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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0106.16.002982-8/001 Númeração 0029828-


Relator: Des.(a) Hilda Teixeira da Costa
Relator do Acordão: Des.(a) Hilda Teixeira da Costa
Data do Julgamento: 02/04/2019
Data da Publicação: 10/04/2019

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO


MORAL - PRELIMINAR DE INTEMPESTIVIDADE - REJEITADA -
CUMPRIMENTO DA PENA NO REGIME ABERTO EM PRISÃO
DOMICILIAR - REGISTRO DE FUGA EM ABERTO EM DESFAVOR DA
AUTORA - OMISSÃO - DANO MORAL - RESPONSABILIDADE CIVIL DO
ESTADO CONFIGURADA - DEVER DE INDENIZAR - 'QUANTUM'
INDENIZATÓRIO - REDUÇÃO - SENTENÇA PARCIALMENTE
REFORMADA - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1- O fato de a
requerente ter sido presa, após ter sido beneficiada com o cumprimento da
pena no regime aberto em prisão domiciliar e devida ciência do Presídio, em
razão de constar no sistema 'fuga em aberto', configura ato ilegal passível de
indenização. 2- Na valoração da verba indenizatória a título de danos morais,
deve-se levar em conta a dupla finalidade da reparação, buscando um efeito
pedagógico e propiciando à vítima uma satisfação, pelo que o valor fixado na
sentença deve ser reduzido, a fim de evitar o enriquecimento sem causa. 3-
Recurso parcialmente provido.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0106.16.002982-8/001 - COMARCA DE CAMBUÍ -


APELANTE(S): ESTADO DE MINAS GERAIS - APELADO(A)(S): ALUANA
APARECIDA DOS SANTOS

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 2ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em REJEITAR PRELIMINAR E DAR PARCIAL PROVIMENTO AO
RECURSO.

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DESA. HILDA TEIXEIRA DA COSTA

RELATORA.

DESA. HILDA TEIXEIRA DA COSTA (RELATORA)

VOTO

Trata-se de apelação cível interposta em face da sentença proferida às


fls. 146-150, nos autos da ação indenização por danos morais, movida por
Aluana Aparecida dos Santos contra o Estado de Minas Gerais, que julgou
procedente o pedido inicial, para condenar o réu a indenizar a autora pelos
danos morais, no importe de R$20.000,00 (vinte mil reais), corrigida
monetariamente, segundo os índices da Corregedoria Geral de Justiça de
Minas Gerais, a partir da publicação da sentença, com incidência de juros de
mora, de 1% (um por cento) ao mês, desde a citação, nos termos do art. 406
do CC/2002.

Ainda, o réu foi condenado ao pagamento de honorários advocatícios


fixados em 15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação, nos termos
do art. 85,§2º, do CPC, deixando, contudo, de condená-lo em custas, face o
que dispõe o art. 10, inc. I, da Lei Estadual nº 14.939/03.

O Estado de Minas Gerais, em suas razões recursais de fls. 156-168,


esclarece que a autora foi condenada a 1(um) ano, 6(seis) meses e 20(vinte)
dias de reclusão, tendo iniciado o cumprimento da pena em 21/10/2014, em
regime semi-aberto, sendo que, em 07/11/2014, foi deferido o benefício de
trabalho externo. Acresce que, em virtude de problemas de saúde, a autora
deixou de

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comparecer no presídio de Pouso Alegre, o que teria sido justificado com a


apresentação de atestados médicos. E que, em 2015, foi-lhe concedido o
benefício do cumprimento da pena em regime domiciliar, a qual foi cumprida
e extinta em 27/06/2016. Contudo, em 12/04/2016, autora foi presa e
conduzida ao presídio, em razão de constar no sistema a informação de
"fuga em aberto".

Aduz, em síntese, a ausência do dever de indenizar, por não ter restado


configurado os pressupostos da responsabilidade civil, do art. 37, §6°, da
CR/88, qual seja, o fato administrativo, o dano e o nexo causal.

Salienta que não é qualquer aborrecimento sofrido pelo particular que


resultará na obrigação de indenizar do ente público, e que o agente público
agiu no estrito cumprimento do seu dever legal, não podendo ser imputada
qualquer responsabilidade ao réu, eis que uma de suas principais funções é
promover a ordem pública.

Alega que a apelada não demonstrou os fatos constitutivos do direito


alegado e que não restou caracterizado o abuso de direito, ilegalidade, nexo
etiológico e sequer o prejuízo.

Defende que deve ser excluída a condenação da indenização por dano


moral, visto que a autora já estava presa pela prática de crime de estelionato,
e já ficou detida por longo período. Ainda, ressalva que o equívoco foi
sanado e resolvido em curtíssimo intervalo de tempo.

Sustenta que a mera detenção posterior não causou repercussão social


alguma, eis que a parte autora já era ré confessa e condenada da justiça.

Eventualmente, caso seja mantida a condenação, requer que seja


reduzido o valor da indenização por danos morais, visto que esta não pode
servir para o enriquecimento da apelada, e que o valor não foi fixado com
parcimônia e nem coaduna com o efeito lesivo, se revelando
desproporcional.

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Alega que a correção da indenização deve incidir a partir do trânsito em


julgado e que os juros de mora são devidos a partir da decisão que fixou a
quantia indenizatória. E, declara que nas condenações judiciais da Fazenda
Pública, a forma de cálculo da atualização monetária e dos juros, deve se dar
com base no art. 1°-F da Lei n. 9.494/97, com redação dada pela Lei n.
11.960/2009.

Por fim, pugnou pela redução da verba honorária advocatícia


sucumbencial e pelo provimento do apelo.

Intimada, a autora apresentou suas contrarrazões, às fls. 171-176,


arguindo, preliminarmente, a intempestividade do apelo, visto que não consta
o protocolo da Secretaria na petição. No mérito, rechaça os argumentos do
recurso e pugna pelo seu desprovimento.

Em juízo de admissibilidade, o apelo é recebido no efeito suspensivo, nos


termos do art. 1.012, "caput", do CPC/15.

É o relatório.

Preliminarmente, a apelada aduz a intempestividade do recurso de


apelação e, razão não a assiste.

Observa-se que os autos foram remetidos ao Estado de Minas Gerais,


em 18/05/2018, conforme certidão às fls. 154.

Nos termos do art. 183, 'caput' do CPC/15, o Estado goza de prazo em


dobro para todas as suas manifestações processuais, sendo que, a teor do
§1°, a intimação pessoal far-se-á por carga, ocorrida em 18/05/2018 (sexta-
feira).

Considerando que o prazo recursal do Estado é de 30 dias úteis (art.


1.003, §5°, c/c art. 219 e art. 183,§1°, todos do CPC/15), que a contagem se
iniciou no dia 21/05/2018 (segunda-feira) (art. 224 c/c art. 231, III, ambos do
CPC), e que 24/05/2018 foi aniversário da cidade, dia 31/05/2018 foi feriado
de Corpus Christi e dia 01/06/2018 foi suspenso o expediente forense
(Portaria Conjunta

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Nº743/PR/2018), o prazo se encerrou dia 04/07/2018, de modo que o recurso


de apelação, cuja juntada se deu em 20/06/2018, conforme certidão às fls.
155v, se encontra tempestivo.

Posto isso, rejeito a preliminar de intempestividade.

No mérito, se extrai dos autos, que a autora foi condenada pela conduta
tipificada no art. 171, caput, do CP, (fls. 17-23), foi recolhida ao Presídio de
Pouso Alegre para o cumprimento da pena estabelecida em sentença
judicial, e, conforme cópia de decisão, às fls. 60-61, proferida em 19/02/2015,
foi lhe concedida a possibilidade de cumprir o restante da pena no regime
aberto em prisão domiciliar, sendo determinada a comunicação da referida
decisão à Direção do Presídio, cujo Ofício (de março/2015) foi juntado às fls.
63.

Às fls. 65-66, consta a intimação da sentenciada, ora autora, para


comparecer na audiência, realizada em 24/03/2015, em que foram aceitas as
condições impostas para o cumprimento da pena em regime aberto (fls. 67).

Ocorre que, durante o cumprimento da pena no regime aberto em prisão


domiciliar, em 12/04/2016, às 18:00 horas, a autora foi presa, conforme
Boletim de Ocorrência, às fls. 79-76, no qual consta que a autoridade policial
recebeu informação anônima de que a autora provavelmente estaria foragida
da justiça e que, em consulta no sistema, foi constatado que a autora
possuía o registro de "fuga em aberto".

Ainda, verifica-se que o advogado da autora peticionou (fls. 68-69),


perante o Juízo da Vara de Execuções Criminais da Comarca de Cambuí,
requerendo a baixa no sistema da anotação de "fuga" e a expedição de
alvará de soltura.

E, conforme documentos de fls. 77-79, foi expedido o alvará de soltura da


autora, em 13/04/2016, sendo ela liberada na mesma data.

Nesse contexto, forçoso reconhecer que houve falha no serviço

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estatal ao constar indevidamente no sistema do réu uma "fuga em aberto",


em desfavor da autora, que ensejou sua prisão indevida quando ela estava
beneficiada pelo cumprimento em prisão domiciliar, de modo que restou
configurado o dever de indenizar do ente público.

Ora, conforme bem entendido pelo d. Julgador primevo, os agentes


públicos agiram de forma negligente, restando patente, pois a conduta ilícita
e o nexo de causalidade com os danos sofridos, por ter a autora
permanecido reclusa por quase 1 (um) dia.

Cumpre ressaltar que, ao contrário do que pretende fazer parecer o


requerido, os atos jurisdicionais se equiparam aos demais atos da
Administração e, como tais, ensejam a responsabilidade objetiva estatal, de
maneira que dúvidas não restam quando ao dever de indenizar.

Dessa forma, não procedem as alegações aduzidas pelo Estado no que


se refere ao dever de indenizar, uma vez que restou demonstrada a conduta
omissa, o nexo causal e o dano suportado pela autora, que, na hipótese,
consiste no sofrimento, na tristeza e no abalo emocional, sentimentos estes
presumíveis no caso em tela.

No que tange ao 'quantum' fixado na indenização por danos morais, está


solidamente estabelecido na doutrina que a quantificação do valor da
indenização deve ser confiada ao prudente arbítrio do Juiz e, neste sentido, a
jurisprudência tem sido enfática em proclamar que:

"O arbitramento do dano moral é apreciado ao inteiro arbítrio do juiz que, não
obstante, em cada caso, deve atender a repercussão econômica dele, a dor
experimentada pela vítima e ao grau de dolo ou culpa do ofensor". (2ª
TACcivSP, ap. 490 355/6, Rel. Juiz Renato Sartorelli e apel. 501974-0/3, rel.
Juiz Milton Sanseverino).

A advertência do STJ é no sentido de que:

"(...) é de repudiar-se a pretensão dos que postulam exorbitância


inadmissíveis com arrimo no dano moral, que não tem por escopo

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favorecer o enriquecimento indevido" (AgReg., no Ag. 108.923, 4ª. Turma,


Rel. Sálvio de Figueiredo, ac. Um. de 24.09.96, DJU 29.10.96, p. 4-666).

A indenização, assim, tem, por fim, minorar o sofrimento da vítima,


visando, ainda, punir o agente pela prática do ato ilícito. Em suma, a verba
indenizatória não pode levar em conta apenas o potencial econômico do réu,
deve cotejar também a repercussão da indenização sobre a situação social e
patrimonial do ofendido, de satisfação na justa medida do abalo sofrido sem
enriquecimento sem causa.

Nestes termos, como a autora estava com o cumprimento da pena de


sua condenação criminal em aberto, embora tivesse sido beneficiada com a
modificação do regime semiaberto para o aberto, parte da repercussão social
já havia ocorrido com a sentença condenatória criminal, e considerando que,
não consta qualquer comprovação de excesso ou abuso na abordagem dos
agentes públicos, entendo que o dano moral fixado deve ser minorado.

Assim, entendo que a fixação do montante de R$ 20.000,00 (vinte mil


reais) se mostrou excessivo, de modo que, em que pese o tempo que a
autora ter sido presa indevidamente, em 12/04/2016 (18:00h) e ter saído no
dia seguinte, 13/04/2016, em consonância com os princípios da razoabilidade
e da proporcionalidade, considerando as peculiaridades do caso, acolho o
pedido de redução do apelante e reduzo a verba indenizatória para o valor de
R$ 2.000,00 (dois mil reais).

Por fim, em relação ao pedido de redução da verba honorária


sucumbencial, tendo em vista a redução do valor da condenação, por
consequência, houve redução da verba honorária, não cabendo a redução do
percentual fixado na sentença.

Em face, ao exposto, rejeito a preliminar e dou parcial provimento ao


recurso de apelação, para reduzir o valor da indenização por danos morais
para o importe de R$ 2.000,00 (dois mil reais).

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Custas recursais, 50% (cinquenta por cento) pelo apelante, isento na


forma da lei, e 50% (cinquenta por cento) pelo pela apelada, com
exigibilidade da cobrança suspensa, eis que litiga sob os auspícios da
gratuidade judiciária (fls. 84). E, fixo os honorários recursais em 5% (cinco
por cento) sobre o valor da condenação atualizado, nos termos do §11° do
art. 85 do CPC/15, para ambos os litigantes, na proporção de 50% (cinquenta
por cento) para cada, ressalvando que a autora está sob o pálio da justiça
gratuita.

JD. CONVOCADO BAETA NEVES - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. CAETANO LEVI LOPES - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "REJEITARAM PRELIMINAR E DERAM PARCIAL


PROVIMENTO AO RECURSO"

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