Vous êtes sur la page 1sur 119

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE

AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE NO PERÍODO DE 2003 A 2006 –


ANÁLISE DOS GASTOS DO GOVERNO FEDERAL

Ricardo Luiz Soares Costa

SÃO PAULO

2008
AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE NO PERÍODO DE 2003 A 2006 – ANÁLISE

DOS GASTOS DO GOVERNO FEDERAL

RICARDO LUIZ SOARES COSTA

Monografia apresentada ao Departamento de

Esporte da Escola de Educação Física e Esporte

da Universidade de São Paulo, como requisito

parcial para a obtenção do grau de Bacharel em

Esporte.

ORIENTADORA: PROFa. DRª. FLÁVIA DA CUNHA BASTOS

ii
FICHA CATALOGRÁFICA

Costa, Ricardo Luiz Soares.


As políticas públicas de esporte no período de 2003 a
2006: análise dos gastos do governo federal / Ricardo Luiz
Soares Costa. – São Paulo, SP: [s.n], 2008.

Orientadora: Flávia da Cunha Bastos


Monografia – Escola de Educação Física e Esporte,
Universidade de São Paulo.

1. Esporte. 2. Estado. 3. Políticas públicas. I - Título

iii
AGRADECIMENTOS

Antes de qualquer agradecimento, queria dizer aqui que essas poucas linhas não
servem, em nenhum caso, para expressar verdadeiramente o quanto eu tenho a
agradecer a ninguém.
Primeiramente, agradeço aos meus pais, por terem possibilitado que eu estudasse,
e que participasse do movimento estudantil, ainda que nem sempre fosse a vontade
deles. Por terem dado toda força necessária em todos os momentos.
Agradeço também aos meus irmãos, pela amizade, e por me aturarem e ajudarem
esse ano inteiro.
A todos meus companheiros do Centro Acadêmico Ruy Barbosa, da Executiva
Nacional de Estudantes de Educação Física, do Diretório Central de Estudantes da USP,
do PSOL, enfim, de lutas, por terem me ensinado que o mundo não é impossível de
mudar.
Aos amigos Greg e Cacho, por terem me ajudado a entender que o mundo não é
só a sala de aula. À Roberta, pela militância conjunta, me ensinando muito durante um
ano. Aos amigos da minha turma Gustavo, Lucas, Mineiro, Grey, Lobão, Marília, que
ajudaram a fazer a faculdade mais suportável. E por ajudarem nisso, agradeço também a
Drica, a Carol, o Guto, o Marcão, o Trigo.
Ao camarada Pequeno, por toda luta em conjunto e por ter me deixado tranqüilo
em me afastar da militância no período de conclusão desse trabalho. Aos camaradas do
CARB Osama, Zé, Mari, Daia, Qualhada, Sérgio, Allan, por me deixarem tranqüilo e
orgulhoso também, sabendo que a militância na EEFE não acabará tão cedo.
Ao companheiro Carlão, pela ajuda nos momentos difíceis. Ao companheiro Heitor,
pela ajuda inestimável nesta monografia. Aos dois, ao Breno e ao Tom, que com muita
paciência, me fizeram entender o mundo. Sem isso, não seria quem eu sou, e esse
trabalho definitivamente não existiria.
Ao Ciro, à Paulinha e aos demais companheiros do campo Domínio Público, pela
luta coerente no dia a dia. À Cá Vivi, pela ajuda com a militância nesse ano, tão corrido.
À companheira Linna, pela militância na ExNEEF e pela grande amizade. Aos
companheiros Shin, Alemão, Luis, Fabão, Alan Jonh, Góes, Canguru e Carol, pelas
gestões na coordenação da ExNEEF, que muito me ensinaram. E aos meus diversos
amigos, e amigas, camaradas, em todo o Brasil, que mantém esse movimento de pé. Não
os cito, pois vou esquecer de muitos, e isso seria injusto.

iv
Aos Estrupeados, que não mudaram completamente, mas deram uma balançada
importante na minha vida. Especialmente, à Bel, por ter tocado o projeto desde o começo
comigo e com isso, termos chegado aonde chegamos. Allez hop!
À minha companheira Emyly, pelos momentos felizes, por ser um exemplo de
militância, por me obrigar, sem mesmo saber, a ler e estudar mais. Ou, simplesmente, por
ter me conhecido. E por ter me aturado no momento final desse trabalho.
À minha orientadora Adriana Penna, que não pode ser a orientadora oficial, mas
que é outra grande responsável por esta monografia, e pela amizade. E à minha
orientadora Flávia, por ter aceitado me orientar, e pela ajuda no final do trabalho.
Também, a todos os trabalhadores e todas as trabalhadoras do mundo, que o
constroem o tempo todo, e ainda são explorados para isso. Sem vocês, não teríamos
carros, casas, papéis, escolas... Nada. Trabalhadores do mundo todo, uni-vos!
E aos poetas, que nos permitem expressar o que nem sempre parece possível...

Nosso Tempo (Fragmentos)

Carlos Drummond de Andrade

Este é tempo de partido,


tempo de homens partidos.

Este é tempo de divisas,


tempo de gente cortada.
De mãos viajando sem braços,
obscenos gestos avulsos.

A escuridão estende-se mas não elimina


o sucedâneo da estrela nas mãos.
a pulsação, o ofego,
e o ar da noite é o estritamente necessário
para continuar, e continuamos.

É tempo de cortinas pardas,


de céu neutro, política
na maçã, no santo, no gozo
amor e desamor, cólera

O poeta
declina de toda responsabilidade
na marcha do mundo capitalista
e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas
promete ajudar
a destruí-lo
como uma pedreira, uma floresta,
um verme.

v
LISTA DE QUADROS

Página

QUADRO 1 - Recursos previstos no Plano Nacional de Educação Física e


Desportos 1975 – 1979...................................................................... 28
QUADRO 2 - Recursos da Seed/MEC por área em CZ$ 1.000,00 – Período de
1983-1985 33
QUADRO 3 - Recursos da Seed/MEC por área em CZ$ 1.000,00 – período
1986-1988.......................................................................................... 38
QUADRO 4 - Brasil: Uma década de reformas........................................................ 43
QUADRO 5 - Previsão de gastos com esporte no PPA – em R$............................ 80
QUADRO 6 - Previsão e execução orçamentária com esporte – em R$................. 82
QUADRO 7 - Montante de recursos da ação 5450 – Implantação de Núcleos de
Esporte Recreativo e de Lazer, por beneficiado – em R$.................. 84
QUADRO 8 - Total de recursos do Programa Segundo Tempo destinados às
forças armadas – em R$.................................................................... 85

vi
LISTA DE TABELAS

Página

TABELA 1 - Programas do megaobjetivo I, por setor............................................ 68


TABELA 2 - Programas do megaobjetivo III, por setor.......................................... 69

vii
LISTA DE FIGURAS

Página

GRÁFICO 1 - Evolução do orçamento em Ministérios de Estado – em R$


10.000.000,00........................................................................................ 83

viii
LISTA DE SIGLAS, ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS

AAA Associação Atlética Acadêmica


AI Ato Institucional
CBCE Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte
CBD Confederação Brasileira de Desportos
CBDU Confederação Brasileira de Desporto Universitário
CBF Confederação Brasileira de Futebol
CBFS Confederação Brasileira de Futebol de Salão
CBV Confederação Brasileira de Voleibol
CDDB Conselho de Desenvolvimento do Desporto Brasileiro
CEB Comunidade Eclesial de Base
CF Constituição Federal
CGU Controladoria Geral da União
CND Conselho Nacional de Desportos
CNI Confederação Nacional da Indústria
COB Comitê Olímpico Brasileiro
CPOB Comitê Paraolímpico Brasileiro
CSD Conselho Superior do Desporto
CUT Central Única dos Trabalhadores
DED Departamento de Educação Física e Desportos
DEF Divisão de Educação Física
EPT Esporte Para Todos
ExNEEF Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física
FBAPEF Federação Brasileira de Associações dos Professores de Educação
Física
FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
FMI Fundo Monetário Internacional
FUNDESP Fundo Nacional de Desenvolvimento do Desporto
FUPE Federação Universitária Paulista de Esporte
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INDESP Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto
JUB’s Jogos Universitários Brasileiros

ix
MEC Ministério da Educação
MEEF Movimento Estudantil de Educação Física
MET Ministério do Esporte e do Turismo
MP Medida Provisória
MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
MTIC Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio
PAG Plano de Ação do Governo
PC do B Partido Comunista do Brasil
PDT Partido Democrático Trabalhista
PED Plano de Educação Física e Desportos
PFL Partido da Frente Liberal
PIB Produto Interno Bruto
PL Projeto de Lei
PMDB Partido do Movimento Democrático do Brasil
PND Plano Nacional de Desenvolvimento
PND-NR Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República
PNED Plano Nacional de Educação Física e Desportos
PPA Plano Plurianual
PPR Partido Progressista Renovador
PR Paraná
PSDB Partido da Social Democracia Brasileira
PSOL Partido Socialismo e Liberdade
PT Partido dos Trabalhadores
RJ Rio de Janeiro
RS Rio Grande do Sul
SDR Seção de Desportos e Recreação
SEED Secretaria de Educação Física e Desporto
Serac Serviço de Recreação e Assistência Cultural
SICON Sistema de Informações do Congresso Nacional
SMEE Seminário de Movimento Estudantil e Esporte
SNE Secretaria Nacional do Esporte
SP São Paulo
SRO Serviço de Recreação Operária
SUEPT Subsecretaria do Esporte Para Todos

x
UNE União Nacional do Esporte
USP Universidade de São Paulo

xi
RESUMO

AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE NO PERÍODO DE 2003 A 2006 – ANÁLISE


DOS GASTOS DO GOVERNO FEDERAL

RICARDO LUIZ SOARES COSTA


Orientador: PROFa. DRª. FLÁVIA DA CUNHA BASTOS

Desde o início do século XX o esporte faz parte do cotidiano da população


brasileira. A partir dos anos 30, passa a ser alvo de políticas públicas específicas, que
desde então aumentaram em tamanho, importância e valores investidos pelo Estado.
Depois da promulgação da Constituição Federal de 1988, o esporte passa a ser um direito
social de cada um. A despeito disso, durante a década de 90, muito pouco foi feito para
que tal direito se efetivasse. As leis e o investimento público sempre privilegiaram o
mercado esportivo e os grandes clubes em detrimento da população. Em 2002 a
oposição, na figura de Luis Inácio Lula da Silva, é eleita para a presidência. Findo o
primeiro mandato por completo, esse estudo se propõe exatamente a fazer uma análise
qualitativa e quantitativa sobre a legislação aprovada no período de 2003 a 2006 e sobre
os gastos públicos do Ministério do Esporte nesse mesmo período, com o intuito de
concluir se temos uma política de ruptura com os governos neoliberais anteriores, ou se
há um continuísmo. Ainda que sejam necessários estudos mais aprofundados, pudemos
concluir que a política de esporte nesse período não é uma cópia exata dos governos
anteriores, mas é não rompe com nenhuma das característica principais. Contnua
privilegiando políticas focalistas e o setor privado do esporte nacional.

Palavras-chave: Estado, esporte, políticas públicas.

xii
SUMÁRIO

Página

LISTA DE QUADROS Vi
LISTA DE TABELAS Vii
LISTA DE FIGURAS Viii
LISTA DE SIGLAS, ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS ix
RESUMO xii
1 INTRODUÇÃO 1
2 METODOLOGIA 5
3 REVISÃO DE LITERATURA 6
3.1 CONCEITOS DE ESTADO E ESPORTE 6
3.1.1 Estado 6
3.1.2 Esporte 8
3.2 UM POUCO DE HISTÓRIA 9
3.2.1 Período pós-“revolução” de 1930 10
3.2.2 O Esporte durante a “Democracia Populista” 14
3.2.3 A Ditadura Militar 17
3.2.4 O Esporte e a Redemocratização – período entre 1985 e 1988 33
3.2.5 O Esporte pós Constituição de 1988 39
3.3 POLÍTICAS DE ESPORTE DO GOVERNO FEDERAL ENTRE 2003 61
e 2006
3.4 OS GASTOS DO MINISTÉRIO DO ESPORTE NO MESMO 79
PERÍODO
4 CONCLUSÕES 87
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 92

xiii
1 Introdução

A idéia deste trabalho nasce a partir da necessidade de se avaliar uma possível


mudança qualitativa nas políticas públicas de esporte do Brasil, com a eleição de um
partido supostamente de esquerda para a presidência, através do Sr. Luis Inácio Lula
da Silva1, do Partido dos Trabalhadores – PT – em 2002.
Tal idéia surge dos debates ocorridos dentro do Movimento Estudantil de
Educação Física – MEEF, desde que Lula foi eleito. O MEEF, organizado pela
Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física – ExNEEF, vem procurando
debater o esporte, e a sua aplicação como política pública. Foram organizados
fóruns, especialmente o Seminário de Movimento Estudantil e Esporte – SMEE2,
onde muitas questões foram levantadas, em especial, a análise do governo Lula e os
avanços no sentido de uma política pública que priorizasse a classe trabalhadora,
avanços esses tão esperados dentro do MEEF.
O questionamento sobre os possíveis avanços do governo gerou o interesse pelo
tema do trabalho, e a escassez de respostas acadêmicas, com estudos e artigos com
maior rigor científico foram também fatores que levaram ao tema estudado.
Com a eleição de Lula, e do PT, à presidência da república, imagina-se que
possam ocorrer mudanças qualitativas nas políticas públicas de esporte que vinham
sendo implementadas no Brasil até então. Afinal, se voltarmos um pouco na história,
teremos que, no período de 1964 até 1988, as políticas de esporte tinham, segundo
Kunz (1994) e Alves (2003), claro caráter “Técnico – Desportivo”. Ainda nesse
período, podemos verificar um caráter burguês fundamental nestas políticas, que é o
caráter de nacionalismo, que vai ao encontro de uma das principais funções do

1
Seu nome de batismo é Luis Inácio da Silva, mas ele adicionou o Lula para que esse nome o

representasse eleitoralmente.
2
O SMEE é um evento bienal. Em 2003, tinha o tema “Esporte: direito constitucional em questão”; em

2005, “Esporte pra que? Esporte pra quem?” e em 2007, “Pan e circo: praticas para a manutenção de

uma ideologia”.
Estado Burguês, segundo Saes (1998), a criação do “Estado Nação ou Povo Nação”
para a diminuição da consciência de classes.
O período pós-constituição de 1988 foi analisado por Veronez (2005, p. 358), que
concluiu da seguinte forma: “No jogo entre o público e o privado, no período
abordado pelo estudo (1988 – 2002), é evidente que o Estado joga a favor do
privado”. Essa análise evidencia que o caráter das políticas ainda é um caráter
burguês, mas que, ao se isentar de deveres, privatizando o direito do cidadão à
prática de esportes, assume claramente um viés neoliberal.
Segundo Moraes, 2001, a palavra neoliberalismo pode significar uma corrente de
pensamento ou ideologia, um movimento intelectual organizado ou um conjunto de
políticas adotadas por governos a partir da segunda metade da década de 1970 e
propagada pelo mundo por organizações como o Banco Mundial e o Fundo
Monetário Internacional (FMI). Mas, ainda segundo Moraes, “todos esses significados
têm uma coisa em comum: sugerem o retorno a um modelo ideal. (...) retomam,
atualizam e propagam os valores do pensamento liberal e conservador dos séculos
XVIII e XIX” (ibidem, p.10).
O citado “modelo ideal” sugerido pelos neoliberais é expresso, resumidamente,
da seguinte forma:

A palavra de ordem mais geral [do neoliberalismo] pode ser resumida


em duas exigências complementares: privatizar empresas estatais e
serviços públicos e "desregulamentar", isto é, diminuir a interferência dos
poderes públicos sobre os empreendimentos privados. (Morais, 1997)

A aplicação do modelo neoliberal se deu através de uma reforma do Estado,


analisadas por Moraes

Veja-se portanto que as reformas neoliberais não visam apenas a


acertar balanços e cortar custos ¾ garantindo o sagrado superávit
primário, imprescindível à remuneração dos juros da dívida (interna e
externa). Trata-se de mudar a agenda do país. De modificar
drasticamente os temas e valores compartilhados, de modo que se
enquadrem as eventuais alternativas no terreno pejorativo do
impensável. E de alterar em profundidade os espaços e processos em
que se faz política, isto é, em que se fazem escolhas relevantes. Mesmo
quando essas deliberações sejam "públicas", já que não se pode lançá-
las, infelizmente, às decisões (supostamente) descentralizadas do
mercado, que esse espaço seja cada vez mais parecido com o seu
senhor, modelo e telos, isto é... com o mercado.” (2002, p.20)

2
Segundo Kinchin e Pires, tais reformas
mesmo em nosso país, onde jamais fomos capazes de construir um
efetivo estado de bem-estar, ao invés de evoluirmos para um conceito
de cidadania, retrocedemos a uma concepção focalista, emergencial e
parcial, em que a população pobre tem que dar conta dos seus próprios
problemas. (2002)

Podemos compreender então que as reformas neoliberais afetam todo o Estado


e sua forma de relação e intervenção na sociedade. A política pública para a
educação física e o esporte não são exceção.
Em 2002 temos a eleição do Presidente Luis Inácio Lula da Silva, do Partido dos
Trabalhadores, com, segundo Antunes (2005), um apoio da esquerda muito forte,
apesar de declarações anteriores, como a “Carta ao povo Brasileiro”, a qual matinha
os compromissos do governo com as entidades credoras do Brasil, a política de
superávit primário, entre outros, como podemos ver a seguir. Vale lembrar que a
esquerda sempre defendeu a revisão da dívida externa, o que Lula nem cita na carta.

Será necessária uma lúcida e criteriosa transição entre o que temos hoje
e aquilo que a sociedade reivindica. [...] O novo modelo não poderá ser
produto de decisões unilaterais do governo [...] Será fruto de uma ampla
negociação nacional, que deve conduzir a uma autêntica aliança pelo
país, a um novo contrato social, capaz de assegurar o crescimento com
estabilidade.
Premissa dessa transição será naturalmente o respeito aos contratos e
obrigações do país.
[...] Vamos preservar o superávit primário o quanto for necessário para
impedir que a dívida interna aumente e destrua a confiança na
capacidade do governo de honrar os seus compromissos. (Silva, 2002,
p.2 a 4)

Esse apoio da esquerda está presente em boa parte da classe trabalhadora e de


suas representações, incluindo aí amplos setores da Central Única dos
Trabalhadores, CUT, e de muitos sindicatos a ela filiados, o Movimento de
Trabalhadores Rurais Sem Terra, MST, e tantos outros movimentos sociais, e o
Partido dos Trabalhadores, em seus diferentes setores, junto com outros partidos
que se reivindicam como progressistas e/ou de esquerda.. É verdade que em todos
os setores da esquerda brasileira, especialmente daquela que reivindica a revolução
socialista, há uma desconfiança crescente em relação ao Lula, ao PT e a outros
instrumentos da classe ligados ao setor majoritário do PT. Ainda assim, essa ampla

3
maioria da auto-reivindicada esquerda imagina que possa haver mudanças na
qualidade deste governo e consequentemente, nas políticas públicas de esporte
também.
Agora, passados os quatro primeiros anos do mandato (2003-2006), muitas
crises, escândalos e outros, é importante fazer uma análise deste período. Essa
analise deve ter como objetivo a crítica, a negação do que aconteceu no último
período, objetivando uma nova síntese, sempre avançando em relação ao que está
colocado para nós neste momento.
Nesta monografia, nos propomos a realizar um estudo de caso, através de
análise documental do último período do Governo Lula baseados em documentos
relativos aos gastos do Governo Federal com o Esporte, tomando estes como
indicativos que expressam, na prática, o que é pretendido pelo governo. A partir
desta análise inicial exploratória, pretendemos confrontar estes dados com a
realidade do Brasil, com os documentos do período e com documentos de governos
anteriores para tentar apontar onde tivemos mudanças significativas e a quem essas
mudanças favorecem. Numa última análise, a partir das seguintes questões como o
quanto foi gasto pelo ministério?” - “o quanto se gastou com cada manifestação do
esporte?” e - “o que significa o gasto com cada manifestação?”, tentaremos
responder, possivelmente, uma pergunta na mesma linha da pergunta feita por
Veronez (op. cit.): De que lado joga o estado brasileiro no período de 2003 a 2006?
Do lado público, da classe produtiva, ou do lado privado, dos donos dos meios de
produção?

4
2 Metodologia

As teses de Linhales (1996) e Veronez (2005) serviram de norte para o desenho


inicial da tese, foi, por tanto, a partir dessas, suas considerações e suas referências,
que buscamos outras publicações científicas, achando fontes como em uma bola de
neve.
Esta pesquisa exploratória utilizou métodos qualitativos e quantitativos para
apreensão do objeto.
A coleta dos dados referentes aos gastos do governo se baseou no sítio
eletrônico do ministério do esporte (www.esporte.gov.br). Tal sítio tinha dados
próprios, mas também encaminhava para o endereço da Transparência Brasil
(www.transparencia.gov.br), da Controladoria Geral da União – CGU, e para o sítio
do Plano Plurianual 2004 – 2007 (www.planobrasil.com.br).
Já as leis referentes ao período do estudo, foram obtidas no sítio do Sistema de
Informações do Congresso Nacional – SICON (www.senado.gov.br/sicon). No “Portal
Legislação”, pesquisamos pela palavra esporte, no período entre 2003 e 2006, em
todos os tipos de documentos. Obtivemos 62 documentos, dentre os quais
selecionamos os que consideramos mais importantes no período, por terem ligação
com o financiamento do esporte. Os decretos referentes a alterações no orçamento
foram desconsiderados, pois estariam incorporados nas prestações de contas do
governo.
A sistematização dos dados recolhidos foi realizada de acordo com orientação de
Bardin (1977) para análise temática, a partir das considerações de Triviños (1987),
que toma como base metodológica de interpretação a corrente dialética, enfatizando
o potencial qualitativo da análise de conteúdo e não seu potencial quantitativo. Foi
também seguido o indicativo de Demartini (2001), para quem a análise é um
processo de ajustes ininterruptos.

5
3 Revisão de Literatura

3.1 Conceitos de Estado e Esporte

Um ponto de partida importante para o decorrer deste trabalho é delimitar com


alguma clareza os conceitos que serão utilizados sobre os principais temas
abordados, e o referencial teórico-metodológico que guia a compreensão de tais
conceitos.
Os temas são o esporte e o Estado, apreendidos a partir do materialismo
histórico dialético3.

3.1.1 Estado

Apresentamos aqui a discussão do que se entende por Estado. É importante


descrever aqui o Estado hoje, e algumas das suas possíveis conformações dentro da
sociedade capitalista.
Para começar o debate de Estado, é importante salientarmos a sociedade de
hoje. Vivemos em uma sociedade capitalista.

3
O materialismo histórico é uma abordagem metodológica ao estudo da
sociedade, da economia e da história.A análise materialista histórica parte da questão de
que a produção, e a troca dos produtos, é pilar de toda a ordem social; existente em
todas as sociedades que desfilam pela história. Sendo assim, a repartição destes
produtos, aliada com ela à divisão dos homens em classes ou camadas, é determinada
pelo o que e como a sociedade produz e pelo modo de trocar as suas mercadorias (Lima e
Soares Neto, 2008)

6
A sociedade capitalista é produto de relações sociais específicas; tais relações
são caracterizadas pela relação de exploração dos produtores pelos donos dos
meios de produção. Ainda assim, é necessário atentarmos a algumas características
que o diferenciam de sistemas como o feudalismo e o escravismo.
Uma característica é a forma da exploração da força de trabalho dos produtores.
Diferentemente dos outros sistemas, onde há uma clara diferenciação entre os donos
dos meios de produção (Senhores, Nobres) e os produtores (Escravos, Servos), no
capitalismo existe uma falsa pretensão de que são todos iguais, e se estabelece um
contrato de compra e venda, finalizado pelo pagamento do salário.
Tal condição é justificada através da ideologia dominante no capitalismo,
entendendo que ideologia “consiste justamente em tomar as idéias como
independentes da realidade histórica e social de modo a fazer com que tais idéias
expliquem aquela realidade que torna compreensíveis as idéias elaboradas” (Chauí,
2001, p.10-11) e que tais idéias “são, na verdade, expressões dessas condições
reais, porém de modo invertido e dissimulado. Com tais idéias pretende-se explicar a
realidade, sem se perceber que são elas que precisam ser explicadas pela
realidade.” (ibidem, p.16).
Ou seja, utiliza-se a ideologia para fazer com que os explorados em uma
sociedade não achem que são explorados.
No capitalismo, um dos principais mecanismos é essa posição supostamente
igual, outra característica única do capitalismo é que os explorados não são privados,
legalmente, de nada, ainda que não tenham condições materiais de fazer muitas
coisas. A sociedade capitalista não proíbe os que não detêm os meios de produção
de fazer ou ter as coisas através de estruturas legais, mas utiliza para isso estruturas
do Estado, como polícia, ainda que sem amparo legal; utiliza também o fator
financeiro, já que o que é muito caro é inatingível à classe trabalhadora. E para
justificar tais atos, utiliza-se a ideologia.
Entendendo que vivemos no capitalismo, devemos ver então que o Estado, não
só no seu conteúdo, mas também na sua forma, é um Estado Burguês. E o Estado
Burguês tem, segundo Saes (op. cit.), duas principais funções, que são: individualizar
os agentes da produção e neutralizar, no produtor direto, a tendência à ação coletiva.

7
Para isso, o Estado Burguês se organiza de diferentes formas, com regimes
totalitários (ditaduras militares no Brasil, no Chile, e regimes nazi-fascistas como o
Italiano e o Alemão), regimes protecionistas (o wellfare-state do capitalismo pós
segunda grande guerra) e regimes liberais (liberalismo e neoliberalismo).

3.1.2 Esporte

A definição de Esporte não é algo que vá se encerrar aqui, até porque não
pretendo fazer este debate; ainda assim, é necessário delimitar aqui o que é o
Esporte quando este for citado no texto. O conceito de Esporte que será utilizado é
baseado, principalmente, na obra “Metodologia do Ensino da Educação Física” do
Coletivo de Autores (1992), mas recebe também influência de Valter Bracht, em sua
obra “Sociologia Crítica do Esporte” (2003).
É relevante inicialmente afirmar que o Esporte não é um fenômeno isolado, mas
uma construção histórica da humanidade. Assim, se mostra como uma construção
cultural da humanidade, mas não uma cultura qualquer, mas a cultura expressa pelo
corpo, a Cultura Corporal. Então, tem-se que o Esporte é parte constituinte da
Cultura Corporal (Coletivo de Autores, op. cit, p.70).
Ainda assim, o Esporte tem algumas características próprias que devem ser
levadas em conta e que talvez sejam as responsáveis por fazer do Esporte o maior
fenômeno da Cultura Corporal na sociedade capitalista.
Uma importante característica do esporte é que sua conformação como ele é
hoje começa a se dar com a revolução industrial, exatamente na Inglaterra (Bracht,
op. cit., p. 13). Isso é uma das causas e também um dos motivos que faz com que o
Esporte carregue consigo valores inerentes ao Capitalismo, como a competição, a
individualização, e outros.
Outra característica que o diferencia é a sua capacidade de envolver pessoas
indiretamente. Gente que não pratica esporte está, ainda assim, envolvida com o
fenômeno Esporte. Isso se dá em conjunto com a Espetacularização, que é outra
característica inerente ao Esporte (ibidem, p.17).

8
Então, aceitaremos que o Esporte é um fenômeno social construído
historicamente pela humanidade, que é constituinte da Cultura Corporal. Fica
também que ele carrega os valores capitalistas, e que isso não será completamente
mudado senão com a mudança de organização econômico-social. Dentre esses
valores e fenômenos, ficam mais claros o individualismo, a competição e a
espetacularização.

3.2 Um pouco de História

Para que possamos entender melhor a situação do esporte no Brasil hoje, é


importante que façamos uma retomada histórica, para ter mais claro como chegamos
à situação atual. Isso não é importante só para o Esporte, mas para entendermos
também o Estado e as políticas públicas atuais.
Posto que as relações sociais do modo de produção capitalista influenciam
diretamente a nossa forma de vida, em seus mais diversos aspectos, é então
importante ter em conta que essa forma de produção determina nossa cultura,
consequentemente nossa cultura corporal e o que essa aborda, como o esporte.
Além disso, para uma avaliação mais consistente sobre possíveis mudanças
qualitativas nas políticas públicas, a qual esse trabalho se propõe, é necessário
saber quais e como eram as políticas anteriores, para podermos falar em rupturas ou
continuísmos.
Antes de começar a falar da história em si, é importante atentar que iremos
trabalhar aqui a história do esporte moderno, entendendo que este “é uma prática
social bastante recente e que o período histórico que o acolhe compreende,
basicamente, os séculos XIX e XX” (Linhales, 1996, p. 30).
Ainda segundo Linhales (ibidem, p.76), o Estado só passa a atuar “de forma mais
consistente [...] no setor esportivo” com a Revolução de 1930 e o Estado Novo.
Até então o esporte era realizado principalmente pela sociedade civil organizada
e autônoma na sua relação com o Estado, através de agremiações esportivas como

9
clubes náuticos, times de fábrica, de várzea, entre outras formas4. Até 1930, segundo
Veronez (op. cit.), havia ação do Estado em relação ao esporte, com empréstimos a
clubes, doação de terrenos e recursos para viagens internacionais, entre outros.
Ainda assim, a estruturação do esporte na sociedade acontecia de forma bem
independente do Estado, entendendo essa independência por uma falta completa de
políticas do Estado para esses clubes, seja de controle, seja de ajuda financeira.
A essa altura, além dos diversos clubes e associações, já existiam campeonatos
com regras bem estabelecidas, que ocorriam regularmente5. Diferentes entidades
gestoras do esporte já se encontravam organizadas6 e seleções nacionais de
diversas modalidades já existiam há algum tempo7. Nota-se que o esporte brasileiro
já possuía grande inserção na sociedade, o que gerou interesse das massas, talvez
como conseqüência, do interesse da intelectualidade nacional.
Esse interesse se reflete na intervenção estatal do governo de Getúlio Vargas,
que é o primeiro governo a dar uma grande importância para o Esporte, o que é
evidenciado pelo fato de ter, pela primeira vez, uma política específica para o
Esporte, e não com o Esporte sendo instrumento de outras áreas.

3.2.1 Período pós-“revolução” de 1930

4
Diversos clubes de regatas e futebol são fundados no período entre o final do século XIX e o início

do século XX, como o Clube de Regatas Flamengo (1895), Esporte Clube Vitória (fundado em 1899

como Club de Cricket Vitória) e o Sport Club Corinthians Paulista (1910).


5
O primeiro campeonato paulista de futebol aconteceu em 1906 e continua acontecendo até hoje.

Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Futebol_no_Brasil>. Acesso em 1° de agosto de 2007.


6
O Comitê Olímpico Brasileiro é fundado em 8 de junho de 1914. Disponível em

<http://www.cob.org.br/site/sobre_cob/historico.asp>. Acesso em 1º de agosto de 2007.


7
A primeira participação do Brasil em Jogos Olímpicos acontece em 1920, na Antuérpia. Disponível

em <http://www.cob.org.br/site/brasil_jogos/brasil_jogos.asp>. Acesso em 1° de agosto de 2007.

10
Getulio Vargas assume o governo após a auto afirmada “Revolução” de 1930 e é
eleito pela constituinte de 1934. A sua linha de governo

era construir uma nação independente, por isso o grande apelo ao


nacionalismo. Era importante [...] ter às suas mãos os recursos minerais,
hidrelétricos, bem como, a produção de aço, máquinas e equipamentos.
[...] que constituiria a base do desenvolvimento econômico, industrial e
social brasileiro. (Almeida, 2006).

Como na época havia uma necessidade da burguesia de conter os avanços dos


comunistas e dos fascistas, o Estado Novo e seu nacional-desenvolvimentismo são
muito importantes. E um fator fundamental nesse período é a disputa ideológica e
também o controle do tempo de não produção dos trabalhadores, para o seu não
envolvimento com atividades políticas.
Esse processo de intervenção do Estado se dá, segundo Linhales (op. cit. p.91)
“num duplo movimento”. Por um lado, há uma forte intervenção do Estado em todo
setor esportivo, o que é uma característica do próprio Estado Novo, a forte
intervenção do poder público em muitos setores da vida social. Por outro lado o
Esporte, como todas as práticas da cultura corporal, “foi utilizado pelo Estado como
estratégia e como suporte do processo de ordenamento da sociedade nos moldes de
seu projeto político-ideológico” (ibidem, p. 92).
Pode-se verificar também que nesse período, os princípios higienistas do início
do século são muito reforçados, vinculados então com um ideário maior de
higienização e eugenização da nação. Segundo Bracht

A constituição da educação física, [...] na instituição escolar emergente


dos séculos XVIII e XIX, foi fortemente influenciada pela instituição
militar e pela medicina. A instituição militar tinha a prática — exercícios
sistematizados que foram ressignificados (no plano civil) pelo
conhecimento médico. Isso vai ser feito numa perspectiva terapêutica,
mas principalmente pedagógica. Educar o corpo para a produção
significa promover saúde e educação para a saúde (hábitos saudáveis,
higiênicos). Essa saúde ou virilidade (força) também pode ser (e foi)
ressignificada numa perspectiva nacionalista/patriótica. Há exemplos
marcantes na história desse tipo de instrumentalização de formas
culturais do movimentar-se, como, por exemplo, a ginástica: Jahn e
Hitler na Alemanha, Mussolini na Itália e Getúlio Vargas e seu Estado
Novo no Brasil. Esses movimentos são signatários do entendimento de
que a educação da vontade e do caráter pode ser conseguida de forma
mais eficiente com base em uma ação sobre o corpóreo do que com
base no intelecto; [...]. Normas e valores são literalmente "incorporados"

11
pela sua vivência corporal concreta. A obediência aos superiores precisa
ser vivenciada corporalmente para ser conseguida; é algo mais do plano
do sensível do que do intelectual. (1999, p.72-73)8

É importante salientar que essa perspectiva tinha como objetivo também moldar
a força de trabalho de então. Para o melhor funcionamento do capitalismo da época,
eram necessários trabalhadores fortes, com hábitos saudáveis, e respeito à
hierarquia. Segundo o mesmo autor, “Treinamento esportivo e ginástica promovem a
aptidão física e suas conseqüências: a saúde e a capacidade de trabalho/rendimento
individual e social, objetivos da política do corpo” (ibidem, p.74)9.
Isso fica claro com a Constituição de 1934, Título IV, Art. 138, segundo a qual é
incumbência da União, Estado e Municípios, entre outras coisas, estimular a
educação eugênica, cuidar da higiene mental e incentivar a luta contra os venenos
sociais. E na Constituição de 1937, o Artigo 131 trata da obrigatoriedade da
Educação Física em todas as escolas primárias.
Por fim, sintetizando a iniciativa do Estado Novo, em 1941, é aprovado o
Decreto-Lei 3199/41, que irá regulamentar todo o Esporte no Brasil e criar o
Conselho Nacional de Desporto. Este último servirá para, segundo João Saldanha,
no prefácio da obra de Manhães (1986),

[...] se sobrepor a toda e qualquer organização esportiva no País. O


Presidente desse órgão, nomeado diretamente pelo Presidente da
República ou pelo Ministro da Educação, [...] se arrogava o direito de [...]
legislar de acordo com conveniências particulares [...]. Um autoritarismo
totalitário e absoluto. (in Linhales, ibidem, p.111)

Ainda em 1941, o governo Vargas mostra que atuará também a partir do esporte
universitário, legalizando a recém criada Confederação Brasileira de Desportos
Universitários (CBDU), através do Decreto-Lei 3167, de 15 de Setembro do mesmo
ano. Isso confirma a tendência que o governo já mostrava ao apoiar, por exemplo, as

8
Grifos nossos.
9
Grifos nossos.

12
Olimpíadas Universitárias Brasileiras10, que têm a sua primeira edição já em 1935,
segundo Borges e Buonicore (2007).
É através desse mesmo Decreto-lei que o governo cria também as Associações
Atléticas Acadêmicas (AAA’s), institui oficialmente os Jogos Universitários Brasileiros
e define que “Os regulamentos dos desportos universitários, e bem assim os
estatutos da Confederação dos Desportos Universitários, serão aprovados por
decreto do Presidente da República” (Brasil, 1941)
Verifica-se então que durante o Estado Novo se inicia a utilização do esporte
universitário, na figura das AAA’s, como uma das tentativas de despolitizar os
estudantes e desmobilizar o Movimento Estudantil universitário. Não foi o único meio
utilizado com tais fins, mas foi uma das formas de disputar a hegemonia dentro das
universidades.
Nesse período, a forte influência do Estado na organização Estudantil, como
mostra Poerner (2004), faz com que o Movimento Estudantil tenha sua construção
comprometida. Apesar da fundação da União Nacional dos Estudantes, em 1937, o
movimento estudantil passará por dificuldades por causa da atuação do governo.
Após uma ofensiva dos estudantes contra o nazi-facismo, as relações com o governo
são estremecidas e em 1º de Abril de 1942 o governo aprova a portaria 225, que
instituía a Juventude Brasileira11 e a sediava no então prédio da UNE.
Uma boa mostra de como o governo, apesar da relação estremecida com o
movimento estudantil, matinha boas relações com a CBDU e com a Federação
Universitária Paulista de Esportes (FUPE), é dada no início da década de 194012,
quando os presidentes da FUPE e da CBDU e de alguns Centros Acadêmicos
propuseram ao Conselho Universitário da Universidade de São Paulo (USP) que
fosse concedido ao então presidente Getúlio Vargas o título de doutor honoris causa.

10
Depois chamados de Jogos Universitários Brasileiros – JUB´s.
11
Para um debate um pouco mais aprofundado sobre o caráter dessa organização e o seu processo

de fundação, consultar Liinhales, op. cit. p.121-130


12
Na sua obra, Poerner não cita uma data precisa para os incidentes citados. Poerner, op. cit. p.157-

159

13
Essa iniciativa causou graves conflitos, uma greve de estudantes na Faculdade de
Direito e, por fim, a recusa do Presidente em aceitar o título, concedido pelo
Conselho Universitário da USP.
As características das políticas para o esporte no período de 1930 a 1945, como
o seu forçado status de prática social moderna e popular, a sua utilização como
estratégia de disciplinamento social e de disseminação de uma ideologia,
nacionalista no caso, irão ser bastante influentes nas políticas de esporte até a
década de 1980, no mínimo13. Mas, mais que as políticas, a organização burocrática
do esporte, com uma relação de tutela e dependência do Estado será mantida quase
que inalterada na sua forma principal, até a democratização do país ou até a
publicação da Lei N° 8672/93, conhecida como “Lei Zico”. Resumindo, segundo
Linhales
O esporte foi institucionalizado, ganhou legislação própria, foi oferecido
pelo Estado [...] como bem coletivo. [...] constituiu uma burocracia oficial
para seu desenvolvimento, controle e fiscalização. Foi estatizado, sem,
contudo, ter sido publicizado (op. cit. p.130)

3.2.2 O Esporte durante a “Democracia Populista”

Depois desse período, temos um período de democracia populista entre 1945 e


1964. Nesse período, o esporte é tratado de forma muito similar ao período anterior,
como demonstrarei a seguir.
O primeiro indício de que nenhuma mudança ocorreria na legislação referente ao
setor esportivo se dá na Constituição de 1946, que não faz menção ao esporte.
Entre 1945 e 1964, o esporte brasileiro se fortalece como setor de atuação do
Estado, com a mesma estrutura de atrelamento e tutela criada em 1941. Isso não
significa que as relações políticas se mantiveram as mesmas, ainda que poucas
mudanças tenham acontecido.

13
É importante ressaltar que nesse longo período, houve mudanças substanciais no contexto político,

econômico, cultural e social do país.

14
O período em questão é marcado, segundo Linhales (ibidem. p.137) pelo reforço
de relações de privilégio e, consequentemente, relações de exclusão.
O caráter excludente se evidencia por duas características principais, ainda
segundo Linhales (Ibidem), que seriam investimentos estatais diferenciados para
diferentes modalidades e a priorização do esporte de rendimento, seletivo, voltado
para campeonatos de todos os níveis.
A primeira forma é evidenciada pelo investimento concentrado no futebol,
característica que se mantém bastante atual, mas isso será discutido mais a fundo,
em outro momento. É verdade que a priorização do futebol não aconteceu por acaso.
Segundo Veronez (op. cit. p. 203) essa priorização se dá principalmente por que:

Nesse período, é correto afirmar que a mobilização das massas se dava


com maior intensidade em torno dessa modalidade, fato que impelia as
elites políticas a dela se aproximarem, em busca de dividendos
eleitorais.

Ainda assim, nesse período, houve um investimento muito grande em outras


modalidades, com destaque para voleibol, natação, atletismo, tênis e basquete,
fazendo com que essas tivessem um grande desenvolvimento também, e que
surgisse um enorme número de entidades esportivas.
E esse desenvolvimento grandioso das modalidades e essa aproximação maior
com o futebol se dão exatamente pela característica marcante, das relações do
governo com as confederações.
Nesse período, os governos utilizavam o esporte numa relação populista de
apelo às massas. O esporte servia, segundo Veronez (idem), “como instrumentos de
legitimação da ordem estabelecida, [...] para o fortalecimento da hegemonia das
elites que constituíam o bloco no poder”.
Então, era de grande interesse do governo que as confederações esportivas e
suas entidades afiliadas estivessem a ele atreladas, não só burocraticamente, mas
também numa relação de interesses mútuos. Se de um lado o governo utilizava o
esporte da forma já citada, do outro, ele quem controlava o reconhecimento legal das
entidades, e o seu financiamento, tanto os valores que deveriam ser alocados em
cada uma delas quanto o controle do uso destes recursos.

15
Tendo então poucas alternativas, a não ser acomodarem-se aos interesses
estatais (Veronez, ibidem), os dirigentes esportivos não só se acomodavam como
atuavam em um duplo sentido, segundo Linhales (op. cit.), de um lado pela sua
manutenção em posições de poder e por outro, que não exclui o primeiro, para
extrair vantagens pessoais derivadas do prestígio e privilégio assegurados pelas
suas posições de poder. Dada essa relação, vantajosa tanto para dirigentes quanto
para políticos governantes, não havia motivo para questionar tal estrutura.
Ainda que a ação do Estado nesse período seja marcada, principalmente, pelo
investimento no esporte de rendimento14, há também o investimento em outras duas
áreas, a área educacional e a área do esporte “classista”15.
A relação do esporte com a educação formal ficou estabelecida através da
criação, em novembro de 1956, da Divisão de Educação Física (DEF), vinculada ao
Ministério da Educação, segundo Decreto n° 40.296. Dentro da DEF existiam quatro
órgãos, dentre eles a Seção de Desportos e Recreação (SDR). Isso mostra tanto a
importância institucional do esporte educacional para o governo, quanto um
estreitamento de relação entre a educação física e o esporte.
Essa relação fica mais evidente ainda com o decreto 53.741 de 18 de março de
1964, que dispunha sobre a execução do Plano Diretor de Educação Física. Ainda
que a responsabilidade de execução desse plano fosse da DEF, o CND ficara
responsável de colaborar com a Campanha Nacional de Educação Física (instituída
pelo Decreto N° 43.177 de 1958).
Além disso, há a intervenção do Estado junto aos trabalhadores e trabalhadoras,
principalmente, segundo Veronez (op. cit.), por meio do Serviço de Recreação

14
O investimento anual em Federações e Confederações – entidades do esporte de alto rendimento –

passa de Cr$ 500.000,00 no ano de 1945 para R$ 1.500.000,00 em 1952 e R$ 6.000.000,00 nos anos

de 1957 e 1959. (Decretos n° 19.928/45, 31.882/52, 41.577/57 e 45.344/59)


15
Definido pelo Estado como esporte praticado por trabalhadores ligados à entidades de classe, no

período, atrelados diretamente ao Estado.

16
Operária (SRO)16, ainda que esse tenha sido criado em 194317, portanto, no período
do Estado Novo. Segundo o Manual de recreação operária: orientação dos lazeres
do trabalhador, deveriam ser oferecidas atividades não só esportivas, mas também
de leitura, cursos, música, teatro, cinema, rádio, televisão e ginástica, para que
fossem atingidos os três grandes objetivos da recreação do trabalhador18 – melhoria
do nível educacional, maior integração social e restauração do equilíbrio biológico
entre o espírito e o corpo (Sussekind; Marinho; Góes, 1952 apud Veronez op. cit
p.217).
Sobre a oferta de esporte para a classe trabalhadora, Veronez (Op. Cit. p.221)
afirma que:
“A ação do Estado no setor esportivo em direção às classes
trabalhadoras também não foi para assegurar-lhes o acesso universal a
mais um direito social, mas sim para integrá-las na dinâmica do trabalho
capitalista, isto é, para educá-las, adaptá-las e domesticá-las buscando
sua aceitação às condições das relações sociais de produção e divisão
social do trabalho de uma emergente, mas intensa industrialização.”

Ainda sobre esse tema, Castellani Filho (1988, p.95) afirma que “[a oferta de
esporte para a classe trabalhadora serve] para descaracterizá-la enquanto classe
social, diluindo os antagonismos de classe presentes na relação capital-trabalho”.

3.2.3 A Ditadura Militar

Após o período da “democracia-populista”, entre 1945 e 1964, entramos agora


no período da Ditadura Militar no Brasil.

16
Depois denominada de Serviço de Recreação e Assistência Cultural – Serac – do Ministério do

Trabalho, Indústria e Comércio (MTIC).


17
Através da portaria N° 68 de 6 de setembro do ano citado (Loyola, 1944, p.9 apud Lenharo, 1996,

apud Veronez, op. cit. p.216)


18
“A utilização adequada das horas de lazer, compreendendo-se por lazer o período entre dias

jornadas consecutivas de trabalho[...] (Arnaldo Sussekind, 1948, p. 11 apud Veronez, op. cit. p.217)

17
A ditadura é instaurada após o golpe militar, em março de 1964, que depôs o
Presidente João Goulart. Existem várias opiniões sobre o motivo principal do golpe
militar19, mas tomaremos aqui que foram dois os motivos principais para o golpe:
econômico e político, ainda que a íntima relação entre ambos não nos permita
separá-los.
Colocaremos então a situação política e após isso, a motivação econômica, que
deve ser entendida afetando esse quadro político e sendo afetada por ele.
A motivação política parece ser o medo da tomada do poder pela esquerda ou
pelos nacionalistas que defendiam a autonomia do Brasil a fatores externos, como
afirmado por Veronez (op. cit.). Esse temor é explicitado no Ato Institucional N° 1,
publicado logo após o golpe, em nove de abril de 1964, pelo Supremo Comando
Revolucionário:
“Os processos constitucionais não funcionaram para destituir o governo,
que deliberadamente se dispunha a bolchevizar o País. [...] Para
demonstrar que não pretendemos radicalizar o processo revolucionário,
decidimos manter a Constituição de 1946, limitando-nos a modificá-la,
apenas, na parte relativa aos poderes do Presidente da República, a fim
de que este possa cumprir a missão de restaurar no Brasil a ordem
econômica e financeira e tomar as urgentes medidas destinadas a
drenar o bolsão comunista, cuja purulência já se havia infiltrado não só
na cúpula do governo como nas suas dependências administrativas”
(BRASIL, 1964)

Politicamente, o período foi marcado pelo autoritarismo, cassação de direitos


políticos individuais e proibição da organização popular. Os documentos que melhor
refletem essa afirmação são os próprios Atos Institucionais (AI), principalmente o AI
n° 2 e o AI n° 5.
O AI n°2 tem como características o aumento dos poderes do presidente, que
será fundamental para a manutenção da ordem política estabelecida com o golpe, o
fim das eleições diretas para presidente e a prorrogação das cassações de mandatos
e suspensões de direitos políticos até o dia 15 de março de 1967 (não por acaso, um

19
Sobre esse assunto, ver O Governo João Goulart, de Luiz Roberto Moniz Bandeira, 2001. Ver

também O Colapso do Populismo No Brasil, de Octavio Ianni, 1994 e História do Brasil Recente: 1964-

1980 de Sonia Regina de Mendonça e Virginia Maria Fontes, 1988.

18
dia após o fim do mandato do Presidente General Castelo Branco e após as eleições
presidenciais de então). Também fica estipulado o bipartidarismo e a possibilidade de
julgamento de civis pela justiça militar, como se pode observar no texto do Ato: “Esse
foro especial poderá estender-se aos civis, nos casos expressos em lei para
repressão de crimes contra a segurança nacional ou as instituições militares".
Já o AI nº5 dá poderes quase que irrestritos ao Presidente, que pode cassar
mandatos, direitos políticos, colocar o Congresso Nacional em recesso por tempo
indeterminado, determinar interventores para os estados e municípios, entre outros
poderes. Isso, segundo Veronez (op. cit. p.224-225), se dá porque faltava, na
verdade, apoio político aos militares, não restando alternativa se não a utilização do
aparato militar para manter a legitimidade ao governo. Quanto a isso, Veronez afirma
que: “Todos os governos militares diziam agir e falar em nome da democracia [...] por
ela e em nome dela, cassaram-se direitos políticos, fechou-se o Congresso Nacional
[...], foram exilados e torturados aqueles que se rebelaram e reprimiram-se
movimentos da sociedade civil” (Ibidem, p. 224).
Como política externa, o governo militar se alia aos países de democracia
burguesa, de livre comércio, ou seja, aos países capitalistas e desenvolvidos, se
opondo aos países comunistas, quase que obviamente.
Fica bem clara então a motivação política do golpe de 1964, mas é importante
entendermos como a motivação econômica e a relação íntima entre as duas, para
que fique clara a conjuntura deste período ditatorial, para então entender qual foi a
política de esporte nos anos que se seguiram ao golpe.
Naquele momento, era claro que o modelo Getulista havia se esgotado. Na
verdade, desde Juscelino Kubitschek (JK), em 1955, que isso já é percebido e a
reintegração do Brasil à economia internacional vem se dando. Mas com os militares,
isso se dá de forma mais forte, eliminando os entraves à entrada de capital
internacional.
Nesse período de abertura do mercado, a burguesia disputa para saber qual
fração do capital seria hegemônica no processo de acumulação.
Além disso, o golpe militar mostra claramente qual a classe que seria defendida
ao longo de toda a ditadura. Segundo Veronez (ibidem, p.232), citando Mendonça e
Fontes, o golpe representa a destruição das mais importantes conquistas da classe
19
trabalhadora. Como exemplo disso estão o fim do direito à greve, das associações
camponesas e da estabilidade do emprego (através da criação do FGTS). Também,
a perseguição política aos sindicatos e sindicalistas e as outras formas de repressão.
Isso ajuda a mostrar o caráter burguês do golpe militar.
Todos os documentos oficiais e planos de desenvolvimento20 afirmam a intenção
de desenvolver a economia do país, procurando ingressar no que seria chamado de
mundo desenvolvido, através de medidas como: crescimento acelerado da renda,
desenvolvimento industrial, controle da inflação, renegociação da dívida externa e
interna, entre outras.
Ainda que tais documentos também afirmassem uma preocupação com o bem
estar dos trabalhadores, diminuição do desemprego e melhores condições de vida a
toda sociedade, esses últimos objetivos estiveram longe de serem alcançados.
Essa política econômica que procura desenvolver o capitalismo no Brasil acabou
utilizando constantemente uma política de arrocho salarial, que pode ser observada
por um aumento substancial da concentração de renda no país. Na década de 1960,
“os 20% mais ricos se apropriavam de 54% da renda nacional e passaram a 62% em
1970 e 67% em 1976. Já os 50% mais pobres diminuíram sua participação de 17,7%
em 1960 para 11,8% em 1976”. (Guimarães, 1981, apud Mendonça e Fontes, 1988
apud Veronez, ibidem, p. 232)
Essa característica, de piorar a situação social dos trabalhadores do Brasil,
associada ao problema de representatividade do governo, derrotado em diversas
eleições, se mantendo através de ações autoritárias e mesmo problemas internos às
Forças Armadas, começa a gerar uma crise de hegemonia do governo. Somado a
isso, o capitalismo mundial passa por uma crise do petróleo, em 1973. 21

20
Estes são uma marca clara da burocracia militar no Brasil neste período. São criados diversos

planos de desenvolvimento econômico, com variações de nome. Essa política se estende também

para outras áreas qual o esporte, como será abordado mais para frente.
21
Sobre esse assunto, ver CODATO, Adriano Nervo. Uma História Política da Transição Brasileira da

Ditadura Militar à Democracia. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, n. 25, p.165-188, nov. 2005. e

20
A esses problemas se soma uma oposição crescente, visível através de
movimentos sociais populares, como as Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s),
movimentos urbanos (como o movimento dos favelados) e rurais, que “embora sem
conotação partidária, [...] representavam despertar da consciência dos direitos e
serviram para o treinamento de lideranças políticas” (Carvalho, 2004 p. 184-185 apud
Veronez, ibidem, p. 233)
Esse processo de piora da qualidade de vida dos trabalhadores, em relação com
a sua organização e com o desgaste ideológico do governo leva ao começo da
abertura do regime, de forma “lenta, segura e gradual”22.(Codato, 2005, p. 175).
O governo militar é marcado, no seu fim, por uma das maiores mobilizações da
sociedade civil organizada no Brasil, que foram as “Diretas Já!”, pela aprovação no
Congresso Nacional, das eleições diretas para presidente. Ainda que tenham sido
mobilizadas milhões de pessoas23, a emenda não foi aprovada, por faltarem 22
votos.
Entretanto, na eleição realizada no Colégio Eleitoral, o candidato da oposição
Tancredo Neves, ganhou de Paulo Maluf, candidato da situação, após intensa
mobilização popular em favor de Tancredo. Fato interessante é que a maioria do
Colégio Eleitoral era, supostamente, governista, e a vitória foi por expressivos 300
votos de diferença de um total de 660 votantes (480 votos para Tancredo contra 180
para Paulo Maluf).
Uma característica marcante da ditadura militar foi a busca por legitimação o
tempo todo, já que era um governo de uma minoria. Foi assim não só com o esporte,
mas com o MOBRAL, a Transamazônica, o Milagre Econômico, e outras tantas

BELLUZZO, L. e COUTINHO, R. Desenvolvimento capitalista no Brasil  Ensaios sobre a crise. São

Paulo, Brasiliense, 1982.


22
Essa transição ainda passaria por fechamentos do Congresso Nacional, e por conflitos com a

sociedade, mobilizada em greves, atos públicos, etc.


23
Tem-se relatos de 500 mil pessoas em comícios no Rio de Janeiro e mais de 1 milhão em comícios

em São Paulo.

21
políticas do governo. Tinha a intenção de divulgar também o conteúdo ideológico
defendido pelo governo, como a “integração nacional”, citada por Linhales (op. cit.).

ESTADO E ESPORTE

Nesse período, a relação do Estado com o esporte é marcada por um alto grau
de aparelhamento e de utilização ideológica para a legitimação do governo,
principalmente porque o esporte já estava bastante massificado, em especial o
futebol. (Linhales, 1996)
Pode ser também que isso se dê exatamente pelas características do esporte
moderno no Brasil naquele período, como espetacularização, vitórias a todo custo,
nacionalismo, entre outras. Ainda assim, é importante aqui fazer a ressalva que
Linhales (ibidem p.166) faz, de que “o esporte não é, em si, um elemento de
anulação de consciência”, para que não passemos a uma simples negação do
esporte, ao invés da tentativa de realizar uma critica e uma síntese em relação a
este.
Na ditadura militar, uma das primeiras atitudes do Estado em relação ao esporte
está na Reforma Universitária de 1968 (Lei n° 5.540/68), quando sugere que as
instituições de Ensino Superior estimulem a prática de atividades esportivas. A
sugestão é transformada em lei no ano seguinte, através do Decreto-Lei n° 705 de
25 de Julho, com o seguinte texto: “Será obrigatória a prática da educação física em
todos os níveis e ramos de escolarização, com predominância esportiva no ensino
superior” (Brasil, 1969)24.
Essa política tem clara intenção de combater o movimento estudantil, que se
mostrou como um dos setores de maior oposição e mais forte resistência ao governo
militar durante toda a ditadura, seguindo a Doutrina de Segurança Nacional. Em

24
Nota-se aí uma política de continuidade com a política Varguista e a política “Democrático-

Populista”.

22
nome desta se combatiam quaisquer organizações que estivessem suscetíveis ao
comunismo. E o esporte universitário foi uma das formas utilizadas nesse combate.
Se isso deu certo ou não, existem controvérsias. Linhales (op. cit. p.169) afirma
que “os estudantes não fizeram a troca pretendida”, ainda que o próprio movimento
estudantil tenha uma opinião contrária, como se pode ver no texto de Vaz, contido no
Caderno de Debates da Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física,
Nesse texto, Vaz afirma que
“já se sabe com qual intuito foram criadas as Associações Atléticas
Acadêmicas dentro das Universidades, que era o de aglutinar os
estudantes em torno de atividades não politizadas, na medida em que
suas entidades representativas (UNE, DCE´s, etc.) sofrem rigorosas
perseguições, sendo inclusive, muitas delas, impedidas de funcionar”
(1996, p.3)

Castellani Filho, ainda afirma que “[era uma forma de] colaborar, através do seu
caráter lúdico-esportivo, com o esvaziamento de qualquer tentativa de rearticulação
política do movimento estudantil” (1988, p.121)
Além da política de esporte nas universidades, ainda em 1969 o governo institui
a Loteria Esportiva Federal, que faz parte de medidas para captar recursos para o
setor esportivo, o que permitira ações com planejamento em longo prazo. Do total
arrecadado com a Loteria Esportiva, no mínimo 30% deveria ser aplicado em
programas de educação física e atividades esportivas.
A característica tecnocrata do governo militar não deixa de se aplicar ao esporte.
Em maio de 1969, foi iniciado, a partir de um convenio do Ministério do Planejamento
com a Divisão de Educação Física (DEF), um “Diagnóstico da Educação Física e dos
Desportos no Brasil” (Linhales, op. cit. p.170), que foi publicado apenas em 1971.
Segundo Linhales (idem), o diagnóstico deveria servir para “dar respaldo e
legitimidade técnica ao projeto político que se tinha para o setor”. A mesma autora
afirma também que, ainda que o diagnóstico só tenha sido publicado em 1971,
algumas mudanças aconteciam no setor antes mesmo de sua conclusão, como a
Loteria Esportiva.
Outra ação antes da publicação do Diagnóstico foi a criação do Departamento de
Educação Física e Desportos – DED – no Ministério da Educação. Segundo Mauro
Betti (1991, p. 108 apud Veronez, op. cit. p.237), “a criação do DED/MEC

23
representou o início da formação da tecnoburocracia e do planejamento
governamental na área da educação física/esporte, medida que já havia sido tomada
em outras áreas, como uma das características do regime militar [...]”.
É a criação do DED que mostra uma reaproximação de educação física e
esporte, separados pelo governo em 1930, com o DEF e o CND. Segundo Linhales
(op. cit. p.170-171) “essa unificação possuía dois sentidos básicos. Primeiro, para
conter a autonomia que começava a ganhar força no sistema esportivo [...]. O
segundo, refere-se a [implementar] o projeto de subordinação da educação física
escolar ao sistema esportivo”. Apenas colocando novamente que, agora, a educação
física era obrigatória em todos os níveis de educação no país.
Ainda em 1969, ou seja, antes do diagnóstico ser publicado, o governo, seguindo
sua característica “tecnoburocrata”, instituiu um grupo de trabalho para elaborar o
Plano Nacional de Esportes, Educação Física e Recreação, com o intuito de
“promover [...] o planejamento para a aplicação [...] dos recursos a serem recebidos
do concurso de previsões esportivas” (Brasil, 1969c). Mas o mais questionável desse
grupo de trabalho não é a sua função, mas a sua composição: representantes da
Confederação Brasileira de Desportos (CBD), do Conselho Nacional de Desportos
(CND), do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), da Confederação Brasileira de
Desportos Universitários (CBDU) e outras entidades vinculadas à área, até o número
de nove membros. Nota-se aqui a prevalência quase que exclusiva de entidades
ligadas ao esporte de alto rendimento, que já denuncia uma característica do regime
militar.
Após o diagnóstico, organizou-se o Plano de Educação Física e Desporto (PED),
em 1971, que explicita bem a função do esporte, que deveria promover “a ordem
interna a fim de que se livre o País das comoções intestinas ou das rebeldias e
sedições que sejam prejudiciais ao desenvolvimento e à integridade dos poderes
constituídos.” (Brasil, 1971c apud Linhales, Ibidem, p. 172).
Depois do PED, temos em 1975 a elaboração do Plano Nacional de Educação
Física e Desportos (PNED, 1975-1979) e uma mudança legal considerável, com a
reformulação da Lei n° 3.199/1941, revogada pela Lei n° 6.251/1975 (que depois
será regulamentada pelo Decreto n° 80.228/1977).

24
Segundo essa lei, o Sistema Esportivo Nacional tem quatro formas de
organização dos desportos: I – comunitária, que é aquela que abrange as
associações, ligas, federações e o COB; II – estudantil, subdividida em universitário –
sob supervisão da Confederação Brasileira de Desportos Universitários – e escolar,
sob supervisão de órgão competente do MEC; III – militar; IV – classista, direcionado
aos trabalhadores através de associações criadas nas empresas e organizado pelo
MEC.
Ainda que isso possa ser considerado certo avanço (Veronez, op. cit), as
mudanças formais refletem poucas mudanças de conteúdo. Ainda assim, algumas
mudanças e mesmo alguns continuísmos devem ser comentados.
Um marco no continuísmo é a manutenção do CND, e com as mesma funções.
Tanto essa manutenção do CND quanto a divisão do Sistema Esportivo Nacional,
refletem a priorização e a referência no esporte seletivo, de alto rendimento. Como
diria Veronez, “a proposta não era oferecer acesso às atividades esportivas de
acordo com os interesses da população, mas impor uma prática esportiva cujo
modelo era oferecido naquele momento pelo esporte de alto nível”. (Ibidem, p. 243).
Isso pode ser verificado por um trecho da própria lei:

Entende-se a Educação Física escolar como a causa e o desporto de


alto nível como efeito, tendo o desporto de massa como intermediário.
[...] Em termos de administração, é evidente que a maior parte dos
investimentos deve ser orientada para a educação escolar (Brasil,
1975).25

Outro fator interessante é o esporte classista, que incentiva a criação de


associações esportivas nas empresas. É interessante salientar que normalmente
essas associações não partiam da organização da classe trabalhadora, mas da
classe patronal. Segundo Veronez (Ibidem, p. 244), elas eram criadas e realizavam
suas atividades “visando explicitamente desmobilizar o movimento sindical”.
Uma alteração na legislação é a garantia da participação do setor privado nas
políticas de esporte, através do modelo de gestão que foi chamado de “sistema

25
Mais tarde explicitaremos a diferença entre o afirmado aqui e o realmente efetuado.

25
misto”, que seria algo entre o autoritarismo absoluto (mais próximo do sistema
anterior) e o liberalismo absoluto. Esse seria um sistema que “procura compatibilizar
as ações do governo e da iniciativa privada” (Brasil, 1976b p. 32 apud Veronez,
idem). Veronez (Ibidem, p.245), inclusive, afirma que “a proposta de ação
governamental estava assentada em princípios liberais”.
Outra aparente mudança, que vai demonstrar a importância que o esporte ainda
tem como instrumento ideológico, é o fato de o esporte ser um dos setores
prioritários no II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND). Isso mostra que a
política de esporte está em consonância com a política social do governo como um
todo. E, segundo Jacobi (1993 apud Veronez, Ibidem, p. 246) a função essencial das
políticas sociais era a de “amortecedora de tensões, o que se torna evidente na
comparação entre gastos relativos às necessidades de reprodução do capital e os
destinados à reprodução da força de trabalho”26.
Uma mudança relevante foi a aprovação do voto unitário nas confederações,
federações e ligas esportivas (entidades de direção dos desportos). A partir de 1975,
a eleição dos dirigentes das entidades de direção dos desportos não se daria mais
apenas pelo voto de alguns das entidades filiadas (em geral as maiores) e sim por
voto de todas as entidades filiadas, o que significou um grande golpe ao poder
oligárquico dos grandes clubes nessas entidades. Em compensação, isso abre uma
brecha para que o governo consiga eleger seus representantes diretos nessas
entidades dirigentes, através de troca de interesses com os clubes menores, como
critica Linhales (op. cit.), e assim eliminar qualquer possível resistência à sua política.
No PNED 1975-1979, uma das políticas esportivas que merece destaque é a
política para o esporte de massa, aplicada principalmente através do programa
Esporte Para Todos (EPT). Esse programa foi inicialmente implantado em 1977
através de um acordo entre o DED/MEC e o Movimento Brasileiro de Alfabetização
(Mobral), como citam tanto Linhales (ibidem) como Veronez (op. cit.).

26
É importante lembrar que em 1973 há a crise do petróleo e as tensões aumentam bastantes nesse

período.

26
E o EPT, que teve origem na Noruega, se encaixa exatamente na descrição do
governo para o esporte de massa, que foi “caracterizado como um movimento de
participação popular espontânea [...] [que] justifica a adoção de uma estratégia de
rápida implementação e de baixo custo” (Brasil, 1976b, p.67 apud Veronez, ibidem,
p.248). Essa visão parece estar completamente em acordo com o programa em que
se baseia o EPT, que “através da utilização do material de marketing procurava
estimular os sedentários à prática da atividade física” (Cavalcanti, 1984 p. 15 apud
Linhales, op. cit. p.190).
Nesse período, o EPT foi utilizado também com o intuito alinhar ainda mais a
política de esporte com o II Plano Nacional de Desenvolvimento. Contando em
alguns momentos com até 10 milhões de pessoas participando, ele conseguiu
contribuir com “a estabilidade política, para realizar o desenvolvimento sob o regime
democrático” (Brasil, 1974 apud Veronez, op. cit. p.249), também colaborando para
“a efetivação de medidas redistribuitvas” (Brasil, 1974 apud Veronez, idem).
Além do afinamento com o II PND, o EPT vai ao encontro do principal objetivo do
PNED, que é melhorar a aptidão física da população, que se dá em conjunto com o II
PND, que espera oferecer “estímulos para o trabalho e para o aumento de eficiência
do trabalhador” (Brasil, 1974 apud Veronez, idem).
É relevante citar no que se refere ao baixo custo do programa, a ênfase no
trabalho voluntário, que é uma forma contemporânea de exploração de mão de obra
não assalariada.
Ainda assim, com claro caráter ideológico, com pretensão de ajudar a estabilizar
tensões sociais presentes naquele período, o EPT acaba sendo também um espaço
de contestação.
Como afirma Linhales (op. cit.), o EPT se mostra como um espaço de
contestação do esporte de rendimento. Ainda que ele esteja dentro dos moldes onde
o esporte de rendimento é o fim, o de massa o meio e o esporte escolar a base da
pirâmide27, segundo Linhales (Ibidem p.192-193), “muitos [...] ´comprovaram` a idéia

27
O modelo da pirâmide esportiva é adotado pelo governo em 1971, no Diagnóstico de Educação

Físisca/Desporto no Brasil. (Veronez, Ibidem)

27
do EPT na perspectiva de transformá-la em um exercício de autonomia e criatividade
em contraposição ao que era restrito e autoritariamente imposto no setor esportivo”.
E além da contestação ao modelo baseado no esporte de rendimento, o EPT
acaba, segundo Veronez (op. cit.), contestando inclusive aos próprios princípios por
ele divulgado, sendo considerado um aparelho ideológico do Estado para manipular
consciências, também com o objetivo de “convencer os segmentos menos
favorecidos [...] de que o desenvolvimento econômico propalado na fase do ‘milagre’
tinha o seu correspondente no campo social” (Castellani Filho, op. cit. p.116).
Nesse período, também o Ministério da Educação passou por uma
reestruturação, em 1978, através do Decreto n° 81.454. Esse decreto criava a
Secretaria de Educação Física e Desportos (Seed), que viria a ocupar o lugar do
Departamento de Educação Física e Desportos (DED), mudança esta proposta pelo
próprio PNED 1975-1979 (Veronez, op. cit.). Ainda assim, essa mudança é muito
mais formal do que de conteúdo.
Ainda nessa época, é importante destacar a contradição entre o que é afirmado
pelo governo nos seus documentos, a prioridade para o esporte nas escolas, e seus
investimentos reais, que priorizam o esporte de desempenho, e deixam o esporte nas
escolas apenas como terceiro lugar, como pode ser visto no quadro abaixo.

Quadro 1. Recursos previstos no Plano Nacional de Educação Física e Desportos 1975 -

1979

Cr$ 1.000,00
Subprogramas 1976 1977 1978 1979 Total/ação
1. Educação Física e desporto estudantil
1.1 Expansão da educação física no ensino de 1°
e 2° graus 73.997 81.120 88.982 98.162 342.261
1.2 Expansão da educação física e desportos no
ensino superior 11.393 12.517 13.815 15.290 53.015
Total (1) 395.276
2. Desporto de massa
2.1 Ativação das áreas recreativas e núcleos
desportivos 101.600 56.120 63.260 70.400 291.380
2.2 Ativação do desporto de massa nos centros
sociais urbanos 219.000 24.000 28.000 34.000 305.000
2.3 Aproveitamento da infraestrutura existente 19.160 21.720 38.480 59.040 138.400
Total (2) 734.780

28
3. Desporto de alto nível
3.1 Aquisição de equipamentos e material
desportivo 3.600 3.962 4.331 4.760 16.653
3.2 Competições desportivas 59.360 65.430 71.975 79.006 275.771
3.3 Centro técnico 5.000 5.500 6.050 6.665 23.205
3.4 Reestruturação técnica e administrativa das
entidades do desporto nacional 1.800 1.980 2.178 2.396 8.354
3.5 Criação de novas confederações 900 990 1.089 1.199 4.178
3.6 Manutenção das confederações e Comitê
Olímpico Brasileiro 4.500 4.990 5.445 5.989 20.884
3.7 Apoio Às associações desportivas 7.200 7.920 8.712 9.583 33.415
3.8 Apoio às federações chave de cada desporto
olímpico 2.700 2.970 3.267 3.594 12.531
3.9 Apoio às organizações desportivas das áreas
estudantil, militar e classista, voltadas para o
desporto de alto nível 1.800 1.980 2.178 2.396 8.354
Total (4) 403.325
4. Apoio
4.1 Capacitação de recursos humanos 27.868 21.770 23.945 26.259 99.842
4.2 Implantação do Sistema de Comunicação
Social de Educação Física e Desportos (Difusão) 4.560 5.040 5.520 6.600 21.720
4.3 Assistência a entidades amadoristas (CBDU) 160 200 260 340 960
4.4 Projetos especiais 2.955 3.251 3.576 3.934 13.716
4.5 Administração 24.683 27.312 30.937 35.405 118.337
4.6 Pesquisas científicas e tecnológicas 6.080 6.730 7.400 8.140 28.350
Total (4) 282.925
Total geral (1 + 2 + 3 + 4) 1.816.306
Fonte: Veronez (2005)

Como podemos observar no quadro acima, os gastos do Governo são muitos


maiores com o desporto de massas. E o desporto escolar, que seria a prioridade do
governo segundo seus próprios documentos, tem seus gastos menores do que o
desporto de alto nível também, ficando em terceiro lugar, mostrando a enorme
disparidade entre o anunciado pelo governo e sua prática real.
No ano de 1980, são divulgadas as Diretrizes gerais para a educação física e
desportos – 1980/1985 (Brasil, 1980 apud Veronez, ibidem), propostas pela
Seed/MEC. Pode-se dizer que essas diretrizes acabam sendo um continuísmo do
que já vinha sendo publicado pelo governo, com algumas mudanças.
Uma primeira marca importante, mantida desde então, é a divisão do esporte em
três áreas, como vemos nos objetivos deste documento:

29
- promover e aperfeiçoar programas de conscientização de toda a
população para a importância da prática regular das atividades físicas,
sua necessidade e seus valores, com ênfase sobre as populações
carentes das zonas urbana e rural;
- desenvolver ações que visem a incorporar efetivamente o hábito da
prática regular da Educação Física na escola, com prioridade para a
faixa de educação pré-escolar e as quatro primeiras séries do 1° grau;
- desenvolver programas de desporto que visem à melhoria das elites
nacional, estadual e municipal. (Brasil, 1980a p. 24 apud Veronez,
ibidem, p.250)28.

Podemos perceber claramente que o primeiro objetivo refere-se ao Esporte Para


Todos, o segundo para a educação física e o esporte escolar e o terceiro para o
esporte de alto rendimento. A principal diferença nesse caso é a ênfase dada à
educação de crianças de 4 a 10 anos, que é confirmada pela publicação da
Seed/MEC intitulada Diretrizes de implantação da educação física na educação pré-
escolar e no ensino de primeira a quarta séries do primeiro grau (Brasil, 1982c apud
Veronez, idem). Veronez ainda salienta que essas diretrizes seguem uma teoria
estadunidense de aprendizagem motora para crianças de 4 a 10 anos. Interessante
que o documento cita o desenvolvimento infantil, sem reportar-se aos condicionantes
sociais do crescimento e desenvolvimento humano. Isso deixa óbvia uma visão
biologicista, descontextualizada da realidade social brasileira.
Nas escolas, a transposição direta da estrutura do esporte de alto rendimento
(esporte comunitário) para o esporte escolar foi absoluta. Segundo a Portaria n° 001,
de sete de Abril de 1982, a Seed/MEC institui os clubes escolares. Dentro desses
clubes, os estudantes praticantes de esporte eram os atletas escolares e os
professores de educação física os técnicos esportivos escolares.
Percebem-se então grandes diferenças entre a retórica do governo, de priorizar o
esporte escolar e mudar a concepção da pirâmide esportiva, e a sua prática, onde
todo o esporte na escola e a sua estrutura continuam sob a lógica do esporte de
rendimento, que permeia todas as ações do governo. Como disse Linhales

Embora a prioridade de atendimento às crianças e aos jovens em idade


escolar tenha sido considerada como forma de ampliação da
participação e valorização do esporte escolar ‘em si’, e não como

28
Grifos nossos.

30
patamar da pirâmide esportiva, o que se observa é a mera transposição
e legalização dos princípios hierárquicos, seletivos e excludentes do
esporte de alto rendimento para essa clientela agora priorizada. (op. cit.
p.198)

Veronez (op. cit.), se referindo à Portaria n° 001, de sete de abril de 1982, da


Seed/MEC, comenta da “perversidade dessa proposta” quando simplesmente opõe
dentro das escolas os estudantes pela busca do melhor desempenho, e entre as
escolas, apenas ressalta as diferenças entre as melhores e piores escolas,
inferiorizando assim tanto os piores estudantes quanto as piores escolas. O mesmo
autor afirma também que é interessante notar como essas piores escolas se
localizam exatamente nas periferias, com alunos oriundos de classes populares,
geralmente por falta de estrutura para a prática esportiva.
Podemos observar, com essa situação, a construção, pelo Estado, de
mecanismos para a reprodução da ordem social, a minimização de conflitos, nesse
caso, o mecanismo do esporte inserido na escola. Temos a utilização deste último
como instrumento de manutenção da hegemonia da ideologia dominante naquele
momento.
Ainda assim, é verdade que as Diretrizes gerais... começam a questionar a tal
pirâmide esportiva, como podemos ver no seguinte trecho:

Urge mudar radicalmente tal concepção, pois o objetivo do setor é muito


mais amplo. Ninguém duvida de que a elite surge da massa, mas
convém afirmar categórica e fortemente, que os simples praticantes, isto
é, aqueles que não pertencem à elite são um fim em si e não apenas um
meio para criar campeões. (Brasil, 1981 apud Linhales, op. cit. p.196).

Apesar deste questionamento, vemos a manutenção prática da pirâmide e do


esporte como era antes. Isso se dá por alguns mecanismos, como a não alteração da
Lei n° 6.125 de 1975 ou do Decreto 80.228 de 1977. Dá-se também pela
manutenção do CND, praticamente sem alterações na sua estrutura e sob o
comando do governo militar.
Nessa área do esporte de rendimento, e também do esporte classista, uma
alteração significativa é a abertura para os investimentos de empresas privadas,
especialmente nas modalidades vôlei e futebol. Nesse período, muitos times eram
muito mais conhecidos pelo nome da empresa que o financiava, ou mesmo, a

31
empresa tinha uma equipe e, segundo a Lei n° 6.251/1975, mesmo sendo
consideradas inseridas na categoria de desporto classista, poderiam participar do
desporto comunitário (alto rendimento). Então, como afirma Linhales
o esporte de alto rendimento que até então se encontrava controlado
apenas pela estrutura de poder do sistema esportivo formal, passa,
agora, a incorporar a iniciativa privada e os seus interesses econômicos.
Essas novas possibilidades apresentaram-se como indicativos de que a
legislação esportiva vigente, com seu caráter tutelar e hierárquico, a
curto prazo se evidenciaria como empecilho capaz de coibir um
determinado desenvolvimento esportivo que começava a se legitimar
pela lógica do mercado. (ibidem, p.200)

Vemos ai então que o esporte não só serve ao capital pela reprodução de


valores, como é citado no documento de 1980, como também passa a servir como
um novo mercado, para a produção de mais mercadorias, e obtenção de mais-valia.
E essa mercantilização, como enfatiza Linhales (Ibidem, p. 201), “sofreu forte
influência do mercado esportivo internacional”.
Outro fato que merece destaque, ainda que seja uma mudança muito mais
formal do que de conteúdo, é o desmembramento da Confederação Brasileira de
Desportos, a CBD, em cerca de 30 confederações esportivas. Segundo Proni (1998
apud Veronez, op. cit. p.252.), embora esse fato tenha representado uma
modernização institucional, a tradição de cooptação política presente no antigo
sistema federativo permaneceu ou foi “maquiada”.
Podemos ver então que, na prática, a política esportiva do governo federal ainda
priorizava o esporte de rendimento, subordinando todas as outras manifestações
esportivas a tal lógica.
Baseado nas Diretrizes Gerais..., foi criado o Plano Nacional de Educação Física
e Desportos (PNED) 1980-1985. Não existem muitas mudanças nesse novo PNED,
mas dois pontos são interessantes de ressaltar. Um é o aumento da importância do
esporte de massas no país, que é caracterizado pela criação de uma subsecretaria
para o mesmo, a Subsecretaria do Esporte Para Todos (Suept), dentro da
Seed/MEC. Além disso, o discurso ainda priorizava bastante o esporte escolar.

32
Ainda assim, em contraposição a isso, o governo continua tendo seus gastos
mais altos com o esporte comunitário (de alto rendimento)29, o que mostra como a
lógica do rendimento ainda é a lógica predominante nas políticas públicas de esporte
no Brasil naquele período. Isso pode ser melhor verificado com o quadro abaixo.

Quadro 2: Recursos da Seed/MEC por área em CZ$ 1.000,00 – Período de 1983-1985

Ano
Área
1983 1984 1985 Total/Ação
Educação Física 522 1.948 5.895 8.365
Esporte Para Todos 886 1.348 4.198 6.432
Desporto Estudantil 885 1.245 4.358 6.488
Desporto Comunitário 1.842 2.928 19.780 24.550
Construção e outros projetos especiais 1.239 2.588 4.628 8.455
Desporto profissional 168 307 1.400 1.875
Administração da Seed 239 698 2.821 3.758
Pró-ativa 0 0 0 0
Total 5.781 11.062 43.076 59.919
Fonte: Caran (1989, apud Veronez, ibidem, p.254)

Esse quadro nos permite perceber duas tendências. Primeiramente, o aumento


do gasto total com o esporte e a educação física é gritante, sendo um aumento de
quase 300% de 1984 para 1985. E uma concentração maior dos gastos no esporte
de alto rendimento, que em 1985 chega a quase 50% do orçamento total do ano.
A partir de 1985, terá início no Brasil a “Nova República”, com a
redemocratização. Essa mudança na sociedade como um todo terá conseqüências
profundas no esporte brasileiro.

3.2.4 O Esporte e a Redemocratização – período entre 1985 e 1988

29
Um dos motivos possíveis para tal prioridade foi o fato de que o esporte de alto rendimento foi, à

época, uma forte propaganda do Brasil para o mundo, como nação em pleno desenvolvimento, o que,

teoricamente, se refletia no esporte.

33
Antes de apresentarmos o esporte na Constituição Federal de 1988, nos
deteremos um pouco do período de transição entre o marco do fim da ditadura – a
eleição de Tancredo Neves – e a promulgação da constituição, em 1988.
O período de 1985 a 1988 pode ser bem caracterizado pela “transição segura,
lenta e gradual”. Isso ocorre para proteger a manutenção de poder pelos detentores
dos meios de produção. Segundo Codato

Esse procedimento deveria ser suficientemente arrastado para que não


pudesse ser interpretado como uma involução da “Revolução”, servindo
de pretexto à contestação aberta da extrema-direita, militar e civil. Ele
deveria ser também gradual, isto é, progressivo e limitado, pois não
poderia abrir caminho a uma ofensiva oposicionista que conduzisse, por
exemplo, à uma ruptura democrática (2005, p.175-176)

Podemos observar então que a redemocratização aconteceria de forma a


procurar garantir que o poder se mantivesse com o mesmo setor hegemônico, mas
dentro dos marcos da democracia de um Estado burguês. Como concluiu o deputado
da Assembléia Nacional Constituinte, Florestan Fernandes, do PT-SP

“Pela primeira vez em nossa História, as classes dominantes são


forçadas a travar a luta de classes dentro do Parlamento. Todavia, usam
a tática de ceder terreno no plano formal e ideológico, mantendo firmes
as rédeas da dominação de classes” (Brasil, 1987, p.1592)

Ainda assim, é importante colocar que nesse período, apesar de os setores


dominantes do esporte ainda terem referencias num “pensamento único”, militar,
hierárquico, voltado para a aptidão física e baseado na lógica do alto rendimento,
tanto a educação física quanto o esporte passavam por uma crise de identidade30
(Veronez, 2005). Ainda segundo o autor, isso ocorre porque este setor coloca em
evidência as funções sociais de suas práticas. E a conseqüência desta crise é o
surgimento de diversas outras concepções, que contrapõem a concepção
hegemônica, e sintetizam mudanças e debates levados até os dias de hoje.

30
Durante a década de 80 [...] a Educação Física brasileira começava a viver sua crise de identidade.

Questionando sua função social e buscando desvencilhar-se dos interesses autoritários, militaristas e

biologicistas que a instrumentalizavam (Linhales, op. cit. p.10)

34
É verdade que, no início, essa crítica, que em sua maioria é baseada no
materialismo histórico dialético, foi marcada por certa negação do esporte da forma
como era praticado. Essa crítica vinha com uma tentativa constante de síntese de
novas teorias sobre o esporte, sua função social a favor da classe hegemônica e
como utiliza-lo em favor da classe explorada. Esses debates também se mostram
completamente atuais.
Além disso, nesse período os trabalhadores e os estudantes da área da
educação física e do esporte começam a se organizar. As Associações de
Professores de Educação Física se organizavam pelo Brasil, publicando documentos
como a Carta de Belo Horizonte31, que denunciava as condições da Educação Física
no Brasil, em 1984 (Veronez, Ibidem).
Já os estudantes voltam a se organizar, realizando o Encontro Nacional de
Estudantes de Educação Física em 1980, na Bahia, com debates sobre a própria
educação física e também sobre política e sociedade (ExNEEF, 2007).
Todos esses acontecimentos acabam por influenciar o Congresso Nacional,
ainda que de formas diferentes. As críticas mais profundas ressoaram de forma mais
leve, enquanto a crítica em favor da democratização ressoou de forma intensa no
Congresso Nacional.
A contradição colocada pelas críticas mais profundas ao esporte e à sua
organização no Brasil da época acabam sendo deixadas de lado, dentro do possível,
em detrimento das críticas superficiais sobre essa organização, que se referenciam
principalmente no liberalismo, ou neoliberalismo, e que vem atacar principalmente a
dita “falta de democracia” na organização do esporte pelo Estado. Dessa forma as
mudanças na relação Estado-Esporte-Sociedade se dão de uma forma muito mais

31
“O conteúdo da Carta de Belo Horizonte retrata bem como os embates entre os defensores da

escola pública e os privatistas se particularizavam no âmbito da educação física. [...] a carta

denunciava a alienação da educação física [...]; sua relação histórica com os interesses e as

ideologias dos grupos dominantes [...] no poder. [...] não se pode negar que a carta continha indícios

da presença do ideário do movimento destinado a privatizar o campo de atuação da educação física, a

formação do professor de educação física [...]” (Faria Junior, 2001, p.26-27)

35
liberal e privatista, no lugar de possíveis mudanças mais críticas e profundas. Isso
acaba fazendo também com que os mesmos grupos se mantenham no poder, ainda
que para isso tenham que fazer algumas concessões.
Como já mencionamos anteriormente, a ditadura tem como marco de seu fim a
eleição de Tancredo Neves. Em compensação, quem assume é José Sarney,
representante das oligarquias nordestinas, e próximo aos governos militares
passados (Veronez, op. cit.).
Esse cenário já nos dá bons elementos para entendermos que o processo de
ruptura com o regime militar não será de uma ruptura tão profunda quanto se
esperava. Na verdade, a ruptura tem o tom de “democratizante”, mas é um processo
de mudanças e reformas com caráter liberal.
É nesse sentido, em um contexto de otimismos, e com a necessidade de conter
a inflação e fazer a economia brasileira voltar a “crescer” que temos no período entre
1986 e 1989, 4 diferentes planos econômicos. Em fevereiro de 1986 é lançado o
Plano Cruzado, que dura apenas 8 meses, sendo substituído ainda em 1986 pelo
Plano Cruzado II. Mais nove meses e este plano seria substituído pelo Plano
Bresser, em Julho de 1987. O Plano Bresser dura praticamente até o fim do período
da Assembléia Constituinte, já que logo após a promulgação da Constituição de
1988, é lançado o Plano Verão, última tentativa do governo Sarney de estabilizar
financeiramente o país. Todos esses planos tinham como principais metas gerar o
desenvolvimento do país em conjunto com o controle da inflação, que naquele
período estava sem controle e gerava instabilidade financeira.
Além dos planos econômicos, temos nesse período também dois planos de
gestão, que são marcados por prioridades como o crescimento econômico, o
combate à pobreza, os direitos básicos como saúde, educação, justiça e segurança
pública. O primeiro plano foi o I Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova
República 1986-1989 (I PND-NR) (Lei 7.486/1986). Esse plano acabou não sendo
implementado, por dificuldades econômicas pelas quais o país passava. Foi então
estabelecido o Plano de Ação Governamental (PAG) (Decreto 94.991/1987), com
metas similares ao I PND-NR. E como o I PND-NR, o PAG foi pouco implementado
devido às instabilidades macroeconômicas.

36
Já para o esporte, é criada ainda em 1985 a Comissão de Reformulação do
Esporte (Decreto 91.452/1985), que tinha uma composição que, segundo Linhales,
embora fossem pessoas reconhecidas no meio esportivo, “não podem ser
necessariamente consideradas como representantes da pluralidade de interesses
que permeava o setor esportivo” (1996 p.209). Na verdade, se observarmos a
composição que contava com membros como o ex-presidente da Federação de
Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP, ex-atletas selecionados sem critério
objetivo nenhum, Carlos Arthur Nuzmam (presidente da CBV entre 1975 e 1997 e
atual presidente do COB desde 1995) e Fernando Sarney Filho (filho do presidente
José Sarney), e muitos outros, podemos perceber o claro caráter de classe, onde
apenas pessoas da classe que detinha o poder foram chamados para compor esta
comissão.
O resultado do trabalho desta comissão reflete os interesses de quem comandou
os trabalhos, e não da sociedade, não representando nenhuma ruptura com o
passado, apenas consensuando antigos e novos interesses, mantendo o poder para
quem o tinha (“oligarquia esportiva”) e indicando as mudanças liberais que
interessavam à burguesia, através das empresas privadas.
É neste momento que temos a divisão atual das manifestações do esporte, entre
esporte educacional, esporte de rendimento e esporte de participação. Essa
comissão, de tônica claramente liberal, onde o Estado se desresponsabiliza pelos
direitos, passando-os à iniciativa privada. Ainda assim, possivelmente por causa da
influencia do Esporte Para Todos, aplicado no Brasil na época da ditadura militar, o
esporte é indicado como Direito de Todos, o que seria contraditório com a teoria
liberal adotada.
Depois disso, no I PND-NR que o esporte aparece pela primeira vez num plano
de desenvolvimento nacional, ainda que de forma tímida e muito mais como um
diagnóstico:
1.6. Educação física e desporto
As políticas dessa área abrangem modalidades de educação física
escolar, desporto escolar, desporto comunitário e desporto de alto
rendimento.
A educação física escolar [...]. Embora prevista em lei, verifica-se que,
nas escolas públicas de 1º grau, apenas 20% dos alunos da rede pública
a praticam; nas séries iniciais o atendimento praticamente inexiste.

37
A prática do desporto escolar ainda não se instalou efetivamente nas
instituições de ensino [...].
Na área do desporto comunitário, observa-se que a sociedade ainda não
está consciente da importância que assume a prática regular de
atividades físicas como direito e opção de lazer.
Quanto ao desporto de alto rendimento, não estão definidos os papéis e
atribuições que competem ao governo e à iniciativa privada. (Brasil,
1986)

Em contraposição a um diagnóstico que mostra que o que vinha sendo proposto


não dera certo, as soluções propostas não se diferenciam do que já vinha sendo
proposto, a exceto pela tônica liberal e privatista, que pode ser verificada no seguinte
trecho:
2.6 Programa desporto e cidadania
A prioridade desse programa é a universalização da educação física e
do desporto como atividades de formação nos 1º e 2º graus de ensino
[...].
Paralelamente, serão desenvolvidas atividades para conscientizar a
comunidade acerca das vantagens da prática regular do esporte como
forma sadia de lazer.
O desporto de alto rendimento será redimensionado, envolvendo-se a
iniciativa privada na organização das competições desportivas. A
necessária revisão da legislação desportiva nacional levará em conta,
precipuamente, o propósito de eliminar formas tutelares do Estado.
(Brasil, idem)32

Têm-se aí então uma aparente contradição entre entender o esporte como


importante elemento da política social e privatizá-lo, mas que na verdade, está de
acordo com os preceitos do neoliberalismo.
Além disso, temos a contradição colocada entre a teoria liberal adotada pelo
governo e a prática tutelar, principalmente no que diz respeito ao financiamento,
adotada pelo governo, como podemos ver no quadro abaixo:

Quadro 3: Recursos da Seed/MEC por área em CZ$ 1.000,00 – período 1986-1988

Ano
Área
1986 1987 1988 Total/Ação
Educação Física 7.247 0 96.180 103.427
Esporte Para Todos 7.035 0 82.950 89.985

32
Grifos nossos.

38
Desporto Estudantil 4.128 0 0 4.128
Desporto Comunitário 29.292 0 168.000 197.292
Construção e outros projetos especiais 5.210 0 275.900 281.110
Desporto profissional 700 0 0 700
Administração da Seed 7.229 6.035 38.851 52.115
Pró-ativa 0 147.654 0 147.654
Total 60.841 153.685 661.881 815.566
Fonte: Caran (1989, apud Veronez, ibidem, p.266)

Podemos observar através destes dados duas contradições entre o discurso do


governo e a sua prática. Uma é que, apesar da tônica liberal no discurso, onde o
governo se isenta de financiar as instituições e onde a iniciativa privada tomaria
grande papel no esporte de alto rendimento, vemos um enorme investimento no dito
esporte comunitário, que é onde se coloca o esporte de rendimento. Isso vem da
conciliação de interesses entre as empresas privadas que começavam a ter mais
espaço no poder político e os poderosos remanescentes da ditadura, que poderiam
atrapalhar a implementação do mesmo liberalismo no esporte.
A outra contradição está também no gasto muito maior com o esporte
comunitário se comparado com o esporte escolar e a educação física, o que é
exatamente o contrário do que está colocado nos documentos do governo também
nesse período.
E dentro dessas contradições que teremos a elaboração da Constituição de 1988
e a inserção do esporte dentro da mesma.

3.2.5 O Esporte pós Constituição de 1988

Para entender o período que envolve a promulgação da Constituição de 1988 e


que a segue, precisamos voltar alguns anos antes. É importante lembrar que na
década de 1970, o capitalismo passa por uma crise da acumulação, e que a solução

39
disseminada mundo a fora é o Neoliberalismo, que é resumido após alguns anos de
aplicação, com o Consenso de Washington33.
No Brasil, a crise econômica mundial colabora para que a ditadura militar a tenha
o seu fim decretado. Porém, tal situação perdura durante toda a década de 80, que
acaba sendo comumente chamada de “década perdida”. Essa crise acabou fazendo
com que o neoliberalismo ganhasse mais respaldo da população, associado à crise
em que se encontrava o socialismo no leste europeu.
Nesse sentido, a Constituição de 1988 é construída num grande embate entre os
setores ligados à classe trabalhadora, que defendiam um Estado que garantisse os
direitos da população, como educação, saúde, segurança e também o esporte. Em
contraposição a esse setor, o setor hegemônico da sociedade defendia reformas com
caráter claramente (neo)liberal para democratizar o país.
Finda a Constituinte, e os diversos planos econômicos que não tiram o Brasil da
crise e estagnação financeira que se encontrava, teremos então o primeiro
presidente eleito pelo voto direto da população em mais de 20 anos.
Em 1989, após uma eleição onde os setores de direita tinham poucas opções, já
que suas principais candidaturas como Paulo Maluf, Jânio Quadros e outros, não se
efetivaram, e os setores de esquerda adquiriram força através do Partido dos
Trabalhadores (PT), representado por Luis Inácio Lula da Silva, todas as forças dos
setores conservadores são centradas em Fernando Collor de Melo, que é eleito no
segundo turno do processo eleitoral34.

33
“as medidas indispensáveis [...] que hoje se conhecem como Consenso de Washington: disciplina

fiscal, reorientação das prioridades do gasto público para áreas de saúde, educação, infraestrutura,

reforma fiscal (ampliação da base fiscal e redução de impostos marginais), estabelecimento de

mercado competitivo, garantia do direito de propriedade, liberalização comercial, privatização,

eliminação de barreiras ao investimento estrangeiro e liberalização financeira” (Baumann, 2001, p.151,

tradução nossa)
34
Existem documentos provando que houve uma edição, para o Jornal Nacional, da Rede Globo de

Televisão, do debate do segundo turno das eleições presidenciais brasileiras de 1989, de modo a

40
A partir do Governo Collor, começam a ser efetuadas no Brasil as “Reformas
Neoliberais”, que podem ser caracterizadas por um tripé entre “abertura e
liberalização das economias nacionais, desregulamentação de mercados,
privatização de empresas públicas e reforma administrativa do Estado” (Veronez,
2005, p.270).
Essas mudanças acabam por alterar o padrão de intervenção do Estado na
economia, ainda que não chegue a representar em todos os casos uma real retração
radical da atividade estatal ou do volume de gastos públicos. Isso se dá pela
oposição criada, em parte pequena pelo setor da classe dominante que perderia
poder político ou econômico com isso35, e em grande medida pela oposição dos
setores da classe produtora, que sofre com o impacto de tais reformas.
Esta contradição entre diferentes posições faz com que o neoliberalismo seja
implementado variando-se a área e o ritmo em que as medidas neoliberais são
adotadas (Saes, 2001 apud Veronez, ibidem, p.271).
Dentro dessas condições, temos em 1990 a implementação do Plano Collor,
através de medidas provisórias, em grande parte, inconstitucionais. Segundo
Antunes, o Plano Collor preenche os requisitos do neoliberalismo:
A privatização do Estado preenche outro requisito imprescindível desse
ideário. Os procedimentos seguem [...] o receituário do Fundo Monetário
Internacional (FMI): o enxugamento da liquidez, o quadro recessivo
decorrente, a redução do déficit público, a “modernização” (privatista) do
Estado, o estímulo às exportações e, é claro, a prática do arrocho
salarial, secularmente utilizada em nosso país. É um desenho
nitidamente neoliberal. (2005, p.10)

Apesar da aplicação da política neoliberal, como defendia a classe detentora dos


meios de produção, Fernando Collor sofreu um processo que culminou no seu
impeachment, pelas denúncias de corrupção através de um esquema organizado por

favorecer o candidato Fernando Collor de Mello frente a Luis Inácio Lula da Silva. Para mais, ver

MELLO, Geraldo Anhaia - Muito além do cidadão Kane. São Paulo: Scritta Editorial, 1994.
35
É o caso da FIESP e da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) que apóiam medidas como

privatizações e flexibilização das leis trabalhistas, mas são bastante relutantes à abertura irrestrita da

economia do Brasil ao capital internacional.

41
Paulo César Farias. Dessa forma, assumiu a presidência o Vice-Presidente, Itamar
Franco, num momento de recessão econômica e acentuado processo de
desindustrialização e de privatização de empresas estatais. Para governar, tenta
compor uma ampla base de apoio, da direita, com membros do PFL à centro-
esquerda, com membros do PDT e do PT.
Apesar de um discurso de mudanças em relação ao governo de Fernando Collor,
o governo de Itamar Franco “não se encontra nada sobre os contornos básicos de
um projeto econômico alternativo, que não aceite a globalização imposta pela lógica
do capital forâneo, integradora para fora e desintegradora para dentro” (Antunes,
ibidem p.22). Ou seja, apesar do discurso, nada foi feito de realmente diferente em
relação ao governo anterior.
Após o governo Itamar Franco, assume Fernando Henrique Cardoso (FHC), ex-
Ministro da Fazenda de Itamar. Durante o primeiro governo (1995-1998), apesar do
discurso de uma “3ª via entre o capitalismo e o socialismo”, o que se viu foi a
aplicação mais intensa ainda das políticas neoliberais.
O Plano Plurianual36 (PPA) publicado pelo governo FHC tem como principal
objetivo a estabilização da economia, e para tal estabelece três estratégias
principais, que são a administração mais eficiente de um Estado moderno, a redução
de desequilíbrio regionais, através de descentralização e parcerias (sem identificar
aqui se são com o setor público ou o privado) e a abertura econômica, flexibilização
das relações trabalhistas, redução do “custo Brasil”, ampliação da infra-estrutura e o
fortalecimento do papel do setor privado nos investimentos.
Verifica-se pelas estratégias estabelecidas pelo PPA possível que a política
econômica proposta será baseada nos preceitos neoliberais.
Já no segundo mandato de FHC (1999-2002), o PPA é reformulado, que apesar
de ser anunciada como uma grande mudança, não passa muito de uma alteração
formal, já que a política neoliberal ainda dá o tom a todo o documento. Uma
característica interessante é que esse documento se pauta muito na “eficiência”,

36
Este tornara-se uma exigência a partir da Constituição Federal de 1988, art. 165. (BRASIL, 1988)

42
palavra muito comum na gestão de empresas privadas, como podemos ver no trecho
do Plano Diretor da Reforma do Estado

É preciso, agora, dar um salto adiante, no sentido de uma administração


pública que chamaria de “gerencial”, baseada em conceitos atuais de
administração e eficiência, voltada para o controle dos resultados e
descentralizada para poder chegar ao cidadão, que, numa sociedade
democrática, é quem dá legitimidade às instituições e que, portanto, se
torna “cliente privilegiado” dos serviços prestados pelo Estado.37 (Brasil,
1995, p.7)

Sendo assim, podemos avaliar que os mandatos de FHC são a radicalização do


receituário neoliberal já seguido por Collor e Itamar. Segundo Antunes (2004), boa
parte de “tudo o que fora criado sem (e muitas vezes contra) a participação do capital
privado” foi eliminado nesses governos.
Sobre essas medidas, conhecidas como reformas neoliberais, Baumann (2001)
apresenta um estudo que sistematiza o ano em que foram propostas as principais
medidas para regulamentar essas reformas, entre os anos de 1988 e 2000 (Quadro
4).

Quadro 4: Brasil: Uma década de reformas*

1988 e
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
antes
Reforma Comercial * * * * * * * * * * *
Abertura ao capital
financeiro externo * * * *
Privatização * * * * * * *
Regulamentação do
setor financeiro * * * * * *
Reforma da
previdência social * * * * *
Reforma
administrativa * *
Reforma de
programas sociais
Educação * * * * * *
Saúde * * * * * *
Fonte: Baumann (2001, p.155)

37
Plano que ficou conhecido como Plano Bresser Pereira, em função do Ministro da Administração

Federal e Reforma do Estado, Luiz Carlos Bresser Pereira, muito influente não só no primeiro, mas

também no segundo mandato de FHC. Grifos nossos.

43
“*Os asteriscos indicam a data aproximada das principais medidas para regulamentar cada uma das
reformas e não o momento de maior intensidade das mudanças. É importante ter presente este fato.
Por exemplo, no caso da privatização, o valor real das transações foi muito mais intenso em 1998 do
que em qualquer outro período anterior. (BAUMANN, 2001, p. 155, tradução do autor)

Além das reformas neoliberais, fica claro ainda no primeiro mandato de FHC que
uma das suas principais metas era obter e manter a estabilidade econômica, o que
significaria o sucesso do Plano Real, de sua autoria durante o governo Itamar. Essa
opção reflete qual a fração da classe dominante que o apoiava nas eleições que ele
disputou, ou seja, “os interesses do capital financeiro internacional, já que tais
interesses coincidem com a realização integral do programa neoliberal” (Saes,
1998,apud Veronez, op. cit. p.278)38.
Vale lembrar que a realização integral do programa neoliberal passa pela
abertura e liberalização da economia, o que muito interessa à burguesia internacional
e gera até alguma contestação por parte da burguesia nacional.
Boito Júnior (2005, p.247-248), afirma que a burguesia nacional brasileira criticou
a política neoliberal de FHC que privilegiava a burguesia internacional e a financeira.

Não estamos dizendo que a grande burguesia industrial interna se


levantou contra a hegemonia do capital financeiro. Já indicamos que a
grande burguesia industrial usufruía dos demais aspectos do modelo
neoliberal. Os grandes bancos são também seus aliados. Mas ela
resistiu à política de juros e à política de abertura, procurando negociar
os termos do predomínio das finanças. Durante o primeiro Governo
FHC, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP),
secundada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), vocalizou a
insatisfação desse setor.

Num sentido contrário ao que vinha sendo divulgado, já no início de seu segundo
mandato, as políticas neoliberais começam a apresentar suas debilidades. Em 1999,
as taxas de desemprego e emprego informal começaram a aumentar nas grandes
cidades, assim como começou a diminuir o poder de compra das classes médias, o
que apontava para uma crise no modelo neoliberal, tanto econômica quanto de
hegemonia. Ainda assim, o governo FHC teve fôlego para privatizar mais diversos

38
Grifo nosso

44
setores fundamentais da infra-estrutura nacional, como gás, energia elétrica e
telecomunicações.
No campo político, a década de 1990 foi de poucos avanços para a classe
trabalhadora e sua organização. As reformas neoliberais acabaram por enfraquecer
os Movimentos Sociais de luta e, principalmente, os sindicatos39. Ao mesmo tempo,
acontece uma enorme proliferação de Organizações Não Governamentais, apoiadas
pelo governo, que passaram a realizas ações pontuais na área social. Dessa forma,
as lutas sociais foram pulverizadas, desfocando o problema, da política econômica
para problemas pontuais, enfraquecendo os movimentos sociais.
É dentro dessa conjuntura, que temos um processo de constitucionalização do
esporte, e de conseguintes políticas e leis infraconstitucionais sobre o mesmo no
país.
Durante as discussões travadas nesse processo, o protagonismo das
proposições foi do CND e das entidades a ele vinculadas. A proposta que foi para a
constituinte foi escrita por Álvaro Melo Filho, então presidente da Confederação
Brasileira de Futebol de Salão (CBFS). Essa proposta era essencialmente liberal,
defendendo a autonomia das entidades, o seu financiamento com recursos públicos
e benefícios fiscais e a definição do esporte como um bem40 cultural.

39
Sobre o sindicalismo nos anos 90, Boito Junior afirma “Portanto, confrontado com a grande derrota

política do movimento operário e popular na eleição presidencial de 1989, e já sob o impacto do

enorme desemprego produzido pela recessão de 1990, o novo sindicalismo mudou de orientação.

Note-se que a situação exigia, de fato, uma mudança na estratégia ofensiva de ação sindical dos anos

80. A Articulação Sindical estava correta quando sustentava que o movimento operário e popular

entrara num período difícil e defensivo”. Para mais, ver Boito Jr., Armando 2002 (1999) Política

neoliberal e sindicalismo no Brasil (São Paulo: Xamã) e Boito Jr., Armando 2003 “A hegemonia

neoliberal no Governo Lula” em Crítica Marxista (Rio de Janeiro) N° 21.


40
Para a economia, “mercadoria ou serviço que pode satisfazer uma necessidade humana” (Ferreira,

Aurélio Buarque de Holanda, 2004). Sendo assim, algo que possa ser comprado ou vendido.

45
Após mais de 100 emendas, foi aprovado o artigo 217, que versa sobre o esporte
no país. A constitucionalização do esporte é uma marca da importância que esse
tinha na política e na sociedade brasileira, como também no mercado. O artigo
aprovado tinha o seguinte conteúdo:

Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não


formais, como direito de cada um, observados:
I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações,
quanto a sua organização e funcionamento;
II - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do
desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de
alto rendimento;
III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não
profissional;
IV - a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação
nacional.
§ 1.º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às
competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça
desportiva, regulada em lei.
§ 2.º A justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias,
contados da instauração do processo, para proferir decisão final.
§ 3.º O poder público incentivará o lazer, como forma de promoção
social. (Brasil, 1988)

O artigo aprovado mantém o caráter liberal da proposta apresentada, ainda


que com alguns traços progressistas. O primeiro traço nesse sentido é a retirada do
termo bem cultural, dando lugar ao direito de cada um. É verdade que se mantém
expresso o individualismo característico do neoliberalismo, mas passamos a ter o
esporte como direito e não como bem. Além disso, não foi mantido o financiamento
do esporte através de benefícios fiscais, e o esporte educacional foi colocado como
prioritário, em relação ao esporte de alto rendimento.
Sobre as entidades esportivas, sua autonomia foi mantida, e sem nenhuma
forma de regulamentação, o que já era apresentado como uma limitação. Como
afirma Castellani Filho, (1985, p.23 apud Veronez, op. cit p.285):

“É a própria estrutura de poder das Confederações, Federações, Clubes


que deve ser questionada. A metáfora utilizada pelo Presidente do CND,
denominando de verdadeiros ‘feudos’ às Confederações reflete bem o
verdadeiro cerne do problema. Assim, a proposta de desestatização do
desporto de alto nível, se não vier acompanhada da garantia de seu
controle público, pode, ao contrário de eliminar o poder dos atuais

46
‘senhores feudais’, reforça-lo através da adição da força oriunda do
poder econômico”.41

Esse debate sobre o poder dentro das entidades esportivas se mantém muito
atual, mostrando que praticamente nada mudou. E esse debate foi importantíssimo
na definição das leis infraconstitucionais da década de 90, como mostraremos
adiante.
Outro ponto interessante é perceber que, apesar do caput do artigo 217 citar o
esporte como “bem de cada um”, o artigo em si não tem nenhuma citação direta ao
esporte de participação, que seria a manifestação do esporte que teria possibilidade
real de realizar o que está escrito na constituição. Outra contradição do Art. 217,
aparece quando o comparamos com o Art. 6º que afirma que serem “[...] direitos
sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição” (Brasil, 1988). A partir disso, Veronez,
conclui que

“Como a Constituição garante a todos o acesso aos direitos sociais,


sendo o lazer um deles e, em especial o lazer esportivo, é no mínimo
questionável a prioridade de investimento de recursos públicos no
esporte educacional e de rendimento estabelecida no Art. 217” (op. cit.
p. 286)

Com isso, podemos concluir que a Constituição, segundo Manhães (2002, apud
Veronez ibidem) garantiu os interesses dos setores mais conservadores, ou seja,
assegurou a liberalização (privatização) do setor esportivo. Linhales (1996) afirma
ainda que foram constitucionalizados apenas as substâncias e não os
procedimentos. Isso, depois, se mostrou importante para que a própria CF não fosse
cumprida na sua íntegra sem problemas ou empecilhos legais.
Após a publicação da CF de 1988, começamos a ver o debate sobre a relação
estado-esporte no Brasil ser feito através das leis infraconstitucionais. A primeira
delas foi a Lei n°. 7.752 de 1989. Essa lei concedia isenção fiscal no imposto de
renda de pessoas físicas ou jurídicas que fizessem investimentos no esporte. Essa

41
Grifos nossos.

47
lei deixa evidente a liberalização e privatização do esporte. Liberalização, porque o
Estado está transferindo suas responsabilidades acerca de direitos sociais,
característica do neoliberalismo. E privatizante porque, segundo a própria lei, será
abatido do imposto o dinheiro investido ou doado a “pessoa jurídica de natureza
desportiva, com ou sem fins lucrativos” (Brasil, 1989). Além disso, atividades como
patrocínio contam como investimentos esportivos. Dessa forma, não só é o setor
privado do esporte que irá se beneficiar, como é o setor privado do esporte de alto
rendimento o principal beneficiário da lei em questão.
Essa lei só foi revogada com o início do próximo passo na liberalização do setor
esportivo, que é a revisão da legislação infraconstitucional, que culmina na
aprovação da “Lei Zico” (Brasil, 1993, Lei n°. 8.672/1993).
A Lei Zico começa a ser elaborada com a eleição do Presidente Fernando Collor
de Melo. Collor altera a estrutura organizacional do esporte no governo federal,
criando a Secretaria de Desportos, vinculada diretamente à Presidência da
República. Junto a essa alteração, o presidente revogou a Lei n°. 7.752/1989 e
nomeou o ex-jogador de futebol Arthur Antunes Coimbra, o Zico, como secretário de
desportos.
Zico permaneceu pouco tempo no cargo, mas propôs nesse período uma
reforma completa da legislação esportiva brasileira, que, segundo ele, deveria
modernizar o esporte nacional. Essa proposta fazia uma forte crítica, através de uma
lógica neoliberal, ao sistema esportivo e às entidades esportivas no Brasil,
qualificadas por Zico como “débeis cartéis que dominavam segmentos, alguns
significativos, do desporto brasileiro” (Brasil, 1991, p.8 apud Veronez, op. cit. p.290.).
Então, como pautas principais nessa reformulação, Zico propõe o fim da “lei do
passe” (Brasil, 1976, Lei n° 6.354/1976), a transformação obrigatória dos clubes em
clubes-empresa e uma reformulação das entidades esportivas privadas e dos três
níveis do governo.
Essas propostas, de caráter liberal, incomodaram bastante os “senhores feudais”
das entidades esportivas brasileiras. Isso porque, o fim da lei do passe poderia
significar uma perda de muito dinheiro, além da necessidade de uma relação regida
por leis trabalhistas mais rígidas. Da mesma forma, a transformação dos clubes em
clubes-empresa submeteria essas entidades a legislação civil e trabalhista como
48
qualquer outra empresa, o que significaria tanto que o poder autoritário dos dirigentes
diminuiria, quanto que eles responderiam legalmente pela (má) administração das
entidades.
Por fim, uma parte da reformulação das entidades esportivas do país passava,
segundo Zico, por democratizar o colégio eleitoral das entidades nacionais de
administração do esporte, o que incomodou tanto os dirigentes dessas entidades
como os dos clubes que têm real poder decisório nessas entidades, e que são os
grandes clubes.
Como era de se esperar, as justificativas para essas mudanças e mesmo as
mudanças estavam dentro de uma lógica neoliberal, assim como todo o governo
Collor. Isso fica evidente quando vemos o próprio documento que propunha essa
reforma:
Essa proposta cria condições para uma nova era desportiva, seja
fortalecendo a iniciativa privada, seja reduzindo a interferência do Estado
nas atividades desportivas com a manutenção dos controles e das
formalidades imprescindíveis, seja afastando qualquer atuação cartorial
e policialesca que iniba a criatividade e tolha a autonomia dos diversos
segmentos esportivos, tudo isso com o objetivo de implementar , a partir
de diversas e diferenciadas realidades regionais, uma democracia
desportiva (BRASIL, 1991, p.12 apud Veronez, op. cit. p.291)42.

Como podemos observar, os argumentos defendem um Estado que garanta


poucos direitos, através do fortalecimento da iniciativa privada e redução da
interferência do Estado, mas sem abrir mão do controle disso, através das
“formalidades imprescindíveis”. Com isso já podemos ter bem claro que o
neoliberalismo será o delineador desse documento. Ainda, podemos entender
também que democracia, nesse caso, segundo Veronez (Ibidem p.292),
“relacionava-se com a liberdade oferecida ao mercado para atuar em todos os
setores sociais, em especial o esportivo”.
Completando as principais características da proposta, Zico ainda indicar a
criação de um novo Sistema Nacional do Desporte, que deveria ser integrado por

42
Grifos nossos.

49
órgãos públicos e por pessoas físicas e jurídicas de direito privado, com
ou sem fins lucrativos, encarregados da supervisão, da administração,
da normatização, do apoio ou da prática do desporto, bem como da
justiça desportiva, [...] sem inibir-se a descentralização, a regionalização
e a municipalização das práticas desportivas formais e não-formais.
(BRASIL, 1991, p. 15, apud Veronez, ibidem p.292-293)

Nessa proposta está evidenciado o fim da relação hierárquica que existia entre
os clubes, as federações, o COB e o CND, dando lugar a uma organização
diferenciada, e mais democrática. Como é de se imaginar, isso não agradou àqueles
a quem Zico chamou de “débeis cartéis”.
Com tudo isso, podemos ver que a proposta avança pouco na garantia do direito
à prática de atividades esportivas e muito no neoliberalismo, ou seja, mantém o
controle do Estado, diminuindo suas obrigações e repassando-as para a iniciativa
privada, que transforma o direito à pratica esportiva em mercadoria. Além disso, o
projeto é bastante genérico no que se refere às políticas esportivas, especialmente
as políticas para o esporte de participação, mas é bastante específico no que se
refere ao esporte de alto-rendimento e o seu financiamento.
Obviamente, um projeto que se indispunha com tantos interesses dos dirigentes
das principais entidades esportivas e clubes no país, não teve um tramite facilitado
no Congresso nacional. Mas não só por isso o tramite foi tencionado. Já na terceira
reunião que o debateria, a esquerda se manifestou, através de um substitutivo
proposto pelo deputado José Fortunati (PT-RS). Nessa reunião também foi marcado
um seminário para discutir os assuntos pertinentes ao esporte. Sobre esse
seminário,vale a pena ressaltar que os convidados são todos vinculados às
entidades tradicionais do esporte ou à mídia esportiva, o que dá uma amostra da
hegemonia do esporte de alto rendimento nessa reformulação do esporte no Brasil,
ainda que essa hegemonia não se desse em unidade de idéias.
Segundo Linhales (op. cit.), os representantes do esporte de alto rendimento
estavam divididos em dois grupos, que foram responsáveis pelos principais
tensionamentos do processo. O primeiro grupo tinha relações com o CND e com a
Secretária de Desportos na época, e apoiavam essa modernização neoliberal do
esporte, através da mercantilização do mesmo. O segundo grupo era constituído
pelos que representavam os interesses mais conservadores, ligados principalmente a

50
entidades esportivas e ao futebol, e constituíam os “débeis cartéis” a que Zico se
referira. Esses achavam que essas mudanças eram “revolucionárias demais” para o
contexto brasileiro. Em verdade, esse grupo não queria arriscar perder sua
hegemonia e o seu lucro nas entidades e clubes, o que seria colocado em risco com
as mudanças propostas.
Veronez identifica ainda um terceiro grupo, “vinculado a um pensamento mais
progressista e à esquerda do espectro político”. Esse grupo defendia uma redefinição
da relação do Estado com o esporte, para garantir o direito de todos à prática de
atividades esportivas. “Esse grupo era mais difuso que os outros, e estava aglutinado
em instituições como o CBCE e a FBAPEF43” (op. cit. p. 297).
O grande embate na tramitação desse projeto de lei se deu mesmo entre os dois
primeiros grupos. Ambos, ligados ao esporte de alto rendimento, defendiam a
liberalização do esporte, que incluía cortar as amarras desse com o Estado. A
diferença entre os grupos era “apenas no grau em que defendiam seus interesses
particularistas e corporativos” (Veronez, ibidem. p. 298).
Dentre esses dois grupos, a hegemonia era do grupo ligado ao futebol, que
chegou a ser conhecido popularmente como “bancada da bola”. Esse grupo
conseguiu fazer com que o projeto fosse aprovado sem alterações significativas no
que se referia ao passe dos atletas, à transformação dos clubes em clube-empresa44
ou à estrutura organizacional do esporte no Brasil. Ainda assim, grupos que
defendiam a proposta original não se frustraram (Veronez, Ibidem). O único grupo
realmente frustrado foi aquele terceiro grupo. Conforme afirma Linhales

Durante os dois anos de tramitação da nova legislação esportiva no


Congresso Nacional, os interesses relativos à liberalização foram de fato
os de maior poder de pressão, embora, para levá-los a cabo, tenha sido
necessário realizar concessões às forças conservadoras [...]. Os
interesses representados pelos setores mais à esquerda não foram
capazes de reunir esforços suficientes para se contraporem à articulação
liberalizante/conservadora. (op. cit. p.238)

43
Federação Brasileira de Associações dos Professores de Educação Física.
44
Tal alteração tornou-se facultativa.

51
Podemos entender que a dita modernização pretendida pelo projeto original não
foi completa, deixando intocados os principais pontos de polêmica com o setor mais
conservador, e deixando intocadas as antigas estruturas “feudais”. Segundo Veronez
(op. cit. p. 299), “pelo contrário, da forma como ficou, [a nova lei] apenas reforçou a
hegemonia de tais frações”. Ainda segundo Veronez

A lei n° 8672/1993 avançou naquilo que propunha de mais conservador


no que se refere à possibilidade de o Estado garantir o acesso social ao
esporte. Ao estabelecer a autonomia e a independência do setor
esportivo sem a contrapartida necessária – o seu controle público,
apenas implementou a desresponsabilização do Estado para com ele,
transferindo-a para a iniciativa privada [...].

A lei, além de garantir a dita “autonomia” das entidades esportivas frente ao


Estado, o que, segundo Linhales (op. cit.) “encontra-se na contramão de qualquer
tentativa de consolidação do esporte como direito social”, não contém “uma frase
sequer que se refira à questão social no âmbito esportivo e, em especial, nas
manifestações do esporte educacional (prioridade prevista na CF de 1988) e do
esporte de participação” (Veronez, op. cit. p. 301).
O que poderia ser uma interessante mudança, que é a criação do Fundo
Nacional de Desenvolvimento Desportivo (FUNDESP), novamente não se refere ao
esporte como direito social. O documento afirma que o FUNDESP deveria

“assegurar um fluxo permanente de recursos para a educação esportiva


e auxiliar o desporto não-profissional, o desporto de rendimento [...],
capacitar recursos humanos e apoiar projetos e pesquisas no setor”.
(Brasil, 1993b, p.10 apud Veronez, idem)

Outra importante modificação implementada pela Lei Zico é a extinção do antigo


CND e a criação do Conselho Superior de Desportos (CSD). Esse órgão é
apresentado como “órgão colegiado, de caráter consultivo e normativo,
representativo da comunidade desportiva brasileira” (Brasil, 1993). Dessa
apresentação, depreende-se uma mudança importante em relação à legislação
anterior, que é o fim do poder de intervenção do Estado nas entidades esportivas,
mantendo seu poder de regulamentação dessas. Além disso, vale destacar que esse
conselho tem a função de “propor prioridades para o plano de aplicação de recursos
52
do Fundo Nacional de Desenvolvimento Desportivo - Fundesp, elaborado pelo
Ministério da Educação e do Desporto, por meio de sua Secretaria de Desportos;”
(Brasil, 1993b, apud Veronez, ibidem p.302). Outro caráter a ser destacado é a sua
composição, que é hegemonizada por representantes do esporte de alto rendimento,
não tendo garantido nenhum representante do esporte educacional, o que, segundo
Veronez (idem) “determinou sobremaneira as ações implementadas pelo governo”.
Ainda que o caráter desta lei já esteja bastante claro, é importante ressaltar um
último aspecto, que é a reafirmação do esporte como direito individual, e não social
(Brasil, 1993), que segundo Veronez (idem), desfaz qualquer dúvida sobre o
“‘espírito’ (neo)liberal.da nova lei”, contudo, em concordância com o Art. 217 da CF
de 1988, “que definiu como ‘dever do Estado fomentar práticas desportivas [...] como
direito de cada um [...].’ (Brasil, 1988).
A partir dessa análise, podemos concluir que a fração privada do setor esportivo
nacional foi contemplada pela nova lei, e

mais do que isso, efetivamente implementando um processo de


privatização do público, destinando e ampliando recursos para essas
entidades e seus eventos, garantindo sua hegemonia no CSD e,
principalmente, não apresentando nenhum norma que especificasse o
papel do Estado no sentido de garantir o esporte como um direito social.
(Veronez, idem).

Após a aprovação da Lei Zico, em 1993, segundo Veronez (ibidem p. 303) o país
viveu um momento de intenso debate acerca das questões que essa lei deixou “em
aberto”: as relações entre atletas e clubes, mais especificamente o “passe” de
atletas, e a profissionalização da gestão das entidades esportivas45.
É nesse clima que, em 1995, Fernando Henrique Cardoso (FHC) é eleito para
seu primeiro mandato como Presidente do Brasil, pelo PSDB. Para o esporte, sua
primeira importante medida foi a criação do Ministério Extraordinário do Esporte, e a
nomeação do ex-atleta Edson Arantes do Nascimento (Pelé) para ministro, cargo que
este exerceu até 1998.

45
O que seria conhecido como a mudança de clube para “clube-empresa”.

53
Ainda em abril de 1995, a Secretaria de Desportos do Ministério da Educação e
do Desporto foi transformada em autarquia federal e denominada Instituto Nacional
de Desenvolvimento do Desporto (INDESP) (BRASIL, 1995).
Por causa desse intenso debate sobre as questões deixadas em aberto, tivemos
nesse período a tramitação de diferentes projetos de lei46, que culminaram na
aprovação da Lei n° 9615/1998, conhecida como Lei Pelé, que foi essencialmente
baseada no Projeto de Lei (PL) 3633, encaminhado pelo Poder Executivo. Segundo
Boudens

Pode-se mesmo afirmar que, desconsiderado o capítulo “Do Bingo”, que


ocupa 23 dos 96 artigos, não constou do projeto original e só foi incluído
de última hora, e descontadas as quatro cláusulas finais, a Lei Pelé é, no
tocante aos 73 artigos restantes e a despeito de várias emendas de
forma e de fundo acolhidas pela Câmara dos Deputados, o PL 3.633, de
1997. (2000, p.5)

Ainda segundo Boudens (ibidem), a tramitação se deu de forma bastante rápida.


O PL n° 3.633 foi apresentado em outubro de 1997, com caráter de urgência. Mesmo
assim, foram apresentadas 127 emendas. O caráter de urgência foi retirado, para
que não travasse a pauta e prejudicasse a votação de outros itens, inclusive o
orçamento do ano seguinte. Mas, em 9 de dezembro, a Câmara aprova requerimento
dos líderes, e o PL 3.633 volta a tramitar com caráter de urgência. Com isso, o relator
apresentou logo em seguida o parecer favorável, com substitutivo. Então, em menos
de vinte e quatro horas, o parecer foi aprovado na Comissão Especial, com novo
substitutivo. Esse último substitutivo seguiu ao plenário, onde foi aprovado com mais
duas emendas, no mesmo dia. O PL seguiu então para o Senado, onde foi aprovado
por unanimidade e sem emendas, para que não precisasse retornar à Câmara.
Sendo assim, o texto foi remetido ao Palácio do Planalto em 3 de março de 1998, e
sancionado no dia 24 do mesmo mês, com 17 vetos, que não foram apreciados no
Congresso.

46
PL n° 1159/1995, do Dep. Arlinda Chinaglia (PT-SP); PL n° 2437/1996, do Dep. Eurico Miranda

(PPR-RJ); PL n° 3558/1997, do Dep. Murício Requião (PMDB-PR) e PL n° 3633/1997, do Poder

Executivo.

54
Desta nova lei, podemos perceber que seu caráter é parecido com o da lei
anterior (Lei Zico), dado que de seus 73 artigos, excetuando os referentes aos
bingos, 30 são exatamente iguais e 13 são semelhantes, mas com transcrição
diferente (Boudens, ibidem). Dos itens que diferem da lei anterior, 12 são de autoria
do INDESP e 18 são emendas propostas pela Câmara dos Deputados.
No texto final da Lei Pelé, fica evidente a “predominância de interesses das elites
esportivas [...]. Porém, parece que desta vez a hegemonia nesse grupo mudou de
lado, pertencendo à fração que queria [...] (a) mercantilização e privatização”
(Veronez, op.cit. p. 306). São exemplos disso o Art. 17, vetado, que pretendia o
reconhecimento de apenas uma entidade nacional de administração do desporto por
modalidade; do Art. 28, que determinou o fim do “passe”47 e o Art. 27, que
estabelecia que os clubes que participam de competições profissionais teriam dois
anos para se transformar em empresas48 (Brasil, 1998).
A Lei Pelé ainda transformou o CSD no Conselho de Desenvolvimento do
Desporto Brasileiro (CDDB), que era diretamente subordinado ao Gabinete do
Ministro de Estado Extraordinário dos Esportes, e mantinha as competências e
constituição do CSD praticamente inalteradas.
Em relação ao financiamento do esporte nacional, a Lei Pelé regulamenta os
jogos de bingo, que deveriam transferir no mínimo 7% da receita bruta para a
entidade esportiva a ele vinculado. Coube ao INDESP e aos estados conveniados a
função de credenciar as entidades esportivas e autorizar e fiscalizar o funcionamento
de casas de bingo. Segundo Veronez (op. cit. p. 306), “atividades as quais não
dispunha da menor capacidade para exercer”.
Uma das principais semelhanças entre a Lei Pelé e a Lei Zico se dá no
tratamento dado ao esporte como direito. Novamente a lei aprovada deixa “em aberto
a questão do papel do Estado no que se refere à garantia de assegurar o direito
constitucional ao esporte” (Veronez, idem).

47
Tal fim se daria num prazo de três anos, segundo o Art. 93.
48
Tal alteração teria um prazo de dois anos para ser efetuada, segundo o Art. 94.

55
Depois da Lei Pelé, inicia-se o segundo mandato de FHC, onde temos novas
mudanças na estrutura político-administrativa do setor esportivo. Em 1999, o
Ministério do Esporte e do Turismo (MET) é criado, e o INDESP passa a integrá-lo,
até 2000, quando é extinto devido a acusações de corrupção na liberação de
funcionamento de bingos. No lugar dele, é criada a Secretaria Nacional do Esporte
(SNE), vinculada ao MET.
Mas o segundo mandato de FHC foi marcado menos pelas alterações citadas, e
muito mais pelas alterações na Lei Pelé, e pelo início da tramitação de um PL que a
substituiria, muito em decorrência da CPI da Nike49, que apontou diversas
irregularidades no esporte nacional.
As modificações introduzidas na Lei Pelé a descaracterizaram em muitos
aspectos, chegando a levar seu signatário a pedir publicamente que seu nome fosse
desvinculado de tal lei50. A mudança que causou essa atitude do então ex-ministro foi
a aprovação da Lei n° 9.981, de 20 de julho de 2000, que “altera dispositivos da Lei
n° 9.615, de 24 de março de 1998, e da outras providências” (Brasil, 2000b).
Essa lei tem origem na Medida Provisória (MP) n° 1.926, de 22 de outubro de
1999, que foi editada para prover o INDESP de recursos, para que este pudesse
exercer sua função fiscalizadora dos bingos. Mas as maiores alterações foram se
dando com as suas reedições – nas quais, no ano 2000 o seu número foi alterado
para 2.011, tendo a última reedição em junho desse ano. Essas medidas provisórias
continham pequenas alterações na legislação referente aos bingos, instituindo uma
taxa para que esses pudessem funcionar (conhecida como “Tabingo”) entre outras
mudanças. Alterou também alguns pontos relativos aos contratos de atletas. (Brasil,
1999)
Essas mudanças foram as precursoras da Lei n° 9.981, com mudanças mais
significativas. Além dessas medidas provisórias, foi muito importante para a

49
Empresa que, então, era a principal patrocinadora da seleção brasileira de futebol e da

Confederação Brasileira de Futebol.


50
Segundo Boudens, (op. cit. p.3), Pelé afirmou que “A Lei Pelé não existe mais”, e atribuiu isso à Lei

n° 9981/2000 e ao Presidente Fernando Henrique Cardoso.

56
aprovação dessa lei a pressão feita pelas entidades esportivas, lideradas por Carlos
Artur Nuzmam, presidente do COB. Essas entidades defendiam uma legislação
distinta para o futebol, em relação às outras modalidades esportivas (Veronez, op.
cit. p. 308).
As principais mudanças promovidas pela lei se referem, segundo Boudens
(2000), ao Art. 94, “onde é determinado que os Arts. 27, 27-A, 28, 29, 30, 39, 43, 45
e o § 1º do Art. 41 serão obrigatórios exclusivamente para jogadores e clubes de
futebol51”.
Essas mudanças na Lei Pelé, segundo Veronez (op. cit. p.309), se devem
principalmente porque essa lei atingia diretamente os interesses das entidades
esportivas vinculadas ao futebol, “fração mais conservadora e mais organizada do
setor esportivo”.
Após essas mudanças, forçadas pelo setor mais conservador do esporte de alto
rendimento, o INDESP foi extinto em 27 de outubro de 2000, através da MP n° 2049-
24, após uma série de denúncias de corrupção nesse órgão em questões relativas a
autorização de funcionamento de bingos e outros assuntos referentes a esses. Tais
denúncias causaram não só a extinção do INDESP como também a queda do
ministro Rafael Grecca, substituído por Carlos Melles. No lugar do INDESP, foi criada
a Secretaria Nacional de Esporte (SNE). Além disso, a responsabilidade de
administrar e autorizar o funcionamento das casas de bingo foi transferida para a
Caixa Econômica Federal. (Brasil, 2000c).
A última alteração significativa durante o segundo governo FHC foi a aprovação
da Lei n° 10.264/2001, que “acrescenta inciso e parágrafos ao artigo 56 da Lei 9.615,
de 24 de março de 1998, que institui normas gerais sobre desporto”, de autoria do
senador Pedro Piva (PSDB-SP), sendo conhecida como Lei Piva. Essa lei instituiu a
transferência de recursos de concursos de prognósticos diretamente para o COB e o
Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPOB).

51
O Art. 27 é o que se refere à polêmica questão da transformação de clubes em “clubes-empresa”, e

o Art. 28 refere-se à questão do “passe” dos jogadores.

57
Essa lei merece uma atenção por atuar na contramão do que determina a CF de
1988. A Lei Piva afirma:

Art. 1º O caput do art. 56 da Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998,


passa a vigorar acrescido do seguinte inciso VI, renumerando-se o
seguinte:
“Art. 56.........................................................................................................
VI - dois por cento da arrecadação brutas dos concursos de prognósticos
e loterias federais e similares cuja realização estiver sujeita a
autorização federal, deduzindo-se este valor do montante destinado aos
prêmios."(NR)
Art. 2º O art. 56 da Lei nº 9.615, de 1998, passa a vigorar acrescido dos
seguintes § § 1º e 5º:
"Art. 56........................................................................................................
§ 1º Do total de recursos financeiros resultantes do percentual de que
trata o inciso VI do caput, oitenta e cinco por cento serão destinados ao
Comitê Olímpico Brasileiro e quinze por cento ao Comitê Paraolímpico
Brasileiro, devendo ser observado, em ambos os casos, o conjunto de
normas aplicáveis à celebração de convênios pela União.
§ 2º Dos totais de recursos correspondentes aos percentuais referidos
no §1º, dez por cento deverão ser investidos em desporto escolar e
cinco por cento, em desporto universitário.
§ 3º Os recursos a que se refere o inciso VI do caput:
I - constituem receitas próprias dos beneficiários, que os receberão
diretamente da Caixa Econômica Federal, no prazo de dez dias úteis a
contar da data de ocorrência de cada sorteio;
II - serão exclusiva e integralmente aplicados em programas e projetos
de fomento, desenvolvimento e manutenção do desporto, de formação
de recursos humanos, de preparação técnica, manutenção e locomoção
de atletas, bem como sua participação em eventos desportivos.
§ 4º Dos programas e projetos referidos no inciso II do § 3º será dada
ciência aos Ministérios da Educação e do Esporte e Turismo.
§ 5º Cabe ao Tribunal de Contas da União fiscalizar a aplicação dos
recursos repassados ao Comitê Olímpico Brasileiro e ao Comitê
Paraolímpico Brasileiro em decorrência desta Lei." (NR) (Brasil, 2001)

Pelo que está posto no § 2º do Art. 2º, fica estabelecido que 85% do total desse
dinheiro deve ser investido no esporte de alto-rendimento (COB e CPOB), enquanto 10%
deveriam ser investidos no desporto escolar e 5% no universitário. Além disso, fica
ressaltado que essa lei prevê a alocação direta de recursos públicos em entidades privadas,
sem critério efetivo de seleção das atividades financiadas, e apenas com o controle do
Tribunal de Contas da União.
Além da inversão de valores, já que a CF de 1988 estabelece a aplicação de recursos
preferencialmente no esporte educacional e, em casos específicos, no esporte de alto

58
rendimento, é importante ressaltar que o esporte escolar não é necessariamente esporte
educacional. Segundo Veronez (op. cit. p. 313)

Assim, vinculado ao projeto político-pedagógico da escola e a uma


concepção abrangente de educação, o desporto educacional não pode
ser vinculado a uma única manifestação esportiva, como é o caso do
desporto de base, que objetiva a formação de atletas. Portanto, é
preciso romper com as concepções que defendem a implntação do
esporte como conteúdo escola, vendo a escola como um “celeiro
esportivo” [...]52

Ou seja, ainda que o investimento seja efetuado nas escolas ou nas


universidades, como prevê a Lei Piva, se a intenção desses recursos for apenas a
prática do esporte por mais pessoas, para a “obtenção” de mais atletas de alto
rendimento, esse investimento ainda está ligado à “única manifestação esportiva”
citada por Veronez (ibidem), que é a manifestação do esporte de alto rendimento.
Ainda no ano de 2002, iniciou-se a tramitação do PL n° 7;262/2002 e da MP
79/2002, que foram transformados em leis em 2003, sendo a Lei n° 10.671/2003,
conhecida como Estatuto do Torcedor e Lei n° 10.672/2003, a Lei de Moralização
dos Clubes.
O Estatuto do Torcedor surge com a intenção de impor regras mais rígidas às
entidades organizadoras do esporte nacional e aos times a elas filiados. O estatuto
consegue alguns avanços no sentido da transparência da organização,
estabelecendo regras, nem sempre cumpridas ou fiscalizadas, relativas a transporte,
organização, segurança, alimentação e higiene nos locais de eventos esportivos. Por
outro lado, ela se baseia no código de defesa do consumidor, como podemos ver no
seu Art. 3° que diz “equiparam-se a fornecedor, nos termos da Lei no 8.078, de 11 de
setembro de 199053, a entidade responsável pela organização da competição, bem
como a entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo.” Vemos aí o
tratamento do esporte não como direito da população, mas como mercadoria, que
como tal, é consumida por seus compradores, os torcedores.

52
Grifos nossos.
53
Essa lei é conhecida como Código do Consumidor.

59
Já a Lei n° 10.672/2003, segundo Veronez (op. cit, p. 311)

estabeleceu que as entidades esportivas deveram ser regidas pelo


Código Civil, impondo às federações e aos clubes normas que visavam
dar maior transparência administrativa por meio da publicação de
balanços patrimoniais.

Podemos estabelecer algumas características comuns entre as duas leis. Ambas


surgem como uma tentativa de corrigir as “distorções quanto à ‘autonomia’ e à
‘independência’ do setor esportivo, contidas tanto na Lei Zico quanto na Lei Pelé,
tantas vezes interpretadas como soberania pelas entidades esportivas” (Veronez,
idem). Ambas as leis não chegam a alterar significativamente a situação legal do
esporte, apenas instituem algumas regras para dar mais transparência ao processo,
regras as quais nem sempre são seguidas54.
É possível afirmar que ambas as leis instauraram medidas que já vinham sendo
discutidas no Projeto de Lei n° 4.874/200155. Tal projeto, que teve sua origem nas
CPI’s que investigaram contratos de patrocínio da CBF. O relatório de tais CPI’s
apresentava diversas irregularidades nesses contratos e no futebol brasileiro, mas
por uma movimentação da “bancada da bola”, tal documento não foi votado no
congresso. E o PL 4.874/2001, ainda está em discussão na câmara dos deputados,
tendo sua última inserção em pauta no dia 18 de setembro de 2007.

54
Especialmente as regras relativas ao Estatuto do Torcedor, são sistematicamente ignoradas pelos

times organizadores de partidas de futebol. Em pesquisa superficial no site do Jornal Folha de São

Paulo, na seção online com os termos “ingressos”, “futebol”, “confusão” e “tumulto”, aparecem notícias

sobre partidas entre Cruzeiro e Payssandu (2003), São Paulo e Cobreloa (CHI) (2004), Palmeiras e

Ponte Preta (2008) e Sport Recife e Corinthians (2008). Todas as confusões foram causadas por falta

de informações sobre número de ingressos disponíveis ou atrasos no horário de vendas.


55
De autoria do Deputado Silvio Torres, do PSDB-SP.

60
3.3 Políticas de Esporte do Governo Federal entre 2003 e 2006

Novamente, para a contextualização das políticas de esporte do governo,


faremos uma breve análise de como se configura a política mais geral desse para
então nos aprofundarmos na análise da política da área em questão.
Em 2002, num contexto de alta rejeição da política neoliberal de Fernando
Henrique Cardoso, rejeição essa impulsionada por uma turbulência econômica e um
crescimento pequeno do PIB nacional56, Luis Inácio Lula da Silva, do PT, é eleito
Presidente. Neste ano, pouco antes da eleição, ele publica a “Carta ao Povo
Brasileiro”, já abordada nessa monografia.
Como já debatemos um pouco o primeiro mandato presidencial de Lula e do
PT, entre os anos de 2003 e 2006, abordaremos aqui apenas os fatos mais
importantes desse período. Para isso, abordaremos sua política econômica,
entendendo que “na realidade, a política econômica é o governo Lula (pois a lógica
do ajuste se sobrepõe a tudo)” (Sampaio Jr., 2005, p.77). Ou seja, a partir de sua
política econômica, podemos ter uma base que nos permita entender a realidade em
que as políticas de esporte estão inseridas nesse período.
Após a eleição de Lula, havia uma grande dúvida no ar, que é resumida por
Antunes:

será a fase pós-FHC uma continuidade mais ou menos abrandada do


neoliberalismo tucano ou, ao contrário, estaríamos agora em condições
de presenciar um novo ciclo alternativo, antineoliberal, com um sentido
mais humano e societal? (2005, p.154)

O próprio Antunes responde “Se tomarmos os seis primeiros meses do Governo


Lula, parece que o continuísmo e o pessimismo estão ganhando a peleja” (idem).

56
Nos quatro anos do segundo governo de FHC, a variação do PIB foi de 0,8% em 1999, 4,4% em

2000, 1,3% em 2001 e 1,9% em 2002, segundo o IBGE (2004). Se comparado ao governo anterior de

FHC, o crescimento é sensivelmente menor, ainda segundo o IBGE.

61
Lula e o PT, já em 2003, começaram a implementar reformas de Estado,
inicialmente uma reforma da previdência social, promulgada pelo presidente do
Senado, José Sarney, em 19 de dezembro de 2003. Sobre essa reforma, Antunes
afirma que

não estamos à frente de uma reforma da previdência com sentido


universal e público, que crie condições reais para que a população
trabalhadora brasileira tenha uma previdência digna de todos. Nós
estamos, na verdade, diante de uma contra-reforma da imprevidência,
de conteúdo fiscalista, que tira dos funcionários públicos para tansferir
para o sistema privado de previdência, dos fundos de pensão, que de
fato vão lucrar muito com essa reforma. Trata-se portanto de uma
reforma privatista, que incentivará o sistema financeiro do país [...]. Por
isso os bancos estão tão felizes com o início do Governo Lula. (ibidem,
p.148)

Nesse processo de reforma da previdência, os parlamentares do PT que


votaram contra a aprovação do projeto foram, posteriormente, expulsos do partido57,
o que mostra que a política não era defendida apenas por Lula, mas pela maioria do
PT.
Entendendo que essa reforma da previdência é importante, mas está inserida
na política geral do governo, Sampaio Jr observa que

o governo Lula aceitou docilmente a interdição da área econômica.


Entregou o Banco Central para o capital financeiro e o Ministério da
Fazenda para o Fundo Monetário Internacional. Afastada toda e
qualquer veleidade reformista, conformou-se em aplicar um
“melhorismo” de ocasião, integralmente subordinado à lógica do ajuste
fiscal permanente, da estabilidade da moeda e das intermináveis contra-
reformas ditadas pelos organismos internacionais (op. cit, p.75)

Como lembra o autor, nos anos seguintes, o governo seria alvo de inúmeras
acusações de corrupção, que culminou com a cassação de seu Ministro Chefe da
Casa Civil, José Dirceu, também do PT. Ainda segundo Sampaio Jr.

a direita tradicional só não move um processo de impeachment contra o


presidente por conta da força de sua política econômica junto ao grande
capital (ibidem, p.77)

57
Que então criaram o Partido Socialismo e Liberdade – PSOL (Sampaio Jr, idem).

62
Outra medida econômica que expõe a opção neoliberal é a necessidade de
superávit primário para pagamento da dívida pública, como nos mostra Lesbaupin

O superávit primário é bem maior que os 3,75% do PIB – do tempo de


FHC-: ele é, em princípio, de 4,25% mas, de fato, chega a quase 5%
(em 2005, chegou a 4,84%). Esta política exige que os investimentos em
saúde, em educação fiquem no mínimo permitido pela lei e que os
investimentos em habitação, em saneamento básico sejam baixos,
porque o fundamental do que o país produz, do que o país arrecada, tem
de ir para o pagamento da dívida (2006, p.2)

Como já observamos, o Consenso de Washington prevê reformas de Estado


que caminhem no sentido de sua liberalização. Nesse mesmo sentido, além da
reforma da previdência, o governo procurou realizar uma reforma tributária, que é
comentada da seguinte for por Lesbaupin:

A proposta de Reforma Tributária, aquela reforma que o PT sempre


havia considerado a fundamental para enfrentar a desigualdade no país,
não mexe uma vírgula na regressividade58 do nosso sistema tributário
(ibidem, p.5)

Ainda referente à sua política econômica, o autor afirma:

É verdade que interrompeu um certo ciclo de privatizações que


pretendiam atingir a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica
Federal, os Correios. Mas logo de início acertou com o FMI a
privatização dos quatro últimos bancos estaduais. E mudou o nome do
processo: propôs e conseguiu aprovar as PPP (Parcerias Público-
Privado) – que é apenas um nome diferente para a mesma realidade.
Sob o pretexto de que o país não tem recursos (!), faz-se a transferência
de recursos públicos para o setor privado ou de serviços públicos para o
setor privado. [...] a população continua a pagar impostos para obter os
serviços, o Estado os recolhe. Mas os serviços passam a ser prestados
por uma empresa privada, que cobra pelo serviço: o cidadão paga
duplamente, como contribuinte e como usuário. E a empresa privada
tem a garantia de receber o investimento de volta com lucro. Se houver
perda, o Estado garante: chama-se a isso “capitalismo sem risco”.
(ibidem, p.6)

58
“isto é, no fato de que este sistema cobra proporcionalmente mais de quem tem menos, e menos de

quem tem mais. (Lesbaupin, ibidem, p.5)

63
O autor continua, referindo-se às privatizações

[Lula] Impediu que a privatização chegasse à Petrobras. Mas não sustou


o processo de leilão de áreas de exploração do petróleo nacional para
empresas estrangeiras. Apesar da luta dos movimentos sociais,
especialmente do movimento dos petroleiros contra estes leilões, o
governo Lula anualmente garante a sua realização. (idem)

Podemos então, a partir dessas políticas adotadas pelo governo federal,


entender que “O governo Lula não aplica simplesmente a política econômica
neoliberal. Ele a defende firmemente.” (Lesbaupin, idem).
Um ponto importante lembrado por Lesbaupin, é que Lula aprofunda as
políticas compensatórias de FHC, “apesar da clara prioridade dada pelo governo Lula
ao capital financeiro” (ibidem, p.4). Segundo o autor

Certamente, o governo Lula não é uma mera cópia do governo anterior.


Vejamos: a política externa tem adotado uma postura mais independente
e ativa, [...], No entanto, seu grande objetivo é o “livre comércio” e tem
feito concessões em troca de obter reduções de subsídios para produtos
agrícolas [...]. Seus programas sociais deram continuidade aos de FHC,
mas ampliaram significativamente seu alcance, além de terem elevado
os valores (o Bolsa-Família é o melhor exemplo: passou de um máximo
de R$ 45,00 ao de R$ 95,00). Várias medidas conseguiram reduzir os
preços de produtos básicos, facilitando a vida das classes populares. [...]
No caso da agricultura, embora tenha feito uma clara opção pelo
agronegócio, não deixa de dar um apoio significativo para a agricultura
familiar [...]. O salário-mínimo tem sido aumentado um pouco acima da
inflação; embora este aumento seja pífio comparado com as antigas
exigências do PT, é verdade que é maior do que foi concedido por FHC.
(idem)

Entendemos então que há um enorme continuísmo da política de FHC. Mas


não podemos cair na análise mecânica de que Lula é simplesmente uma continuação
linear dos mandatos anteriores. Como já observamos, Lula consegue, por uma
combinação de motivos, essencialmente, a cooptação e atrelamento ao governo de
parte dos movimentos sociais, um cenário favorável na economia mundial e a própria
política proposta, agradar ao setor industrial da burguesia no país, sem deixar de ter
como prioridade a burguesia financeira e internacional (Boito Jr., 2005). E com

64
políticas compensatórias “possíveis59”, mais amplas que as de FHC, tem também um
apoio popular maior que o deste último.

ESTADO E ESPORTE

No que se refere ao esporte, a primeira medida do governo Lula foi referente à


estrutura político-organizacional do esporte no país. Através da MP n°. 103 de 1º de
janeiro de 2003, é criado o Ministério do Esporte, que teria como áreas de
competência:
a) política nacional de desenvolvimento da prática dos esportes;
b) intercâmbio com organismos públicos e privados, nacionais,
internacionais e estrangeiros, voltados à promoção do esporte;
c) estimulo às iniciativas públicas e privadas de incentivo às atividades
esportivas;
d) planejamento, coordenação, supervisão e avaliação dos planos e
programas de incentivo aos esportes e de ações de democratização da
prática esportiva e inclusão social por intermédio do esporte. (Brasil,
2003a)

Ainda nessa mesma MP, e criado o Conselho Nacional de Esporte e permite-se


que o Ministério do Esporte tenha até três secretarias – mais tarde denominadas
Secretarias Nacionais “de Esporte de Alto Rendimento”, “de Esporte Educacional” e
“de Desenvolvimento de Esporte e Lazer”. Foi nomeado para o cargo de ministro do
esporte, o então deputado federal Agnelo Queiroz (na época, PC do B-DF60), que
ocupou o cargo até 31 de março de 2006, quando se afastou para concorrer ao
senado federal, deixando como ministro interino, que depois assumiria como ministro
efetivamente, Orlando Silva Junior (PC do B).
Essa criação do ministério exclusivo para o esporte deixa pistas de como o
governo passaria a dar maior importância para essa área em seu mandato. Isso fica
claro no lançamento da Política Nacional de Esporte de 2005 onde, na página 3, o
próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que “Esta Política Nacional do

59
Para mais, ver Lesbaupin, 2006.
60
Ele se desfiliou do PCdoB em junho de 2008 (Ricardo NOBLAT, 2008)

65
Esporte constitui-se em um instrumento que transforma o esporte em uma questão
de Estado. É algo que chegou para ficar.”61 (apud Brasil, 2005a).
Ainda em 2003, foram aprovadas as já comentadas leis 10.671 e 10.672
(respectivamente Estatuto do Torcedor e Lei de Moralização dos Clubes) e em 1º de
outubro foi criada um Grupo de Trabalho Interministerial que

Art. 1º Fica instituído Grupo de Trabalho Interministerial para, no prazo


de quarenta e cinco dias contados a partir de sua instalação, avaliar e
apresentar propostas para modificar a legislação que trata das
atividades relacionadas à exploração dos jogos de bingo.
Art. 2º O Grupo de Trabalho será composto por um representante de
cada um dos seguintes órgãos:
I - Casa Civil da Presidência da República, que o coordenará;
II - Ministério da Fazenda;
III - Ministério da Justiça; e
IV - Ministério do Esporte. (Brasil, 2003e)

Tal proposta segue a tentativa de resolver um problema levantado no ano de


2000, de corrupção em torno dos bingos, que gerou a extinção do INDESP e a queda
do então ministro do esporte e do turismo, Rafael Grecca.
Nesse mesmo ano, foi criado em 18 de julho, “o Comitê de Gestão das Ações
Governamentais nos XV Jogos Pan-Americanos de 200762-PAN2007, com o objetivo
de promover a implementação das medidas necessárias à garantia da coordenação
da atuação governamental [...] para a realização do evento.” (Brasil, 2003d), com
nove Ministérios envolvidos, além da Casa Civil, o Gabinete de Segurança
Institucional e Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, ambos
da Presidência da República. Esse comitê passou a ter uma sede no Rio de Janeiro,
como uma representação do Ministério do Esporte nessa cidade, através do Decreto
de 19 de abril de 2005.
Segundo o próprio governo, o ano de 2003

61
Grifos nossos.
62
Em 24 de agosto de 2002, na Assembléia Geral da Organização Desportiva Pan-Americana

(ODEPA) a cidade do Rio de Janeiro foi eleita sede dos jogos Pan-Americanos e Para Pan-

Americanos de 2007. (Wikipedia, 2008)

66
foi caracterizado pela superação de um grande desafio - consolidar o
Ministério do Esporte (ME), numa realidade de extremo
contingenciamento e de alteração do foco da ação governamental.[...] o
que lhe fez herdar um passivo significativo de problemas e um conjunto
de programas a ser obrigatoriamente seguido (PPA 2003), embora não
representasse as prioridades do novo governo – o Ministério do Esporte
precisou enfrentar, ainda, o segundo maior percentual de
contingenciamento de recursos (superado apenas pelo Ministério da
Integração Nacional). (Brasil, 2004g)

Se em 2003 o governo foi limitado pelo PPA vigente, a partir de 2004, o


governo passa a se guiar pelo PPA 2004-2007, publicado em agosto do ano anterior.
(Brasil, 2003f).
O PPA foi dividido em três grandes “megaobjetivos”, que são: I – Dimensão
Social; II – Dimensões Econômica, Regional e Ambiental e III – Dimensão
Democrática (ibidem, p.9). Dentro desta divisão, temos programas de esporte nos
megaobjetivos I e III, principalmente neste último.
No megaobjetivo I, o esporte se insere no desafio63 3 – “Promover o acesso
universal, com qualidade e eqüidade, à seguridade social (saúde, previdência e
assistência)”, no sub-tema “Assistência”. Dentro dessa organização, o esporte seria
parte do programa “Atendimento Integral à Família”. Segundo o governo

Através da instalação de Núcleos de Atendimento Integral à Família,


procura-se instituir um espaço de referência da assistência social nos
municípios e comunidades carentes, que vai servir como organizador da
demanda e da oferta dos serviços de assistência social tendo como
referência a família.
[...] Essa Rede de Proteção Social é mais ampla do que aquela oferecida
apenas pela assistência social, e deve envolver também saúde,
previdência, educação, esporte, cultura e lazer. (ibidem, p. 76)

Vemos aqui não um programa de esporte especificamente, mas um programa


que utiliza o esporte com fins além do esporte. Esses programas acabam não tendo

63
Para cada megaobjetivo foram determinados 10 desafios (ibidem, p. 56-58).

67
política efetiva para a promoção do esporte, mas o utilizam com outras finalidades,
como no caso, o esporte fazendo parte de uma política mais ampla, mas sem ter
ainda planejamento ou diretrizes para real efetivação do esporte dentro desse
programa mais geral.
Da mesma forma, ainda no megaobjetivo I, o esporte também faz parte do
desafio 7 – “Reduzir a vulnerabilidade das crianças e de adolescentes em relação a
todas as formas de violência, aprimorando os mecanismos de efetivação dos seus
direitos.”. Neste desafio, o esporte se insere no programa “Inserção Social pela
Produção de Material Esportivo” que “desenvolverá ações destinadas à reintegração
do detento junto à sociedade, reinserção social e geração de emprego e renda em
comunidades de risco social, preferencialmente na busca do primeiro emprego.”
(ibidem, p. 88).
Esse programa faz parte de um programa mais amplo – Atendimento
Socioeducativo do Adolescente em Conflito com a Lei – e novamente mostra a
utilização do esporte como meio para outros fins, como, neste caso, “promover a
reinserção desses jovens, utilizando medidas de boa qualidade, envolvendo a
articulação, mobilização, qualificação do sistema de justiça e investimento na
capacitação profissional.” (ibidem, p.87).
É importante ressaltar que esse programa existe desde o governo anterior,
quando era apenas o projeto “Pintando a Liberdade”64 (Veronez, 2005, p.348).
Um indicador interessante de como o esporte é, nesse megaobjetivo I,
utilizado apenas como meio para efetivação de outros programas, é que, na
determinação do orçamento para cada megaobjetivo, não há referências específicas
ao esporte, que provavelmente está computado no item “outros” como podemos
observar na tabela abaixo:

Tabela 1 - Programas do megaobjetivo I, por setor


Previdência Social 695.289.259.776 70,0%
Saúde 121.565.818.976 12,2%

64
O Ministério do Esporte, a partir de 2003, cria outro projeto, o Pintando a Cidadania, que junto com

o Pintando a Liberdade, compõe o programa Inserção Social pela Produção de Material Esportivo.

68
Educação 53.584.068.511 5,4%
Assistência Social 38.851.529.894 3,9%
Transferência de Renda 30.611.390.907 3,1%
Habitação 28.204.794.314 2,9%
Saneamento 16.566.710.087 1,7%
Urbanismo 4.731.610.715 0,5%
Outros 3.748.023.715 0,4%
Total 993.153.206.895 100,0%
Fonte: Brasil, 2003f, p.42

É no megaobjetivo III que temos realmente programas para o esporte, que


tenham mesmo o esporte com objetivo e não como meio para atingir outros fins.
Utilizando o mesmo referencial que no megaobjetivo I, podemos ver que, apesar de
um orçamento muito reduzido, o esporte é uma das referencias desse megaobjetivo.

Tabela 2 – Programas do megaobjetivo III, por setor


Gestão e Aperfeiçoamento Institucional 164.353.853.311 89,7%
Defesa Nacional 8.846.169.360 4,8%
Relações Exteriores 3.298.699.657 1,8%
Segurança Pública 3.207.203.907 1,8%
Direitos da Cidadania 1.489.423.085 0,8%
Cultura 790.430.283 0,4%
Desporto e Lazer 548.474.646 0,3%
Essencial à Justiça 161.852.123 0,1%
Outros 597.428.852 0,3%
Total 183.293.535.224 100,0%
Fonte: Brasil, 2003f, p.44

Dentro desse megaobjetivo, que tem como subtítulo “Promoção e Expansão


da Cidadania e Fortalecimento da Democracia” (ibidem, p.155), temos três
programas de esporte.
O primeiro deles é o programa “Esportes de Criação Nacional e de Identidade
Cultural”, que faz parte do desafio 24 – “Valorizar a diversidade das expressões
culturais nacionais e regionais”, que parte da análise de que “A formação de um
sistema de produção cultural nacional que integre regiões, instituições culturais e que
permita acesso a todos não se completou.” E então, para que se complete, é
necessário valorizar a cultura, o que

significa desenvolver mecanismos institucionais e infra-estruturais


necessários para proporcionar acesso aos produtos culturais a um maior

69
número de pessoas, mas que também desenvolva capacidades de
produção e expressão da diversidade de culturas locais. (ibidem, p.161)

Nesse sentido, “o programa Esportes de Criação Nacional e de Identidade


Cultural deverá incentivar a prática destas modalidades esportivas, possibilitando a
difusão e o conhecimento da história do país e da história local.” (ibidem, p. 163).
O segundo programa faz parte do desafio 25 – “Garantir a segurança pública
com a implementação de políticas públicas descentralizadas e integradas”, onde o
programa Segundo Tempo é sugerido como “exemplo dos programas a serem
desenvolvidos para os jovens”, já que, ainda segundo o governo “A reduzida
participação à prática esportiva de estudantes da educação básica e superior no país
pode determinar o agravamento da situação de risco social, o não desenvolvimento
integral do ser humano [...]”. Esse desenvolvimento prejudicado do ser humano,
levaria a situações de risco e, o esporte viria a evitar essas situações.
Nesse programa, vemos novamente que o esporte não tem uma política para
si, e sim faz parte de uma política mais ampla, sendo meio para a realização de outro
programa, no caso, programas de segurança pública. Temos nessa situação não só
a visão do esporte como meio de evitar os mais diversos problemas sociais, o que é
um equivoco. É uma simplificação muito grande entender que apenas a falta do
acesso à prática esportiva que leva a um “não desenvolvimento integral do ser
humano”, já que esse desenvolvimento integral do ser humano é muito mais amplo
do que apenas a prática esportiva.
Novamente, cabe lembrar que, dadas as características desse programa, ele é
muito semelhante ao programa “Esporte na Escola”, do segundo mandato de FHC,
que tinha como objetivos beneficiar as crianças matriculadas em escolas públicas,
com práticas esportivas que não substituíssem a educação física (Veronez, 2005,
p.341).
O terceiro programa de esporte contido nesse megaobjetivo é o programa
Brasil no Esporte de Alto Rendimento, que faz parte das táticas para superação do
desfio 27- Promover os interesses nacionais e intensificar o compromisso do Brasil
com uma cultura de paz, solidariedade e de direitos humanos no cenário
internacional.

70
Dentro desse desafio,
O programa Brasil no Esporte de Alto Rendimento tem por finalidade
melhorar o desempenho do atleta brasileiro em competições nacionais e
internacionais e promover a imagem do País no exterior. O Brasil é um
país com grande diversidade de modalidades esportivas com finalidades
competitivas, mas seus resultados têm tido pouca representatividade no
cenário internacional. O apoio às equipes nacionais representativas no
esporte, além de exigência constitucional, fundamental para o incentivo
à prática esportiva e consolidação das várias modalidades, contribui
para a promoção e consolidação da imagem positiva do Brasil no
exterior. (ibidem, p. 175)

Novamente, vemos aqui a importância do esporte para outras políticas, sem


ter uma política para “fomentar práticas desportivas formais e não formais, como
direito de cada um” (Brasil, 1988).
Nesse caso, temos o esporte como suposto indicador da imagem do país no
exterior, algo semelhante ao pensamento corrente durante a guerra fria, quando EUA
e URSS lutavam pela liderança no quadro de medalhas olímpicas, como mais um
indicador de qual potência era mais forte, política seguida de perto por Cuba. Mais
recentemente, a China adotou semelhante política, chegando à liderança no quadro
de medalhas dos últimos jogos olímpicos, realizados exatamente em Beijing.65
Temos então o esporte como indicador sócio-economico, mas sem objetivos
mais específicos para a garantia do direito constitucional em relação ao esporte.
Percebe-se então que, dos cinco programas relacionados ao esporte
constantes no Plano Plurianual 2004-2007, vemos que quatro deles não tem como
objetivo central o atendimento do que a Constituição Federal de 1988 determina em
relação ao esporte, mas são utilizados como meios para atingir outros objetivos.
Além do que foi planejado dentro do texto do PPA 2004-2007, o próprio PPA
prevê orçamento para os seguintes programas: Esporte e Lazer na Cidade, Gestão
de Políticas de Esporte e de Lazer e Rumo ao Pan 2007 (Brasil, 2003g).
Ainda em 2004, através do Decreto n° 0-003 de 21 de janeiro, o governo
federal “Institui a Conferência Nacional do Esporte e dá outras providências (relativas
à Conferência)”. Tal conferência aconteceu duas vezes, nos anos de 2004 e 2006. A

65
Ou Pequim, capital da China.

71
mesma não será alvo de avaliações mais profundas deste estudo, mas cabe dizer
que as conferências tinham apenas papel consultivo, e não deliberativo. Sendo
assim, ainda que ela realmente cumprisse o papel de fazer a população discutir e
decidir sobre a política de esporte do país, isso se limitaria a ser um documento de
intenções, sem a menor necessidade de ser efetivado pelo Ministério do Esporte. E
existem também críticas sobre o efetivo caráter de debate com a população que tal
conferência obteve66.
Como continuidade da política, o governo, através de decretos e medidas
provisórias, procurou regulamentar leis aprovadas, como a lei n° 10.671 de 2003,
através do decreto n° 4.960 de 19 de janeiro, que “Cria a Comissão Nacional de
Prevenção da Violência e Segurança nos Espetáculos Esportivos – CONSEGUE”
(Brasil, 2004a). Essa comissão vem para tentar resolver um problema que já foi
apontado por este trabalho, que é a desorganização e a violência nos jogos de
futebol. Segundo o decreto n° 4960/2004

Art. 2º Para o efeito do disposto no art. 1o, compete à CONSEGUE:


I - propor medidas capazes de reduzir os índices de acidentes, violência
e criminalidade nos estádios e locais de práticas desportivas;
II - apoiar as iniciativas adotadas com base na Lei no 10.671, de 15 de
maio de 2003, que dispõe sobre o Estatuto de Defesa do Torcedor;
III - acompanhar a implantação de políticas públicas que visem à
segurança dos torcedores, bem como à adequação e melhoria dos
estádios;
IV - articular os diversos órgãos públicos e organizações da sociedade
civil para a cooperação, a troca de experiências e o desenvolvimento
regular das ações conjuntas necessárias à efetividade da política
nacional de prevenção da violência e segurança nos espetáculos
esportivos;
[...]
VII - propor e opinar sobre normas e regulamentações para o
funcionamento dos estádios e a realização de espetáculos esportivos em
condições de conforto e segurança;
[...]
IX - acompanhar a implementação das políticas propostas e colaborar
para o seu aperfeiçoamento em cada localidade ou estabelecimento
esportivo; [...] (Brasil, 2004a).

66
Como visto em panfletos e deliberações da Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física.

Disponíveis em www.exneef.org/esporte/conferencia. Acesso em: 15 ago. 2007.

72
Faziam parte da CONSEGUE dois representantes do Ministério do Esporte,
dois do Ministério da Justiça, um do Conselho Nacional de Defesa Civil e cinco
representantes da sociedade civil organizada e autoridades de notória experiência no
tema, escolhidos dentre pessoas reconhecidas por sua atuação na área de
segurança nos estádios.
Mas, como já apontamos, dos quatro exemplos de confusões e tumultos em
estádios de futebol, três aconteceram depois da publicação do decreto em questão.
Ainda depois disso, tivemos alguns dos grandes problemas em estádios de futebol
da história, como o acidente no estádio da Fonte Nova67, utilizado pelo Esporte Clube
Bahia, onde morreram sete pessoas e mais de 85 ficaram feridas. (Folha de São
Paulo, 2007a e 2007b). É evidente então que nem o Estatuto do Torcedor, nem a
CONSEGUE resolveram os problemas nos estádios de futebol ou em outros eventos
esportivos.
Além do decreto n° 4.960, há mudanças na Lei Pelé e na Lei Piva, através dos
decretos n° 5.000 e 5.139, a medida provisória n° 22968, todos de 2004.
O decreto n° 5.000, de 1º de março de 2004, revoga o decreto n° 2.574 de
1998, que regulamentava a Lei Pelé, além de outros decretos que alteravam o
revogado. A Lei Pelé volta a ter como base seu texto original, e as alterações dadas
por leis subseqüentes, mas sem a regulamentação dada pelo governo Fernando
Henrique Cardoso. As alterações que fizeram o ex-ministro Edson Arantes do
Nascimento pedir que seu nome fosse desvinculado da lei n° 9.615 de 1998 não são
tocadas por esse decreto, o que faz entender que a alteração é mais uma
preparação para próximas alterações e adequação às alterações que já tinham sido
realizadas na lei em questão, do que uma alteração de conteúdo significativo.
O próximo decreto, n° 5.139, de 12 de julho de 2004, tem por principal
objetivo, enquadrar a gestão de dinheiro recebido do Estado pelo COB e CPB nos
marcos da administração pública, como vemos no próprio texto da lei:

67
O Estádio da Fonte Nova é de propriedade do governo do estado da Bahia.
68
Convertida em lei através da lei n° 11.118 de 2005.

73
Art. 1° A aplicação dos recursos financeiros de que tratam o art. 9º e o
inciso VI do art. 56 da Lei n° 9.615, de 24 de março de 1998, destinados
ao Comitê Olímpico Brasileiro - COB e ao Comitê Paraolímpico
Brasileiro - CPB, sujeita-se aos princípios gerais da Administração
Pública mencionados no caput do art. 37 da Constituição.
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo se aplica, igualmente,
às entidades filiadas e vinculadas ao COB e ao CPB e as que venham a
receber recursos descentralizados pelos mencionados Comitês. (Brasil,
2004e)

Se por um lado, é uma atitude bastante importante, já que os Comitês em


questão, e suas entidades filiadas, lidavam com dinheiro público sem uma forma de
controle mais rígida por parte da União, por outro lado, os princípios que regem a Lei
Piva se mantém, como vemos no seguinte trecho:

Art. 11. Dos totais de recursos correspondentes ao percentual de que


trata o inciso VI do art. 56 da Lei n° 9.615, de 1998, dez por cento
deverão ser investidos em desporto escolar e cinco por cento em
desporto universitário.
§ 1 Para os fins deste Decreto, considera-se desporto escolar aquele
praticado por estudantes regularmente matriculados no ensino
fundamental e médio e desporto universitário aquele praticado por
estudantes regularmente matriculados no ensino superior.
§ 2 Consideram-se despesas com desporto escolar e desporto
universitário aquelas decorrentes das ações de que trata o parágrafo
único do art. 10.
§ 3 Dos recursos destinados ao desporto escolar e universitário de que
trata este artigo será destinado um mínimo de cinqüenta por cento à
execução dos jogos escolares nacionais e universitários nacionais.
(idem)69

Como podemos ver no artigo em questão, não só a minoria dos recursos


devem ser aplicadas no esporte educacional, ao contrário do que determina a
Constituição de 1988, como o esporte educacional é simplesmente “aquele praticado
por estudantes regularmente matriculados no ensino fundamental e médio [...] e
ensino superior” (idem).
Essa definição, somada à obrigatoriedade de se gastar no mínimo 50% dos
recursos destinados ao esporte educacional em competições, mostra que na

69
Grifos nossos.

74
verdade, esse dinheiro deve ser investido em esporte de alto rendimento para
pessoas em idade escolar ou universitária. Isso porque não há nenhuma intenção de
investir num esporte que faça parte do processo educacional, que esteja inserido no
projeto político pedagógico das escolas e universidades, mas sim de investir num
esporte para pessoas em idade escolar e universitária, coisas bastante diferentes.
Ainda, a MP n° 229 traz pequenas alterações quanto a prazos para os clubes
retirarem os recursos provenientes da Loteria Esportiva Federal, e realiza pequenas
alterações na Bolsa-Atleta, que trataremos a seguir.
Por fim, a outra importante lei de 2004 foi a de n° 10.891 de 9 de julho, que
“Institui a Bolsa-Atleta.”(Brasil, 2004d), que é “destinada aos atletas praticantes do
desporto de rendimento em modalidades olímpicas e paraolímpicas, bem como
naquelas modalidades vinculadas ao Comitê Olímpico Internacional - COI e ao
Comitê Paraolímpico Internacional” e “garantirá aos atletas beneficiados valores
mensais correspondentes ao que estabelece o Anexo I desta Lei”70 (ibidem, Art.1°)
Podemos ver então que é mais uma lei destinada ao esporte de alto
rendimento, seja no mais alto nível, dito olímpico e paraolímpico pelo governo, ou na
sua base, o que seria o esporte escolar.
A partir do ano de 2005, começam a tomar conta do debate nacional a criação
de duas leis para o financiamento do esporte nacional, a Timemania e a Lei de
Incentivo ao Esporte. Nesse mesmo ano, o governo aprova a MP n° 249, que

Dispõe sobre a instituição de concurso de prognóstico destinado ao


desenvolvimento da prática desportiva, a participação de entidades
desportivas da modalidade futebol nesse concurso, o parcelamento de
débitos tributários e para com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
- FGTS, e dá outras providências. (Brasil, 2005d).

Tal medida era alvo de críticas tanto do setor mais conservador,


especialmente o dos clubes de futebol, quanto do setor mais progressista.
Os clubes de futebol não gostaram da MP porque condicionava o recebimento
de verbas de tal concurso de prognósticos ao saneamento das dívidas da entidade

70
Grifos nossos.

75
com qualquer órgão ou entidade pública. Enquanto isso não acontecesse, o dinheiro
iria ser revertido diretamente para pagar tal divida, sem chegar ao clube.
Já os setores mais a esquerda criticavam o projeto por criar uma forma de os
clubes pagarem suas dívidas com o dinheiro do povo, que não tem nenhuma
responsabilidade em tais dívidas, como podemos ver em documento público da
Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física - ExNEEF:

Para melhor refletirmos sobre a lei71, alguns pontos são importantes:


quem está devendo, para quem estão devendo, quem está pagando a
dívida e qual é a prioridade. No nosso entendimento, a dívida é dos
clubes de futebol com o Governo brasileiro, logo, com o povo brasileiro.
Com a lei quem vai pagar essa dívida, é o próprio povo brasileiro. Fica
uma lógica inversa, onde o credor paga a dívida em doses
homeopáticas. Além disso, poderíamos questionar ainda a preferência
em investir dinheiro e estrutura pública no que dá maior lucro, no caso o
esporte de rendimento (2007, p.1).

Em 2005, essa medida provisória foi revogada menos de dois meses depois,
pela MP n° 254, de 29 de junho, convertida na lei n° 11.186 em 19 de outubro do
mesmo ano. O principal fator para essa não aprovação do concurso de prognósticos
popularmente conhecido como “Timemania”, foi a pressão da “bancada da bola”, que
nunca deixou de atuar no Congresso. Dessa vez, a decisão foi adiada para o ano
seguinte, e em 14 de setembro de 2006, foi aprovada a lei n° 11.345, que criava o
Timemania.
Nesse embate com os clubes de futebol, dessa vez o governo saiu-se
vitorioso, e aprovou a lei com conteúdo muito semelhante ao da MP n° 249, mas de
forma mais detalhada. De qualquer forma, o ponto central de desavenças entre o
setor privado mais conservador e o governo ainda é a destinação automática dos
recursos para pagamentos das dívidas com órgãos estatais, especialmente a
seguridade social.
A esquerda, como vimos na nota da ExNEEF, apresentou discordâncias, mas
não conseguiu organizar-se para evitar tal aprovação, já que o interesse dos clubes
de futebol, associado ao interesse da grande mídia, tinha muita força no Congresso.

71
O documento foi republicado após a aprovação da lei n° 11.345/2006, que aprovava a Timemania.

76
A lei entra em vigor em 2006, mas teria ainda de ser regulamentada:

Art. 16. O Poder Executivo regulamentará esta Lei, inclusive quanto aos
critérios para participação e adesão de entidades desportivas da
modalidade futebol e ao prazo para implantação do concurso de
prognóstico. (Brasil, 2006a)

Tal regulamentação só aconteceria através do decreto n° 6.187, em 14 de


agosto de 2007, mantendo o conteúdo central da lei, e ainda garantindo um
desequilíbrio na distribuição dos recursos, onde os clubes que disputam o
campeonato brasileiro recebem maiores verbas quanto maior for a sua série no
campeonato, tendo como maior a série A e menor os campeonatos estaduais, para
quem não disputa o campeonato brasileiro.
Sobre a Timemania, Pasquim, Costa e Firmino (2008, p.1-2) têm no seu artigo
uma opinião de Elio Gaspari muito precisa:

“Elio Gaspari destacou muito bem o recorte econômico que existe entre
quem paga e quem é beneficiado pela Timemania, ou PróCartola. Para
ele, a política "Destina-se a tomar dinheiro do andar de baixo para cobrir
delinqüências fiscais da cartolagem dos clubes de futebol". E continua,
em "cada dez apostadores das loterias federais, oito têm renda inferior a
três salários mínimos" (Folha de S. Paulo, 19/08/07)”

Os autores afirmam também que “A Timemania não se propõe a problematizar


qualquer questão sobre o estímulo da prática viciosa do jogo, pelo contrário dá a
esse um caráter voluntarioso” (Pasquim, Costa e Firmino, ibidem, p.2)
Além dessa lei, a outra lei que gerou grandes debates no ano de 2006 foi a Lei
de Incentivo Fiscal72. Essa lei gerou grandes debates e reclamações por parte do
setor mais a esquerda novamente, e também pelos diversos setores ligados à
cultura. Esses últimos argumentavam que, com essa lei aprovada, o montante de
recursos destinado através da Lei Rouanet, que é exatamente uma lei de incentivo
fiscal para a cultura nacional, diminuiria drasticamente, em favor dessa nova forma
de abatimento de impostos.

72
Lei n° 11.438 de 29 de dezembro de 2006.

77
Já os setores mais a esquerda questionavam a efetividade dessa lei no
incentivo do esporte como direito de todos. Pasquim, Costa e Firmino afirmam:

A Lei de Incentivo ao Esporte, n° 11.438/06, não é menos perversa. Ela


permite que patrocínios e doações para a realização de projetos
esportivos sejam descontados do Imposto de Renda devido por pessoas
físicas e jurídicas. [...]
A lei que incentiva o esporte preferido dos cartolas, o de ganhar dinheiro,
se pretende focalista73, diz que seus projetos deverão ser "realizados,
preferencialmente em comunidades de vulnerabilidade social", mas não
determina nenhuma prioridade ao esporte dito "educacional", imposição
feita pela Constituição Federal, mesmo quando reivindicam
investimentos no "esporte de base", nada mais é do que base para o alto
rendimento.
Pode se supor que dependerá da boa vontade de cada projeto
desenvolver ações em comunidades de maior vulnerabilidade social.
Pior, a forma como estão redigidos o art. 9 da Lei de Incentivo e o art.
217 da Constituição permitem que todo projeto possa ser considerado
de "inclusão social" e "educacional", com a justificativa de que o esporte
é uma atividade naturalmente cidadã, que afasta das drogas e tira
crianças das ruas, conforme visão idealista do esporte. (ibidem, p.4)

Ainda segundo os autores

A Timemania e a Lei de Incentivo ao Esporte se complementam. Com


dívidas os clubes não tinham acesso a Certidão Negativa de Débito de
Tributos e Contribuições Federais – CND, e por isso não poderiam obter
incentivos fiscais ou patrocínios públicos, mas agora eles terão acesso a
esse dinheiro. [...]
As duas políticas apresentam um caráter neoliberal claro, não
solucionam ou tampouco contribuem com a solução do não
financiamento [...] da cultura corporal, mas dão fôlego novo ao grande
capital, principalmente para a burguesia nacional. Essas políticas não
acontecem apenas em âmbito federal, [...] elas estão sendo
incorporadas como modelo de financiamento e privatização do esporte
de maneira generalizada [...] (ibidem, p.3 e 5).

Como última lei relevante do período em questão, temos o decreto n° 0-002 de


1° de novembro de 2006, que “Institui Grupo de Trabalho Interministerial para
elaboração de projeto de políticas públicas de competência do Governo Federal,

73
O focalismo é uma tendência neoliberal, que sob a lógica do cobertor muito curto, reduz todo direito

de universal para focalizado. (ibidem, p.4)

78
visando à candidatura do Brasil como sede da Copa do Mundo de Futebol de 2014”
(Brasil,2006b).
Vemos nesse decreto mais uma face da política do governo Lula, que é a de
trazer para o país grandes eventos esportivos, com o intuito de fomentar o interesse
público pelo esporte. Tivemos o Pan-Americano de 2007, a candidatura do Rio aos
Jogos Olímpicos de 2012, e, por esse decreto, a candidatura para sediar a Copa do
Mundo de Futebol de 2014, candidatura essa vencedora.
Cabe então o questionamento sobre a efetividade de tais eventos para o
interesse público em esportes ou na herança de suas estruturas. Após o Pan-2007
no Rio de Janeiro, não existe nenhuma pesquisa, artigo ou mesmo dados do governo
que apontem esse aumento de interesse da população por esportes. Será então que
o motivo é mesmo esse, ou é a quantidade de dinheiro que tais eventos fazem
circular entre obras, passagens aéreas, estadias em hotéis e outros.
Depois dessa exposição, podemos perceber que o foco do governo, em
nenhum momento, foi o esporte educacional ou de participação. O Plano Plurianual
dá grande ênfase ao esporte como meio de se atingir outras políticas, como melhoria
de condições de vida de comunidades carentes, reabilitação de indivíduos em
conflito com a lei e demonstração de força econômica perante os outros países.
Já as leis aprovadas são em sua absoluta maioria destinadas ao esporte de
alto rendimento. Mesmo quando se referem ao esporte educacional, é como esporte
de base do alto rendimento, e não como esporte realmente em concordância com
sistema educacional, seja como parte integrante dele, seja o completando.

3.4 Os gastos do Ministério do Esporte no mesmo período

Como este trabalho se propõe, vamos expor agora os dados obtidos sobre
gastos do governo federal com o esporte no período.
É importante já apontarmos algumas limitações encontradas. Não conseguimos
encontrar os gastos detalhados do Ministério do Esporte no ano de 2003, no site
“Transparência Brasil”, onde encontramos os dados detalhados dos anos posteriores.

79
Também não estamos incluindo no estudo os gastos das empresas estatais74
com patrocínio esportivo. Tal exclusão não deve comprometer o estudo, mas deixará
de contar uma soma considerável para o esporte de alto rendimento.
Analisando o Plano Plurianual e seu primeiro relatório, que conta com algumas
“peculiaridades”, segundo o próprio governo:

As peculiaridades do primeiro ano de implementação do Plano


Plurianual manifestam-se no relatório ora encaminhado. Por não haver
completado um exercício de não são apresentados dados de execução
física e financeira dos programas e ações do Plano. (Brasil, 2004h, p.7)

Utilizamos então esses dois documentos para procurar perceber o


planejamento do governo. Obtivemos os seguintes dados:

Quadro 5: Previsão de gastos com esporte no PPA – em R$

Previsão de
Previsão de gastos Previsão de gastos: Período
Programa PPA 2004-2007 gastos LOA 2004 2005-2008
0181 – Brasil no Esporte de Alto
Rendimento 171.486.724,00 23.162.429,00 91.331.033,00
1250 – Esporte e Lazer na Cidade 392.677.045,00 216.205.169,00 100.225.144,00
1255 – Esportes de Criação Nacional
e Identidade Cultural 4.245.941,00 1.500.000,00 0,00
0413 – Gestão das Políticas de
Esporte e de Lazer 10.141.032,00 1.743.750,00 20.742.952,00
2494 – Realização dos Jogos dos
Povos Indígenas * Não é citado 0,00 4.869.444,00
1245 – Inserção Social pela Produção
de Material Esportivo 58.186.368,00 15.785.368,00 66.193.261,00
1246 – Rumo ao Pan 2007 260.051.242,00 30.000.000,00 142.654.443,00
8028 – Segundo Tempo 226.222.908,00 42.227.000,00 201.386.782,00
Fonte: Brasil (2004h, 2004i e 2004j)

Para entender melhor esses números, é importante salientar que, na primeira


avaliação do PPA 2004-2007 (Brasil, 2004i e 2004j), foram também implementadas
alterações no próprio plano como a inclusão dos jogos indígenas.

74
Principalmente a Caixa Econômica Federal, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, a

Petróleo Brasileiro S.A. e o Banco do Brasil.

80
Posto isso, e desconsiderando um debate aprofundado sobre cada programa
do governo, podemos observar que, nas duas previsões mais amplas (2004 a 2007 e
2005 a 2008), os maiores gastos são os do esporte de alto rendimento75. No
planejamento inicial, esses gastos representam 38,43% do total, contra 34,97% no
que seria esporte de participação76 e 20,14% no esporte educacional77.
Os outros programas não entraram nessa definição; o programa “Gestão de
Políticas de Esporte e de Lazer” engloba ações das três manifestações do esporte,
assim como o programa “Esportes de Criação Nacional e Identidade Cultural” e são
responsáveis por 0,9% e 0,38% dos gastos planejados, respectivamente. Já o
programa “Inserção Social pela Produção de Material Esportivo”, responsável por
5,18% dos gastos planejados, é um programa de reabilitação de pessoas com
problemas com a justiça, que utiliza a produção de material esportivo como meio,
não se encaixando em nenhuma das manifestações propostas pelo ministério. Por
fim, os “Jogos Indígenas” são de difícil classificação também; apesar de serem jogos
competitivos, e de rendimento, são também ações de afirmação cultural, e educação.
Nesse primeiro momento, nem faziam parte do planejamento do governo.
Se considerarmos a alteração no PPA, levando em conta o planejamento de
2005 a 2008, o esporte de alto rendimento ainda é o que mais gastaria, com 37,29%
do total. A maior mudança acontece com o esporte educacional, que aumenta mais
de 10%, indo para 32,1% do total, seguido pelo esporte de participação, com
15,97%, quase metade do planejamento inicial.
De forma contraditória ao seu planejamento, na Leio Orçamentária Anual de
2004, a maior parte das verbas foi aprovada para o programa “Esporte e Lazer na
Cidade”. Essa aprovação pode ter sido responsável pela, na reavaliação do PPA,
redução dos gastos pretendidos nesse programa, ainda que todo o orçamento do
esporte tenha sido reduzido na reavaliação, o que é coincidente com o programa de
superávit primário e redução de gastos do Estado por parte do governo federal.

75
Considerando aí também os gastos com os jogos Pan-Americanos de 2007
76
Considera-se o programa Esporte e Lazer na Cidade
77
Considera-se o programa Segundo Tempo

81
Ainda de acordo com as avaliações do PPA publicadas nos anos seguintes,
podemos observar os gastos pretendidos para cada ano do PPA desse primeiro
mandato, e o seu gasto efetivo;

Quadro 6: Previsão e execução orçamentária com esporte – em R$

Gastos
Programa
2004 % 2005 % 2006 %
0181 Brasil Previsto 23.780.567 6,39 53.756.000,00 8,15 22.889.000,00 2,29
no Esporte
de Alto Realizado 10.087.576 4,09 31.244.755,00 7,85 22.063.917,00 3,14
Rendimento
1250 Previsto 215.625.169,00 57,91 365.948.600,00 55,50 377.172.325,00 37,68
Esporte e
Lazer na Realizado 133.129.446,00 53,94 219.852.834,00 55,21 266.599.249,00 37,88
Cidade
1255
Previsto 750.000,00 0,20 0,00 0,00 0,00 0,00
Esportes de
Criação
Nacional e
Realizado 550.000,00 0,22 0,00 0,00 0,00 0,00
Identidade
Cultural
0413
Previsto 1.693.762,00 0,45 7.854.000,00 1,19 7.306.141,00 0,73
Gestão das
Políticas de
Esporte e Realizado 1.253.685,00 0,51 3.549.954,00 0,89 7.456.755,00 1,06
de Lazer
2494 Previsto 0,00 0,00 800.000,00 0,12 800.000,00 0,08
Realização
dos Jogos
dos Povos Realizado 0,00 0,00 800.000,00 0,20 602.966,00 0,09
Indígenas
1245
Inserção Previsto 10.067.000 2,70 14.485.000,00 2,20 20.972.711,00 2,10
Social pela
Produção
de Material Realizado 9.626.483 3,90 12.402.758,00 3,11 19.167.542,00 2,72
Esportivo
1246 Rumo Previsto 49.600.000,00 13,32 57.390.000,00 8,70 423.957.488,00 42,35
ao Pan
2007 Realizado 43.372.977,00 17,57 6.400.933,00 1,61 257.079.257,00 36,53
8028 Previsto 70.823.850,00 19,02 159.086.737,00 24,13 147.930.841,00 14,78
Segundo
Tempo Realizado 48.796.593,00 19,77 123.974.271,00 31,13 130.789.007,00 18,58
Previsto 372.340.348,00 100,00 659.320.337,00 100,00 1.001.028.506,00 100,00
Total
Realizado 246.816.760,00 100,00 398.225.505,00 100,00 703.758.693,00 100,00
Fonte: Brasil (2005h, 2007a, 2007b e 2007c))

82
A partir deste quadro, podemos observar que, novamente, o esporte
educacional foi a última prioridade do governo. Em todos os anos o programa
Segundo Tempo teve menor orçamento previsto que o programa Esporte e Lazer na
Cidade, e em dois dos três anos, menor que a soma dos programas Rumo ao Pan
2007 e Brasil no Esporte de Alto Rendimento, voltados para o alto rendimento.
Se considerarmos o montante de R$ 1.348.800.958,00, total realizado nos três
anos em questão, dos quatro principais programas, que consumiram em conjunto
95,89% do orçamento efetivado, o que menos recebeu verbas foi o programa Brasil
no Esporte de Alto Rendimento, com 4,7% do total realizado no período. Em
compensação, o outro programa voltado para o esporte de alto rendimento, Rumo ao
Pan 2007, foi o segundo que mais recebeu verbas: 22,75% do total. Em terceiro
temos o programa Segundo Tempo, com 22,51% e com mais verbas no período, o
programa Esporte e Lazer na Cidade, com 45,94% do total.
Outro dado interessante é a variação do orçamento total do ministério do
esporte por ano.

Gráfico 1: Evolução do orçamento em Ministérios de Estado – em R$ 10.000.000,00


100.000,00
73.243,02 R$ 89.054,49 R$ 93.782,69

10.000,00
Total Destinado (x R$ 10.000.000,00)

1.921,56
1.489,26 1.595,70

1.000,00
1.114,47 1.036,73 1.201,20

100,00

10,00
4,07 11,22
3,62

1,00
2004 2005 2006
Ano

Total Destinado em Âmbito Nacional Ministério do Esporte


Ministério da Saúde Ministério da Educação
Fonte: Brasil, 2008.

83
A variação desse orçamento é sempre positiva e bastante acentuada, como
podemos ver no gráfico 1. Para efeito de comparação, colocamos os dados de outros
dois ministérios ligados à área da educação física, o ministério da saúde e o da
educação.
É óbvio no gráfico que o aumento no orçamento do ministério do esporte é
muito superior, proporcionalmente, ao aumento nesses outros ministérios, e mesmo
ao aumento do total destinado em âmbito nacional. Do ano de 2005 para o ano de
2006, o aumento no orçamento do ministério do esporte é de 175,5%, enquanto o
aumento no orçamento total é de 5,3%. Ainda como comparação, o aumento para o
ministério da educação é de 20,4% e o da saúde, que havia sido reduzido no ano
anterior, é de 15,9%.
Isso pode ser um indicador do aumento da importância do esporte como política
de Estado, como o próprio presidente Lula disse, ao comentar a Política Nacional de
Esporte: “Esta Política Nacional do Esporte constitui-se em um instrumento que
transforma o esporte em uma questão de Estado. É algo que chegou para ficar.”
(apud Brasil, 2005a).
Ainda que não seja o objetivo central deste estudo, alguns dados mais
detalhados de alguns programas serão expostos a seguir, pois apontam importantes
debates.
O primeiro quadro, aponta os gastos na principal ação do programa Esporte e
Lazer na Cidade.
Quadro 7: Montante de recursos da ação 5450 - Implantação de Núcleos de Esporte

Recreativo e de Lazer, por beneficiado – em R$

78 79
Transferência de Recursos Aplicação Direta
Beneficiado
2004 2005 2004 2005
Prefeituras 96.112.079,78 48.921.394,51 0,00 0,00
Governos estaduais 4.608.866,66 1.864.672,00 0,00 0,00

78
“Gastos diretos do governo federal com contratação de obras e compras governamentais, entre

outros” (Brasil, 2008)


79
“Repasses dos recursos públicos federais para estados, municípios, Distrito federal e diretos ao

cidadão” (ibidem)

84
Outros órgãos públicos 0,00 0,00 369.023,84 0,00
Entidades do 3º setor 1.730.532,20 971.540,00 0,00 0,00
Entidades privadas 2.217.500,00 0,00 0,00 0,00
Fonte: Brasil, 2008..

A partir desses dados, podemos perceber que uma parte importante do


orçamento do ministério do esporte foi repassado para prefeituras – 38,9% do total
efetivado em 2004 e 12,3% em 2005. Esse repasse é bastante desigual, e não foi
encontrado o critério para o repasse. Se levarmos em conta o número de habitantes,
em 2004, temos alguns municípios que receberam quantias superiores a R$100,00
por habitante80, como Cabeceiras – GO (R$ 121,03), Rio das Flores – RJ (R$
114,36) e outros que receberam muito menos, como São Vicente – SP (R$ 0,76),
Sorocaba – SP (R$ 0,21) e São Paulo – SP (R$ 0,008).
Outros dados interessantes se referem ao montante recebido pelas forças
armadas81 do Brasil, como parte do programa Segundo Tempo, como podemos ver
abaixo:

Quadro 8: Total de recursos do Programa Segundo Tempo destinados às forças armadas –

em R$

Aplicação Direta de Recursos do Governo


Ações do Programa Segundo Tempo 2004 2005
Forças Forças
Total Armadas Total Armadas
2626 - Promoção de Eventos de
Esporte Educacional 452.142,37 441.362,80 168.091,93 155.972,63
4377 - Funcionamento de Núcleos de
Esporte Educacional 3.224.749,80 3.224.749,80 0,00 0,00
5069 - Implantação de Infra-estrutura
para o Desenvolvimento do Esporte
Educacional 1.141.170,26 141.170,26 364.539,31 330.979,18
Fonte: Brasil, 2008.

80
Número de habitantes de cada município de acordo com o Censo 2008 do IBGE.
81
Ministério da Defesa, Comando da Marinha, Comando da Aeronáutica e Comando do Exército.

85
Podemos observar que a aplicação direta dos recursos de algumas ações
foram destinados, quase que na sua totalidade, para as forças armadas. Chama
atenção também o total destinado a esse setor em 2004, que equivale a 7,8% de
todo o orçamento efetivado no programa Segundo Tempo e a 1,54% de todo o
orçamento efetivado pelo ministério naquele ano. Em 2005 o montante total foi
menor, sendo 2,15% do total do programa Segundo Tempo e 0,67% de todos os
gastos neste ano.

86
4 Conclusões

Nesse trabalho, a proposta foi a de estudar as políticas do primeiro mandato do


presidente Luis Inácio Lula da Silva para o esporte. Entendemos que, desde a sua
inclusão na constituição federal de 1988, o esporte vem passando por
transformações, e com a eleição de um governante de um partido que fora de
oposição a todos os presidentes da década de 1990, poderíamos ter tido mudanças
na forma como se dá a relação entre Estado e esporte, nas políticas públicas para o
esporte.
Até a eleição de Lula, tínhamos uma relação onde, segundo Veronez (2005,
p.358) “No jogo entre o público e o privado, no período abordado por este estudo,82 é
evidente que o Estado joga a favor do privado”.
Como meio de tentar definir se houve ou não mudanças nessa relação, nos
propusemos a avaliar a legislação debatida e aprovada nos anos de 2003 a 2006,
como forma de procurar abordar os temas que vinham dominando os debates no
congresso nacional. Além disso, procuramos avaliar como se estruturou a estrutura
administrativa do esporte em nível federal. E também, estudamos os gastos do
governo federal no período, como uma tentativa de definir as prioridades do mesmo
durante essa gestão, imaginando que as políticas que receberam mais investimentos
seriam prioritárias.
A primeira conclusão que podemos chegar é que o governo aumentou a
importância do esporte como política de Estado, criando um ministério exclusivo para
esse setor, logo no início de seu mandato. Além disso, o orçamento para o esporte
aumentou consideravelmente no período. De 2004 a 2006, o repasse ao ministério
do esporte aumentou 210%, enquanto o total aumentou em 28%. Esse aumento
bastante acentuado mostra que o esporte virou uma questão de Estado, o que foi
dito pelo próprio presidente no lançamento da Política Nacional de Esporte, em 2005
(Brasil, 2005a).

82
De 1988 até 2002

87
Além disso, é difícil concluir precisamente outras coisas, mas podemos ter
alguns apontamentos.
Primeiramente, vemos, a partir das leis debatidas e aprovadas, um continuísmo
marcante: não foi, em nenhum momento, debatida uma legislação infraconstitucional
para regulamentar o “dever do Estado de fomentar práticas desportivas formais e não
formais, como direito de cada um” (Brasil, 1988, p. 104). Todas as principais leis
debatidas no período, tinham como tema o esporte de alto rendimento, com uma
ênfase clara para o futebol, como podemos ver com as alterações à Lei Pelé, com a
criação da Timemania e com a criação, através de decreto, de um Grupo de Trabalho
Interministerial, visando à candidatura do Brasil como sede da Copa do Mundo de
Futebol de 2014. No mesmo período, pleiteamos sediar outras competições
internacionais de grande porte, com alguns sucessos, como a Copa do Mundo de
Futsal de 2008, campeonatos mundiais de basquete, ginástica olímpica, mas em
nenhum caso, com um Grupo de Trabalho Interministerial criado para tais fins.
Essa preferência dada ao futebol pode ser justificada por ser o esporte mais
popular no Brasil, e com maior mercado consumidor.
Outra característica que essa candidatura a sede da Copa do Mundo de Futebol
de 2014 demonstra, é o investimento do governo em grandes eventos. Tivemos no
período em questão, a cidade do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Pan-
Americanos de 2007, e candidata a sediar os Jogos Olímpicos de 2012, quando foi
vencida por Londres, Inglaterra. Esses grandes eventos podem ser entendidos como
grandes espetáculos, e, segundo Bracht o espetáculo é característica central do
esporte de alto rendimento hoje, principalmente pela “transformação do esporte em
mercadoria veiculada pelos meios de comunicação em massa” (2003, p.17). Como
se pode imaginar, a maioria da população brasileira não acompanhou os Jogos Pan-
Americanos de 2007 in loco, seja porque os locais dos eventos têm limitação de
público, e a população brasileira é muito superior à essa limitação, seja porque os

88
ingressos tinham preços bastante altos83, chegando a mais de 30% do salário
mínimo do período84.
Observando agora os gastos do ministério do esporte no período analisado,
podemos concluir, primeiramente, que, assim como no período anterior, a
constituição federal não foi seguida; apesar do inciso II do art. 217 afirmar que o
investimento é prioritário no esporte educacional, o que se viu foi que, das três
manifestações desportivas, essa foi a que recebeu menores investimentos, o que é
uma forte marca de continuísmo da política esportiva dos governos anteriores.
Por outro lado, nesse governo, os maiores investimentos do ministério do
esporte se destinaram ao esporte de participação, o que é uma mudança em relação
ao período anterior. Ainda assim, o esporte de alto rendimento não teve verbas muito
menores que as daquela manifestação.
Para podermos chegar em conclusões mais precisas, outros estudos são
necessários. É importante avaliar de forma pormenorizada os gastos do ministério,
para definir se esse gasto dos programas Segundo Tempo e Esporte e Lazer na
Cidade não são gastos voltados para o alto rendimento. Em alguns casos, como a
ação “Participação de Delegação Brasileira em Competições Internacionais de
Esporte Educacional”, a atividade pertence a um dos programas citados, no caso o
Segundo Tempo, mas a sua política é, na verdade, uma política de esporte de alto
rendimento. Nesse caso específico, de competições internacionais, mesmo que
escolares ou universitárias, são de altíssimo nível técnico, e em geral não têm
nenhuma relação com o projeto político-pedagógico das escolas que delas
participam. Isso acontece ainda no caso dos Jogos Escolares Brasileiros e dos Jogos
Universitários Brasileiros, mas seus custos fazem parte do programa Segundo
Tempo também.
No programa Esporte e Lazer na Cidade, seria importante avaliar os projetos
das prefeituras municipais que recebem verbas do ministério para instalação e

83
Chegando a R$ 120,00 para competições e R$ 250,00 para cerimônias de abertura e fechamento

(TERRA, 2007).
84
Segundo a lei n°11.498 de 2007, o salário mínimo passou a valer R$ 380,00. (BRASIL, 2007d)

89
manutenção de núcleos de esporte recreativo e de lazer. A grande maioria da verba
destinada a esse programa é gasta com essas duas ações. Seria importante um
estudo mais profundo para saber se realmente os núcleos construídos e mantidos
como dinheiro do ministério são realmente utilizados para o esporte de participação,
ou se também são utilizados para esporte de rendimento. Além disso, como
mostramos, seria interessante ter mais claro os critérios de distribuição dessa verba,
dados os desequilíbrios de repasse, com cidades recebendo mais de R$ 100,00 por
habitante, e outras recebendo menos de R$0,01 por habitante.
Por fim, uma conclusão possível, a partir dos dados do estudo, é que a relação
do governo de Lula com o de Fernando Henrique Cardoso no que diz respeito à
política pública de esporte, é semelhante à relação entre as políticas econômicas.
Segundo Boito Júnior

Não é exato afirmar, genericamente, que o Governo Lula é uma


continuidade pura e simples do Governo FHC. O que ocorre é que o
Governo Lula amplia e dá nova dimensão ao que foi iniciado no segundo
mandato de FHC. (2005, p.74).

O autor se refere aqui à política econômica, mas podemos estender esse


pensamento à política de esporte sem prejuízos ou equívocos. O governo Lula
investiu muito mais que FHC nas políticas para o esporte de participação, esse
investimento necessita de mais estudos para uma avaliação de o quanto ele
realmente é voltado para o esporte de participação. Mas se levarmos em conta as
leis aprovadas no período, é correto imaginar que esse dinheiro tenha sido gasto
mais com esporte de base para o alto rendimento, e menos com o esporte “como
atividade de lazer”85 (Bracht, 2003, p.16). Além disso, muito desse investimento vem
no sentido idealizado do esporte como atividade capaz de, sozinha, mudar a vida de
pessoas em situação de vulnerabilidade social, exatamente como o PPA 2004 –
2007 coloca a maioria dos programas de esporte.

85
“Neste caso é fundamental atentar para a palavra atividade, uma vez que o esporte pode ser vivido

enquanto lazer (...) na perspectiva do espectador do esporte de alto rendimento (...)” (ibidem, p.16)

90
Enfim, podemos concluir por enquanto, ainda que novos estudos sejam
necessários,
que o Governo Lula, através do Ministério do Esporte, cedido ao PCdoB
desde sua criação, no primeiro mandato, é um marco sem precedentes
de reorganização do esporte no país. É através dele que políticas
públicas, antes secundarizadas, são orientadas no sentido de um projeto
neoliberal sólido para o esporte. Faz isso partindo de um tripé: (1)
massificação de um olhar idealista do fenômeno, (2) super-valorização
do esporte "de rendimento" e (3) reformas dentro do Estado Brasileiro.
(PASQUIM, COSTA e FIRMINO, 2008, p.1)

Dessa forma, é bastante razoável concluir que no governo Lula a política de


esporte passou a ser muito mais importante que em governos anteriores, mas a sua
essência é a mesma do governo FHC e dos seus antecessores, de favorecer os
grandes clubes e o mercado, ou seja, o setor privado do esporte nacional e
internacional, deixando para o povo a idealização do esporte como possibilidade de
melhora de condição de vida sem necessidade de outras políticas públicas como
educação e saúde, por exemplo, e o espetáculo do esporte de alto rendimento a ser
visto na grande mídia.

91
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGÊNCIA FOLHA. Venda dos ingressos do jogo do São Paulo causa tumulto no
Morumbi. Folha de São Paulo. São Paulo, 23 de fevereiro de 2004. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/esporte/ult92u72058.shtml>. Acesso em: 30 de
set. 2008.

_____________. Atraso gera tumulto e fila de 30 horas no Mineirão. Folha de São


Paulo. São Paulo, 11 de junho de 2008. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/esporte/ult92u68410.shtml>. Acesso em: 30 set.
2008.

ALMEIDA, M. A. B. de. Lazer no Estado Novo e os usos do tempo livre. Revista


Digital EFDeportes, Buenos Aires, Ano 11, n. 98, julho de 2006. Disponível em:
<http://www.efdeportes.com/efd98/tlivre.htm>. Acesso em: 20 set. 2008.

ALVES, W. F. Educação Física e as idéias pedagógicas no Brasil: uma breve análise


das concepções que embalaram o século XX e suas repercussões na formação do
professor. Revista Digital EFDeportes, Buenos Aires, Ano 9, n. 61, junho de 2003.
Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd61/brasil.htm>. Acesso em: 30 jul.
2007.

ANTUNES, R. A desertificação neoliberal no Brasil (Collor, FHC e Lula). 2 ed.


Campinas: Autores Associados, 2005. 172p.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977

BAUMANN, R. Brasil en los años novienta: Una economía en transición. Revista de


la CEPAL. n. 73, p. 149-172, abril de 2001, versão digital. Disponível em:
<http://www.eclac.cl/cgi-

92
bin/getProd.asp?xml=/publicaciones/xml/6/6326/P6326.xml&xsl=/revista/tpl/p9f.xsl&b
ase=/revista/tpl/top-bottom.xslt>. Acesso em: 13 set. 2007.

BOITO JUNIOR, A. A burguesia no Governo Lula. Revista Crítica marxista. Rio de


Janeiro, v. 21, p. 52-77, 2005.

BORGES, E. de C.; BUONICORE, A. C. Memória do Esporte Educacional


Brasileiro: breve história dos Jogos Universitários e Escolares. 1. ed. São Paulo:
Centro de Estudos e Memória da Juventude, 2007.

BOUDENS, E. A Lei Pelé Não Existe Mais. Brasília: Câmara dos Deputados, 2000.
66 p. Disponível em:
<http://apache.camara.gov.br/portal/arquivos/Camara/internet/publicacoes/estnottec/
pdf/010766.pdf>. Acesso em: 20 set. 2008.

BRACHT, V. A constituição das teorias pedagógicas da educação física. Cadernos


CEDES. Campinas, ano 19, n. 48, 1999. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
32621999000100005&lng=&nrm=iso>. Acesso em: 20 set. 2008.

_____________. Sociologia Critica do Esporte: uma introdução. 2. ed. Ijuí:


Editora Ijuí, 2003, 136p.

BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil: Rio de Janeiro, 16 de


Julho de 1934. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao34.htm>. Acesso em:
2 ago. 2007.

______ Constituição dos Estados Unidos do Brasil. Rio de Janeiro, 10 de


novembro de 1937. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao37.htm>. Acesso em:
2 ago. 2007.
93
______ Decreto-Lei n° 3.199, de 14 de Abril de 1941. Rio de Janeiro, 1941.
Disponível em: <http://www6.senado.gov.br/sicon>. Acesso em: 2 ago. 2007.

______ Decreto-Lei n° 3.617, de 15 de Setembro de 1941. Rio de Janeiro, 1941b.


Disponível em: <http://www6.senado.gov.br/sicon>. Acesso em: 2 ago. 2007.

______ Decreto n° 19.928, de 14 de novembro de 1945. Rio de Janeiro, 1945.


Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=2317>. Acesso
em: 6 ago. 2007.

______ Constituição dos Estados Unidos do Brasil. Rio de Janeiro, 19 de


setembro de 1946. Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=227436>. Acesso
em: 6 ago. 2007.

______ Decreto n° 31.882, de 4 de dezembro de 1952. Rio de Janeiro, 1952.


Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=163724>. Acesso
em: 6 ago. 2007.

______ Decreto n° 41.577, de 29 de maio de 1957. Rio de Janeiro, 1957. Disponível


em: <http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=172712>.
Acesso em: 6 ago. 2007.

______ Decreto n° 45.344, de 28 de janeiro de 1959. Rio de Janeiro, 1959.


Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=176180>. Acesso
em: 6 ago. 2007.

94
______ Ato Institucional n° 1, de 9 de abril de 1964. Rio de Janeiro, 1964.
Disponível em:
<http://www2.camara.gov.br/legislacao/legin.html/textos/visualizarTexto.html?ideNor
ma=364977&seqTexto=1&PalavrasDestaque=>. Acesso em: 9 ago. 2007.

______ Lei n° 5.540, de 28 de novembro de 1968. Brasília, 1968. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=102363>. Acesso
em: 13 ago. 2007.

______ Decreto-Lei n° 594, de 27 de maio de 1969. Brasília, 1969a. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=118944>. Acesso
em: 14 ago. 2007.

______ Decreto-Lei n° 705, de 25 de julho de 1969. Brasília, 1969b. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=119088>. Acesso
em: 13 ago. 2007.

______ Decreto n° 64.905, de 29 de julho de 1969. Brasília, 1969c. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=195589>. Acesso
em: 14 ago. 2007.

______ Lei n° 6.251, de 8 de outubro de 1975. Brasília, 1975. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=205630>. Acesso
em: 17 ago. 2007.

______ Decreto n° 81.454, de 17 de março de 1978. Brasília, 1978. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=210169>. Acesso
em: 21 ago. 2007.

______ Decreto n° 91.452, de 19 de julho de 1985. Brasília, 1985. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=218884>. Acesso
em: 13 set. 2007.
95
______ Lei n° 7.486, de 06 de junho de 1986. Brasília, 1986. Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=130255>. Acesso
em: 13 set. 2007.

______ Diário da Assembléia Nacional Constituinte de 30 de abril de 1987.


Brasília, 1987. Disponível em:
<http://imagem.camara.gov.br/dc_20.asp?selCodColecaoCsv=R&txPagina=1591&Da
tain=30/04/1987>. Acesso em: 20 set. 2008.

______ Constituição da República Federativa do Brasil: Promulgada em 5 de


outubro de 1988. Organização de Nylson Paim de Abreu Filho. 4. ed. Porto Alegre:
Verbo Jurídico, 2002.a

______ Lei n° 8.672, de 06 de julho de 1993. Brasília, 1993. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=137919>. Acesso
em: 20 set. 2008.

______ Decreto n° 1.437, de 04 de abril de 1995. Brasília, 1995. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=225984>. Acesso
em: 20 set. 2008.

______ Lei n° 9.615, de 24 de março de 1998. Brasília, 1998. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=148635>. Acesso
em: 20 set. 2008.

______ Medida Provisória n° 1.926, de 22 de outubro de 1999. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=227814>. Acesso
em: 20 set. 2008.

______ Medida Provisória n° 2.011, de 28 de janeiro de 2000. Brasília, 2000a.


Disponível em:
96
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=228811>. Acesso
em: 20 set. 2008.

______ Lei n° 9.981, de 14 de julho de 2000. Brasília, 2000b. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=230134>. Acesso
em: 20 set. 2008.

______ Medida Provisória n° 2.049-24, de 20 de outubro de 2000. Brasília, 2000c.


Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=230928>. Acesso
em: 20 set. 2008.

______ Lei n° 10.264, de 16 de julho de 2001. Brasília, 2001. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=233173>. Acesso
em: 20 set. 2008.

______ Medida Provisória n° 103, de 1º de janeiro de 2003. Brasília, 2003a.


Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=236071>. Acesso
em: 4 out. 2008.

______ Lei n° 10.671, de 15 de maio de 2003. Brasília, 2003b. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=236588>. Acesso
em: 30 set. 2008.

______ Lei n° 10.672, de 15 de maio de 2003. Brasília, 2003c. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=236589>. Acesso
em: 30 set. 2008.

______ Decreto de 18 de julho de 2003. Brasília, 2003d. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=236980>. Acesso
em: 12 out. 2008.
97
______ Decreto de 1º de outubro de 2003. Brasília, 2003e. Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=237485>. Acesso
em: 29 set. 2008.

______. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de


Planejamento e Investimentos Estratégicos. Plano Plurianual 2004-2007:
mensagem presidencial. Brasília, 2003f.

______ Anexo II – Programas de Governo, Plano Plurianual 2004-2007. Brasília,


2003g.

______ Decreto n° 4960 de 19 de janeiro de 2004. Brasília, 2004a. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=238192>. Acesso
em: 29 set. 2008.

______ Decreto n° 0-003 de 21 de janeiro de 2004. Brasília, 2004b. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=238198>. Acesso
em: 29 set. 2008.

______ Decreto n° 5000 de 1° de março de 2004. Brasília, 2004c. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=238428>. Acesso
em: 12 out. 2008.

______ Lei n° 10.891 de 9 de julho de 2004. Brasília, 2004d. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=238895>. Acesso
em: 13 out. 2008.

______ Decreto n° 5139 de 12 de julho de 2004. Brasília, 2004e. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=238932>. Acesso
em: 12 out. 2008.

98
______ Medida Provisória n° 229 de 17 de dezembro de 2004. Brasília, 2004f.
Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=240252>. Acesso
em 12 out. 2008.

______ Ministério do Esporte. Secretaria Executiva. Subsecretaria de Planejamento,


Orçamento e Administração. Tomada de Contas 2003. Brasília, 2004g.

______ Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de


Planejamento e Investimentos Estratégicos. Plano Plurianual 2004-2007: relatório
de avaliação – exercício 2004. Brasília, MP, 2004h. 190p.

______ Plano Plurianual 2004-2007: relatório de avaliação – exercício 2004 – anexo


i. Brasília, MP, 2004i. 1113p.

______ Plano Plurianual 2004-2007: relatório de avaliação – exercício 2004 – anexo


ii. Brasília, MP, 2004j. 911p.

______ Ministério do Esporte. Política Nacional do Esporte. Brasília, 2005a.

______ Decreto n° 5.342 de 14 de janeiro de 2005. Brasília, 2005b. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=250001>. Acesso
em: 13 out. 2008.

______ Decreto 0-009 de 19 de abril de 2005. Brasília, 2005c. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=250940>. Acesso
em: 13 out. 2008.

______ Medida Provisória n° 249 de 4 de maio de 2005. Brasília, 2005d. Disponível


em: <http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=251205>.
Acesso em: 13 out. 2008.

99
______ Medida Provisória n° 254 de 29 de junho de 2005. Brasília, 2005e.
Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=252343>. Acesso
em: 13 out. 2008.

______ Lei n° 11.118 de 19 de maio de 2005. Brasília, 2005f. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=251383>. Acesso
em: 12 out. 2008.

______ Lei n° 11.186 de 19 de outubro de 2005. Brasília, 2005g. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=253228>. Acesso
em: 13 out. 2008.

______ Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de


Planejamento e Investimentos Estratégicos. Relatório anual de avaliação do plano
plurianual 2004 - 2007 – exercício 2005 – ano base 2004. Brasília, MP, 2005h.
1920p.

______ Lei n° 11.345 de 14 de setembro de 2006. Brasília, 2006a. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=254727>. Acesso
em: 13 out. 2008.

______ Decreto 0-002 de 1° de novembro de 2006. Brasília, 2006b. Disponível em:


<https://www.in.gov.br/imprensa/visualiza/index.jsp?data=03/11/2006&jornal=1&pagi
na=2&totalArquivos=96>. Acesso em: 13 out. 2008.

______ Lei n° 11.438 de 29 de dezembro de 2006. Brasília, 2006c. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=255254>. Acesso
em: 13 out. 2008.

______ Medida Provisória n° 342 de 29 de dezembro de 2006d. Brasília, 2006d.


Disponível em:
100
<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=255250>. Acesso
em: 13 out. 2008.

______ Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de


Planejamento e Investimentos Estratégicos. Plano Plurianual 2004-2007: relatório
anual de avaliação – exercício 2007 – ano base 2006. Volume I Brasília, 2007a.
1554p.

_______ Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de


Planejamento e Investimentos Estratégicos. Plano Plurianual 2004-2007: relatório
anual de avaliação – exercício 2007 – ano base 2006. Volume II – Anexo I Brasília,
SPI, 2007b. 916p.

_______ Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de


Planejamento e Investimentos Estratégicos. Plano Plurianual 2004-2007: relatório
anual de avaliação – exercício 2007 – ano base 2006. Volume III – Anexo I e Anexo
II. Brasília, SPI, 2007c. 917p.

______ Lei n° 11.498 de 28 de junho de 2007. Brasília, 2007d. Disponível em:


<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=255781>. Acesso
em: 17 out. 2008.

______. Controladoria Geral da União. Portal da Transparência: Consulta a Gastos


Públicos. Disponível em: <http://www.transparencia.gov.br>. Acesso em: 17 out.
2008.

CASTELLANI FILHO, L. Educação Física no Brasil: a história que não se conta.


Campinas: Papirus, 1988.

CHAUÍ, M. O que é ideologia?. 2 ed. São Paulo: Ed. Brasiliense, 2001. 118p.

101
CODATO, A. N. Uma história política da transição brasileira: da ditadura militar à
democracia. Revista Sociologia e política. Curitiba, n. 25, p. 165-175, nov. 2005

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação. São Paulo:


Cortez, 1992.

DEMARTINI Z. B. F. A questão da análise no processo de pesquisa. In: Lang A. B. S.


G. (org.). Desafios da pesquisa em ciências sociais. São Paulo: CERU; 2001. p.
49-72.

EXECUTIVA NACIONAL DE ESTUDANTES DE EDUCAÇÂO FÍSICA. A História do


Movimento Estudantil de Educação Física. Disponível em:
<http://www.exneef.org/historia/index2.htm>. Acesso em: 28 ago. 2007.

____________________ Nota Pública sobre a “Lei de Incentivo ao Esporte” e o


“Timemania”. Salvador, 2007. Disponível em
<http://www.exneef.org/documentos/nota_timemania.pdf>. Acessado em 15 ago.
2007.

FARIA JÚNIOR, A. G. Reflexões sobre a educação física brasileira: a carta de belo


horizonte. Revista Brasileira de Ciências do Esporte v. 23, n.1, p.19-31, set. 2001.

FERNANDEZ VAZ, A. Movimento Estudantil e Esporte. A política expressa como


mediação. In: Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física. Caderno de
Debates. v. 01, p. 1-5, set. 1996.

FERRARI, L. Corinthians e Sport já duelam com controvérsia por ingresso. Folha de


São Paulo. São Paulo, 09 jun. 2008. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/esporte/ult92u410223.shtml>. Acesso em: 30 set.
2008.

102
FERRARI, L.; GALDIERI, P. Presidente do Corinthians culpa Sport por problema de
ingressos. Folha de São Paulo. São Paulo, 11 jun. 2008. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/esporte/ult92u410984.shtml>. Acesso em: 30 set.
2008.

FOLHA DE SÃO PAULO. Governador interdita Fonte Nova e lamenta acidente em


nota oficial. Folha de São Paulo. São Paulo, 25 nov. 2007. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u348554.shtml>. Acesso em: 12
out. 2008.

__________________ Depois de tragédia, Bahia perde o mando de campo por 7


jogos. Folha de São Paulo. São Paulo, 11 dez. 2007b. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/esporte/ult92u353989.shtml>. Acesso em: 12 out.
2008.

__________________ Palmeiras exclui torcedor comum do 1º jogo da decisão.


Folha de São Paulo. São Paulo, 26 abr. 2008. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/esporte/ult92u395873.shtml>. Acesso em: 30 set.
2008.

GUINA, M. Esporte e Ideologia. In: Executiva Nacional de Estudantes de Educação


Física. Caderno de Debates. v. 01, p. 5-10, set. 1996.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Variação do PIB em


2003 foi de -0,2%. Brasília, 2004. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1
09&id_pagina=1>. Acesso em: 30 set. 2008.

KINCHIN, E. C. de C. e PIRES, V. Impacto do neoliberalismo sobre as políticas

sociais: Uma breve discussão. 2002. Disponível em

103
<http://paginas.terra.com.br/negocios/valdemirpires/Artigos/Economia_htm/AAICElida

.htm>. Acesso em: 18 out. 2008.

KUNZ, E. Esporte Escolar. In: Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física.


Caderno de Debates. v. 01, p.10-16, set. 1996.

LESBAUPIN, I. Governo Lula: o governo neoliberal que deu certo? Brasil, 2006.

LIMA e SOARES NETO. Materialismo Histórico Dialético - Para quê? Disponível


em: <http://www.faced.ufba.br/rascunho_digital/textos/647.htm>. Acesso em: 14 out.
2008

LINHALES, M. A. A trajetória política do esporte no Brasil: interesses envolvidos,


setores excluídos. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 1996.

MORAES, R. C. Liberalismo e neoliberalismo: uma introdução comparativa. Primeira


Versão. Campinas, n. 73, p. 1-15, mar. 1997. Disponível em
<http://www.cefetsp.br/edu/eso/globalizacao/libneolibcompa.html>. Acesso em: 18
out. 2008

____________. Neoliberalismo: de onde vem, para onde vai? São Paulo: Senac,
2001. 154p.

____________. Reformas neoliberais e políticas públicas: hegemonia ideológica e


redefinição das relações estado-sociedade. Caderno CEDES, Campinas, v.23, n.80,
p. 13-24, set. 2002.

NOBLAT, R. Agnelo Queiroz abandona PC do B. O Globo Online, 18 jun. 2008.


Disponível em:

104
<http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?t=agnelo_queiroz_abandona_pc_do_b
&cod_Post=109098&a=111>. Acesso em: 4 out. 2008.

PASQUIM, H. M., COSTA, R. L. S. e FIRMINO, T. Elementos de uma política


neoliberal para o esporte: Timemania e Lei de Incentivo ao Esporte. Fundação
Lauro Campos. 18 mai. 2008, 5p. Disponível em:
<http://www.socialismo.org.br/portal/esporte-e-lazer/143-artigo/387-elementos-de-
uma-politica-neoliberal-para-o-esporte-timemania-e-lei-de-incentivo-ao-esporte>.
Acesso em: 17 out. 2008.

POERNER, A. J. O Poder Jovem: história da participação política dos


estudantes brasileiros. 5. ed. Rio de Janeiro: Booklink, 2004.

SAES, D. Estado e Democracia: Ensaios Teóricos. 2. ed. Campinas: Instituto de


Filosofia e Ciências Humanas, 1998.

SAMPAIO JÚNIOR, P. A. Brasil: as esperanças não vingaram. Observatório Social


da América Latina, v. 6, n.18, p. 69-80, dez. 2005.

SILVA, L. I. L. Carta ao povo brasileiro. São Paulo, 2002. Disponível em


<www.iisg.nl/collections/carta_ao_povo_brasileiro.pdf>. Acesso em: 10 out. 2008.

TERRA. Pan 2007. Guia do Torcedor: Ingressos. Disponível em:


<http://esportes.terra.com.br/panamericano2007/interna/0,,OI1468530-
EI8335,00.html>. Acesso em: 17 out. 2008.

TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: A pesquisa


qualitativa em educação. São Paulo: Atlas; 1987.

VERONEZ, L. F. C. Quando o Estado joga a favor do privado: as políticas de


esporte após a Constituição de 1988. Dissertação (Doutorado) – Faculdade de
Educação Física, UNICAMP, Campinas, 2005. 386p.
105
WIKIPEDIA. Jogos Pan-americanos de 2007. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Jogos_Pan-Americanos_de_2007>. Acesso em: 13 out.
2008.

106

Vous aimerez peut-être aussi