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Ilustrações Andrea Costa Gomes

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acontece

Análise da
cadeia de valor
como estratégia
de inovação
por Lia Krucken

Quais são as melhores estratégias para inovar zações governamentais e não governamentais.
em produtos e serviços? A cadeia de valor é uma O processo de criação de valor se desenvolve a
das ferramentas estratégicas que ajudam a identi- partir das trocas de informação e conhecimento,
ficar oportunidades de inovação em diversos níveis de bens tangíveis e de capital, entre os indivíduos
– desde a agregação de valor às ofertas existentes e as organizações, e entre o sistema de produção
até o projeto de ofertas inéditas –, melhorando a e o de consumo.
performance do sistema. Essa análise é enrique- O termo “cadeia de valor” foi originalmente
cida pela perspectiva do design, que evidencia o adotado por Michael Porter na década de 80.
papel do consumidor na cadeia de valor, integran- Segundo o autor, “toda empresa é uma reunião
do os sistemas de produção e consumo de produ- de atividades que são executadas para projetar,
tos e serviços. produzir, comercializar, entregar e sustentar seu
A cadeia de valor é uma abordagem sistêmica produto” e “todas estas atividades podem ser
que permite visualizar o conjunto de atores que representadas, fazendo-se uso de uma cadeia de
integram seus conhecimentos e competências valores” (Porter, 1985). Esse modelo, baseado nas
para desenvolver produtos e serviços, interagindo atividades internas das empresas, é considerado
para “co-produzir” uma oferta. Ao analisarmos uma referência para análises de competitividade.
a sequência de atividades envolvidas na trans- A definição proposta pela Agência Alemã para
formação de matérias-primas em produtos finais, Cooperação Técnica GTZ (2007) diz que a cadeia
conseguimos identificar oportunidades e ameaças. de valor é “um sistema econômico que se organiza
Assim, é possível desenvolver soluções que pro- em torno de um produto”, conectando diferentes
movam a competitividade do sistema e construir atividades (produção, transformação, marketing,
relações benéficas para os atores da cadeia de etc.) necessárias para conceber e distribuir um
valor. produto ou serviço ao consumidor final. A coor-
denação dessas atividades, que envolvem as dife-
Um tipo de rede A cadeia de valor é um tipo de rentes fases de produção, distribuição e descarte
rede que, tradicionalmente, tem foco nos indiví- após o uso, é muito importante para garantir a
duos e nas empresas. Em uma visão ampliada, qualidade e a quantidade correta do produto final,
podemos considerar também os atores que dão considerando sua sustentabilidade econômica,
suporte ao desenvolvimento dessa rede, ou seja, ambiental e social.
as associações, institutos de pesquisa, organi-

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Co-produção de valor Na sociedade pós- os atores têm que atuar de forma coordenada.
industrial, a criação de valor é influenciada por um Os consumidores também são parceiros ativos na
conjunto de fenômenos, que sofrem e provocam produção de valor e considerados “co-produtores
rearranjos e progressos contínuos. As possibilida- de valor”.
des de conectividade da tecnologia da informação A realidade econômica atinge um nível tão alto
e da comunicação, a globalização dos mercados, de interconexão que muitos atores são envolvidos
as relações entre local-global e a crescente per- em relações de co-produção sem perceber que
cepção dos limites ambientais vêm influenciando estão trabalhando com outros atores. Desta forma,
a sociedade e provocando mudanças no modelo se a percepção do conjunto não for desenvolvida,
de produção industrial e nas formas de consumo. muitas oportunidades podem ser subestimadas.
Nesse contexto, o conhecimento é o recur- Em outras palavras, focalizar apenas a performan-
so básico. É a integração dos conhecimentos e ce individual das organizações pode ter pouco
competências de indivíduos e empresas que cria impacto se não for incorporada a uma visão inte-
valor. Para descrever as relações recíprocas entre grada e estratégica do setor. Assim, é necessário
atores, que caracterizam a economia de serviços, olhar além dos limites da empresa, situando-a
Normann e Ramírez (1995) introduziram o termo no conjunto de empresas e produtores da cadeia.
“co-produção de valor”. Segundo os autores, as Essas necessidades de conectividade e de interati-
empresas concorrem no mercado com ofertas vidade são as principais características da criação
(bens físicos, serviços e informações) e não com de valor na sociedade pós industrial, como pode-
produtos isolados. Para produzir essas ofertas, mos ver no Quadro 1.

Quadro 1 | Duas visões da criação de valor

Visão industrial Visão de "co-produção de valor"

A criação de valor é sequencial, unidirecional,


A criação de valor é sincrônica, interativa
transitiva

Todos os valores gerenciados podem ser mensurados Alguns valores gerenciados não podem ser
em termos monetários mensurados ou monetarizados

Valor é adicionado Valores são co-inventados, combinados e reconciliados

Valor é função da utilidade e da raridade A troca é a fonte de utilidade e da raridade

Valor é contingente e atual (se estabelece de forma


Valor é objetivo (troca) e subjetivo (utilidade)
interativa)

Consumidores destroem valor Consumidores co-criam valor

Valor é co-produzido, com o consumidor, ao longo


Valor é realizado na transação, apenas para o
do tempo – para ambos co-produtores de valor
fornecedor (evento)
(relacionamento)

Serviços são considerados atividades separadas Serviços são considerados estruturas básicas

Consumo é considerado um fator de produção


Consumo não é considerado um fator de produção
(consumidor é ator)

Atores econômicos desempenham apenas um papel Atores econômicos desempenham vários diferentes
principal papéis simultaneamente

A empresa e as atividades são as unidades de análise As interações (ofertas) são as unidades de análise
Fonte: Adaptado de Ramírez (1999)

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É fundamental compreender as mudanças na conteúdo de conhecimento incorporado aos pro-
lógica de criação de valor e desenvolver uma visão cessos. Ao final, o consumidor recebe um produto
ampla desse processo. Não existe um modelo que é resultado do esforço e das competências de
único para a visualização do “cadeia de valor” ou todos os atores.
da “co-criação de valor”. Cada organização deve Nesse fluxo complexo, que envolve muitas
construir a melhor forma de representar o modo vezes diferentes regiões geográficas, ainda se inse-
como cria e gere valor. rem os atores comerciais, responsáveis pela inter-
mediação de mercadorias. Chamados de “agentes
Análise da cadeia de valor A cadeia de valor comerciais”, eles interferem significativamente no
é constituída por diversos tipos de atores (produ- fluxo de criação de valor, estimulando a demanda
tores, microempresas, médias e grande empresas), através do poder de barganha e controle dos preços
que se articulam em diversos níveis (Figura 1). (de compra e de venda).
Todos os atores desempenham funções na criação
de valor de uma oferta (bens físicos, serviços e Ilustração de uma cadeia de valor O fluxo
informações) e estabelecem uma rede. de adição de valor se inicia a partir das matérias-
Integram-se a esses atores primários, as asso- primas e se consolida no consumo, como represen-
ciações, instituições de formação e pesquisa e tado no exemplo da cadeia de valor de produtos da
organizações governamentais e não governamen- biodiversidade (Figura 2). Os produtos da biodiver-
tais. O valor agregado aumenta significativamente sidade incluem ingredientes naturais para setores
ao longo da cadeia, acompanhando o aumento do farmacêuticos e cosméticos (óleos essenciais,

Figura 1 | Representação dos atores envolvidos em uma cadeia de valor

Interfaces

Nivel 1 Nivel 2 Nivel 3 Nivel 3 Nivel 4 Nivel 5


Produtores de Processadores Transformadores Outros Distribuidores Consumidores
matérias-primas primários transformadores finais

Fonte: Krucken (2009). Obs: Os níveis podem ser desdobrados em subníveis, como no caso do Nível 3 - Transformação.

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pigmentos, látex, resinas, gomas e plantas medi- ta significativamente ao longo da cadeia e, ao mes-
cinais), e produtos finais, como madeiras, nozes, mo tempo, aumenta a distância entre produtores e
castanhas e frutos tropicais. consumidores.
Ao comprarmos e usarmos uma pasta de den- A cadeia de valor de produtos da biodiversi-
tes, xampu ou qualquer outro produto industrial à dade revela algumas diferenças entre o perfil das
base de matérias-primas vegetais, acionamos toda economias em desenvolvimento e as economias
a cadeia. industrialmente desenvolvidas. Grande parte dos
A análise dessa cadeia permite compreender recursos da biodiversidade do planeta se encontra
o conjunto de atividades que resulta num pro- em países em desenvolvimento. Cada vez mais,
duto e identificar o potencial de agregação de a produção agrícola vem se concentrando nesses
valor em cada um dos níveis. Atividades como países, devido ao baixo custo de mão-de-obra e
limpeza, secagem e seleção podem agregar valor, condições climáticas ideais. Considerando como
normalmente capturado por agentes comerciais base de análise a (Figura 1), observamos que a
que comercializam matéria-prima seca, em emba- atuação de muitos países ricos em recursos da
lagens industriais. O potencial de agregação de biodiversidade está concentrada somente nos pri-
valor, nessa segunda etapa, está na capacidade de meiros dois níveis da cadeia de valor, no qual um
entregar o produto dentro dos requisitos legais e baixo percentual de valor é agregado.
padrões de qualidade exigidos pelos compradores. Criar condições para que o potencial dos recur-
Em geral, agentes comerciais locais interagem sos da biodiversidade seja convertido em benefício
com outros agentes de atuação mais ampla e real e durável para a comunidade local, agregando
maiores dimensões, capazes de manusear, estocar efetivamente valor, é um desafio para as econo-
e transportar grandes volumes. O terceiro, quarto mias emergentes. Abordagens sistémicas, como a
e quinto nivel são responsáveis pela transformação cadeia, podem contribuir para o desenvolvimento
da matéria-prima em produto final, e o sexto faz a de uma visão compartilhada e o estabelecimento
distribuição. O valor comercial do produto aumen- de uma base de diálogo entre produtores e atores

Figura 2 | cadeia de valor genérica dos produtos industriais baseados em recusos de biodiversidade

N Grau de processamento Operação Atores


Cultivo/
colheita
Matéria-prima:
planta, sementes, frutos

Seleção Comunidades produtoras,


Aumenta o valor comercial agregado ao produto
produtores comerciais
Produtos Intermediários:
produtos selecionados e/ou
processados manualmente

Beneficiamento
Produtos Intermediários Indústrias de
produto beneficiado beneficiamento
Outros beneficiamentos
e padronização
Produtos Intermediários
produto beneficiado e padronizado
Processamento: Indústrias de
refinamento, misturas, etc processamento
em diversos níveis
Produtos Intermediários
produto transformado
Aplicação em
produtos finais
PRODUTOS FINAIS Consumidores e usuários

Cosméticos Perfumes Fitoterápicos Aromaterápicos Prod. Alimentícios Outros

Fonte: Krucken (2007). Obs: para cada tipo de produto pode ser representada uma cadeia de valor específicA
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do meio empresarial, institucional e governamen- cializem os recursos do território, os atores
tal, que promova a valorização de produtos e servi- e as sinergias possíveis a partir do sistema
ços, dinamizando o território. existente
3. Na visualização de ofertas e soluções total-
A análise da cadeia de valor como apoio à mente inéditas, envolvendo formas alterna-
inovação A cadeia de valor pode ser abordada em tivas de distribuição e o fomento de novas
diferentes níveis – da empresa, indústria ou setor – relações.
com foco numa localização geográfica específica ou
considerando a sequência de atividades relacionadas O primeiro nível caracteriza-se como inovação
à criação de valor e realizadas em diferentes regiões. do tipo incremental, relacionada a processos ou
O mapeamento do processo de adição/criação produtos, enquanto o segundo e o terceiro consti-
de valor, do início ao fim, permite a identificação tuem inovações do tipo sistêmico.
de pontos capazes de capturar valor dentro da Ao analisarmos a cadeia de valor, podemos
componente nacional de uma cadeia global, a perceber que o design é uma importante ferra-
extensão da cadeia de valor dentro de um país e a menta para inovação, pois nos apoia no desenvol-
proposta de novas cadeias de valor, criando opor- vimento de novos produtos e serviços. A tendência
tunidades de inovação. do design se configurar como ferramenta para a
Os principais resultados obtidos ao analisar- competitividade vem se consolidando nos últimos
mos a cadeia de valor estão no (Quadro 2). anos, assim como a conscientização entre profis-
Resumindo, a análise da cadeia de valor é sionais (industriais, empresários, pesquisadores)
crucial para a identificação de oportunidades de da importância de se investir neste tema.
inovação em diversos níveis: O design é um elemento que se manifesta
quando o produto já se encontra na forma final de
1. N a agregação de valor às ofertas já existen- comercialização, nas últimas etapas apontadas na
tes, melhorando a performance do sistema cadeia de valor representada na (Figura 1). Mas,
2. No projeto de ofertas inovadoras, que poten- apesar de ser mais perceptível neste momento, ele

Quadro 2 | Principais resultados da análise da cadeia de valor

Resultados da Análise da Cadeia de Valor


A análise da cadeia de valor possibilita a identificação e a visualização de:
1. estratégias para reter maior proporção do valor final da oferta em âmbito local
2. p
 ossibilidades de desenvolver produtos e serviços inovadores a partir da integração das compe-
tências dos atores e dos recursos do território, contribuindo para o seu desenvolvimento socio-
econômico
3. o portunidades de sinergia entre os atores, fortalecendo as interações e promovendo a competiti-
vidade de toda a cadeia
4. oportunidades de incluir novos atores à cadeia
5. c arências e necessidades de assistência relacionadas à gestão da produção, ao design e à comer-
cialização
6. barreiras de mercado e ações necessárias para melhorar a performance econômica
7. p
 ossibilidades de interagir com instituições de pesquisa e organizações que suportem a capacita-
ção e o desenvolvimento de infraestrutura e políticas favoráveis
8. o portunidades de inovações em nível sistêmico, incorporando conjuntamente o sistema de produ-
ção e o sistema de consumo
9. c enários futuros e estratégicos para promover a sustentabilidade ambiental, social e econômica
ao longo da cadeia de valor

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resulta da visão e do planejamento que permeiam É importante lembrar que o consumidor é quem
todo o processo de agregação de valor, direcionando ativa a cadeia de valor e, ao comprar os produtos,
a conversão das matérias-primas em ofertas orien- incorpora ações relacionadas ao seu uso, reuso,
tadas aos usuários. reciclo e descarte. Ao promovermos transparência
O design também é um importante aliado na cadeia, permitimos ao consumidor perceber seu
no desenvolvimento de soluções sustentáveis, papel na “co-criação” de valor e escolher produtos
ao promover escolhas conscientes em diversos coerentes com seu estilo de vida.
níveis: desde a seleção de matérias-primas e dos
Lia Krucken é professora convidada da Fundação Dom Cabral e pesquisa-
processos de produção até os produtos finais. dora associada do Núcleo de Inovação da FDC. Doutora em Engenharia de
Produção pela UFSC, é professora convidada do Instituto de Competências
Empresariais da FIAT e Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG),
além de atuar em projetos de inovação em empresas.

Conclusão

Compreender o processo de criação de valor de produtos e serviços é essencial para visualizar as


oportunidades e desenvolver soluções inéditas. O design é um importante aliado na construção de
estratégias de inovação em escala regional ou nacional, potencializando a capacidade de oferta das
empresas nos mercados.
A análise da cadeia de valor permite expandir a visão de competitividade da empresa, colabo-
rando para a identificação de oportunidades e ameaças. As possibilidades de sinergia entre os atores
podem alavancar a articulação de competências ao longo da cadeia de valor, desenvolvendo relações
de comprometimento entre os atores e criando condições para a oferta de produtos e serviços com
alto valor agregado e conteúdo tecnológico.
Visualizar a cadeia de valor contribui, ainda, para o desenvolvimento de uma visão compartilha-
da entre os diversos atores, promovendo o estabelecimento de objetivos comuns e estratégias para
fortalecer seu desempenho em tempos de mudança.

Para se aprofundar no tema

KRUCKEN, L. Design e território: valorizan-


do produtos e identidades locais. São Paulo:
Editora Nobel, 2009.

KRUCKEN, L.; BOLZAN, A. O papel estraté-


gico do conhecimento na cadeia de valor dos
óleos essenciais: uma abordagem sistêmica.
Revista Inteligência Empresarial, Abr., v.
28, 2007.

NORMANN R.; RAMIREZ, R. Design inte-


ractive strategy: from value chain to value
constellation. West Sussex: John Wiley &
Sons, 1995.

RAMIREZ, R. Value co-production: intel-


lectual origins and implications for prac-
tice and research. Strategic Management
Journal, v.20, 1999. p. 49-65.

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Análise da cadeia
de valor no setor mineral
por Jorge Raggi

A tradução literal de value chain é “cadeia de valor”, mas o conceito de chain pode ser melhor
entendido como um entrelaçamento, encadeamento ou corrente, em que a cada elo se justapõe o ante-
rior e o posterior, criando mais valor. Portanto, a cadeia de valor descreve uma relação dinâmica.
Neste artigo, a professora Lia Krucken analisa a valoração de produtos e serviços, ressaltando a par-
ticipação do consumidor como co-produtor – aquele que ativa a cadeia de valor. Na área de mineração
e indústria de transformação, em que atuo elaborando projetos, temos alguns exemplos que também
podem ilustrar o tema.
Numa visão macro, a mineração é o setor que extrai da terra (planeta) os recursos que utilizamos
para nossa vida: água, produtos energéticos, minerais metálicos e industriais. A água é minerada, pois
é captada quando superficial, e/ou extraída, quando subterrânea. Depois, é tratada e distribuída para
residências e indústrias. Também é utilizada na geração de energia elétrica, criando uma grande cadeia
de valor.
Perguntei uma vez a um tio-avô que viveu quase um século, qual era a maior invenção dos últimos
tempos e sua resposta foi imediata: “a água encanada”. Ele lembrava de como a vida era mais compli-
cada sem água disponível em todos os cantos. Isso demonstra a necessidade de planejarmos ações para
que o recurso água chegue aos seus consumidores como uma cadeia ou um ciclo.
Os produtos energéticos – petróleo, gás e carvão – envolvem diversos valores econômicos ao longo
de suas cadeias e, por esse motivo, são alvo de muitos estudos. A indústria do petróleo também aplica
milhões de dólares no seu planejamento. Já os minerais metálicos mais conhecidos são o cobre, o
chumbo, o alumínio, o zinco (exemplos dos industriais) e os denominados preciosos: ouro, prata, pla-
tina e paládio. Os minerais industriais constituem uma gama variada de produtos que utilizamos para
construir cidades, produzir cosméticos, produtos farmacêuticos e de limpeza.
Podemos utilizar a grafita para exemplificar a valoração mineral e ilustrar como a análise da cadeia
de valor é estratégia importante na geologia econômica. O mineral tem a mesma composição química do
diamante – o carbono – mas o arranjo molecular diferencia os dois produtos. A grafita é mais conhecida
pela sua utilização na fabricação dos lápis, uso até pouco significativo no seu processo de produção.
A pesquisa mineral utiliza suas finalidades para definir valor em três níveis: a) usos mais nobres – bate-
rias para computadores, telefones celulares e máquinas digitais; b) usos médios – aços especiais, tijolos
refratários, tintas, lubrificantes e fundição de peças; c) usos menos nobres – aplicações diversas como
retardante de fogo, peças sinterizadas e escovas de motores. Ao descobrir em campo uma ocorrência de
grafita, pode-se avaliar o seu valor identificando qual seria o uso preferencial, em função dos produtos
finais possíveis – pilhas? tintas?
Assim, após a descoberta, e antes mesmo de se montar a infraestrutura e investir nos estudos sobre
a quantidade e qualidade do mineral, é preciso analisar a matéria-prima já visualizando seu produto
final, ou seja, percebendo a cadeia de valor que poderá ser formada. Isso começa com a análise de
amostras em laboratório e testes pilotos de grandes volumes, da amostra bruta até o produto potencial,
passando por várias etapas no seu processo de transformação – britagem, moagem, flotação, filtragem,
secagem e lixiviação – para identificar as possibilidades de utilização e chegar aos produtos finais. Por
último, acrescentamos ao estudo o descarte, principalmente no caso das pilhas, pois é importante pla-
nejar sua reutilização e/ou reciclagem. Cada um dos produtos da grafita, por sua vez, terá outra cadeia
de valor, constituindo redes de valor. Os próprios descartes podem se transformar em novas matérias-
primas e, assim, surgirão novas cadeias.

Jorge Raggi é diretor da Geoconômica Minas

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