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Boa leitura e bons estudos a todos. Avante, concursei- Trata-se, em verdade, de texto argumentativo, no
ros! qual o autor/emissor terá como objetivo convencer o lei-
tor/receptor. Nessa medida, é idêntico à redação escolar,
tendo a mesma estrutura: introdução, desenvolvimento e
Prof. Adeildo Júnior
conclusão.
Se observarmos o jornal Folha de S. Paulo, tere- Nelson Rodrigues não tinha problemas. Quando
mos, junto aos editoriais e a dois artigos sobre política ou não havia assunto, ele inventava. Uma tarde, estacionei
economia, uma crônica de Carlos Heitor Cony, descolada ilegalmente o Sinca-Chambord na calçada do jornal. Ele
da realidade, se assim lhe aprouver (Cony, muitas vezes, estava com o papel na máquina e provisoriamente sem
produz artigos, discutindo algo da realidade objetiva). O assunto. Inventou que eu descia de um reluzente Rolls
jornal busca, dessa maneira, arejar essa página tão si- Royce com uma loura suspeita, mas equivalente à suntu-
suda. A crônica é isso: uma janela aberta ao mar. Vale osidade do carro. Um guarda nos deteve, eu tentei subor-
lembrar que o jornalismo, ao seu início, era confundido nar a autoridade com dinheiro, o guarda não aceitou o
com Literatura. Um texto sobre um assassinato, por exem- dinheiro, preferiu a loura. Eu fiquei sem a multa e sem a
plo, poderia começar assim: " Chovia muito, e raios lumi- mulher. Nelson não ficou sem assunto.
nosos atiravam-se à terra. Num desses clarões, uma faca
surge das trevas..." Dá-se o nome de nariz de cera a essas (Carlos Heitor Cony, Folha de S. Paulo, 02/01/98)
matérias empoladas, muito comuns nos tempos heroicos
do jornalismo.