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Museu de Imagens do Inconsciente:

considerações sobre sua história

Gustavo Henrique Dionísio*


Universidade Estadual Paulista J.M. Filho – Assis
Endereço para correspondência

RESUMO
Esse trabalho se propõe a recuperar, em parte, fatos importantes na
história do Museu de Imagens do Inconsciente, além de fazer alguns
apontamentos sobre a repercussão que obtiveram na imprensa da época
as exposições realizadas pelo museu dentro do período da década de 40,
mais especificamente em relação aos anos de 1947 e 1949, que foram
significativos no que diz respeito ao seu processo de gênese, além de
relacionar outros dois acontecimentos que, ao nosso ver, são também de
suma importância.
Palavras-chave: Exposições de arte, Inconsciente, Arte virgem.

ABSTRACT
This article proposes to recover, partly, important facts in the history of
the Museum of Images of the Unconscious, besides doing some notes
about the repercussion of expositions organized by the Museum at the
forty decade, more specifically in relation to the years of 1947 and 1949,
that were significant in the Museum genesis process, besides relating
two another events, that, as we think, are also of the highest importance
at this matter.
Keywords: Art expositions, Unconscious, Virgin art.

O Museu de Imagens do Inconsciente tem origem exatamente a 20 de


maio de 1952, sendo inaugurado nas instalações do então Centro
Psiquiátrico Nacional (que mais tarde nomeara-se Centro Psiquiátrico
Pedro II), no Rio de Janeiro, situando-se na ala administrativa do Centro.
É evidente que o processo de gênese não se limita: anteriormente a essa
inauguração oficial, já houvera algumas exposições, de caráter
fundamental, como as quais damos ênfase aqui (as de 1947 e de 1949),
no decorrer de sua fundação.
É impossível situarmos uma história do Museu de Imagens do
Inconsciente sem mencionarmos o nome da doutora Nise da Silveira. A
presença da psiquiatra alagoana é de importância essencial na origem
dos estudos acerca da arte psicopatológica, tanto no Brasil quanto no
exterior. Nise da Silveira exerceu papel principal na militância em defesa
dos doentes mentais ao longo de toda sua vida. além disso, foi a
idealizadora e fundadora do Museu de Imagens do Inconsciente.
As exposições realizadas em 1947 e 1949 são, ao nosso ver, de
importância central na origem dessa instituição. Elas colaboraram de
diversas maneiras, como na divulgação pública do trabalho, por meio da
imprensa, além de arrecadação de fundos e contribuição de outros
setores da sociedade.
Com efeito, o Museu de Imagens do Inconsciente surgiu em
conseqüência, em primeiro lugar, da Seção de Terapêutica Ocupacional e
Reabilitação (STOR) instalada no Centro Psiquiátrico Nacional, onde se
realizavam trabalhos como pintura, tecelagem, trabalhos manuais etc.
Em meio de todo o aparato farmacológico e científico da medicina (como
o choque de eletrocardiazol e coma insulínico, limitando-nos nesses
exemplos), esse setor era deixado em segundo plano, visto como técnica
subalterna de tratamento terapêutico.
Nise de Silveira assume a direção da Seção de Terapêutica Ocupacional e
Reabilitação em meados de 1946. Desde sua chegada ao centro, negou-
se a utilizar os métodos psiquiátricos vigentes. Optando por um método
mais psicológico de tratamento, Nise da Silveira resolve criar um setor
de ateliê de pintura e escultura, inaugurado ainda em 1946, no dia 09 de
setembro, dando assim maior visibilidade ao processo de cura que
pretendia encontrar com a utilização de atividades expressivas.
Após três meses de funcionamento, já havia material suficiente para que
se realizasse uma primeira exposição. No dia 22 de dezembro do mesmo
ano foi inaugurada então a primeira mostra de imagens do Centro
Psiquiátrico Nacional, contando com a participação de pinturas de vinte
adultos e quinze crianças que participavam das atividades da seção.
Devido ao interesse despertado pela mostra, as imagens foram
transferidas ao edifício sede do Ministério da Educação, no Rio de
Janeiro, facilitando a visitação de todos aqueles que se interessavam
pelo tema.
Dados os acontecimentos, em 04 de fevereiro de 1947 foi aberta a
segunda (e ao mesmo tempo primeira grande) exposição das pinturas
realizadas pelos freqüentadores da STOR; instalada no salão do primeiro
andar do Ministério da Educação, cidade do Rio de Janeiro. a mostra
possuía aqueles mesmos trabalhos já expostos em 1946 no centro,
somados a outras telas recentes, num total de 245 pinturas de adultos e
crianças. Essa exposição gerou grande interesse nos meios científicos,
culturais e artísticos. vários autores publicaram artigos sobre a mostra,
dentre os quais destaco sobretudo Mário Pedrosa no Correio da Manhã, e
Quirino Campofiorito em O Jornal. Outros autores como Rubem Navarra,
no Diário de Notícias, Marc Berkovitz, no Brazil-Herald e Antônio Bento,
no Diário Carioca, também contribuíram com crônicas a respeito dessa
exposição.
O crítico de arte Mário Pedrosa teve seu primeiro contato com as
pinturas dos pacientes de Engenho de Dentro em conseqüência dessa
mostra de 1947. Segundo as palavras do poeta e amigo Ferreira Gullar,
desde o início o crítico deslumbrou-se (Gullar, 1996, p. 20) com as obras
ali encontradas. Em 31 de março desse mesmo ano, Mário Pedrosa
pronuncia uma conferência de título Arte, necessidade vital (Pedrosa,
1996, pp. 41-48), sob patrocínio da Associação dos Artistas Brasileiros,
dando encerramento à exposição. À grosso modo, na conferência
Pedrosa nos traz suas primeiras apreciações favoráveis ao componente
artístico, ao seu dizer, encontrado nas pinturas daqueles pacientes. As
telas e esculturas que ali se encontravam foram transferidas para Museu
Nacional de Belas Artes posteriormente.
Já agora em 1949, com a visita de Leon Degand (trazido à STOR por
Mário Pedrosa), crítico de arte e então diretor do Museu de Arte Moderna
de São Paulo, foi organizada a segunda grande mostra de pinturas dos
artistas de Engenho de Dentro. Após essa visita ao setor de Terapêutica
Ocupacional do Centro, Leon Degand, ficou impressionado pela qualidade
artística de muitos trabalhos aí realizados (Silveira, 1966, p. 108),
segundo Nise da Silveira, e propôs ao Centro Psiquiátrico que se
expusesse os trabalhos produzidos em São Paulo no Museu de Arte
Moderna.
A exposição teve seleção de trabalhos feita pelo próprio Degand, com a
colaboração de Mário Pedrosa. Regressando à Paris em 12 de julho de
1949, o primeiro fora substituído em seu cargo pelo também crítico de
arte Lourival Gomes Machado, que não deixou de encontrar propriedades
artísticas nas pinturas em questão. Assim, inaugura-se em 12 de
outubro de 1949 a exposição 9 artistas de Engenho de Dentro1, no
grande salão do Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Os artistas que participaram da exposição foram Adelina, Carlos,
Emydgio, José, Kleber, Lúcio, Raphael, Vicente e Wilson. Pode-se dizer
que esses nomes foram os mais consagrados em meio aos pacientes
pintores, sobretudo os de Emydgio de Barros e Raphael Domingues. O
número de trabalhos expostos somava 179, dentre desenhos, pinturas e
esculturas2.
A exposição de 1949, assim como a de 1947, foi motivo de grande
repercussão na imprensa da época. Destacam-se as crônicas de Sérgio
Milliet no Estado de São Paulo e Quirino da Silva no Diário de São Paulo.
Um verdadeiro debate foi travado entre os críticos Mário Pedrosa
(Correio da Manhã) e Quirino Campofiorito (Diário da Noite e O Jornal),
em específico nessa exposição de 1949. Não poderíamos caracterizar um
debate propriamente dito como esse em 1947.
Pedrosa encontrou nas pinturas dos internos de Engenho de Dentro
verdadeiras qualidades artísticas, como já dissemos; Campofiorito
negou-as. É nesse momento em que Mário Pedrosa introduz o conceito
de arte virgem (Dionisio, 1999, pp. 60-76), que designaria de maneira
inédita a produção artística dos enfermos. Contrária era a opinião de
Quirino Campofiorito, que defendia somente a prioridade científica na
leitura das obras ali expostas. Negava qualquer tipo de propriedade
estética naqueles quadros. Fato importante deve ser lembrado: é
também no ano de 1949 que Mário Pedrosa escreve a tese Da natureza
afetiva da forma na obra de arte (Pedrosa, 1996, pp. 105-177),
contribuindo novamente nas discussões acerca dos temas ligados à arte
e à psicologia.
Ainda no mesmo ano, essa exposição é transferida para o Salão Nobre
da Câmara Municipal do Rio de Janeiro (devido a esforços do poeta e
então presidente da Câmara Jorge de Lima) sendo inaugurada a 25 de
novembro de 1949, estendendo-se até o dia 10 de janeiro de 1950.
Segundo Nise da Silveira, essa mostra foi a que gerou maior
repercussão, tanto na imprensa quanto na sua visitação. É notável o
número de artigos escritos a respeito do evento na Câmara dos
Deputados: Osório Borba e Flávio de Aquino no Diário de Notícias,
Yvonne Jean no Correio da Manhã, Antônio Bento no Diário Carioca, além
dos outros já citados. É considerável também o número de autores em
defesa da capacidade artística dos internos.
À medida que aumenta o número de divulgações dos trabalhos da seção,
a idéia de museu vai cada vez mais se concretizando. Assim como as
exposições de 1947 e 1949, ainda não se havia cogitado na organização
de um museu.
Finalmente, é inaugurado em 20 de maio do ano de 1952 o Museu de
Imagens do Inconsciente, apresentando na ocasião uma pequena mostra
de obras de diversos internos. O salão onde se situou primeiramente o
museu fazia parte da ala administrativa do hospital, numa sala do
primeiro andar do Bloco Médico Cirúrgico, ainda em condições muito
precárias. A inauguração foi feita pelo doutor Paulo Elejalde, diretor do
centro na época.
Já nesse momento sob denominação de Museu de Imagens do
Inconsciente, encontramos ainda mais dois episódios de relevância na
concretização dessa gênese. Em primeiro lugar, o ateliê participa, em
1957, do II Congresso Nacional de Psiquiatria, em Zurique. A
contribuição enviada intitulava-se A esquizofrenia em imagens; o tema
principal do congresso era o estado atual de nossos conhecimentos sobre
o grupo das esquizofrenias. As peças enviadas dividiram-se em cinco
salas (do pavimento térreo do Eidgenössische Technische Hoschule, local
do evento). A exposição brasileira foi inaugurada pelo professor Carl
Gustav Jung, na manhã do dia 2 de setembro de 1957. Segundo Nise,
Jung (...) examinou com vivo interesse essas imagens pintadas
livremente num hospital de terra tão distante, documentação crua, sem
qualquer retoque, e que por isso mesmo confirmava suas descobertas
referentes à estrutura básica da psique. (Silveira, 1980, p. 18)
Nise da Silveira já se encontrava em Zurique desde abril de 1957,
fazendo estudos no instituto C. G. Jung, financiada pelo Conselho
Nacional de Pesquisas. Dessa maneira, Nise pôde organizar
pessoalmente as exposições do museu, recebendo colaboração da
doutora Alice Marques dos Santos3, do doutor Pierre Le Gallais que entre
1954 e 1958 foi assistente da STOR4, e do então pintor brasileiro Almir
Mavignier que já fora seu auxiliar no ateliê, de 46 a 51.
Nesse processo de configuração do museu, menciono finalmente outro
fato de relevância: trata-se da fundação, em 05 de dezembro de 1974,
da Sociedade dos Amigos do Museu de Imagens do Inconsciente
(SAMII). A SAMII é uma entidade civil sem fins lucrativos, cujo objetivo
é apoiar e difundir os trabalhos do Museu de Imagens do Inconsciente.
Na atualidade, a Sociedade dos Amigos do Museu de Imagens do
Inconsciente vem sendo presidida pelo fotógrafo Humberto Franceschi. A
sociedade já promoveu, dentre vários eventos, palestras, encontros,
além da produção de vídeos sobre as questões que permeiam o Museu.
O museu vem hoje contando com a direção de Luiz Carlos Mello, (que
fez a curadoria para a mostra do Redescobrimento - Brasil, 500 anos),
além da presença importante de Gladys Schincariol, Eurípedes Júnior,
Vicente Mourthé e Gustavo Galvão.
O acervo de pinturas do Museu de Imagens do Inconsciente é de caráter
singular. Ao encontrarmos-no situado num pequeno prédio aos fundos do
Centro Psiquiátrico Pedro II, no bairro de Engenho de Dentro, Rio de
Janeiro, não podemos fazer face à riqueza de imagens ali expostas.
Dentre telas, pinturas e desenhos em cartolina, trabalhos em giz-de-cera
e bico-de-pena, notamos uma quantidade surpreendente de atividades
expressivas. É estimado em média de trezentos e sessenta mil o número
de produções.
Entretanto, é contraditória a situação apresentada, sobretudo no que diz
respeito ao material disponível a pesquisa; as autoridades parecem não
ter consciência de tamanha capacidade convivendo com tamanha
precariedade. Não há tecnologia considerável no museu. Os artigos que
contém os relatos acerca das exposições realizadas, para limitar-me
nesse exemplo, encontram-se em precárias condições. O arquivo fica
disposto em simples pastas plásticas subdivididas. Os originais de certos
jornais estão praticamente ilegíveis, sem falar nas cópias disponíveis
para consulta. O pesquisador encontra aí séria dificuldade. Não há
microfilmagem de documentos quaisquer. Em grande parte dos casos,
perdem-se datas de artigos, além dos nomes dos respectivos jornais e
autores.
Outro obstáculo diz respeito à conservação das telas e esculturas. Elas
se encontram atualmente em uma pequena sala, muito longe de atingir
adequado espaço e luminosidade, sem falarmos no método de
conservação. É lamentável presenciar o estado de dificuldade de uma
instituição com tamanha quantidade e qualidade de material proveitoso
para pesquisas diversas5.
Fica aqui portanto a denúncia:
A enfermidade psíquica torna a vivenciar, num outro patamar, uma nova
discriminação da sociedade que, desde os primórdios do encarceramento
da loucura, se reflete agora nas suas possibilidades de liberdade, por
menor que ela seja, ou mesmo como no nosso caso, expressada por
meios de uma produção, e por que não dizermos, verdadeiramente
artística.

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