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Evolução da
de Arqueologia da Paisagem e do Território, pela
Universidade do Minho. A sua investigação tem-se
centrado nas questões de urbanismo, morfologia
Coord.
MARIA DO CARMO RIBEIRO
ARNALDO SOUSA MELO
FICHA TÉCNICA
O CITCEM é financiado por Fundos Nacionais através da FCT-Fundação para a Ciência e a Tecnologia no
âmbito do projecto PEst-OE/HIS/UI4059/2011
SUMÁRIO
Apresentação
Maria do Carmo Ribeiro e Arnaldo Sousa Melo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
O papel dos sistemas defensivos na formação dos tecidos urbanos (Séculos XIII-XVII)
Maria do Carmo Ribeiro e Arnaldo Sousa Melo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Transformações no sistema defensivo medieval de Barcelos
António Pereira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223
Introdução
Acreditando que o rio Douro foi, entre o fim da Idade Média e o início da
Idade Moderna, um dos principais elementos de desenvolvimento económico e
comercial do Porto, queremos perceber como é que, neste contexto temporal, a
cidade pareceu crescer em função da sua zona portuária. Tentaremos fazer esse
exercício enquadrando o Porto no conceito mais amplo e integrador de cidade
portuária por oposição aos conceitos mais básicos de cidade, por um lado, e de
porto, por outro, focando‑nos particularmente no modo como o espaço portuário
condicionou o desenvolvimento espacial da cidade envolvente.
Sendo já bem conhecida a lacuna da historiografia da cidade portuguesa no
que diz respeito ao seu urbanismo e evolução espacial, a verdade é que também
o estudo exaustivo das cidades portuárias medievais está quase por fazer2. Não
obstante esta temática se ter tornado nos últimos tempos uma área de grande
interesse historiográfico, o conhecimento acerca dos portos como espaços urbanos
é consideravelmente insuficiente entre investigadores3. Em Portugal, com a exceção
da obra de Amélia Andrade, que toca questões ligadas ao espaço urbano da cidade
portuária medieval, mas sobretudo para Lisboa, e da obra de Amândio Barros, que
aborda a organização espacial das estruturas portuárias, mas como parte do seu
interesse mais vasto da história social e económica, poucos autores focaram o tema
1
Aluna de Doutoramento do Curso de História da Faculdade de Letras da Universidade do Porto,
helenalopes.t@gmail.com
2
Andrade 2005: 57‑58.
3
Segundo Amândio Barros, a historiografia portuguesa tem privilegiado a história económica e social,
negligenciando a importância de objectos‑chave como a organização do espaço e das infra‑estruturas
topográficas, nomeadamente as relacionadas com a cidade portuária. Barros 2007: 133.
273
Evolução da paisagem urbana: transformação morfológica dos tecidos históricos
Contextualização
A escolha do primitivo povoamento no alto rochoso e íngreme da Pena Ventosa
apenas se explica pela necessidade de defesa dos seus primeiros habitantes, ainda
no período castrejo. Também o facto de estar afastado seis quilómetros da linha de
costa, e resguardado por várias curvas do Douro, permitiu ao povoamento passar
despercebido a quem cruzasse a costa atlântica, diminuindo o risco de incursões ini-
migas. Deste modo, o mesmo determinismo geográfico que dotou a cidade de defesas
naturais, também permitiu a implantação de um porto natural relativamente acessível
à navegação veleira, tornando‑se um elemento estruturante do seu desenvolvimento
comercial e marítimo6. Assim, parece ter sido o progresso da zona como porto e local
de tráfego que permitiu à povoação desenvolver‑se. O facto de esta tomar o nome de
“Portu‑cale (locum)”, do qual iria acabar por desaparecer o segundo elemento (cale),
mostra desde logo a “preponderância da função marítima” do povoado7.
4
Podemos destacar aqui, contudo, o trabalho de Luísa Blot, que estuda as cidades portuárias num
contexto nacional e da longa duração, embora concentrando no tema da geomorfologia e da arqueologia,
e não do urbanismo. Blot 2003: 115.
5
Barros 2007: 132‑133, Polónia 2007: 36.
6
Também a existência de duas praias frente a frente de cada lado do rio e num dos ponto de curta
distância entre margens, fazendo do sopé do morro da Penaventosa um dos melhores pontos de atraves-
samento do rio, contribuiu para a localização da urbe primitiva.
7
Ribeiro 1989: 144. É significativo que os romanos tenham atribuído o topónimo “Portus” (entre-
posto de mercadorias, escala) a este povoado, reconhecendo‑lhe portanto condições naturais que lhe
permitiram evoluir para um porto seguro. A conhecida ara votiva aos Lares Marinhos encontrada no
274
A ação das estruturas portuárias na urbanização do Porto tardo‑medievo
morro da Penaventosa parece confirmar as referidas condições marítimas e de abrigo que este porto
apresentava. Blot 2003: 115.
8
Blot 2003: 115.
9
Duarte L. Barros A. 1997: 77‑118.
275
Evolução da paisagem urbana: transformação morfológica dos tecidos históricos
Imagem II.
Confluência de
vias estratégicas
276
A ação das estruturas portuárias na urbanização do Porto tardo‑medievo
uma das melhores vias de penetração na Península Ibérica) e o viário (antiga via
romana de ligação entre sul e Norte da Península), terá sido a circunstância que
seguramente mais estimulou o desenvolvimento da cidade portuária.
Mas a localização estratégica, em si, à qual se juntava a dificuldade de navegação,
não teria sido o suficiente para o desenvolvimento sólido e estável da cidade. Para
isso era necessário dispor de matéria prima e de produtos naturais comercializáveis,
que poderiam ser encontrados no território envolvente do Porto, o Entre‑Douro‑e
‑Minho. Controlando desde cedo, e “pela força”, como refere Luís Miguel Duarte, o
monopólio destes produtos, o Porto torna‑se plataforma comercial de referência do
Norte de Portugal10. Esta condição, aliada à precoce experiência marítima e naval
que a cidade tinha, pelo menos, desde o século XIII11, levou à mudança drástica da
paisagem da zona ribeirinha nos séculos posteriores, acelerada pela introdução de
novos equipamentos intimamente ligados com a atividade portuária: a “Alfândega
régia e o consequente cais do Ferreirinho em meados do século XIV, a Rua Nova
em finais do século XIV, e a posterior casa da bolsa dos mercadores, situada na
referida rua. Todos estes elementos representaram facetas de um ordenamento
urbano suscitado pelo movimento de navios, que tinha já significado profundo
na vida do Porto de Quatrocentos. Por esta altura, a circulação interna do burgo
estava intimamente ligada à atividade de embarque e desembarque dos navios,
que se concentrava na zona ribeirinha (a montante e jusante da praça da Ribeira)
e em Miragaia. Por conseguinte, os principais eixos de circulação passavam pelas
ligações entre estes dois grandes núcleos fluviais, a saída norte da cidade e, claro,
a zona alta. Como exemplo do primeiro eixo temos a rua Nova que, facilitando a
ligação entre a Ribeira e Miragaia, se tornou um dos principais pontos de conflu-
ência de gentes e mercadorias do Porto burguês e mercantil. O segundo eixo era
representado pela rua das Cangostas, que fazia a orientação do trafego ribeirinho
em direção a norte (principal direção da saída de mercadorias da cidade), sem
passar pelo burgo episcopal. Como exemplo de um terceiro eixo temos a rua dos
Mercadores, ligação antiga e vital com a parte alta e secular da cidade, e local de
residência por excelência da profissão que lhe deu nome. Importante notar que
estas duas últimas ruas implicavam uma circulação extremamente custosa devido
ao carácter íngreme da sua implantação12.
10
Duarte 2012: 265. Sabemos que a partir de finais do século XIV, a oligarquia que governa o Porto
se apoia numa política económica em torno de dois produtos principais do comércio medieval: o sal e o
peixe. Esta política tinha como objectivo monopolizar o sal e o peixe das redondezas, impedindo‑os de
saírem dos portos correspondentes, e obrigando‑os a sair somente do porto da cidade. Duarte 2012: 253.
11
Cruz 1960:7‑10.
12
Sobre a temática da evolução urbana do Porto na Idade Média consultar: Teixeira H.‑L., Porto,
1114 – 1518 – A Construção da cidade medieval, Dissertação de Mestrado em História Medieval e do
277
Evolução da paisagem urbana: transformação morfológica dos tecidos históricos
Imagem III.
Principais eixos de circulação
no século XV
Para finalizar esta contextualização, importa ter em conta que a Carta de sentença
de D. Dinis de 1316, primeira expressão conhecida de preocupação com o ordena-
mento do espaço urbano do Porto, surge precisamente para precaver e regulamentar
o acelerado e caótico crescimento da zona ribeirinha. Nela se reconhece a necessidade
de o domínio público prevalecer sobre o privado, a manutenção dos rossios como
terrenos de serventia pública, e o valor do alinhamento e da funcionalidade13.
Renascimento, Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2010. Sobre a atividade portuária e
mercantil do Porto consultar Barros A., Porto: a construção de um espaço marítimo nos alvores dos tempos
modernos, Porto, Dissertação de doutoramento policopiada, 2004.
13
Teixeira 2010: 49‑52, Oliveira 1973: 222.
278
A ação das estruturas portuárias na urbanização do Porto tardo‑medievo
14
Nas últimas décadas do século XV, a evolução comercial começou a inverter‑se, devido a uma série
de factores: primeiro o conjunto de decisões aprovadas desde D. João II que tendem a reduzir a capacidade
de intervenção comercial dos tratantes do Porto; e devido ao afastamento deliberado dos mercadores
portuenses do projeto expansionista, que com negócios seguros e lucrativos nos mercados europeus não
se queriam arriscar numa aposta que julgavam incerta. , Mas a sua cristalização a nível comercial somente
vai ter lugar após atingirem a “aristocratização” dos seus quotidianos e valores, traduzida na posse de bens
fundiários e no exercício do poder autárquico. Barros 2006: 53.
15
Barros 2006: 68.
16
Barros 2004: 55
279
Evolução da paisagem urbana: transformação morfológica dos tecidos históricos
Imagem IV.
Cais do Porto
em Finais da Idade Média
técnicos da época para levar a cabo esta obra. Para a sua construção aproveitaram‑se
as condições naturais do espaço ribeirinho e a fisionomia do terreno, em função da
construção da muralha, investindo‑se na concepção e construção de um primeiro
cais junto da Alfândega e, posteriormente, doutro lanço de acostagem, com cerca
de duas centenas de metros, entre a praça da Ribeira e os Guindais17. Pretendia‑se,
com esta estrutura, criar uma plataforma de circulação que ganhasse espaço ao
rio, permitindo, ao mesmo tempo, fazer chegar até si navios de maior calado: “em
modo que se meta no rio o mais que se poder meter”18. Em 1593 temos informação
da intervenção de António da Costa, “engenheiro de sua Majestade”, na traça do
cais da Ribeira19, mostrando este acontecimento a importância que se continuava a
dar a esta obra e à vertente técnica da sua construção. Só o facto da documentação
mencionar a palavra “traça” demonstra, desde logo, que esta estrutura foi subme-
tida a um prévio planeamento, ainda mais, elaborado pelo próprio engenheiro do
rei. Os factores atrás descritos mostram não só o relevo dado a este espaço pelos
pares da cidade e pela coroa, mas também a importância que teve como factor de
estruturação viária e de ordenamento do espaço ribeirinho.
Área mercantil por excelência da cidade, a zona portuária teria também,
logicamente, de possuir uma série de edifícios (públicos e semipúblicos), desti-
As gravuras do Porto de Setecentos parecem confirmar que as duas (ou três) secções não estiveram
17
unidas, permanecendo, com importante função económica, a praia da Ribeira. Barros 2004: 58
18
Barros 2004: 58
19
Barros 2004: 64
280
A ação das estruturas portuárias na urbanização do Porto tardo‑medievo
Imagem V.
Localização aproximada dos
principais edifícios da zona
portuária em Finais da Idade
Média
20
Real M.‑L. Gomes, P. D. e Teixeira, R. J. 1990: 39‑45
21
Sendo o Porto, até aos primeiros anos do século XV, uma cidade de senhorio episcopal, seria lógico
a Igreja receber como fonte de receita os impostos cobrados sobre a atividade comercial. Esta, que era
feita, em grande medida, através do trato marítimo, tem também influência na criação, na parte baixa
281
Evolução da paisagem urbana: transformação morfológica dos tecidos históricos
da cidade, da ermida de S. Nicolau, no século XIII. A construção desta igreja correspondeu assim tanto
à necessidade de promover a assistência religiosa à população que habitava a zona ribeirinha, como a
finalidade de garantir a vigilância do tráfego fluvial‑ marítimo. Barros, 2004: 82‑96.
22
Barros 2004. p. 253‑259.
23
Machado 1997: 231‑245.
282
A ação das estruturas portuárias na urbanização do Porto tardo‑medievo
Imagem VI.
Praça da Ribeira depois da
sua requalificação urbana
precisamente junto ao rio e à Alfândega do Rei24. Tal não nos parece estranho, até
por razões de prioridade de defesa da então principal zona comercial da cidade,
onde o armazenamento dos bens e barcos se concentravam. Em termos físicos,
foi extremamente relevante a relação que esta muralha teve com a área portuária.
A sua implantação a sul, e junto ao rio, decalcou o recorte marginal, respeitando
contudo a necessidade de manter fora o espaço suficiente para o varadouro, exigido
pelas atividades de carga e descarga.
Das suas várias aberturas, a grande maioria estava precisamente localizada junto
ao rio, como resposta ao já então grande tráfego mercantil. Entre estas aberturas
estão duas das principais portas da cidade, a Porta Nova (ou Porta Nobre), por onde
entravam as figuras de destaque, e a Porta da Ribeira, cuja importância se ligava à
da própria praça para onde abria. Entre os postigos fluviais, alguns tinham nomes
significativos que podiam indicar uma relação com algum tipo de especialização: do
Peixe, da Madeira, dos Banhos, do Pelourinho e da Forca. No Postigo do Terreirinho
(ligado à Alfandega régia), estendia‑se o areal onde varavam os barcos e baixéis. Para
oeste deste, estariam o postigo da Lingueta, que abria diretamente para o rio sem
qualquer varadouro, e o postigo dos Banhos, que estava incluído numa articulação
especial de muralha que contornava um pequeno areal e linha de água existente, dando
nome ao referido postigo25. Em frente às muralhas, cuja edificação terá apressado
a perda de importância das antigas taracenas da Ribeira, ao cortar‑lhes um acesso
direto ao rio, atracavam os navios, sendo a maior parte da carga que transportavam
283
Evolução da paisagem urbana: transformação morfológica dos tecidos históricos
Imagem VII.
Muralha gótica
e suas principais Portas
descarregada no cais ou nos areais, para ser depois distribuída por tendas, armazéns
ou compradores, naturais da cidade e de fora da urbe26.
Fora de muralhas, importa chamar a atenção para a zona de Miragaia, que,
sendo inicialmente uma pequena comunidade ligada à faina fluvial e marítima,
vai crescer imenso com o desenvolvimento mercantil do Porto. As suas condições
naturais estratégicas, ao situar‑se na saída oeste da cidade e ao apresentar um
espaço e areal adequados à atividade naval, tornam‑na o espaço lógico para o
crescimento da zona portuária e para a concentração do tipo de população ligada
à vida do mar: armadores, capitães de navios e marinheiros. Aliás, como vimos, foi
para aqui que as antigas taracenas se deslocaram quando deixaram de ter espaço
na Ribeira, em finais de quatrocentos.
As referidas circunstâncias levaram a um crescimento urbano tão rápido e, conse-
quentemente, caótico, desta zona que, em meados do século XVI, já a Câmara iniciava
284
A ação das estruturas portuárias na urbanização do Porto tardo‑medievo
285
Evolução da paisagem urbana: transformação morfológica dos tecidos históricos
Imagem VIII. Planta geográfica da Barra da Cidade do Porto. T.S. Maldonado, 1789, AHMP.
terá passado muito tempo para que outro equipamento de relevo começasse aqui a
ser construído, contribuindo amplamente para o desenvolvimento da foz da cidade.
As notícias de assaltos a navios e estabelecimentos atlânticos portugueses, durante
o século XVI, no contexto de uma forte concorrência marítima levada a efeito pelas
potências do Norte, conduziram à ativação de um programa de defesa da costa
portuguesa. Vem nessa sequência a construção da Fortaleza de São João da Foz,
implantada durante a dominação castelhana de Filipe II (1580‑1640), que protege
o acesso fluvial à cidade. Mais perto da urbe foi também decidida a edificação de
uma segunda linha defensiva em 1589, o baluarte de S. Filipe, localizado no sector
poente da muralha, dominando o rio e dotado de algumas peças de artilharia32.
Para terminar, falta somente referir as principais vias de circulação que serviam a
zona portuária e contribuíam para o escoamento dos seus produtos. Embora seja um
estudo que queremos aprofundar no futuro, é tomado por aceite que a circulação do
Porto nesta época foi extremamente influenciada pela atividade portuária da Ribeira
e de Miragaia. Destas ruas destacamos as seguintes: a Rua Nova (1), como eixo de
ligação entre a zona baixa da cidade e Miragaia; a Rua dos Mercadores (2), como o
mais antigo eixo de circulação entre a zona alta e baixa do Porto; a rua da Ferraria
286
A ação das estruturas portuárias na urbanização do Porto tardo‑medievo
Imagem IX.
Localização das principais
vias de circulação do Porto
no fim da Idade Média
(3), que começava junto à Porta Nova e se ligava ao Largo de S. Domingos; a nova
Rua das Flores (4), que reunindo o concorrido nó viário do Largo de São Domingos
à Porta de Carros a Norte, se vai tornar um dos mais importantes eixos de saída da
cidade deste período; a Rua de Belmonte (5), que ligava o Largo S. Domingos às pro-
ximidades da porta da Esperança; a Rua das Cangostas (3), que unia a Alfândega ao
Largo de S. Domingos; o Eixo de S. Miguel e Rua da Vitória (7), que reunia o Largo
S. Domingos e o Morro do Olival, e a rua da Ferraria de Bairro (8) que ligaria a Porta
Nova ao meio da Rua da Ferraria. Quanto aos principais núcleos viários, estes seriam
a Praça da Ribeira (A), a Alfândega (B) e o Largo de S. Domingos (C), o mais central
nó da cidade, onde as principais ruas se cruzavam33.
Conclusões finais
O Porto mostrou, desde cedo, vontade de constituir o seu espaço portuário.
Logo no século XIV se começaram a esboçar estruturas de atracagem devido ao
acrescido movimento que chegava à areia da Ribeira. Até finais da Idade Média, os
homens da vereação, por necessidade, e certamente informados de outras realidades
que conheciam nos ancoradouros que os seus navios frequentavam, conseguiram
dar um “cunho de certa modernidade”34 ao seu espaço portuário: preocuparam‑se
em definir zonas de carga e descarga e separaram delas o estaleiro de construção
33
Teixeira 2010: 80‑85.
34
Barros, 2004. p. 855.
287
Evolução da paisagem urbana: transformação morfológica dos tecidos históricos
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A ação das estruturas portuárias na urbanização do Porto tardo‑medievo
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289
Evolução da paisagem urbana: transformação morfológica dos tecidos históricos
Resumo: Acreditando que o rio Douro foi, entre o fim da Idade Média e o início da Idade
Moderna, um dos principais fundamentos de desenvolvimento económico e comercial
do Porto, queremos perceber como é que neste contexto temporal a cidade se pareceu
consertar para crescer de modo massivo e estruturado em função do seu porto. Aqui
tentaremos enquadrar o Porto no conceito mais amplo e integrador de cidade portu-
ária, por oposição aos conceitos mais básicos de cidade por um lado, e de porto, por
outro. Focar‑nos‑emos particularmente no modo como o seu espaço portuário condi-
cionou o desenvolvimento espacial da cidade envolvente.
Palavras Chave: Cidade portuária, Urbanismo, Porto Medieval, Evolução Urbana.
Abstract: Believing the Douro river was, between the late Middle Ages and early Modern Age, one
of the main foundations of economic and commercial development of Porto, we want
to understand how in this temporal context all the city seemed to grow massively and
structured in function of it’s harbor. Here we will try to frame Porto in the wider concept
of portuary cities, as opposed to the most basic concepts of the city on the one hand, and
port on the other. We will focus particularly on the way the port area conditioned the
spatial development of the surrounding city.
Key words – Portuary city, Urbanism, Medieval Porto, Urban Evolution.
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