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A dignidade contra a chantagem

1- A chantagem contra greve

A maior greve de sempre foi uma manifestação impressionante de dignidade. A


dignidade ergueu-se contra a narrativa auto-contraditória da situação que pretendia
sustentar, ao mesmo tempo, que a greve geral não funcionaria porque seria uma acção
minoritária que nada mudaria e que ela faria mal ao país porque interferiria com a
produção nacional e fragilizar-nos-ia face aos mercados. A dignidade ergueu-se votando
com os bolsos numa altura em que se contam os cêntimos para sobreviver. A dignidade
ergueu-se pelo simples acto de fazer greve contra os patrões chantagistas. É que, neste
país, a democracia é suspensa quando os dominantes se sentem ameaçados. É o mesmo
estado de excepção que refaz as fronteiras para impedir manifestantes pacíficos de
entrar e que inventa fronteiras no interior das manifestações para cercar os/as que
imagina indesejáveis. Só que o tempo da greve é o do estado de excepção permanente
tornando o direito à greve quase como uma miragem para muitos/as trabalhadores/as. E
ainda assim a dignidade ergueu-se contra a chantagem.

2- A austeridade é a chantagem

Aliás, a chantagem não é apenas uma forma de travar a greve. A própria austeridade é a
chantagem que faz com que a conta da especulação seja apresentada agora aos/às
trabalhadores/as, desempregados/as e reformados/as sob a ameaça do ataque da
especulação salva do colapso pelo dinheiro público. A conta não pode ser apresentada a
nenhuns outros porque o sistema entraria em colapso uma vez que os mais ricos não
conseguiriam depois “criar emprego” ou fugiriam mesmo do país. E é assim que os
governos sociais-liberais ou conservadores cedem facilmente ao bullying dos
especuladores e dos mais ricos, alimentando-o. E os elos mais fracos vão caindo. Se
Portugal continuar na competição para ser um dos bons alunos da ortodoxia neo-liberal
não escapará à avidez. E vamo-nos ver irlandeses para escapar ao aprofundamento da
crise…

3- A dignidade é um gigante sem fronteiras

Sócrates apresenta-se como o chantageado pelos mercados que nada pode fazer mas é
mentira. Enquanto funcionário da crise, é também o chantagista. Daí que lutar contra a
sua política não seja falhar o alvo mas que se sinta, como sugere Viriato Soromenho
Marques no DN, que é preciso ir mais longe: “a dolorosa verdade é que o futuro de
Portugal está hoje, quase todo, em Bruxelas, Berlim e nos animal spirits dos mercados.
A greve foi grandiosa, mas gigantesco é tudo aquilo que fica por fazer.”
http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1719884&seccao=Viriato%20
Soromenho%20Marques
Sim, depois desta greve fica tudo por fazer. Sente-se a necessidade de ir mais longe, de
dar nome aos espíritos animais dos mercados para melhor os combater, claro, mas
também ir à raiz dos problemas. Combater a ilusão de que esta austeridade ou uma
austeridade mais austera melhorará a situação do país ou mesmo a ilusão de que é
possível a acabar com a crise à escala nacional. Será assim precisa uma dignidade sem
fronteiras que marque em definitivo a entrada em cena de um novo sujeito colectivo.
Mais fácil de dizer do que fazer, uma greve geral europeia, por exemplo teria de se
conseguir separar da dimensão corporativa-nacional. Mas falhar ao encontro da
necessidade de construir este novo sujeito colectivo é deixar os nacionalismos
agressivos crescer ao mesmo tempo que as políticas mais agressivas face aos/às
trabalhadores/as vão cavando um fosso cada vez maior na divisão da riqueza produzida
entre capital e trabalho. E é tanto preciso um sindicalismo europeu como uma esquerda
anti-capitalista europeia capaz de uma unidade que ultrapasse a retórica. É pois
gigantesco o que fica por fazer. Mas depois da greve geral reforçamos a ideia de que
dignidade dos/as que lutam é um gigante sem fronteiras que assola já a Europa.

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