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O que é mais importante no teatro?

Um texto sobre escolhas

Já me peguei um sem número de vezes tentando explicar para mim mesmo o que é mais
importante no teatro. Como ator essa resposta era uma grande necessidade. “O que é mais importante
no teatro?” O texto, o ritmo, a intenção, enfase, movimentação, o diretor, o ator, o momento... O que é
mais importante no teatro? Me assombrava cada vez que eu entrava num espetáculo novo, ou me
deparava com um novo texto, uma nova montagem. Por onde eu deveria começar a fazer aquilo?
“Decorando o texto”, uns me diriam, mas eu não sou e nem pretendo ser um profissional textocentrico
(aquele que tem o texto como principal alicerce do seu trabalho). Eu percebi que para responder a
minha pergunta eu precisava saber: o que é teatro?

Cara, eu não sei porque eu me meto nessas furadas. Eu passei alguns anos tentando responder o
que é que fazia o teatro ser o teatro. Sabe quando você vai à um espetáculo teatral e você se prende
tanto no que está acontecendo no palco que você reage a tudo e o ator, no palco, parece estar fazendo
aquilo tudo apenas para você e mais ninguém dos outros 400 espectadores (que provavelmente estarão
sentido o mesmo)? Por outro lado, sabe quando você vai ao teatro e se arrepende de ter olhos, e
audição e vida? Se nós chamamos essas duas experiencias de teatro, o que seria então teatro?

Eu tive que esperar chegar na minha formação para ter uma professora que levantou
exatamente essa questão: O que é teatro? Depois de muitas caretas, a turma não chegou à resposta já
esperada: nenhuma. E ela decidiu ir por partes. Bom, teatro é um meio de comunicação. Até aqui lindo.
O que faz um meio de comunicação? Comunica! Puts, gênio. O que o teatro, enquanto meio de
comunicação, comunica? Ai, fodeu. Caretas e um pouco mais de caretas. IDEIAS! O teatro comunica
ideias. Então eu poderia dizer que o mais importante no teatro são as ideias? Não achei satisfatório
porque isso, na minha cabeça, dava margem de interpretação para um tipo de teatro panfletário que eu
não acredito.

Mas, ei, vamos lá. Parando pra pensar assim eu poderia não ter exatamente o que eu acreditava
que seria o mais importante, mas eu já estava começando a excluir algumas questões. Eu entendia que o
teatro não era o texto. Eu não precisava de um texto para comunicar ideias. Eu entendia também que ele
não era um palanque onde as pessoas iam me ouvir discursar e botar fora os meus pensamentos.

Isso já estava começando a ficar bom. E já que eu estava nessa de ir aos poucos, comecei a
experimentar definições. Bom, o que o teatro precisa para acontecer? Luz? Não. Figurino? Ah, amor, se
você visse algumas pessoas que eu vi... Não! Cenário? Palco? Som? Fumaça? Gelo seco? Público?
Público! Claro, sem público não é teatro, é terapia ou ensaio. O teatro precisa de público... e de elenco.
Diretor não necessariamente. E daí voltei à questão: Se o teatro enquanto meio de comunicação, se
utiliza de um elenco para comunicar ideias à um público, de quem diabos seriam essas ideias?
DICIONÁRIOOOO.

i·dei·a
(grego idéa, -as, aparência, maneira de ser, estilo)
substantivo feminino
1. Representação que se forma no espírito.
2. Percepção intelectual.
3. Pensamento.
4. Lembrança, memória.
5. Plano, intenção.
6. Fantasia.
7. Doutrina; sistema.

( http://www.priberam.pt/dlpo/ideia )

Aí a vida ficou bem mais fácil. A ideia deixou de ser para mim um palavreado, um conceito
fechado. Ideia é qualquer tipo de imagem, física ou não que é percebida por um interlocutor. A cena
como um todo é uma imagem, ou seja, uma ideia, as falas são ideias, as pausas são ideias, a luz, o
cenário, a música, o olhar, tudo era ideia. Mas daí se tudo era ideia, voltamos à estaca zero, de quem
diabos são as ideias em uma peça teatral?

Aí eu cheguei quase a ponto de desistir depois de me entupir de café e sofrer de azia quando eu
entendi. As ideias são de alguém. Calma, não me xinga ainda. As ideias podem ser de um texto, de um
diretor, de um elenco, de um momento político, de uma obrigação, enfim, muitas opções. Mas o que fica
é que a ideia TEM que vir de alguém para a coisa ir para a frente. E como escolher de quem é a ideia?
Escolhendo, amor. Cada um vai dizer como vai escolher em seu próprio momento e caso a caso. Mas eu
fiquei feliz de encontrar a resposta para a minha grande dúvida: O que é mais importante no teatro?
Bom, se a gente entende que o teatro é um meio de comunicação que trabalha comunicando ideias para
um interlocutor e essas ideias tem que vir de algum lugar, escolhidas por alguém, então a coisa mais
importante no teatro são as escolhas. Você passa o seu período de criação todo escolhendo. Mesmo dos
momentos mais simples, se alguém decide escolher um texto ou não, escolhendo seu figurino (ou não?
rs), cenário, sonorização, diretor, elenco, produtor, limpeza... ritmo, duração, memória emocional, ação
física, velocidade, intensidade... Tudo tem que ser escolhido senão não vai acontecer nada, cada
integrante vai sentar em silencio e olhar um para a cara do outro.

Agora sempre que eu entro num novo espetáculo a minha questão não é mais: o que é mais
importante no teatro? Não. Isso eu já venci. Sou um ser humano melhor. A minha questão agora é: em
que eu me baseio para fazer as minhas escolhas criativas?

Daí eu fiz esse blog...

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