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O Socialismo e as Igrejas*

ROSA LUXEMBURGO

opositores do Governo; e ainda mais,


exortam-nos a suportar a pobreza e a
opressão com humildade e paciência.
Transformaram a igreja e o púlpito num
lugar de propaganda política.
Os trabalhadores podem convencer-se
facilmente que a luta do clero contra os
sociais democratas1 não é de modo
algum provocada por estes. Os sociais
I democratas propõem-se, como objetivo,
unirem-se e organizarem os
Desde o momento em que os trabalhadores na luta contra o capital,
trabalhadores do nosso país e da Rússia isto é, contra os exploradores que lhes
começaram a lutar corajosamente contra sugam a última gota de sangue, e na luta
o governo czarista e contra os contra o governo czarista que impede a
exploradores capitalistas, notamos cada libertação do povo. Mas nunca s sociais
vez com mais frequência que os padres, democratas conduzem os trabalhadores a
nos seus sermões, se lançam contra os lutar contra o clero ou tentar interferir
trabalhadores que lutam. É com com as crenças religiosas; de modo
extraordinário vigor que o clero combate nenhum! Os sociais democratas, de todo
os socialistas e tenta, por todos os meios, o mundo e do nosso próprio país,
minimizá-los aos olhos dos consideram a consciência e as opiniões
trabalhadores. Os crentes que vão à pessoais como sendo sagradas.
igreja, nos domingos e dias festivos, são
compelidos, cada vez com mais Todo homem pode ter aquela fé e
frequência, a ouvirem um violento aquelas opiniões que lhe pareçam
discurso político, uma verdadeira capazes de assegurar a felicidade.
denúncia do Socialismo, em vez de Ninguém tem o direito de perseguir ou
ouvirem um sermão e nele obterem uma atacar a opinião religiosa particular dos
consolação religiosa. Em vez de outros. Isto é o que os socialistas
confortarem as pessoas que estão cheios pensam. E é por esta razão, entre outras,
de preocupações, e cansadas pela vida que os socialistas animam todo o povo a
difícil, e que vão à igreja com fé no lutar contra o regime czarista, que está
Cristianismo, os padres fulminam os continuamente a violentar a consciência
trabalhadores que estão em greve e os das pessoas, perseguindo católicos,

*
Publicado originalmente pela Wydawnictwa Socjaldemokracji Królestwa Polskiego e Litwa [Editora da
Social-Democracia do Reino da Polônia e Lituânia], em 1905.
1
Sociais democratas do início do século.
católicos russos2, judeus, heréticos e Contudo vemos o clero, por um lado,
livres pensadores. São precisamente os excomungado e perseguindo os sociais
sociais democratas que aparecem mais democratas e, por outro, mandando os
fortemente em defesa da liberdade de trabalhadores sofrer com paciência, isto
consciência. Portanto, pareceria que o é, deixando-os pacientemente ser
clero tinha obrigação de dar a sua ajuda explorados pelos capitalistas. O clero
aos sociais democratas que estão a tentar atira-se violentamente contra os
aliviar o povo oprimido. Se entendermos socialistas democratas, exorta os
devidamente os ensinamentos que os trabalhadores a não se revoltarem contra
socialistas trazem à classe trabalhadora, os dominadores, mas a submeter-se à
o ódio do clero contra eles torna-se ainda opressão deste governo que mata o povo
menos compreensível. indefeso, que manda para a monstruosa
Os sociais democratas propõem-se por carnificina da guerra milhões de
fim à exploração do povo pelos ricos. trabalhadores, que persegue católicos.
Pensar-se-ia que os servidores da igreja Católicos russos e “velhos crentes”.5
deveriam ter sido os primeiros a Assim, o clero, que se torna o porta-voz
desempenhar-se desta tarefa, mais do dos ricos, o defensor da exploração e
que os sociais democratas. Não é Jesus opressão, põe-se a si próprio em
Cristo (de quem os padres são flagrante contradição com a doutrina
cristã. Os bispos e os padres não são os
servidores) quem ensina que “é mais
fácil um camelo passar pelo furo de uma propagadores dos ensinamentos cristãos,
agulha que um rico entrar no Reino dos mas os adoradores do Bezerro de Ouro6
Céus”?3 Os sociais democratas tentam e do chicote que açoita os pobres e
trazer a todos os países regimes sociais indefesos.
baseados na igualdade, liberdade e Além disso, todos sabem que os próprios
fraternidade de todos os cidadãos. Se o padres tinham proveito do trabalhador,
clero realmente deseja que o princípio extraem-lhe dinheiro por ocasião do
“Ama o teu próximo como a ti mesmo” batismo, casamento e funeral. Quantas
seja aplicado na vida real, por que é que vezes têm acontecido que o padre,
não recebe bem e com entusiasmo a chamado à cabeceira da cama de um
propaganda dos sociais democratas? Os doente para administrar os últimos
sociais democratas tentam, através de sacramentos, se recusou a ir lá antes de
uma luta desesperada e da educação e serem pagos os seus “honorários”? O
organização do povo, subtraí-lo à trabalhador vai, desesperado, vender ou
opressão em que se encontra e oferecer- hipotecar os seus últimos bens para ser
lhe um melhor futuro para os filhos. capaz de dar uma consolação ao seu
Todos devem admitir que, neste ponto, o parente.
clero deveria abençoar os sociais É verdade que encontramos sacerdotes
democratas, pois não é ao clero que eles de outra espécie. Existem alguns que
servem, e sim a Jesus Cristo, que diz que estão cheios de bondade e misericórdia e
“o que fizeres aos pobres é a mim que o que não procuram lucros; estes estão
fazeis”?4 sempre prontos a ajudar os pobres. Mas

2 5
Cristãos ortodoxos que conheciam a Também conhecidos por “Roskilniki”, uma
supremacia do Papa. seita religiosa russa que tinha como contrário à
3
S. Marcos, X, 25; S. Lucas, XVIII, 25; S. verdadeira fé a revisão dos textos da Bíblia e a
Mateus, XIX, 24. reforma litúrgica pelo Patriarca Nikon, em 1654.
4 6
S. Mateus XXV, 40. Ver Êxodo XXXII, 1-8.
devemos admitir que são, sem dúvida, nascimento de Jesus Cristo, parecia-se
raros e que podem ser olhados da mesma muito com o da Rússia czarista. Por um
maneira que graúnas brancas. A maior lado, ali vivia um punhado de gente rica,
parte dos padres, de faces rosadas, gozando da luxúria e todos os prazeres;
curvam-se e saúdam cortesmente os por outro lado, uma enorme massa de
ricos e poderosos, perdoando-lhe pobres apodrecia na pobreza; sobretudo
silenciosamente toda depravação a e toda um governo despótico, assentado na
a iniquidade. Para com os trabalhadores, violência e na corrupção, exercia uma vil
o clero comporta-se de maneira bem opressão. Todo o império Romano foi
diferente: pensa apenas em espezinha- mergulhado em completa desordem e
los sem piedade; em sermões ríspidos cercado por ameaçadores inimigos
condenam a “cobiça” dos trabalhadores externos: a soldadesca desenfreada, no
quando estes nada mais fazem do que poder, praticava as suas crueldades sobre
defender-se contra os erros do a população desgraçada; a província
capitalismo. A espantosa contradição estava deserta, a terra jazia abandonada,
entre as ações do clero e os ensinamentos as cidades, especialmente Roma, a
do cristianismo deve levar-nos todos a capital, estava cheia de uma pobreza
refletir. Os trabalhadores espantam-se de chocante que erguia os olhos carregados
como na luta da sua classe pela de ódio para os palácios dos ricos; o povo
emancipação vão encontrar nos estava sem pão, sem abrigo, sem
servidores as Igreja inimigos e não vestuário, sem esperança e sem
aliados. Como é que a Igreja possibilidades de sair de sua pobreza.
desempenha o papel de defesa da Há apenas uma diferença entre Roma na
opressão rica e sangrenta, em vez de ser sua decadência e o império dos czares;
o refúgio dos explorados? Para entender
Roma nada sabia de capitalismo; não
esse fenômeno estranho, basta lançar os existia ali a indústria pesada. Naquele
olhos sobre a história da igreja e tempo, a escravatura era a ordem de
examinar a evolução pela qual ela passou coisas estabelecidas em Roma. As
ao longo dos séculos. famílias nobres, os ricos, os financeiros
II satisfaziam todas as suas necessidades
Os sociais democratas desejam pôr em pondo a trabalhar os escravos
execução o estado de “Comunismo”; é aprisionados nas guerras. Com o andar
dos tempos, estas pessoas ricas tinham
principalmente isso que o clero tem
contra eles. Em primeiro lugar, é deitado a mão a quase todas as
chocante notar que os padres de hoje, que províncias da Itália, espoliando da terra
combatem o comunismo, condenam, na os camponeses. Como se apropriavam de
realidade, os primeiros apóstolos cereais em todas as províncias
cristãos. Estes não passaram, de fato, de conquistadas, como tributo sem custo,
ardentes comunistas. davam-se ao luxo de abandonar, nos seus
próprios estados, plantações magníficas,
A religião crista desenvolveu-se, como é vinhas, pastagens, pomares e ricos
bem conhecido, na Roma antiga, no jardins, cultivados por exércitos de
período do declínio do império, que fora, escravos a trabalhar debaixo de chicote
antes, rico e poderoso, compreendendo do capataz. Assim se havia formado em
os países que são hoje a Itália e a Roma um exército numerosos dos que
Espanha, parte da França, parte da
Turquia, a Palestina e outros territórios.
O estado de Roma, na época do
nada possuíam – o proletariado7 –, não dispersos, demasiado esmagados pelos
tendo mesmo a possibilidade de vender a jugos, tratados como bestas e viviam
força do seu trabalho. Este proletariado, bastante isolados das outras classes para
vindo do campo, não podia ser absorvido serem capazes de transformar a
pelas empresas industriais como sociedade. Revoltaram-se muitas vezes
acontece hoje; tornaram-se vítimas da contra os seus patrões, tentaram libertar-
pobreza desesperada e foram reduzidos à se em batalhas sangrentas, mas o
mendicidade. Esta numerosa massa exército romano esmagou sempre estas
popular, morrendo de fome, sem revoltas, esmagando os escravos aos
trabalho, enchendo os subúrbios e os milhares e condenando-os à morte na
espaços livres e as ruas de Roma, cruz.
constituía um perigo permanente para o Nesta sociedade a desmoronar-se, onde
governo e para as classes possuidoras. não existe saída desta trágica situação
Portanto, o governo sentiu-se compelido, para o povo, nem esperança alguma de
no seu próprio interesse, a aliviar a uma vida melhor, os desgraçados
pobreza. De tempos em tempo, distribuía voltam-se para o Céu procurando nele a
ao proletariado o cereal e outros gêneros salvação. A religião crista aparecia a
alimentícios armazenados nos celeiros estes infelizes seres como um cinto de
do Estado. Mais, para fazer o povo salvação, uma consolação e um
esquecer as suas amarguras, oferecia-lhe
encorajamento e tornou-se, logo desde o
espetáculos gratuitos de circo. Ao princípio, a religião dos proletários
contrário do proletariado do nosso romanos. Em conformidade com a
tempo, que mantém toda a sociedade posição material dos homens
pelos seus trabalhos, o enorme pertencentes a esta classe, os primeiros
proletariado de Roma existia pela
cristãos fizeram a proposta da
caridade. propriedade em comum – o comunismo.
Eram os escravos miseráveis, tratados O que é que poderia ser mais natural? As
como bestas, quem trabalhava para a pessoas careciam dos meios de
sociedade romana. Neste caos de subsistência e estavam a morrer de
pobreza e degradação, um punhado de pobreza. Uma religião que defendia o
magnatas romanos passava seu tempo povo pedia que os ricos partilhassem
em orgias e devassidão. Não havia com os pobres as riquezas que devem
possibilidade de sair destas monstruosas pertencer a todos e não a um punhado de
condições sociais. O proletariado pessoas privilegiadas; uma religião que
queixava-se e ameaçava, de vez em pregava a igualdade de todos os homens
quando revoltou-se, mas uma classe de teria grande sucesso. Contudo, isto nada
mendigos, vivendo das migalhas caídas tem em comum com as propostas atuais
da mesa dos senhores, não podia dos sociais democratas, com vista a
estabelecer uma nova ordem social. transformação em propriedade comum
Além disso, os escravos que mantinham dos instrumentos de trabalho, dos meios
com o seu trabalho toda a sociedade, de produção, para que toda a
estavam muito espezinhados, bastante

7
“Proles é o termo latino que significa filhos. Os da sociedade, enquanto que a sociedade moderna
proletários, portanto, constituíam a classe de vive à custa do proletariado”. Sismondi citado
cidadãos que nada tinham a não ser os braços de por Karl Marx in The Eighteemth Brumaire. Ver
seu corpo e os filhos dos seus ombros”. também: Engels, Principles of Communism
Communist Journal, nº 1, setembro de 1847 (questão 2).
(Londres). O proletariado romano viveu à custa
humanidade possa trabalhar e viver em Quando viajam não levam nada senão
unidade harmoniosa. uma arma para se defender dos ladrões.
Vimos que os proletários romanos não Em cada cidade têm o seu próprio
vivam do trabalho, mas das esmolas que administrador, que distribui roupa e
o governo distribuía. Assim, a exigência, alimento aos viajantes. Negócio não
pelos cristãos, da coletivização da existe entre eles. Contudo, se um dos
propriedade, não diz respeito aos meios membros oferece algum objeto de que
de produção, mas aos bens de consumo. ele precisa, recebe outros objetos em
Eles não pediam que a terra, as oficinas troca. Mas também cada um pode pedir
e os instrumentos de trabalho se o que precisa mesmo que não possa dar
tornassem propriedade coletiva, mas em troca”.
apenas que tudo deveria ser repartido Lemos nos “Atos dos Apóstolos” (IV 34,
entre eles, casas, roupas, alimentos e os 35) a seguinte descrição da primeira
produtos acabados mais necessários à comunidade de Jerusalém: “Entre eles
vida. Os comunistas cristãos não se não havia ninguém necessitado, pois
preocuparam nada em inquirir acerca da todos os que possuíam terras ou casas
origem destas riquezas. O trabalho de vendiam-nas, traziam o produto da venda
produção recaiu sempre sobre os e depositavam-no aos pés dos Apóstolos.
escravos. O povo cristão desejava apenas E a cada um era distribuído de acordo
que os que possuíam a riqueza com a sua necessidade”.
abraçassem a religião crista e fizessem Em 1780, o historiador alemão Vogel
das suas riquezas propriedade comum,
escreveu quase a mesma coisa acerca dos
para que todos pudessem gozar destas primeiros cristãos:
coisas boas em igualdade e fraternidade.
“De acordo com a regra, todo cristão
Foi, na verdade, deste modo que as tinha direito à propriedade de todos
primeiras comunidades cristas se os membros da comunidade, caso
organizaram. Um contemporâneo quisesse, podia pedir que os
escreveu: “Estas pessoas não acreditam membros mais ricos dividissem a
em fortunas, mas pregam a propriedade sua fortuna com ele, de acordo com
coletiva e nenhuma de entre elas possui as suas necessidades. Todo o cristão
mais do que as outras. Quem desejar podia fazer uso da propriedade dos
entrar na sua ordem é obrigado a pôr a seus irmãos. Assim, os cristãos que
sua fortuna como propriedade comum a não tinham casa podiam exigir do
que tinha duas ou três que os
essas mesmas pessoas. E por isso que
recebesse; o proprietário conservava
não há entre eles nem pobreza nem luxo para si próprio apenas a sua própria
– todos possuindo tudo em comum, casa. Mas por causa da comunidade
como irmãos. Não vivem numa cidade à de gozo dos bens, tinha de dar-se
parte, mas em cada uma têm casas para habitação àquele que a não tinha”.
eles próprios. Se quaisquer estrangeiros
O dinheiro era colocado em caixa
pertencentes à sua religião aparecem,
comum e um membro da sociedade.
repartem a propriedade com eles e
Especialmente escolhido para esse fim,
podem beneficiar dela como se fosse
dividia a fortuna coletiva entre todos.
propriamente sua. Essas pessoas, mesmo
Mas isto não era tudo. Entre os primeiros
que desconhecidas anteriormente uma
cristãos o comunismo foi levado tão
das outras, dão as boas vindas uns aos
longe que eles tomavam as suas refeições
outros e as suas relações as muito
em comum. A sua vida familiar era,
amigáveis”.
portanto, abolida; todas as famílias
cristas, numa sociedade, viviam juntas, que possuíam em forma de dinheiro,
como uma única grande família. cereais, frutas, vestuário e animais. Qual
Para terminar acrescentamos que certos seria o resultado? A pobreza
padres atacam os sociais democratas desapareceria por algumas semanas e,
alegando que somos a favor da durante este tempo, a população poderia
comunidade de mulheres. Obviamente alimentar-se e vestir-se. Mas os produtos
que isto é uma grande mentira, acabados são rapidamente consumidos.
proveniente da ignorância ou da ira do Após um pequeno lapso de tempo, as
clero. Os sociais democratas consideram pessoas, tendo consumido as riquezas
isso como uma distorção vergonhosa e distribuídas, teriam uma vez mais as
bestial do casamento. E, contudo, esta mãos vazias. Os proprietários da terra e
prática foi usual entre os primeiros dos instrumentos de produção podiam
cristãos.8 produzir mais, graças ao poder laboral
dos escravos, e assim nada se mudaria.
Deste modo, os cristãos do I e II século Bem. Aqui está porque os sociais
foram fervorosos adeptos do democratas consideram estas coisas de
comunismo. Mas este comunismo era um modo diferente dos comunistas
baseado no consumo de produtos cristãos. Eles dizem: “Não queremos que
acabados e não no trabalho, e mostrou-se os ricos repartam com os pobres: não
incapaz de reformar a sociedade e de pôr queremos nem caridade nem esmolas;
fim à desigualdade entre os homens e de ambas as coisas são incapazes de impedir
derrubar a barreira que separa ricos e o retorno da desigualdade entre os
pobres. Por isso, exatamente como antes, homens. Não é de modo algum uma
as riquezas criadas pelo trabalho – para partilha entre ricos e pobres que nós
toda a sociedade – era fornecido pelos desejamos, mas a completa supressão de
escravos. O povo, desprovido de méis de ricos e pobres”. Isto é possível desde que
subsistência, recebia apenas esmolas. as fontes de toda a riqueza, a terra, em
Enquanto uns poucos (em proporção comum com todos os outros meios de
com a massa do povo) possuírem produção e instrumentos de trabalho, se
exclusivamente para seu próprio uso tornem propriedade coletiva do povo
todas as terras cultiváveis, florestas e trabalhador que irá produzir para si
pastagens, os animais do campo e as próprio, de acordo com as necessidades
casas de lavoura, todas as oficinas, de cada um. Os primeiros cristãos
ferramentas e matérias de produção, não acreditaram que podiam remediar a
pode haver qualquer espécie de pobreza do proletariado por meio das
igualdade entre os homens. Em tais riquezas oferecidas pelos possuidores.
condições, a sociedade, evidentemente, Isso seria deitar água numa peneira! O
encontra-se dividida em duas classes, os comunismo cristão foi não só incapaz de
ricos e os pobres, os do luxo e os da mudar ou melhorar a situação
pobreza. Suponhamos, por exemplo, que econômica, como não substituiu.
os ricos proprietários, influenciados pela Ao princípio, quando os seguidores do
doutrina crista, oferecessem para novo Salvador constituíam um pequeno
distribuir para o povo todas as riquezas grupo na sociedade romana, a divisão do
8
Mas ver Tertuliano (c. 160-230): “somos comum. Entre nós todas as coisas são
irmãos na nossa propriedade familiar com a qual distribuídas promiscuamente, exceto as esposas.
a maior parte das vezes se dissolve a irmandade. Somente nisto nós dividimos a amizade, aí onde
Nós, portanto, que estamos unidos de alma e outros (pagãos gregos e romanos) somente a
espírito, não temos dúvidas em ter bens em exercem”.
pecúlio comum, as refeições em comum dizeis-me: “Qual é a nossa falta,
e o viver debaixo do mesmo teto, eram quando guardamos o que nos
praticáveis. Mas quando o número de pertence”? eu pergunto-vos: “Como
cristãos se espalhou pelo território do é que arranjastes isso a que chamais
Império, esta vida comunitária dos seus de vossa propriedade? Como é que
os possuidores se tornam ricos,
partidários tornou-se mais difícil. Em
senão tomando posse das coisas que
breve desapareceu o costume das pertence a todos? Se todos
refeições comuns e a divisão dos bens tomassem apenas o que estritamente
tomou um novo aspecto. Os cristãos não necessitam, deixando o resto aos
mais viveram como uma família; cada outros, não haveria nem ricos nem
um tomou cuidado da sua própria pobres”.
propriedade e já não ofereciam o total Foi S. João Crisóstomo, patriarca de
dos seus bens à comunidade, mas apenas Constantinopla, (nascido em Antioquia
o supérfluo. As ofertas dos mais ricos de em 347, falecido, no exílio, na Armênia,
entre eles ao organismo geral, perdendo em 407) quem pregou mais
o seu caráter de participação numa vida ardentemente aos cristãos para
comum, em breve se transformaram em regressarem ao primeiro comunismo dos
simples “esmolas”, desde que os cristãos Apóstolos. Este célebre pregador, na sua
ricos deixaram de fazer caso da 11ª homilia sobre o Atos dos Apóstolos,
propriedade comum e passaram pôr ao
disse:
serviço dos outros apenas uma parte do
que tinham, parte que podia ser maior ou “E havia uma grande caridade entre
menor, consoante a boa vontade do eles (os Apóstolos); ninguém era
doador. Assim, no coração do pobre entre eles. Ninguém
considerava como seu o que lhe
comunismo cristão, apareceu a diferença
pertencia, todas as suas riquezas
análoga à que reinava no Império estavam em comum... uma caridade
Romano e contra a qual os primeiros existia em todos eles. Esta caridade,
cristãos tinham combatido. Em breve consistia em que não havia pobre
foram apenas os cristãos pobres – os entre eles, de tal modo que os tinham
proletários – que tomaram parte em bens apressavam-se a desprender-se
refeições comuns; os ricos, tendo deles. Não dividiam as suas fortunas
oferecido uma parte da sua abundancia, em duas partes, dando uma e
conservavam-se à parte. Os pobres guardando a outra; davam o que
viviam das esmolas atiradas pelos ricos e tinham. Assim não havia
a sociedade tornou-se outra vez naquilo desigualdade entre eles. Todos
viviam em grande abundancia. Tudo
que tinha sido. Os cristãos não tinham
se fazia com o maior respeito. O que
mudado a vontade dos ricos. davam não passava da mão do
Os padres da Igreja lutaram muito ainda, doador para a mão do que recebia; as
com palavras escaldantes, contra esta suas dádivas eram sem ostentação;
penetração da desigualdade social na traziam os bens aos pés dos
comunidade crista, flagelando os ricos e apóstolos que se tornavam os
controladores e donos deles e que os
exortando-os a voltarem ao comunismo
usavam, daí para o futuro, como
dos primeiros Apóstolos. bens da comunidade e já não como
S. Basílio, no Século IV depois de Cristo, propriedade de indivíduos. Por este
pregou assim contra os ricos: meio cortaram a possibilidade de vã
glória. Ah! Por que é que se terão
“Miseráveis, como vos ireis perdido estas tradições? Ricos e
justificar diante do Juiz do Céu? Vós pobres poderiam todos tirar proveito
destes costumes piedosos e uns aos não resultaria numa grande multidão
outros sentiríamos o mesmo prazer como esta? E entre os próprios
em nos conformarmos com eles. Os pagãos, quem não se apressaria a
ricos não empobreceriam ao aumentar o tesouro em comum? E
desprenderem-se das suas posses, e entre o tesouro comum? A riqueza
os pobres seriam esquecidos... Mas que é possuída por várias pessoas é
tentemos dar uma idéia exata do que muito mais fácil e rapidamente
se deveria fazer... Ora, suponhamos gasta: a difusão da propriedade é a
– e nem pobres nem ricos precisam causa da pobreza. Tomemos como
se alarmar, pois eu estou apenas a exemplo uma família composta de
supor – suponhamos que vendemos marido, esposa e dez filhos, a esposa
tudo o que nos pertence para pormos ocupando-se em fiar a lã, o marido
o produto da venda numa conta trazendo do seu trabalho fora de
comum. Que somas de ouro se casa; digam-me em que gastaria
amontoariam! Não sei dizer com mais esta família, se vivendo em
exatidão quanto isso iria dar; mas se comum ou vivendo separadamente.
todos entre nós, sem distinção de Obviamente, se estivessem
sexo, trouxéssemos os nossos separados. Dez casas, dez mesas,
tesouros, se vendêssemos os dez criados e dez subsídios especiais
campos, as propriedades, as casas – seriam necessários para crianças se
não falo de escravos, pois não havia vivessem separados. O que é que se
nenhum na comunidade cristã e os faria se possuíssem muitos
que houvesse tornavam-se livres – escravos? Não é verdade que para
talvez, se todos fizessem o mesmo, reduzir as despesas se iria aumentá-
creio que conseguiríamos centenas los numa mesa comum? A divisão é
de milhar de libras de ouro, milhões, uma causa de empobrecimento; a
enormes valores. concórdia e a unidade de vontades é
uma causa de riquezas.
“Bem. Quantas pessoas pensam que
vivem nesta cidade? Quantos “Nos mosteiros, ainda se vive como
cristãos? Concordam em que haja na primitiva Igreja. E quem morre de
uns cem mil? O resto será fome ali? Quem é que ali não
constituído por judeus e gentios. encontra o bastante para comer?
Quantos não conseguiríamos unir? Contudo os homens do nosso tempo
Ora, se contássemos os pobres, temem viver dessa maneira mais do
quantos seriam? Cinquenta mil que temem cair no mar! Por que é
necessitados, no máximo. O que que não tentamos? Temê-lo-íamos.
seria necessário para os alimentar Que grande ato seria esse! Se alguns
em cada dia? Julgo que a despesa fiéis, uns escassos oito mil,
não seria excessiva, se o gostaram, na presença de todo o
fornecimento e o consumo da mundo, onde não tinham senão
alimentação fossem organizados em inimigos, de fazer uma corajosa
comum. Dir-se-á talvez: “mas o que tentativa de viver em comum, sem
será de nós quando estes gêneros qualquer auxílio externo, quanto o
estiverem consumidos?” Mas o quê? melhor o podíamos os fazer hoje,
Isso poderia acontecer? A graça de agora que já cristãos em todo o
deus não seria mil vezes mais mundo? Permaneceria um único
abundante? Não estaríamos nós a gentio? Nenhum, creio eu. Nós atrai-
fazer um céu na terra? Se
anteriormente esta comunidade de
bens existiu entre três a cinco mil
fiéis e teve tão bons resultados e
baniu a pobreza entre eles por que
los-íamos todos e ganhá-lo-íamos cristãos proclamaram, não podia ser
para nós”.9 posta em prática sem o trabalho comum
Estes ardentes sermões de S. João de toda a população, na terra, como
Crisóstomo foram em vão. Os homens na propriedade comum, e também em
não mais tentaram estabelecer o oficinas comunais. No período dos
Comunismo nem em Constantinopla, primeiros cristãos, era impossível iniciar
nem em parte nenhuma. Ao mesmo o trabalho comunal (com meios
tempo que o cristianismo se expandia e comunais de produção) porque, como
se tornava, em Roma, depois do século nós já afirmamos. O trabalho baseava-se,
IV, a religião dominante, os fiéis não em homens livres, mas em escravos
distanciavam-se cada vez mais do que viviam à margem da sociedade.
exemplo dos primeiros Apóstolos. A Cristandade não tentou abolir a
Mesmo dentro da própria comunidade desigualdade entre o trabalho de
cristã, a desigualdade de bens entre os diferentes homens nem entre a sua
fiéis cresceu. propriedade. Razão pela qual, o seu
De novo, no século VI, Gregório, O esforço para suprimir a distribuição
grande, disse desigual dos bens de consumo não
vingou. As vozes dos Padres da igreja
“Não é, de modo algum, bastante proclamando o Comunismo não
não roubar a propriedade dos outros;
encontraram eco. Além disso, estas
é errado conservar para si próprio a
riqueza que Deus criou para todos. vozes, em breve, tornaram-se cada vez
Aquele que não dá aos outros o que menos freqüentes e, finalmente, caíram
possui é um assassino; quando no silêncio completo. Os Padres da
guarda para seu próprio uso o que Igreja cessaram de pregar a comunidade
proveria os pobres, pode dizer-se e a distribuição dos bens, porque o
que está a matar os que podiam ter crescimento da comunidade cristã
vivido da sua abundância; quando produziu mudanças fundamentais dentro
repartimos com os que estão da própria Igreja.
sofrendo, nós não damos o que nos
pertence, mas o que lhes pertence. III
Isto não é um ato de misericórdia, No princípio, quando o número de
mas o pagamento de uma dívida”. cristão era pequeno, não existia clero no
Estes apelos foram infrutíferos. Mas a sentido próprio da palavra. Os fiéis, que
culpa não foi, de modo algum, dos formavam uma comunidade religiosa
cristãos desses dias, que na verdade independente, uniam-se em comum, em
correspondiam mais às palavras dos cada cidade. Elegiam um membro
Padres da Igreja do que os cristãos de responsável para dirigir o serviço de
hoje. Não foi a primeira vez na história Deus e realizar as cerimônias religiosas.
da humanidade que as condições Todo cristão podia tornar-se bispo ou
econômicas se mostraram elas próprias prelado estas funções eram coletivas,
mais fortes que belos discursos. sujeitas a revogação, honorárias, e não
comunicavam poder além do que a
O Comunismo, esta comunidade de
comunidade lhes conferia de livre
consumo de bens, que os primitivos
vontade.10 À medida que o número de
9
Abbé Bareille, Jean Chrysostome, Paris, 1869, Atos, parecem estar sob autoridade. No entanto
vol. VII, pp. 599-603. eram eleitos, e muitas vezes provavelmente pela
10
Certamente, contudo, os ministros locais, tal nomeação dos profetas locais; Apóstolos foram
como aparecem nas epístolas de S. Paulo e nos nomeados por Paulo e Barnabé. Perante a
fiéis crescia e as comunidades se dos concílios. É por isso que o bispo de
tornavam mais numerosas e mais ricas, a Roma em breve se colocou a si próprio à
gerência dos negócios da comunidade e cabeça de toda a Cristandade e se tornou
o desempenho das tarefas tornou-se uma o Papa. Assim um abismo separava o
ocupação que exigia muito tempo e uma clero, organizado em hierarquia, do
aplicação total. Como os que exerciam povo.
este ofício não podiam executar as suas Ao mesmo tempo, as relações
tarefas e simultaneamente os seus econômicas entre o povo e o clero
empregos privados, surgiu o costume de sofreram uma grande mudança. Antes da
eleger entre os membros da comunidade formação desta ordem, tudo que os
um eclesiástico a quem eram membros ricos da Igreja ofereciam para
exclusivamente confiadas estas funções. propriedade comum pertencia aos
Portanto estes funcionários da pobres. Depois, uma grande parte dos
comunidade tinham de ser pagos pela sua fundos era gasta em pagar ao clero e em
devoção exclusiva às funções dela. administrar a Igreja.
Assim se formou dentro da Igreja uma
nova ordem de funcionários da Igreja, Quando, no séc. IV, o Cristianismo foi
que se separou do corpo principal dos protegido pelo governo, e foi
fiéis, o clero. Paralelamente à reconhecido em Roma como sendo a
desigualdade entre ricos e pobres, aí religião dominante, as perseguições dos
apareceu uma outra desigualdade, entre cristãos terminaram e o culto deixou de
o clero e o povo. Os eclesiásticos, no ser exercido nas catacumbas ou em
princípio eleitos entre iguais com vistas modestos compartimentos e passou para
a exercerem uma função temporal, em igrejas que começaram a ser construídas
breve se guindaram a uma espécie de duma forma cada vez mais magnificente.
casta que governava o povo. Estas despesas reduziram assim os
fundos destinados aos pobres. Já no
Quanto mais as comunidades cristãs se século V, os rendimentos da Igreja eram
tornavam numerosas nas cidades do divididos em quatro partes: a primeira
grande Império Romano, tanto mais os para o bispo, a segunda para o clero
cristãos, perseguidos pelo Governo, menor, a terceira para manutenção da
sentiam a necessidade de se unirem para Igreja e era apenas a quarta parte que era
ganhar força. As comunidades, distribuída para os necessitados. A
espalhadas por todo o território do
população cristã pobre recebia, portanto,
Império, organizaram-se, portanto, numa uma soma igual à que o Bispo recebia só
única Igreja. Esta unificação foi já uma para si próprio. Com o andar dos tempos
unificação do clero e não do povo. Desde foi-se perdendo o hábito de dar aos
o séc. IV, os eclesiásticos das pobres a importância a eles destinada
comunidades encontravam-se nos previamente. Sobretudo, quando o alto
concílios. O primeiro concílio realizou- clero ganhou importância, os fiéis
se me Nicéia, em 325. Desta forma se deixaram de ter o domínio sobre a
formou o clero, numa ordem separada do propriedade da Igreja. Os bispos davam
povo. Os bispos das comunidades mais aos pobres a seu bel-prazer. O povo
ricas e poderosas tomavam a presidência recebia esmolas do seu próprio clero. E

evidência de Atos 6 e das epístolas pastorais E quando eram durante a vida de S. Paulo eram
penso, com Harnock, que não podemos duvidar certamente controlados de cima”. Gore, Dr.
razoavelmente de que a nomeação era feita pela Streeter and the Primitive Church, pp 12 e 13.
oração com imposição de mãos, e “sacramental”.
não só. No princípio da cristandade, os grandes rendimentos. Cada eclesiástico
fiéis faziam ofertas voluntárias para o dispunha da propriedade da Igreja como
tesouro comum. Logo que a religião se fosse sua e largamente a doava aos
cristã se tornou uma religião de Estado, seus parentes, filhos e netos. Por este
o clero exigia que as ofertas fossem meio os bens da Igreja foram pilhados e
trazidas tanto pelos pobres como pelos desapareceram nas mãos dos familiares
ricos. Desde o século VI o clero impôs do clero. Por esta razão, os Papas
uma taxa especial, o dízimo (a décima declararam-se como proprietários
parte das colheitas), que tinha de ser paga soberanos das fortunas da Igreja e
à Igreja. Esta taxa esmagava o povo ordenaram o celibato do clero para o
como um pesado fardo; durante a Idade manterem intacto e impedir que seu
Média, tornou-se um verdadeiro flagelo patrimônio fosse disperso. O celibato foi
para os camponeses oprimidos pela decretado no século XIII, devido à
servidão. O dízimo era imposto sobre posição do clero. Ainda para impedir a
qualquer porção de terra, sobre qualquer dispersão da riqueza da Igreja, em 1927
propriedade. Mas foi sempre o servo o papa Bonifácio VIII proibiu aos
quem pagou com seu trabalho. Assim os eclesiásticos de fazer oferta dos seus
pobres não só perderam o apoio e ajuda rendimentos aos leigos, sem permissão
da Igreja, mas viram os padres aliarem- do Papa. Assim a Igreja acumulou
se com os seus outros exploradores: enorme riqueza especialmente em terras
príncipes, nobres, agiotas. Na Idade lavradias e o clero de todos os países
Média, enquanto a população cristãos tornou-se o mais importante
trabalhadora se afundava em pobreza proprietário de terras. Possuía algumas
através da escravidão, a Igreja tornava-se vezes um terço ou mais do que um terço
cada vez mais rica. Além dos dízimos e de todas as terras do país!
de outras taxas, a Igreja beneficiava-se, Os camponeses pagavam não só os
neste período, de grandes doações, impostos de trabalho mais o dízimo
legados feitos por ricos libertinos de igualmente, e não só nas terras dos
ambos os sexos que desejavam príncipes e dos nobres, mas também em
compensar, no último momento, a sua enormes áreas onde trabalhavam
vida de pecado. Deram e voltaram a dar diretamente para bispos, párocos e
à Igreja dinheiro, casas, aldeias inteiras conventos. Entre todos os poderosos
com os seus servos e algumas vezes senhores dos tempos feudais, a Igreja
rendas de terra ou direitos aparecia como maior de todos os
consuetudinários de trabalho. exploradores. Na França, por exemplo,
Deste modo a Igreja adquiriu uma no fim do século XVIII, antes da Grande
enorme riqueza. Ao mesmo tempo o Revolução, o clero possuía a 5ª parte de
clero deixou de o ser, para passar a ser o todo o território do país com um
“administrador” da riqueza que a Igreja rendimento anual de cerca de 100
tinha recebido. Foi abertamente milhões de francos. Os dízimos pagos
declarado, no século XII, ao formular-se pelos proprietários subiam a 23 milhões.
uma lei que se diz vir da Sagrada Esta soma ia engordar 2.800 prelados e
Escritura, que a riqueza da Igreja bispos, 5.600 superiores e priores,
pertence não aos fiéis, mas é propriedade 60.000 párocos e curas e 24.000 monges
individual do clero e do seu chefe, para o e 36.000 freiras que enchiam os
Papa, sobretudo. As posições conventos. Este exército de padres estava
eclesiásticas, portanto, ofereciam as livre de impostos e de obrigações de
melhores oportunidades para obter serviço militar. Nos tempos de
calamidade – guerra, más colheitas, tempos feudais a Igreja pertencia à
epidemias – a Igreja pagava ao tesouro nobreza, à classe dominante, e defendia
de Estado uma taxa “voluntária” que ferozmente o poder desta contra a
nunca exercida 16 milhões de francos. revolução. No fim do século XVIII e
O clero, assim privilegiado, constituía, princípios do século XIX, o povo da
com a nobreza, uma classe dominante Europa Central varreu a escravatura e os
vivendo à custa de sangue e do suor dos privilégios da nobreza. Nesta altura, a
servos. Os altos postos na Igreja e os que Igreja aliou-se outra vez às classes
pagavam melhor eram distribuídos dominantes – à burguesia industrial e
somente aos nobres e permaneciam nas comercial. Hoje, a situação mudou e o
mãos da nobreza. Conseqüentemente no clero já não possui grandes estados, mas
período de escravidão, o clero foi aliado possui capital que tenta tornar produtivo
da nobreza dando-lhe apoio e ajuda para pela exploração do povo através do
oprimir o povo a quem nada oferecia comércio e indústria, como fazem os
senão sermões, de acordo com os quais o capitalistas.
povo devia permanecer humilde e A Igreja Católica na Áustria possuía, de
resignar-se com a sua sorte. Quando o acordo com as suas próprias estatísticas,
proletariado do campo e da cidade se um capital de mais de 813 milhões de
levantava contra a opressão e coroas (10), das quais 300 milhões eram
escravatura, encontrava no clero um em terras lavradias e em propriedades,
opositor feroz. É também verdade que 387 milhões em obrigações e além disso
mesmo dentro da Igreja havia duas emprestou a juros total de 70 milhões aos
classes: o alto clero que absorvia toda a donos de fábricas e aos homens de
riqueza, e a grande massa dos curas negócios. Eis como a Igreja, adaptando-
rurais cujos modestos recursos não iam se aos tempos modernos, se mudou para
além de 500 a 2.000 francos anuais. uma forma capitalista industrial e
Portanto esta classe revoltava-se contra o comercial a partir de um domínio feudal.
clero superior e, em 1789, durante a Como outrora, ela continua a colaborar
Grande Revolução, juntou-se ao povo com a classe que se enriquece à custa do
para combater contra o poder da nobreza proletariado rural.
eclesiástica e laica. Assim foram as Esta mudança é ainda mais espantosa na
relações entre a Igreja e o povo organização dos conventos. Em certos
modificadas com o andar dos tempos. A
países, tais como a Alemanha e a Rússia,
Cristandade começou como uma os mosteiros foram suprimidos há muito
mensagem de consolação aos deserdados tempo. Mas onde ainda existem, na
e pobres. Trazia uma doutrina que França, Itália e Espanha, tudo evidencia
combatia a desigualdade social e o o papel enorme desempenhado pela
antagonismo entre ricos e pobres; Igreja no regime capitalista.
ensinou a comunidade de riquezas. Em
breve este templo de igualdade e Na Idade Média, os conventos eram o
fraternidade tornou-se uma nova fonte de refúgio do povo. Era aí que procuravam
antagonismos sociais. Tendo refugiar-se para se livrar da severidade
abandonado a luta contra a propriedade dos senhores e príncipes. Era aí que
individual que tinha sido feita pelos encontravam alimento e proteção em
primeiros apóstolos, o clero juntou ele caso de pobreza extrema. Os conventos
próprio riquezas, aliou-se coma classe não recusavam pão e sustento aos
dominante que vivia a explorara o esfomeados. Não esqueçamos,
trabalho da classe trabalhadora. Nos especialmente, que a Idade Média nada
sabia de comércio como é normal nos literalmente infernos de exploração
nossos dias. Toda propriedade, todo o capitalista, tanto piores quanto tinham ao
convento produzia em abundância para seu serviço mulheres e crianças. A causa
si próprio, graças ao trabalho dos servos judicial contra o convento Bom Pastora,
e dos artífices. Muitas vezes as provisões em França, em 1903, foi um exemplo
em reserva não tinham saída. Quando retumbante destes abusos.
produziam mais cereal, mais legumes, Rapariguinhas de 12, 10 e 9 anos eram
mais madeira do que era necessário para compelidas a trabalhar em condições
o consumo dos monges, o excedente não abomináveis, sem descanso, arruinando
tinha valor. Não havia comprador para os olhos e a saúde e eram mal
ele e nem todos os produtores se podiam alimentadas e sujeitas à disciplina de
preservar. Nestas condições, os prisão.
conventos cuidavam gratuitamente dos Nesta altura, os conventos estão quase
seus pobres, em todo o caso oferecendo- abolidos na França e a Igreja perde a
lhe apenas uma pequena parte do que oportunidade de exploração capitalista
tinha sido extraído aos seus servos. (Este direta. O dízimo, o açoite dos servos,
era o costume normal neste período e tinham sido igualmente abolidos há
quase todas as propriedades pertencente muito tempo. Isto não impede o clero de
à nobreza procediam do mesmo modo). extorquir dinheiro à classe trabalhadora
De fato, os conventos beneficiavam
por outros métodos, e especialmente
consideravelmente desta benevolência; através de missas, casamentos, funerais e
tendo fama de abrir as suas portas aos batismos. E os governos que sustentam o
pobres, recebiam grandes dádivas e clero obrigam o povo a pagar o seu
legados dos ricos e poderosos. Com o tributo. Mais, em todos os países exceto
aparecimento do capitalismo e da
nos USA e na Suíça, onde a religião é um
produção para troca, todos os objetos assunto pessoal, a Igreja recebe do
adquiriram um preço e tornaram-se Estado enormes somas que obviamente
negociáveis. Nesta altura, os conventos, provêm do duro trabalho do povo. Por
as casas dos senhores e dos eclesiásticos exemplo. Na França os gastos com o
cessaram os seus benefícios. O povo não clero sobem 40 milhões de francos por
encontrou aí mais refúgio. Eis uma ano.
razão, entre outras, porque no princípio
do capitalismo, no século XVIII, quando Para resumir, é o trabalho de milhões de
os trabalhadores não estavam ainda explorados que assegura a existência da
organizados para defender os seus Igreja, do governo e da classe capitalista.
interesses, apareceu uma pobreza não As estatísticas relativas ao rendimento da
aterrorizadora que parecia que a Igreja na Áustria dão a idéia da
humanidade tinha regressado aos dias da considerável riqueza da Igreja, que foi
decadência do Império Romano. Mas outrora refúgio dos pobres. Há cinco
enquanto a Igreja Católica, nos primeiros anos (isto é, 19000) as suas receitas
tempos, se esforçou por auxiliar o anuais ascendiam 35 milhões. Assim, no
proletariado romano pregando o decurso de um só ano, “punha de lado”
comunismo, a igualdade e a fraternidade, 25 milhões à custa do suor e sangue
no período capitalista agiu de um modo derramados pelos trabalhadores. Aqui
completamente diferente. Procurou estão alguns detalhes desse orçamento:
sobretudo beneficiar com a pobreza do O Arcebispo de Viena, com rendimento
povo: pôs a mão-de-obra barata a anual de 300.000 coroas, e com despesas
trabalhar. Os conventos tornaram-se não superiores a metade dessa quantia,
fazia 150.000 coroas de “economias” por regime do capitalismo industrial. O que
ano; o capital fixo do Arcebispado era de os apóstolos cristãos não puderam
cerca de 7 milhões de coroas. O conseguir com os seus ardentes discursos
Arcebispo de Praga goza de um contra o egoísmo dos ricos, os
rendimento superior a meio milhão e tem proletários modernos, trabalhadores
cerca de 300.000 de despesas; o seu conscientes da sua posição de classe,
capital atinge quase 11 milhões de podem principiar a realizar no futuro
coroas. O Arcebispado do Olomouce próximo, pela conquista do poder
(Olmutz) tem mais meio milhão de político em todos os países, apoderando-
rendimentos e cerca de 400.000 de se das fábricas, da terra e de todos os
despesa; a sua fortuna excede 14 meios de produção dos capitalistas para
milhões. O clero subordinado, que os tornar propriedade comum dos
muitas vezes alega pobreza, não explora trabalhadores. O comunismo que os
menos a população. Os rendimentos sociais democratas têm em vista não
anuais dos párocos da Áustria atingem consiste na distribuição entre pobres,
35 milhões de coroas, as despesas apenas ricos e preguiçosos da riqueza produzida
21 milhões, com o que as “economias” por escravos e servos, mas no trabalho
dos párocos atingem anualmente 14 comum honesto e unido e no gozo
milhões. Finalmente, os conventos de há honesto dos frutos comuns desse
cinco anos possuíam, deduzidas todas as trabalho. O socialismo não consiste em
despesas, uma receita líquida de 5 dádivas generosas feitas pelos ricos aos
milhões por ano. Estas riquezas cresciam pobres, mas na abolição total de toda a
todos os anos, enquanto a pobreza dos diferença entre ricos e pobres, obrigando
trabalhadores explorados pelo todos igualmente a trabalhar de acordo
capitalismo e pelo estado crescia de ano com a sua capacidade para se suprimir a
para ano. exploração do homem pelo homem.
No nosso país, e em toda a parte, o estado Com o propósito de estabelecer a ordem
de coisas, é exatamente como na Áustria. socialista, os trabalhadores organizaram-
se no Partido Social Democrata dos
IV
Trabalhadores que se propõe a este fim.
Depois de termos revistos Eis porque a Social Democracia e o
resumidamente a história da Igreja não movimento dos trabalhadores enfrentam
podemos surpreender-nos que o clero o ódio feroz das classes proprietárias que
apoie o governo czarista e os capitalistas vivem à custa dos trabalhadores.
contra os trabalhadores revolucionários
que lutam por um futuro melhor. Os As enormes riquezas acumuladas pela
trabalhadores com consciência de classe, Igreja, sem qualquer esforço da sua
organizados no Partido Social parte, vêm da exploração e da pobreza do
Democrata, lutam por dar realidade à povo trabalhador. A riqueza dos
idéia da igualdade social e da arcebispos e bispos, dos conventos e
fraternidade entre homens, objetivo que paróquias, a riqueza dos donos das
fora anteriormente o da Igreja Cristã. fábricas, e dos comerciantes e dos
proprietários de terras, é comprada ao
Não é possível empreender a igualdade preço de esforços desumanos dos
quer numa sociedade baseada na trabalhadores da cidade e do campo.
escravatura quer numa sociedade Qual é a única origem das dádivas e dos
baseada na servidão: torna-se possível legados que os ricos senhores fazem à
entende-la no nosso tempo, isto é, no Igreja? Obviamente que não é o trabalho
das suas mãos e o suor dos seus rostos, humildes, tenta hoje persuadir
mas a exploração dos trabalhadores que trabalhadores de que o sofrimento e a
trabalham sem descanso para eles; degradação que suportam não provêm
servos ontem, assalariados hoje. Além duma estrutura social defeituosa, mas
disso, os subsídios que os governos hoje sim do céu, da vontade da “Providência”.
dão ao clero vêm do Tesouro Público, Assim a Igreja mata nos trabalhadores a
constituído na maior parte por impostos força, a esperança e o desejo dum futuro
tirados às massas populares. O clero, não melhor, mata a fé em si próprios e o
menos do que a classe capitalista, vive do respeito por si mesmos. Os padres de
povo, beneficia da degradação, da hoje, com seus ensinamentos falsos e
ignorância e da opressão das pessoas. O venenosos, mantêm continuamente a
clero e os capitalistas parasitas odeiam a ignorância e a degradação do povo. Eis
classe trabalhadora organizada, algumas provas irrefutáveis.
consciente dos seus direitos, que luta Nos países onde o clero católico goza de
pela conquista das suas liberdades. Pois grande poder sobre a mentalidade do
a abolição da desordem capitalista e o povo, na Espanha e na Itália por
estabelecimento da igualdade entre os exemplo, as pessoas são mantidas em
homens desferiram um golpe mortal, completa ignorância. A embriaguez e o
especialmente no clero que existe só crime florescem aí. Por exemplo,
graças à exploração e à pobreza. Mas
comparemos as duas províncias da
sobretudo, o socialismo ajuda a Alemanha, Baviera e Saxônia. A Baviera
assegurar à humanidade uma felicidade é um estado agrícola onde a população
honesta e sólida cá em baixo, a dar ao vive predominantemente sob influência
povo a maior educação possível e o do clero católico. A Saxônia é um estado
primeiro lugar na sociedade. É
industrializado onde os sociais
precisamente esta felicidade aqui na terra democratas exercem um grande papel na
que os servidores da Igreja temem como vida dos trabalhadores. Vencem as
uma praga. eleições parlamentares em quase todas as
Os capitalistas moldaram a golpes de circunscrições, razão pela qual a
martelo os corpos do povo, em cadeias burguesia mostra o seu ódio contra esta
de pobreza e escravatura. Paralelamente Província social democrata “vermelha”.
a isto, o clero, ajudando os capitalistas e E o que é que se vê? As estatísticas
servindo os seus próprios interesses, oficiais mostram que o número de crimes
aprisiona o espírito do povo, mantém-no econômicos cometidos na ultracatólica
em ignorância crassa, pois compreende Baviera é relativamente muito mais
bem que essa educação poria fim ao seu elevado do que na “Vermelha Saxônia”.
poder. O clero, falsificando o primitivo Vemos que em 1898, em cada 100.000
ensinamento do Cristianismo que tinha habitantes havia:
por objetivo a felicidade terrena dos

Na Baviera Na Saxônia
Roubo com violência 204 185
Assaltos e ataques 296 72
Perjúrio 4 1
Encontramos uma situação Emergirás da pobreza, tornar-te-ás
completamente similar ao comparar o um homem!”
recorde de crimes em Possen dominada Assim, os Sociais Democratas elevam o
pelos padres como o de Berlim onde a povo e fortalecem os que perdem a
influência da Social Democrata é maior. esperança, reúne os fracos numa
No curso do ano vemos 100.000 poderosa organização. Abrem os olhos
habitantes em Possen, 232 casos de dos ignorantes e mostram o caminho da
ataques e ferimentos e em Berlim 172 igualdade, da liberdade, e do amor aos
apenas. nossos vizinhos.
Na cidade papal, Roma, durante um Por outro, os servos da Igreja trazem ao
único mês do ano de 1869 (o penúltimo povo apenas palavras de humilhação e
ano do poder temporal dos papas), foram desencorajamento. E, se Cristo
condenadas: 279 pessoas por assassínio, aparecesse hoje na terra, atacaria com
728 por assaltos, 297 por roubo e 21 por certeza os padres, os bispos e arcebispos
fogo posto. Estes são os resultados do que defendem os ricos e vivem
domínio clerical sobre o povo explorando os desafortunados, como
assoberbado pela pobreza. outrora atacou os comerciantes que
Isto não quer dizer que o clero incite expulsou do templo para que a presença
diretamente o povo ao crime. Bem ao ignóbil deles não maculasse a Casa de
contrário, nos seus sermões os padres Deus.
condenam com frequência o roubo, os Eis porque rebentou uma luta
assaltos e a embriaguez, mas os homens desesperada entre o clero, suporte da
não roubam, não assaltam nem se opressão, e os sociais democratas
embebedam porque gostem de o fazer ou anunciadores da libertação. Nesta luta
de perseverar nesses hábitos. É a pobreza não há comparação com a da noite escura
e a ignorância que são causas disso. e a do sol nascente? Porque os padres não
Portanto aquele que mantém viva a são capazes de combater o socialismo
ignorância e a pobreza do povo, aquele com a inteligência e a verdade, têm de
que mata sua energia e a sua vontade de recorrer à violência e à maldade. As suas
sair desta situação, aquele que põe toda a falas de Judas caluniam os que levantam
espécie de obstáculos no caminho dos a consciência de classe. Por meio de
que tentam educar o proletariado, esse é mentiras e calúnias tentam manchar
responsável por estes crimes exatamente todos os que oferecem as suas vidas pela
como se fosse um cúmplice. causa dos trabalhadores. Estes servidores
A situação nas áreas mineiras da católica e adoradores do Bezerro de Ouro
Bélgica era semelhante até há pouco suportam a aplaudem os crimes do
tempo. Os sociais democratas foram lá. governo czarista e defendem o trono do
O seu apelo vigoroso aos infelizes e último déspota que oprime o povo como
degradados trabalhadores ecoou através o Nero.
do país: Mas é em vão que os indignais, que
“Trabalhador levanta-te a ti mesmo! desesperais que degenerais de servidores
Não roubes, não te embebedes, não da Cristandade e vos tornais servidores
baixes a cabeça em desespero! Lê, de Nero. É em vão que ajudais os nossos
ensina-te a ti mesmo! Junta-te aos assassinos, em vão protegeis os
teus irmãos de classe na exploradores do proletariado sob o sinal
organização, luta contra os da cruz. As vossas crueldades e calúnias
exploradores que te maltratam! nos tempos antigos não puderam impedir
a vitória da idéia cristã, a idéia que revolucionário na Polônia e da Rússia, e
sacrificaste ao Bezerro de Ouro; hoje os quando a liberdade política existir no
vossos esforços não levantarão nenhum nosso país então veremos o mesmo
obstáculo à vinda do Socialismo. Hoje Arcebispo Popiel e os mesmos
sois vós, com as vossas mentiras e eclesiásticos que hoje trovejam contra os
ensinamentos, que sois pagãos, e somos militantes, começarem repentinamente a
nós quem traz aos pobres, aos organizar os trabalhadores em
explorados, as novas da fraternidade e da associações “Cristãs” e “Nacionais” para
igualdade. Somos nós quem está a conduzi-los. Já estamos no princípio
marchar para a conquista do mundo desta atividade subterrânea da
como fez aquele que outrora proclamou “Democracia Nacional” que assegura a
que é mais fácil a um camelo passar pelo colaboração futura com os padres e hoje
fundo de uma agulha do que a um rico os ajuda a difamar os sociais democratas.
entrar no reino do céu. Os trabalhadores devem, portanto, ser
avisados do perigo para que não se deixe
V
apanhar na vitória próxima da revolução,
Algumas palavras finais pelas palavras doces dos que hoje, do
O clero tem ao seu dispor dois meios alto dos seus púlpitos, ousam defender o
para combater a Social Democracia. governo czarista, que mata os
Onde o movimento da classe trabalhadores, e o aparelho repressivo do
trabalhadora começa a ser reconhecido, capital, que é a causa principal da
como é o caso do nosso país (Polônia), pobreza do proletariado. Para os
onde as classes dominantes ainda têm defender contra o antagonismo do clero
esperança de a esmagar, o clero combate no tempo presente, durante a revolução e
os socialistas com sermões ameaçadores, contra a sua falsa amizade de amanhã,
caluniando-os e condenando a “cobiça” depois da revolução, é necessário aos
dos trabalhadores. Mas nos países onde trabalhadores organizarem-se no Partido
as liberdades políticas estão Social Democrata.
estabelecidas e onde o partido dos E aqui está a resposta a todos os ataques
trabalhadores é poderoso, como por do clero: A Social Democracia de modo
exemplo na Alemanha, França e algum combate os sentimentos
Holanda, aí o clero procura outros meios. religiosos. Ao contrário, procura
Esconde o seu fim real e já não encara os completa liberdade de consciência para
trabalhadores como um inimigo todo o indivíduo e a mais ampla
declarado, mas como um falso amigo. tolerância possível para qualquer fé e
Deste modo vereis os padres a organizar qualquer opinião. Mas desde o momento
os trabalhadores e a fundar Federações que os padres usam púlpito como um
Industriais Cristãs. Desta maneira tentam meio de luta contra as classes
apanhar peixe na sua rede, atrair os trabalhadoras, os trabalhadores devem
trabalhadores a esta ratoeira de falsas lutar contra os inimigos dos seus direitos
federações onde ensinam a humildade, e da sua libertação. Porque o que defende
ao contrário das organizações da Social os exploradores e o que ajuda a
Democracia que têm em vista lutar e prolongar este regime presente de
defender-se contra a opressão. miséria, esse é que é o inimigo mortal do
Quando o governo czarista finalmente proletariado, quer esteja de batina ou de
cair sob os golpes do proletariado uniforme de polícia.

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