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SOROR SOBRINHO

Quando as monjas foram dar com o poeta morto, num aposento


tristíssimo do bairro Cachoeirinha, em Manaus, às três horas da manhã
de um Natal qualquer de 1915, tranquilizaram-se sabendo que se
tratava na verdade de mais um “sonho de noivado” de Maranhão
Sobrinho, pois diziam: “morrer no azul” é viver duas vezes.

Ao contrário de soror Teresa, elas conheciam muito bem sua “dor


escrava”. Aquela dor implacável que no poeta chega a atingir
proporções lacerantes, líricas. Aquela angústia terrível que insistimos
em repelir e que no poeta chega a ser desejável, a mesma que o
inventa, a engenheira dos poetas.

“Minha alma se traduz na tristeza de um goivo” – antagonizava o


poeta. Não se trata apenas de uma dor “fingida”, no dizer de Pessoa. Em
Maranhão Sobrinho ela é – como chegou a afirmar – “a mesma de Jesus
nas ruas santas de Jerusalém”.

Nunca ocultara a “dor escrava” que seu “peito de pai sentia” por
ter perdido Celeste, seu “anjo morto”; da sua sempre amada Honorina,
que deixara “nos braços de outro amante”, quando partiu para São
Luís, em 1900, levando consigo apenas cartas cheias de juras de amor
eterno e sobre as quais chorava debruçado, pois “não se esquece nunca
um breve espaço o amor divino do primeiro beijo e a febre intensa do
primeiro abraço!”; da devota mãe que nunca mais veria, cuja saudade
arrancara-lhe este clamor: “Ó mãe, melhor das mães, ó mãe que o
errante filho entrevês nas orações... Pede a Jesus que eu volte ao teu
regaço”; a saudade, enfim, de sua “triste e legendária aldeia”, seu
“ninho amado” e seu “beiral antigo”, como dizia de Barra do Corda.
Assim foi que preferiu morrer precoce a ter de viver “sob a cruz dos
janeiros”.

Aquele para quem a vida foi “um vale mal de mágoas e


desterros”, anunciava solenemente: “meu sonho límpido é morrer!”.
Assim foi que morreu Maranhão Sobrinho, o poeta maldito de Atenas,
num sonho – como soror Teresa – abraçado a uma cruz.
Se do amor a morte vem, também tenho minhas dúvidas. Se a
vida de soror ainda boia nos “olhos do Senhor da Penha”, então o poeta
não morreu, apenas dispôs suas asas ao infinito e voou, deixando seu
“pombal de lágrimas”, “longe dos homens e das casas”, rumo à
“orquestra azul” das “seivas estupendas”, ao “ninho” que fora construir
na “verde Tebaida” das valquírias sonhadas.

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