Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Engenharia Civil
Júri
Outubro 2008
Juntas Estruturais em Edifı́cios Grandes em Planta
Engenharia Civil
Júri
Outubro 2008
Resumo
O trabalho apresentado pretende avaliar a pertinência da adopção de juntas de di-
latação em estruturas de dimensões em planta consideráveis. As juntas de dilatação
(ou estruturais) são utilizadas correntemente com o objectivo de garantir um com-
portamento em serviço aceitável. De facto, em estruturas de edifı́cios, acções como a
retracção ou outras deformações impostas podem contribuir para uma fendilhação in-
conveniente ou para deformações elevadas dos elementos verticais da estrutura tendo,
consequentemente, influência no comportamento dos elementos não estruturais. A
solução da adopção de juntas estruturais pode tornar-se origem de problemas de
funcionamento do edifı́cio, formando pontes térmicas ou mesmo perdendo a sua es-
tanquidade. Assim, é necessário avaliar a real necessidade de adopção destas juntas e
avaliar a possibilidade de utilizar juntas parciais, uma vez que estas permitem, quando
limitadas aos pisos inferiores, evitar problemas de estanquidade em coberturas.
A avaliação da necessidade de juntas estruturais é feita com base na avaliação do
comportamento em serviço das estruturas. De modo a avaliar este tipo de comporta-
mento analisaram-se as secções dos vários tipos de elemento, lajes, vigas e pilares, de
modo a obter estimativas de abertura de fenda para: momentos flectores constantes e
esforço normal variável, nas lajes e vigas; e para esforço normal constante e momento
flector variável, no caso dos pilares. Em adição, analisaram-se as deformações diferen-
ciais dos pilares de modo a estimar o comportamento dos elementos não estruturais
(alvenarias).
Cruzando a informação obtida nestas análise com a informação obtida através
da modelação em SAP2000 para cada um dos modelos, conclui-se que a necessidade
de juntas não depende unicamente do comprimento mas também do tipo de estru-
tura. Para as estruturas analisadas, é possı́vel obter um comportamento em serviço
aceitável para uma estrutura com 200 metros de comprimento sem adição de qual-
quer junta estrutural. Para uma estrutura de 100 metros de comprimento com elevado
nı́vel de restrição à deformação dos pisos é necessária a inclusão de uma junta parcial
de 3 pisos.
i
ii
Abstract
The present work intends to evaluate the need of structural joints in large dimension
building structures. These structural joints are currently used to guarantee an ac-
ceptable serviceability behaviour. For building structures, actions such as concrete
shrinkage or other imposed deformations may, in fact, contribute for an inconvenient
concrete cracking or an unacceptable deformations on vertical structural elements
which influence the non-structural elements behaviour. Solutions that include struc-
tural joints may, however, become themselves the origin of behaviour problems in
buildings causing thermal bridges or even becoming water permeable. Thus, it is
important to evaluate the real need of these joints and study the using of partial
joints which, by affecting only bottom storeys, may avoid problems such as water
permeability in top floors.
The evaluation of structural joints necessity is done by evaluating the serviceability
behaviour of the structures. To evaluate this kind of behaviour the sections of all
structural elements, slabs, beams and columns, were analyzed in order to obtain crack
width estimations for: constant flexure moments and variable axial force, in slabs and
beams; constant axial force and variable flexure moments, in columns. Additionally,
columns’ diferencial deformations were analyzed in order to estimate the effects on
non-structural elements behaviour.
Cross-referencing the information obtained in this analysis and the information
obtained from the models on SAP2000 for each structure, one concludes that the need
for structural joints depends not only on the length but also on the type of structure.
So, for the studied structures, it was possible to verify an acceptable serviceability
behaviour for a 200 meter structure without the inclusion of any structural joins.
On the other hand, for a 100 meter structure with important restriction to storey
deformation the inclusion of one partial joint 3 storeys high was necessary.
iii
iv
Palavras-Chave:
Juntas estruturais ou de dilatação
Deformações impostas
Retracção
Comportamento em serviço
Abertura de fendas
Keywords:
Structural joints
Imposed deformations
Concrete shrinkage
Serviceability behaviour
Crack width.
v
vi
Agradecimentos
Em primeiro lugar gostaria de agradecer ao Professor Camara pelo tema proposto,
pelo incentivo, por toda a generosidade e disponibilidade com que me orientou neste
trabalho. Gostaria, também, de agradecer ao Engenheiro Paulo Lobo por me ter
fornecido um programa de cálculo automático da sua autoria, que facilitou em muito
o meu trabalho, e pela disponibilidade em discutir o tema e partilhar comigo os seus
conhecimentos.
Aos meus pais e à minha irmã quero agradecer o estı́mulo, o carinho e a formação
que sempre me deram, sem eles não estaria aqui. Ao meu avô e à minha avó gostaria
de agradecer por tudo o que me ensinaram.
Por fim, gostaria de agradecer à Rita por dar sentido ao meu trabalho.
vii
viii
Índice
I Considerações Iniciais 1
I.1 Enquadramento Teórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
I.1.1 Concepção Estrutural de Edifı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . 1
I.1.2 Acções Directas vs. Acções Indirectas . . . . . . . . . . . . . . 2
I.1.3 Juntas Estruturais na Concepção Estrutural . . . . . . . . . . . 4
I.2 Exigências da Qualidade em Serviço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
I.3 Organização e Objectivos do Estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
ix
ÍNDICE
x
ÍNDICE
V Apreciações Finais 83
Bibliografia 85
xi
ÍNDICE
xii
Lista de Figuras
xiii
LISTA DE FIGURAS
III.13 Tensão nas armaduras na zona da fenda, para uma força de tracção
crescente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
xiv
LISTA DE FIGURAS
IV.7 Tensões nas armaduras para a distribuição plástica dos esforços com
redistribuição entre o vão e o apoio: a) Laje de Bordo; b) Laje Central. 57
xv
LISTA DE FIGURAS
xvi
Lista de Tabelas
II.1 kh em função de h0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
xvii
LISTA DE TABELAS
armadura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
xviii
SIMBOLOGIA
a - Aceleração
Ac - Área de betão
Act - Área de betão traccionado
Ac,ef f - Área efectiva de betão traccionado
As - Área de aço
As,min - Área de armadura mı́nima
c - Recobrimento de armaduras
δ - Flecha
E - Módulo de elasticidade
Ec - Módulo de elasticidade do betão
Ecm - Módulo de elasticidade médio do betão
Ecs - Módulo de elasticidade secante do betão
Ec,28 - Módulo de elasticidade do betão aos 28 dias
Ec,ajust - Módulo de elasticidade ajustado do betão
Es - Módulo de elasticidade no aço
ε - Extensão
εc - Extensão no betão
εca - Extensão de retracção autogénea
εcd - Extensão de retracção por secagem
εcs - Extensão total de retracção
εcm - Extensão média no betão entre fendas
εsm - Extensão média nas armaduras
F - Força
fcd - Resistência de segurança do betão à compressão
fct - Resistência do betão à tracção
fct,ef f - Resistência do betão à tracção efectiva
fctm - Resistência média do betão à tracção
fcm - Resistência média do betão à compressão
xix
SIMBOLOGIA
xx
SIMBOLOGIA
σ - Tensão
σ0 - Tensão de referência
σc - Tensão no betão
σs - Tensão no aço
σsr,1 - Tensão no aço quando se forma a 1a fenda
σsr,n - Tensão no aço quando se forma a n-éssima fenda
sr,max - Distância máxima entre fendas
t - Tempo
u - Perı́metro
w - Abertura de fenda
wk - Abertura de fenda caracterı́stica
W (ou Wc ) - Módulo de flexão
ζ - Coeficiente de avaliação dos efeitos da retracção
xxi
SIMBOLOGIA
xxii
Capı́tulo I
Considerações Iniciais
1
I. Considerações Iniciais
Torna-se assim necessário compreender os diferentes tipos de acções que podem so-
licitar uma estrutura de betão armado, fazendo-se desde já uma diferenciação entre
acções directas e acções indirectas. As acções directas são, tipicamente, cargas verti-
cais ou horizontais (acção do vento), que solicitam a estrutura através de forças, sendo
necessárias, para garantir o seu equilı́brio, esforços na estrutura. O valor global destes
esforços depende apenas das acções aplicadas, sendo indiferente o material, o seu es-
tado e a sua distribuição na estrutura. Já as deformações provocadas por este tipo
de acção dependem do tipo de material (através do módulo de elasticidade, ou mais
genericamente da relação tensão-extensão), da sua geometria (inércia) e do seu estado
(eventual variação da inércia através da fendilhação no betão armado). Para este tipo
de acção é fundamental que haja capacidade resistente da estrutura para que não se
dê o colapso.
As acções indirectas são as deformações impostas que podem ser de várias na-
turezas como os assentamentos diferenciais, retracção do betão ou variações de tem-
peratura. Estas acções geram reacções exteriores auto-equilibradas só no caso de
uma estrutura hiperstática, sendo que o valor dessas reacções depende directamente
da rigidez da estrutura solicitada, dos materiais (relações extensão-tensão), da geo-
2
I.1. Enquadramento Teórico
metria e do seu estado de fendilhação, no caso do betão armado. Este tipo de acções
não podem gerar por si a rotura de uma estrutura por falta de capacidade resistente.
Num elemento de betão armado solicitado por uma deformação imposta, a abertura
de uma fendas e/ou a cedência das armaduras, com a consequente perda de rigidez,
leva a uma diminuição do esforço na peça. Assim, não é a capacidade resistente das
secções que condiciona a segurança estrutural na resposta a este tipo de acções mas
sim a ductilidade da estrutura.
A acção sı́smica, sendo uma acção indirecta, em conceito é uma deformação im-
posta à estrutura mas de carácter dinâmico, traduz a excepção ao que foi dito ante-
riormente, já que para este tipo de acção é necessário haver capacidade resistente e
ductilidade de modo a garantir a segurança estrutural. Esta situação deve-se às ace-
lerações induzidas na estrutura por parte da deformação dinâmica imposta na base
que provocam o aparecimento de forças de massa na estrutura (F = MG × a), e que
têm de ser, naturalmente, equilibradas, exigindo-se assim capacidade resistente à es-
trutura. Este aspecto explica a diferença na análise e interpretação dos efeitos numa
estrutura solicitada por uma acção sı́smica ou por uma outra deformação imposta.
Como foi referido, a boa concepção estrutural deve ter em conta estes diferentes
tipos de acções e os seus efeitos na estrutura verificando-se que, por vezes, as soluções
mais adequadas para certos tipos de acções são menos convenientes para outras.
Por outro lado a análise destes efeitos não deve ser feita apenas separadamente mas
também sobrepondo os dois tipos de acção. Aliás, uma vez que as tensões induzi-
das pelas acções indirectas dependem da rigidez e que os esforços introduzidos pelas
acções directas tendem a fendilhar as peças de betão armado, conclui-se que os es-
forços provocados pelas acções indirectas diminuem quando se faz uma sobreposição
de efeitos. Câmara [2] [3] definiu um coeficiente que permite quantificar a redução
de esforços, para varias situações, dependendo do comprimento de fendilhação, da
quantidade de armadura e da idade do betão.
3
I. Considerações Iniciais
4
I.1. Enquadramento Teórico
5
I. Considerações Iniciais
sistentes. Este tipo de estrutura é bastante flexı́vel, o que significa que, dependendo
das suas dimensões em planta, os efeitos da retracção provocam esforços de tracção
baixos a médios nos elementos horizontais e deformações elevadas nos elementos verti-
cais. A terceira situação é uma situação intermédia, correspondente a uma estrutura
porticada dotada de paredes resistentes de importantes dimensões nos extremos da
estrutura.
Neste trabalho serão estudas as segunda e terceira situações.
6
I.2. Exigências da Qualidade em Serviço
7
I. Considerações Iniciais
Este trabalho tem como principal objectivo avaliar a necessidade de juntas estrutu-
rais em edifı́cios com dimensões significativas em planta e estrutura de betão armado.
Com este objectivo, analisam-se vários modelos estruturais, com e sem juntas, de
modo a compreender quais os efeitos da inclusão destes elementos nas estruturas. As
armaduras consideradas nos modelos analisados são provenientes de cálculos de veri-
ficação à segurança dos E.L. Últimos (com excepção dos pilares), não se tomando as-
sim à partida soluções ”especiais”para a verificação da segurança aos E.L. de Serviço.
Deste modo, as estruturas em análise, e a validade do estudo, serão mais abranjentes
e mais susceptı́veis de eventualmente apresentar um comportamento deficiente na
resposta a deformações impostas.
No presente capı́tulo, Capı́tulo I, apresenta-se o enquadramento geral do trabalho,
referindo-se a importância dos aspectos de concepção estrutural, diferenciando o tipo
de acções passı́veis de solicitar as estruturas em estudo e referindo o papel das juntas
estruturais na concepção estrutural. Incluem-se também neste capı́tulo as exigências
no comportamento em serviço que servirão, no Capı́tulo IV, para avaliar a qualidade
das soluções estudadas.
No Capı́tulo II apresentam-se e analisam-se as caracterı́sticas dos materiais em
8
I.3. Organização e Objectivos do Estudo
9
I. Considerações Iniciais
10
Capı́tulo II
II.1 Betão
11
II. Caracterı́sticas dos Materiais
2/3
fctm = 0, 30 × fck (II.1)
Onde,
II.1.1 Retracção
12
II.1. Betão
13
II. Caracterı́sticas dos Materiais
Onde,
Em que,
14
II.1. Betão
(t−ts )
βds (t, ts ) = √
(t−ts )+0,04 h30
fcm0 = 10 M P a
RH 3
βRH = 1, 55 [1 − ( RH 0
) ], RH é a humidade relativa do ambiente (em %)
e RH0 = 100%
15
II. Caracterı́sticas dos Materiais
Onde,
Com base nestas equações, calcularam-se as extensões de retracção para uma peça
com 20 cm de espessura, 20 cm de espessura equivalente, realizada num betão de
classe C25/30, com cimento classe S. Considerou-se ainda um ambiente interior, com
humidade relativa de 50%. A Figura II.2 mostra a evolução da extensão de retracção
com o tempo.
Figura II.2: Evolução da extensão de retracção (total, de secagem e autogénea) com o tempo
16
II.1. Betão
Figura II.3: Comparação das evoluções da extensão de retracção total, com o tempo, para
as formulações do EC2 e do MC-90
II.1.2 Fluência
E,
Onde,
1−RH/100
ϕRH = 1 + √
0,1 3 h0
, para fcm ≤ 35M P a.
β(fcm ) = √16,8
fcm
17
II. Caracterı́sticas dos Materiais
1
β(t0 ) =
0,1+t0,20
0
Figura II.4: Comparação das evoluções do coeficiente de fluência, com o tempo, para as
formulações do EC2 e do MC-90
18
II.1. Betão
√
3
t0
χ(t, t0 ) ∼
= χ(t0 ) = √3
(II.7)
1+ t0
A representação gráfica da Equação II.7 apresenta-se na Figura II.5.
Ec,28
Ec,ajust = (II.8)
1 + χϕ
Na Figura II.6 mostra-se a representação gráfica da Equação II.8, considerando
para o coeficiente de fluência e para o coeficiente de envelhecimento os resultados
apresentados nas Figuras II.4 e II.5, respectivamente.
19
II. Caracterı́sticas dos Materiais
decréscimo muito elevado para acções com duração de 50 a 100 dias, tendendo a
estabilizar para acções impostas num maior perı́odo de tempo.
σ =E×ε (II.9)
Onde,
E o módulo de elasticidade
ε a extensão aplicada
Ao aplicar uma extensão no betão ao longo do tempo não se verifica uma relação
constante entre as extensões e as tensões como a apresentada na Equação II.9. No
entanto, o aumento da tensão pode considerar-se como proporcional à relação E(t) ×
ε(t), onde o módulo de elasticidade e o valor da extensão variam no tempo. Pode-
se, então, estabelecer uma relação entre o valor da extensão de retracção para uma
dado tempo t e a evolução do módulo de elasticidade ajustado do betão para avaliar
quando é que as acções diferidas no betão são mais gravosas na estrutura. Define-se,
assim, uma nova variável ζ, tal que:
20
II.2. Aço
Analisando a Figura II.7, podemos concluir que, neste caso, os valores máximos de
ζ se verificam para t = 400 a 600 dias, tendendo a diminuir pouco significativamente
a partir daı́. Assim, este é o espaço temporal em que a retracção do betão provoca
maiores tensões, e eventualmente, pode provocar maiores efeitos na estrutura. A
verificação do comportamento em condições de serviço deve ser, então, feita tendo
em conta esta constatação. Em termos práticos faz sentido, por simplificação, tomar
o tempo infinito já que, como foi referido, a diminuição a partir do ponto máximo é
pouco significativa.
II.2 Aço
21
II. Caracterı́sticas dos Materiais
22
Capı́tulo III
Comportamento Estrutural em
Serviço do Betão Armado
23
III. Comportamento Estrutural em Serviço do Betão Armado
novas fendas vão surgindo. Quanto à segunda fase - fase de fendilhação estabilizada,
esta inicia-se com a abertura da última fenda. Não havendo formação de novas fendas,
há um aumento gradual das fendas existentes. A resposta da peça encontra-se entre
os Estados I e II (ver Figura III.1). Sublinha-se, de resto, que o Estado II traduz
um comportamento idealizado, uma vez que na realidade não se pode desprezar a
contribuição do betão entre fendas para a rigidez da peça.
24
III.1. Deformações Impostas
25
III. Comportamento Estrutural em Serviço do Betão Armado
nas Figuras III.1 e III.2. Se para a resposta às acções directas, após abertura de uma
fenda, a extensão aumenta para o mesmo nı́vel de força aplicada, na resposta às acções
indirectas acontece exactamente o contrário, isto é, após a abertura de uma fenda a
extensão mantém-se e a força diminui.
Este efeito justifica-se pela diferente origem das acções em causa. Quando uma
força é aplicada a uma peça - acção directa - é necessário que essa força seja equi-
librada. Assim quando a rigidez de uma secção diminui, devido à abertura de uma
fenda, e a força na peça se mantém igual, há necessariamente um aumento de de-
formação, já que a rigidez é menor. Por outro lado, a força instalada num tirante de
betão devido a uma deformação imposta é tanto maior quanto maior for a rigidez,
logo, quando se abre uma nova fenda para uma determinada deformação imposta, a
consequente quebra de rigidez implica uma diminuição da força instalada na peça.
Para melhor compreensão do efeito da abertura de fendas num elemento de betão
armado e da consequente perda de rigidez, apresenta-se na Figura III.3 um esquema
do modelo do comportamento global de abertura de fendas num elemento deste tipo.
26
III.1. Deformações Impostas
27
III. Comportamento Estrutural em Serviço do Betão Armado
Figura III.5: Comparação entre o comportamento à flexão simples e composta com esforço
axial constante [6].
28
III.3. Dimensionamento da Armadura Mı́nima
Por outro lado, uma estrutura de betão armado sujeita a acções de deformação
imposta impedidas, está, em geral, numa situação diversa, isto é, aos momentos, con-
siderados fixos, provocados pelas cargas verticais nas lajes e vigas, sobrepõem-se um
esforço de tracção crescente no tempo proveniente das acções indirectas, diminuindo
o valor do momento flector de fendilhação e aumentando, para o mesmo momento
flector, a curvatura da peça. No Ponto III.5.1 mostra-se a influência do esforço normal
e do momento flector no inı́cio da fendilhação avaliando-se a interacção entre estes
dois esforços.
De resto, na Figura III.6 apresenta-se uma comparação entre o comportamento
de um tirante de betão armado, solicitado por uma deformação imposta crescente,
de origem interna ou externa, aplicada isoladamente ou com momentos flectores apli-
cados, mostrando que, em ambos os casos, há uma redução do esforço normal de
fendilhação, como acima referido.
O processo de fendilhação do betão armado é, praticamente, inevitável como já foi
referido. Assim sendo, é necessário controlar o processo de fendilhação em particular
29
III. Comportamento Estrutural em Serviço do Betão Armado
O critério de não plastificação das armaduras pretende garantir que estas não plasti-
fiquem para o esforço de fendilhação da peça. Se este critério não se verificar, depois
de se formar a primeira fenda e sem que se forme a segunda, as armaduras vão ceder
(na zona da primeira fenda) e ter deformações elevadas o que leva a que a dimensão
dessa fenda atinja valores inaceitáveis. Na Figura III.7 observa-se a diferença entre
dois tirantes sujeitos a uma deformação imposta externa, um com armadura inferior
à mı́nima e outro com armadura superior à mı́nima.
Figura III.7: Tensões nas armaduras e abertura de fendas num tirante de betão solicitado
por uma deformação imposta externa para: a) Armadura inferior à armadura mı́nima; b)
Armadura superior à mı́nima [10]
30
III.3. Dimensionamento da Armadura Mı́nima
Para que não haja cedência das armaduras, tem de se verificar a condição σs ≤ fy .
Substituindo na expressão III.1 vem:
fct,ef
ρmin = (III.2)
fy
As
Onde, ρ = Ac representa a percentagem de armadura. Uma vez que as ex-
pressões acima dizem respeito à primeira fenda e σsr,n = 1, 30 a 1, 35σsr,1 (ver Figura
III.7), a expressão III.2 pode ser alargada a todo o espectro de formação de fendas
multiplicando-a por um coeficiente de 1,30 a 1,35, que corresponde ao aumento da
tensão no aço entre a primeira e a última fenda:
fct,ef
ρmin = 1, 30 a 1, 35 × (III.3)
fy
No entanto, muitas vezes não se justifica a utilização deste coeficiente de ma-
joração pois só em casos de geometria particular é que se verifica uma situação de
fendilhação estabilizada para deformações impostas.
Este critério garante que o processo de fendilhação se dá de forma controlada,
isto é, com abertura de várias fendas e sem concentração de deformação numa só
dessas fendas, o que é, aliás, aquilo a que o critério se propõe. No entanto, este
controlo pode não ser suficiente para que o comportamento das peças seja aceitável
em condições de serviço, isto porque o facto de se permitir o processo de formação de
fendas não implica que não resulte em aberturas excessivas. De facto, segundo Luı́s
[6], o dimensionamento de armaduras mı́nimas feito somente com base neste critério
pode levar a fendas da ordem de 0,40 a 0,70 mm, ou seja, a dimensões de fendas iguais
ou superiores ao valor limite preconizado pelo EC2 [1], podendo não ser a adopção
deste critério suficiente para o bom comportamento em serviço das estruturas.
31
III. Comportamento Estrutural em Serviço do Betão Armado
Figura III.8: Percentagem de armadura necessária para manter a abertura de fendas dentro
de valores máximos: A preto - Critério baseado no diâmetro máximo dos varões; A Laranja
- Critério da não plastificação das armaduras. [6]
32
III.3. Dimensionamento da Armadura Mı́nima
O Eurocódigo 2 [1] apresenta uma expressão que permite calcular a armadura mı́nima
para que, em condições de serviço da estrutura, não ocorram fendas com abertura
excessivas. Essa expressão, apresentada no ponto 7.3.2 do documento referido, é a
seguinte:
kc k fct,ef f Act
As,min = (III.4)
σs
Onde:
As,min área mı́nima das armaduras para betão armado na zona traccionada;
33
III. Comportamento Estrutural em Serviço do Betão Armado
Tabela III.1: Quadro 7.2N e 7.3N do Eurocódigo 2 - limitação da tensão no aço, para efeitos
de controlo de abertura máxima de fenda. [1]
fct,ef f valor médio da resistência do betão à tracção à data em que se prevê que
se possam formar as primeiras fendas. Normalmente toma-se fct,ef f = fctm
σc
kc = 0, 4 × [1 − ≤1 (III.5)
k1 h/h∗ fct,ef f
34
III.4. Estimativa da Largura de Fendas
Em que,
NEd
σc = bh , tensão média no betão existente na parte da secção considerada.
h espessura da secção
Figura III.10: Equilibrio de tensões ao longo do elemento, na fase de formação de fendas [6]
35
III. Comportamento Estrutural em Serviço do Betão Armado
O cálculo da estimativa da largura de fendas, segundo o EC2 [1], é feito com base
em dois parâmetros. O primeiro é o espaçamento entre fendas. O segundo é a
diferença entre a extensão média das armaduras e a extensão média no betão entre
fendas. Multiplicando estes dois parâmetros tem-se uma estimativa da abertura de
fendas. Assim, o EC2 [1] propõe a seguinte expressão para estimar o espaçamento
entre fendas:
φ
sr,max = k3 c + k1 k2 k4 (III.6)
ρp,ef f
Onde,
36
III.4. Estimativa da Largura de Fendas
fct,ef f
σs − kt ρp,ef f (1 + αe ρp,ef f ) σs
εsm − εcm = ≥ 0, 6 (III.7)
Es Es
Onde,
Ac,ef f é a área de betão traccionada, que envolve as armaduras com uma altura
de hc,ef f . hc,ef f = min{2,5 (h-d);(h-x)/3;h/2}. Para melhor compreender qual
é a área efectiva de betão traccionado [Ac,ef f ], o EC2 apresenta alguns casos
tipo (ver Figura III.11).
37
III. Comportamento Estrutural em Serviço do Betão Armado
O Eurócodigo 2 [1] prevê que o controlo de abertura de fendas se faça sem recurso a
cálculo directo através da avaliação do nı́vel de tensões nas armaduras recorrendo à
Tabela III.1 apresentada no Ponto III.3.3. No entanto, os valores de diâmetro máximo
apresentados pela tabela devem ainda ser adaptados, para que respeitem as seguintes
condições:
Para elementos solicitados por flexão, ou flexão composta
kc hcr
φs = φ∗s (fct,ef f /2, 9) (III.9)
2 (h − d)
E para elementos esforçados por tracção simples
hcr
φs = φ∗s (fct,ef f /2, 9) (III.10)
8 (h − d)
Onde φs é o diâmetro adaptado e φ∗s o diâmetro lido na Tabela III.1.
38
III.4. Estimativa da Largura de Fendas
Tabela III.2: Armadura mı́nima e espaçamento máximo entre fendas, para diferentes tipo de
aço e diâmetros de varões.
Aplicando agora uma força de tracção crescente é possı́vel, para cada um dos
casos, estabelecer uma relação entre a largura da fenda e a força aplicada à peça,
como se mostra na Figura III.12.
Figura III.12: Avaliação da largura de fendas, para uma força de tracção crescente
(admitindo o tirante fendilhado).
39
III. Comportamento Estrutural em Serviço do Betão Armado
mı́nima, leva ao aumento da abertura de fendas para a mesma força. Isto significa que
a expressão proposta pelo EC2, para o cálculo da abertura de fendas, tem em conta,
ainda que indirectamente, o espaçamento entre armaduras, já que quanto maior for
a área de armadura, menor o espaçamento entre varões.
Torna-se também interessante comparar o cálculo directo da abertura de fendas
com o controlo indirecto proposto pelo EC2 (ver Ponto III.4.2) para wk ≤ 0, 3mm.
Para este efeito, calculou-se para o mesmo tirante a tensão nas armaduras, na zona
da fenda (estado II), como se mostra na Figura III.13.
Figura III.13: Tensão nas armaduras na zona da fenda, para uma força de tracção crescente
40
III.5. Modelos de Cálculo
O comportamento do betão armado pode ser, como já foi referido, enquadrado entre
dois extremos, o estado I (pré-fendilhação) e o estado II (resistência da zona trac-
cionada dada somente pelas armaduras). Sendo assim, são necessários três modelos
de cálculo para uma secção de betão armado, uma para o estado I, outra para o es-
tado II e outra ainda, bastante mais complexa, para os estados intermédios. Todos os
modelos apresentados de seguida respeitam a hipótese de Bernoulli, ou seja, secções
planas mantêm-se planas.
Temos então,
41
III. Comportamento Estrutural em Serviço do Betão Armado
N M
σcs = − (III.11)
Ac Wc
N M
σci = + (III.12)
Ac Wc
Através das tensões nas fibras extremas do betão, é possı́vel calcular as extensões
dessas mesmas fibras,
σcs
εcs = (III.13)
Ec
σci
εci = (III.14)
Ec
Uma vez que foi admitida a hipótese de Bernoulli, pode-se relacionar as extensões
das extremidades da secção com as extensões ao nı́vel das armaduras e, consequente-
mente, com a tensão no aço,
εci − εsc
εsi = εci − × (c + φsi /2) (III.15)
h
σsi = εsi × Ec (III.16)
A validade desta formulação esgota-se para σc > fct,ef f , o que permite retirar uma
relação entre os esforços de fendilhação, isto é, os esforços que levam à fendilhação da
peça.
M N
σc = fct,ef f ⇒ Ncr = (fct,ef f − ) × Ac ⇔ Mcr = (fct,ef f − ) × Wc (III.17)
Wc Ac
Onde,
b h2
Wc é o módulo de flexão da secção de betão armado, Wc = 6
42
III.5. Modelos de Cálculo
Através das Equações III.17, é possı́vel definir uma relação, adimensional, entre
Mcr
os momentos flectores e os esforços normais de fendilhação, onde µcr = W × fctm
Ncr
representa o momento flector reduzido de fendilhação e νcr = Ac × fctm representa o
esforço normal reduzido de fendilhação.
43
III. Comportamento Estrutural em Serviço do Betão Armado
Onde,
α ε + β ε2
σc (ε) = (III.18)
1−γε
E,
α = 1, 1 Ec
fyk
β= ε2c1
α
γ= fyk + ε2
c1
Enquanto que para o aço, a mesma relação toma a forma apresentada na FiguraIII.17.
44
III.5. Modelos de Cálculo
A partir destas relações, a rotina arbitra uma deformação inicial da secção (ad-
mitindo a Hip. Bernoulli) baseada nos esforços introduzidos pelo utilizador. Com
inı́cio nesta deformação, procura-se uma convergência entre os esforços e a deformação.
Como método de convergência, a rotina utiliza o método da secante, que é ilustrado
pela Figura III.18.
Apesar desta modelação considerar uma interacção não linear entre as tensões e
as extensões, em casos correntes de acções em serviço atingem-se valores máximos de
tensão no betão da ordem dos 40% da sua resistência, podendo-se nestes casos optar
por um modelo que utilize uma relação linear tensão-extensão como, de resto, já foi
referido.
Refira-se, ainda, que esta modelação não tem em conta a participação do betão à
tracção.
45
III. Comportamento Estrutural em Serviço do Betão Armado
46
III.5. Modelos de Cálculo
Quando uma das faces do elemento não tem armadura, como em casos de não exis-
tência de armadura na face superior de uma laje a meio-vão, o modelo anterior não
é válido.
A Figura III.20 mostra que o equilı́brio só pode ser garantido pela força na ar-
madura inferior, o que implica que as equações de equilı́brio sejam linearmente de-
pendentes, isto é, para um dado esforço normal Ni , existe um único momento flector,
Mi , que garante o equilı́brio.
47
III. Comportamento Estrutural em Serviço do Betão Armado
48
Capı́tulo IV
49
IV. Análise dos Casos de Estudo
50
IV.1. Apresentação dos Casos de Estudo
Para as estruturas em Betão Armado, foram escolhidos, quer para o betão, quer para
as armaduras, materiais correntes. Assim, o betão escolhido foi da classe C25/30 e o
aço da classe A500. Assim, temos:
51
IV. Análise dos Casos de Estudo
Sobrecarga= 5kN/m2 ;
E a combinação de acções:
Resta referir que a variação uniforme de temperatura apenas é considerada nos piso
de cobertura, uma vez que é o único exposto directamente ao sol.
52
IV.1. Apresentação dos Casos de Estudo
Nas Figuras IV.2 e IV.3 apresentam-se os esforços obtidos num piso tipo em ter-
mos de momentos para as cargas verticais e em termos de esforço normal para as
deformações impostas da estrutura base com 100 metros de comprimento, respecti-
vamente. Refira-se, ainda, que para os elementos de viga as distribuições de esforços
e a nomenclatura utilizada são similares às lajes.
Figura IV.2: Distribuição tipo de momentos para acções verticais nas lajes.
Figura IV.3: Distribuição de esforço normal para acção das deformações impostas nas lajes
da estrutura base com 100 metros de comprimento.
No que diz respeito aos esforços, provocados pelo efeito das deformações impostas
aos pisos, nos pilares, estes dependem essencialmente da rigidez do elemento e da
53
IV. Análise dos Casos de Estudo
Figura IV.4: Distribuição tipo de momentos para acção das deformações impostas nos
pilares.
Uma vez que se pretende avaliar a abertura de fendas nos elementos de laje e que
essa avaliação pretende ser o mais abrangente possı́vel, as armaduras das lajes foram
definidas com base na segurança aos Estados Limites Últimos. Para definição da
distribuição de esforços consideraram-se a priori três hipóteses:
54
IV.2. Análise dos Elementos de Laje
De modo a avaliar as caracterı́sticas da resposta das lajes para cada uma das dis-
tribuições de esforços anteriores, calcularam-se as tensões para os esforços de serviço,
segundo os modelos descritos no Ponto III.5. O objectivo desta análise é avaliar o
comportamento das diferentes soluções de laje para uma situação de sobreposição de
efeitos onde estes elementos são solicitados por cargas verticais (acções directas) e
por um esforço de tracção proveniente da restrição ao livre encurtamento das lajes
55
IV. Análise dos Casos de Estudo
solicitadas por uma deformação imposta (como referido no Ponto III.2). Os esforços
de serviço provocados pelas acções directas em serviço (peso próprio e sobrecarga)
foram obtidos através da análise dos modelos em SAP2000 e apresentam os seguintes
valores: MVBordo
ao
Bordo = −22kN m/m; M Central = 14kN m/m e
= 19kN m/m; MApoio V ao
Central = −20kN m/m, de acordo com a nomenclatura apresentada na Figura IV.2.
MApoio
Para estes nı́veis de momentos, fez-se variar o esforço axial N até se verificar a cedência
das armaduras ou, no caso do vão da versão sem armaduras superiores, até a secção
fendilhar em toda a sua altura, permitindo, assim, uma leitura das tensões no aço em
função deste. De resto, as caracterı́sticas dos materiais utilizados e as acções conside-
radas são descritas no Ponto IV.1.1. Nas Figuras IV.6 a IV.8, mostra-se a evolução
das tensões no aço, segundo estes parâmetros, para cada uma das pormenorizações,
em cada uma das lajes.
Figura IV.6: Tensões nas armaduras para a distribuição plástica dos esforços: a) Laje de
Bordo; b) Laje Central.
56
IV.2. Análise dos Elementos de Laje
Figura IV.7: Tensões nas armaduras para a distribuição plástica dos esforços com
redistribuição entre o vão e o apoio: a) Laje de Bordo; b) Laje Central.
Figura IV.8: Tensões nas armaduras para a distribuição elástica dos esforços: a) Laje de
Bordo; b) Laje Central.
57
IV. Análise dos Casos de Estudo
Analisando os resultados apresentados nas Figuras IV.6 a IV.8 verifica-se que para
todos os casos a cedência das primeiras armaduras dá-se para valores da ordem de
Nced = 240 a 260 kN/m excepto no caso da laje de bordo para a distribuição plástica
de esforços onde Nced ' 180 kN/m. Outra questão relevante é a diferença de tensões
iniciais (para N = 0kN/m) que se verifica entre as secções do vão e apoio para o caso
das distribuições plásticas de esforços. Esta diferença é particularmente relevante
para a laje de bordo no caso do dimensionamento de acordo com a ”distribuição
plástica dos esforços”onde ∆σs ' 120 M P a.
Estes resultados indicam que é necessária alguma prudência na utilização de
análises plásticas de esforços no dimensionamento aos E.L. Últimos em situações
em que as deformações impostas possam ser relevantes já que podem conduzir a
tensões no aço elevadas (o que terá repercussões na abertura de fendas) senão mesmo
à cedência de armaduras para condições de serviço.
Assim, a partir deste ponto, considerar-se-á apenas a pormenorização de ar-
maduras proveniente da distribuição elástica dos esforços já que, embora as outras
distribuições sejam válidas, esta distribuição apresenta uma maior uniformidade nos
valores iniciais de tensão e no seu crescimento em função de N entre as secções do
vão e do apoio.
58
IV.2. Análise dos Elementos de Laje
Para as duas últimas situações, as tensões no aço obtidas na Figura IV.8, não
são válidas, tendo-se construı́do, e utilizado, no entanto, gráficos semelhantes. Na
construção destes gráficos, foram utilizados os valores de momento apropriados a
cada uma das situações e utilizados os modelos apresentados no Ponto III.5. Os
valores estimados para abertura de fendas apresentam-se nas Figuras IV.10 a IV.12.
59
IV. Análise dos Casos de Estudo
Momentos em Serviço
Figura IV.11: Estimativa da abertura de fendas para metade dos momentos máximos de
serviço: a) Laje de Bordo; b) Laje Central.
60
IV.2. Análise dos Elementos de Laje
Figura IV.12: Estimativa da abertura de fendas para zona de momentos nulos: a) Laje de
Bordo; b) Laje Central.
Em muitos dos pares de esforços (N,M) apresentados não há fendilhação, no en-
tanto, a análise foi realizada em estado fendilhado e como tal avaliada a abertura de
fendas. Esta opção fez-se por uma questão de simplificação e porque as estruturas po-
dem ter sido solicitadas, em serviço, por outra combinação de acções que provocasse
a fendilhação. Assim, decidiu-se não considerar o estado I, indicando, no entanto, o
esforço normal de fendilhação, para as acções consideradas. Por outro lado, quando
Ncr não é indicado, significa que o momento flector aplicado por si só é superior ao
momento flector de fendilhação (Mcqp > Mcr = fctm × W ≈ 17, 3 kN/m). Para além
disto, realçam-se nos gráficos, através de faixas a sombreado, as zonas em que as
fendas atingem toda a altura da secção.
61
IV. Análise dos Casos de Estudo
Nos elementos de laje, a avaliação de abertura de fendas foi feita para cada piso
separadamente. Optou-se por avaliar a abertura de fendas para a laje de bordo e
para laje central utilizando o maior esforço normal verificado no piso em análise para
cada modelo. Este esforço normal máximo verifica-se, no entanto, quase sempre na
laje do alinhamento central (ver Figura IV.3) ou do alinhamento intermédio entre
juntas, sendo dois dos modelos de Pórtico com Paredes a excepção onde, em alguns
pisos, o esforço máximo se verifica na laje de bordo. Acrescenta-se ainda, como termo
de comparação ao grau de encastramento das lajes em cada um dos modelos o esforço
normal para o caso de um encastramento perfeito, dado por:
EA EA
Nenc = ·∆L = · εcs · L = EA · εcs ' 10 · 106 · 0, 2 · 1 · 0, 3 · 10−3 = 600kN/m
L L
(IV.4)
Os resultados apresentados nas Tabelas IV.3 e IV.4 mostram que alguns modelos
apontam para situações inaceitáveis em termos de comportamento em serviço nas
lajes. Estando todas as lajes no interior da estrutura, excepto a laje de cobertura
do piso 4, pode-se considerar um ambiente pouco agressivo, levando a abertura de
fenda máxima para wk,max = 0, 4mm nos pisos 1, 2 e 3 e wk,max = 0, 3mm para
o piso 4. Resta referir que quanto o valor de abertura de fenda é precedido pelo
sinal > significa que pelo menos uma das malhas de armadura atingiu a tensão de
cedência, o que significa que a abertura de fenda será maior ou igual que a estimativa
apresentada.
Ao fazer uma análise deste tipo e nos casos em que não se adopte armadura
superior no vão das lajes, deve-se garantir que os esforços axiais de tracção, provo-
cados pelas restrições às deformações impostas, não provocam fendas que atravessem
toda a secção destes elementos pois, como foi referido no Ponto III.5.3, esta situação
provoca necessariamente uma redistribuição de esforços na estrutura que pode piorar
o comportamento desta em situações de serviço.
62
IV.2. Análise dos Elementos de Laje
63
IV. Análise dos Casos de Estudo
Os elementos de viga têm, como já foi referido, secção transversal 40x70 cm2 (bxh).
As armaduras adoptadas nestes elementos, foram obtidas a partir da verificação de
segurança aos Estados Limites Últimos a partir da distribuição de esforços da análise
elástica efectuada para a estrutura no seu conjunto.
Na Figura IV.13, apresentam-se as armaduras adoptadas.
Figura IV.13: Pormenorização das armaduras nas vigas: a) Viga de bordo b) Viga central.
64
IV.3. Análise dos Elementos de Viga
Tabela IV.5: Momento flector nas vigas, provocado pela combinação quase-permanente de
acções verticais.
Figura IV.14: Estimativa da abertura de fendas para as vigas: a) Viga Central; b) Viga de
Bordo.
65
IV. Análise dos Casos de Estudo
Através da análise das Tabelas IV.6 e IV.7 verifica-se que as vigas acabam por ser
elementos bastante solicitados pelos efeitos das deformações impostas, provocando,
em alguns casos, uma abertura de fenda elevada, especialmente na viga de bordo que
sendo menos solicitada por acções directas acaba por ser dotada de menores quan-
tidades de armadura. Daqui conclui-se que, em alguns casos, pode ser necessário
reforçar localmente as armaduras das vigas, de modo a obter um melhor compor-
tamento em serviço por parte deste tipo de elementos em estruturas solicitadas por
deformações impostas.
66
IV.4. Análise de Pilares
obtidos nos elementos de laje e viga já que nas situações onde se prevê que as ar-
maduras atinjam a cedência nos elementos de viga também se prevê que atinjam a
cedência nos elementos de laje. Esta semelhança seria expectável e deve-se ao facto
de ambos os elementos pertencerem ao piso estrutural, sendo solicitados de maneira
semelhante.
Como se referiu no Ponto IV.1, existem dois tipos de secções de pilares nas estruturas,
o pilar P1 tem uma secção de 60x60 cm2 e o pilar P2 de 60x40 cm2 . O pilar P2 é o
pilar de contorno e a sua orientação muda consoante a face onde se encontra, como
se pode observar na Figura IV.15.
As armaduras nos pilares, ao contrário do que se passou com as lajes e vigas,
não foram dimensionadas para combinações verticais de acções uma vez que as quan-
tidades de armadura nos pilares são, em geral, condicionadas pela acção sı́smica,
tendo-se considerando antes vários nı́veis de armadura usuais, com percentagens de
67
IV. Análise dos Casos de Estudo
Para avaliar as caracterı́sticas das respostas dos pilares, recorreu-se, tal como nas la-
jes, à avaliação da abertura de fendas, tornando-se assim necessário avaliar as tensões
do aço nos pilares. Para este efeito, e uma vez que o aumento do esforço normal
pode ser favorável à redução de tracção nas armaduras, consideraram-se os esforços
68
IV.4. Análise de Pilares
normais de serviço no piso inferior e no piso superior, ficando, assim, com as duas
situações extremas.
Como já foi referido, apresentam-se duas secções de Pilares, a P1 e a P2 (ver Ponto
IV.4). A secção P2, dos pilares de contorno, tem várias orientações, sendo natural
que o encurtamento da laje provocado pelas deformações impostas, tenha efeitos dife-
rentes consoante a orientação da peça (ver Figura IV.15). Torna-se, então, necessário
calcular as tensões nas armaduras para cada uma dessas orientações, definindo-se a
seguinte nomenclatura: P2+ , representa os pilares cuja maior dimensão da secção está
alinhada com a maior dimensão em planta da estrutura, ou seja, os pilares da fachada
de maior comprimento em planta; P2− , representa os pilares cuja maior dimensão da
secção está alinhada com a menor dimensão em planta da estrutura, correspondente
aos pilares da fachada de menor comprimento em planta. Há ainda que subdividir os
pilares P2− em centrais e de canto, já que não sendo o seu esforço normal idêntico, há
um desvio significativo entre o comportamento de ambos quando solicitados por um
momento flector igual. Assim, quando se pretender referir o pilar central, mantém-
se a nomenclatura (P2− ). Quando se pretender referir o pilar de canto, usar-se-á
P2−
Canto . Na Tabela IV.8 encontram-se os valores de esforços normais considerados
Tabela IV.8: Esforço normal nos pilares considerados, provocado pela combinação
quase-permanente de acções verticais.
69
IV. Análise dos Casos de Estudo
P1
Figura IV.17: Estimativa da abertura de fendas para o Pilar P1: a) Piso Inferior; b) Piso
Superior.
P2+
Figura IV.18: Estimativa da abertura de fendas para o Pilar P2+ : a) Piso Inferior; b) Piso
Superior.
70
IV.4. Análise de Pilares
P2−
Figura IV.19: Estimativa da abertura de fendas para o Pilar P2− : a) Piso Inferior; b) Piso
Superior.
P2−
Canto
Piso Superior.
71
IV. Análise dos Casos de Estudo
Tabela IV.9: Estimativas de abertura de fenda no Pilar P1 para cada nı́vel de armadura.
72
IV.4. Análise de Pilares
Tabela IV.10: Estimativas de abertura de fenda no Pilar P2+ para cada nı́vel de armadura.
Tabela IV.11: Estimativas de abertura de fenda no Pilar P2− para cada nı́vel de armadura.
73
IV. Análise dos Casos de Estudo
armadura.
Analisando os resultados obtidos nas Tabelas IV.9 a IV.12, verifica-se que não há
quaisquer problemas de fendilhação nos pilares em estudo. Mesmo para classes de
exposição potencialmente mais gravosas, não se ultrapassa para qualquer pilar, ou
para qualquer nı́vel de armadura, o valor máximo de abertura de fenda preconizado
pelo Eurocódigo 2 [1], wk,max = 0, 3mm.
74
IV.4. Análise de Pilares
É, assim, possı́vel, através dos comprimentos das distâncias entre pontos de in-
flexão, ajustar os limites do EC2 [1] às deformações nos elementos verticais. Para os
2 L0
elementos horizontais temos L ' 2 × L0 ⇒ δ < N , onde N representa o valor de
limitação (250 ou 500, segundo o EC2). Como nos elementos verticais temos L = L0 ,
vem:
2 L0 2L L L
δ= = = ou (IV.5)
N N 125 250
75
IV. Análise dos Casos de Estudo
Eurocódigo 8 [4] que limita, para a acção de um sismo com maior probabilidade de
ocorrência que o de projecto, os deslocamentos máximos entre pisos de modo a evi-
tar danos em elementos não estruturais. Para alvenarias ”regulares”este documento
h
limita as deformações entre pisos a δ ≤ 0, 005h = 200 , onde h representa a altura
entre pisos. Constata-se, deste modo, que os limites apresentados na Equação IV.5
estão enquadrados com o limite do Eurocódigo 8 pelo que se considera válida a sua
utilização.
Como foi referido anteriormente, no Ponto IV.4.3, o controlo de deformações nos ele-
mentos não estruturais baseia-se no controlo de deformação dos elementos estruturais.
Assim, é necessário controlar a deformação nos pilares de contorno de modo a contro-
lar as deformações nos elementos de alvenaria exteriores. As deformações diferenciais
máximas admissı́veis nestes elementos, de acordo com o Ponto IV.4.3, encontram-se
na Tabela IV.13, enquanto os valores de deformação diferencial obtidos nos modelos
se encontram na Tabela IV.14.
76
IV.5. Análise Global dos Modelos
Tabela IV.14: Deformações diferenciais nos pilares de contorno para cada um dos modelos.
desde que as alvenarias utilizadas tenham qualidade suficiente para garantir um bom
comportamento para este nı́vel de deformações.
77
IV. Análise dos Casos de Estudo
ambiente pouco agressivo o limite é wk,max = 0, 4mm. De qualquer modo, e como foi
referido no Ponto IV.3.2, se se considerar esta abertura de fenda como excessiva com
um pequeno acréscimo de aço nas secções condicionantes pode-se obter uma menor
abertura caracterı́stica de fenda. Em alternativa, a adopção de uma junta parcial de
dois pisos leva a abertura de fenda nas vigas para valores da ordem de wk = 0, 28mm.
Refira-se também que não há consenso, entre a comunidade cientifica, relativamente
aos valores máximos estipulados para a abertura de fendas já que alguns estudos
apontam para uma pequena relevância da abertura de fendas, quando controlada,
na durabilidade de uma estrutura de betão armado. Quanto às deformações nos
elementos não estruturais, verificam-se os critérios mais exigentes sem necessidade de
adopção de juntas estruturais.
Assim, verifica-se que não há necessidade de adoptar juntas estruturais num
pórtico de 100 metros com as caracterı́sticas do estudado já que a estrutura apre-
senta um bom comportamento em condições de serviço, verificando a segurança ao
E. L. de Serviço.
Como seria expectável, uma vez que o pórtico de 100 metros com paredes estruturais
tem uma grande parte das deformações impostas horizontais impedidas, a adopção
de paredes de elevada rigidez nos extremos da estrutura é mais favorável em relação
aos pilares. Assim, com ou sem adopção de juntas estruturais, a abertura de fenda
caracterı́stica máxima nos pilares é de wk = 0, 21mm. Nas lajes, a adopção das
paredes eleva o risco de fendilhação destes elementos. Assim, e só com a adopção
de uma junta parcial de 3 pisos, se consegue manter o nı́vel de fendilhação menor
que o nı́vel máximo aconselhável wk,max = 0, 4mm. No entanto, no terceiro piso da
estrutura, na zona de ligação da junta parcial, a fenda caracterı́stica atinge o valor
de wk = 0, 45mm. Como o ambiente onde se verifica esta fenda é interior e, logo,
pouco agressivo, o EC2 [1] permite que se ultrapasse o valor máximo previsto por esse
mesmo documento, desde que seja esteticamente aceitável. Assim, tendo em conta
78
IV.5. Análise Global dos Modelos
que este valor apenas ultrapassa o máximo em meio décimo de milı́metro, considera-se
a solução aceitável.
Considerando a estrutura com junta parcial de 3 pisos, os elementos de viga de
bordo dos pisos 3 e 4 apresentam valores de fendilhação excessiva, wk = 0, 65mm
e wk = 0, 46mm, respectivamente. Este é um problema recorrente nos modelos
em análise e pode ser resolvido, como já foi referido, com um pequeno reforço das
armaduras das vigas de bordo nas secções condicionantes (neste caso a zona de fecho
da junta ao nı́vel do terceiro piso e a zona do alinhamento central do último piso).
Neste caso, era possı́vel resolver o problema da abertura de fenda excessiva nas vigas
de bordo adoptando para estas, nas zonas condicionantes, as mesmas armaduras
adoptadas na viga central.
Ao nı́vel das deformações, nenhuma das estruturas apresenta qualquer problema, o
que era previsı́vel visto que parte da deformação está impedida pelas paredes. Assim,
é possı́vel, mesmo num caso extremo (com paredes resistentes nas extremidades),
assegurar um bom comportamento em serviço de uma estrutura com 100 metros de
comprimento adoptando apenas uma junta parcial, neste caso especı́fico uma junta
parcial com 3 pisos.
Nesta estrutura, o nı́vel máximo de fendilhação nos pilares traduz-se numa abertura
caracterı́stica de wk = 0, 23mm, menor que o valor máximo preconizado pelo Eu-
rocódigo 2 [1], não sendo previsı́veis problemas a este nı́vel. Nas lajes a abertura
caracterı́stica é wk = 0, 30mm e verifica-se numa laje interior, sendo assim menor
que wk,max = 0, 4mm, logo, verifica a segurança aos E. L. de Utilização. Nas vigas
a abertura caracterı́stica é, também, menor que wk,max = 0, 4mm excepto na viga
de bordo do piso inferior, atingindo neste elemento wk = 0, 45mm. Considerando o
ambiente envolvente não agressivo (a face fendilhada está protegida por elementos
de alvenaria) pode considerar-se válido este nı́vel de abertura de fenda, até porque
os elementos de alvenaria que protegem esta face também a ocultam, não afectando
79
IV. Análise dos Casos de Estudo
por isso a qualidade estética da solução estrutural. Por outro lado, se se considerar o
ambiente como agressivo há que reforçar as armaduras da viga, não deixando de ser
válida a solução estrutural, sem juntas, proposta.
Ao nı́vel das deformações, o critério mais exigente (L/250) não é verificado nos
elementos da fachada de menor dimensão. No entanto, este critério não é verificado
por cerca de oito décimas de milı́metro, podendo-se optar por desprezar este pequeno
acréscimo, recorde-se que, como foi referido nos Pontos IV.4.3 e IV.4.4, este critério
diz respeito à deformação após a introdução dos elementos não estruturais. Assim, se
se considerar que estes foram colocados na estrutura após cerca de 50 dias, podemos
tomar cerca de 70% dos valores lidos na Tabela IV.14. Em qualquer dos casos,
verificando-se o critério de controlo de deformação menos exigente (L/125), considera-
se a solução válida, desde que os elementos de alvenaria utilizados tenham qualidade
suficiente para resistir a este nı́vel de deformação.
Os elementos de pilar desta estrutura têm, com ou sem juntas, uma abertura carac-
terı́stica de fenda máxima de wk = 0, 25mm, verificando assim os critérios já enuncia-
dos. Nos elementos de laje a abertura caracterı́stica máxima é de wk = 0, 39mm para
as lajes interiores e de wk = 0, 27mm para a laje de cobertura, não se verificando por
estes valores a necessidade de adoptar juntas estruturais.
Nos elementos de viga verifica-se uma abertura caracterı́stica máxima de wk =
0, 54mm sem juntas e de wk = 0, 46mm com adopção de uma junta parcial de 2
pisos, verificando-se estes valores, mais uma vez, para a viga de bordo. Assim, com
a adopção de uma junta parcial é possı́vel evitar fendilhação excessiva sem adição
de armaduras às vigas (admitindo um ambiente pouco agressivo). No entanto, será
também possı́vel evitar o excesso de fendilhação, sem adopção de qualquer junta,
através de um reforço local nas vigas em questão o que será, porventura, mais re-
comendável.
Quanto a deformações, o critério mais exigente não se verifica no piso inferior
80
IV.5. Análise Global dos Modelos
81
IV. Análise dos Casos de Estudo
82
Capı́tulo V
Apreciações Finais
83
V. Apreciações Finais
84
Bibliografia
85
BIBLIOGRAFIA
[9] Júlio Appleton; Carla Marchão. Folhas de Apoio às Aulas - Betão Armado e
Pré-Esforçado I: Módulo 3 - Verificação da Segurança aos Estados Limites de
Utilização. Instituto Superior Técnico, 2006.
[10] José Noronha da Camara; Ricardo Luı́s. Structural response and design cri-
teria for imposed deformations superimposed to vertical loads. The Second fib
Congress, 2006.
86
Anexo A
87
A. Malhas de Armaduras nas Lajes
88
89
A. Malhas de Armaduras nas Lajes
90
91
A. Malhas de Armaduras nas Lajes
92
93
A. Malhas de Armaduras nas Lajes
94
95
A. Malhas de Armaduras nas Lajes
96