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(Karl Marx)
A Viena da segunda metade do século XIX se caracterizava por uma política dominante
orientada pelo liberalismo. As idéias iluministas, o empirismo, o utilitarismo, o espírito
antimetafísico e o movimento do livre-comércio na Inglaterra influenciavam
diretamente o panorama intelectual vienense. Esse foi o meio, portanto, onde se
desenvolveram os pensadores que fizeram parte do Círculo de Viena.
O Círculo de Viena surgiu nas primeiras duas décadas do século XX, como um
movimento em reação à filosofia idealista e especulativa presente – e dominante – nas
universidades alemãs. A corrente de pensamento (a posição filosófica) desenvolvida foi
qualificada de formas distintas: Positivismo Lógico, Empirismo ou empiricismo
Científico, Filosofia Analítica, Empirismo Lógico, etc.
A intenção dos ‘positivistas lógicos’ era divulgar uma nova “concepção científica do
mundo”, caracterizada principalmente pela constituição de uma ciência unificada, que
reunisse todos os conhecimentos proporcionados pelas diferentes ciências; eliminação
da metafísica da estrutura do pensamento racional, pois não se pode chegar ao
conhecimento daquilo que está além da experiência; análise lógica como método
fundamental da ciência.
O método adotado era indutivo: “a partir dos diversos fatos particulares, chegaríamos,
através de um procedimento indutivo, aos conceitos universais com os quais criamos as
teorias” (Condé). Por exemplo: a partir de inúmeras observações, constata-se que a
água ferve a 100 graus e que, sempre nas mesmas condições, isso ocorrerá sempre. A
ciência seria uma soma de enunciados desse tipo. Aqui podemos fundar uma das críticas
mais contundentes ao Empirismo Lógico: seus enunciados científicos tinham o seu
fundamento último nos fatos, no dado da experiência. A razão seria usada apenas como
“especulação”.
Nesse ponto é interessante introduzir Karl Popper em nosso ensaio. Popper foi
contemporâneo dos membros do Círculo de Viena e, inclusive, tinha uma relação
próxima com seus membros. Apesar de não se considerar positivista, o foi, embora
houvesse tecido várias críticas aos métodos do positivismo lógico. Uma delas é
justamente em relação ao método indutivo. Popper era totalmente contra a indução. Ele
funda o problema com a seguinte questão: “Qual é a justificação para a crença de que
o futuro será (amplamente) como o passado? Ou, talvez, qual é a justificativa para as
‘inferências indutivas’?”. Para Popper, as observações nunca são capazes de provar uma
teria: só podem provar a sua inverdade ou refutá-la. Para a teoria do senso comum da
indução ele atribui o termo “teoria do balde mental”.
Popper, embora racionalista, vai contra a visão de se encontrar uma verdade absoluta –
ideal do realismo científico - ao estabelecer que “as melhores teorias experimentais (e
todas são experimentais) são as que dão origem aos problemas mais profundos e
inesperados”. Ele cria um modelo “quádruplo” que possibilita várias formas de se
resolver um único problema. A lógica é a seguinte:
Problema -> Teoria Experimental -> Eliminação de Erro -> Novo problema
A teoria de Popper não busca solucionar um problema; busca gerar novos problemas.
“A emersão de novos problemas e novas soluções”. O seu modelo pode ser aplicado a
novas formas de comportamento e até mesmo de novas formas de organismos vivos.
Popper defende que a teoria deve ser oferecida como uma solução para um problema
científico – um problema descoberto dentro do reino dos problemas e soluções
pertencentes à tradição científica.
Popper critica os filósofos profissionais de seu tempo que pareciam ter perdido o
contato com a realidade: “(...) o maior escândalo da filosofia é que enquanto (...) o
mundo perece, os filósofos continuam a falar (...) sobre a questão se este mundo existe”.
Estende a crítica ao marxismo (uma ‘pseudociência, segundo ele), comentando, com
uma citação irônica de Hochhuth, que “os marxistas têm simplesmente interpretado o
marxismo de vários modos; a questão, porém, é mudá-lo”.
A crítica também é dura em relação aos materialistas e behavioristas: “são anti-
idealistas. Dizem que só existem coisas que possam ser observadas. Não percebem que
todas as observações envolvem interpretações à luz de teorias e aquilo que chamam de
observável é o que é observável à luz de teorias lindamente antiquadas e primitivas”. O
realismo, para Popper, é a única hipótese sensata. Quaisquer argumentos
epistemológicos – subjetivistas – que ofereçam alternativas para o realismo –
positivismo, idealismo, fenomenalismo, fenomenologia – são errôneos, “derivados de
uma errônea teoria do conhecimento que não suporta qualquer crítica séria”.
“Toda ciência e toda filosofia são senso comum esclarecido”: uma importante relação
se faz entre o senso comum e a crítica: o nosso ponto de partida é o senso comum e o
nosso grande instrumento para progredir é a crítica.
As contribuições de Popper não param por aí. Ele constata que a evolução do
conhecimento é imprevisível e que a compreensão de uma teoria é algo como uma
tarefa infinita, pois uma compreensão plena significaria compreender todas as suas
implicações lógicas.
Por fim, Popper também comete seus deslizes. É extremamente prático. Perguntas como
“que é?”, “que são?” são pseudo-perguntas, indagações infrutíferas. “Devemos evitar,
como se fosse praga, discutir o significado das palavras (jogo favorito da filosofia
passada e presente). (...) O que realmente nos interessa são os problemas (reais) de
teorias e de sua verdade”. O seu próprio modelo quádruplo revela um raciocínio linear.
A indução como método científico pode confundir-se com a própria lógica científica.
Ela parte de enunciado singulares ou particulares que são, por exemplo, as observações,
para enunciados universais, nomeadamente teorias. Para Popper não é nada óbvio que
se possa seguir tão facilmente esse caminho, ou seja, não importa quantos gatos pretos
nós observamos (enunciados singulares) não podemos afirmar que Todos os gatos são
pretos (enunciado universal).
De acordo com aquele que Chalmers chama de indutivista ingênuo a Ciência começa
com a observação, a observação fornece uma base segura para o conhecimento e as
teorias são propostas através da acumulação de dados observacionais (quantos?)
seguidos de indução. Em seu livro o autor usa quase um capítulo para refutar cada uma
dessas proposições, aqui apenas adianto que a primeira não é verdadeira pois, para que
haja observação o observador carrega sempre alguma teoria sobre o fenômeno que será
observado, sem a qual as variáveis se tornariam infinitas. A segunda também não é
verdadeira pois a observação não é uma base segura onde podemos construir o
conhecimento, tampouco a terceira proposição é válida como dissemos anteriormente
que não é possível fazer afirmações universais a partir de dados particulares.
Para Popper mesmo que isso fosse verdade – e a totalidade poderia estar errada – para
provar a autenticidade de um princípio de indução seria necessário recorrer ao um
método indutivo de grau superior que por sua vez precisaria de outro de grau ainda mais
elevado e assim por diante, levando a proposta à uma regressão infinita, quero dizer, o
método indutivo funcionou neste caso, funcionou naquele caso, funcionou naquele
outro, conclusão o método indutivo funciona sempre. Isso já foi mostrado como um
argumento injustificável desde o século 18 por David Hume.
Usando a lógica dedutiva torna-se também impossível justificar a indução. Para que a
conclusão de um argumento seja logicamente válido ele deve possuir premissas
verdadeiras. Com a indução é possível que exista uma conclusão falsa mesmo com
premissas verdadeiras. Exemplo: Posso observar diversos gatos e perceber que todos os
gatos que observei, em diversos lugares e em momentos diversos, são pretos. Logo
concluo, todos os gatos são pretos. Mas não existe suporte lógico para essa conclusão,
ou seja, eu não tenho garantias que o próximo gato que eu observar não será verde-
limão. Chalmers nos apresenta um exemplo mais divertido sobre esse ponto, o caso do
Peru Indutivista, apresentado por B. Russell. Um certo peru percebeu que normalmente
era alimentado pelo seu dono as 9 da manhã, mas como ele era um bom indutivista ele
esperou para recolher um grande numero de dados para tirar conclusões, e assim foi,
durante todo o ano ele recolheu dados e sempre era alimentado as 9 da manhã, concluiu
então: Eu sou alimentado as 9 da manhã! Chegada a véspera de natal ao invés de ser
alimentado ele foi degolado! A conclusão dele era falsa mesmo que suas premissas
fossem verdadeiras.
Uma tentativa de burlar o raciocínio que apresentamos aqui veio por Kant ao dizer que
o método indutivo é válido a priori o que acabaria com os problemas da regressão
infinita. Popper rejeita essa proposta.
Esta primeira parte mostrou que uma justificativa para o método indutivo é uma tarefa
bastante difícil para não dizer impossível.
Continuando nos apontamentos dos textos de Chalmers e Popper, este último propõe o
seguinte subtítulo: A Eliminação do Psicologismo, neste ponto o autor pretende fazer
uma separação entre a epistemologia e a psicologia do conhecimento, ou seja, a lógica
do conhecimento de um lado e a psicologia de outro. Os processos mentais que levam
um cientista à uma ideia nova, à uma nova teoria fazem parte da Psicologia do
conhecimento e não dizem respeito a lógica, esta se interessa pelas provas e
justificativas que dizem respeito a esta nova ideia, o que faz com que ela seja
considerada nova. E encerra este assunto dizendo que não existe um caminho lógico
para se conhecer novas ideias, seu processo contém algo de irracional, algo de
puramente intuitivo.
Desta forma, se as premissas (1) e (2) são verdadeiras a conclusão (3) também é.
Não é possível que tendo as premissas verdadeiras a conclusão seja falsa, se isso
acontecer temos uma contradição lógica.
Se modificarmos, nos itens anteriores, a premissa (1) para Muitos blogs de ciência são
chatos teremos um problema, pois é possível que este blog seja uma rara exceção de um
blog de ciências que não é chato.
Este argumento aracnídico, do ponto de vista da lógica é válido, porém ele não garante a
verdade da premissa.
Este tipo de raciocínio é usado para predizer eventos de uma teoria. Para Popper
podemos seguir o seguinte esquema: Uma ideia nova é obtida por conjectura e ainda
não justificada, pode-se tirar conclusões através da lógica. Isso não lembra em nado o
argumento indutivo. Ele segue outra forma de raciocínio.
Quero dizer, deve ser possível refutar uma teoria pela experiência para que esta seja
valida dentro da demarcação, ou seja, para que ela seja científica.
Já o exemplo, Choverá amanhã!, pode ser testado e refutado – basta que não chova –
desta forma ele resiste e é considerado válido (ao menos até a hora que começar a
chover). O que importa aqui é a possibilidade lógica do argumento ser falsificado, neste
momento não importa se a teoria é verdadeira ou não. De fato ela nunca será
completamente verdadeira, por que, se puder ser falsificado sempre será possível
encontrar uma prova empírica que a refutará.
Um outro exemplo, usado pelo Chalmers, Todos os corpos pesados, como tijolos
quando liberados próximos a superfície da Terra caem diretamente para baixo se não
forem impedidos. De primeira, pensamos, isso é claro e óbvio. Este argumento, pelo
critério do Falsificacionismo é válido?
Sim. Este argumento pode ser falsificável, embora ele seja verdadeiro. Basta encontrar
um tijolo que “caia para cima”, lembre-se o que importa não é a veracidade da
informação, mas a possibilidade lógica. No caso do tijolo que cai para cima não existe
nenhum contradição lógica.
Um ultimo argumento apresentado aqui será falsivicável como este último, porém será
falso (o último era falsificável e verdadeiro). A expressão: Nunca chove as quartas-
feiras! É uma expressão que é falsificável, basta encontrarmos uma quarta-feira
chovosa. Além disso ela é falsa.
Agora pense você nos seguintes argumentos e responda se eles se enquadram na lógica
falsificacionista.
Porém não é possível para os cientistas ter testado cada incidência de uma ação, e
encontrar uma reação. Como é, então, que eles podem afirmar que a Terceira Lei é em
algum sentido verdadeira? Eles têm, é claro, testado muitas, muitas ações, e em cada
uma foram capazes de encontrar a reação correspondente. Mas poderemos ter certeza
que da próxima vez que testarmos a Terceira Lei, ela se confirmará?
[editar] Indução
Uma solução para esse problema está em confiar na noção de indução. O raciocínio
indutivo mantém que se uma situação se sustenta em todos os casos observados, então a
situação se sustenta em todos os casos. Então depois de completar uma série de
experimentos que suportam a Terceira Lei, está justificado manter que a lei se sustente
em todos os casos.
[editar] Falseabilidade
A outra forma de usar lógica para justificar afirmações científicas, pela primeira vez
formalmente discutida por Karl Popper, é a Falseabilidade. Esse princípio afirma que a
fim de ser útil (ou mesmo completamente científica), uma afirmação científica ("fato",
teoria, "lei", princípio, etc.) tem de ser falsificável, isto é, capaz de ser provada como
errada. Sem essa propriedade, seria difícil (se não impossível) testar a afirmação
científica contra a evidência. A meta da falsificação é reintroduzir o raciocínio dedutivo
dentro do debate. Não é possível deduzir uma afirmação geral de uma série de
afirmações específicas, mas é possível para uma afirmação específica provar que uma
afirmação geral é falsa. Encontrar um cisne negro pode ser suficiente para mostrar que a
afirmação geral de que "todos os cisnes são brancos" é falsa.
A falseabilidade ordenadamente escapa do problema da indução, porque ela não faz uso
do raciocínio indutivo. Contudo, ela introduz suas próprias dificuldades. Quando uma
aparente falsificação ocorre, é sempre possível inserir uma adição a uma teoria que a
fará desfalsificada. Então, por exemplo, ornitologistas poderiam simplesmente ter
argumentado que o grande pássaro preto encontrado na Austrália não era um membro
do gênero Cygnus, mas de algum outro, ou talvez algum novo.