga
colónia

Catarina Cruz 23
Introdução ao Direito

Catarina Cruz 24
Introdução ao Direito

3. A EXPERIÊNCIA CONSTITUCIONAL PORTUGUESA

As CONSTITUIÇÕES são aprovadas pelos Parlamentos, Cortes ou Assembleias. As CARTAS


CONSTITUCIONAIS são outorgadas por Monarcas.

CONSTITUIÇÕES MONÁRQUICAS

CONSTITUIÇÃO DE 1822 CARTA CONSTITUCIONAL DE 1826 CONSTITUIÇÃO DE 1838

 Consagrou um governo liberal


 Delimitou Portugal como um Estado  Consagrou o 4.º poder – moderador:
composto através da união real de o rei era “árbitro” do sistema político  Constituição pactícia – acordo entre
Estados entre Portugal e Brasil. em relação aos outros poderes as Cortes e a monarca D. Maria II
 Consagrou a divisão de poderes:  Consagração do bicamaralismo e  Esta Constituição era a síntese da
 Poder legislativo – atribuído a instituição da Câmara dos Pares corrente vintista (mais liberal e
uma única Câmara (Cortes)  Existia uma Câmara representativa democrática) e corrente cartista
 Poder executivo – atribuído ao dos cidadãos (Câmara dos (mais monárquica, aristocrática ou
Rei e seus secretários de Estado Deputados) absolutista
 Poder judicial – atribuído aos  Vigência: 1826 a 1828; 1834 a 1836;  Vigência: 1838 a 1842
Juízes 1842 até à implantação da República
 Vigência descontínua: 1822 a 1823;
1836 a 1838

 São influenciadas pelos seguintes elementos:


 Democrático: Revolução liberal – Constituição de 1822, Constituição compromissória ou pactícia de 1838 negociada
entre vintistas e cartistas
 Aristocrático: Carta Constitucional de 1826 – Câmara de Pares, elementos nomeados vitalícia e hereditariamente
 Monárquico : consagração do poder moderador na Carta Constitucional de 1826 – o rei era “árbitro” em relação aos
outros órgãos e poderes

Catarina Cruz 25
Introdução ao Direito

CONSTITUIÇÕES REPUBLICANAS

CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA DE CONSTITUIÇÃO DO ESTADO NOVO DE CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA


1911 1933 PORTUGUESA D 1976

 Consagrou um sistema de governo  Surge com o golpe militar de


parlamentar de assembleia: 28/5/1926 até 25/4/1974 
bicameralismo – Câmara de  Consagra um sistema político em que  É revolucionária
Deputados e Senado a sede de poder se concentrava no  Garante liberdades, garantias e
 O PR era eleito por ambas as PR, eleito por sufrágio universal e direitos
Câmaras, não podia ser reeleito nem direto.  Introduz mecanismos de controlo
destituído  Era uma Constituição semântica – a dos atos normativos e um conjunto
 O PR não podia dissolver o Congresso realidade não coincidia com a de direitos sociais, económicos ou
da República, exercer o direito de Constituição formal culturais (direito ao trabalho e à
veto e o silêncio significava  Na prática, os direitos, liberdades e segurança social
promulgação. garantias eram limitados
 Vigência: 28/5/1926 até que ocorreu
um golpe militar que deu início a
uma ditadura militar

TIPOS DE CONSTITUIÇÕES QUANTO À REVISÃO CONSTITUCIONAL

FLEXÍVEIS RÍGIDAS SEMI-RÍGIDAS

 São revistas como qualquer lei Os limites para revisão constitucional É admitida a revisão constitucional em
ordinária são muito fortes determinados momentos e
 Distinguem-se das outras leis pelo respeitados vários limites
seu objeto e conteúdo
 Não consagram limites à revisão PORTUGAL
constitucional ou são muito ténues

CONSTITUIÇÃO FORMAL: conjunto de normas qualificadas de constitucionais e revestidas de força


jurídica superior à de qualquer outra norma

CONSTITUIÇÃO MATERIAL: a substância e o conteúdo reforçado resultam da natureza desse conteúdo e


em caso algum este conjunto de normas se fundamenta em outra norma do mesmo ordenamento

3.1. AS REVISÕES CONSTITUCIONAIS

CONSTITUIÇÃO – ato formal e solene emanado por uma assembleia constituinte e que só pode ser
alterado através de procedimento próprio e especial. Quando é exercido o poder de revisão
constitucional surge uma Lei Constitucional

Catarina Cruz 26
Introdução ao Direito

LIMITES QUANTO À REVISÃO CONSTITUCIONAL

LIMITES TEMPORAIS LIMITES FORMAIS LIMITES MATERIAIS LIMITES CIRCUNSTANCIAIS

 5 Anos após a última  Prendem-se com  Prendem-se com Não pode ser praticada
revisão constitucional – questões de forma e questões ligadas à qualquer revisão
revisão ordinária procedimentos natureza e orgânica do constitucional durante a
 Revisão excecional –  Iniciativa dos Deputados sistema político vigência de estado de sítio
iniciativa de maioria de  As alterações à  Limites a respeitar: ou estado de emergência
4/5 dos Deputados em Constituição são independência nacional,
efetividade de funções aprovadas por maioria de separação das Igrejas e
dois terços dos do Estado
Deputados em  Coexistência do setor
efetividade de funções público, privado e
 O PR não pode recusar a cooperativo
promulgação da lei de  Sufrágio universal, direto,
revisão secreto e periódico, etc.

Catarina Cruz 27
Introdução ao Direito

Catarina Cruz 28
Introdução ao Direito

4. OS PARTIDOS POLÍTICOS

PARTIDOS POLÍTICOS:
 São associações privadas a quem são reconhecidas funções constitucionais – não são órgãos do
Estado
 Têm estruturas específicas de organização que implicam uma delimitação de vários sujeitos –
eleitores, simpatizantes, aderentes e militantes ativos
 São organizações que lutam pela aquisição, manutenção e exercício do poder político
 Os que não pertencem ao Governo (oposição) têm direito a serem informados e participar nas
grandes questões de Estado – orientação geral da política externa, política de defesa nacional,
marcação de data para eleições dos órgãos das autarquias locais e matérias relacionadas com o
Orçamento de Estado

CARACTERÍSTICAS DOS PARTIDOS POLÍTICOS:


 Duração razoável de organização
 Implantação territorial generalizada
 Vontade de exercer o poder político – é isto que os distingue dos grupos de pressão que apenas
pretendem influenciar o poder
 Busca do apoio popular utilizando as eleições e outras formas de participação política
 Não são consentidas associações armadas ou militares, racistas ou fascistas
 RESTRIÇÕES A CARGOS POLÍTICOS: magistrados judiciais, do MP; directores-gerais da
Administração Pública; presidentes de órgãos executivos dos institutos públicos, etc.
 ORGANIZAÇÃO INTERNA: assembleia representativa dos filiados, órgão de direção política e
órgão de jurisdição

PRINCÍPIOS LEGAIS A QUE ESTÃO SUJEITOS OS PARTIDOS POLÍTICOS:


 Princípio da liberdade – a constituição de um partido político é livre e independente; os
partidos prosseguem os seus fins sem interferência das autoridades públicas, salvo os controlos
jurisdicionais
 Princípio democrático – respeitante à sua organização interna
 Princípio da transparência – necessidade de publicidade dos seus fins e atividades
 Princípio da cidadania – são integrados por cidadãos titulares de direitos políticos

Catarina Cruz 29
Introdução ao Direito

Catarina Cruz 30
Introdução ao Direito

5. OS REFERENDOS

REFERENDO – instrumento ao dispor dos órgãos do Estado, das RA dos Açores e da Madeira e das
autarquias locais para que consultem os cidadãos eleitores sobre assuntos em concreto

MODALIDADES DO REFERENDO

REFERENDO LOCAL REFERENDO NACIONAL REFERENDO REGIONAL

Realizados por autarquias REQUISITOS PARA Compete à AL da RA chamar


locais para submeter a CONVOCAÇÃO: os cidadãos eleitores para se
referendo os respetivos  Questões de interesse pronunciarem quanto a
cidadãos eleitores em nacional relevante questões de interesse
matérias incluídas nas  Matéria da competência da específico regional
competências dos seus AR ou Governo
órgãos  A decisão processa-se
através de Convenção
Internacional ou ato
legislativo

FISCALIZAÇÃO: MATÉRIAS QUE NÃO INICIATIVA:


 Obrigatória a fiscalização PODEM SER OBJETO DE  PR, sob proposta do
preventiva da REFERENDO: Governo ou AR
constitucionalidade e da  Alterações à CRP  O PR é livre para convocar
legalidade para convocação  Questões e atos de ou não o referendo
de referendo natureza orçamental,
tributária e financeiras

EFEITOS:
 Se o TC pronunciar a inconstitucionalidade ou ilegalidade: o PR não pode convocar o referendo
 Se o TC não se pronuncia: o PR decide se convoca ou não o referendo
 O referendo tem efeitos vinculativos: os órgãos de soberania são obrigados a decidir pelo
resultado do referendo exceto de o número de votantes for inferior a metade dos eleitores
inscritos

Catarina Cruz 31
Introdução ao Direito

Catarina Cruz 32
Introdução ao Direito

PARTE II

TEORIA GERAL DO DIREITO

1. O DIREITO E AS RESTANTES ORDENS NORMATIVAS

DIREITO – Como típico fenómeno humano, é uma ordem social normativa (faculdade de aprovar
normas), cuja incidência recai sobre os comportamentos da vida social e sobre as diferentes condutas
humanas; sistema de normas de conduta social, assistido de proteção coativa.
“ubi ius ibi societas” – onde existe Direito aí existe sociedade
“ubi societas ibi jus” – onde existe sociedade aí existe Direito

Outras ordens normativas (a par do Direito):


 Moral
 Religião
 Natureza

A diferença entre estas ordens normativas e o Direito é o facto de este poder exercer coercibilidade.
Todas as ordens normativas são imperativas – em caso de violação existe uma sanção (consequência
desfavorável)

A lei constitui o modo normal de formação do Direito, obedece a determinadas formas estabelecidas e
emana dos órgãos estaduais competentes – AR, Governo e AL das RA

1.1. OS SISTEMAS JURÍDICOS

CASO PORTUGUÊS:
 A fonte de direito primordial é a lei
 O Estado atua ao abrigo de ius imperi (poder de império) que é um poder superior
característico de entidades soberanas
 O sistema jurídico português tem influenciado alguns dos sistemas jurídicos dos países CPLP
(PALOP)

1.2. A COERCIBILIDADE

COERCIBILIDADE – suscetibilidade de aplicar sanções com expressão física. O Estado tem a possibilidade
de punir um agente criminoso caso este viole uma norma do Direito, privando-o de um bem (liberdade
ou quantia pecuniária). Neste caso, o Estado intervém através de mecanismos e instituições próprias.
A aplicação de sanções com expressão física afeta apenas os órgãos públicos, não sendo lícito a ninguém
fazer justiça pelas próprias mãos.

1.2.1. MEIOS DE TUTELA PRIVADA

O Estado detém o poder da coercibilidade mas há situações em que um particular pode agir sem esperar
por mecanismos próprios.

Qualquer uma das situações de autotutela privada são formas de atuar face a comportamentos ilícitos e
em que a autoridade pública não tem possibilidade de responder em tempo útil.

Catarina Cruz 33
Introdução ao Direito

MEIOS DE TUTELA PRIVADA

AÇÃO DIRETA LEGÍTIMA DEFESA ESTADO DE NECESSIDADE

Um agente pode recorrer licitamente A lei obriga a que a agressão ilícita Destruir ou danificar coisa alheia para
à força para assegurar um direito que seja atual e que a resposta do agente remover perigo atual de um dano
está em vias de ser inutilizado. seja imediata. superior, quer do agente, quer de
terceiro
Pode consistir na apropriação, O prejuízo causado não pode ser
destruição ou deterioração de uma superior ao da agressão, mas por Existe a obrigação de indemnizar se o
coisa, na eliminação da resistência vezes, durante a atuação defensiva, perigo for provocado por sua culpa
oposta ao exercício do direito. não se consegue medir com rigor a
proporção.
A ação direta não é lícita quando
sacrifique interesses superiores aos Ex. É excesso de legítima defesa
que o agente visa assegurar. alguém usar arma de fogo porque
entra em pânico, ainda que tal não
Ex. Poder paternal seja necessário à defesa do direito.
Mas é desculpável e poderá ser
justificável. Por outro lado, não se
pode matar uma criança para evitar
que esta roube maças

1.3. RAMOS DO DIREITO

RAMOS DO DIREITO – consiste numa demarcação de setores da ordem jurídica

DIREITO

DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO DIREITO INTERNO

Direito da UE Direito Público Direito Privado Novos Ramos

D.
D. Constitucional
Internacional
Privado
SUB-RAMOS: D. Administrativo
 Militar Direito Privado Comum:
 Cultural D. Financeiro
Direito Civil
 Social
 Judiciário D. das Obrigações
D. Penal (1)

D. das Coisas
D. Processuais
SUB-RAMOS:
 Constitucional D. da Família
 Administrativo
 Civil SUB-RAMOS: D. das Sucessões
 Penal  Direito
Orçamental
 Direito fiscal Direitos Privados
Especiais

D. Comercial

Catarina Cruz D. do Trabalho 34


Introdução ao Direito

(1) + Direito de Mera Ordenação Social

A) DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

 Regula as relações estabelecidas na comunidade internacional entre dois ou mais Estados e


outros sujeitos de Direito Internacional
 Direito da União Europeu ou Direito Comunitário – sucede e abarca o Direito das Comunidades
Europeias
 As normas e princípios de direito internacional geral ou comum fazem parte integrante do
direito português
 As normas constantes de convenções internacionais ratificadas ou aprovadas vigoram no nosso
ordenamento jurídico

B) DIREITO NACIONAL OU INTERNO

 Regula as relações jurídicas que se desenvolvem dentro de um Estado


 Na ordem jurídica interna, existe o DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO que reúne as normas de
conflitos e que é um sub-ramo do Direito Privado
 O DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO regula as situações jurídicas que entram em contato com
diferentes ordens jurídicas (diferentes países); indica qual a ordem jurídica competente para
disciplinar juridicamente cada caso concreto. Soluciona conflitos de leis. Ex. O senhor A,
português, é casado com a senhora B, italiana, tiveram um filho na Bélgica

C) DIREITO PÚBLICO VS DIREITO PRIVADO

O DIREITO PÚBLICO Inclui o Direito Constitucional, o Direito Administrativo, os Direitos Processuais Civil
e Penal, o Direito Penal e o Direito Fiscal.

O DIREITO PRIVADO inclui o Direito Civil e, dentro deste, o Direito das Obrigações, o Direito da Família,
o Direito das Sucessões e o Direito das Coisas ou Direitos Reais.

DISTINÇÃO ENTRE DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO:

 CRITÉRIO DE INTERESSE – satisfação de interesses públicos ou privados. O Direito Público reúne


todos os sub-ramos do Direito com vista à defesa e satisfação do interesse público; o Direito
Privado inclui os sub-ramos que visam a defesa e satisfação de interesses particulares. Por
vezes, concorre no mesmo sub-ramo a defesa de ambos os interesses
 CRITÉRIO DA QUALIDADE DO SUJEITO – tutelam relações jurídicas em que intervém o Estado
ou qualquer outro ente público ou apenas relações jurídicas particulares.
 CRITÉRIO DA POSIÇÃO DOS SUJEITOS – critério mais fiável para distinguir os dois ramos do
Direito. O Estado é dotado de ius imperii, ou de um poder de superioridade e a paridade não
existe. No Direito Privado, nenhuma relação jurídica é dotada de supremacia. Os poderes do
sujeito público são, em regra, mais fortes do que os do ente privado.

D) NOVO RAMO – DIREITO SOCIAL

Engloba o Direito da Segurança Social, o Direito dos Consumidores, o Direito do Trabalho

SUB-RAMOS DO DIREITO PRIVADO

E) DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Catarina Cruz 35
Introdução ao Direito

Regula a relação obrigacional. A obrigação “é o vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica
adstrita para com outra à realização de uma prestação”. Tem a ver com as relações contratuais.

F) DIREITO DAS COISAS

Regula os direitos reais – direito de propriedade, posse e usucapião

G) DIREITO DA FAMÍLIA

Regula as relações familiares cujas fontes são o casamento, a afinidade e o parentesco

H) DIREITO DAS SUCESSÕES

Regula as relações mortis causa (morte)

I) DIREITO DO TRABALHO

Regula as relações bilaterais que surgem no âmbito do contrato individual do trabalho

J) DIREITO COMERCIAL

Engloba o Direito Empresarial e o Direito Societário

SUB-RAMOS DO DIREITO PÚBLICO

K) DIREITO CONSTITUCIONAL

Ordena e consagra o estatuto jurídico do poder político cujo diploma essencial é a CRP, padrão de
referência para o restante Direito ordinário e todas as Leis Constitucionais que resultam das diversas
revisões constitucionais.

L) DIREITO ADMINISTRATIVO

 Regula a organização e a atividade administrativas e consagra as garantias dos particulares.


 Regula em grande medida a atividade da Administração Pública portuguesa e reúne um
conjunto amplo de normas jurídicas que regulam e disciplinam toda a organização do Estado
enquanto Administração Públicas e restantes entidades públicas.
 Contém normas orgânicas, materiais e garantísticas.
 É ramificado:
 Direito Administrativo Militar
 Direito Administrativo Cultural
 Direito Administrativo Social
 Direito Administrativo Judiciário

M) DIREITO FINANCEIRO

É dedicado às Finanças Públicas, com os sub-ramos dos DIREITOS ORÇAMENTAL E FISCAL que incidem
sobre o Orçamento do estado e sobre os impostos, contribuições, taxas e relações tributárias.

N) DIREITO PENAL OU CRIMINAL

 Prevê as condutas criminais e respetivas sanções.


 Reúne um conjunto de normas que regulam a tutela de determinados valores considerados
importantes para a nossa comunidade.

Catarina Cruz 36
Introdução ao Direito

 As condutas humanas criminosas podem ocorrer por ação ou omissão


 A lei tem de prever antecipadamente que determinada conduta é criminosa (não há crime sem
lei e não há pena sem lei)

O) DIREITO DE MERA ORDENAÇÃO SOCIAL

 Prevê um conjunto de condutas ilícitas menos gravosas que não são consideradas crimes, mas
contra-ordenações.
 As sanções são administrativas e pecuniárias, aplicadas sob a forma de coimas

P) DIREITOS PROCESSUAIS CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO, CIVIL E PENAL

Regulam a operacionalização pelos diferentes tribunais da administração da justiça e dos litígios ou


outras ações que os particulares ou MP levam ao conhecimento para dirimição.

1.4. AS NORMAS JURÍDICAS

ORDEM JURÍDICA – conjunto de normas de Direito que se destinam a produzir os seus efeitos num
determinado território e que são reveladas de forma geral e abstrata; não se destinam a um indivíduo
mas a todos os que se coloquem numa determinada situação ou pratiquem determinado ato.

ESTRUTURA DAS NORMAS:


 Elemento previsional – prevê-se uma fatualidade
 Elemento provisional – estatui-se ou se provê os efeitos jurídicos que estão conexionados com
determinada conduta.

CARACTERÍSTICAS DAS NORMAS:


 Generalidade e abstração – devem ser formuladas de forma a poderem ser aplicadas a um
conjunto de casos semelhantes sem que os destinatários sejam identificados.

1.4.1. TIPOS DE NORMAS

TIPOS DE NORMAS

NORMAS IMPERATIVAS NORMAS PERMISSIVAS NORMAS NORMAS SUPLETIVAS


INTERPRETATIVAS
São obrigatórias Permitem um Aplicam-se a determinadas
comportamento mas não Destinam-se a interpretar situações jurídicas se as
POSITIVAS OU PERCETIVAS – obrigatório um ato normativo anterior, partes o desejarem ou se
impõem uma conduta fixando um sentido não tiverem excluído essa
autêntico de uma norma possibilidade
NEGATIVAS OU PROIBITIVAS jurídica
– proíbem uma conduta

NORMAS INOVADORAS NORMAS REMISSIVAS NORMAS GERAIS NORMAS ESPECIAIS

Alteram o quadro jurídico Remetem a estatuição ou Aplicam-se a todo o género Aplicam-se apenas a alguns
existente regulação para outras de relações jurídicas tipos de relações jurídicas
normas materiais que de um determinado
regulam a matéria universo, particularizando
um determinado regime
jurídico

Catarina Cruz 37
Introdução ao Direito

1.5. FONTES DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

FONTES DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

B) COSTUME INTERNACIONAL

Prática reiterada de conduta considerada obrigatória.

TIPOS DE COSTUME TESTES QUANTO


À OBRIGATORIEDADE DO CONSTUME NAS
 CONSTUME UNIVERSAL – princípio da RELAÇÕES INTERNACIONAIS
liberdade dos mares, igualdade dos Estados,
da legítima defesa, da boa-fé nas relações  TESE ANTI-VOLUNTARISTA – refere que o
internacionais e da responsabilidade costume é uma forma espontânea de
internacional criação do Direito pela prática reiterada e
 COSTUME REGIONAL – é identificável com que basta existir prática para existir
determinado espaço territorial: prática do costume
Direito de asilo diplomático  TESE VOLUNTARISTA – afirma que o
 COSTUME LOCAL – prática bilateral costume é um pacto tácito e que só vincula
reiterada, por regra, entre dois Estados. os sujeitos que nele participarem ou que o
aceitarem

A) CONVENÇÕES INTERNACIONAIS

Traduzem-se nos Tratados e Acordos Internacionais a que podemos chamar de Direito Internacional
convencional ou contratual porque resulta de um acordo de vontades entre os diferentes sujeitos do DIP

ELEMENTOS DE UM TRATADO TIPOS DE CONVENÇÕES INTERNACIONAIS


INTERNACIONAL
 TRATADOS BILATERAIS – acordo entre 2
 Tratar-se de documento escrito Estados ou sujeitos de DIP
 Representar um acordo entre sujeitos do  TRATADOS MULTILATERAIS – abrangem
DIP vários Estados ou sujeitos de DIP
 Destinar-se à produção de efeitos jurídicos  TRATADOS MULTILATERAIS GERAIS –
 Ser regulado pela jurisdição própria do DIP abarcam a generalidade de Estados da
comunidade internacional

ORIGEM NÍVEL DE RELEVÂNCIA

 TRATADOS CONCLUÍDOS PELOS ESTADOS  TRATADOS INTERNACIONAIS – aqueles que


 TRATADOS CONCLUÍDOS ENTRE ESTADOS E precisam de ser ratificados
ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS  ACORDOS INTERNACIONAIS – necessitam
 TRATADOS ENTRE ORGANIZAÇÕES apenas da assinatura das autoridades
INTERNACIONAIS E ENTRE ESTADOS E constitucionalmente competentes
OUTROS SUJEITOS DE DIAP

Catarina Cruz 38
Introdução ao Direito

C) PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO COMUNS ÀS NAÇÕES CIVILIZADAS

QUANTO AO CONTEÚDO – POSIÇÕES DISTINTAS

 Jusnaturalistas – identificam o conjunto de princípios próprios do Direito Natural


 Novas Ordem Política Internacional – coexistência pacífica e não ingerência nos assuntos internos e do
domínio reservado dos Estados
 Princípios estruturantes e comuns às diferentes ordens jurídicas internas dos Estados – abuso do Direito,
indemnização por perdas e danos etc.

D) DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAIS

DOUTRINA JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL

Opinião formulada a título particular pelos Resulta de sentenças e acórdãos proferidos no


jurisconsultos internacionais e assume-se como âmbito da jurisdição, regular ou arbitral,
uma função de revelação de outras fontes de internacional.
direito.
A sua principal função é traduzir num precedente
e uma das formas de revelação e interpretação
de outras fontes de Direito Internacional.

E) EQUIDADE INTERNACIONAL

 Critério legal de decisão que assenta na justiça do caso concreto e afasta qualquer outro critério para decidir
sobre um determinado caso;
 Trata-se de decidir atendendo às particularidades e conjuntura que o envolve
 Pode afastar, no caso em concreto, normas legalmente em vigor ou, quando permitido, outras potenciais
fontes de direito
 Adaptação de uma regra existente a uma situação concreta, observando-se os critérios de justiça e igualdade;
a equidade adapta a regra a um caso específico a fim de deixá-la mais justa.
 Quatro funções internacionais da equidade:
 Atenuar a aplicação das normas escritas e das restantes fontes do Direito
 Completar o Direito escrito e as restantes fontes e possibilitar a aplicação de regras jurídicas a uma
situação específica da vida internacional
 Afastar o Direito – ocorre sempre que a equidade entra em conflito com a norma e em que se valoram
as circunstâncias concretas;
 Interpretação dos Tratados – a função é interpretativa, tendo em conta as circunstâncias concretas de
cada caso

Catarina Cruz 39
Introdução ao Direito

F) ATOS JURÍDICOS UNILATERAIS E AS DECISÕES DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

 São atos através dos quais uma só parte desencadeia normas geradoras de direitos e obrigações nas relações
jurídicas internacionais e que têm consequência em outros sujeitos de Direito Internacional Público
 Requisitos essenciais:
 Serem uma manifestação de vontade de um sujeito de DIP
 Serem atos independentes e autónomos
 Produzirem efeitos jurídicos
 Os atos jurídicos unilaterais podem ter natureza estadual ou ser provenientes de organizações internacionais
– decisões das organizações internacionais
 As decisões das organizações internacionais traduzem-se em atos originários de órgãos próprios de uma OI
que se repercutem na ordem jurídica de um Estado, em regra, independentemente da vontade desse Estado e
pela mesma decorrência de pertencer a essa OI – deliberações das Nações Unidas que vinculam os diferentes
Estados membros da Organização.

1.6. FONTES DE DIREITO INTERNO

A) COSTUME (OU DIREITO COSTUMEIRO OU CONSUETUDINÁRIO)

 Consiste na prática social reiterada com convicção de obrigatoriedade


 ELEMENTOS:
 O USO: elemento material da definição – prática social reiterada
 ELEMENTO PSICOLÓGICO: convicção de obrigatoriedade
 É a fonte de Direito em Portugal, por excelência
 RELAÇÃO ENTRE LEI E COSTUME – TIPOS DE COSTUMES:
 COSTUME SEGUNDO A LEI – coincidência entre os regimes jurídicos que resultam de ambas as fontes
de Direito
 COSTUME PARA ALÉM DA LEI – o regime jurídico previsto na lei não é tão abrangente como o costume
e, por isso, este vai para além da lei, regulando lacunas onde existe um vazio legal
 COSTUME CONTRÁRIO À LEI – os regimes jurídicos são contrários

B) OS USOS

 Consiste na prática social sem carácter de obrigatoriedade


 Comportam o mesmo elemento material do costume (prática social) mas dispensam o elemento psicológico
 Podem ser fontes mediatas de Direito
 Art.º 3.º, 218.º, 885.º, 1039.º do CC

C) EQUIDADE

 Trata-se de decidir sobre um caso, tendo em conta as suas particularidades e a conjuntura que o envolve
 A equidade pode ter relevância jurídica mas, quando isso não acontece, é considerada uma fonte de Direito
mediata
 Os tribunais só podem decidir segundo a equidade:
 Quando haja disposição legal que o permita;
 Quando haja acordo entre as partes;
 Quando as partes tenham previamente convencionado o recurso à equidade

Catarina Cruz 40
Introdução ao Direito

D) JURISPRUDÊNCIA

 Conjunto de decisões que exprimem a opinião dos tribunais superiores – Supremos Tribunais e Tribunais da
Relação
 Em Portugal, a jurisprudência não é fonte de direito – os Magistrados apenas estão sujeitos à lei e não são
obrigados a decidir tendo em conta as decisões dos restantes tribunais; ao contrário de Inglaterra
 No âmbito do Direito Administrativo, fala-se de jurisprudência administrativa ou burocrática – estão em causa
práticas seguidas por diferentes estruturas da Administração Pública na interpretação das normas do Direito;
tem relevância quando o Código do Processo Administrativo obriga a que os órgãos administrativos
fundamentem as suas decisões sempre que decidam de forma diferente daquela que habitualmente é seguida

E) DOUTRINA

 São as opiniões dos jurisconsultos – professores que ensinam em Faculdades e Departamentos universitários e
que estudam o Direito de forma científica, transmitidas em manuais, monografias, pareceres, estudos e
artigos; é o estudo científico do Direito
 Em Portugal, a doutrina não é fonte de Direito mas muitas decisões dos Tribunais são fundadas em estudos
científicos de juristas conceituados, e pode determinar novas normas de Direito.

F) LEI

 É uma disposição jurídica, por via de rega escrita, cujo conteúdo é uma norma proveniente dos órgãos
estaduais competentes.
 CRITÉRIOS: formal (solene/escrita), conteúdo (normas dotadas de generalidade e abstracção), e autoria
(órgãos estaduais competentes)
 Em Portugal, é a fonte de Direito por excelência
 LEI EM SENTIDO MATERIAL: Apela ao conteúdo do ato normativo, geral e abstrato, independentemente de
ser emanado de órgão com competência legislativa. Ex: leis da AR, decretos-leis, decretos legislativos
regionais, regulamentos, portarias, etc.
 LEI EM SENTIDO FORMAL: atos normativos emanados de órgãos com competência legislativa e, em regra, são
numerados e escrevem-se com letra maiúscula. Apela à forma do ato e, em regra, são também leis em sentido
material. Ex: leis da AR e decretos-leis do Governo
 “Leis de medida” – revestem a forma de Lei mas são aprovadas para resolverem casos concretos. Quando são
aprovadas pela AR quase assumem uma função administrativa.
 As leis são a máxima manifestação do Estado a seguir à CRP

1.6.1. ATOS LEGISLATIVOS

ATOS LEGISLATIVOS
O que os distingue é o critério da autoria

LEIS DECRETOS-LEIS DECRETOS LEGISLATIVOS REGIONAIS

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA GOVERNO ASSEMBLEIAS LEGISLATIVAS DAS RA

Catarina Cruz 41
Introdução ao Direito

TIPOS DE LEIS

1.º LEIS CONSTITUCIONAIS 2.º LEIS ESTATUTÁRIAS 4.º LEIS ORDINÁRIAS

Contêm normas constitucionais Respeitam à aprovação dos São as leis que estão relacionadas
originárias ou resultantes de Estatutos Político-Administrativos com o exercício da competência
revisão constitucional das RA dos Açores e da Madeira legislativa ordinária da AR

A CRP (ou Lei Fundamental) é um A iniciativa é reservada a cada uma LEIS ORDINÁRIAS DE VALOR
ato formal aprovado por uma das AL – nenhum Deputado pode REFORÇADO: leis de autorização
assembleia constituinte e, em iniciar processo legislativo sobre legislativa ou as leis de base –
Portugal, só pode ser alterada esta matéria definem os princípios, critérios e
mediante processo de revisão limites a obedecer pelo Governo ou
constitucional com regras definidas AL, sob pena de ilegalidade
na CRP
LEIS DE BASE: através delas a AR
consagra as primeiras soluções
materiais e de regime jurídico

3.º LEIS ORGÂNICAS

São leis de reserva absoluta (qualificada) da AR

São consideradas como princípios estruturantes de um Estado de Direito


democrático.

São leis de valor reforçado e dependem de um processo próprio de


formação com regras específicas

Matérias:
 Eleições dos titulares dos órgãos de soberania
 Regime dos referendos
 Matérias respeitantes à organização, funcionamento e processo do TC
 Organização e disciplina das Forças Armadas
 Regime de estado de sítio ou de emergência

São aprovadas por maioria absoluta dos Deputados em efetividade de


funções (116)

Têm legitimidade para requerer a fiscalização preventiva da


constitucionalidade o PR, PM e um quinto dos Deputados à AR

1.6.2. PROCEDIMENTO LEGISLATIVO DA AR

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA: capacidade de aprovação de atos

INICIATIVA LEGISLATIVA: possibilidade de iniciar um processo legislativo

Catarina Cruz 42
Introdução ao Direito

CONCEITOS

RESERVA DE INICIATIVA RESERVA DE COMPETÊNCIA RESERVA DE LEI

Matérias que só podem ser Matérias que têm de ser Matérias que têm de ser
objeto de tratamento legisladas por determinados tratadas por atos legislativos
legislativo se determinados órgãos e estão-lhe afetas por em todos os seus aspetos.
órgãos derem o respetivo via de uma reserva de
impulso ou tomarem iniciativa competência legislativa Tem de conter os critérios
legislativa necessários e suficientes para a
resolução do caso concreto
Ex. A revisão constitucional
integra a iniciativa dos
Deputados

A reserva de competência implica a reserva de lei mas o contrário já não se verifica.

Regra geral, a competência legislativa é CONCORRENCIAL – tanto a AR como o Governo podem legislar
sobre todas as matérias, desde que não estejam afetas às reservas próprias de cada um destes órgãos.

A COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PODE SER:

ORIGINÁRIA OU DIRETA DELEGADA, AUTORIZADA OU EXCLUSIVA OU RESERVADA


SECUNDÁRIA

Resulta imediata e diretamente Quando resulta de autorização Quando está afeta à


da CRP legislativa competência restrita de um
órgão.

A reserva de competência pode


ser ABSOLUTA OU RELATIVA
consoante o órgão titular da
reserva não tenha possibilidade
de autorizar que outro a exerça
ou, pelo contrário, possa fazê-lo

CONCORRENTE

Quando pode ser exercida por ambos os órgãos de soberania com competência legislativa

Exceto:
 Somente a AR pode legislar no âmbito da sua reserva absoluta de competência legislativa
 Somente a AR pode legislar no âmbito da sua reserva relativa de competência legislativa, a não ser que
possibilite autorização do Governo
 Somente o Governo pode legislar sobre a sua organização e funcionamento (o executivo dispõe igualmente de
reserva exclusiva de competência legislativa

Catarina Cruz 43
Introdução ao Direito

TIPOS DE COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DA AR

GENÉRICA RESERVA ABSOLUTA DE RESERVA RELATIVA DE


COMPETÊNCIA LEGISLATIVA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA

A AR pode aprovar leis sobre Matérias em relação às quais a Matérias em relação às quais a
todas as matérias competência é apenas do competência legislativa é da AR
Parlamento mas pode delega-la no Governo
mediante autorização
Ex. Eleições eleitorais dos legislativa
titulares dos órgãos de
soberania, regime dos Ex. Estado e capacidade das
referendos, organização da pessoas, direitos, liberdades,
defesa nacional, organização e garantiras, definição dos
funcionamento das FA crimes, penas, medidas de
segurança e respetivos
pressupostos, etc.

As AL das RA podem obter autorizações legislativas da AR, mas apenas quando exista interesse específico da
respetiva região, através de um decreto legislativo regional autorizado.

PROCESSOS DE FEITURA DOS ATOS LEGISLATIVOS DA AR

A) PROCESSO LEGISLATIVO COMUM – Processo-regra


Procedimentos a que estão sujeitos os diferentes atos legislativos

1.ª FASE – INICIATIVA: PLURALISTA


 Dos Deputados – projeto de Lei; Governo – proposta de lei; AL das RA – matérias de interesse específico da Região, proposta de lei
 INICIATIVA ORIGINÁRIA – projetos e propostas de lei; INICIATIVA SUPERVENIENTE – propostas de alteração
 SUBFASES:
 Apresentação na Mesa da AR do projeto ou proposta de lei
 Admissão da iniciativa legislativa pelo Presidente da AR
 Envio da iniciativa legislativa à comissão parlamentar competente
 (eventual) Recurso para o Plenário da decisão do Presidente da AR de admissibilidade da iniciativa

2.ª FASE – APRECIAÇÃO OU INSTRUTÓRIA

A iniciativa legislativa baixa à comissão parlamentar relacionada com a matéria do projeto ou proposta de lei para emissão de parecer
Nessa comissão, o projeto ou proposta de lei é apreciado(a) e, posteriormente, quando for deliberado pela Conferência de Líderes
(Presidente do Parlamento e os presidentes dos grupos parlamentares), é agendado(a) para discussão e votação, na generalidade, pelo
plenário da AR

3.ª FASE – CONSTITUTIVA OU DELIBERATIVA

Debate Parlamentar – ocorrem diferentes discussões, na generalidade e na especialidade, as diferentes votações, na generalidade e na
especialidade e a final global.
Cada discussão e votação na generalidade versa sobre o projeto ou proposta de lei. Se a proposta ou projeto de lei é APROVADO(A) na
generalidade, volta a baixar à comissão permanente respetiva para se proceder à sua discussão e votação na especialidade (versa sobre
cada artigo, cada número e cada alínea); caso seja REJEITADO(A) não pode ser renovado(a) na mesma sessão legislativa, salvo no caso de
eleição de nova AR.
Após a discussão e votação na especialidade, ocorre no Plenário, a votação final global
SeCatarina Cruz
a iniciativa legislativa é aprovada, por regra, pela maioria relativa, assume depois da redação final, a definição de “decreto da AR” 44
Introdução ao Direito

(continuação)

4.ª FASE – CONTROLO

Decorre no âmbito do poder moderado do PR.


O decreto da AR é assinado pelo Presidente da AR, publicado no Diário da República e enviado ao PR para promulgação – dispõe de 20 dias
para promulgar ou vetar.
O ato de promulgação permite ao PR controlar a constitucionalidade, a legalidade, o mérito e a conveniência dos atos legislativos e a sua
falta determina a inexistência jurídica do ato.
Se o PR vetar – o decreto é devolvido à AR para que esta, se entender, proceda a uma segunda deliberação (o veto a decretos da AR
apenas têm efeito suspensivo). Caso a AR mantenha o conteúdo do decreto, este é enviado de novo ao PR para promulgação obrigatória
Se o decreto inicial sofrer alterações é enviado ao PR para promulgação (do ponto de vista material é um novo decreto)
Caso o PR requeira a fiscalização preventiva da constitucionalidade e o TC se declarar pela inconstitucionalidade, o PR deve vetar o decreto
(veto jurídico ou por inconstitucionalidade) e devolvê-lo à AR para reapreciação, podendo esta expurgar a norma ou normas consideradas
inconstitucionais; ou pode a AR confirmar o decreto o que permite o PR o promulgue.
A promulgação de um ato normativo por parte do PR é obrigatoriamente expressa (não se prevê o veto tácito).
O ato presidencial de promulgação está sujeito a referenda ministerial – aposição de assinatura de um ou mais membros do Governo junto
da assinatura do PR, em atos que devam revestir forma escrita. A falta de referenda ou falta de promulgação determina a inexistência
jurídica do ato.

5.ª FASE – INTEGRAÇÃO DE EFICÁCIA

Após a promulgação e referenda pelo Governo, a lei é remetida para publicação no jornal oficial – Diário da República. Só após a
publicação é que a lei se torna eficaz começando a produzir efeitos jurídicos.

B) PROCESOS LEGISLATIVOS ESPECIAIS – situações jurídicas em que há particularidades nalgumas fases ou especificidades na forma
externa dos atos

I) PROCESSO RESPEITANTE À REVISÃO CONSTITUCIONAL

 A revisão constitucional só pode ocorrer após 5 anos da última revisão constitucional ordinária ou por iniciativa de quatro quintos dos
Deputados em efetividade de funções (revisão extraordinária)
 Limites formais ou processuais: só os deputados têm legitimidade para apresentar processos de revisão constitucional; as alterações à
CRP terão de ser aprovadas por maioria de dois terços do Deputados em efetividade de funções
 Promulgação: é obrigatória (o PR não pode recusar) prazo de 20 dias
 Limites circunstanciais: não é possível praticar qualquer ato de revisão constitucional durante a vigência de estado de sítio ou estado de
emergência.
 Limites materiais: delimitam os princípios que têm de ser acatados pelo poder da AR, que discute e aprova uma revisão, já que a lei de
revisão não poderá deixar de respeitar esses princípios e normas consagradas como limites materiais consagrados

II) PROCESSO RESPEITANTE À APROVAÇÃO DOS ESTATUTOS POLÍTICO-ADMINISTRATIVOS DAS RA DOS AÇORES E DA MADEIRA

 A iniciativa só cabe às Assembleias Legislativas das RA


 Podem apresentar propostas de alteração as AL das RA, os Deputados e o Governo da República
 Se a AR rejeitar a iniciativa regional ou lhe introduz alterações, o processo deve ser enviado para discussão e emissão de parecer à
respetiva AL que, depois de uma deliberação, o devolve de novo à AR e só após este mecanismo de auscultação é que o Parlamento
nacional pode finalmente deliberar
 Este regime é aplicável a todas as alterações estatutárias

III) PROCESSO RESPEITANTE À APRECIAÇÃO DE PROPOSTAS LEGISLATIVAS REGIONAIS

 As AL das RA têm direito ao agendamento na ordem do dia de duas propostas de lei da sua autoria em cada sessão legislativa

Catarina Cruz 45
Introdução ao Direito

IV) PROCESSO RESPEITANTE À AUTORIZAÇÃO E À CONFIRMAÇÃO DA DECLARAÇÃO DO ESTADO DE SÍTIO OU DO ESTADO DE


EMERGÊNCIA

A declaração do estado de sítio ou do estado de emergência pode implicar dois processos diferentes no quadro parlamentar:

1.º A autorização para a declaração do estado de sítio ou do estado de emergência – a votação da AR incide sobre a concessão da própria
autorização e assume duas formas externas diferentes consoantes o órgão que concede a autorização (lei quando é concedida pelo
Plenário; resolução quando é concedida pela Comissão Permanente)
2.º A confirmação da declaração do estado de sítio ou do estado de emergência – a votação do Parlamento incide sobre a confirmação; a
concessão de confirmação assume a forma de lei e a sua recusa a forma externa de resolução

V) PROCESSO RESPEITANTE À AUTORIZAÇÃO PARA DECLARAR GUERRA E PARA FAZER A PAZ

Cabe ao PR declarar a guerra e fazer a paz, mas estes atos requerem reunião dos diferentes órgãos de soberania: PR, AR e Governo, e ainda,
uma apreciação prévia do Conselho de Estado

Este processo implica uma autorização do plenário da AR ou da sua Comissão Permanente

VI) O PROCESSO RESPEITANTE ÀS AUTORIZAÇÕES LEGISLATIVAS

 Limites de natureza substancial: as leis de autorização legislativa devem indicar expressamente o objeto, o sentido e a extensão da
autorização – princípio da especialidade das autorizações
 Limite de natureza formal ou processual: o ato de autorização deve ser expresso através de uma lei de autorização legislativa; o ato
autorizado reveste a forma de decreto-lei autorizado ou delegado, devendo invocar expressamente a lei ao abrigo da qual é aprovado
 Limites subjetivos ou orgânicos: proibição da autorização legislativa a outros órgãos que não o Governo e as AL das RA. A autorização
legislativa caduca com o termo da legislatura, a dissolução da AR e a demissão do Governo. Os órgãos que receberam a autorização
legislativa não a podem transferir para qualquer outra estrutura orgânica
 Limites de natureza temporal: a autorização legislativa consagra sempre um prazo
 A não obediência destes limites implicam inconstitucionalidade
 Se o decreto-lei autorizado desrespeitar apenas a respetiva lei de autorização legislativa, estamos na presença de uma ilegalidade
 A iniciativa legislativa cabe apenas ao Governo ou às AL das RA – só há propostas de lei de autorização legislativa
 As autorizações legislativas necessitam de um ato derivado ou secundário (decreto-lei de desenvolvimento e decreto-lei autorizado) e
condicionam o Governo no conteúdo normativo a aprovar em Conselho de Ministros
 DIFERENÇAS: as leis de bases inovam na ordem jurídica ao contrário das leis de autorização legislativa. As leis de bases vigoram no nosso
ordenamento jurídico enquanto as leis autorizantes têm de ser utilizadas, caso contrário caducam.

C) O PROBLEMA ESPECÍFICO DA ALÍNEA Q) DO N.º 1 DO ART.º 165.º DA CRP

Com a votação na especialidade pelo Plenário do Estatuto das autarquias locais, incluindo o regime das finanças locais obriga o órgão
legislativo a uma discussão pública de todos os pormenores das propostas ou/e projetos de lei em causa.

D) A INTERVENÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL NO PROCESSO LEGISLATIVO COMPLEMENTAR

 As comissões de trabalhadores e as associações sindicais podem apreciar as propostas e os projetos de lei


 É permitida a participação dos representantes das atividades económicas através do Conselho Económico e Social
 Dispõem de poder de participação diferentes associações representativas de diversos interesses da sociedade civil

Nestes casos, as entidades apenas podem ser ouvidas e participar, mas não têm poder de decisão

Catarina Cruz 46
Introdução ao Direito

1.6.3. OS DECRETOS-LEIS

DECRETOS-LEIS
Atos legislativos emanados do Governo e necessariamente leis em sentido material

DECRETOS-LEIS CONCORRENCIAIS DECRETOS-LEIS AUTORIZADOS OU


(Aprovados ao abrigo da competência DELEGADOS
legislativa concorrencial do Governo) (Aprovados ao abrigo da competência
legislativa autorizada ou delegada)
Relativos a matérias que não estão afetas a
qualquer das reservas de competência Regulam juridicamente as matérias de
legislativa dos órgãos legisladores (são da reserva relativa da AR e que pressupõem
competência simultânea da AR e do uma lei de autorização legislativa, que
Governo) define o objeto, o sentido da autorização, a
extensão e a duração da mesma.
Vigora o princípio de que a lei posterior
revoga a lei anterior e de que a lei e
decreto-lei se podem revogar mutuamente
pois têm igual valor

DECRETOS-LEIS DE DESENVOLVIMENTO DECRETOS-LEIS RESPEITANTES À RESERVA


(Aprovados ao abrigo da competência EXCLUSIVA DO GOVERNO
legislativa complementar ou de
desenvolvimento dos princípios gerais Integram matérias da sua competência
contidos em leis de bases) legislativa reservada e são relativos à
organização e ao funcionamento do
Estão diretamente relacionados e Executivo
pressupõem as chamadas leis de base dos
regimes jurídicos

Com este DL torna-se exequível o regime


jurídico

1.6.4. DECRETOS LEGISLATIVOS REGIONAIS

DECRETOS LEGISLATIVOS REGIONAIS


Competência legislativa particular das Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas

DLR EM SENTIDO RESTRITO DLR DELEGADOS OU DLR DE DESENVOLVIMENTO


AUTORIZADOS Atos legislativos com iguais
Abarcam matérias de Atos legislativos com iguais características do DL de
interesse específico da RA características do DL desenvolvimento
(Estatutos Político- delegado ou autorizado – a
Administrativos) e que não AR delega nas AL
estão reservadas aos órgãos competência para legislar
de soberania sobre matéria de interesse
da região
Catarina Cruz 47
Introdução ao Direito

1.7. AS VICISSITUDES DA LEI

VICISSITUDES DA LEI

A VIGÊNCIA DA LEI PERÍODO DE VACATIO LEGIS CESSAÇÃO E SUSPENSÃO DA LEI

A lei só se torna obrigatória Prazo que medeia entre a


após a sua publicação no DR – a publicação da lei e a sua
sua falta determina a ineficácia entrada em vigor - REVOGAÇÃO CADUCIDADE
jurídica do ato Uma lei revoga a lei Verifica-se um termo
A lei pode ser obrigatória mas anterior certo – a lei estipula
não imediatamente aplicável que a sua vigência
Revogação ocorre até um
Regra geral, a lei é obrigatória substitutiva – a lei determinado dia, ou
no dia a seguir à publicação, estipula novo regime esgotam-se os seus
mas pode impor um limite mais efeitos
alargado e pode retroagir Revogação simples –
efeitos sobre o passado a lei não estipula
novo regime

ÂMBITO OU EXTENSÃO MODALIDADES A lei geral não revoga a lei


especial
TOTAL – quando atinge um EXPRESSA – o legislador
diploma ou regime jurídico expressa as normas que a lei No sistema jurídico Português, a
(ab-rogação) revoga revogação não tem efeitos
repristinatórios (a repristinação
PARCIAL – incide apenas sob TÁCITA – O legislador não possibilita a entrada em vigor de
uma parcela do regime jurídico expressa essa vontade lei anteriormente revogada.
ou sobre uma parte do materialmente mas existe
diploma mais antigo contradição insanável entre o A lei pode ter a sua vigência
novo regime e o anterior suspensa por determinado
período de tempo

INTERPRETAÇÃO DA LEI – INSTRUMENTOS DE INTERPRETAÇÃO JURÍDICA

A) INTERPRETAÇÃO EM SENTIDO RESTRITO

 INTERPRETAÇÃO AUTÊNTICA: é realizada pelo AUTORIA


órgão que aprovou o ato normativo através de
outro ato de valor igual ou superior – tem força  AUTO-INTERPRETAÇÃO: feita pelo mesmo órgão
obrigatória geral; que aprovou a normal – interpretação autêntica
 INTERPRETAÇÃO DOUTRINAL: é efetuada por
jurisconsultos ou outras entidades, a título  HETERO-INTERPRETAÇÃO: feita por outro órgão
particular e sem carácter vinculativo (não tem força que não aprovou a norma a interpretar. Pode ser
obrigatória geral) feita pelos tribunais (no caso concreto a julgar) ou
 INTERPRETAÇÃO JUDICIAL: é realizada nos e pelos pela Administração Pública, pelos jurisconsultos ou
Catarinatribunais
Cruz quando a aplicação da lei nos casos pelos particulares 48
concretos que estão a ser julgados. Não tem força
obrigatória geral, mas tem carácter vinculativo no
Introdução ao Direito

ELEMENTOS

 LITERAL OU GRAMATICAL: corresponde à letra da lei


 EXTRA-LITERAL OU LÓGICO: reconstituição do pensamento legislativo pretendendo encontrar a razão de ser da
lei. Para isso recorre-se ao ELEMENTO SISTEMÁTICO (“espírito do sistema”), ao ELEMENTO HISTÓRICO-
TEMPORAL (circunstâncias em que a lei foi elaborada e o momento em que entrou em vigor) e o ELEMENTO
TEOLÓGICO OU FINALISTA (objetivo que se visa alcançar com a aprovação de uma norma)

TIPOS DE INTERPRETAÇÃO – RELAÇÃO ENTRE A LETRA DA LEI E O ESPÍRITO DA LEI

 INTERPRETAÇÃO DECLARATIVA: coincidência entre a letra da lei e o espírito da lei


 INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA: existe divergência entre a letra da lei e o espírito da lei – o legislador expressou
menos do que desejava e o elemento literal (a letra da lei) fica aquém do espírito da lei
 INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA: divergência entre a letra e o espírito da lei – a letra da lei vai muito além do
pensamento do legislador (disse mais do que desejava)

B) INTEGRAÇÃO DE LACUNAS
Caso omisso – o legislador não regulou determinada situação jurídica; a integração de lacunas é a forma de ultrapassar esta
situação

TIPOS DE LACUNAS

LACUNAS OCULTAS LACUNAS OCULTAS

Situações que estão previstas na lei mas Não existe lacuna na lei e o caso tem
em que a regulação jurídica não se aplica regulação prevista.

Vazio legal As lacunas são aparentes

MÉTODOS DE INTEGRAÇÃO DE LACUNAS

ANALOGIA CRIAÇÃO DE NOVA NORMA

Aplicação ao caso omisso de uma norma


Ou método normativo
que regule casos semelhantes
Trata-se de legislar sobre a matéria
O recurso à analogia afirma que existe
quando o legislador se apercebe da
uma situação lacunar em que nem o
lacuna
espírito nem a letra da lei abarcam certa
situação – vazio legal

Não se aplica a “normas excecionais” e


“normas sancionatórias”

Catarina Cruz 49
Introdução ao Direito

C) INTERPRETAÇÃO ENUNCIATIVA
Recorre a argumentos da Lógica, através de métodos dedutivos, para alcançar novas normas que não estão consagradas
expressamente

ARGUMENTOS LÓGICO-DEDUTIVOS

ARGUMENTO DE MAIORIA ARGUMENTO “A A LEI QUE PROÍBE O A LEI QUE PERMITE O MAIS
DA RAZÃO CONTRARIO SENSU” MENOS TAMBÉM PROÍBE O TAMBÉM PERMITE O
MAIS MENOS
Ex. Se a lei proíbe Ex. Se a lei permite vender
amputação de membros, um imóvel também o
também proíbe o homicídio permite arrendar

APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

 Disposições transitórias – regulam a transição entre diferentes regimes jurídicos (o novo e o


antigo). Direito transitório é um conjunto de normas que regulam, em concreto, a sucessão das
leis no tempo
 A lei só dispõe para o futuro – não retroatividade da lei (a retroatividade da lei é admitida em
determinadas circunstâncias)
 A lei interpretativa tem eficácia retroativa, retroagindo os seus efeitos à data de entrada em
vigor da lei interpretada

APLICAÇÃO DA LEI NO ESPAÇO

 As leis são aprovadas para vigorar em determinado território.


 Em Portugal, aplicam-se normas emanadas pelos órgãos competentes e normas jurídicas que
resultam de organizações internacionais (União Europeia)
 As regras de conflito por utilizar leis de outra organização são resolvidas pelo Direito
Internacional Privado

Catarina Cruz 50
Introdução ao Direito

1.8. OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E AS FONTES DE DIREITO

I – PRINCÍPIO HIERÁRQUICO-NORMATIVO

1.º Corolário: superioridade dos atos legislativos relativamente aos restantes atos normativos
regulamentares – princípio da legalidade administrativa (CRP – Atos Legislativos – Regulamentos)

2.º Corolário: tendencial paridade entre leis e decretos-leis devido ao âmbito da matéria
concorrencial (uma lei pode revogar um decreto-lei e vice-versa)

3.º Corolário: As leis orgânicas são superiores aos restantes atos legislativos pois possuem valor
reforçado (por exemplo, leis de enquadramento do Orçamento do Estado); obediência dos
decretos-leis autorizados relativamente às respetivas leis de autorização legislativa e os decretos-
leis de desenvolvimento em relação às respetivas leis de bases.

II – PRINCÍPIO DA TIPICIDADE OU NUMERUS CLAUSUS

Só têm força e valor de atos legislativos aqueles que a Constituição prevê como tal.
Nenhum ato legislativo pode criar outras categorias de atos legislativos – reserva de Lei Constitucional
(apenas o legislador constituinte, originário ou derivado tem competência para criar outras categorias
de atos legislativos.

III – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE DA COMPETÊNCIA

É um princípio geral do Direito Público.


Toda a competência resulta da lei (inalienabilidade e indelegabilidade)
Só assumem natureza de órgãos legislativos aqueles que a Constituição atribuir tal natureza
Só o órgão com competência legislativa em determinada matéria é que compete fazer a interpretação
autêntica do ato legislativo aprovado
Só podem existir autorizações legislativas quando a CRP prevê essa situação, exceto nos casos previstos

IV – PRINCÍPIO DA CONSTITUCIONALIDADE DOS ATOS

Todos os atos normativos devem estar de acordo com a Lei Fundamental sob pena de
inconstitucionalidade

V – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE DA ADMINISTRAÇÃO

Vincula as diferentes estruturas da Administração Pública portuguesa a atuar juridicamente de acordo


com a lei

VI – PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES

Interdependência de poderes. Os órgãos de soberania são independentes, dotados de poderes próprios


e as suas atuações devem ser coordenadas

VII – PRINCÍPIO DA SEGURANÇA E DA PROTEÇÃO JURÍDICA

VIII – PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA AUTONOMIA REGIONAL E AUTÁRQUICA

Catarina Cruz 51
Introdução ao Direito

1.9. INVALIDADE E A INEFICÁCIA

INVALIDADE - FORMAS
Sanções que recaem sobre atos e não sobre pessoas, sobre as quais podem recair sanções
subjetivas (penas privativas de liberdade, multas, coimas, etc.)

INEXISTÊNCIA NULIDADE ANULABILIDADE

Forma de invalidade jurídica mais O ato jurídico existe mas impede Tem carácter geral e afeta o ato
grave os atos de produzir efeitos mas não o impede de produzir
jurídicos efeitos jurídicos até à sua
O ato não existe no nosso anulação – são atos jurídicos
ordenamento jurídico Acarreta a insanabilidade do ato, a inválidos mas que produzem
impossibilidade de consolidação efeitos
Ex. ato jurídico que não foi na ordem jurídica, a
promulgado ou não foi sujeito a impugnabilidade a todo o tempo Permite a consolidação na ordem
referenda ministerial, a dissolução jurídica com decurso do prazo de
da AR antes de decorridos 6 O seu reconhecimento assume a impugnação sem que o mesmo
meses da sua eleição ou no último forma de declaração contenciosa seja exercido, ou através da
semestre do mandato do PR ou de nulidade (declarada pelos eliminação de ilegalidades com
durante a vigência de estado de Tribunais) ou declaração graciosa ato saneador.
sítio ou de estado de emergência der nulidade (decretada por órgão
da AP) São anuláveis os atos
administrativos praticados com
Recai sobre os atos (sanção ofensa dos princípios aplicáveis
objectiva)

Exs. Atos que ofendam conteúdo


de direito fundamental, atos
viciados em usurpação de poder

SÍNTESE

Anulabilidade Nulidade Inexistência


Existência jurídica Existe Existe Não existe
Eficácia Produz efeitos Não produz efeitos Não produz efeitos
Sanação Admite Não admite Não admite
Admite a consolidação na ordem
Consolidação jurídica, por sanação ou decurso Não admite Não admite
do tempo
Imperatividade Não obsta Pode opor-se resistência Pode opor-se resistência
Tempestividade A arguição depende de prazo A arguição não depende A arguição não depende de prazo
de prazo
Sede de invocação Tribunal Tribunal ou AP Tribunal ou AP
Forma de decisão Anulação Declaração contenciosa ou Declaração contenciosa ou

Catarina Cruz 52
Introdução ao Direito

administrativa de nulidade administrativa de nulidade


Carácter Geral Excecional e exige Excecional
tipificação legal
Efeitos da decisão Podem ser definidos e limitados Retroagem à data da Retroagem à data da prática do
pelo Tribunal prática do ato ato
Legitimidade A requerimento de interessados Oficiosamente Oficiosamente
ou do MP
Natureza da decisão Constitutiva Declarativa Declarativa

INEFICÁCIA
Atos insuscetiveis de produzir efeitos na ordem jurídica

 Nem todos os atos inválidos são ineficazes (atos anuláveis são inválidos mas eficazes)
 Nem todos os atos válidos são eficazes (existem atos válidos que não produzem efeitos
jurídicos, por exemplo, por terem a sua eficácia suspensa)
 A lei publicada no DR é ineficaz durante o período vacatio legis
 É ineficaz o ato não publicado em DR mesmo que promulgado pelo Chefe de Estado e
referendado pelo Governo

Catarina Cruz 53
Introdução ao Direito

Catarina Cruz 54
Introdução ao Direito

2. AS PESSOAS.

PESSOAS
Sujeitos das relações sociais tuteladas pelo Direito

PESSOAS SINGULARES PESSOAS COLETIVAS

São todos os seres humanos, indivíduos São vários tipos de organizações que podem ser
privadas (empresas, sociedades civis, associações
A PERSONALIDADE JURÍDICA (susceptibilidade e fundações privadas) ou públicas (Estado,
de ser titular de direitos e sujeito de obrigações) autarquias locais, institutos públicos)
adquire-se com o nascimento completo e com
vida e cessa com a morte A PERSONALIDADE JURÍDICA é adquirida por
força da lei ou por reconhecimento individual

CAPACIDADE JURÍDICA

CAPACIDADE GENÉRICA DE GOZO DE DIREITOS CAPACIDADE DE EXERCÍCIO DE DIREITOS

Traduz a medida dos direitos e das obrigações e


esta medida depende de pessoa para pessoa.
Todas têm capacidade jurídica mas podem ter
mais ou menos direitos (ex. eleição do PR acima
Consequência direta da personalidade jurídica. dos 35 anos)
Toda a pessoa tem personalidade jurídica e,
consequentemente dispõe de capacidade de gozo As pessoas singulares adquirem capacidade
de direitos jurídica quando perfizerem 18 anos de idade,
quando se emancipam ou pelo casamento

PESSOAS COLETIVAS – a capacidade de exercício


de direitos está dependente do princípio da
especialidade: estão limitadas ao exercício da sua
atividade porque apenas podem prosseguir os
fins para que foram criadas

Catarina Cruz 55
Introdução ao Direito

ESFERA JURÍDICA

HEMISFÉRIO PATRIMONIAL HEMISFÉRIO NÃO-PATRIMONIAL

Conjunto de direitos e obrigações com valor Direitos e deveres que não têm, diretamente,
pecuniário direto valor pecuniário

2.1. INCAPACIDADE JURÍDICA

A incapacidade jurídica traduz situações em que os indivíduos sofrem de limitações no âmbito da


possibilidade de exercício dos seus direitos – menoridade, interdição e inabilitação.

FIM!!! 

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