Vous êtes sur la page 1sur 141

Finnegans Wake I Finnícius Revém

Finnegans Wake I Finnicius Revém


JAMES JOYCE
Finnegans Wake I Finnicius Revém

LIVRO I
CAPÍTULO 1

Introdução I Vers ão I Notas


DONALDO SCHÜLER

D e s e nho s

LENA BERGSTEIN

2il edição revista

MELHOR TRADUÇÃO DE 2004

Ateliê Editorial
Título original em inglês
FINNEGANS WAKE

Copyright © 1999 by Estate of James Joyce

Direitos reservados e protegidos pela Lei 9.61O de 19.02.1998.


É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização,
por escrito, da editora .

1• edição, 1999
2• edição revista, 2004

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Joyce,)ames, 1882-1941.
Finnegans wake Finnicius revém /)ames Joyce;
=

introdução, versão, notas Donaldo Schüler;


desenhos Lena Bergstein. - 2. ed. - Cotia, SP:
Ateliê Editorial, 2004.

Título original: Finnegans wake


"Livro 1: capítulo 1".
Edição bilíngüe: inglês-porruguês
ISBN 85-85851-97-X

l.Joyce,James, 1882-1941. Finnegans wake


I. Schüler, Donaldo. 11. Bergstein, Lena.
111. Título. IV. Tírulo: Finnicius revém.

04-3868 CDD-823

Índices para catálogo sistemático:


1. Ficção: Literarura inglesa 823

Direitos em língua portuguesa reservados à

Ateliê Editorial
Rua Manoel Pereira Leite, 15
06709-280 Granja Viana Cotia - SP - Brasil
Telefax: (11) 4612-9666
Digitalizado para PDF por Zekitcha.
Brasília, 23 de maio de 2017.

Printed in Brazil 2004


Foi feito o depósito legal
Para Haroldo de Campos
Sumário

IN T R O DUÇÃO 13

CA P ÍTU L O 1. RIVERRU N/ROLARRIUAN NA 28/29

NOTAS D E L E I TU RA 87
;�
•i '
H '
'•
I
Introdução

1\ I\ y�/ '\" t,
� "f."· Y,�
I)IV\,và ('\ /\ /\ /\
>!· ·� . <.· �·''v··�' >::.\( N
\: ..
. .

J \· (�.
. � . .

j '
. .

.....,.. �....,;- �
\
'

I
Intro dução

Por flores e por floras, por faunos e por faunas, por vidas e por vias, flui
Finnegans Wake, o romance e o rio, o romance-rio. E fluem recordações,
estilhaçadas, entrelaçadas. Como os átomos epicúreos, os fragmentos joycianos
caem em efêmeras e progressivas combinações.
Finn MacCool, gigante mítico, capitão dos guerreiros 'irlandeses, os valentes
fenianos, eleva-se entre as recordações antigas, instigado pelo nacionalismo ir­
landês, e arrasta consigo o pedreiro Tim Finnegan, o da canção popular, que,
embriagado, caiu da escada, feriu a cabeça e morreu. A queda do pedreiro entra
no rol de outras: a de Lúcifer, a de Adão, a de Roma, a de Humpty Dumpty, a de
Charles Stewart Parnell, a do rei Marc, a de Tristão, a do Noé embriagado, a da
maçã de Newton, a da chuva, a queda diária de todos os homens, sem excluir o
colapso da bolsa de Wall Street. Quedas e restaurações movem o universo.
Na terra da magia, o uísque é poção poderosa. Um amigo lembra-se, entre
fumo e círios, de administrá-lo a Finnegan. A imobilidade cadavérica não freia a
ação da bebida. O pranteado se levanta, e o velório culmina em festa. Líquido,
não importa a natureza, regenera. À semelhança de Thor, de Prometeu, de Osíris,
de Cristo, de Buda ... , no ressurreto borbulha a vida. Persuadem-no a voltar ao
leito da morte para que outros vivam em seu lugar.
Ouvem-se em Finnegans Wake sonoridades do idioma que uniu o Ocidente, o
latim do império romano:.ftnis (fim) aposto a again para anunciar a circularidade
viconiana. O componente latino induz os irmãos Campos à tradução Finnicius
Revém. Ao passar pelo francês (rêve- sonho), o título traduzido sustenta a subs­
tância onírica do romance. O tradutor romanceia na esteira do original. Opor­
tuno é recordar, na composição do título, a expressão latina fines jluviorum, as
16 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake

desembocaduras dos rios. Podemos ignorar fin (fim), substantivo francês que
rima com revém, vínculo sonoro de princípio e conclusão?
Nada impede que se veja em Finnegans o s de posse, em outros tempos escri­
to sem o apóstrofo. Assim, o título nos encaminha ao velório (Wake) do infaus­
to operário. Se retivermos, contudo, o plural, assinalado por s, alcançamos o
despertar dos Finnegans. Quem são eles? Todos os homens? Por que não? Ho­
mens Concorrem. Ei-los. (Here Comes Everybotfy), HCE, o Homem a Caminho Está...
Morrer e renascer é o destino de todos. Os que morrem renascem em filhos, em
feitos, em livros, em monumentos, em casas, em árvores... De muitas formas se
regenera a mesma energia vital. Finn MacCool revém em Tim Finnegan, assim
como Odisseu refloresce em Bloom (Flor) . Outros sentidos haverá. Repetidas
leituras não esgotam a reserva das criações joycianas.
Sobreposições afetam tanto o título quanto a variedade das narrativas. Co­
mecemos, por conveniência, pela mais banal, a de um certo Porter, já na me­
tade da vida, de raízes escandinavas, taberneira e unido a Anna, de ascendên­
cia russa, uma ex-caixeira de pouco estudo. O casal vive num arrabalde de
Dublin, Chapelizod, nas proximidades do Phoenix Park, às margens do rio
Liffey. Porter, aventureiro, faliu e recomeçou. Ele, episcopal, e ela, presbiteriana,
ambos isolam-se da maioria católica. O isolamento lembra Bloom, de sangue
judeu. Porter e Anna têm uma filha, Isabel, e os gêmeos Kevin (chamado as­
sim em homenagem ao santo ascético, S. Kevin) e Jerry. O primeiro é prático;
as artes, ao contrário, seduzem o segundo. Dos afazeres domésticos cuida Kate
(Kathleenna Hoolian, Old Mother Ireland) viúva de Finn MacCool; ela guar­
da lembranças dos tempos em que seu marido era senhor da Irlanda. Porter
mantém ainda um empregado, Joe. Mencionam-se doze fregueses habituais e
quatro anciãos. Entram na trama as amigas de !solda, vinte e oito jovens que
moram na vizinhança.
Porter bebeu mais do que a prudência mandava, aliás, atravessou o dia rega­
do a uísque. Isso sucedeu num sábado de muito calor. Cantou-se. Visões oníricas
povoadas de pesadelos reelaboram os excessos diurnos.
Já sem atração mútua, marido e mulher ainda se recolhem ao mesmo leito.
Os filhos são agora a paixão dos velhos. Anna se afeiçoa a Jerry, Porter prefere
Kevin. Sempre em conflito, Jerry e Kevin evocam Caim e Abel, inimigos até ao
fratricídio, ou Esaú e Jacó, candidatos à primogenitura. Uma mulher mais jo­
vem perturba os sentimentos do taberneira, a própria filha. Interiormente in­
cestuoso, um pesadelo o degrada a símio, a inseto. É assim que aparece Humphrey
I n t r o d u çã o DONALDO SCHÜLER 17

Chimpden Earwicker. O nome Humphrey formou-se de hump, giba; Chimpden


vem de chimpanzee (chimpanzé), Earwicker está associado a um inseto que, pela
crendice, penetra no ouvido, earwig (lacrainha). Lacrainha é perce-oreille em fran­
cês, donde o onomástico Persse O 'Reil!J, autor presumido da canção que
incriminou Earwicker. O próprio Earwicker é autor dos versos que o levaram às
grades? A c�rcularidade viconiana gira no geral e nos detalhes. Ondas de sonho
borram esta como outras versões.
A vida de Porter submerge na de Humphrey Chimpden Earwicker, de san­
gue escandinavo, cuja taberna se chama The Bristol, conhecida também por
The Mullingar. Idade? Já avança nos cinqüenta. Caraterísticas pessoais: louro,
bigode espesso, gordo, gago.
Earwicker teria se desnudado diante de duas garotas no Phoenix Park, sur­
preendidas a urinar. Uma delas, a sua própria filha. O desacato do taberneira foi
testemunhado por três soldados bêbados, inseguros do que se passou. A ansie­
dade de Earwicker em justificar-se dissemina lapsos em sua alocução. A ênfase
com que se defende o incrimina. Boateiros acrescentam que ele sofre de doença
vil (a vile disease). Venérea? Vozes anônimas o maculam de corpo e alma.
A culpa de Earwicker evoca o pecado original. Pesa sobre ele o lapso de
Adão, refletido na perturbação de Hamlet, na inquietação de Stephen Dedalus
e na intranqüilidade moderna. Lembra o daimonion de Sócrates. Como os con­
trários em Joyce não se excluem, Earwicker, associado ao substantivo alemão
Erwecker(o que desperta), traz em si mesmo os germens da regeneração. Temos
assim um transgressor cristificado. A redenção, consumada no cristianismo além
da história, Joyce a situa na própria natureza, purgatório que atua em todos os
que por ela passam. Embora Earwicker seja cidadão de Dublin, é tido como
intruso, descendente de um tronco germânico invasor da Irlanda.
As personagens confundem-se com fenômenos da natureza: HCE - Dublin,
ALP - Liffey, Shem - árvore, Shaun - pedra, !solda, que ainda não se tornou rio
como a mãe, nuvem. As relações são dramáticas: o pai deseja a filha e outras
jovens, os filhos hostilizam o pai, a mãe é infiel, os fregueses espalham boatos.
A sigla HCE, originária das iniciais encontradas em manuscritos, aparece
freqüentemente repetida em nomes próprios e comuns: Howth Castle and
Environs; Here Comes Everybody; Haveth Children Everywhere; How
charmingly exquisite; Humme the Cheapner, Esc; hod, cement, and edifices;
Haroun Childeric Eggenberth... A personalidade de HCE se forma e se dilui.
Aportou na baía de Dublin, vagueou pelo mundo, deixando famílias em toda
18 JAM E S JOYC E F i n n e ga n s W a ke

parte: Tróia, os godos, os francos, os nórdicos, Bretanha, Eire. Manifesta-se em


Thor, São Patrício, Cromwell, Wellington ... HCE representa a unidade na
pluralidade. Brilha no homem e em todas as aparições masculinas. Substitui,
provavelmente, o tetragrama sagrado JHVH Gavé, em uma das vocalizações
possíveis, nome com que no Antigo Testamento se designa Deus). Não é apa­
rição messiânica, é a força que brota da terra.
A mulher de HCE, ALP (Anna Livia Plurabelle), concorre em abrangência
com seu marido. É detectável em Eva, Í sis, !solda, numa nuvem, num riacho,
em todas as aparições femininas. Fonte do amor cósmico, manifesta-se em
Í sis a recolher o corpo desconjuntado de Osíris, marido-irmão. Anna, rio
mutável, mantém o fluir heraclitiano. Todos os conflitos se originam e con­
fluem em HCE e ALP. ALP mantém unidos seus filhos-gêmeos em guerra:
Shem, forma irlandesa abreviada de Seamus - )ames, e Shaun, variante irlan­
desa de John. A polaridade Shem-Shaun, masculina, subordina-se à polaridade
heterossexual dos pais.
Shem, introvertido, repelido, é pesquisador, descobridor de coisas proibi­
das e detentor de poderes excepcionais. Convenções não o refreiam. Incita e
perdoa. Chega a favorecer bacanais de amor coletivo. Homens prudentes te­
mem-no, suprimem palavras suas, denunciam e deturpam ensinamentos seus.
Escarnecido, boêmio, criminoso, Shem esconde-se nas sombras. Shem the
Penman (Shem, o Escriba), é visionário, poeta, o próprio Joyce incompreen­
dido, rejeitado. Shem escreve no seu próprio corpo, pergaminho que Shaun
não consegue decifrar.
Shaun é o pastor da humanidade, próspero, aplaudido, vitorioso. Suas obras
não sofrem restrições. Jamais desce a profundidades proibidas, nem o atraem
verdades escondidas a não ser que lhe sejam úteis. Basta-lhe a vida dos senti­
dos. Shaun the Postman (Shaun, o Postalista) passa aos homens a mensagem
descoberta e redigida por Shem. Acompanha-o o apreço que afaga os porta­
dores de boas novas. Com Shaun, a palavra, deturpada, pragmática, se faz
carne. No processo das sobreposições joycianas, Shaun é Kevin e Shem é
Jerry. O casal com seus três filhos formam um conjunto de actantes que
atuam em inúmeros atores.
Esta é só uma tentativa de compreender o complexo. Real é o sonho;
indefinidos desfilam os sonhadores. Além de Porter, apontaram-se outros
sonhadores: Earwicker, Jerry, McCool, o próprio Joyce. Se optamos por uma
visão caleidoscópica, sonharam estes e muitos outros. Como saber quem so-
I n t r o d u çã o DONALDO SCHÜLER 19

nhou o que, se todos sonham? Não se atribua a Porter consistência maior do


que a que se dilui em outros. Os movimentos do caleidoscópio arrastam to­
dos na mesma sarabanda. Definem-se os sonhos, vagos permanecem os con­
tornos dos sonhadores.
Finnegans Wake incorpora, entre outras, a lenda de Tristão e !solda. Reinava
na Cornualha Marc. Atacado por inimigos, Rivalen, rei de Loénois, o socorreu.
Marc, agradecido, deu-lhe Blanchefleur, sua irmã, em casamento. Rivalen, cha­
mado à luta, morreu em campanha, deixando viúva a esposa grávida.
Inconsolável, Blanchefleur morreu pouco depois de dar à luz. Filho da tristeza,
a mãe chamou o filho Tristão. O menino foi instruído em canto, música, caça,
armas e equitação. Raptado por mercadores da Noruega, conseguiu escapar,
longe de sua terra. Trazido por caçadores ao rei Marc, disse cautelosamente que
procedia da casa de um mercador. Marc afeiçoou-se ao belo e inteligente rapaz.
Atacado pelo rei da Irlanda, temia-se Morholt, um gigante, súdito do agressor.
Tristão desafiou o portento e o matou, depois de ser ferido por arma envenena­
da. Enfermo, Tristão voltou à Irlanda para ser tratado por !solda, entendida em
drogas, que, entretanto, odiava o herói pelos danos causados à Irlanda. Apre­
sentando-se com identidade falsa, ludibriou !solda e retornou curado. Para evi­
tar que o rei constituísse o valente guerreiro como sucessor, os barões levaram­
no a pensar em casamento a fim de gerar herdeiro. Constrangido, Marc elegeu
para esposa a dona dum fio de cabelo louro que brilhava como um raio de sol,
deixado no palácio por duas andorinhas. Tristão se dispôs a auxiliar o tio em
seus projetos matrimoniais. Reconhecendo o cabelo como de !solda, o sobri­
nho de Marc retornou à Irlanda, assumindo a identidade de mercador inglês.
Enfrentou vitoriosamente um dragão que flagelava a região. !solda foi o prê­
mio do triunfo. Determinado, porém, a cumprir com a palavra empenhada,
declarou que a princesa seria esposa do rei Marc. A mãe de !solda, solícita,
preparou uma poção mágica e a confiou à dama de companhia da filha para ser
administrada aos noivos na noite de núpcias. Inadvertidamente, castigados pelo
calor, Tristão e !solda servem-se da bebida antes de chegarem ao destino. Ven­
cido por força maior que suas nobres inclinações, Tristão trai o rei e lhe entrega
a noiva já violada, deixando-o na ignorância. As núpcias realizaram-se no déci­
mo oitavo dia. Atormentado pelo seu infausto amor, o atribulado guerreiro
enreda-se numa seqüência infindável de traições, dissimulações, aventuras e
mortes. Feridos muitos combates na Frísia, na Gavóia, na Alemanha e na
Espanha, Tristão vai à Bretanha e combate com êxito os inimigos do duque
20 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake

·
Hoel. Este, em reconhecimento de seus feitos, dá-lhe em casamento a irmã, a
!solda das Mãos Brancas. Como Tristão não conseguia varrer da memória a
outra, o casamento não se consumou. Fingindo-se louco, volta ao palácio de
sua inesquecível amada. A irlandesa exprime o desejo de morrer nos braços do
amado e partir para o país donde ninguém volta, a terra de cânticos sem fim.
Às desventuras de Tristão, Joyce aproxima a aflitiva vida amorosa de Jonathan
Swift (1 667-1 745), nascido e formado em Dublin, ironista a quem as Viagens de
Gulliver deram notoriedade. Jonathan, já nos seus maduros vinte e dois anos,
conheceu, quando secretário de William Temple, numa localidade não longe de
Londres, Esther Johnson, uma menina de oito anos. Swift homenageou-a em
]ournal to Stella, lembrando-a com este nome literário. Esther Johnson seguiu
Swift até Dublin, cidade a que o escritor foi levado por deveres profissionais,
chegando a ser deão da igreja St. Patrick. Na Irlanda conheceu outra Esther,
filha de Vanhomrigh, comerciante de origem holandesa, a quem dedicou o livro
Cadenus [Decanus] and Vanessa. Indeciso entre uma e outra, apressou, ao que
parece, a morte de ambas.
O romance alude, incorpora, modifica e parodia número imenso de obras,
núcleos seminais de nova floração. Não há página em Finnegans Wake sem evo­
cações literárias - as bíblicas superam todas - como se Joyce quisesse abarcar
tudo o que se escreveu, fazendo de todos os textos um livro só.
Apontou-se Gimbattista Vico, aludido já na segunda linha de Finnegans Wake,
como uma das colunas do romance. Para Vico, quatro são as Idades: a dos
deuses, a dos heróis, a dos homens e o ricorso, período confuso, fim de um ciclo
e princípio de outro. Saídos da barbárie, os homens entram na idade dos deuses,
orientados - como pensavam - por governantes celestes, cuja vontade se expri­
me em oráculos e auspícios. A passagem da barbárie para a idade dos deuses é
acionada por fenômenos assustadores: dilúvio ou fogos caídos do céu. Os ho­
mens vivem na mira de seres disformes que não habitam em cidades, os gigan­
tes. Intimidados, os homens dobram-se ante governantes celestes, controlados
os impulsos destrutivos. Na idade dos heróis, a segunda, dominavam as repú­
blicas aristocráticas. Essa idade é inaugurada por combatentes da estatura de
Hércules e dos guerreiros homéricos que ampliam o espaço da civilização. Na
terceira idade, a dos homens, surgem as repúblicas populares e as monarquias
orientadas por leis humanas. Platão, autor da República, atua na idade dos ho­
mens. Vem a débâcle: paixões desenfreadas Quxo, indolência, avareza, inveja, so­
berba) . Entramos no ricorso. A providência socorre os degenerados. Confundi-
Introdução D O N A L D O S C H Ü L E R 21

dos e aturdidos, esvaem-se em vícios: abastança, ócio, prazer, luxo. Reduzidos


ao necessário, os homens recuperam a simplicidade primordial: religiosidade,
veracidade, confiabilidade. A história se refaz como a mítica Fênix.
A cada uma das idades corresponde uma forma de linguagem. Na idade dos
deuses, entre homens recentemente erguidos à condição humana, surge a lin­
guagem hieroglífica, adequada a mudos - a comunicação faz-se por sinais -,
mantida pelos egípcios antigos e pelos chineses. Na idade dos heróis, surgem os
símbolos. Fala-se agora por comparações, imagens, metáforas, descrições. Na
idade dos homens aparece a linguagem vulgar. Convenções regem os meios de
expressão. Leis limitam o poder dos nobres.
Os primeiros povos foram poetas. De raciocínio débil, cultivavam fábulas,
fantasias, paixões fortes, formuladas em versos heróicos ou jâmbicos. A prosa
desenvolve-se na idade dos homens. Atento ao método filológico de Vico, Joyce
ausculta nas palavras marcas de passadas gerações, sentidos perdidos, verdades
escondidas na etimologia. Subordinar, entretanto, Joyce a Vico ou a quem quer
que seja não honra o romancista. Vico auxiliou Joyce a se libertar de concepção
retilínea, apocalíptica, punitiva, positivista da história, motivo de muitos tor­
mentos tanto para Dedalus na adolescência, como se lê em Retrato do Artista
Quando Jovem, quanto para Dedalus já adulto, como o mostram os dois primei­
ros capítulos de Ulisses. A circularidade viconiana lhe permitiu ver a vida renas­
cer em cada morte sem subordiná-la, contudo, a nenhum padrão. A tentativa de
enquadrar o romance no todo ou em partes na concepção viconiana não levou
a resultado satisfatório. A imaginação livre de peias é a lei do romance. Mas
Vico interessa ao romancista não só como pensador. Reconhece que, mais do
que Freud ou Jung, Vico o ajudou a imaginar.
Para reconstruir o mundo do homem primitivo, Joyce recorreu ao antropó­
logo Lévi-Bruhl, empenhado em opor pensamento lógico e pensamento pré­
lógico. Este não se orientaria, segundo Lévi-Bruhl, pelas categorias elaboradas
por Descartes e Kant. O primitivo, pensa o etnólogo, incapaz de distinguir o
sensível e o não-sensível, convive com espíritos, com forças impalpáveis. Desa­
tento a causas imediatas, prefere ver nos fenômenos a atuação de forças miste­
riosas. Para os povos primitivos, transgredir um princípio de origem oculta (tabu)
provoca desgraça. As categorias de tempo e de espaço não funcionam como as
nossas, objetivamente segmentadas. O primitivo distribui o tempo em períodos
fastos e nefastos. Afetivamente ligado ao seu grupo, importa-lhe saber onde as
coisas aconteceram. Sem limites precisos entre a vida e a morte, não indaga por
22 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake

motivos naturais para a interrupção das funções vitais. Os cuidados reservados


ao morto podem começar antes que cessem os batimentos cardíacos. O espírito
continua ligado ao corpo, mesmo depois que os músculos enrijeceram. Os espí­
ritos dos que já não se vêem animam rios, pedras, mares, montanhas e manufa­
turas. Os ancestrais, sensíveis aos atos de sua gente, participam das preocupa­
ções cotidianas. Em lugar de classificações discursivas, elos sentimentais unem
o grupo ao todo. Para o indivíduo que se dissolve no grupo, noção de sujeito
não há.
A distinção entre pensamento lógico e pré-lógico, criticada em Lévi-Bruhl,
some em J oyce. O que foi um dia é. As idades viconianas impregnam a experiên­
cia cotidiana. Trazemos o primitivo em nós. Vivemos ora na idade dos deuses,
ora na idade dos homens. Na montagem joyciana as quatro idades podem estar
concentradas numa mesma palavra. A distinção entre infância e maturidade,
vida e morte, ontem e hoje existe para ser transgredida.
Quem vem do Ulisses ao Finnegans Wake passa da narrativa em vigília à narra­
tiva ao despertar, relato de um sonho que envolve o universo. O romance não
registra a experiência onírica de uma das personagens. Finnegans Wake desdobra
o mapa de uma mente ampla como o universo. O sonhador não sonha para
alguém sobre algo num código conhecido. Acontecido fora da interlocução, o
sonho quebra as cadeias da subordinação. Joyce proclama - na formação de
palavras, de frases, de cenas -processos que se avizinham do método interpre­
tativo de Freud. Vejamos. Uma noiva, que protela o casamento sem dar com o
motivo, procura Freud e lhe conta um sonho: ''Arrumo o centro da mesa com
flores para um aniversário" (I arrange the centre of a table withJlowersfor a birthdqy).
O sonho lhe causou prazer. A mesa-isso revela a análise-simboliza a própria
sonhadora que reveste com as flores os seus próprios genitais. No arrumar emer­
ge prática auto-erótica. Freud a alerta para o "centro da mesa", expressão
incomum. Constatam-se flores caras. Ela menciona lírios, violetas e cravos (filies
of the vallry, violets andpinks or carnations), associando lírios e pureza-lírios do vale
conotam virgindade. As violetas evocam violar (viole" violate), violência, senti­
mento masoquista. A noiva informa que costuma receber cravos (carnations) do
noivo, que lhe sugerem encarnação (incarnation). Aniversário leva ao nascimento
de uma criança. Explicita-se o desejo: que o noivo use de violência, apresse e
consuma o casamento. No sonho estruge a guerra entre a libido e a repressão.
Freud, auto-analisando-se, dá com a expressão aparecida em sonho Auf
Ungeseres. Geseres é uma palavra hebraica que entre outras coisas significa queixa.
Introdução D O N A L D O S C H Ü L E R 23

Ungeseres é criação onírica: sem-queixa. Tudo indica que a expressão onírica foi
calcada sobre a expressão corrente: Auf Wiedersehen - Até à vista. Que sentido
terá Até à sem-queixa? Ora, entre queixa e sem-queixa, esta última vale mais à
semelhança do caviar sem sal (ungesalzene) que supera em prestígio o salgado
(gesalzene) . Ocorre a Freud que o povo de Israel, saindo apressadamente do
Egito, levou pão sem levedo (unsgesauert ), razão por que durante os festejos da
Páscoa os judeus comiam, ainda em sua época, pão sem levedo. Freud recorda
que, andando no período de Páscoa em Breslau, uma menina perguntou-lhe o
nome de uma rua, quando viu uma placa em que se lia Dr. Herodes. Observa
jocosamente que não podia tratar-se de um pediatra, já que Herodes ordenou a
matança dos infantes em Belém. Um colega que lhe expôs o significado bio­
lógico da simetria bilateral observou preliminarmente: "Se tivéssemos um olho
só na testa como o ciclope... ". Ciclope evoca míope. Freud lembra o filho de um
professor molestado por uma afecção em um dos olhos. Na opinião do oftal­
mologista, o mal não seria grave se permanecesse unilateral. Normalizada a visão,
a doença se manifestou no olho antes sadio. A mãe, aflita, voltou ao médico,
obtendo por resposta: "Por que fazer geseres? - Por que queixar-se?" A restauração
de um dos olhos anuncia a recuperação do outro.
A leitura dos sonhos abre caminho a processos narrativos que incorporam
várias línguas, conjugam lugares, aproximam culturas, congregam épocas, mis­
turam expressões vulgares com relevantes encadeamentos teóricos. Joyce reali­
za o que os textos de Freud sugerem. Joyce explora mo/ate - lembrança de Freud?
- já na primeira página. Finnegans Wake exige interpretação. O romance faz do
leitor analista.
A experiência onírica parte o eu em dois. Um é o eu que restaúra o sonho,
outro é o eu que origina as imagens estranhas, aflitivas. Nos tempos míticos,
dava-se ao sonho personalidade própria. O sonho estava a serviço dos deuses,
era um outro, portador do bem e do mal. No sonho guerreiam eus - sonheus. O
eu consciente alista-se na milícia dos construtores de individualidades, o eu do
sonho divide-se em muitos: guerreiros, gigantes, jovens e velhos, pais e filhos,
patrões e empregados, escritores e carteiros, reis e rainhas. O sonho abre a
porta a todos - Here Comes Everybotfy - o Homem a Caminho Está. Do sonho
nasce o romance.
Assim como Ulisses, Finnegans Wake impõe renovados hábitos de leitura. A
linear não basta. Em cada parágrafo, em cada frase, em cada palavra, tocamos
estratos sobrepostos, convite a trabalho de arqueólogo. Verticalidade e
24 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake

horizontalidade se entrecruzam espacial e cronologicamente. Surgem arqueoleitores.


Em minúcias do presente ecoam as origens, sucedem-se horizontes culturais
variados, encadeados. Andamos por muitos lugares sem sair do mesmo lugar, o
já sabido acolhe o novo, faces anoitecidas guardam traços do amanhecer. Até
em fatos insignificantes se adensam compactas experiências pessoais. Avolumam­
se fábulas, diálogos, anedotas, cantos, rumores; versões uma da outra, e todas,
versões de conflitos insistentes.
O sonho navega por águas que a vigilância comprometida com o socialmen­
te aceito deliberadamente ignora. Desejos culposos emergem envolvidos em
papel vistoso, fitas e cartão de felicitações. A beleza sonora, rítmica e verbal de
Finnegans Wake esconde violência, sentimentos proibidos, indecências. Parte da
obscuridade dirigida a leitores atilados tem esta origem. Para se fazer entendido,
o texto oferece muitas versões do mesmo código cifrado. Os nomes e os
caracteres emergem lentamente, às apalpadelas, aos pedaços.
Falar em palimpsesto é adequado. Tenha-se, entretanto, o cuidado de não
apagar nenhuma das escritas sobrepostas. O palintexto preserva textos. Tome­
se um quadro cubista. Perspectivas, épocas, espaços, caracteres, embora dis­
tantes, distribuem-se no mesmo plano. O texto wakiano é assim. Nem sobre
enredo nem sobre processos verbais se profira sentença de experimentalismo
gratuito. Joyce avança com expressividade reinventada. Invenções só falam a
receptores inventivas.
A investigação comanda a elaboração dos capítulos. Em vez de responder a
perguntas, o narrador compromete o leitor na perquirição de inquietações vá­
rias, complexas, indefinidas. O romance recebeu o nome de Finnegans Wake só
em 1938, ao nascer. No período de gestaçãoJoyce o designava de Work in Progress,
" Obra em Andamento", caráter que a obra nunca perdeu.
A paródia e o trocadilho são os instrumentos da obra. Afetam palavras e
frases, entorpecidas pela embriaguez e o sono. Núcleos narrativos vivem, trans­
figuram-se, acasalam-se, geram, rompem vínculos para entrar em combinações
imprevistas, sementeira de linhagens insuspeitas. O substrato verbal conquista
autonomia longe dos referentes. Até nomes arrancados de personalidades his­
tóricas entram na forja da invenção.
Seja contestável o percurso balizado por Campell-Robinson. Contribuiu,
entretanto, para desfazer a impressão de caos. Traçaram-se outros. Joyce dei­
xou indefinidos etapas e capítulos, certo de que nasceriam da experiência de
leitura. A contínua sobreposição de acontecimentos e de espaços torna pre-
I n t r o d u çã o DONALDO SCHÜLER 25

cárias todas as tentativas de organização. Avançamos sem que sejamos autori­


zados a esquecer trajetos já percorridos. Vencida a vertigem ante freqüentes
abismos, somos estimulados a criar roteiros próprios. Caleidoscópico é o exer­
cício da leitura. Lemos Joyce e uma plêiade de leitores de Joyce. Joyce exigia
que a leitura de Finnegans Wake tomasse, ao menos, tanto tempo quanto a
elaboração. O congraçamento de leitores nos poupa trabalho. Os leitores estamos
empenhados na elaboração de um livro maior que o Finnegans Wake, um que
abranja outros tempos, outras línguas, outras culturas, tarefa superior à dura­
ção de uma vida.
Quem traduz Joyce não pode abster-se da obrigação de criar similares aos da
língua de origem. Distanciamo-nos com freqüência da literalidade para captar
efeitos que ultrapassam significados. Joyce não é nada austero. Tivemos o cui­
dado de não destruir a jocosidade (para não dizerjoycosidade). Como não dispo­
mos em português do aparato crítico que se formou ao longo das décadas em
torno do texto original, procuramos manter-nos no âmbito da língua portugue­
sa e de línguas muito próximas ao português ao ensaiar jogo verbal joyciano.
Não se espere, nem assim, inteligibilidade completa do texto. Num discurso
deliberadamente onírico, luminosidade intensa não se atingirá nunca. Poderá
ser recomendável, numa primeira leitura, passar pelo texto sem preocupação de
explorar o que ele esconde. Quem se confia a jogos sonoros, ao ludismo de
imagens e idéias, pode lerJoyce com prazer. O retorno assíduo ao texto revelará
a gradativa decifração de obscuridades. O texto explica-se a si mesmo. A refle­
xão nasce aos poucos. Para os interessados, oferecemos análises breves que não
pretendem mais do que suscitar o debate. Descobrir Joyce será sempre aventura
de cada um.
Finnegans Wake
ríverrun

• <

,.l('
.
'1
l ' '

\ .·\

l .,
Finnicius Revém
rolarríuanna

---, .._...... .

i
J
!
riverrun, past Eve and Adam's, from swerve of shore to bend
2 of bay, brings us by a commodius vicus of recirculation back to
3 Howth Castle and Environs.
4 Sir Tristram, violer d'amores, fr'over the short sea, had passen-
5 core rearrived from N orth Armorica on this side the scraggy
6 isthmus of Europe Minor to wielderfight his penisolate war: nor
7 had topsawyer's rocks by the stream Oconee exaggerated themselse
8 to Laurens County's gorgios while they went doublin their mumper
9 all the time: nor avoice from afire bellowsed mishe mishe to
10 tauftauf thuartpeatrick not yet, though venissoon after, had a
11 kidscad buttended a bland old isaac: not yet, though all's fair in
12 vanessy, were sosie sesthers wroth with twone nathandjoe. Rot a
13 peck o f pa's malt had Jhem or Shen brewed by arclight and rory
14 end to the regginbrow was to be seen ringsome on the aquaface.
15 The fall (bababadalgharaghtakamminarronnkonn bronn tonner-
16 ronn tuonn th unn trovarrhounawnskawn to o hoohoordenen th ur-
17 nuk!) of a once wallstrait oldparr is retaled early in bed and later
18 on life down through all christian minstrelsy. The great fall of the
19 offwall entailed at such short notice the pftjschute of Finnegan,
2o erse solid man, that the humptyhillhead of humself prumptly sends
21 an unquiring one well to the west in quest of his tumptytumtoes:
22 and their upturnpikepointandplace is at the knock out in the park
23 where oranges have been laid to rust upon the green since dev-
24 linsfirst loved livvy.

[3]
rolarriuanna e passa por Nossenhora d'Ohmem's, roçando
2 a praia, beirando ABahia, reconduz-nos por commódios caminhos recorrentes
3 de vico ao de Howth Castelo Earredores.
4 Sir Tristrão, violeiro d'amores, d'além do mar encapelado, não tinha
5 passancorado reveniente de Norte Armórica a estas bandas do istmo escarpado da
6 Europa Menor para o virolento conflito de penisoldada guerra: nem
7 as pétreas bolotas de Sawyer ao longo do Oconee caudaloso se tinham seggsagerado
8 ao território laurenciano da Geórgia enquanto se dublinavam
9 em mamypapypares o tempo todo: nem avoz do fogo rebellava mim-She,
10 mim-She ao tauftauf do pautripedrícioquetués: ainda não, embora desvanessido
11 depois, um braço novilho tinha iludido um cego revelho !saque: ainda não, embora
12 em invernesses fantasvale tudo, as tristes esthernes tinham dilaceradoo duuno
13 nathandeãojo. Barrica nenhuma de maltescocês tinham Jhem ou Shen fermentado
14 à luz iriada darco e a chuvosa-pestana brilhava em anel à tona d'aquaface.
15 A queda (bababadalgharaghtakamminarronnkonnbronntonner-
16 ronntuonnthunntrovarrhounawnskawntoohoohoordenenthur-
17 nuk!) dum dantanho wallstreetado velhonário é recontada cedo no leito, depois
18 sabe viva no conceito ao longo de toda a cristã menestrelidade. A grande queda
19 desdeo altomuro recortou em curtolance a pftjqueda de Finnegan,
20 varão outrora mais q'estável, que a humptymontesta lá dele prumptamente
21 desvestiga quem lhe diga no Ocidente o acidente de seus tumptytum-
22 dedos: e seu parcoespaçoepouso é na porta do parque,
23 lugar de arranjos de oranges mofados sobre o verde desde que Dia-
24 dublin um diamou Livvydinha.

[3]
32 JAM E S J OYCE F i n n ega n s Wake

What clashes here of wills gen wonts, oystrygods gaggin fishy-


2 gods! Brékkek Kékkek Kékkek Kékkek! Kóax Kóax Kóax! Ualu
3 Ualu Ualu! Quaouauh! Where the Baddelaries partisans are still
4 out to mathmaster Malachus Micgranes and the Verdons cata-
s pelting the camibalistics out of the Whoyteboyce of Hoodie
6 Head. Assiegates and boomeringstroms. Sod's brood, be me fear!
7 Sanglorians, save! Arms apeai with larms, appalling. Killykill-
8 killy: a toll, a toll. What chance cuddleys, what cashels aired
9 and ventilated! What bidimetoloves sinduced by what tegotetab-
10 solvers! What true feeling for their's hayair with what strawng
11 voice of false jiccup! O here here how hoth sprowled met the
12 duskt the father of fornicationists but, (O my shining stars and
13 body!) how hath fanespanned most high heaven the skysign of
14 soft advertisement! But was iz? Iseut? Ere were sewers? The oaks
15 of ald now they lie in peat yet elms leap where askes lay. Phall if
16 you but will, rise you must: and none so soon either shall the
17 pharce for the nunce come to a setdown secular phoenish.
18 Bygmester Finnegan, of the Stuttering Hand, freemen's mau-
19 rer, lived in the broadest way immarginable in his rushlit toofar-
20 back for messuages before joshuan judges had given us numbers
21 or Helviticus committed deuteronomy (one yeastyday he sternely
22 struxk his tete in a tub for to watsch the future of his fates but ere
23 he swiftly stook it out again, by the might of moses, the very wat-
24 er was eviparated and all the guenneses had met their exodus so
25 that ought to show you what a pentschanjeuchy chap he was!)
26 and during mighty odd years this man of hod, cement and edi-
27 fices in Toper's Thorp piled buildung supra buildung pon the
28 banks for the livers by the Soangso. He addle liddle phifie Annie
29 ugged the little craythur. Wither hayre in honds tuck up your part
30 inher. Oftwhile balbulous, mithre ahead, with goodly trowel in
31 grasp and ivoroiled overalls which he habitacularly fondseed, like
32 Haroun Childeric Eggeberth he would caligulate by multiplicab-
33 les the alltitude and malltitude until he seesaw by neatlight of the
34 liquor wheretwin 'twas born, his roundhead staple of other days
35 to rise in undress maisonry upstanded Goygrantit!), a waalworth
36 of a skyerscape of most eyeful hoyth entowerly, erigenating from

[4]
F i n n i c i u s R e v ém D ONALDO S C H Ü L E R 33

Que choques cá de querências contra carências, ostragodos versus pisci-


2 godos! Brékkek Kékkek Kékkek! Kóax Kóax Kóax! Ualu
3 Ualu Ualu! Quaouauh! Onde baudeleiros botocudos inda
4 avançam para arrasamassacrar linguarudos e verduns
5 catapultarremessam contra camibalisticos para fora da irlandalvosbóycia
6 de Montecaveira. Brasiguaios e Paragualeiros. Sangue de Chresto cruz scroto!
7 Sanglorencianos, salve! Armas apelam com larmas, alarmam. Psiu-psiu-
8 psiu: pum-pum. Queaconchegos no lance, castelos no ar que o vento
9 levou! Que protestutas sexduzidas por papa-missas!
10 Que ferventes desejos por braços peludos e farfalhas na voz
11 de falso jacoube! Oh, como cá cá comemorreu
12 pó o pai das fornicações mas, (Ó cintilantes estrelminhas,
13 corpo meu!) como celestaltosplendeu o irissigno de doce prenúncio!
14 É assim, !solda? Teus olhos chispam certeiros? Carvelhos alderabantes
15 outrora dormem agora em fofadubo, mas olmos brotam em leitos de cinza.
16 Phallofalha se queres, reviver é que deves: e nunca tão cedo cessará
17 a pharsa em nada sem que cíclica revenha fenixfinda.
18 O Bygmester Finnegan, o Mão-Gaga, pedreiro de livre
19 pensar, vivia na via mais larga imarginábil no seu rútilo habitáculo
20 muilonge para missagens antes de juízes josuéicos nos terem dado números
21 ou Helvíticus tenha cometido o deuteronômio (em outr'antontem ele machadeou
22 a cara em estígias águas nas cubas do Brás para vislumbrar memórias pósteras mas,
23 antes de o queirós sair d'eça, por artes de moisés, até a água tinha eviporado
24 e todas as pyráguas genesíacas tinham achado seu êxodo assim
25 isso deverá mostrar-lhes o su jeito pentaenrabado quele era!)
26 e por deusajustados aiíos esse biscateiro de deus, cimento e mitifícios
27 empilhou em Vila Pinga imagifícios sobre imagifícios para seus fieles según
28 la canción. Tinha a linda, purinha, gatinha a fina e fophA niiía, treme-papou a
29 creiarthurinha. Com seus longos cabelos te aconchegava as partes
30 lá nela. Muchas vezes, balbuciante, mitra pra frente, colher-de-pedreiro
31 em punho e aventais cor marfim qu'ele habitacularmente sementeava com afeto,
32 qual Haroun Criancerrico Euevoberto ele caligulava por multiplicáveis
33 a alltitude e a maltetude até virilver, na pura luz do
34 licor em que geminasceu, a haste cabeça-redonda de outros tempos
35 a se erguer em mansonarias despidas Goycegarantidas!), muravilha
36 de arranhacéuvista, torreiffélica encheolhos, eriginando de

[4]
34 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake

next to nothing and celescalating the himals and all, hierarchitec-


2 titiptitoploftical, with a burning bush abob off its baubletop and
3 with larrons o'toolers clittering up and tombles a'buckets clotter-
4 ing down.
5 Of the first was he to bare arms and a name: Wassaily Boos-
6 laeugh of Riesengeborg. His crest of huroldry, in vert with
7 ancillars, troublant, argent, a hegoak, poursuivant, horrid, horned.
8 His scutschum fessed, with archers strung, helio, of the second.
9 Hootch is for husbandman handling his hoe. Hohohoho, Mister
10 Finn, you're going to be Mister Finnagain! Comeday morm and,
11 O, you're vine! Sendday's eve and, ah, you're vinegar! Hahahaha,
12 Mister Funn, you're going to be fined again!
13 What then agentlike brought about that tragoady thundersday
14 this municipal sin business? Our cubehouse still rocks as earwitness
15 to the thunder of his arafatas but we hear also through successive
16 ages that shebby choruysh of unkalified muzzlenimiissilehims that
17 would blackguardise the whitestone ever hurtleturtled out of
18 heaven. Stay us wherefore in our search for tighteousness, O Sus-
19 tainer, what time we rise and when we take up to toothmick and
20 before we lump down upown our leatherbed and in the night and
21 at the fading of the stars! For a nod to the nabir is better than wink
22 to the wabsanti. Otherways wesways like that provost scoffing
23 bedoueen the jebel and the jpysian sea. Cropherb the crunch-
24 bracken shall decide. Then we'll know if the feast is a flyday. She
25 has a gift of seek on site and she allcasually ansars helpers, the
26 dreamydeary. Heed! Heed! It may half been a missfired brick, as
27 some say, or it mought have been due to a collupsus of his back
28 promises, as others looked at it. (fhere extand by now one thou-
29 sand and one stories, all told, of the same). But so sore did abe
30 ite ivvy's holired abbles, (what with the wallhall's horrors of rolls-
31 rights, carhacks, stonengens, kisstvanes, tramtrees, fargobawlers,
32 autokinotons, hippohobbilies, streetfleets, tournintaxes, mega-
33 phoggs, circuses and wardsmoats and basilikerks and aeropagods
34 and the hoyse and the jollybrool and the peeler in the coat and
35 the mecklenburk bitch bite at his ear and the merlinburrow bur-
36 rocks and his fore old porecourts, the bore the more, and his

[5]
F i n n i c i u s R e v ém DONALDO SCHÜLER 35

next a nada e celestescalando os himalaiacéus e tudo hierarquitec-


2 titiptitonicamente, com uma sarçardente longe sobre o baubéltopo e
3 com latros obreiros scalando e coágulos aos baldes
4 tumbando.
5 Dos primeiros foi ele a portar armas e que nome: Aquoso Pinguço
6 Serragigante! Seu elmo de putáltica, em verd tido, ostentava
7 servulgatas, sexitantes; argênteo, um bode, persecutante, hórrido, cornudo.
8 Trazia couraça de banda, ornada com arqueiros; hélio, d'outra parte.
9 Empino um copo à saúde do adão que no serviço topo. Hohohoho, Mister
10 Finn, o senhor será Mister Refinnado! Com' é dia de segunda e,
11 oh!, eres vino! Finnda a dominga e, ah!, és vinagre! Hahahaha,
12 Mister Funnéreo, o senhor será afunndado!
13 O que então qualagente trouxe essa tragoédia na quinta-farra
14 esse negócio dinfração municipal? Nossa casadecubas como testemunhauricular
15 inda treme do seu peipaidaraço mas ouvimos também por sucessivas
16 idades essa vergonhosa coroística de deskalificados missilmuçolmanos que
17 queriam enegroar a alvapedra que foi outrora lançatartarugada para fora do
18 céu. Ampara-nos então em nossa procura de justeza, Ó Sustentador, sempre que
19 nos levantamos e quando resolvemos paulitaros dentes e antes que
20 pesocaímos sobrencima de nosso catredecouro e durantanoite e
21 ao apagar destrelas! Pois sinal a proxstante é melhor que aceno
22 a santausente. De outra ladeira como o frade zombador beduímos
23 entre omonte e o mar egipcíaco. Cana-santa a triturada que
24 o decida. Então saberemos se o fleriado é na sexta. Ela tem o dom de
25 seelocalizar e allcasualmente responde a auxiliares,
26 a dromideária. Atenção! Atenção! Pode ter sido um misslançado tijolo, assim
27 presumem alaguns, ou poderia ter sido devido a um colapso de pregressas
28 promessas, a doutros olhos. (femos porora somadas mil
29 e umestórias, mui-recontadas, do mesmo). Tão certo porém comabel
30 comeu as rubrossantas maçãs devita, (o que com buzinaços infernais de rolls-
31 réus, gripedecarros, toxigênios, rolo-de-rodas, triquetraquetrens, roncodemotos,
32 autokinetons, poplaymóveis, frotafluxos, transportadoras, meganévoas,
33 circos, limpa-fossas, basiliquermesses e aeropagodes
34 e horríssonos e jolibramidos e o tira de capa e a mordidela
35 de cadela das Voluntárias da Pútria na orelha lá dele e o encanto
36 das boates, percursos, côrtes, canos, canais e suas

[5]
36 JAM E S J OYCE Finnega n s Wake

blightblack workingstacks at twelvepins a dozen and the noobi-


2 busses sleighding along Safetyfirst Street and the derryjellybies
3 snooping around Tell-No-Tailors' Corner and the fumes and the
4 hopes and the strupithump of his ville's indigenous romekeepers,
5 homesweepers, domecreepers, thurum and thurum in fancymud
6 murumd and all the uproor from all the aufroofs, a roof for may
7 and a reef for hugh butt under his bridge suits tony) wan warn-
8 ing Phill filt tippling full. His howd feeled heavy, his hoddit did
9 shake. (There was a wall of course in erection) Dimb! He stot-
10 tered from the latter. Damb! he was dud. Dumb! Mastabatoom,
11 mastabadtomm, when a mon merries his lute is all long. For
12 whole the world to see.
n Shize? I should shee! Macool, Macool, orra whyi deed ye diie?
14 of a trying thirstay mournin? Sobs they sighdid at Fillagain's
15 chrissormiss wake, all the hoolivans of the nation, prostrated in
16 their consternation and their duodisimally profusive plethora of
17 ululation. There was plumbs and grumes and cheriffs and citherers
18 and raiders and cinemen too. And the all gianed in with the shout-
19 most shoviality. Agog and magog and the round of them agrog.
20 To the continuation of that celebration until Hanandhunigan's
21 extermination! Some in kinkin corass, more, kankan keening.
22 Belling him up and filling him down. He's stiff but he's steady is
23 Priam Olim! 'Twas he was the dacent gaylabouring youth. Sharpen
24 his pillowscone, tap up his bier! E'erawhere in this whorl would ye
25 hear sich a din again? With their deepbrow fundigs and the dusty
26 fidelios. They laid him brawdawn alanglast bed. With a bockalips
27 of finisky fore his feet. And a barrowload of guenesis hoer his head.
28 Tee the tootal of the fluid hang the twoddle of the fuddled, O!
29 Hurrah, there is but young gleve for the owl globe wheels in
30 view which is tautaulogically the same thing. Well, Him a being
31 so on the flounder of his bulk like an overgrown babeling, let wee
32 peep, see, at Hom, well, see peegee ought he ought, platterplate. �
33 Hum! From Shopalist to Bailywick or from ashtun to baronoath
34 or from Buythebanks to Roundthehead or from the foot of the
35 bill to ireglint's eye he calmly extensolies. And all the way (a
36 horn!) from fiord to fjell his baywinds' oboboes shall wail him

[6]
F i n n i c i u s R e v ém DONALDO SCHÜLER 3 7·

charmantes meiasfabris a doze pratas a dúzia e fumaçabus


2 deslizando aolongo davenida Senhor-da-Boa-Morte e trombadinhas
3 trombando em torno da praça Te-Cala-Meu-Chapa e o fumo e a
4 fama e a forma dos indígenas urbanos guardas-do-capitólio
5 gatas de borralho, escavadores de cascalho, duro com duro não fazem
6 bom muro e quantos atropelos e quantos apelos, um pra mim,
7 um pra ti e um pra pingue pipa sob seus chiques largos arcos) indo adver-
8 rindo Plin pleno de licor. O coco pesava, a cuia tremia
9 na cachaça. (Havia - por que não? - um muro em ereção) Dim!. .. Ro-
lO lou pela escada. Dom! Qual múmia caiu duro. Dum! Mastabatoom,
11 mastabadtomm. Depois do casório vem o velório. Pra
12 todomundo ver.
n Par tido? Eu o teria dito! Macool, Macool, porra, por quiski cê murreu?
14 Foi de sede em quinthormentosa merdinha? Chopes aos choupos no do Finnado
15 veludo velório, estrelas de tod anação, a prostração na
16 consternação e a duodizimamente profusiva plethora de
17 ululação. Havia à porfia pedreiros, casados, delgados, violeiros,
18 marinheiros, cinemen, de tudo. E todos giravam na mais alto-
19 falante showialidade. Agogue e magogue rodeavam o grogue.
20 Para a continuação da celebração até à de Gengiscão exterminação!
21 Alguns no tam-tam do tamborim, e mais, kankan no pranto.
22 Pra cima no batuque pra baixo no muque. Tá duro, mas soberbo,
23 o Príapo d'Olin da! Se houve cabra alegre no tablado, era o Finnado. Afila
24 em cone a pipa de pedra, que pingue cevada! Adonde neste cosmere-
25 trício escuitarás loisa igual? Ir de pros fundis e dar desta àf é
26 deles? Acomodaram o salmão em seu derradayro leito. Com um abocálipce
27 de finisky aos pés. E uma genesíaca barrica da loirespumante à cabeça.
28 Té que o tootal do fluido flua no duotal do fluminado, O!
29 Hurra, nada mais que uma gleve vida pro corujidoso globo rodar à
30 vista o que é tautaulogicamente a mesma coisa. Bem, eLi repousa
31 estendido de costas como um desproporcional babelinho, vamos
32 vê-Lo se vemos, bem, se pegamos se queremos, se assim te parece. �
33 Lá! Da shoppelisolda ao farol do Caveira ou da cinzópole à baronia
34 ou da fralda dos montes ao tope na testa ou do sopé
35 do Bill ao olho da Eirrisonha ele calmo extensodorme. Por veredas e vias
36 (Lamento!) da baía à serrania lamúrias do vento acalento o velam

[6]
38 JAM E S J OYCE Finnegans Wake

rockbound (hoahoahoah!) in swimswamswum and all the livvy-


2 long night, the delldale dalppling night, the night of bluerybells,
3 her flittaflute in tricky trochees (O carina! O carina!) wake him.
4 With her issavan essavans and her patterjackmartins about all
5 them inns and ouses. Tilling a teel of a tum, telling a toll of a tea-
6 ry turty Taubling. Grace before Glutton. For what we are, gifs
7 à gross if we are, about to believe. So pool the begg and pass the
8 kish for crawsake. Omen. So sigh us. Grampupus is fallen down
9 but grinny sprids the boord. Whase on the joint of a desh? Fin-
10 foefom the Fush. Whase be his baken head? A loaf of Singpan-
11 try's Kennedy bread. And whase hitched to the hop in his tayle?
12 A glass of Danu U'Dunnell's foamous olde Dobbelin ayle. But,
13 lo, as you would quaffoff his fraudstuff and sink teeth through
14 that pyth of a flowerwhite bodey behold of him as behemoth for
15 he is noewhemoe. Finiche! Only a fadograph of a yestern scene.
16 Almost rubicund Salmosalar, ancient fromout the ages of the Ag-
17 apemonides, he is smolten in our mist, woebecanned and packt
18 away. So that meal's dead off for summan, schlook, schlice and
19 goodridhirring.
20 Yet may we not see still the brontoichthyan form outlined a-
21 slumbered, even in our own nighttime by the sedge of the trout-
22 ling stream that Bronto loved and Brunto has a lean on. Hic cubat
23 edilis. Apud libertinam parvulam. Whatif she be in flags or flitters,
24 reekierags or sundyechosies, with a mint of mines or beggar a
25 pinnyweight. Arrah, sure, we all love little Anny Ruiny, or, we
26 mean to say, lovelittle Anna Rayiny, when unda her brella, mid
27 piddle med puddle, she ninnygoes nannygoes nancing by. Yoh!
28 Brontolone slaaps, yoh snoores. Upon Benn Heather, in Seeple
29 Isout too. The cranic head on him, caster of his reasons, peer yu-
30 thner in yondmist. Whooth? His clay feet, swarded in verdigrass,
31 stick up starck where he last fellonem, by the mund of the maga-
32 zine wall, where our maggy seen all, with her sisterin shawl.
33 While over against this belles' alliance beyind Ill Sixty, ollol-
34 lowed ill! bagsides of the fort, bom, tarabom, tarabom, lurk the
35 ombushes, the site of the lyffing-in-wait of the upjock and hock-
36 ums. Hence when the clouds roll by, jamey, a proudseye view is

[7]
F i n n i c i u s R e v ém DONALDO SCHÜLER 39

rochatado (hoá-hoá-hoá-h!) em suim-suam-suum e por toda a livvy-


2 longa noite, a dele dolorida noite, a noite pluriblinbella,
3 a del aflita flauta em trique troqueus (O carina! O carina!) o velam.
4 Com seu dessa vá nessa vem e peregrinações por templos calvi-lute-romanos
5 tavernindo e boatando. Cantindo um canto dum tal, ralatando o rol do
6 relato duma pomba-dublinha. Graças ante o Glutão. Por aquilo que somos, dons
7 a granel se é que estamos, a ponto de crer. O açúcar do pão me dai hoje mais
8 o leite d'ama Zonas. Ohmém. Assim cerveja. O Meninão tombou no chão
9 mas Mamãezona dispõe o assado. Que temos de pranto no proto? Phinn-
10 phen-phon Pheixe. E a cabeça assada o que é? Uma fatia de pão
11 de Nova Guiné. E na crista da cauda o que vejo? Um cálice de
12 Madeira de D. Henrique, o Navegador renomado, emborcado no Tejo. Mas
13 veja, no instante em que você quer engolir essa fraude e meter o dente nesse
14 tutano de alva farinha, toma-o por quimera pois
15 está núncares-nenhures. Finniche! Só uma fatuografia de uma cena heriada.
16 Qual rubicundo Salmão-salgado, antigo advindo das idades dos
17 Agapemônidas esvai-se em nossas névoas, tristenlatado fez
18 as malas. Assim este morto-repasto foi-se enfinn engolido, deslizou e
19 boa-sorte-rubras-sardinhas.
20 Contudo aconteça já não vermos a forma brontoicthyana esboçada
21 em sonolência, mesmo em nossa própria horanoturna, junto ao tufo da truto-
22 rejante corrente que Bronto amava e pela qual Brunto tinhuma queda. Hic cubat
23 edilis. Apud libertinam parvulam. Que venha embandayrada ou em tiras,
24 lufa-lufada ou arenendomingada, num perfume dos meus ou mendiga,
25 caramba. Arre, seguro, todos amamos a pecquerrucha Nifia Chorosa, ou,
26 queremos dizer, amamozinhos Anna Chuvosaquando o som é sob sua brinha, em
27 danças e andanças elaniversa, naniqueia, anuncia por. Eia!
28 O Bronto-só-ro cochila, eia ronroneia. Sobre o Cav eira, à beira da capelinha
29 d'Isoltinha. A cranica beça lá dele, razão de suas razões, penetra jovem
30 na nevoalém. Quequisto? Seus pés de barro, relvados em verdegruma,
31 sesticam estanques andem onde tumbomem à boca do armurazém
32 onde nossa maga viu tanto irmantada no manto.
33 Enquanto além eoposto ao quartel das bellas atrasalém da Sta. Colina, aleluiada
34 Colina! À ré do forte, bom, tarabom, tarabom, espreita emboscada,
35 a parte dos fluxos-de-spera de cadê zazá e marcha soldado. Por isso, enquanto
36 nuvens passa-rolam, meu cabeça-de-papel, tenho a honra de sugerir vista

[7]
40 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake

enjoyable of our mounding's mass, now Wallinstone national


2 museum, with, in some greenish distance, the charmful water-
3 loose country and the two quitewhite villagettes who hear show
4 of themselves so gigglesomes minxt the follyages, the prettilees!
5 Penetrators are permitted into the museomound free. Welsh and
6 the Paddy Patkinses, one shelenk! Redismembers invalids of old
7 guard find poussepousse pousseypram to sate the sort of their butt.
8 For her passkey supply to the janitrix, the mistress Kathe. Tip.
9 This the way to the museyroom. Mind your hats goan in!
10 Now yiz are in the Willingdone Museyroom. This is a Prooshi-
11 ous gunn. This is a ffrinch. Tip. This is the flag of the Prooshi-
12 ous, the Cap and Soracer. This is the bullet that byng the flag of
13 the Prooshious. This is the ffrinch that fire on the Buli that bang
14 the flag of the Prooshious. Saloos the Crossgunn! Up with your
15 pike and fork! Tip. (Bullsfoot! Fine!) This is the triplewon hat of
16 Lipoleum. Tip. Lipoleumhat. This is the Willingdone on his
17 same white harse, the Cokenhape. This is the big Sraughter Wil-
18 lingdone, grand and magentic in his goldtin spurs and his ironed
19 dux and his quarterbrass woodyshoes and his magnate's gharters
20 and his bangkok's best and goliar's goloshes and his pullupon-
21 easyan wartrews. This is his big wide harse. Tip. This is the three
22 lipoleum boyne grouching down in the living detch. This is an
23 inimyskilling inglis, this is a scotcher grey, this is a davy, stoop-
24 ing. This is the bog lipoleum mordering the lipoleum beg. A
25 Gallawghurs argaumunt. This is the petty lipoleum boy that
26 was nayther bag nor bug. Assaye, assaye! Touchole Fitz Tuo-
27 mush. Dirty MacDyke. And Hairy O'Hurry. All of them
28 arminus-varminus. This is Delian alps. This is Mont Tive!,
29 this is Mont Tipsey, this is the Grand Mons Injun. This is the
30 crimealine of the alps hooping to sheltershock the three lipoleums.
31 This is the jinnies with their legahorns feinting to read in their
32 handmade's book of stralegy while making their war undisides
33 the Willingdone. The jinnies is a cooin her hand and the jinnies is
34 a ravin her hair and the Willingdone git the band up. This is big
35 Willingdone mormorial tallowscoop Wounderworker obscides
36 on the flanks of the jinnies. Sexcaliber hrosspower. Tip. This

[8]
F i n n i c i u s R e v ém D ONALDO S C H Ü L E R 41

desfrutável a nosso montículo funerável, o agora pétreo e murado Wallinstone


2 museu nacional, com, à certa distância verdosa, a encantadora região
3 das águas de Waterloo e de duas vilinhas mui branquinhas que mostram
4 de si mesmas ruflantes sons de mixadas foliagens, gracinhas!
5 Penetração na boca museolada é tolerada, grátis. Caloteiros e irlandeses,
6 um xelim! Inválidos desmembrados da velha guarda acharão empurra-empurra,
7 carrinhos-de-empurrar adequados ao tamanho de suas bundas.
8 Para suprir-se de passachave dirigir-se à januária, Senhora Kate. Tip.
9 Por aqui ao musauléu. Baixem a piolheira e entrem!
10 Agora cês tão no musauléu Wallenton. Isto é um canhão pruscistórico.
11 Este é um ffrincês. Tip. Esta é a bandeira dos prusciosos, a
12 Xicara e o Pires. Esta é a bala que byngou a bandeira
n dos prusciosos. Este é o ffrincês que fulminou o buldogue que bandeava
14 na bandeira dos prusciosos. Salva a Crossgunn! Triques e tragues,
15 pum pum! Tip. (Fenotaurino! Que fino!) Este é o tripluno chupéu de Lipoleão.
16 Tip. Triplochapoleão. Este é o Wallenton no seu
17 lá dele cuvalo branco, Cupinhapa. Este é o bigue Carniceiro Wallenton
18 grande e magentático em suas poras d'oiro, em trinque de
19 ferro, em botas do fera brás, ligas de magnata,
20 casaca de bangkok, galochas de golias, capa palapulonésia.
21 Este é seu bigue branco cuvalo. Tip. Este é um trio
22 de lipoleões ceuteando para dentro da trincheira dos vivos. Este é um
23 anglo inimissmatando, este é um escocês piolhento, este é um marinheiro
24 s'abaixando, este é um lipoleão merdento mordeando um lipoleão sarnento.
25 Um bate-boca de gaulegalos. Este é lipoleão petiço que
26 nunca tugiu nem mugiu. Basta, bosta! Xico da Xota.
27 Grilo do Grelo. E o Pelado du Peludo. Todas eles da
28 armada-verminada. Estes são os alpes Deitados. Este é o monte du Diabo,
29 este é o monte da Pinga, este é o Grand Mont Injoanino. Exta é
30 a crimealina dos arpes arqueada pra guarnecer os treis lipoleões.
31 Estas são as ginnetes de chupéu de pulha fingindo ler em seu
32 livro de estralagia feito à mão enquanto faziam guerra indecisa
33 a Wallenton. As ginnetes recolhem a mão e as ginnetes
34 graúnam os pêlos e Wallenton sobe em ereção. Este é o impornente
35 mormorial altezcópio Feribundo obscediado
36 nos flancos das ginnetes. Calibre sexcavalovapor. Tip. Este

[8]
42 }AM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake

is me Belchum sneaking his phillippy out of his most Awful


2 Grimmest Sunshat Cromwelly. Looted. This is the jinnies' hast-
3 ings dispatch for to irrigate the Willingdone. Dispatch in thin
4 red lines cross the shortfront of me Belchum. Yaw, yaw, yaw!
5 Leaper Orthor. Fear siecken! Fieldgaze thy tiny frow. Hugact-
6 ing. Nap. That was the tictacs of the jinnies for to fontannoy the
7 Willingdone. Shee, shee, shee! The jinnies is jillous agincourting
8 ali the lipoleums. And the lipoleums is gonn boycottoncrezy onto
9 the one Willingdone. And the Willingdone git the band up. This
10 is bode Belchum, bonnet to busby, breaking his secred word with a
11 ball up his ear to the Willingdone. This is the Willingdone's hur-
12 old dispitchback . Dispitch desployed on the regions rare of me
13 Belchum. Salamangra! Ayi, ayi, ayi! Cherry jinnies. Figtreeyou!
14 Damn fairy ann, Voutre. Willingdone. That was the first joke of
15 Willingdone, tic for tac. Hee, hee, hee! This is me Belchum in
16 his twelvemile cowchooks, weet, tweet and stampforth foremost,
17 footing the camp for the jinnies. Drink a sip, drankasup, for he's
18 as sooner buy a guinness than he'd stale store stout. This is Roo-
19 shious balls. This is a ttrinch. This is mistletropes. This is Canon
20 Futter with the popynose. After his hundred days' indulgence.
21 This is the blessed. Tarra's widdars! This is jinnies in the bonny
22 bawn blooches. This is lipoleums in the rowdy howses. This is the
23 Willingdone, by the splinters of Cork, order fire. Tonnerre!
24 (Bullsear! Play!) This is camelry, this is floodens, this is the
25 solphereens in action, this is their mobbily, this is panickburns.
26 Almeidagad! Arthiz too loose! This is Willingdone cry. Brum!
27 Brum! Cumbrum! This is jinnies cry. Underwetter! Goat
28 strip Finnlambs! This is jinnies rinning away to their ouster-
29 lists dowan a bunkersheels. With a nip nippy nip and a trip trip-
30 py trip so airy. For their heart's right there. Tip. This is me Bel-
31 chum's tinkyou tankyou silvoor plate for citchin the crapes in
32 the cool of his canister. Poor the pay! This is the bissmark of the
33 marathon merry of the jinnies they left behind them. This is the
34 Willingdone branlish his same marmorial tallowscoop Sophy-
35 Key-Po for his royal divorsion on the rinnaway jinnies. Gam-
36 bariste della porca! Dalaveras fimmieras! This is the pettiest

[9]
F i n n i c i u s R e v ém D O NAL D O S C H Ü L E R 43

é mim Belchum se apropriando do bucéphalo do mui Terrível


2 Severjíssimo Sombrero Cromwellinho & Filhos. Co. Limonada. Este é o dizpacho
3 das ginnetes apressadinhas para irregar Wallenton. Dizpacho em tênues
4 linhas vermelhas atravoz da shortfrente de mim Belchum. Si, si, si! Colhudo
5 Arthouro. Venqueremos! Bota o olho na tua frufruzinha.
6 Napo. Esta foi a tictática das ginnetes para fontestarrecer o
7 Wallenton. Xi, xi, xi! As ginnetes gemem por agincourtejar
8 todos os lipoleões. E o lipoleões se meteu a boicottoncrecir o só Wallenton.
9 E o Wallenton endureceu seu brando. Este é o emiissionário Belchum,
10 boné à barretina, quebrandoo céucreto verbo com um pompom sobre
11 a orelha a Wallenton. Este é o raputoldo retrodesembucho de
12 Wallenton. Desembucho lavrado nas reigiões à ré de mim
13 Belchum. Salamangra! Ai, ai, ai! Cheridas ginnetes, figatrifutrem-se!
14 Ri eu, ri Ana. Caralhardamente. Wallenton. Essa foi a primeira putada de
15 Wallenton, rico a taco. Hi, hi, hi! Este sou eu, Belchum com
16 suas borrachosas botas de doze eggvas chuá, chuá stamfordando avante
17 em marcha no campo das ginnetes. Toma um gole, molha a língua, pois
18 ele teria preferido comprar uma cerveja a star sem stoque. Estas são ba-
19 las ruussas. Esta é uma ttrinchesa. Estas são infantropas. Este é o Canhão
20 Nutrição com o narigão quebradão. Depois de seus cem dias de indulgência.
21 Esta é a des-agraciada. Viúvas da nossa Terra! Estas são ginnetes com brancas
22 botas Blüchner. Estes são lipoleões em rubros quartéis. Este é
23 Wallenton nos plendores de Cork, ordem: fogo. Trovão!
24 (Norelhadutouro! Atira!) Esta é a camelaria, esta é a inflantaria, esta é
25 a solferinaria em ação, estas são suas viaturas, estes são paniqueiros.
26 Só ALmeidA é Deus! Arthiz tu l'usa! Este é o grito de Wallenton. Brum!
27 Brum! Cambrum! Este é o grito das ginnetes. Pernabamba! Cordeiro,
28 estripa a Finnlâmbia! Estas são ginnetes escorrendo à sua Austerlitz
29 vitoriando em fortalezas. Com um trago tragando trago e um passo
30 passando passo tão airoso. Pois lá está o curação delas. Tip. Este sou eu
31 Belchum grícias gracias, salvas de plata presfriar em geleira
32 o fogo da metralheira. Pour la pay! Esta é a bismarca da marcha de
33 Maratona que as ginnetes deixaram atrás delas. Este é
34 Wallenton que bronhou próprio phalloscópio Salvi-se-Apica-
35 que-Puder no napoleônico divórcio na hora do escuar-se das ginnetes.
36 Gambariste della porca! Dalaveras fimmieras! Este é o petiço

[9]
44 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake

of the lipoleums, Toffeethief, that spy on the Willingdone from


2 his big white harse, the Capeinhope. Stonewall Willingdone
3 is an old maxy montrumeny. Lipoleums is nice hung bushel­
4 lors. This is hiena hinnessy laughing alout at the Willing-
5 done. This is lipsyg dooley krieging the funk from the hinnessy.
6 This is the hinndoo Shimar Shin between the dooley boy and the
7 hinnessy. Tip. This is the wixy old Willingdone picket up the
8 half of the threefoiled hat of lipoleums fromoud of the bluddle
9 filth. This is the hinndoo waxing ranjymad for a bombshoob.
10 This is the Willingdone hanking the half of the hat of lipoleums
11 up the tail on the buckside of his big white harse. Tip. That was
12 the last joke of Willingdone. Hit, hit, hit! This is the same white
13 harse of the Willingdone, Culpenhelp, waggling his tailoscrupp
14 with the half of a hat of lipoleums to insoult on the hinndoo see­
15 boy. Hney, hney, hney! (Bullsrag! Foul!) This is the seeboy,
16 madrashattaras, upjump and pumpim, cry to the Willingdone:
17 Ap Pukkaru! Pukka Yurap! This is the Willingdone, bornstable
18 ghentleman, tinders his maxbotch to the cursigan Shimar Shin.
19 Basucker youstead! This is the dooforhim seeboy blow the whole
20 of the half of the hat of lipoleums off of the top of the tail on the
21 back of his big wide harse. Tip (Bullseye! Game!) How Copen­
22 hagen ended. This way the museyroom. Mind your boots goan
23 out.
24 Phew!
25 What a warm time we were in there but how keling is here the
26 airabouts! We nowhere she lives but you mussna tell annaone for
27 the lamp of Jig-a-Lanthern! lt's a candlelittle houthse of a month
28 and one windies. Downadown, High Downadown. And num­
29 mered quaintlymine. And such reasonable weather too! The wa­
30 grant wind's awalt'zaround the piltdowns and on every blasted
31 knollyrock (if you can spot fifty I spy four more) there's that
32 gnarlybird ygathering, a runalittle, doalittle, preealittle, pouralittle,
33 wipealittle, kicksalittle, severalittle, eatalittle, whinealittle, kenalittle,
34 helfalittle, pelfalittle gnarlybird. A verytableland of bleakbardfields!
35 Under his seven wrothschields lies one, Lumproar. His glav toside
36 him. Skud ontorsed. Our pigeons pair are flewn for northcliffs.

[1 0]
F i n n i c i u s R e v ém DONALDO SCHÜLER 45

dos lipoleões. Alibabou qu'espionou Wallenton no alto de seu


2 bigue alvo cuvalo, o Cabesperança. Wallenton Muro Pedroso
3 e um velho maxy monstrumento. Lipoleão é um belo joão-sol-ter-ão.
4 Eis a hiena de Jena indo se rindo de Wallenton.
5 Esta é Leipsygótica mariazinha belliscando o assombrado joãozinho.
6 Este é o Wallhinduon Xinxim entre mariazinha e
7 joãozinho. Tip. Este é o velho vexado Wallenton piqueteando
8 meio chapéu triponteado prafora do hemampo de
9 batalha. Este é o hindu mirajadá pruma mijarada.
10 Este é Wallenton metendo o meio chupéu de lipoleão
11 no culo da cola do alvo cuvalo. Tip. Este foi
12 o finnal piadão do Wallenton finnfarrão. Hi, hi, hi! Este é o mesmo alvo
13 cuvalo do Wallenton, Culo-pen-me-socorre, gingando a bunda
14 com o meio chupéu de lipoleão pra insulto ao ordinário hindu
15 legionário. Cocoricá! (Bostadetouro! Fora!) Este é o religionário
16 madrasxeretas, pimpum e pumpim, aos gritos a Wallenton:
17 Vá à puka ke o pariuka! Este é Wallenton, o nascido em galpão
18 não será cuvalão, estendendo a mão ao rebelde xinxim.
19 Ocê bazuqueia a testa, usted! Eis a tarefa do relogionário bala te abala
20 no meio do meio chupéu de lipuleão no topo da cola
21 docudo cuvalo bigue e branco. Tip (Nolhodutouro! Goooooooal!) Assim
22 se finnou Copenhague. Por aqui do musauléu. Peguem as botas
23 e saiam.
24 Ufa!
25 Que belicaloroso tempo tivemos lá dentro mas quão lisas são cá as
26 brisas! Sabemos onde elabita mas não deves contar a nessanna à
27 luz de fogo fátuo. É uma velavelada cabanna de um mês
28 com ventosas ventannas e uma. Baixo-baixo, Superbaixo.
29 E numeradas singu lar mente. E que tempo ameno também!
30 Vagos ventos valsam em torno de tumbas e a cada rajada
31 rochatumbante (se podes apontar cinqüent'espreito inda quatro) lá stá a
32 avepiopio a recolher um corre-pouco, faz-pouco, roga-pouco, verte-pouco,
33 torce-pouco, recua-pouco, separa-pouco, come-pouco, chora-pouco, sabe-pouco,
34 pinga-pouco, pilha-pouco aavepiopio. Ornitolândia de volatomelanocampos!
35 Sob sete rodoschieldescudos jaz um, L'empenhador. Gládio a seu lado.
36 Duque tombado. Nosso par de pombos partiu pras nortefalésias.

[10]
46 JAM E S J OYCE F í n n e ga n s Wake

The three of crows have flapped it southenly, kraaking of de


2 baccle to the kvarters of that sky whence triboos answer; Wail,
3 'tis well! She niver comes out when Thon's on shower or when
4 Thon's flash with bis Nixy girls or when Thon's blowing toom-
5 cracks down the gaels of Thon. No nubo no! Neblas on you liv!
6 Her would be too moochy afreet. Of Burymeleg and Bindme-
7 rollingeyes and all the deed in the woe. Fe fo fom! She jist does
8 hopes till byes will be byes. Here, and it goes on to appear now,
9 she comes, a peacefugle, a parody's bird, a peri potmother,
10 a pringlpik in the ilandiskippy, with peewee and powwows in
11 beggybaggy on her bickybacky and a flick flask fleckflinging
12 its pixylighting pacts' huemeramybows, picking here, pecking
n there, pussypussy plunderpussy. But it's the armitides toonigh,
14 militopucos, and toomourn we wish for a muddy kissmans to the
15 minutia workers and there's to be a gorgeups truce for happinest
16 childher everwere. Come nebo me and suso sing the day we
17 sallybright. She's burrowed the coacher's headlight the better to
18 pry (who goes cute goes siocur and shoos aroun) and all spoiled
19 goods go into her nabsack: curtrages and rattlin buttins, nappy
20 spattees and flasks of all nations, clavicures and scampulars, maps,
21 keys and woodpiles of haypennies and moonled brooches with
22 bloodstaned breeks in em, boaston nightgarters and masses of
23 shoesets and nickelly nacks and foder allmicheal and a lugly parson
24 of cates and howitzer muchears and midgers and maggets, ills and
25 ells with loffs of toffs and pleures of bells and the last sigh that
26 come fro the hart (bucklied!) and the fairest sin the sunsaw
27 (that's ceare!). With Kiss. Kiss Criss. Cross Criss. Kiss Cross.
28 Undo lives 'end. Slain.
29 How bootifull and how truetowife of her, when strengly fore-
30 bidden, to steal our historie presents from the past postpropheti-
31 cals so as to will make us all lordy heirs and ladymaidesses of a
32 pretty nice kettle of fruit. She is livving in our midst of debt and
33 laffing through all piores for us (her birth is uncontrollable), with
34 a naperon for her mask and her sabboes kickin arias (so sair! so
35 solly!) if yous ask me and I saack you. Hou! Hou! Gricks may
36 rise and Troysirs fall (there being two sights for ever a picture)

[1 1]
F í n n í c í u s R e v ém DONALDO SCHÜLER 47

Os três graus bateram asas pro sul, grasnando a


2 débâcle aos quatro cantos do céu donde tribos respondem; Bom,
3 tá bem! Ela nem nunca vem quando Thon tá no banho ou quando
4 Thon brincalha com as filhas da Noite ou quando Thon aos sopros
5 thontomba sobras gaélicos de Thon. No nubo no! Neblas núncares pra liv!
6 Nadinha de marcha medrosa lá nela. De pisar no buraco, de rolar-me
7 cega e de toda cair na desgraça. Cruz credo! Ela só
8 spera que até-logo até-logo seja. Escuta, acontece quela vai aparecer agora,
9 ela vem, apomba-da-paz, pomparaíso-paródia, a peri morsmateta
10 primavertil à beira do barco com um piupui um gluglu
11 um piguipagui de seu bicobaqui e um flic flac ruflo
12 seus paxilampejos pactos arcados iriscelestes, pica daqui, pica
13 dali salta saltita mais-que-bonita. Massaproxima noite d'armistício,
14 militopace, e amorrinhamanhã queremos um amormaçado natal
15 pr'obreiroperoso e haverá trégua por legvas e legvas, arte pra chicos
16 e chicas por todaparte. Vem nebo mim com sacros santos cantos o brilho do dia
17 solebrai. Ela tomou empresta do concheiro o farol próprio pra
18 prece (cirandanninha ciranda natalina nanoite feliz) réprobos restos
19 vão pra mochila: cartuchos e alarmas e todas as armas, perneiras e
20 insígnias guerreiras, claviculários e escapulários, mapas,
21 arromba dores, frau dá dores, falsários, borra chudas,
22 tijol aço de a saltante, us hurários de bosta, frofocas e fraques e amassa
23 shu setes trinques e drinques, fu massa de má conha, pres y diários, pai pré-potente,
24 lelé da cuca, pluri pelados, mexe ricos, atabaques cardíacos, eles e
25 elas, janelas e janotas, pluras e bellas e o último suspiro
26 que vem do cuore, (babaca!) a mais triste sina que o sol já sentiu
27 (escarcéu me acuda!). Um beijo. Um beijo e um queijo. Cruz Cris. Que Cruz.
28 Até a virada da vida. Liquidado.
29 Que belo e quão próprio-à-mulher da parte dela, quando estritamente proi-
30 bido, de subtrair nossos presentes históricos de passados pós-proféticos a modo
31 de querer fazer-nos todos senhoriais herdayros e madamais herdeiras de um
32 mui pingue rebanho de frutas. Ela livive entre nós em débitos e
33 créditos por nuestros ploros todos para nós (o nascimento dela é incontrolável), com
34 uma toalha por máscara e tacos tocam árias (tão sol! Tom
35 sol solo!) se me preguntas, tens la respuesta. Oh! Oh! Gregcaralhos
36 subam and troycalças caiam (havendo duas visões de toda pintura)

[1 1]
48 JAM E S J OYCE Finnega n s Wake

for in the byways of high improvidence that's what makes life-


2 work leaving and the world's a cell for citters to cit in. Let young
3 wimman run away with the story and let young min talk smooth
4 behind the butteler's back. She knows her knight's duty while
5 Luntum sleeps. Did ye save any tin? says he. Did I what? with
6 a grin says she. And we all like a marriedann because she is mer-
7 cenary. Though the length of the land lies under liquidation
8 (floote!) and there's nare a hairbrow nor an eyebush on this glau-
9 brous phace of Herrschuft Whatarwelter she'll loan a vesta and
10 hire some peat and sarch the shores her cockles to heat and she'll
11 do all a turfwoman can to piff the business on. Paff. To puff the
12 blaziness on. Poffpoff. And even if Humpty shell fall frumpty
13 times as awkward again in the beardsboosoloom of all our grand
14 remonstrancers there'll be iggs for the brekkers come to mourn-
15 him, sunny side up with care. So true is it that therewhere's a
16 turnover the tay is wet too and when you think you ketch sight
17 of a hind make sure but you're cocked by a hin.
18 Then as she is on her behaviourite job of quainance bandy,
19 fruting for firstlings and taking her tithe, we may take our review
20 of the two mounds to see nothing of the himples here as at else-
21 where, by sixes and sevens, like so many heegills and collines,
22 sitton aroont, scentbreeched and somepotreek, in their swisha-
23 wish satins and their taffetaffe tights, playing Wharton's Folly,
24 at a treepurty on the planko in the purk. Stand up, mickos!
25 Make strake for minnas! By order, Nicholas Proud. We may see
26 and hear nothing if we choose of the shortlegged bergins off
27 Corkhill or the bergamoors of Arbourhill or the bergagambols
28 of Summerhill or the bergincellies of Miseryhill or the country-
29 bossed bergones of Constitutionhill though every crowd has its
30 severa! tones and every trade has its dever mechanics and each
31 harmonical has a point of its own, Olaf 's on the rise and lvor's
32 on the lift and Sitric's place's between them. But all they are all
33 there scraping along to sneeze out a likelihood that will solve
34 and salve life's robulous rebus, hopping round his middle like
35 kippers on a griddle, O, as he lays dormont from the macroborg
36 of Holdhard to the microbirg of Pied de Poudre. Behove this

[12]
F í n n í c í u s R e v ém DONALDO SCHÜLER 49

pois nos desvios dalta improvidência é isto que aviva obra e


2 vida e o mundo é uma cela onde sedentários citam. Fuja a jovem
3 dama com sua estória, fale tranqüilo o jovem
4 às costas do pedinte. Ela conhece bem o dever de ,,seu cavaleiro enquanto
5 Londres dorme. Poupaste alguns cobres? diz ele. Fiz o quê? Diz ela
6 a sorrir. E nós todos mergulhamos na marinada porque ela é
7 mercenária. Mesmo que a larga geolândia repouse liquidada
8 (dilúvio!) e não haja fio de cabelo nem outro pêlo em sua
9 glabra face, Herrdade de águas e ondas, ela fará empréstimo de uma vesta,
10 alugará alguma turfa, procurará nas ribeiras algum ramo para se aquecer e
11 ela fará tudo o que uma mulher puder para deflagrar seus negócios. Flo. Para
12 excitar as flamas. Fluflu. E mesmo que Humpty seja flagrado em queda ovotenta
n vezes desastradamente no barborinho de todas as nossas folhudas falhas, haverá
14 sempre ovos para os aprecidores no café da manhã, a curvatura da gema
15 brilhante ao sol, cuidado. Tão verdadayro é isso que onde quer que haja
16 reviravolta o dia é úmido também e quando você pensa ter visto
17 um trasayro tenha certeza que cocoricós não te galinhem por trás.
18 Então como ela está em sua tarefa befavorista, a caridade da rainhanna,
19 reculher as primícias e obter galardão, podemos margulhar na Revista
20 dos Dois Mundos para não perceber nada das vesículas cerúleas daqui ou
21 dalhures, aos alhos e bugalhos, como tantos carpas e escarpas
22 sitos nos arredores, incensantados e incensantadas, no frufru das
23 saias de seda e no tafetafe dos tafetás, jogando cabra-cega
24 em partidatrês no planko do porque. De pé, seus micos!
25 Fim pras coitas de amor! Por ordens de Pinta, o Sete. Nada veremos,
26 nada ouviremos, se escolhemos montinhos de perna curta,
27 o Cocuruto da cantada, o Monte da viola, o Montezim do tamborim,
28 o Morro do violoncelo, a Encosta da Bosta ou os montículos
29 ridículos da ladeira da Constituição, ainda que cada multissom tenha
30 o seu próprio tom e cada ofício tenha seu próprio orifício e cada
31 harmonia, sua própria mania, lá na subida, mi na descida e o
32 lugar do si é entre os dois. Mas todos estão todos
33 em vias de arar para gerar a probabilidade que solverá
34 e salvará o ro bus to rebu da vida, com saltões desguelha
35 à semelhança de salmões na grelha, Oh, enquanto ele jaz dormente
36 desde o macromonte Caveira ao micromento dos Pés Poentos. Atenção

[12]
50 JAM E S JOYC E F i n n e ga n s Wake

sound of Irish sense. Really? Here English might be seen.


2 Royally? One sovereign punned to petery pence. Regally? The
3 silence speaks the scene. Fake!
4 So This Is Dyoublong?
5 Hush! Caution! Echoland!
6 How charmingly exquisite! It reminds you of the outwashed
7 engravure that we used to be blurring on the blotchwall of his
8 innkempt house. Used they? (I am sure that tiring chabelshovel-
9 ler with the mujikal chocolat box, Miry Mitchel, is listening) I
10 say, the remains of the outworn gravemure where used to be
11 blurried the Ptollmens of the Incabus. Used we? (He is only pre-
12 tendant to be stugging at the jubalee harp from a second existed
13 lishener, Fiery Farrelly.) It is well known. Lokk for himself and
14 see the old butte new. Dbln. W.K.O.O. Hear? By the mauso-
15 lime wall. Fimfim fimfim. With a grand funferall. Fumfum fum-
16 fum. 'Tis optophone which ontophanes. List! Wheatstone's
17 magic lyer. They will be tuggling foriver. They will be lichening
18 for allof. They will be pretumbling forover. The harpsdischord
19 shall be theirs for ollaves.
20 Four things therefore, saith our herodotary Mammon Lujius
21 in his grand old historiorum, wrote near Boriorum, bluest book
22 in baile's annals, f t. in Dyffinarsky ne'er sall fail til heathersmoke
23 and cloudweed Eire's ile sall pall. And here now they are,the fear
24 of um. T. Totities! Unum. (Adar.) A bulbenboss surmounted up-
25 on an alderman. Ay, ay! Duum. (Nizam.) A shoe on a puir old
26 wobban. Ah, ho! Triom. (Tamuz.) An auburn mayde, o'brine
27 a'bride, to be desarted. Adear, adear! Quodlibus. (Marchessvan.) A
28 penn no weightier nor a polepost. And so. And all. (Succoth.)
29 So, how idlers' wind turning pages on pages, as innocens with
30 anaclete play popeye antipop, the leaves of the living in the boke
31 of the deeds, annals of themselves timing the cycles of events
32 grand and national, bring fassilwise to pass how.
33 1 1 32 A.D. Men like to ants or emmets wondern upon a groot
34 hwide Whallfisk which lay in a Runnel. Blubby wares upat Ub-
35 laniwn.
36 566 A.D. On Baalfire's night of this year after deluge a crone that

[1 3]
F i n n i c i u s R e v ém D O NAL D O S C H Ü L E R 51

a este som de Eiriado sentido. Realmente? Aqui o Inglês pode ser visto.
2 Realeza? Um soberano punido a penada penitência. Regalado? O
3 silêncio segue a cena. Acorda!
4 Então Esta É Dublíngua?
5 Hescuta! Cautela! Ecolândia!
6 Ho charme estranho! Lembra-te as deslavadas
7 engravuras que costumávamos jazigar no manchamuro de sua
8 barcampada casa. Costumavam? (Estou certo que o fatigante vôo-rasante
9 do Marmanjo Miguel, com sua caixapela de chocolates mujicais, está escutando)
10 Digo, os restos do abusado campamuro onde costumavam estar
11 barpultados os Ptollomens dos Incabus. Costumávamos? (Ele está só
12 pretendentro estudar a harpa jubilar de um segundo existido
13 ouvinte, Percebe-Orelha.) É bem sabido. Olha por ele e
14 vê o velhomonte novo. Dbln. WK.O.O. Ouve? Juntao muro
15 maussolmano. Fimfim. Com um grande funforró. Fumfum
16 fumfum. 'Toé optophone que ontophana. Escuta! É de Pontepedra
17 a mágica lira. Eles glutarão porvir. Eles luzirão
18 prasser. Eles pretumblarão praver. A harpadiscorde
19 será deles prassempre.
20 Quatro coisas, portento, disse o nosso herodotário Matemarco Lucajoão
21 em seu grão velho historiorum, escreveu ele perto de Boriorum, no livro mais
22 azul dos anais urbanos, q. c. em Dublininsky nunca faltar hão enquanto fumaça
23 não nem cerração o coração d'Eire mal turarem. Aqui pois então, os quatro
24 estão. Te-dou-totais! Unum. (Adar.) Uma montanha
25 nas costas dum velhirlando. Sim, sim! Duum. (Nizam.) Um sapato na pobre
26 velhirlanda. Ah, oh! Triom. (Tamuz.) Nubente ruiva, noiva
27 nova, a ser desnoivada. Nossa, Nossa! Quodlibus. (Marchessvan.) Um
28 escrevinhista não mais pesado que um postalista. E assim. E assado. (Succoth.)
29 Assim, como a preguiça do vento varando página sobre página, como
30 inocência com anacleto brincam de papa e antipupa, assim as folhas dos viventes
31 no bivro dos actos, anais deles mesmos medindo os ciclos dos eventos
32 evidentes e nacionais, oferecem fossilidade de passar como.
33 1 1 32 A.D. Homens como furmigas ou myrmecas andam sobre bruta
34 branca Barleia adrumicida num Riucho. Blutalhas sanguiviolentas em Ub­
35 laniwn.
36 566 A.D. Na noite fuegoembaalada desse ano pós-diluvial uma coroa

[13]
52 JAM E S JOYCE F i n n e ga n s Wake

hadde a wickered Kish for to hale dead tunes from the bog look-
2 it under the blay of her Kish as she ran for to sothisfeige her cow-
3 rieosity and be me sawl but she found hersell sackvulle of swart
4 goody quickenshoon ant small illigant brogues, so rich in sweat.
5 Blurry works at Hurdlesford.
6

7 (Silent.)
8 566 A.D. At this time it fell out that a brazenlockt damsel grieved
9
(sobralasolas!) because that Puppette her minion was ravisht of her
10
by the ogre Puropeus Pious. Bloody wars in Ballyaughacleeagh­
11
bally.
12
1 1 32. A.D. Two sons at an hour were born until a goodman
and his hag. These sons called themselves Caddy and Primas.
13
Primas was a santryman and drilled all decent people. Caddy
14
went to Winehouse and wrote o peace a farce. Blotty words for
15
Dublin.
16
Somewhere, parently, in the ginnandgo gap between antedilu­
17
vious and annadominant the copyist must have fled with his
18
scroll. The billy flood rose or an elk charged him or the sultrup
19
worldwright from the excelsissimost empyrean (bolt, in sum)
20
earthspake or the Dannamen gallous banged pan the bliddy du­
21
ran. A scribicide then and there is led off under old's code with
22
some fine covered by six marks or ninepins in metalmen for the
23
sake of his labour's dross while it will be only now and again in
24
our rear of o'er era, as an upshoot of military and civil engage­
25
ments, that a gynecure was let on to the scuffold for taking that
26 same fine sum covertly by meddlement with the drawers of his
27 neighbour's safe.
28 Now after all that farfatch'd and peragrine or dingnant or clere
29 lift we our ears, eyes of the darkness, from the tome of Liber Li­
30 vidus and, (toh!), how paisibly eirenical, all dimmering dunes
31 and gloamering glades, selfstretches afore us our fredeland's plain!
32 Lean neath stone pine the pastor lies with his crook; young pric­
33 ket by pricket's sister nibbleth on returned viridities; amaid her
34 rocking grasses the herb trinity shams lowliness; skyup is of ever­
35 grey. Thus, too, for donkey's years. Since the bouts of Hebear
36 and Hairyman the cornflowers have been staying at Ballymun,

[14]
F i n n i c i u s R e v ém D ONALDO S C H Ü L E R 53

que havia um cesto de phirme para trazer turfas mortas do banhado espiando
2 debaixo da tampa do seu cesto quando ela corria para zastisfazer vaca e
3 siriusmente sua curio-sidade, pela saulvação de minh'alma, ela achou
4 um saco cheio de soberbos ebons lêmures apressados com pequenos ilegantes
5 sapatos, tão ricos em suor. Dlúbias ocorrências em Dublin.
6

7 (Silente)
8 566 A.D. Aconteceu naqueles tempos que a donzela dos brincos de bronze
9
choramingava (sobralasolas !) porque a Muiiequita dela a bellinha tinha sido
10
raptada dela pelo ogro Pyropeu Pio. Sangrentas guerras em Dabelledobelledu­
11
bellin.
12
1 1 32 A.D. Dois filhos advieram numa hera a um bom homem
e sua megera. Estes hijos apellavam-se Catulus e Primus.
13
Primus era um santurião e treinou os retos todos na retidão. Catulus
14
preferiu as farras dadega e foi comparsa duma farsa. Verbotes rubrinetos
15
pra Dublinitos.
16
Alhures, parentemente, em fenda-vai-e-vem entre o
17
antedilúvio e o annadominante, o copista deve ter fluído com seu
18
percaminho. O bule-dilúvio o elevou, um alce o encarregou, o cosmoturgo
19
sáltrapa do excelsíssimo impyrial (isso rápido-raia, em suma)
20
tremeterra falou ou os gaélicos Dannomens arremeteram contra a rubra
21
duraportata. Um escribicídio lá e então foi cometido sob o código dos antigos
22
com alguma pena coberta por seis marcos ou nove alfinetes em metaleiros para
23
efeito de escória de trabalho, já que isso será uma vez que outra em nossa
24
retro ou pró era, como excrescência de engajamento militar ou civil,
25
que uma gynecura foi levantada ao andaime para levantar esta
26 mesma rara soma cobiçosamente com o olho nas gavetas da poupança
27 da mulher do próximo.
28 Agora depois desse copcioso, pelegrino, marco-polado, vespuciado
29 levanta o mento, as orelhas, os olhos da escuridão desde o tomo de Tito
30 Uvido e, (mira!), quão aprazível, irenicamente todas as dunas creposculares
31 gladíolo glamorosas sestendem afora nas planícies de nossa freudlândia!
32 Pastor e cajado repousam à pedra sob pinhos; o cordeirinho
33 com a irmã do cordayro mordiscam verdidades revenientes; Antre a
34 erva balouçante a trindade se trivializa em trevo. O céu ascendente é desdantanho
35 gris. Bem assim é por asnáticos anos. Desde os embates de Ogum e
36 Xangô, floridos florescem trigais à luz da lua-pançuda,

[1 4]
54 }AM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake

the duskrose has choosed out Goatstown's hedges, twolips have


2 pressed togatherthem by sweet Rush, townland of twinedlights,
3 the whitethorn and the redthorn have fairygeyed the mayvalleys
4 of Knockmaroon, and, though for rings round them, during a
5 chiliad of perihelygangs, the Formoreans have brittled the too-
6 ath of the Danes and the Oxman has been pestered by the Fire-
7 bugs and the Joynts have thrown up jerrybuilding to the Kevan-
8 ses and Little on the Green is childsfather to the City (Year!
9 Year! And laughtears!), these paxsealing buttonholes have quad-
10 rilled across the centuries and whiff now whafft to us, fresh and
11 made-of-all-smiles as, on the eve of Killallwho.
12 The babbelers with their thangas vain have been (confusium
13 hold them!) they were and went; thigging thugs were and hou-
14 hnhymn songtoms were and comely norgels were and pollyfool
15 fiansees. Menn have thawed, clerks have surssurhummed , the
·

16 blond has sought of the brune: Elsekiss thou may, mean Kerry
17 piggy?: and the duncledames have countered with the hellish fel-
18 lows: Who ails tongue coddeau, aspace of dumbillsilly? And they
19 fell upong one another: and themselves they have fallen. And
20 still nowanights and by nights of yore do all bold floras of the
21 field to their shyfaun lovers say only: Cull me ere I wilt to thee !:
22 and, but a little later: Pluck me whilst I blush! Well may they
23 wilt, marry, and profusedly blush, be troth! For that saying is as
24 old as the howitts. Lave a whale a while in a whillbarrow (isn't
25 it the truath I'm tallin ye?) to have fins and flippers that shimmy
26 and shake. Tim Timmycan timped hir, tampting Tam. Fleppety!
27 Flippety! Fleapow!
28 Hop!
29 In the name of Anem this carl on the kopje in pelted thongs a
30 parth a lone who the joebiggar be he? Forshapen his pigmaid
31 hoagshead, shroonk his plodsfoot. He hath locktoes, this short-
32 shins, and, Obeold that's pectoral, his mammamuscles most
33 mousterious. It is slaking nuncheon out of some thing's brain
34 pan. Me seemeth a dragon man. He is almonthst on the kiep
35 fief by here, is Comestipple Sacksoun, be it junipery or febrew-
36 ery, marracks or alebrill or the ramping riots of pouriose and

[1 5]
F i n n i c i u s Revém DONALDO SCHÜLER 55

a rosa purpurina procura os muros de Caprópolis, tulipas


2 comprimem nos lábios a doçura dos juncos, o crepúsculo nas aldayas,
3 azaléias brancas e rochas florem feéricas em vales primaveris
4 de Rododêndria, e, mesmo circundadas por cercas durante
5 miríades de revoluções heliocêntricas, os formoreanos britaram os
6 dentes de daneses e o vaqueiro foi importunado por pyro-
7 maníacos e conjuntados largaram a Vila Xen em troca de Xon-
8 donias e o Miúdo do Prado é Pai-de-filhinho rumo à Cidade (Fiva!
9 Fiva! E lágrimafestiva!) Estas botoeiras pax-seladoras quadrilham
10 através dos séculos e nos pregam hoje pragas, frescas e fabricadas­
li de-todos-os-sorrisos, como é e tem sido às vésperas de regicídio.
12 Os babelários e todos os seus vocabelários vãos têm sido (confucião que
13 os tenha!), surgiram e sumiram; houve tínguas de tucanos e lânguas de
14 lamanos, reles norguelados e tuiutu specaça
15 ingleis. Barões naufragaram e catingueiros se sinhô assenhoram , a
16 branca piscurou a preta: tu me lova, minha Cherida
17 pintinha?: e as escurinhas retorceram às fogosas amiguinhas:
18 Kedê kadô, bobinha do meu xodó? E eles tombaram um sobre
19 o outro: e eles próprios, eles mesmos tombaram. E
20 até hoynoites e por noites dantanho todas as flores afoites do
21 campo a seus faunados amantes falam assim: acolhera-me antes que eu tu !:
22 e, mas poko despois: me come enquanto eu coro! Bem que queiram o que
23 querem, casório, coram profusas, nada em contrário! Pois esse ditado é tão
24 velho quanto um condado. Leve e lave uma baleia de leve (não é
25 piura v'rdad'qu't'digo?) e terás barbatanas e nadadayras que brilham
26 e batem. Tim Time cão timpou cá, tan-tin-tan. Fleppety!
27 Flippety! Fleapow!
28 Hop!
29 Em nome de Nemo este sol itário do monte o in vas or dinário
30 por Jos é e Mar ia quem ele seria? Figura a cabeça de pica meu
31 só que lá dele, pança em pé de pato. Pata de porco do mato Obi serva
32 o peito que é de pinto, seus mammamúsculos bem
33 misteriúsculos. Ele solta seus lanches por ocos do coco.
34 Na minha visão é quase um dragão. Ele quer suas querências
35 cá perto, seu comestível Sackson, seja janusayres ou fevriá-
36 rio, marmaço ou abrielas ou ratos sem rumo e ritos sem

[ 15]
56 }AM E S JOYCE F i n n e g a n s Wake

froriose. What a quhare soort of a mahan. It is evident the mich-


2 indaddy. Lets we overstep his fire defences and these kraals of
3 slitsucked marrogbones. (Cave!) He can prapsposterus the pil-
4 lory way to Hirculos pillar. Come on, fool porterfull, hosiered
5 women blown monk sewer? Scuse us, chorley guy! You toller-
6 day donsk? N. You tolkatiff scowegian? Nn. You spigotty an-
7 glease? Nnn. You phonio saxo? Nnnn. Clear all sol 'Tis a Jute.
8 Let us swop hats and excheck a few strong verbs weak oach ea-
9 ther yapyazzard abast the blooty creeks.
10 Jute. Yutah!
11 Mutt. Mukk's pleasurad.
12 Jute. Are you jeff ?
13 Mutt . Somehards.
14 Jute. But you are not jeffmute?
15 Mutt . Noho. Only an utterer.
16 Jute. Whoa? Whoat is the mutter with you?
17 Mutt. I became a stun a stummer.
18 Jute. What a hauhauhauhaudibble thing, to be cause! How,
19 Mutt?
20 Mutt . Aput the buttle, surd.
21 Jute. Whose poddle? Wherein?
22 Mutt. The Inns of Dungtarf where Used awe to be he.
23 Jute. You that side your voise are almost inedible to me.
24 Become a bitskin more wiseable, as if I were
25 you.
26 Mutt. Has? Has at? Hasatency? Urp, Boohooru! Booru
27 Usurp! I trumple from rath in mine mines when I
28 rimimirim!
29 Jute. One eyegonblack . Bisons is bisons. Let me fore all
30 your hasitancy cross your qualm with trink gilt. Here
31 have sylvan coyne, a piece of oak. Ghinees hies good
32 for you.
33 Mutt. Louee, louee! How wooden I not know it, the intel­
34 lible greytcloak of Cedric Silkyshag! Cead mealy
35 faulty rices for one dabblin bar. Old grilsy growlsy!
36 He was poached on in that eggtentical spot . Here

[16]
F i n n i c i u s R e v ém DONALDO SCHÜLER 57

remo. Qu' es pé cime raro! Evi dente, é meu ante ce


2 dente. Passemos sobre suas defensas de feugo e seus
3 crânios roídos. (Cave!) Ele nos uiskerá con-
4 pingamente às pilastras dos pilares hercúleos. Como é que rastejas,
5 mulherengo branqueio e rei das cervejas. Escuita, meu chapa! Tu tole-
6 ra daneis? N. Tu escova scoceis? Nn. Tu espicha
7 engleis? Nnn. Tu saxo fona? Nnnn. Claro tá só tudo! É um Juta.
8 Vamos chocar os cinco e checar xertos verbos fuertes e flacos de parte
9 a porte assim e ossudo sobre crimes de creekos.
10 Juta. Ju tá!
11 Mud. Hein cantado.
12 Juta. Tu 's urdo?
13 Mud. Tal veis.
14 Juta. Mas não ei s urdomudo?
15 Mud. Noho. Sou só um adult utterador.
16 Juta. Cumé? Ki muttéria é a tua?
17 Mud. Stou stun stummermente gagá gagogo.
18 Juta. Ki koisa hauhauhauhauricorrível! Como,
19 Mud?
20 Mud. Na botalh' ab surdo.
21 Juta. Na batalha de quem? Inn que bar?
22 Mud. Inn esse bar Baridade onde nóis ba bu be bi ricava.
23 Juta. · Tu de lá tu avoiz é quase incaumestível pra mim.
24 Te vira um bocado mais noisível, como se eu fosse
25 tu.
26 Mud. Hes? Hesi? Hesitância? Urp, Boohooru! Boo-rei
27 Usurp! Tri tremo de raiva no meu bestunto quando
28 rimimilembro doa sunto.
29 Juta. Ora, eyesperaí. Paulega é paulega! Consente contra tua hesitância pr'
30 acalmar teu desgosto um dourado presente. Lá
31 vai a prata, entorna um trago. Isso dá
32 pra pinga e tiragosto.
33 Mud. Grana, grana! Cumé keu não ia reconhecer
34 Tio Sam na verdinha? Cem mil
35 e um verdascos assim por um bar em Dublin. Eis o vetusto salmão!
36 Este foi Boru friturado neste mesmo ovotêntico ponto. Aqui

[1 6]
58 JAM E S JOYC E F i n n e ga n s Wake

where the liveries, Monomark. There where the mis-


2 sers moony, Minnikin passe.
3 Jute. Simply because as Taciturn pretells, our wrongstory-
4 shortener, he dumptied the wholeborrow of rubba-
5 ges on to soil here.
6 Mutt. Just how a puddinstone inat the brookcells by a
7 riverpool.
8 Jute. Load Allmarshy! Wid wad for a norse like?
9 Mutt. Somular with a bull on a clompturf. Rooks roarum
10 rex roome! I could snore to him of the spumy horn,
11 with his woolseley side in, by the neck I am sutton
12 on, did Brian d' of Linn.
13 Jute. Boildoyle and rawhoney on me when I can beuraly
14 forsstand a weird from sturk to finnic in such a pat-
15 what as your rutterdamrotter. Onheard of and um-
16 scene! Gut aftermeal! See you doomed.
17 Mutt. Quite agreem. Bussave a sec. Walk a dun blink
18 roundward this albutisle and you skull see how olde
19 ye plaine of my Elters, hunfree and ours, where wone
20 to wail whimbrel to peewee o'er the saltings, where
21 wilby cicie by law of isthmon, where by a droit of
22 signory, icefloe was from his Inn the Byggning to
23 whose Finishthere Punct. Let erehim ruhmuhrmuhr.
24 Mearmerge two races, swete and brack. Morthering
25 rue. Hither, craching eastuards, they are in surgence:
26 hence, cool at ebb, they requiesce. Countlessness of
27 livestories have netherfallen by this plage, flick as
28 flowflakes, litters from aloft, like a waast wizzard ali of
29 whirlworlds. Now are all tombed to the mound, isges
30 to isges, erde from erde. Pride, O pride, thy prize!
31 Jute. 'Stench!
32 Mutt. Fiatfuit! Hereinunder lyethey. Uarge by the smal an'
33 everynight life olso th'estrange, babylone the great-
34 grandhotelled with tit tit tittlehouse, alp on earwig,
35 drukn on ild, likeas equal to anequal in this sound
36 seemetery which iz leebez luv.

[17]
F i n n i c i u s Revém DONALDO SCHÜLER 59

onde viveu Monomarc, o bilioso. Lá onde se vêem moçoi-


2 las !unitárias, mija o Menico.
3 Juta. Simplesmente purque, como Taciturno prelata, nosso pseudhistor-
4 breviário, Brian Boru emborcou todum carrinho de resto-
5 lhos no chão aqui.
6 Mud. Excrematamente como a rocha bruxelada no mar pra represar
7 lá em riverpool.
8 Juta. Senhor da Cargapotente! Conké ki sescande ess'escandalinavo?
9 Mud. Semilhante a um touro no prado! Rochas roonca
10 o rex de rooma! Eu poderia retro-roncar-lhe num corno despuma,
11 com o pelego pra dentro, meu assento é no pescoço,
12 bem assim o de Brian de von Linn.
13 Juta. Óleo fervente e melcru caiam sobre mim se posso pastosamente
14 comprehender uma só parola desse turco que habla finês nesse
15 teu patoá rotterdamês. Desescutado,
16 desvisto! Até a xepa! Te vejo no inferno.
17 Mud. Congraçado me tens. Mas me dá um só seg. Anda dun blin
18 girolho nesta peníssula e tu voraz a velhice
19 das planúrias de meus mais Velhos, centos de anos e horas, onde
20 ondaym ventos e asas, lamentos, lúgubres lágrimas, onde
21 fundaram nossa cidade por força de ístmica lei, onde por direito
22 signoril, a geleire flotilhou no seu comércio
23 a este pronto de Phinixterra. Eire reimurmurmore.
24 Missigeraram-se duas raças, doce e sal. Minha
25 sardinha. Daí, cuspidas a oeste, vão em surreição:
26 montante e vazante, nas ondas sembalam. Incontráveis
27 histérias fervidas echuaram nesta praia, fliques
28 fluflocos, luzes luziram, brumas bruxuleantes de bruxas
29 brotam e broxam. Já todas tombaram num monte, cinza
30 a cinza, herda a merda. Ó vaidade, a verdade é tua!
31 Juta. Puxa!
32 Mud. Fiatfuit! Caembaixo letarjazante. Largo junto à nina
33 noite por noite, assim mesmo estranha, Bebelona grande-
34 grandiosapalaciada com vive vida em vivendinha, alp e lacrainha,
35 borrachos e velhos, ligados de igual e inigual neste sonoro
36 sementério que liberal lívia levou.

[ 1 7]
60 JAM E S JOYCE F i n n e ga n s Wake

Jute. 'Zmorde!
2 Mutt. Meldundleize! By the fearse wave behoughted. Des­
3 pond's sung. And thanacestross mound have swoliup
4 them all. This ourth of years is not save brickdust
5 and being humus the same roturns. He who runes
6 may rede it on ali fours. O'c'stle, n'wc'stle, tr'c'stle,
7 crumbling! Sell me sooth the fare for Humblin! Hum­
8 blady Fair. But speak it allsosiftly, moulder! Be in
9 your whisht!
10 Jute. Whysht?
11 Mutt. The gyant Forficules with Amni the fay.
12 Jute. Howe?
13 Mutt. Here is viceking's graab.
14 Jute. Hwaad!
15 Mutt. Ore you astoneaged, jute you?
16 Jute. Oye am thonthorstrok, thing mud.
17 (Stoop) if you are abcedminded, to this claybook, what curios
18 of signs (please stoop), in this aliaphbed! Can you rede (since
19 We and Thou had it out already) its world? It is the same told
20 of all. Many. Miscegenations on miscegenations. Tieckle. They
21 lived und laughed ant loved end left. Forsin. Thy thingdome is
22 given to the Meades and Porsons. The meandertale, aloss and
23 again, of our old Heidenburgh in the days when Head-in-Clouds
24 walked the earth. In the ignorance that implies impression that
25 knits knowledge that finds the nameform that whets the wits that
26 convey contacts that sweeten sensation that drives desire that
27 adheres to attachment that dogs death that bitches birth that en-
28 tails the ensuance of existentiality. But with a rush out of his
29 navel reaching the reredos of Ramasbatham. A terricolous vively-
30 onview this; queer and it continues to be quaky. A hatch, a celt,
31 an earshare the pourquose of which was to cassay the earthcrust at
32 ali of hours, furrowards, bagawards, like yoxen at the turnpaht.
33 Here say figurines billycoose arming and mounting. Mounting and
34 arming bellicose figurines see here. Futhorc, this liffle effingee is for
35 a firefing calied a flintforfali. Face at the eased! O I fay! Face at the
36 waist! Ho, you fie! Upwap and dump em, "':: ace to t:I.. ace! When a

[1 8]
F í n n í c í u s R e v ém D ONALDO S C H Ü L E R 61

Juta. Àmerda!
2 Mud. Mild und leise! Levada pela vaga voraz. Despounderado
3 canto. Tanatancestrosas bocas os engoliram
4 todos. Este nosso horto de anos não é mais que pó de tijolos
5 e o homem humus ao mesmo roturna. A rede do ruminador
6 de runas passa por todos os fornos. Ó c'clos, neocicl's, tric'clos,
7 em ruínas! Quero tranqüilo bilhete para Humoblin. Humo­
8 dama Sonhada. Fala-me fofa, humilda! Guarda-te em
9 teu solêncio!
10 Juta. Silêncio?
11 Mud. Em atenção ao formidável Forfícula com a fada Morgana.
12 Juta. Como?
13 Mud. Esta é a sepultura do Vicequingue.
14 Juta. Uai!
15 Mud. Tremes em pétrea idade, tu jutas?
16 Juta. Bah thou tonitruado, borrado.
17 (fecurva) se és abecementado, já a esse argilivro, quão kuriosos
18 os sinais (vamos, tecurva) nesse allaphbedo! Sabes recitar (pois
19 Nós e Tu já o atravessamos de pontaponta) seu logocosmo? É o mesmo narrado
20 de todos. Menu. Miscigenações sobre miscigenações. Teclas.
21 Chegaram y amaram e pariram and partiram. Previsto. Teu terreino foi
22 dado a Medianos e Perversas. O meandrolato, com perdas e
23 ganhos, da nossábia Pagãburgo nos dias em que Cabeça-nas-Nuvens
24 andava na terra. Na ignorância quimplica aimpressão que
25 tece o conhecimento que forma a onomatoforma quinflama a mente que
26 veicula vínculos que adoça sensações, que destina o desejo que
27 adere a adesões que cachorreia a caveira que cadeleia a cuna que en-
28 raba o seguro da existencialidade. Mas com um racha desde seu
29 umbigo até aos ré-chedos do Mahabarata. Terriculosa vívlica
30 vista esta; abalada em contínuo balouço. Habitação, Charrua,
31 Ealçapão, os pru-quês dos quais foi de rachar a crosta da Terra a
32 toda hora, prafrente, pratrás ao modo de vacangas na moenda.
33 Figurina-se ser aqui beligansa em armas e montaria. Em montaria e
34 armas belijactanciosos figurinantes eis aí. Afutriquem-se, estEva efingida é pra
35 trabuco chamado phala-fogo. Cara arriba! Eu em riba! Mais pra
36 cá! Toma lá! Sujeita o sujo, n ara a U ara! Quando uma

[ 1 8]
(
62 JAM E S J OYCE Finnegans Wake

part so ptee does duty for the holos we soon grow to use of an
2 aliforabit. Here (please to stoop) are selveran cued peteet peas of
3 quite a pecuniar interest inaslitde as they are the peliets that make
4 the tomtummy's pay roli. Right rank ragnar rocks and with these
5 rox orangotangos rangled rough and rightgorong. Wisha, wisha,
6 whydidtha? Thik is for thorn that's thuck in its thoil like thum-
7 fool's thraitor thrust for vengeance. What a mnice old mness it
8 ali mnakes! A middenhide hoard of objects! Olives, beets, kim-
9 melis, dollies, alfrids, beatties, cormacks and daltons. Owlets' eegs
10 (O stoop to please!) are here, creakish from age and ali now
11 quite epsilene, and oldwolidy wobblewers, haudworth a wipe o
12 grass. Sss! See the snake wurrums everyside! Our durlbin is
13 sworming in sneaks. They carne to our island from triangular
14 Toucheaterre beyond the wet prairie rared up in the midst of the
15 cargon of prohibitive pomefructs but along landed Paddy Wip-
16 pingham and the his garbagecans cotched the creeps of them
17 pricker than our whosethere outofman could quick up her whats-
18 thats. Somedivide and sumthelot but the taliy turns round the
19 same balifuson. Racketeers and botdoggers.
20 Axe on thwacks on thracks, axenwise. One by one place one
21 be three dittoh and one before. Two nursus one make a plaus-
22 ible free and idim behind. Starting off with a big boaboa and three-
23 legged calvers and ivargraine jadesses with a message in their
24 mouths. And a hundreadfilied unleavenweight of liberorumqueue
25 to con an we can tili alihorrors eve. What a meanderthalitale to
26 unfurl and with what an end in view of squattor and anntisquattor
27 and postproneauntisquattor! To say too us to be every tim, nick
28 and larry of us, sons of the sod, sons, litdesons, yea and lealittle-
29 sons, when usses not to be, every sue, siss and saliy of us, dugters
30 of Nan! Accusative ahnsire! Damadam to infinities
31 True there was in nillohs dieybos as yet no lumpend papeer
32 in the waste and mightmountain Penn stili groaned for the micies
33 to let flee. Ali was of ancientry. You gave me a boot (signs on
34 it!) and I ate the wind. I quizzed you a quid (with for what?) and
35 you went to the quod. But the world, mind, is, was and will be
36 writing its own wrunes for ever, man, on ali matters that fali

[1 9]
F i n n i c i u s R e v ém DONALDO SCHÜLER 63

parte tão chiquitita dá conta de panta logo chegamos a usar um


2 allforrábio. Aqui (rogo, tecurva) há silversas ervilhadas cozidas de interesse
3 bem peculinar, pequenas que sejam, visto que são os chumbinhos que fazem
4 a folha de pagamento do arigó. As retas rochas dos deuses racham e com estas
5 rochas orangotangos guerreiam rudes, o reto-racha-roto. Divino, Divino,
6 por que tal destino? Este é espinho enfiado no rabo deles como o polegar
7 do traidor se inverte em sinal de vingança. Quimensa conflusião me dá
8 indigestão! Que monte lixento de abjetos! Alefante, beteca, guimime-
9 lo, daletrecos, alfafa, besta, gamado, deitado. Uevitos corujosos
10 (tecurva, peço!) há por cá, alquebrado por avançado em idade e o que foi novo
11 bem obissoleto e tralha velha do mundo mofado não valha o me dá cá aquela
12 palha. Zeta! Vê serpes minhocando por tudo! Nossa Marblin tem
n serpes assim. Elas arrivam à nossa lent ilha da triangular
14 Ingoliterra além da úmida pradaria cultivada no meio do
15 jardão de proibitivas mãoçãs mas entre mentes desembarcou Patrício Espanta-
16 cobras e suas latas de lixo recaulheram minhocadas delas
17 antesmente que qualquer Aclama pudesse ser arrancada de suas
18 costelas. Dividuendos e sometórios mas o resto raspa o rosto na
19 mesma infusão. Rapinayros e loucupletários.
20 Unício mais dugócio mais trigócio igual a nigócio. Unus e onus plus anus
21 são os treis ditos e preditos. Dois versus um fazem um plaus-
22 ível três e idem posditos. Começando pela sururucurana,
23 trilongas serpes, e jaddeusas sempreverdes com mensagens
24 na boca. E cento e onze quilos de livro rum a
25 consultar até a noite dos horrores. Que sombria histriória a
26 desventrar e com que fim em vista senão desquartejar a antiquadrupidade
27 e posproneoantiquidade! Para dizer-nos que sempre, nique
28 e larry de nós, filhos do Falho, filhos e netos e trisnetos
29 se asnos não somos, cada scena, cada suma, cada sina de nós,
30 filhas d'Onão. Acusativem risposta! Dam adam é por infinitudes.
31 De fato não havia naqueloutros dias farrapo nenhum de papel
32 no deserto e a montepotente Pena se revolvia inda em cueiros muito antes de
33 soltar os cachorros. Tudo era ancianidade. Você me deu assento (há sinais
34 disso!) e eu fui ao vento. Eu extorqui-te isso (qui pro quo?) e você apelou
35 praquilo. Mas o vozmo, repara, vem, veio e virá escrevvendo suas próprias
36 vrunas eviternamente, homem, sobre todosos assuntos que caem

[ 1 9]
64 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake

under the ban o f our infrarational senses fore the last milch-
2 carne!, the heartvein throbbing between his eyebrowns, has still to
3 moor before the tomb of his cousin charmian where his date is
4 tethered by the palm that's hers. But the horn, the drinking, the
5 day of dread are not now. A bone, a pebble, a ramskin; chip them,
6 chap them, cut them up allways; leave them to terracook in the
7 muttheringpot: and Gutenmorg with his cromagnom charter,
8 tintingfast and great primer must once for omniboss step rub-
9 rickredd out of the wordpress else is there no virtue more in al-
10 cohoran. For that (the rapt one warns) is what papyr is meed
11 of, made of, hides and hints and misses in prints. Till ye finally .
12 (though not yet endlike) meet with the acquaintance of Mister
13 Typus, Mistress Tope and all the little typtopies. Fillstup. So you
14 need hardly spell me how every word will be bound over to carry
15 three score and ten toptypsical readings throughout the book of
16 Doublends Jined (may his forehead be darkened with mud who
17 would sunder!) till Daleth, mahomahouma, who oped it closeth
18 thereof the. Dor.
19 Cry not yet! There's many a smile to Nondum, with sytty
20 maids per man, sir, and the park's so dark by kindlelight. But
21 look what you have in your handself! The movibles are scrawl-
22 ing in motions, marching, all of them ago, in pitpat and zingzang
23 for every busy eerie whig's a bit of a torytale to tell. One's upon
24 a thyme and two's behind their lettice leap and three's among the
25 strubbely beds. And the chicks picked their teeths and the domb-
26 key he begay began. You can ask your ass if he believes it. And
27 so cuddy me only wallops have heels. That one of a wife with
28 folty barnets. For then was the age when hoops ran high. Of a
29 noarch and a chopwife; of a pomme full grave and a fammy of
30 levity; or of golden youths that wanted gelding; or of what the
31 mischievmiss made a man do. Malmarriedad he was reverso-
32 gassed by the frisque of her frasques and her prytty pyrrhique.
33 Maye faye, she's la gaye this snaky woman! From that trippiery
34 toe expectungpelick! Veil, volantine, valentine eyes. She's the
35 very besch Winnie blows Nay on good. Flou inn, flow ann.
36 Hohore! So it's sure it was her not we! But lay it easy, gentle

[20]
F i n n i c i u s R e v ém DONALDO SCHÜLER 65

na banição de nossos sentidos infra-racionais antes de o último came-


2 leiteiro, aorta pulsante entre as sobrancelhas, inda
3 mourancorar antea tumba da prima charmante onde oencontro está
4 confinado pela palmexitosa dela. Mas a trombeta, a bebedayra, o
5 dia do terror não é agora. Um osso, um calhau, uma peledebode; cata-os,
6 corta-os, curte-os; deixa-os terracotassar
7 no matrutaforno: e Gutenmorgue com sua carta cromagnada,
8 impressa e o grande premier deverá a onimandantes simpor rubricado
9 para fora da imprensa falada do contrário não haverá mais virtude no
10 alcoorão. Nisso (o rapto o repta) o papyr dá jeito,
11 pra isso ele é feito, velar e desvelar e gralhas dimprensa. Até que por fim
12 (embora não ainda o dayfinitivo) chegueis a conhecer o Senhor
n Typo, a Senhora Topa e todos os pequerruchos typotopas. Pontopleno. Assim
14 não exijo que soletres como cada palavra te obriga a retomar
15 três vezes vinte mais dez tothypsicas leituras durante o livro
16 Dublimente Chinesado (que seja enegrecida com barro a testa de quem
17 separar!) até a Letralidade, mahumaventuravolta, quem o abriu o feche
18 depois. P/ morta.
19 Não chores ainda! Há muitas brilhas a Nondum, com setty
20 beldades por homem, senhor, e a luz da candeia é tão parca no parque. Mas
21 atenta aos teus pertences de mão! Os portáveis senrolam
22 em gestos e marchas em tique-taque e ziguezague para cada
23 lacrainha ativa haja muita saliva em contos e contos a contar. Era
24 uma desfaçavez, duas atrás das grades e três entre leitos de
25 morangordinhos. As frangas espalitavam seus dentes e deu gagueira
26 no burro. Podes anuscutar teu anusno se ele o crê. E
27 escuita-me bem só burredes têm zounidos. Isso me veio duma véia
28 com dor de pêlos. Essa foi a idade em que as saias senfunavam barbaridade. Por
29 causa dum noarca e de certa bruarca, dumma maçã gorada e
30 duma damma destrambelhada; ou duma juventude dourada por
31 plata danada; ou o que a misséria fez o míster fazer.
32 Ao malcasado a fresca frescoteou com fricotes de frascos e pirraças
33 de perucas. Por mia fé, é gaiata a serpentária gata. Dessa lítica
34 Pirra sai o que sespera! Véus, volantina, valentinos olhos. Ela é um
35 vento bem pesti lento a soprar para o bem de Ninguém. Innflui, enganna.
36 Ohouça! Assim certo foi sim o não dela! Mas falem mansinho,

[20]
66 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake

mien, we are in rearing of a norewhig. So weenybeeny-


2 veenyteeny. Comsy see! Het wis if ee newt. Lissom! lissom!
3 I am doing it. Hark, the corne entreats! And the larpnotes
4 prittle.
5 It was of a night, late, lang time agone, in an auldstane eld,
6 when Adam was delvin and his madameen spinning watersilts,
7 when mulk mountynotty man was everybully and the first leal
8 ribberrobber that ever had her ainway everybuddy to his love-
9 saking eyes and everybilly lived alove with everybiddy else, and
10 Jarl van Hoother had his burnt head high up in his lamphouse,
11 laying cold hands on himself. And his two little jiminies, cousins
12 of ourn, Tristopher and Hilary, were kickaheeling their dummy
13 on the oil cloth flure of his homerigh, castle and earthenhouse.
14 And, be dermot, who come to the keep of his inn only the niece-
15 of-his-in-law, the prankquean. And the prankquean pulled a rosy
16 one and made her wit foreninst the dour. And she lit up and fire-
17 land was ablaze. And spoke she to the dour in her petty perusi-
18 enne: Mark the Wans, why do I am alook alike a poss of porter-
19 pease? And that was how the skirtmisshes began. But the dour
20 handworded her grace in dootch nossow: Shut! So her grace
21 o'malice kidsnapped up the jiminy Tristopher and into the shan-
22 dy westerness she rain, rain, rain. And Jarl van Hoother war-
23 lessed after her with soft dovesgall: Stop deef stop come back to
24 my earin stop. But she swaradid to him: Unlikelihud. And there
25 was a brannewail that same sabboath night of falling angles some-
26 where in Erio. And the prankquean went for her forty years'
27 walk in Tourlemonde and she washed the blessings of the love-
28 spots off the jiminy with soap sulliver suddles and she had her
29 four owlers masters for to tauch him his tickles and she convor-
30 ted him to the onesure allgood and he became a luderman. So then
31 she started to rain and to rain and, be redtom, she was back again
32 at Jarl van Hoother's in a brace o f samers and the jiminy with
33 her in her pinafrond, lace at night, at another time. And where
34 did she come but to the bar o f his bristolry. And Jarl von Hoo-
35 ther had his baretholobruised heels drowned in his cellarmalt,
36 shaking warm hands with himself and the jimminy Hilary and

[21 ]
F i n n i c i u s R e v ém DONALDO SCHÜLER 67

cavalheiros, ré trilhamos trilhas dum norcrainha. Só ventabenzinho-


2 ventaventinho. Com'se sy! Cê sabe se soube! Ouça! O som!
3 Sou todouvidos. Atento, apelos apelam! São notas
4 nutantes.
5 Era uma vez uma noite lânguida, longe o tempo lá se foi, velha pétrea idade,
6 Adão delfinava, e Madamindinha fiava sedaquosos véus,
7 quando mulktos homines montynotty viviam valentões e a primEva leal
8 rapta-costela a seu modo e sempre, chamava com erossedentolhos
9 companheirões e cada garanhão se aconchegamava a um mulherão, e o
10 Conde van Montecaveira elevava seu alto bestunto no lampodomo lá dele, tendo
11 as frias mãos aconchegadas em si mesmo. E seus dois pequenos gemininos, primos
12 nossos, Tristófero e Hilário, viviam esporeando a bobinha deles
13 no linóleo do assoalho de sua homérica morada, castelo edependências.
14 Quem dermotou não foi Tristão, foi a nepoteasta quem
15 innsistiu em pouso, a princepaquera. E a princepaquera freaqüentou o roseira!,
16 só então enfrentou wistosa o portal. Ela teve um estalo,
17 e a comarca se iluminou. Falou ao portal e disse no jargão das revistas peru-
18 sienses: Marc o Primeiro, por que eu, alooka alice, peço uma poção e semelho
19 cervilhas Porter em vagem? E foi assim que a escaramoça começou. Mas o portal
20 respãodeu a sua graça em nassaulandês: Missome! Assim sua graça
21 a policarpa o'malícia raptou o geminino Tristófero e shandyl se foi ao triste fim da
22 selvocidentalidade chove chuva chove cho vendo. E o Conde van Montecaveira
23 lhe telebeligrafou em colombofonia sem fio: Stop, ladra, stop, anda,
24 volta a meu eire-reino, stop. Mas ela lhe arrespondeu: Improbabilitude. E chouve
25 chuva branndolamento na noite dessa mesma sabboathagem de angles cadentes
26 algures no Ério. E a princepaquera partiu para quarentanos de
27 viagem de Voltaomundo e ela lavou as bênçãos de lúbricas manchas
28 no geminino com espuma de sabão sullivado e tinha seus
29 quatro corujidosos mestres para lhe contrabandear excitações
30 e ela o converteu all só um bom-deus certo e elevirou luterafrário. Assim
31 ela começou a chover e a chover e, por tãotris, ela retornou
32 ao Conde van Montecaveira numa braçada de abrasados verões e o geminino com
33 ela em seu avental, noite velha, em outro tempo. E onde é
34 que ela foi senão ao bar de sua bristolaria. E o Conde van Monte-
35 caveira tinha banhado seus bartolomeuados talões em sua cava de malte,
36 agitando mãos quentes com ele mesmo e o geminino Hilário e

[21 ]
68 JAM E S J OYCE Finnegans Wake

the dummy in their first infancy were below on the tearsheet,


2 wringing and coughing, like bradar and histher. And the prank-
3 quean nipped a paly one and lit up again and redcocks flew flack-
4 ering from the hillcombs. And she made her witter before the
5 wicked, saying: Mark the Twy, why do I am alook alike two poss
6 of porterpease? And: Shut! says the wicked, handwording her
7 madesty. So her madesty 'a foretought' set down a jiminy and
8 took up a jiminy and all the lilipath ways to Woeman's Land she
9 rain, rain, rain. And Jarl von Hoother bleethered atter her with
10 a loud finegale: Stop domb stop come back with my earring stop.
11 But the prankquean swaradid: Am liking it. And there was a wild
12 old grannewwail that laurency night of starshootings somewhere
13 in Erio. And the prankquean went for her forty years' walk in
14 Turnlemeem and she punched the curses of cromcruwell with
15 the nail of a top into the jiminy and she had her four larksical
16 monitrix to touch him his tears and she provorted him to the
17 onecertain allsecure and he became a tristian. So then she started
18 raining, raining, and in a pair of changers, be dom ter, she was
19 back again at Jarl von Hoother's and the Larryhill with her under
20 her abromette. And why would she halt at all if not by the ward
21 of his mansionhome of another nice lace for the third charm?
22 And Jarl von Hoother had his hurricane hips up to his pantry-
23 box, ruminating in his holdfour stomachs (Dare! O dare!), ant
24 the jiminy Toughertrees and the dummy were belove on the
25 watercloth, kissing and spitting, and roguing and poghuing, like
26 knavepaltry and naivebride and in their second infancy. And the
27 prankquean picked a blank and lit out and the valleys lay twink-
28 ling. And she made her wittest in front of the arkway of trihump,
29 asking: Mark the Tris, why do I am alook alike three poss of por-
30 ter pease? But that was how the skirtmishes endupped. For like
31 the campbells acoming with a fork lance of-lightning, Jarl von
32 Hoother Boanerges himself, the old terror of the clames, carne
33 hip hop handihap out through the pikeopened arkway of his
34 three shuttoned castles, in his broadginger hat and his civic chol-
35 lar and his allabuff hemmed and his bullbraggin soxangloves
36 and his ladbroke breeks and his cattegut bandolair and his fur-

[22]
F i n n i c i u s R e v ém DONALDO SCHÜLER 69

a bobinha em sua primeira infância embaixo sobre recortes


2 peleavam e xixiavam qual ger mano e ger mana. E a princepaquera
3 revestida de cores reacendeu o facho e galos de fogo crestaram
4 a crista dos montes. E a engenhosa voltou aquawitosa frente ao mar-
5 dito, dizendo: Marc o Segundo, por que eu, alooka alice, peço duas
6 poções e semelho cervilhas Porter em vagem? E: Xô! xingou o maldito, moles-
7 tando sua moléstia. Assim Sua Màdéstia 'precavida' depôs um gemi-
8 danadinho e liliputeou o outro gemidanadinho pras longes terras das Nuncas chove
9 chuva chove chovendo. E o Conde van Montecaveira berrou atrás dela em
10 arturoso finngalês: Arto. Faiz arto e meia-vorta. Faiz arto.
11 Mas a princepaquera relamputeou: só si quero. E ocorreu nessa
12 velha ranada noite são-lourenciana feraz granizo d'estrelas alhures
13 no Ério. E a princepaquera se ausentou para seu passayo de
14 voltaomundo em quarentanos epregou as pragas cruzcruéis no
15 gancho do capitão sobre o geminino e tinha os serviços de larksical
16 monitrix para innstruí-lo ao arrepio de lágrimas e esta o preverteu ao
17 só certo trisseguro dogma e ele se tornou cristrão. Só então começou
18 chove chovendo e, num par de trocas, por tão tris, ela
19 revém ao Conde van Montecaveira e o Láriohi com ela, sob
20 o ventavental. E por que não se deteria ela senão no abrigo
21 da sua domansão doutra noite morta para terceira magia?
22 E o Conde van Montecaveira de suas ancas de ciclone fizera
23 dispensa, ruminando nos seus quatro buchos (Nossa! Nossa!) e
24 o geminino Topherotris e a bobinha estavam de amores na
25 privada, a beijocas e lambidocas e abraços e amaços como
26 cuscão e cá dela e na segundinfância. E a princepaquera tirou um
27 número branco, relampejou e os vales velados piscaram.
28 E ela liqüichistou na frente da arkada do trihumpto, indaguando:
29 Marc o Tri, por que eu, alooka alice, peço três poções e semelho
30 cervilhas Porter em vagem? Mas este foi o jeito que as escaramoças finndaram.
31 Pois, como sectários vindo com garfos e lanças de fogo celeste, o Conde van
32 Montecaveira, o Boanerges em pessoa, o velho terror das damas, veio
33 pi pa pum por arcadas livres de seus
34 três castelos dublinenses, com seu chapéu de abas largas e colar cívico
35 e cota de couro e balbrigalhadas luvas soxânias e bragas
36 ragnadas de flente falido e bandoleira kattegata e farfamosas

[22]
70 JAM E S J OYCE Finnega n s Wake

framed panuncular cumbottes like a rudd yellan gruebleen or-


2 angeman in his .violet indigonation, to the whole longth o f the
3 strongth o f his bowman's -bill. And he clopped his rude hand to
4 his eacy hitch and he ordurd and his thick spch spck for her to
5 shut up shop, dappy. And the duppy shot the shutter clup (Per-
6 kodhuskurunbarggruauyagokgorlayorgromgremmitghundhurth-
7 rumathunaradidillifaititillibumullunukkunun!) And they all drank
8 free. For one man in his armour was a fat match always for any
9 girls under shurts. And that was the first peace of illiterative
10 porthery in all the flamend floody flatuous world. How kirssy the
11 tiler made a sweet unclose to the Narwhealian captol. Saw fore
12 shalt thou sea. Betoun ye and be. The prankquean was to hold
13 her dummyship and the jimminies was to keep the peacewave
14 and van Hoother was to git the wind up. Thus the hearsomeness
15 of the burger felicitates the whole of the polis.
16 O foenix culprit! Ex nickylow malo comes mickelmassed bo-
17 num. Hill, rill, ones in company, billeted, less be proud of. Breast
18 high and bestride! Only for that these will not breathe upon
19 Norronesen or Irenean the secrest of their soorcelossness. Quar-
20 ry silex, Homfrie Noanswa! Undy gentian festyknees, Livia No-
21 answa? Wolkencap is on him, frowned; audiurient, he would
22 evesdrip, were it mous at hand, were it dinn of bottles in the far
23 ear. Murk, his vales are darkling. With lipth she lithpeth to him
24 all to time of thuch on thuch and thow on thow. She he she ho
25 she ha to la. Hairfluke, if he could bad twig her! Impalpabunt,
26 he abhears. The soundwaves are his buffeteers; they trompe him
27 with their trompes; the wave of roary and the wave of hooshed
28 and the wave of hawhawhawrd and the wave of neverheedthem-
29 horseluggarsandlistletomine. Landloughed by his neaghboormis-
30 tress and perpetrified in his offsprung, sabes and suckers, the
31 moaning pipers could tell him to his faceback, the louthly one
32 whose loab we are devorers of, how butt for his hold halibutt, or
33 her to her pudor puff, the lipalip one whose libe we drink at, how
34 biff for her tiddywink of a windfall, our breed and washer givers,
35 there would not be a holey spier on the town nor a vestal flout-
36 ing in the dock, nay to make plein avowels, nor a yew nor an eye

[23]
F i n n i c i u s R e v ém DONALDO S C H Ü L E R 71

panunculares cambotas qual rubramarelo verdasco cerúleo


2 virorange com indigonação violeta, em todo o comporrimento e

3 fuerza de arqueiro. E ele cloppeou com mão rude


4 sua anca de hielo e ordurou e com fuerte brro brrou pra ela
5 calar o bico e engavetar a viola, estralos. Estralou trevoso trovão. (Per­
6 kodhuskurunbarggruauyagokgorlayorgromgremmitghundhurth­
7 rumathunaradidillifaititillibumullunukkunun!) E todos beberam
8 fartamente. Pois um homem em arma dura foi sempre parada dura
9 pruma cabrita em tanga. E esta foi a primeira paz de porteria
10 iliterativa em todo o flâmeo, fluido, flátuo mundo. Como kirssy
11 o sastre fez uma feitiota desfeita pro capetão noruevilão. Até aqui,
12 chê, garás e não pazsarás. En tre ter e ser. A princepaquera de ver há
13 no(r)tear a nave looka e os gemidanadinhos deverão apaz sentar a paz
14 e van Montecaveira deverá flanar flatuloso. Assim a bonança
15 do borguês fará a feliz cidade da pólis.
16 O foenix culpréu! Do malbólico vem o bem-gélico.
17 Monte, fonte, silhos em companhia, aquartelados, tenhamos ao menos orgulho disso.
18 Peito a pino, espicaç aégua! Só para que estes não sussurrem a
19 norroneses e a irenianos o seugredo de fundofinndo. Donde o
20 siléxio lapidar, Homenórdio Irreplicante! Undy festinam as gentes, Lívia
21 Irreplicante? Nubilacapa o encobre, carrancudo; audiuriente,
22 esse ascoltaria, se a musa estivesse mais à mão, se soassem ceias de bota-
23 lhas no extremo auriente. Marca, seus vales escurecem. Com os lipthos lithpetha,
24 ela a ele o tempo todo sobrisso eaquilo, assim e assado. Ela há-há-hô,
25 ela há-há-só-ri. Caramba, seplemenos ele prudesse tocá-la! Os impalpáveis
26 ele aborrece. Coaslambadas asondas lhe dão bofetadas; elas o trompam
27 coas trompas; a onda que roreja e a onda que fala, e a onda que cala e a
28 onda do ho-ho-hodós, e a onda do nuncouvide­
29 eqüinolugressantosessábios. Loughlocado por neaghra vis-a-vi-
30 zinha e perpetrificado em seus rebentos, sabibês e sanctentes, os
31 jamais mostrutinos poderiam trizter-lhe à sua facesquerda o adornável
32 cujo cor po devotoramos, ali por seus hipoglossos álibis, ou
33 ela a ela por pencas de pàdores, o bocabocálice de que lipaliplibamos,
34 rajada de sorte lançada nos tufos cerrados, nossa fonte de pães e d'água,
35 não haveria píer penso naldeia nem vestal flutuando
36 nas docas, nem velada voyelle, em vogAlho ou vagOlho

[23]
72 JAM E S J OYCE Finnegans Wake

to play cash cash in Novo Nilbud by swamplight nor a' toole o'
2 tall o' toll and noddy hint to the convaynience.
3 He dug in and dug out by the skill of his tilth for himself and
4 all belonging to him and he sweated his crew beneath his auspice
5 for the living and he urned his dread, that dragon volant, and he
6 made louse for us and delivered us to boll weevils amain, that
7 mighty liberator, Unfru-Chikda-Uru-Wukru and begad he did,
8 our ancestor most worshipful, till he thought of a better one in
9 his windower's house with that blushmantle upon him from ears-
10 end to earsend. And would again could whispring grassies wake
11 him and may again when the fiery bird disembers. And will
12 again if so be sooth by elder to his youngers shall be said. Have
13 you whines for my wedding, did you bring bride and bedding,
14 will you whoop for my deading is a? Wake? Usgueadbaugham!
15 Anam muck an dhoul! Did ye drink me doornail?
16 Now be aisy, good Mr Finnimore, sir. And take your laysure
17 like a god on pension and don't be walking abroad. Sure you'd
18 only lose yourself in Healiopolis now the way your roads in
19 Kapelavaster are that winding there after the calvary, the North
20 Umbrian and the Fivs Barrow and Waddlings Raid and the
21 Bower Moore and wet your feet maybe with the foggy dew's
22 abroad. Meeting some sick old bankrupt or the Cottericks' donkey
23 with his shoe hanging, clankatachankata, or a slut snoring with an
24 impure infant on a bench. 'Twould turn you against life, so
25 'twould. And the weather's that mean too. To part from Devlin
26 is hard as Nugent knew, to leave the clean tanglesome one lushier
27 than its neighbour enfranchisable fields but let your ghost have
28 no grievance. You're better off, sir, where you are, primesigned
29 in the full of your dress, bloodeagle waistcoat and all, remember-
30 ing your shapes and sizes on the pillow of your babycurls under
31 your sycamore by the keld water where the Tory's clay will scare
32 the varmints and have all you want, pouch, gloves, flask, bricket,
33 kerchief, ring and amberulla, the whole treasure of the pyre, in the
34 land of souls with Homin and Broin Baroke and pole ole Lonan
35 and Nobucketnozzler and the Guinnghis Khan. And we'll be
36 coming here, the ombre players, to rake your gravei and bringing

[24]
F in n iciu s Rev é m D O NAL D O S C H Ü L E R 73

pra brincar d'esconde-esconde em Novo Nilbud à luz de lamparina nem blim


2 ou blom ou blem nem tiquinho de vai-vem de ninguém.
3 Ele cavou e escavou na perícia do braço para si mesmo e
4 para todos os que lhe pertencem e ele suou o pessoal sob seu aus-
5 pício para seu benefício e engavetou-se na morte, esse volante dragão,
6 e nos encheu de piolhos e nos largou em puta peste ameim, este
7 magnífico liberador, Unfru-Chikda-Uru-Wukru, foi o que fez,
8 pordeus, nosso ancestral mui reverencial, té kele pensou numa mulhor em
9 sua casa de vientuvo, todo encapado de rubro pudor de dezmembro
10 a dezmembro. E se quisessem, sussurros grissiosos o relvolveriam desperto
11 pra primaverar quando a ave de fogo dezhembra. E ele será
12 prima vera dito se predito por ancianos a jovenzitos. Tens
13 tu vinho pro enlace vizinho, trazes abrigo e consorte,
14 tens tu lágrimas pra regar minha morte? Me despertarás? Uisqueadmortem!
15 Arminhas dudiabo! Então cês prensavam kieutinh'isticado a bota?
16 Carminha, querido Mestre Finnunca, meu chapa. Tirumas férias
17 ao jeito dum deus aposentado e nada de bater coxa na estranja. Claro você
18 só ia se perder em Healiópolis agora da maneira que as ruas de
19 Kapelavaster seinredam além do calvário, Umbriana
20 Dunorte, Cinco Barões, Waim-linha-reta e a
21 Boca de Muro e molhar teus pés talveis com o rocio sombrio
22 lá de fora. Encontrando um velho falido doente qualquer, ou o burro de Cottaricka
23 com suas sandálias bimbaleando, clankatachankata, ou um imundo roncando
24 num banco com uma criança suja. Te revoltaria contra a vida, tou
25 certo. O tempo tá uma droga. Apartar-se de Diablin
26 é ruim como Nugento sabia, abandonar o hábil trançado mais lushuriante
27 que os infranchissáveis campos vizinhos, mas que tualma não se sinta
28 penada. Estás melhor fora, sire, aí onde estás, assinalado nos plenos
29 primores de teus adereços, colete d'águia sanguinária e tudo, lembrando
30 formas e tamanhos teus nalmofada de teus meninosos cachos sob
31 teu sicômoro junto às águas frescas ondeargila de Tory espantará
32 os vermes e disporá o que desejas, saco, luvas, frasco, tenaz,
33 lenço, anel e guarda-chuva e todos os tesouros do império, na
34 terra das almas com Homão e Brão Barroco e Lonã, pobre velho,
35 Nabucodonodonestor e o Ginjas Cão. Com certeza viremos aqui, teus
36 companheiros de canastra, sombras, arrumar teu sepulcro e trazer-te

[24]
74 JAM E S J OYCE F i n n e g a n s Wake

you presents, won't we, fenians? And il isn't our spittle we'll stint
2 you of, is it, druids? Not shabbty little imagettes, pennydirts and
3 dodgemyeyes you buy in the soottee stores. But offerings of the
4 field. Mieliodories, that Doctor Faherty, the madison man,
5 taught to gooden you. Poppypap's a passport out. And honey is
6 the holiest thing ever was, hive, comb and earwax, the food for
7 glory, (mind you keep the pot or your nectar cup may yield too
8 light!) and some goat's milk, sir, like the maid used to bring you.
9 Your fame is spreading like Basilico's ointment since the Fintan
10 Lalors piped you overborder and there's whole households be-
11 yond the Bothnians and they calling names after you. The men-
12 here's always talking of you sitting around on the pig's cheeks
13 under the sacred rooftree, over the bowls of memory where every
14 hollow holds a hallow, with a pledge till the drengs, in the Salmon
15 House. And admiring to our supershillelagh where the palmsweat
16 on high is the mark of your manument. All the toethpicks ever
17 Eirenesians chewed on are chips chepped from that battery
18 block. If you were bowed and soild and letdown itself from the
19 oner of the load it was that paddyplanters might pack up plenty and
20 when you were undone in every point fore the laps of goddesses
21 you showed our labourlasses how to free was easy. The game old
22 Gunne, they do be saying, (skull!) that was a planter for you, a
23 spicer of them all. Begog but he was, the G.O.G! He's dudd-
24 andgunne now and we're apter finding the sores of his sedeq
25 but peace to his great limbs, the buddhoch, with the last league
26 long rest of him, while the millioncandled eye of Tuskar sweeps
27 the Moylean Main! There was never a warlord in Great Erinnes
28 and Brettland, no, nor in ali Pike County like you, they say. No,
29 nor a king nor an ardking, bung king, sung king or hung king.
30 That you could fell an elmstree twelve urchins couldn't ring
31 round and hoist high the stone that Liam failed. Who but a Mac-
32 cullaghmore the reise of our fortunes and the faunayman at the
33 funeral to compass our cause? If you was hogglebully itself and
34 most frifty like you was taken waters still what all where was
35 your like to lay the cable or who was the batter could better
36 Your Grace? Mick Mac Magnus MacCawley can take you off to

[25]
F i n n i c i u s R e v ém DONALDO SCHÜLER 75

presentes, não é, fenianos? E não será nossaliva ke nós te poupamos,


2 não é assim, druidas? Não serão miseráveis, minúsculas imashabtis,
3 picaspicuinhas emiolhas que tu compras em lojas de suttenires. Mas oferendas do
4 campo. Mielágrimas, queo Doutor Curatudo, o homem das ervas,
5 ensinou pra te amelhorar. Papaverdáceas opionam passaporte. Mel é
6 o santo entre santíssimas drogas, favos, alvéolos, cerume, alimento para
7 a glória Oembra-te de guardar o pote ou teu copo para néctar pode ceder
8 à luz!), algum leite de cabra, senhor, como a criada costumava trazer.
9 Tua fama sespalha como o emplastro do Brás desdeque os Finntásticos
10 Labores flautearam teu nome pelo vozmo e não há família
11 além da Bósnia que não diga nomes atrás de ti. O pessoal daqui
12 fala sempre em ti, assentados em círculo sobre maxilas de porco, abri-
13 gados por um olmo sagrado, sobre os vasos votivos, onde cada
14 cavidade evoca tua santidade, com votos aos drinques na Casa do Salmão.
15 Admiram nosso supérshillelagh onde o suor de tuas palmas
16 em alto-relevo é a marca de tua manumentalidade. Todo palita-dentes que
17 eirenianos um dia mascaram são lascas lascadas desse tronco
18 abattido. Se tu estivesses dobrado, enxovalhado e abandonado tu mesmo de
19 teu propriherdário assim que os eirezicultores levassem abundância e
20 quando tu estivesses decomposto em todos os pontos ante as mãos das
21 deusas, tu mostrarias a nossas obreirosas como libertar-se é face. O mesmo
22 velho jogo, andam dizendo, (cierto!) um plantador para_ti,_um -
23 condimentador de todas elas. Porgog, mas era, o G.O.G! Está
24 muertenterrado agora e stamos mais aptos a achar as radices de seu sedek,
25 mas paz a seus grandes miembros, as altas nádeguas, repouso .em seu longo, lento
26 leito, enquanto os olhos de Tuskar, farol velhonário varre
27 as úmidas ondas do mar de Moyle! Nunca houve guerreiro na Grã-Eiranha
28 e Bretlândia, nunca, nem em toda Finnlândia igual a ti, dizem aqui. Não,
29 nem houve rei nem arde-rei, bebe-rei, submergi-rei, suspende-rei.
30 Que tu eras capaz de abater um olmo cujo tronco doze troncudos chins
31 não cing chiriam e levantar a rocha que nunca brocha. Quem senão um
32 MacUlletrado o reiservatório de nossas fortunas e um fanfarrão em nosso
33 finnfuneral para compreender nossa causa? Se tu fosses o próprio
34 bom-bombeador emais sin cuenta iguais a ti bombeassem água até onde
35 tu fosses capaz de lançar âncora quem seria melhor prabastecer que
36 Vossa Graça? Mie Mac Magnus MacCawley pode te arrebatar

[25]
76 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake

the pure perfection and Leatherbags Reynolds tries your shuffle


2 and cut. But as Hopkins and Hopkins puts it, you were the pale
3 eggynaggy and a kis to tilly up. We calls him the journeyall
4 Buggaloffs since he went Jerusalemfaring in Arssia Manor. You
5 had a gamier cock than Pete, Jake or Martin and your archgoose
6 of geese stubbled for Ali Angels' Day. So may the priest of seven
7 worms and scalding tayboil, Papa Vestray, come never anear you
8 as your hair grows wheater beside the Liffey that's in Heaven!
9 Hep, hep, hurrah there! Hero! Seven times thereto we salute
10 you! The whole bag of kits, falconplumes and jackboots incloted,
11 is where you flung them that time. Your heart is in the system
12 of the Shewolf and your crested head is in the tropic of Copri-
13 capron. Your feet are in the cloister of Virgo. Your olala is in the
14 region of sahuls. And that's ashore as you were born. Your shuck
15 tick's swell. And that there texas is tow linen. The loamsome
16 roam to Laffayette is ended. Drop in your tracks, babe! Be not
17 unrested! The headboddylwatcher of the chempel of Isid,
18 Totumcalmum, saith: I know thee, metherjar, I know thee, sal-
19 vation boat. For we have performed upon thee, thou abrama-
20 nation, who comest ever without being invoked, whose coming
21 is unknown, a1l the things which the company of the precentors
22 and of the grammarians of Christpatrick's ordered concerning
23 thee in the matter of the work of thy tombing. Howe of the ship-
24 men, steep wall!
25 Everything's going on the same or so it appeals to ali of us,
26 in the old holmsted here. Coughings all over the sanctuary, bad
27 scrant to me aunt Florenza. The horn for breakfast, one o'gong
28 for lunch and dinnerchime. As popular as when Belly the First
29 was keng and his members met in the Diet of Man. The same
30 shop slop in the window. Jacob's lettercrackers and Dr Tipple's
31 Vi-Cocoa and the Eswuards' desippated soup beside Mother Sea-
32 guli's syrup. Meat took a drop when Reilly-Parsons failed. Coal's
33 short but we've plenty of bog in the yard. And barley's up again,
34 begrained to it. The lads is attending school nessans regular, sir,
35 spelling beesknees with hathatansy and turning out tables by
36 mudapplication. Alifor the books and never pegging smashers

[26]
Finnicius Revém D ONALDO S C H Ü L E R 77

a perfeição pura e Rey Noldo Bolsas de Couro quer tetrapacear e fazer t'em
2 pedaços. Mas como Hopkins & Hopkins o formularam, tu eras um apagado
3 resmungão pingado e umovada caixa dilusões. Nóis o chama jornerall
4 Buffaloff depois quele foi Jerusalemear em Anúsia Manor. Tu
5 tinhas um peru mais competitivo que Pedro, Tiago ou Martin e tua arquiperua
6 de peruas peruava pra Todos os Anjos. De sorte que o padre dos sete
7 vermes e da tábua escaldante, Papa Vestrey, nunca chegue perto de ti
8 enquanto tua cabeleira sintriga junto da Liffey questá nos Céus!
9 Hep, hep, hurrah lá! Herói! Sete vezes, há, nós te saudamos,
10 já! Teu saco cheio de apetrechos, penas de falcão e botas inclusas,
11 estão onde tu os lançaste então. Teu coração está no sistema
12 da Loba e tua cabeça cristada está no trópico Copri-
13 capron. Teus pés estão no claustro da Virgem. Teu olalá está na
14 região das almas pinguças. E foi nestas margens que tu nasceste. Teu leito
15 é um deleite. A textura do linho é tua armadura. A só nolenta
16 reumaria a Lafayette é finda. Segue teu caminho, amor! Não
17 esmoreças! O vigia-chefe da capela de Í sis,
18 Totumcalmum, disse: Conheço-te, metherjareira, conheço-te, barco
19 da sal v ação. Pois em ti performamos, tu, a bramanação,
20 que vens e revéns sem ser invocada, cujo vir
21 desconhecemos, todas as coisas ke a companhia de preceptores
22 e de gramáticos de Cristopatrício ordenaram concernente
23 a ti nos negócios do serviço de teu tumbamento. Persoval
24 do barco, murodurmam bem!
25 Todacoisa in do mesmo jeito ou assim apetece a todos de nós,
26 no antigo dormicílio por cá. Tu s'indo no santutério, mau
27 recado pra minha tia in Flurenza. Corneta pro desjejum, gongo
28 pro almoço, sinos pro jantar. Popular como quando Pança Primeiro
29 foi kengo e seus membros se reuniram na Dieta de Man. A mesma
30 baboseira exposta na vitrine. Biscoitos letrados de Jacó, do Dr. Tripa
31 Vi co co, a sopa só só brada d'Esaú ao lado do xarope da Mãe
32 Gaivota. Tomei um trago quando Lacrainha capotou. O carvão
33 tá curto mas barro no pátio não falta. A cevada desponta,
34 granulada. Os garotos freqüenta bestiscola regular, mestre,
35 só letrando nigóscio com heisitação e virando mesas com
36 mudaplicação. Tudo pelos livros e nunca se apegar

[26]
78 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake

after Tom Bowe Glassarse or Timmy the Tosser. 'Tisraely the


2 truth! No isn't it, roman pathoricks? You were the doublejoynted
3 janitor the morning they were delivered and you'll be a grandfer
4 yet entirely when the ritehand seizes what the lovearm knows.
5 Kevin's just a doat with his cherub cheek, chalking oghres on
6 walls, and his little lamp and schoolbelt and bag of knicks, playing
7 postman's knock round the diggings and if the seep were milk
8 you could lieve his olde by his ide but, laus sake, the devil does
9 be in that knirps of a Jerry sometimes, the tarandtan plaidboy,
10 making encostive inkum out of the last of his lavings and writing
11 a blue streak over his bourseday shirt. Hetty Jane's a child of
12 Mary. She'll be coming (for they're sure to choose her) in her
13 white of gold with a tourch of ivy to rekindle the flame on Felix
14 Day. But Essie Shanahan has let down her skirts. You remember
15 Essie in our Luna's Convent? They called her Holly Merry her
16 lips were so ruddyberry and Pia de Purebelle when the redminers
17 riots was on about her. Were I a clerk designate to the Williams­
18 woodsmenufactors l'd poster those pouters on every jamb in the
19 town. She's making her rep at Lanner's twicenightly. With the
20 tabarine tamtammers of the whirligigmagees. Beats that cachucha
21 flat. 'Twould dilate your heart to go.
22 Aisy now, you decent man, with your knees and lie quiet and
23 repose your honour's lordship! Hold him here, Ezekiel Irons, and
24 may God strengthen you! It's our warm spirits, boys, he's spoor­
25 ing. Dimitrius O'Flagonan, cork that cure for the Clancartys! You
26 swamped enough since Portobello to float the Pomeroy. Fetch
27 neahere, Pat Koy! And fetch nouyou, Pam Yates! Be nayther
28 angst of Wramawitch! Here's lumbos. Where misties swaddlum,
29 where misches lodge none, where mystries pour kind on, O
30 sleepy! So be yet!
31 l've an eye ori queer Behan and old Kate and the butter, trust me.
32 She'll do no jugglywuggly with her war souvenir postcards to
33 help to build me murial, tippers! 1'11 trip your traps! Assure a
34 sure there! And we put on your clock again, sir, for you. Did or
35 didn't we, sharestutterers? So you won't be up a stump entirely.
36 Nor shed your remnants. The sternwheel's crawling strong. I

[27]
F i n n i c i u s Rev é m DONALDO SCHÜLER 79

a Tom Bou Bunda Mole ou a Timpu Nheta. A verdade disraeli-


2 mente é essa! Não é isso, pathórickos romanos? Foste o januário
3 da porta de dois batentes na manhã em que nasceram e avuelastro
4 ainda serás completo quando a mão direita captar o que já sabe o braço de amar.
5 Kevin não é mais que pinta com sua cara de querubim pintando ogros
6 na parede à tinta, sua lanterninha, sua sacola descola e bolsa de truques, sua sina
7 de postalista com golpes em torno de minas e se sopa fosse leite, pro seu
8 deleite soltarias a gatisolda ao lado se seu gato mas, por amor de laus, o diabo entra
9 às vezes, num Jerry malandro, plaidboy tararaca,
10 fazendo excrementencrustada tinta do último de seus guardados, riscando
11 uma faixa azul sobre a camisa natalícia. Hetty Jane é uma filha de
12 Maria. Ela virá (pois é certa a escolha dela) no branco
13 de seu ouro com um toque de hera para reavivar a chama no Dia
14 Phelix. Mas Essie Shanhan baixou a saia. L hembras
15 Essie no Convento de Nossenhora de Luna? Chamavam-na Santa Folia,
16 tinha os lábios tão rubescentes e Pia de Purebelle quando as rubras
17 refregas rugiam por ela. Fosse eu um empregado designado para a marcenaria
18 Williams eu gravaria esses beicinhos em cada umbral na
19 cidade. Ela ilumina Lunares duas vezes por noite. Com
20 rodopios ao tam-tam-tam de tamborins. Batidas de chachuchá
21 no tablado. Dilataria teu coração lá ir.
22 Cuidado agora, santhomem, com teus joelhos, dorme tranqüilo,
23 repousa a nobreza de tua honra! Segura-o firme, Ezequiel Ferreira, que Deus
24 te dê forças! São vossos espíritos de fogo, camaradas, ele os
25 aspira. Demétrio Falcão, tampa essa panacéia para o bem do clã!
26 Tencharcaste o bastante desde Portobello para flutuar Pamona. Vai
27 procurar Pat Koy! Vai agoravá você, Pam Yates! Não tenhas
28 medo de Wramawitch! Aqui ele limba. Onde as brumas sadensam,
29 onde ninguém se aloja, onde mistérios porejam infância, Ó
30 soninho! So vi yet!
31 Tenho um olho nesse veado Behan e na velha Kate e na manteiga, crê-me.
32 Ela não fará catimbó com seus suveneires de forrobodó, cartões postais, para
33 ajudar a construir o memurial, palpiteiros! Trampeio a trampa! Asseguro quisso
34 é seguro! Volveremos a te pôr nos ponteiros, sire, pra teu bem. É ou
35 não é, cogaguejadores? Assim não serás só confuso.
36 Não despejes teus restos. Roda rodando a roda na popa. Eu

[27]
80 JAM E S J OYCE Finnega n s Wake

seen your missus in the hall. Like the queenoveire. Arrah, it's
2 herself that's fine, too, don't be talking! Shirksends? You storyan
3 Harry chap longa me Harry chap storyan grass woman plelthy
4 good trout. Shakeshands. Dibble a hayfork's wrong with her only
5 her lex's salig. Boald Tib does be yawning and smirking cat's
6 hours on the Pollockses' woolly round tabouretcushion watch-
7 ing her sewing a dream together, the tailor's daughter, stitch to
8 her last. Or while waiting for winter to fire the enchantement,
9 decoying more nesters to fall down the flue. lt's allavalonche that
10 blows nopussy food. If you only were there to explain the mean-
11 ing, best of men, and talk to her nice of guldenselver. The lips
12 would moisten once again. As when you drove with her to Fin-
13 drinny Fair. What with reins here and ribbons there all your
14 hands were employed so she never knew was she on land or at
15 sea or swooped through the blue like Airwinger's bride. She
16 was flirtsome then and she's fluttersome yet. She can second a
17 song and adores a scandal when the last post's gone by. Fond of
18 a concertina and pairs passing when she's had her forty winks
19 for supper after kanekannan and abbely dimpling and is in her
20 merlin chair assotted, reading her Evening World. To see is
21 it smarts, full lengths or swaggers. News, news, all the news.
22 Death, a leopard, kills fellah in Fez. Angry scenes at Stormount.
23 Stilla Star with her lucky in goingaways. Opportunity fair with
24 the China floods and we hear these rosy rumours. Ding Tams he
25 noise about all same Harry chap. She's seeking her way, a chickle
26 a chuckle, in and out of their serial story, Les Loves of Selskar
27 et Pervenche, freely adapted to The Novvergin} Viv. There'll
28 be bluebells blowing in salty sepulchres the night she signs her
29 final tear. Zee End. But that's a world of ways away. Till track
30 laws time. No silver ash or switches for that one! While flattering
31 candles flare. Anna Stacey's how are you! Worther waist in the
32 noblest, says Adams and Sons, the wouldpay actionneers. Her
33 hair's as brown as ever it was. And wivvy and wavy. Repose you
34 now! Finn no more!
35 For, be that samesake sibsubstitute of a hooky salmon, there's
36 already a big rody ram lad at random on the premises of his

[28]
Finnicius Revém DONALDO SCHÜLER 81

vi tua missus no hol. Lembrava a rainhadoeire, Xi!nadaver. Arre, é


2 a própria, que fina, também, cala a boca! Fujão? Tue storya
3 Chefe racha mi lengua Chefe racha a storya grassa a moglie plena
4 gorda truta. Shekasmões. Diabos não vale um treco, perdeu o caneco,
5 sem salida pro leggso dela. Boald Tip boceja e sorri felinamente
6 n'enredada Pollestra d'horas em torno do tamborete observando-a
7 costurar pedaços dum sonho, a filha doalfaiate, firme na
8 forma. Ou enquanto ela aguarda o inverno para feitiços de fogo,
9 nidificando afanosa para desengrumar a gripe. É uma ava lanche de vento
10 pão pra ninguém. Situ estuvesses lá para explicar-lhe o
11 saintido, ó melhor dos homens, e falar-lhe boinitinho de oureprata. Os lábios
12 voltariam a se umedecer. Como quando rodaste com ela à Fei-
13 ra das Fadas. Que com rendas aqui e tiras ali tuas mãos estavam
14 sempre ocupadas de sorte quela nunca soube se deslizava pelo solo, pelo
15 mar ou pairava pelo azul como noiva do L'Acrainha. Vivia
16 flirtuosa então, flutuosa ainda. Ela secunda um
17 canto e adora um escândalo quando a última carruagem já passou. Louca
18 por concertina e pares que passam após quarenta pimpinelas
19 ao jantar, depois do kanekannan e farta de licores em sua
20 cadayra de sonhos sentada, lê o Mundo da Tarde. De ver são
21 as elegâncias, longos, casacos. Notícias, notícias, tudo são notícias.
22 Morte, um leopardo, mata um felá em Fez. Cenas raivosas em Montormenta.
23 Stilla Star com seu felizardo de passarela. Preços docasião em
24 razão das enchentes na China, e ouvimos estes rumores rosados. Dim Dom,
25 alvoroço sobre Harry, o mesmo velho cara. Ela procura seu caminho, galinhagens
26 e cacarejos, entra e sai, nos labirintos do folhetim, Os Amores de Selskar
27 e Pervenche, adaptação livre de The Novvergin's Viv. Haverá
28 campânulas azuis sopradas em tumbas picantes na noite em quela assina
29 a lágrima final. Vê Fim. Mas este é um vozmo de várias vozes. Té tempo
30 perdê-lo de vista. Nada de cinzargêntea nem desvios pra este! Enquanto
31 candeias candentes brilham. Comestás Anna Stásia! Vale mais do que pesa na
32 maior nobreza, diz Adams & Filhos aos prospectivos acionistas. O
33 cabelo dela é castanho como sempre foi. Vivo e vasto. Repousa
34 agora. Não finnes mais!
35 Pois, seja este o mesmoso sibsubstituto dum salmão fisgado, já há
36 um grande pintoso carneiro nas cercanias na imensidão do

[28]
82 JAM E S J OYCE F í n n e g a n s Wake

haunt o f the hungred bordles, as it is told me. Shop Illicit,


2 flourishing like a lordmajor or a buaboabaybohm, litting flop
3 a deadlop (aloosel) to lee but lifting a bennbranch a yardalong
4 (Ivoehl) the breezy side (for showml), the height of Brew-
5 ster's chimpney and as broad below as Phineas Barnum; humph-
6 ing his share of the showthers is senken on him he's such a
7 grandfallar, with a pocked wife in pickle that's a flyfire and three
8 lice nitde clinkers, two twilling bugs and one midgit pucelle.
9 And aither he cursed and recursed and was everseen doing what
10 your fourfooders saw or he was never clone seeing what you cool-
11 pigeons know, weep the clouds aboon for smiledown witnesses,
12 and that'll do now about the fairyhees and the frailyshees.
13 Though Eset fibble it to the zephiroth and Artsa zoom it round
14 her heavens for ever. Creator he has created for his creatured
15 ones a creation. White monothoid? Red theatrocrat? And all the
16 pinkprophets cohalething? Very much sol But however 'twas
17 'tis sure for one thing, what sherif Toragh voucherfors and
18 Mapqiq makes put out, that the man, Humme the Cheapner,
19 Esc, overseen as we thought him, yet a worthy of the naym,
20 carne at this timecoloured place where we live in our paroqial
21 fermament one tide on another, with a bumrush in a hull of a
22 wherry, the twin turbane dhow, The Bryfor Dybbling, this
23 archipelago's first visiting schooner, with a wicklowpattern
24 waxenwench at her prow for a figurehead, the deadsea dugong
25 updipdripping from his depths, and has been repreaching him-
26 self like a fishmummer these siktyten years ever since, his shebi
27 by his shide, adi and aid, growing hoarish under his turban and
28 changing cane sugar into sethulose starch (Tuttut's cess to himl)
29 as also that, batin the bulkihood he bloats about when innebbi-
30 ated, our old offender was humile, commune and ensectuous
31 from his nature, which you may gauge after the bynames was
32 put under him, in lashons of languages, (honnein suit and
33 praisers bel) and, totalisating him, even hamissim of himashim
34 that he, sober serious, he is ee and no counter he who will be
35 ultimendly respunchable for the hubbub caused in Eden-
36 borough.

[29]
F i n n i c i u s Rev é m DONALDO SCHÜLER 83

antro de seus centenares bardéis, como me foi dito. Mercado Ilícito, mas
2 florescendo com'um lordemaior ou comuina bahitabilônia, iluminando um baque
3 perdido (soltar!) e sotavento mas levantando um mastro de jarda
4 (Ivoeh!) do lado da brisa (que chuá), da altura da chaminé da
5 brahma e da largura do cristo-redentor; chuá de
6 pencadas que se derramam sobre seu corcovado, ele é um tal
7 britamontes com uma fâmina n'algibeira em conserva que é um lampopyri e três
8 insetos, campânulas pendentes, dois escaravalhos crepusculares e uma
9 pulganã zinha. E ultrajante ele cursou e recursou e foi semprevisto fazer
10 o que vossos quatrantepastados viram ou ele nunca foivisto faucer o que vossos
11 olheiros sabem, chorem as nuvens dalto, testemunhas de rasos sorrisos,
12 e ist'é tudo agora sobr'omishado e asmishadas.
13 Indak Esopo o fabule aos zéfiros e Astrursa o orce em rodadas
14 celestes sempiternas. Creator ele creaturou para os seus creados
15 esta creação. Monotóide branco? Teatrocrata rubro? E todos os
16 rosaprofetas qoheligados? Vira-e-mex' é assim! Porém, o que quer
17 que tenha sido, isto é certo, o que xerife Torá sarapheou e
18 Mapequique publica, que o tal, O Hummem, o Comezinho, Esc,
19 negligenciado k homo pensávamos, que nem merece ste noyme,
20 veio a este cronocolor lugar onde moramos em nosso paroqial
21 fermamento, crononda sobre crononda, com uma puta pressa em lufa
22 ufa, barco de turbina dúplex, A Baía para Dublinagem, a primeira
23 escuna a visitar este arquipélago, com uma estatueta de cera no papel de
24 imagem de proa à maneira de Vicolou, o dugongo do marmorto
25 emergindo dos abismos e ele sermoneou-se a si mismo
26 como um peixeiro durante todesses sessenta-e-dez anos seu rosto
27 frente ao mosto, adeus e adiós, grisalhando revelho sob seu turbante
28 e mudando cana em rapadura (Tutu lhe cessa!)
29 e isso também, encolhendo a protubepância de que se gabava quando inneebbria-
30 do, nosso velho ofondedor stava humilis, comum e insextuoso
31 de natura, o que cê pode excogitar dos cognomes nele
32 supostos em sermos de línguas, (esconda acara quem
33 pinça só nexo!) e, totalizando, mesmo por hadamita que o herremita
34 seja, sóbrio e sério, ele é ke é e não sencontra kem contra será, fritos
35 os ovos, respunchável pelo cacaos caosado no Eden-
36 burgo.

[29]
' .

f-1
\I \_v/')J �
- ·. ,:..
_- - - • .!, - �
. . -- , _ ' _. ,.-

- .

--� ­
,,. :�-
+· - �
...... . �.
- •

. ;, �:·-·
�·� . ' •

·'''
..

;l i
.

., · .

- ·----. ' .)

f- .·
N ot a s d e L e i tur a

. ,
�.

l
\
f
I
. - . ����
L�·..l.-

' -' "


. '
N o tas de L eitura

1. BEIRANDO ABAHIA [3.1 -3]

Os quatro primeiros parágrafos de Finnegans Wake lembram o proêmio das


epopéias. A interpretação viconiana da história, reelaborada, opera já nas pri­
meiras linhas. A idade dos deuses está longe e próxima.
Soterrar não é aniquilar. O que já foi vibra na planta dos pés. Quem visita
Dublin anda sobre o corpo de um gigante adormecido. Os embriões de Finnegans
Wake estão guardados aí: a cidade, o gigante, o rio, o monte, o primeiro casal, o
jardim, a queda, os filhos, a filha, a Europa, o mundo, o caos, a paixão, a morte,
a vida... A cidade, um espaço artificial, soterrou natureza e mito em Ulisses e
aqui. Estamos no primeiro parágrafo.
A descida ao mundo dos mortos começa no segundo. Com Tristão (ou
Tristrão) e sua paixão dilacerante, saltamos aos alvores dos tempos modernos.
Vem a cristianização da Irlanda. Ascendemos ao século XVIII com Jonathan
Swift. Esaú e Jacó nos chamam aos tempos bíblicos. A idade dos deuses, a dos
heróis e a dos homens se embaralham. O conflito atravessa todas as idades.
Homens combatem e combateram feridos, ontem e hoje. Os tempos mudam; o
conflito, não: fluir das águas, dos tempos, do sangue, dos períodos. O sim e o
não, a vida e a morte, o que é e o que foi, a civilização e a barbárie, a guerra e a
paz, o caos e o cosmo convivem. Esta é a lei do universo. Há predominância,
elisão não há.
Mais um passo e caímos. Entramos no terceiro parágrafo. O estrondo reper­
cute no alfabeto, na Babel das línguas. O estrondo provoca estrondos, vibra nos
ruídos, mesmo nos bem tênues. A queda é, na verdade, um avanço. Caímos...
mas para dentro da história.
90 ]AM E S J OYCE F i n n e g a n s Wake

Assombrados despertamos numa idade desenfreada, sem lei, bárbara. Che­


gamos ao quarto parágrafo. Estamos no princípio ou no fim da história? Qual é
a diferença? Na desordem, a ordem se regenera.
As palavras são espessas, feitas de camadas sobrepostas. Como nas frutas, a
casca recobre outros estratos. Tocamos em corpo onírico. A pele do sonho
abafa a voz das profundidades, censurada, perseguida, originária, criativa, a de
Shem. A linguagem dos tempos heróicos vem à tona. Revivemos idades de
antepassados nossos. Recuperamos o sabor dos que proferem e ouvem pala­
vras pela primeira vez. De assombro em assombro avançamos pelos caminhos
intrincados do texto.
Como na sinfonia, os primeiros acordes anunciam o desenvolvimento futu­
ro. Acompanhemos algumas das repercussões. Só algumas. Se déssemos aten­
ção a todas, não sairíamos do primeiro parágrafo.
É hora de conhecer o gigante. O monte Howth - o nome deriva de hoved,
cabeça em dinamarquês, note-se a semelhança com head- arredonda-se na ex­
tremidade superior, o núcleo inaugural da cidade ao norte do rio Liffey consti­
tui o ventre enquanto os pés repousam no Phoenix Park. O corpo do legendário
guerreiro irlandês Finn MacCool se fez geografia e se fez história. MacCool é o
que vem, é o que se vê. MacCool e Finnegan se confundem. Definidos estão os
protagonistas: a líquida corrente e o gigante adormecido, prestes a despertar.
As aventuras e as desventuras (amores e dores, vida e morte, acertos e erros) do
casal constituem a coluna vertebral do romance.
riverrun em minúscula evoca a última sentença do livro. A wqy a fone a last a
foved a fong the, numa de suas possibilidades de leitura: "longe solitário um último
amado continuamente o rio (corrente)". Riverrun é o fluir do livro (run - inscri­
ção, rune escrita misteriosa), um rio em contínua transformação, o fluir de
-

corpo feminino a regenerar o universo. As águas, velhas no fim, remoçam no


princípio. A ação se passa em Dublin e no mundo. Em riverrun desembocam
outros rios - todos. Entre o Éden e Dublin, concentra-se a história da humani­
dade. Já na literatura grega, a cidade refletia o mundo. Ao se falar da cidade,
falava-se do universo. Dublin (do gaélico Dubh-finn) transfigurada pelo sonho,
pela arte, chama-se Novo Nilbud páginas depois [24.1] . O topônimo lido ao
avesso, acentua nif (nada) na primeira sílaba. O adjetivo Novo a matricula no
espaço da língua portuguesa. Eva e Adão evocam a igreja Adam and Eve às
margens do rio Liffey, o primeiro casal de homens, o princípio masculino e
feminino, o paraíso. Eva antecede Adão. A história começa com ela: ela caiu
Notas de L eitura DONALDO SCHÜLER 91

primeiro. Embora ela tenha sido feita da costela de Adão, ela lhe deu origem.
Sem ela Adão não existiria, não como existiu a partir dela. O Adão solitário, o
andrógino, ficou na pré-história. Em Eva e Adão estão compreendidas a polari­
dade mulher-homem, a queda, a promessa de redenção. O s precedido de após­
trofo vale tanto para uma igreja quanto para uma taverna. A bebida alcoólica,
como todos os líquidos, irriga o corpo. Éden, igreja e taverna convergem na
geração e na regeneração da vida. Vicus é a Vico Road de Dublin. Commodius
evoca Lucius Aurelius Commodus, imperador da Roma decadente, filho e su­
cessor de Marco Aurélio, o rei-ftlósofo. O reinado de Cômodo (1 80-192) dis­
tanciou-se muito do sábio governo de seu pai. Inepto e tirânico, atraíam-no
lutas de gladiadores. Combateu mais de setecentas vezes, obrigando os adversá­
rios a conceder-lhe a vitória. Súditos insurgiram-se contra suas loucuras, assas­
sinaram-no. O senado, querendo riscá-lo da memória, determinou que seu cor­
po fosse arrojado ao Tibre. Nas iniciais do nome do imperador, LAC, combi­
nam-se letras das iniciais dos protagonistas, ALP (Anna Lívia Plurabelle) e HCE
(Here Comes Everybody). Diu (há muito tempo), que se agrega ao nome do
imperador para formar o adjetivo, lembra a antigüidade da queda. Commodius
vicus é uma via que atravessa o mundo em queda. A queda precipita do paraíso
estático (sem sofrimento e sem morte) ao móvel mundo da história, seqüência
interminável de desgaste e regeneração. Vicus evoca ainda Giambattista Vico,
para quem o mundo, alcançada a degenerescência da última fase, renasce de
suas ruínas. Philippe Lavergne, o tradutor francês de Finnegans Wake, traduz
commodius com chaise percée, cadeira cujo assento se abre em círculo para receber
um vaso noturno. A tradução não espanta leitores de língua inglesa já que commode,
numa de suas acepções, significa o que Lavergne entendeu. Associações
excrementais, expressão da vida que se renova, abundam em Finnegans Wake.
Excremento é a literatura, registro de restos da vida, sonho. A vida se refaz em
sonho, em literatura. Sinônimo obsoleto de vaso noturno (chamberpot) éJordan.
Jordan chama-se também um dos afluentes do rio Liffey. Ora, Jordan é o cor­
respondente inglês do prenome de Vico, Giordano. Os conceitos acumulados
em commodius seguem o caminho do sonho. À medida que os significantes são
distanciados de seus referentes, a conotação aumenta.
O rio nos devolve (brings us... back) - todos os que navegamos, vivemos, lemos
- ao Howth Castle and Environs. Destacam-se, na região mencionada, as iniciais
.

HCE que se derramam pelo texto em conjuntos como Hush! Causion! Echoland!,
How charmingjy exquisite, Heare Comes Everybotfy, Hircus Civis Eblanensis, Haveth
92 JAM E S J OYCE F í n n e g a n s Wake

Childers Everywhere, Heiz Cans Everywhere, Haroun Childeric Eggebert, Humme the
Cheapner Esc, Humphrry Chimpden Eanvicker. .. impera urbi et orbi, em Dublin, nos
homens, nas coisas, em todos, em tudo. Age em quem age. Ele é razão, espaço
construído. Opõe-se à natureza, que o alimenta, ALP, sua mulher, o rio, o tem­
po, o líquido, o feminino em geral. Ele é o actante masculino que age nos atores,
actante ativo no interior da natureza.
Vemos que Finnegan não é um gigante que vem do passado. Finnegan, como
geografia e como história, acontece aqui e agora, ele se mexe em cada linha, em
cada palavra do romance. Finnegan é o romance que desperta a cada leitura sem
que se renda de todo. Todos vimos e vemos partes. Ninguém conhece o gigante
inteiro.
O sono é comparável à morte. O gigante adormecido não se distingue de
outros adormecidos. O romance nasce do sono, da morte. A leitura a todo ins­
tante nos devolve ao castelo (à cabeça onde se formam os sonhos) e arredores.
Quem fala? Em outros tempos o autor era o maestro. Entre autor e leitor
havia um pacto. O leitor sabia que o autor não o trairia. Adivinhava expectativas
e empenhava-se em satisfazê-las. O pacto se rompeu. Abandonado, o leitor
anda em floresta escura. Ameaçam-no silêncios, ausências, mistérios, interrup­
ções. O autor conta com leitores adultos, independentes, responsáveis, cida­
dãos da viconiana idade dos homens.
Philipe Lavergne traduzpastEve andAdam's com pass' notreAdam. Ouve-se em
notre Adam o nome da catedral parisiense Notre Dame, ligada ao pai da humanida­
de, Adam. A tradução é feliz. Tira, entretanto, a ação da Irlanda e a leva a Paris o
que, aliás, não contradiz a intenção universalizadora de Joyce. Os topônimos
modificados perdem rigor denotativo. Se estamos interessados em fazer com
que o rio universal atravesse o Brasil, podemos substituir a igreja dublinense por
uma igreja brasileira, Nossa Senhora do Ó, por exemplo. Se quisermos incorpo­
rar nela o princípio masculino, a exemplo do que fizeram Joyce e Lavergne, po­
deremos dizer Nossenhora do Ohmem. Recriemos o parágrafo todo:

rolarriuanna e passa por Nossenhora d 'Ohmem's, roçando


a praia, beirando ABahia, reconduz-nos por commódios cominhos recorrentes
de vico ao de Howth Castelo Earredores.

Atento aos propósitos de Joyce, unimos o nome de Anna Lívia Plurabelle


ao rio, corrente universal mítica, devolvendo-a a Dublin, fim e reinício do curso.
Notas de L eitura DONALDO SCHÜLER 93

Preservamos na tradução da cabeça do gigante irlandês a sigla HCE, mil vezes


repetida. Para Here Comes Everybocfy propomos o Homem a Caminho Está.

2. PENISOLDADA GU ERRA [3.4-1 4]

Saltamos do presente ao dealbar dos tempos modernos. A história da Euro­


pa moderna começa com os sucessos e insucessos do conflituado Tristão, trai­
dor involuntário do tio que estima e a quem deve favores, Tristão, indeciso
entre duas !soldas: a irlandesa, que ama e que lhe é proibida, e a inglesa, com
quem casa,- e cuja união não chega a consumar. Este é o marco que assinala o
início de uma das idades dos homens, a nossa, situada no declínio da Idade
Média, posterior à idade dos heróis que vem até o apogeu dos líderes fortes que
deram brilho a Roma. Paixão mais forte que a razão apoderou-se do homem em
quem Marc confiava. Como Tristão vem da Cornualha, ele tem que atravessar o
mar encapelado (o mar de ondas curtas - short sea) que separa as duas ilhas,
Irlanda e Inglaterra.
Tristram une Almeric (ou Amory) Tristram (Sir Tristram, o fundador do Howth
Castle) e o legendário cavaleiro que viveu dividido entre duas !soldas, a da Irlan­
da e a da Inglaterra. Em Tristram ecoam Tristran (francês antigo) e Tristrem
(inglês antigo). Passencore (construido sobre pas encore [ainda não]) recorda as
versões francesas da lenda britâniCa. North Armorica conjuga Armorica - a
Bretanha romana, continental - e a América do Norte. Em Armorica ressoa
ainda o amor mortal que amarra Tristão e Isolda. Europa Menor lembra Á sia
Menor, bíblico berço da humanidade, local de luta milenar. O que foi a Á sia
Menor é agora a Irlanda. O mundo se concentra em Dublin, tanto aqui como
no Ulisses. Wieldeifight, calcado sobre o verbo alemão, wiedeifechten (lutar de
novo) destaca também wielder (o que governa) para significar os combates de
Tristram que vai e que volta hostil a suas próprias inclinações, guerra sem fim.
Tristram venceu um gigante, um dragão, barões, inúmeros guerreiros sem
alcançar descanso. Isso se deu depois da queda à cabeça do parágrafo seguin­
te. Tristram cai num mundo em queda. Fora do paraíso abrem-se muitos ca­
minhos, labirínticos. Os que se movem neles não acham o fim. Cada vitória
leva a novas desventuras. A queda se repete em todas. Tristram, ator de HCE,
resume a história de todos os homens. Ouve-se a voz do narrador, de Shem, o
penman, Joyce. James Joyce está no papel de Joseph Bédier que recolheu frag-
94 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake

mentos para escrever a história de Tristão e !solda. !solda evoca a ilha, o isola­
mento de quem escreve, de quem reúne fragmentos aquém da história inteira.
Escrever é travar uma guerra para unir o que irremediavelmente se rompeu.
Além da espada, instrumento de guerra é a pena. Ato tardio (I so late) . Tristram
é o cantor, o executor da viola d'amore, instrumento de cordas feito para emitir
sons suaves. Tristão, violeiro e violador (violate), violando !solda, rompeu os
compromissos de fidelidade com o rei, tio, amigo, benfeitor, senhor. Empenisolate
ressoapeninsular, isto é, as batalhas travadas por ingleses e irlandeses na penínsu­
la ibérica sob o comando do fático Wellington contra as femininas forças fran­
cesas. Penisolate lembra ainda as penas do guerreiro que pensa em amor e guerra.
A guerra interior, a erótica, isolada, solitária, humaniza-o. Além de brandir a
espada, ele maneja o instrumento da paixão amorosa. Em penisolate, soa o nome
de I solda. Guerra penetrante de quem usa a pena, o pênis e a espada. Guerra de
palavras, de línguas, de culturas, de níveis... Guerra de quem veio tão tarde (I so
late) ou muito cedo. Guerra que perpassa todos os que passam. Guerra que
pende no fluir. Guerra de vida e morte. Guerra de um guerreiro apaixonado,
guerra da paixão. Sem paixão não se travam guerras. Sem guerra, não se ama;
não em Finnegans Wake. O amor aproxima e separa, une e opõe. O isolamento
ou o isoldamento de Tristão é insuperável. Para quem sofre de amor não há
repouso. A união não se consolida. De dois não surge um. Lacan: não há rapport
sexual. Tristão vive na transição entre o bárbaro sem lei, o herói matador de
gigantes e o homem que ama até à loucura. Não é impertinente procurar em
penisolate o próprio Joyce, que partiu com sua mulher Nora para a Europapemryless,
sem vintém.
Finnegan é o livro, os fragmentos recolhidos, o herói que revém na escrita.
O texto que deriva de si mesmo, o texto que reflui sobre si mesmo. O pensa­
mento que não sai de si mesmo porque é uma totalidade, a totalidade parmenídica,
gorgiana (gorgios) .
Doublin (Dublin+doubling) duplica-se na Geórgia (USA - gorgios, às margens
do rio Oconee. Peter Sawyer, fundador da Dublin duplicada, prospera em di­
nheiro e testículos (rocks) na terra prometida), a nova Laurens Counry, longe da
Irlanda castigada pela fome, a velha Laurens Counry - assim chamada em home­
nagem a Laurence O'Toole, bispo de Dublin no tempo da conquista anglo­
normanda. Números (numbers) compensam a penúria dos mendigos (mumpers).
A prosperidade multiplica pares (pair) formado de mum (mãe) e pere (pai). A
palavra-valise thuartpeatrick abriga Saint Patrick, o apóstolo, o patrono da Irlanda
Notas de L eitura DONALDO SCHÜLER 95

e thou art Peter ( "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha igreja", disse
Cristo), e pea (ervilha), imagem do que se duplica. A igreja, edificada sobre
Pedro e Patrick, carateriza o invasor como Shaun, cujo símbolo é a pedra. Shaun
que é sempre o mesmo, edificado sobre a imobilidade da pedra, contra o movi­
mento revigorante das águas e da história. Ele ataca com a imposição do batis­
mo (Tauftauj). A ordem de batizar, repetida, vem em alemão em lembrança ao
tutor espiritual de Saint Patrick, Saint Germanicus. Em bellowsed ouvem-se a voz
dos sinos (bel/), a voz da guerra (bellum), a voz antagônica das águas do Liffey
(Piurabelle), voz de fogo, voz que vem debaixo, da terra (bellow). Contra a voz do
conquistador - Henrique 11, Shaun Qohn chama-se o governador da Irlanda
conquistada) - levanta-se a voz da resistência à conquista, voz de Shem. Mishe,
mishe (eu sou, eu sou, na língua nativa), inverte Shem me ou sintetiza I'm Shem.
"Eu sou" confirma a fidelidade à origem pagã, a ordem de batizar determina a
propagação do cristianismo. O mishe mishe: a concentração pagã em si mesma,
contra o batismo que obriga sair de um corpo para entrar em outro corpo. A
contradição anuncia o antagonismo dos filhos: Shem, ligado à mãe, ao ato gera­
dor, à resistência satânica e Shaun, o homem da ação, da repressão, da domina­
ção, da ordem.
Somos devolvidos ao Antigo Testamento, à luta entre Esaú e Jacó, filhos de
!saque, pela primogenitura. Este, querendo abençoar o filho mais velho, cai na
trapaça do filho mais moço, Jacó, que reveste o braço com o pêlo do animal
sacrificado para assemelhar-se ao irmão peludo e receber a bênção. Em kidscad,
aparece pela primeira vez o nome Cad (Camarada), personagem que difamou
Earwicker, causando-lhe graves prejuízos morais.
Finnegans Wake lembra também a história do ironista Dean Jonathan Swift,
que manteve relação ambígua com duas mulheres, Esther Johnson (Stella) e
Ester Vanhomrigh (Vanessa). Os dois amores o dilaceraram, viraram-no do aves­
so. Joyce o expressa na partição e reconstituição do nome (nathantfjoe). Os confli­
tos de Swift evocam dramas bíblicos. Sesthers alude a Susannah, Esther e Ruth,
mulheres jovens que em três narrativas bíblicas envolvem-se, à maneira Esther
Johnson, com homens velhos. Há quem veja em in vanes[J, além de Vanessa,
Inverness, o castelo de Macbeth, seduzido pela astúcia das Três Fantásticas Irmãs,
Three Weird Sisters, declaradas insolentes (Sosie altera saury, insolente).
A narrativa retorna à época imediatamente posterior à descida da arca no
Ararat, quando a humanidade recomeça com os filhos de Noé: Ham, Shem e
]apheth. Plantar uma vinha e produzir vinho foi, relata o Gênesis, uma das primei-
96 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake

ras providências de Noé. Ham o surpreende embriagado e despido. Há sempre


um gérmen de rebeldia parricida na ação dos filhos. Amaldiçoado Ham, que
não se comportou corretamente, o favor de Noé' beneficia os outros dois que
correspondem a Shem Ohem: Shem + Jerry] e Shaun. O vinho é superado pela
cerveja na tradição germano-céltica. A história irlandesa enreda-se agora no
relato bíblico. Rory (rorid- deuy: orvalhado) evoca Rory O'Connor, rei da Irlan­
da quando Henrique II a conquistou. Esta fisionomia foi o início de uma nova
era como foi o rainbow na época de Noé. O arco-íris (regginbrow: Regenbogen em
alemão + brow, sobrancelha, fisionomia) sinal da promessa de Deus e da espe­
rança dos homens, anuncia a renovação. O anel multicolorido que se dobrará
sobre o planeta aquoso celebrará a união dos irmãos em guerra. As sete frases
que compõe o parágrafo correspondem às sete cores do anel luminoso.
Delineados estão sete temas nucleares do livro: conquista, exílio, individua­
lismo, luta pelo poder, mulher como agente, conspiração, reconciliação.

3. A GRANDE QU EDA DE U M VELH ONÁRI O [3.1 5-24]

A queda (The fali) abre o terceiro parágrafo. Ribomba o primeiro trovão, a


primeira linguagem, nascida da própria natureza, modelo das primeiras palavras
que se articularam. Por ser originária, encontram-se na voz do trovão embriões
de todas as línguas. A divisão silábica sugerida não é mais que tentativa de loca­
lizar núcleos geradores:

ba-ba-ba-dal-gharagh-takam-minar-ronn-konn-bronn-tonner­
ronn-tuonn-thunn-trovarr-houn-awn-skawn-toohoohoor-denen-thur­
nuk!).

A primeira palavra do trovão abre com a sílaba ba, alma na mitologia egípcia,
representada por uma ave de cabeça humana. Ela sai do moribundo e retoma.
Ba é também uma das primeiras sílabas articuladas pela criança. Do a passa-se
ao colorido das consoantes nas palavras seguintes, muitas delas soam como
puro exercício do aparelho fonador, sons que exprimem o desejo de expressão,
obscuros, fonte da fala, do romance. A fala, marco de novo ciclo vital, assom­
bra. A queda, interiorizando o conflito, erotiza-se ao assinalar o início da sexua­
lidade consciente. Entre palavras que significam trovão em várias línguas, ouve-
Notas de Leitura DONALDO SCHÜLER 97

se trovarr, nome derivado de "trovão" em português. Que trovão seja substanti­


vo onomatopaico, não se contesta. Na primeira palavra não se fazem divisões,
não se introduzem sinais de pontuação. A linguagem de Finnegans Wake ora se
aproxima, ora se distancia dessa palavra primeira. A mistura das línguas, a au­
sência de controle racional lembram as origens, domínio do sonho, seja no
sono, seja na vigília. O trovão gagueja. O Criador é tartamudo. O ato de criar, a
passagem da unidade à pluralidade, constitui falta. O particular está aquém da
totalidade. Ao gaguejar, o Criador toma consciência da falta. Ele se reconhece
em falta.
O polissílabo escreve-se de muitas maneiras, mas apresenta invariavelmente
cem letras, excetuando o décimo trovão com cento e uma letras, abertura de novo
ciclo. Reproduz graficamente o raio que rasga o céu, as modulações do trovão.
Atemorizados, homens ferozes humilham-se. Se de povo a povo Júpiter é outro,
não estranha que a voz do deus vingativo fale diferentemente em circunstâncias
diversas. Aqui como alhures, Júpiter é tartamudo. Tartamudear, para a psicaná­
lise e para Joyce, assinala falta. A carência invade o poder mais alto. Admitido
que a perfeição se basta a si mesma, criador perfeito é inconcebível. A lição é de
Aristóteles. A palavra divina revela deficiências em Deus e nos homens. Ela soa
do mundo para o mundo. Para Stephen, em Ulisses, ela é um grito na rua.
Alude-se à narrativa feita ao despertar - o despertar do narrador e o desper­
tar da humanidade. Menestréis encarregam-se de espalhá-la pelo mundo. Poéti­
ca é a língua da idade dos heróis. "Cristandade" (presente em cristã menestrelidade
- christian minstrel.ry), nome que na Idade Média se reservava para o Ocidente
cristianizado, abriga agora todas as culturas. A queda repercute na história e na
ficção romanesca. O leito evoca sonhos que reelaboraram experiências remotas
e recentes. Para compreendê-las, Joyce recorre à Bíblia, à teologia cristã, a len­
das e canções produzidas no Ocidente e alhures, a inúmeros livros e culturas.
Christian minstrel.ry compreende a produção literária em sua maior abrangência.
Finnegans Wake é uma biblioteca, é síntese de tudo.
Queda é também a de Cristo, relatada pelo ministério cristão. As quedas
enquadram-se em diferentes períodos históricos. Adão, Noé, Cristo, Tristão ­
figuras axiais - surgem no vestíbulo de novas etapas ao longo da corrente histó­
rica. Comparáveis na ação, o narrador os sobrepõe.
A queda quebra a unidade, parte o silêncio (o ovo) nas mil e uma estórias do
livro, nas mil e uma culturas, nas palavras que o livro procura reunir aos milha­
res. Luta inútil, porque cada combinação leva a outras combinações. Trata-se,
98 ]AM E S J OYCE F i n n ega n s Wake

entretanto, de uma queda para o alto. Pela queda, o s homens caem da pré­
história bárbara para a história da vida legislada, urbana, política, criativa, artís­
tica. O estrondo da queda retumba no polissílabo, ressoa nele a ira da voz divina
que encerra a idade da barbárie.
Offwall evoca Abjfal, queda em alemão. Quedas: a de Adão, a do pedreiro
Tim Finnegan, a da bolsa de valores em Wall Street, a de HCE no Phoenix
Park ... A queda da bolsa de valores traz à lembrança a queda de Thomas Parr,
personagem legendária que alcançou a avançada idade de cento e cinqüenta
anos. Até o mais durável cai. Em oldparr lê-se ainda old pa, pere (pai) . Cai o
velho pai, perde a virilidade. A resposta à sedução no parque explica a luta
contra a degenerescência. A sedução vem em sonho, lugar em que desejos se
realizam. Pjijchute, palavra que carateriza a queda de Finnegan, é composta do
substantivo francês chute e de um som puramente onomatopaico, pfij. O con­
junto sugere o atrito na atmosfera dos meteoros ou de Lúcifer em queda.
Alude-se à queda de Humpty Dumpty, que ocupa todo o VII capítulo de
Looking-glass. Conta Alice que Humpty Dumpty, o homem-ovo, estava senta­
do de pernas cruzadas à maneira turca sobre um muro tão estreito que a
menina não entende como a estranha aparição conseguia equilibrar-se. Ocor­
rem-lhe os versos:

Humpry Dumpry sat on a wall


Humpry Dumpry had a greatfali
Ali the King's horses and ali the King's men
Couldn 'tput Humpry Dumpry in hisplace again.

Humpry Dumpry em cima do muro esteve


Humpry Dumpry grande queda teve
Nem os cavalos nem os homens puderam o rei auxiliar
A recolocar Humpry Dumpry no seu lugar.

Perto do final do capítulo ouve-se um grande ruído que sacode a floresta


inteira. A queda de Humpty Dumpty encontra-se graficamente dividida no tex­
to joyciano. Confundindo-se com Finn, o gigante adormecido em Dublin, humpry
forma a cabeça, dumpry, os pés. A narrativa começa na cabeça do gigante e se
dirige ao Ocidente, os pés. Veja-se no homem-ovo o símbolo de um actante de
todos os que caem: Adão, Tristão, Swift, oldparr. A história de todos os homens
Notas de L eitura DONALDO SCHÜLER 99

está delimitada pelo ovo, origem e leito de morte. Homem nenhum sustenta-o
no alto do muro, por ser insuficiente a base. O conflito contra a degenerescência
dá-se aí. A queda provoca um estilhaçamento que o romance procura dirimir.
Ou não? Unquiring (desvestigação) nega a investigação. Ou - quem sabe - o
romancista antecipa o fim? O projeto de investigação, ao falir, teve a desvestigação
como resultado. Evoca-se o mito de Osíris, cujo corpo dividido em pedaços
espalhados pela terra por Set, o assassino, é recolhido por Í sis, a irmã, empe­
nhada em restaurar-lhe a vida. Os dedos dos pés representam os ftlhos do gi­
gante, partidos e perdidos no Ocidente. Não disse Deus a Abraão que a sua
descendência seria numerosa como as estrelas do céu e a areia do mar? Filhos
são também os sonhos do gigante (os sonhos de todos os sonhadores) que o
romance pretende recolher.
A fragmentação afeta a formação das palavras, dos períodos, das idéias, das
culturas, das línguas. O recontado (retaled) não corresponde ao recortado (entailed).
Fique-se, por ora, com essa noção esquelética, que será detalhada no capítulo
onze, ao longo do episódio do capitão e do alfaiate (tailor - narrarfaiate). O
romance busca reduzir todas as línguas a uma só, conjugar todas as culturas.
Constituída a precária unidade, haverá nova queda. No Phoenix Park há um
cemitério em que foram depositados os corpos dos oranges - Orangemen, invaso­
res, que apodrecem como laranjas sobre o verde para um novo ciclo de vida.
Isso acontece desde o primeiro a amar livry (a vida, to live, Liffey, o rio, a mulher).
As duas cores, o laranja e o verde (a Irlanda ligada à natureza) entram em con­
flito. O laranja e o verde estão no contexto do rio Liffey, objeto do primeiro
amor de Dublin (Devilin: devil e Dublin - Diadublin) . Desde o Éden o diabo
está unido ao amor.

4. A PHARSA DA PHOENIX FINNDA [4.1- 4.17)

Em resposta à trovoada no terceiro parágrafo, o coaxar das rãs no quarto. A


luta de wills contra wonts, de qystrygods contrajisf?ygods lembra as guerras fratricidas
das origens e de todos os tempos: Caim e Abel, Esaú e Jacó, Shem e Shaun.
Povos irmãos (ostrogodos e visigodos) guerreavam-se no território do Império
Romano e o dilaceravam. Roma despedaçou-se na queda como Humpty Dumpty.
Os combates de antanho evocam épicas refregas de deuses (gods) e de gigantes.
Deuses em conflito continuam nas guerras religiosas contemporâneas. Refle-
100 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake

tem-se na luta dos povos irmãos, conflitos ainda mais antigos, época em que
comedores de ostras agrediam comedores de peixes. Alterando o nome de po­
vos irmãos e rivais (Ostrogoths e Viszgoths), Joyce concentra na mesma frase refre­
gas de outros lugares e de outros tempos.
Vencida a primeira frase, assistimos a uma descida aos infernos. Brekkek...
nos leva às Rãs de Aristófanes, comédia em que Dioniso, o padroeiro do teatro,
dirige-se ao hades em busca de Eurípides, recentemente falecido, para salvar
da ruína a cena ateniense. Chegado ao mundo dos que já partiram, depara com
um tribunal em que o teatro de É squilo e o de Eurípides se confrontam -
outra concretização da eterna luta entre Shem e Shaun. Depois de cuidadoso
exame do legado dos tragedistas em conflito, Dioniso persuade-se da inferiori­
dade do aplaudido Eurípides, o popular, o divulgador (Shaun) e se decide por
É squilo. Abrem-se as cortinas aos espetáculos teatrais reelaborados nos pará­
grafos seguintes.
Joyce revive conflitos de Aristófanes. Duas correntes literárias se digladiavam
no início do século XX. Uma, liderada por Gautier, partidário da arte pela arte,
defendia a tese da absoluta inutilidade da produção artística; outra, representa­
da por Wilde, Yeats e Joyce, sustentava que a arte poderia regenerar a humani­
dade. Wilde inverteu a tese de Aristóteles: não é a arte que imita a natureza; a
natureza, ao contrário, imita a arte. Invertida a polaridade, arte e vida se
reunificaram. Para Wilde, o pôr-do-sol é belo, mas para ilustrar o que disseram
poetas. Homens apaixonam-se porque poetas elogiam a paixão. A arte é subver­
siva, desafio a todas as virtudes estabelecidas. Mina as normas para refazer o
mundo. Hostil a quaisquer normas, a arte abre as portas a possibilidades infini­
tas. O limite mata, a negação do limite vivifica. Em lugar da barreira, o fluir que
regenera. Fluir é vida, renovação. A cultura, a língua, a gramática, o vocabulário
não vedam possibilidades de ser e de fazer. A arte está na transgressão, não na
obediência. No empenho de revitalizar a cultura, Joyce desce ao mundo dos
mortos para recuperar poetas tão antigos como Homero.
Estrugem guerras entre tribos de nomes exóticos. Baddelaries - nome com­
posto de Babd, deusa da guerra, de Balar, deus celta do Sol, de badelaire, sabre,
de Baudelaire, o poeta - arrasamassacram (tradução de mathmastefj composto de
math, ceifar em anglo-saxônico, aniquilar em sânscrito, cabana ou mosteiro em
hindi + mastefj dominar + mathematics, matemática), Malachus Micgranes (nome
arquitetado de malachu� variedade de espada, de Molech/Moloch, divindade pagã
bíblica [Lv 18,21; 20,2; At 7,43], de malakos, negro em grego, de mzgraine, grana-
Notas de Leitura DONALDO SCHÜLER 10 1

da e de Malachi Mulligan, personagem do Ulisses). No intuito de acompanhar o


processo criativo de Finnegans Wake, substituímos nomes oferecidos a leitores
iniciados na literatura do Norte por outros que nos são familiares: botocudos e
linguarudos - sem esquecer a constante hilaridade joyciana. Verdons congrega
Verdun, cidade romana destruída pelos bárbaros, reconquistada pelos roma­
nos, conquistada pelos franceses, capturada por germanos, retomada pelos
franceses, invadida pelos prussianos, tomada pelos alemães e Vernon, impor­
tante família irlandesa. Verduns catapultarremessam - perceba-se, unido a catapulte,
pelting, arremessar pedras - the camibalistics, nome em que se sobrepõe a
cannibalism, kami, Senhor, divindade do xintoísmo, título de nobreza em japo­
nês e cami, desonesto, perverso em celta. Verduns catapeltarremessam para liber­
tar Whqytebqyce, formado de whitebqys, organização camponesa secreta organi­
zada em meados do século XVIII na luta contra os ingleses + voice e bqys: white
bqys voice.
Os tempos flagelados pela guerra se parecem com a barbárie viconiana. Sem
limite cronológico, confrontos armados conflitam, na concepção de Joyce, to­
das as épocas. Entretanto, nem nos períodos mais violentos, destruição é tudo.
Arms apeai with larms - confluência de Liirm, alarido em alemão e de /arme, lágri­
ma em francês. Armas apelam com alarido e com lágrimas. Lágrimas de amor?
Apeai confirma a conjetura. O entrelaçamento de guerra e amor continua em
kilfykillkil� convite à carnificina e à conjunção carnal. A expressão foi construída
sobre o dinamarquês tickle-tickle, chamamento ao exercício do amor. Até a luta
entre católicos e protestantes se erotiza, sem esquecer os braços do Jacó bíblico
disfarçado em Esaú. Católicos e protestantes se combatem porque se amam. A
luta religiosa, além de destruir, desencadeia energias, desperta conceitos, obriga
a tomar decisões. Mata e gera como todos os conflitos. Mesmo que se tenha a
prostituta por mulher caída, não se pode deixar de ver nos atos dela o movi­
mento da renovação.
Os germens da regeneração já dormem em Adão, o pai das fornicações. Nas
estrelas brilha, entretanto, a esperança, nos corpos robustos também. Findo o
dilúvio, sentença que pune os malfeitores antes que relâmpagos e trovões inti­
midem, dobra-se no céu o arco-íris, sinal de aliança e ordem. O tronco dos
velhos carvalhos fertiliza a terra. Olmos renascem das cinzas.
Fálica é a descida (phal [lus]) aqui e em todas as quedas já referidas (HCE,
Tristão, Swift, Finnegan), desenvolvidas e ampliadas ao longo do romance. A
queda fálica está subordinada à vontade. O homem não cai inocentemente. No
102 JAM E S J OYCE Finnegans Wake

falo intumesce a vontade de criar contra as forças destrutivas como se vê nos


combates que abrem o parágrafo, guerra de wills contra wonts. Falicamente cai
quem quer, e só quem quer. O falo está subordinado ao desejo. Erguer-se é
imperioso a quem cai. Phal(lus) e Phoenish (Phoenix + finish) coincidem. Não es­
tranhe a presença de !solda (Iseut), o princípio feminino, a semeadora. A guerra
penisoldada (penisolate war), embora tardia, se universaliza, tardia porque a divisão
em sexos é recente na cadeia filogenética. As fases anteriores não se rendem
como vencidas. Para que a vida se regenere, importa retornar. Nos seus movi­
mentos de subir e descer, de entrar e sair, fênix é ave erótica
Erótica é a morte, sepultura e berço. Erótica é a penetração no mundo dos
mortos, o ventre universal, o silêncio primeiro, origem de todos os discursos. O
falo desperta a vida até quando falha (phalha! ). O que é o ato falho (phalho! )
senão desrespeito às regras, o dizer do interdito, o acordar de verdades veda­
das/vetadas? Quando phalhamos, phallamos e, quando phallamos, phalhamos. Na
phalha a pharsa renasce. A phalha é aphorça da pharsa. Nestas cinzas Phoenixphinda
para reviver. Phoenix Finnda.

5. MÃ O-GAGA E O IMARGINÁBIL [4. 1 8 - 5.4]

A queda mencionada no fim não é a única. Sem queda não há história. O


construtor que atua no início do episódio ingressa no rol de inúmeras quedas
anteriores. O Bygmester é um dos incontáveis Finnegans que revêm. Os perío­
dos rodam em círculo. O tempo se refaz.
No Bygmester concentram-se todos os que criam: arquitetos, escritores, pen­
sadores. Reflete-se, no episódio, sobre a criação artística que, desde Platão, acon­
tece num estado que lembra a embriaguez. Dioniso, deus do vinho e padroeiro
do teatro, ponte entre a vida e a morte, preside todas as artes que florescem
antes das leis que as regem, simbolizadas pelo Pentateuco (Gênesis, Êxodo,
Levítico, Números e Deuteronômio). O ato criador não derruba a lei, confir­
ma-a ao transgredi-la. Finnegan e o Pentateuco se hostilizam e se unem como
Shem, o homem da pena e Shaun, o homem da lei.
O grande mestre de obras Finnegan (Bygmester Finnegan) usufruía da liberda­
de dos tempos anteriores ou contrários à lei, residia na imaginação, a Broadway
do caminho mais largo imarginável. A bebida, antiga fonte de vida, acende-lhe a
capacidade de produzir. Vê no Estige, o rio que corre no mundo dos mortos,
Notas de Leitura DONALDO SCHÜLER 10 3

imagens do que há de vir. Excessivo na bebida, no sexo, na ambição e no traba­


lho, lembra os heróis germânicos das sagas do Norte, homens não atormenta­
dos por escrúpulo algum.
Finnegan é o modelo do homem produtivo e imaginativo de todos os tem­
pos. Revém em quem produz. Não se individualiza por exceder todas as indivi­
dualidades. Só ele produz. O primeiro casal numa de suas muitas versões,
Finnegan e Anna, geram os irmãos que, ao longo da história, ora se digladiam,
ora se unem para arrebatar o poder ao pai. De forças que vêm dele, cada um
constrói versão peculiar.
À maneira do que ocorre ao Adão bíblico, o desejo de saber provoca-lhe a
queda. Finnegan cai antes de conhecer o futuro, domínio reservado ao saber
divino. A queda mostra-lhe o lugar que lhe está reservado na economia univer­
sal. Cai em seco. As águas acharam o êxodo que lhe foi negado. Pode-se fugir de
uma situação adversa (a terra da escravidão, por exemplo), mas não se pode
deixar a condição humana. Cai no excesso. A carência, os limites estabelecidos
pela queda acendem-lhe a sede que o deixa em embriaguez sem termo. Somos
ébrios porque consumimos mais do que o suportável.
Por não estar no topo, Finnegan erige prédios, muros, torres. A sarça que
Moisés viu arder no lugar em que apascentava o rebanho, brilha acima da torre
mais alta. O mishe mishe (eu sou, eu sou) do sacerdote druida está reservado a
Deus. O homem nunca é quem é, é quem não é: é a carência, o vazio. O fazer
dos homens transcorre de niente a nada (from next [contaminado de nichts, nada
em alemão] to nothin�. Finnegan não é só gago da voz, ele é todo gaguejante, até
a mão gagueja (Stuttering Hand). Com iniciais maiúsculas, Mão Gaguejante é um
dos muitos nomes de Finnegan. A ação do homem fundamenta-se na fala. Sem
projeto não há obra. Como falhas graves contaminam todos os projetos, a que­
da é inevitável.
A torre de Babel, como todas as empresas, é fonte de nova decepção, nova
queda. Os coágulos que descem aos baldes vêm do sangue derramado pelos
construtores.
A lei socorre os que se ferem em guerras sucessivas. Cuidados cercam a
criança para evitar quedas e sofrimentos. O homem, desejoso da condição
adulta, vive em conflito com a lei. Os gêmeos, cujo nascimento se anuncia
(liquor wheretwin 'twas born -geminasceu), representam a liberdade sem limites
(Shem) e a lei (Shaun) . Embora se completem, os irmãos vivem em luta sem
tréguas.
104 JAM E S J OYCE Finnegans Wake

A alusão do episódio à peça de Ibsen, Solness} o construtor (Bygmester Solness em


norueguês) não se restringe ao nome, impregna o romance. Quem são os la­
drões que escalam a torre? De quem é o sangue que desce aos baldes? Estes são
dois dos mistérios que a peça de Ibsen poderá ajudar a esclarecer. Solness lem­
bra Earwicker em muitos aspectos. De meia-idade, casado com uma mulher a
quem já não ama, atraem-no jovens, Kaia Fosli, secretária, e Hilda Wanger, a
quem há dez anos fizera promessas que lhe despertaram sonhos com uma vida
principesca quando ela era ainda muito jovem. Preocupado só consigo mesmo,
Solness aniquila um concorrente, Knut Brovik e impede o progresso de seu
talentoso ftlho, ambos empregados seus. Sente-se ameaçado por jovens ambicio­
sos como Ragnar. Teme o dia em que terá de ceder-lhes o lugar. "Paguei minha
vitória com meu sangue!..." Único construtor, enche a cidade de edifícios e de
torres. Um incêndio, que devorou uma casa velha sua, permitiu-lhe lotear o
terreno em que estava construída, origem de sua ascensão fulgurante. O mes­
mo episódio o infelicitou. Tendo que enfrentar o frio na noite do incêndio, a
esposa adoeceu. Mesmo assim, insistiu em amamentar seus dois gêmeos, levan­
do-os à morte. Solness entendeu que o Senhor para cuja glória construía igrejas
lhe levara os filhos a fim de que o construtor se interessasse só por ele. Fez,
então, o impossível (sofria de acrofobia), subiu a uma das torres, na ocasião em
que Hilda o viu, para dizer ao Todo-poderoso, que desejava ser senhor nos seus
domínios da mesma maneira que aquele era no seu. Desde então Solness deixa
de construir igrejas e passa a construir casas. Sente-se decepcionado, entretan­
to, porque os homens não valorizavam o lar. O que resta? Construir castelos no
ar. Para satisfazer o desejo de Hilda, que o deseja ver no alto, resolve subir na
torre de sua casa recentemente concluída para dizer ao Todo-poderoso que de
agora em diante construirá sonhos com Hilda. Faz o que tinha prometido. Che­
gando ao alto, tomba e morre.
Entende-se agora o final do episódio de Finnegans Wake. Os latroperários são
concorrentes. E o sangue que tomba em baldes da torre é o do herói. Construir
castelos no ar é o derradeiro projeto de Solness. A arquitetura de Finnegan não foi
diferente. Não disse o narrador que os edifícios imaginários (os imagjftcios) do mítico
construtor iam de nada a nada? Mencionam-se outros dois, Swift e Sterne, que
substituímos na tradução por escritores de língua portuguesa do mesmo quilate,
Machado e Eça. Aberto o jogo dos reflexos, Finnegan envolve Solness numa
universalidade que vai até aos passos inaugurais do homem, a torre de Babel está
embutida em baubletop. Solness, o construtor parece um capítulo de Finnegans Wake.
Notas de L eitura DONALDO SCHÜLE R 105

O corpo de Finnegan é tartamudo em razão de sua consciência culpada.


Culpa: desejar igualar-se ao Todo-poderoso, esmagar todos, ser o único cons­
trutor. O desejo de onipotência causa-lhe o sentimento de culpa e a morte.

6. AQUOSO PINGUÇO SERRAGIGANTE [5.5 - 5.12]

O estilo lembra a passagem pelo Museu que vem em seguida.


Quem é o narrador? Voz irônica, crítica. Reconstitui o passado com os obje­
tos. Voz de um pregador? Paródia de um pregador! Finnegans Wake, à maneira
do Ulisses, parodia a missa. A queda é originariamente bíblica. O episódio do
Parque remonta ao do Éden. Variantes de Amém atravessam o romance do prin­
cípio ao fim.
De Finnegan recuamos a Finn MacCool. Nas veias do plebeu e do nobre
corre o mesmo sangue selvagem. A queda da introdução começa a se detalhar.
Ainda é muito vaga, evocada pelo brasão de Finnegan, chamado agora pelo seu
nome de guerreiro, Aquoso Pinguço Serragigante. O nome lembra suas pro­
porções descomunais e o hábito de beber muito. A montanha e o rio centrali­
zam a ação do romance.
Seu brasão divide-se em dois campos: o verde, cor da Irlanda, cor da terra
atacada e o argênteo, cor do conquistador. O campo verde é ocupado pelas
moças do Parque, no campo argênteo vê-se o bode, uma das máscaras do
agressor, que salienta o seu caráter dionisíaco, teatral, tragicômico. Hórrido lem­
bra a reação das moças, cornudo sublinha o caráter fálico do ataque.
No brasão de Finnegan vêem-se soldados. Os mesmos que defenderam as
moças no Parque? O sol (hélio) simboliza o conquistador. O crepúsculo é a
hora dos decadentes. O outono é sua estação. A decadência, o crepúsculo irlan­
dês, contra o sol dos dominadores. A decadência anuncia a regeneração.
A aventura sentimental no Parque é introduzida por uma cena guerreira e
venatória. O homem que ama é aventureiro, guerreiro e caçador. E é bode.
Mesmo que civilizado, guarda velhas tendências que o animaram um dia. Ten­
dências que se justificam por serem produzidas pela própria natureza.
Observe-se o paralelismo Finn, o senhor será Mister Reftnnado! / Mister Funnéreo,
o senhor será qfunndado! A transformação se processa lingüisticamente. O fluir se
dá no corpo da linguagem. Evoca-se o exemplo do vinho que se faz vinagre e a
alternância manhã/tarde. A natureza e o homem convergem no comportamen-
106 JAM E S J OYCE F i n n e g a n s Wake

to. A vida é uma comédia. Mudam o s atores e o espetáculo, o s actantes perma­


necem.
Terminada a caracterização, vamos à ação. Pergunta-se pelo agente. O que,
enfim, provocou a queda? Da comédia, passamos à tragédia.

7. TRAGOÉD IA NA QUINTA-FARRA [5. 1 3-6. 1 2]

O conflito que foi descrito em tom de comédia no parágrafo anterior faz-se


tragédia agora. Tragoatjy salienta a origem da tragédia, o canto (ode - atjy) do bode
(tragos). Um séquito de sacerdotes mascarados de bode acompanhava as procis­
sões de Dioniso.
A tragédia faz 9o incidente particular um acontecimento público. A relação
pessoal do homem com Deus é assunto da Bíblia. A tragédia, entretanto, vincu­
la o conflito ao estado, à pólis, ao município. Pública é a causa da tragédia.
Além do vínculo com a sociedade, a tragédia é criada pela interdição. O
que era natural no parágrafo anterior é interdito agora. As relações humanas
são comandadas pelo excesso. Se houve excesso na atitude de Earwicker
(Lacrainha) - não é pela exibição que se atrai o outro -, há também excesso
na reação das moças, fazendo intervir a polícia. Excessiva é a suposição de
incesto, neste e em outros lugares. Já em Oscar Wilde o comportamento hu­
mano tinha sido conduzido pelo excesso. Em lugar da regra, as exceções. Joyce
insiste nelas.
Na verdade não assistimos a uma tragédia. Acompanhamos a tentativa da
reconstituição verbal de uma tragédia. Somos arrastados pela cadeia discursiva.
Nenhum fato é trágico em si. A tragédia surge quando o fato é tragicamente
interpretado. Falar sobre uma tragédia é fazer incidir discursos sobre discur­
sos. A situação se agrava quando não temos o texto da tragédia em mãos. Na
verdade, tragédia não há, há notícias de um fato que poderia ser tragicamente
compreendido.
A dificuldade de concluir a tragédia em gestação são as versões contraditó­
rias que tratam do mesmo assunto, mil e uma estórias do mesmo. As mil e uma
estórias das Mil e Uma Noites levam o relato ao fluido, ao inconcluso, ao Finnegans
Wake. O que não pode ser tragédia, tornou-se romance. O romance se define
como uma tragédia frustrada. Confirma-se a teoria aristotélica. A tragédia na
sua concisão é a obra que mais se aproxima da perfeição. A epopéia, dividida
Notas de L eitura DONALDO SCHÜLER 10 7

em muitos episódios, fica aquém. O romance, immarginable} distancia-se ainda


mais. Estamos em pleno domínio da queda.
O narrador evoca esboçadamente algumas das versões. Há milhares de deta­
lhamentos e recuos, estamos apenas no início do romance.
O flato (arcifatas) que sacode ainda a casa das cubas, o Museu, lembra o big­
bang} a explosão que teria dado origem às estrelas e cujas vibrações ainda soam
no universo. Manifestação espontânea do corpo, o flato está na categoria do
trovão. É uma linguagem. Há uma gramática que o proíbe, a etiqueta. Esta o
reduz a gralha de escrita, a erro. Erro fecundo! Na voz dele exprime-se a vida.
Mas há também a versão das moças que teriam sido agredidas no Parque e
que envergonha o protagonista. O narrador a declara desqualificada, feia,
unkalifted (kali- belo). O designativo das moças, muzi.Jenimiissilehims} é uma pala­
vra complexa em que muitos significados se sobrepõem. A base, muslim} o ver­
dadeiro crente, traduz o puritanismo, a reação excessiva das moças à aproxima­
ção excessiva de Earwicker. Acrescenta-se muzze4 a parte da cabeça que se pro­
jeta, o focinho do cavalo, a indevida exposição de Earwicker. São elas que lan­
çam um projétil (missile) contra ele (him)} reação de inimigo (enemy). Amplia-se o
leque dos conflitos. As incriminações que formam o contexto imediato do
polissílabo citado são dirigidas contra Earwicker e seriam capazes de enegrecer
a pedra mais alva caída do céu, nas palavras do narrador, aqui, defensor do
acusado. A sonoridade árabe do polissílabo abre a gama das associações. Em
Miiss (mis� com i dobrado), os dois ii representam visualmente as duas senhori­
tas que inadvertidamente resolveram aliviar a bexiga em lugar impróprio. Essa
idéia é reforçada pela primeira sílaba do polissílabo muzz (moza - em espanhol ­
pessoa jovem e solteira, moça; os zz aparecem dobrados pelo mesmo motivo
que levou a dobrar os it) . O polissílabo contém ainda lehim (Elohim - Deus em
hebraico) que permite incorporar os judeus no conflito.
Qual é o agente da queda? É o isolamento já mencionado na vida conturba­
da de Tristão? É a pressa com que Adão se apodera da maçã de Eva, aproxima­
ção sem cautela, sem os avanços e recuos usuais no jogo da sedução? Ou é o
mundo caótico da cidade contemporânea? Qual é a origem dos conflitos huma­
nos? A resposta da tragédia é simples, é uma só. Em lugar da unidade de ação,
teorizada por Aristóteles, o romance nos leva a múltiplos caminhos, à angústia
(Graciliano).
Os primeiros homens falavam por gestos e criam que raios e trovões fossem
acenos. Assim pensava Vico. Se já não lemos mensagens nas descargas elétricas
108 ]AM E S J OYCE Finnegans Wake

que inflamam o céu, restam os sinais trocados entre o s que se aproximam.


Embora passageiro, o sinal do proxtante é real. Quem é o proxtante? A técnica de
sobreposições joyciana elide tempo e espaço. Até dentro de uma mesma palavra
atravessamos continentes e séculos. Suspeitamos que tudo é aqui e agora. Uns
mergulham no passado, outros sonham com o futuro, há os que elegeram a
fugacidade do momento que passa. O tempo se esfacela. Acenos vencem fron­
teiras, fraturas. Entidades metafísicas estarão, por conceito, sempre distantes.
Acenos buscam os que estão ao alcance dos olhos.
Joyce não fala de palavra articulada, fala de aceno (nod). Acenos alertam os
homens antes de proferirem palavras na teoria viconiana. A escrita chinesa e a
egípcia dariam disso testemunho. Quando as palavras começam a transmitir
idéias, os gestos diminuem. A atenção volta-se então para o que as palavras
significam. Empalidece o que elas são. Joyce empenha-se em restaurar gestos.
Palavras lhe são corpos, indivíduos. Nossos próximos são palavras. Vico não
isenta a teologia. Para ele, a teologia não tem Deus como objeto. Na fala dos
deuses detém-se a teologia.
Discursos nos levam à embriaguez, estímulo da imaginação e causa da que­
da. No fluir das transformações, Finnegan revém como salmão, um peixe mís­
tico. Cristo? O gigante adormecido é vitalizado pelo rio que o atravessa. ALP
faz da vigília um repasto doméstico, a celebração da comunhão.

8. OLINDA [6. 1 3-6.28)

A que assistimos? Funeral ou festa? Funeral e festa. Vida e morte se confun­


dem. Contrários não se excluem.
Festa e funeral atravessam as idades. O que foi no princípio é agora e sem­
pre. Doze cidadãos, lembrando os doze discípulos de Cristo, pranteiam a morte
do herói. Cristificado, Finnegan atrai a atenção universal. A morte do herói
repercute em todos os tempos e em todos os lugares. Cineastas comparecem ao
lado dos primeiros a prantear mortos. Delegados e cineastas aproximam-se do
morto com interesse profissional. Não só. O apelo da morte é vital. A imagem
cinematográfica provoca a convergência de lugares e épocas distantes. Na ima­
gem cinematográfica, realidade se faz sonho. A cerimônia fúnebre reúne todos
os contrários, todos os tempos. O cinema é o lugar das transformações. Não há
cultura, não há tempo nem espaço que fuja ao cinema. O Apocalipse (20, 7 -8) diz
Notas de L eitura DONALDO SCHÜLER 109

que nos últimos tempos, dois povos, Gogue e Magogue, que representam a
totalidade dos infiéis, comparecerão unidos contra o povo de Deus. Finnegans
Wake antevê o congraçamento de todos em torno do grogue.
Priam Olim empastela Príamo, o velho rei de Tróia encantado com a beleza
de Helena, Príapo, deus da ereção peniana e o advérbio olim (outrora). A rigidez
cadavérica lembra a intumescência fática. No velho e no morto a vida se refaz.
Tradutor tem coração. Olim evoca Olinda (O'lin da!). O que fazer? Olinda en­
trou no Finnegans Wake. Na tradução!
Na bebida que anima a festa flui o fluxo universal. Líquido é vida, jorre da
fonte, do corpo ou da garrafa. Guinness, a cerveja irlandesa, e Gênesis, o pri­
meiro dos livros de Moisés, se fundem. Reclames televisivos nos sugeriram
loirespumante, erotização da cerveja. Gênesis chama ao último livro da Bíblia, o
Apocalipse (a bockalips), traduzido com Abocálipce (Apocalipse + boca + lips +
cálice). Do Gênesis ao Apocalipse vai-se do princípio ao fim, da vida à morte e
vice-versa.
O salmão e outras variedades de peixe evocam o herói que morre e renasce.
O peixe foi eleito pelas primeiras comunidades cristãs como símbolo de Cristo.
O episódio termina em eucaristia.
No fluir final soa o bucólico som da flauta ao alvorecer.

9. UMA FATUOGRAFIA [6.29-7.19)

O velho mundo roda tautologicamente ao ritmo das renovações. Em owl


somam-se owl (coruja), old (velho), whole (inteiro), tao (caminho) e tau (a última
letra do alfabeto hebraico). O velho globo gira inteiro. Tendo chegado ao fim,
ao tau, o movimento, que aliás nunca termina, recomeça tautaulogicamente, na
lógica do tau, o fim que envia a outro fim ou o século que desemboca em outro
século ("pelos séculos dos séculos") ou do tao, fundamento do sim e do não, do
yin (concentração) e doyang (expansão), do céu e da terra. O gigante, identifica­
do com a paisagem, reclinado de costas levanta os braços para o céu, em busca
da totalidade, posição visualizada na imagem do l:il deitado de braços erguidos.
Materializado no Globo, ele é o fundamento da vida. A imagem que dele se vê
em Dublin repete-se por rostos, sons e credos de toda sorte. Inclua-se Osíris, a
divindade egípcia cujos membros espalhados, vítima de fratricídio, foram reco­
lhidos por Í sis para lhe restaurar a vida.
llO JAM E S J OYCE F i n n e g a n s Wake

Recolhidos na fatuogrcifia (fadograph), registro inconsistente, imagens do que


já foi dispõem-se ao poder da imaginação. Esteja a fotografia ligada à morte,
visto que imobiliza, sendo constituída da materialidade precária das coisas
que passam (fade), participa da vida. No tempo dos Agapemônidas (os filhos
dos ágapes, as refeições comuns das primeiras comunidades cristãs), HCE
comparecia como iguaria para a coesão do todo. lmprensado entre as capas
do livro, lembra a lata de sardinha que viaja ao acaso para ser consumida não
se sabe onde. O ágape mudou de natureza sem perder nada de sua força
agregadora. É fatuografia porque flui, mas, como tal, alicerça o que ainda não
é. Ainda que Finniche, Finn será sempre Finnegan. Ele sustenta e alicerça o
mundo da ficção que se desdobra em geografia, imagens do passado, ciclos
vitais, desenvolvimento urbano, manuscritos, lendas, linguagem. O gigante é
a força que anima o universo.

1 0. 0 EDIL COM SUA LIBERTA [7.20 - 8.8]

Nada se perde. É o que ensinava Giordano Bruno (Bronto) depois dos estói­
cos e antes de Vico (Brunto). A substância infinita, ao deslizar pelo espaço infi­
nito, assume formas infinitas. O universo de Giordano é ictiano, move-se vivo e
ágil como os peixes.
O sonho da experiência diurna desemboca no sonho da narrativa. Aí repou­
sa HCE junto a ALP, escondidos nas iniciais das duas frases latinas. Hic cubat
edilis. Apud libertinamparvulam - Aqui repousa o edil. Junto à pequena liberta. A
língua latina, morta nas relações de todos os dias, vive como experiência literá­
ria. As elevações e o rio Liffey, que compõem a paisagem dublinense, atestam a
presença do mítico casal adormecido. lnteriorizados, constituem a substância
das visões oníricas que se formam e diluem-se ao longo do romance.
HCE, que vem em Bruno, em Vico e em inúmeras outras aparições,
dinossauro morto e sempre vivo, origina-se da voz do trovão (bronto), queda e
emergência de vida na origem de todo acontecer. Como entendê-lo longe do
agir universal, o princípio feminino que flui em todos os eventos? Sejam os
nomes Liffey, !solda, Anna, chuva, chuvinha ... , a vigorosa força gerativa é uma
só com infindos nomes. Em todas as palavras sonhadas ou proferidas ressoam
as origens. Do que foi ao que será através do que é, via nenhuma é interrompi­
da. Quem corre percorre, morre e vive.
Notas de L eitura DONALDO SCHÜLER lll

HCE é todos os corpos e é corpo nenhum. Corpo de cão (dog) - referimo­


nos ao primeiro capítulo de Ulisses - ou corpo de Deus (god) alternam-se ao
sabor da direção da leitura. O movimento vindo da esquerda ou da direita afeta
culturas; não, a essência. O vôo da direita ou da esquerda, bom ou mau agouro,
converge nas mesmas aves. Em todo dogsbocfy o godsbocfy esplende.
As associações levam ao gigantesco monumento de Wellington, herói em
campanhas militares na Índia antes de aniquilar Napoleão, e ao Wellington
Museum, no Phoenix Park em Dublin. Em Wellington dorme e treme a histó­
ria. No museu a ele consagrado o passado se faz sonho.
A guarda do museu foi confiada a Kate, a legendária viúva do mítico Finn.
Com ela ainda privaremos em outras circunstâncias. Quem tem as chaves é ela.
Quem estabelece as normas para entrar, conhecer e sair, é ela. Ela conhece,
além dos segredos do museu, outros. Kate ocupa o lugar da Memória, mãe das
musas.

1 1 . QUEDA E GUERRA FRATRICIDA [8.9 - 10.23)

A presença de Finnegan, que some da experiência cotidiana e desperta na


arte literária, é estudada em vários momentos, em diferentes tempos e lugares,
também na guerra napoleônica. A visão feminina da narradora ironiza o
gigantismo dos feitos heróicos, avilta eminências nas várias camadas sobrepos­
tas à ação central. O rio que irriga o solo vitaliza a arte literária. Não estranhe o
fato de Kate conduzir os visitantes pelos caminhos do musauléu (museyroom), sala
das musas. Ao transfigurar fatos históricos, ela faz poesia. As leis do sonho e da
arte confluem.
Do geral ao particular, acompanhamos os insultos trocados entre Napoleão
e o seu adversário, o Duque Arthur Wellington, num dos capítulos da guerra
fratricida que, depois da queda adâmica, lançou também Caim contra Abel. As
ginnetes (jinnies:jenny - fêmea de certos animais) aludem à estratégia napoleônica
que derrubou impérios e minou nobrezas, alimento farto para o imaginário da
geração romântica em prosa e verso, aqui e alhures. As ginnetes defendem
Napoleão, são o seu exército. The jinnies isjillous agincourting ali the lipoleums. A
base dejillous é o adjetivo francês, no feminino}a/ouse (orgulhar-se de). Agincourting
traz à lembrança a desastrosa batalha de Agincourt, ferida a 25 de outubro de
1 4 1 5, na guerra em que se confrontaram Inglaterra e França. O rei inglês
112 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake

Henrique V com 1 O mil homens derrotou o Delfim da França com 50 mil.


Nessa Waterloo de outros tempos, 1 0 mil franceses perderam a vida, todos os
lipoleões (lipoleums: lip) lábio + linoleum) linóleo + Napoleon) . Mesmo derrotado,
Napoleão é cortejado pelas ginnetes. A queda é resultado da sedução. Outra
batalha desfavorável aos franceses foi a de Crécy. Joyce refere-se a ela: And the
lipoleums is gonn bf!)cottoncrery onto the one Willindone - E o lipoleões se meteu a
boicottoncrecir. O verbo bqycottoncrezy forma-se de bqycott +. Créry. Eduardo III da
Inglaterra venceu Felipe VI da França na batalha de Crécy em 1 346. Os france­
ses perderam 1 600 barões, 4 000 pajens e 20000 soldados. Boycott, um capitão
irlandês, foi banido durante as agitações de 1 880.
Como a relação amorosa é uma das camadas dos conflitos joycianos, o roman­
cista erotiza o despacho das ginnetes ao agressor: Dispatch in thin red /ines cross the
shorifront rf me Belchum. Shorifron4 além de referir-se à frente curta da Bélgica, aco­
lhe ainda a frente da camisa do homem que se aproxima das ginnetes. Para manter
as conotações eróticas, propomos o jogo com short calça curta, termo já
-

dicionarizado. As informações devem ser distribuídas nas diversas camadas que


estruturam o texto. Na guerra, desbastada da matança, defrontam-se o homem e
a mulher, em que o gesto agressivo do homem encontra resposta na entrega da
mulher, entrega sedutora que leva o homem à rendição. A aproximação erótica
sobrevive mesmo no combate mais violento. Sem ela, a vida não se regeneraria.
Amparado pelo gênio, ou pelas ginnetes, Napoleão, vencido, converte-se em
lipoleum, representando assim a feminilidade ferida, calcada aos pés. Na prosa de
Joyce, o alto e o baixo, o nobre e o ignóbil, a vida e a morte, o masculino e o
feminino, a luta fratricida e a agressão masculina confluem. O toque peculiar
repercute na totalidade.
A palavra jinnies) de origem árabe, co nota a guerra religiosa em que se
confrontaram cristãos e muçulmanos. Incorporem-se as guerras religiosas
em que protestantes e católicos ensangüentaram solo irlandês. As jinnies
ampliam a visão das muzifenimiissilehims à página 5. Elas reagem à agressão.
Urinam em obediência a determinação fisiológica e agridem, irrigando o agressor,
ao menos nesta elaboração. Não se procure a verdade dos fatos na pletora das
turbilhonantes reelaborações joycianas. Fontannqy (font + annqy) recriado em
fontestarrecer- fonte + estarrecer) refere-se ainda à micção na praça. Tanto shee)
shee) shee quanto xi) xi) xi reproduzem acusticamente o ruído do jato urinário.
Junto ao canal que emite a urina, abre-se canal que dá passagem a corpos vivos,
dádiva e agressão convergem. Evoquemos o rim, no episódio "Calipso" em
Notas de Leitura DONALDO SCHÜLER 113

Ulisses, órgão que purifica o organismo e alimenta. O despacho (dispatch - dizyacho)


de Napoleão, identificado com as ginnetes, atinge o general atacante como um
jato de urina. Hastings (hastingado) sublinha a rapidez (haste) do ato, e recorda
uma ação bélica antiga. Em Hastings, na Inglaterra, Guilherme, o Conquista­
dor, rei normando, derrota, com esperteza, o rei anglo-saxão, Haroldo, em 1 4
de outubro de 1 066, pondo fim ao domínio anglo-saxão.
Urinar é também insultar. Na medida em que as ginnetes atacam o agressor,
o fluxo que sai do corpo delas incorpora-se ao fluir universal. O fluir aquoso e
a palavra têm a mesma origem. Palavra e água se confundem no papel de gerar,
criar. As ginnetes, fonte da vida, são também fonte da palavra. A palavra
reveladora não procede de origem externa ao mundo. Nascidas do próprio
mundo, vigoram difundidas por Shaun, o postalista. As palavras das ginnetes
provocam a emergência de outras palavras, as do adversário. Um discurso gera
outros discursos numa cadeia sem fim.
O jato das ginnetes atinge a honra do atacante. A base da mensagem é um
texto em alemão: Ya� ya�yaw! Lieber Arthur. Wir siegen. Wie geht's deiner kleinen
Frau? Hoch Achtung. Napoleon - Caro Artur. Vencemos. Como vai tua mulherzi­
nha? Muita Atenção. Napoleão. Nada a estranhar na eleição do idioma. Wellington
atacou Napoleão apoiado por tropas prussianas sob o comando de Blücher e
Bülow. Na reelaboração, a língua alemã, como a derrota, ressoa pervertida e
remota: Ia� ya� yaw! Leaper Orthor. Fear siecken! Fieldgaze tf?y ti'!} frow. Hugactin.
Nap. Em leaper perceba-se o termo leap, que designa a cópula entre animais.
Arthurconverte-se em Orthor (Thor chama-se o deus nórdico dos trovões). Em
Fear siecken há ressonâncias da palavra P.ftrsichen, fruta de conotações obscenas.
A mensagem das gênias insinua intensa atividade extraconjugal em Wellington
e deita suspeitas sobre a fidelidade da esposa dele. Si, si, si! Colf.Judo Arthouro.
Venqueremos! Bota o olho na tuafrufruzinha. Napo.
Como se vê, Joyce ataca os aliados, modificando o nome do comandante de
Wellington para Willingdone, composto wi/1 - vontade e done -feito. A vontade
política, bélica e erótica o leva ao feito. Para efeito semelhante em português,
propomos: Wallenton.
Entre lipoleão e Wallenton trava-se uma guerra verbal. Em hurold, Joyce combi­
na hurried (apressado) + Harold, rei saxão já referido. Salamangra! (Salamanca +
angry) lembra as campanhas de Wellington na península ibérica. O Duque de
Wellington está estreitamente ligado à península ibérica em geral e a Portugal
em particular. Depois de ter prestado serviços na Índia, aos quais Finnegans
l l4 JAM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake

Wake alude, Wellington, sob o comando do general Dalrymple, atacou Junot


em Portugal. A vitória de Vimeiro teve como resultado a retirada dos franceses
de Portugal. Como comandante em chefe das forças britânicas, Wellington re­
forçou, com a vitória de Talavera, suas posições na terra de Camões, protegido
pelas linhas fortificadas de Torres Vedras. Tomou Salamanca em 1 81 2 e expul­
sou os franceses da Espanha. Não admira que Joyce o faça escrever sua respos­
ta a Napoleão da Espanha. Escolhe, dentre todas as cidades em que Wellington
triunfou, Salamanca, por ser renomada sede do saber.
O romancista acentua o caráter erótico do agressor na resposta dada às ginnetes.
E o Wallenton endureceu seu brando (git the band up: Wellington reúne seu bando;
bander: ter ereção, em francês) Ai, ai, ai! Cheridasginnetes,figatrifutrem-se. (Figtreeyou:
fig [figa - gesto de desdém] + tree + you.) O conjunto, associado ao alemão, tem
conotação obscena. Tree (árvore) insere Shem. Ri eu, riAna. Caralhardamente (Voutre
lembra o verbo chulo francêsfoutre; propomos car sobreposto a caralho) Essafoi a
primeiraputada de Wallenton, tico a taco. Hi, h� hi!
As ginnetes enviam a Wallenton uma mensagem ofensiva em alemão para
irritá-lo. Ele responde rico a taco (ticfor fac) com um recado ofensivo em francês.
A guerra torna-se refrega verbal. A página escrita desdobra-se em campo de
batalha, museu de tudo. No texto não há passado nem futuro. Os fatos mais
distantes desfilam diante dos olhos. Não estranha que Shaun e Shem compare­
çam no conflito. Em Salamanca, Shem, o escritor, encontra-se em lugar próprio.
A oposição do general inglês ao exército napoleônico conota ainda confron­
to masculino-feminino, representado por She (Shee, shee, shee) e He (Hee, hee, hee) .
O feminino é o agredido, o masculino é o agressor. Lembrança do que ocorreu
no parque. Asjinnies congregam agora as moças agredidas e os soldados que as
defendem, o que torna feminino todo o exército de Napoleão. Na guerra que se
erotiza, o nome do agressor sofre deformações desprezíveis.
Belchum (bel+ chum - amiguinho, belo amiguinho) pode ser Shaun, o mensa­
geiro, postalista, filho predileto de HCE. A ele se opõe Shem, o escritor (tree).
Na guerra conflagra-se também a luta entre os irmãos.
Este é o emiissionário Belchum, boné à barretina, quebrando o ceucreto - (céu+ secreto;
secred: sacred (sagrado) + secret (secreto) - verbo com um pompom sobre a orelha a
Wallenton. Belchum conota ainda Belgium (Bélgica), em cujo território fica
Waterloo.
Embora Wellington seja natural de Dublin, Joyce não vê o triunfo anglo­
germânico sobre Napoleão com prazer. Que satisfação poderia trazer-lhe lem-
Notas de Leitura DONALDO SCHÜLER 1 15

brança da vitória da Inglaterra, nação opressora? Na reelaboração da guerra, o


imperador francês sai engrandecido, ainda que derrotado.

1 2. DEPOIS DA GUERRA [1 0.24- 1 1 .28]

O episódio é introduzido por uma charada. ALP apresenta-se como Kate,


sua imagem idosa, ou como Isolda, a jovem, a sedutora, incumbida de regenerar
a vida. No enigma proposto agora, Isolda destaca-se como o vigésimo-nono
dia num mês com outros vinte e oito dias, companheiras de Isolda. As sete
cores do arco-íris completam o séquito da jovem. Sem a sedução de Isolda e de
suas companheiras a revestir os entes, a ave (Kate ou Í sis) não se disporia a
recolher fragmentos.
Os ventos que sopram em torno das sepulturas são os da regeneração. A
história marcha através de ciclos, não se detém em catástrofes. A ave que junta
os fragmentos da batalha lembra Í sis a recolher os pedaços de Osíris, ou ba, a
alma que retorna para reavivar os corpos, representada por uma ave de corpo
humano. Delineando a imagem de um repasto totêmico, recorda a festa em
torno de Finn morto, o despertar transfigurado nos braços da geração erguida
sobre o sepulcro dos combatentes mortos. Os protagonistas da guerra abando­
nam a cena. As aves partiram. Com o ato de recolher os fragmentos, refaz-se o
movimento e o vigor da história. Entre os objetos recolhidos, há dinheiro de
madeira (woodpiles of hqypennies), freqüente nas páginas de Finnegans Wake. Frag­
mentos são os despojos que cobrem a cena do conflito armado. Os destroços
no fim da guerra assinalam a queda de que o movimento se refaz. Sabe-se, ao
fim do combate, que a luta fratricida provoca a queda, mas sabe-se também que
dos escombros a história se regenera, individual e coletivamente. Estamos na
alvorada de um mundo de encantos.

1 3. PRESENTES HISTÓRICOS E PASSADOS PÓS-PROFÉTICOS (1 1 .29 - 1 2. 1 7]

A ave não vem durante as fúrias de Thon, o deus da guerra. Ela conhece o
meio de regenerar a história. Sabe que no ritmo queda-reerguimento residem
sentido e vida. A pergunta de agora não é: como é que o mundo se parece após
a queda? Mas, como a história se refaz das cinzas? A ave toca no passado para
1 16 JAM E S J OYCE Fin n e ga n s Wake

despertar o futuro. O estritamente proibido, o despertar do gigante, é contorna­


do mediante a absorção da força do gigante, que revive nos herdeiros do mun­
do renovado.
A força que ergue gregos e troianos não vem deles mesmos. Como nós, eles
são herdeiros do ancestral remoto. Não repetimos os feitos deles porque vive­
mos em outra idade. O nosso presente histórico é o passado pós-profético. Mas
a energia que opera em ventos e lanças é a mesma que move as engrenagens dos
nossos engenhos.
No exercício de escrita, oswaldinamente antropofágica, a energia de antanho
se revigora. Na escrita, Finn revém renovado. Ao escrever interpretamos e
reativamos a história. Como a história, um livro se faz de fragmentos, restos de
outros textos.
Signos recolhem tesouros.

1 4. 0 REBU DA VIDA [1 2. 1 8 - 1 3.3]

Onde estamos? Fora do museu, ainda em Dublin. Vários nomes geográficos


(Cork Hill, Arbour Hill, Summerhill, Misery Hill, Constitution Hill) centram a
ação na capital do Eire. Traduzimos os nomes em tela porque sugerem mais do
que orografia. A cena assume forma de jogo. Em nomes distorcidos somos
levados às míticas origens de Santa Brígida (scentbreeched) e São Patrício
(somepotreek). Santa e santo revivem como crianças distraídas em jogos infantis.
Em brinquedos e cantigas, o que já foi se refaz.
O parágrafo começa com uma alusão ao behaviorismo, corrente que se atém
à conduta, à reação a estímulos externos. Percebe-se vida no que cronológica e
topologicamente ocorre.
Dublin, prenhe de vida, é evocada e rejeitada. A nada chegará quem continu­
ar preso a essa estreita topografia ou a escritos precisos. Vidas confinadas a
miúdos cuidados locais ou a textos precisos demandam acolhida no concerto
universal, de que se ouvem sons na escala diatônica Oá em 0/qf's, mi em Ivor's [I
= E, mi] , si em Sitric). O particular revive quando deságua no geral.
A vida, simbolizada por salmões na grelha, reverdece tanto na Irlanda quan­
to na Roma de Rômulo (robulous - romuloso) .
Notas de L eitura DONALDO SCHÜLER 117

1 5. DUBLÍNGUA [1 3.4 - 19]

Então Esta É Dublíngua? (So This Is Dyoublong?) Pergunta admirativa de quem


visita a cidade. O espanto cai sobre a cidade textualizada e sobre a linguagem,
ambas estranhas. Não vem do narrador. O texto se destacou dele. Não vem de
alguma das personagens. Elas se dissolvem. Enunciador não há. Vem de todos.
Vem do narrador diante do texto em que Dublin se textualizou. Dyoublong: cfyo,
doubling, oblong, langue. Dublin duplicada, geograficamente oblonga. O que era
familiar torna-se estranho. Sob a Dublin cotidiana, estende-se a Dublin oculta,
misteriosa, reinventada pela linguagem. Uma Dublin que emerge no sonho. A
Dublin duplicada é Ecolândia (Echoland), ela se duplica em imagem e em som.
No grito de advertência anuncia-se o patriarca, HCE - ainda estamos no tempo
de Finnegan - o que há de vir. Mas o que virá já aí está. O sonho anula distâncias.
Há um presente absoluto, o presente acontecendo, conjunção do passado e do
futuro. HCE, mais geral que os seres vivos, ultrapassa os homens para se
manisfestar até nos inanimados. A cidade, mágica e estranha, passou pela trans­
formação da arte. A cidade é monumento, quadro. HCE, o que não pode ser
nomeado, é pai de todos os seres. Impróprios são os nomes que se lhe atri­
buem, todos. Dublin se duplica na gravura fixada no muro da pensão do
Lacrainha. Dublin, o nome, evoca a gravura, não evoca o modelo. Onde estaria o
modelo? Tudo é simulacro: Ho charme estranho! (How charming(y exquisite!). Engravure
é criação joyciana. Engrave, entalhar, esculpir, tem ressonância bíblica: thou shalt
engrave the two stones with the names of the children of Israel (Ex 28,1 1) (To blur- borrar,
to bury - sepultar). Todo ato de desvendamento suscita o seu contrário. Quem
distingue borra, sepulta. As imagens evocam, esmaecem. A duplicação é univer­
sal. Proliferação de simulacros. Os autores da imprecisão, os freqüentadores da
taverna estavam ébrios? A embriaguez é ambígua. Ela borra o observado e origi­
na, desde Platão, a poesia. Poetas falam como ébrios. Linguagem de ébrio é a de
Finnegans Wake. Onde estará o original? As marcas estão em toda parte. Mas a ele
próprio ninguém viu. O nome HCE é alcunha e remissão à origem. HCE é
mais recente que Earwicker, no entanto, é mais antigo. Ouve-se um nós. Quem
o profere? Freqüentadores da taverna, gente que bebe, pessoas que não vêem as
coisas distintamente, para quem a imagem se borra. Surge outra voz, indistinta
como a anterior. Contesta-a. Contesta o quê? A declaração. Todas as declara­
ções se contestam. Todas as afirmações tornam-se interrogações. To blur é bor­
rar, tornar indistintas as imagens. O olhar embriagado borra. Borra ou desper-
118 JAM E S J OYCE Finnegans Wake

ta? Gotas de uísque despertam Finnegan. Vêem-se sombras, imagens borra­


das. Ébrios, o observado e o observador. A arte costuma tornar estranho o
familiar. Jogo de simulacros. Innkempt: kemp - coarse: grosso, grosseiro. Used thry?
A pergunta mina a afirmação anterior. O texto está fundamentado sobre um
diálogo. Mas o diálogo não conduz à verdade como em Platão. O diálogo
dissemina a dúvida. Diálogo de ébrios. Chabelshoveler - shovel: trabalhar/fazer
com a pá. Como permanecer sóbrio numa realidade ébria? Quem fala? Quem
é esse misterioso Miry MitcheP. Se é o arcanjo Miguel, não se distingue de
Lúcifer, o arcanjo caído, imundo, coberto de lama. Não há luz que seja com­
pletamente luz. O mais elevado caiu ao nível da massa, dos músicos anôni­
mos, populares, grotescos. Emite sons e ouve sons. Vive na espera dos ho­
mens nascidos do barro. Há outra voz que fala em primeira pessoa e diz I scry.
Restos há em todos os tempos e lugares. O que existe está em queda. Toda
mudança deixa rastros de ruínas. Incubus é pesadelo, é o demônio que provoca
pesadelos. Copulava na Idade Média com quem dormia, principalmente com
mulheres. Em botânica incobous são folhas sobrepostas (de incubare - deitar
sobre). O demônio lembra as misteriosas terras da América (Inca), região de
encantos e de mistério, de gigantes. Camadas de sons, de signos, de sombras
se sobrepõem, fecundam-se, desdobram-se em visões oníricas. As gravuras
nos muros trazem a marca de morte (grave). A morte traz à mente os Ptolomeus
mumificados (Ptollmens: Ptolemies - tollman - cobrador de taxas) . A taxa que se
paga à vida é a morte, ainda que se seja Ptolomeu, embalsamado para durar
sempre. Toda múmia tem em si mesma o sinal da destruição. A morte é o anjo
caído, o agente da destruição. Fimfim fimfim, sons que lembram o fim, que
lembram Finn, a queda do pedreiro, sons seguidos de fumfum fumfum, que,
depois de passarem por funferal (jun for ali - alegria para todos), anunciam a
alegria que resulta da ressurreição. 'Tis optophone which ontophanes ( 'Toé optophone
que ontophana) . Imagens visuais e auditivas se unem, optophonam, é o movimen­
to do romance, seres emergem, ontophanam. A linguagem desvenda ser nos seus
dois aspectos: som e imagem. As palavras, para se tornarem significativas, con­
vocam olhos e ouvidos. Como o gigante, os signos jazem. Umedecidos pelos
que participam da vigília, signos despertam. O processo da renovação dos sig­
nificados não tem fim. Tem Finn.
Dublin não é só geografia. Ela é também história. Desde sua origem muitos
contribuíram para fazer dela o que ela é. A cidade é impulso vital e ·criação
humana. Como tal ela é passageira, como tal ela é. A vida prosseguirá na luta
Notas de L eitura DONALDO SCHÜLER ll9

dos irmãos que unidos se repelem. A desarmonia é ingênita, vital/mortalmente


necessária.

1 6. 0 LIVRO MAIS AZUL [1 3.20 - 1 4.27]

O Livro azul do nosso Heródoto local, Matemarco Lucqjoão, combinando


sonho e história, é o próprio Finnegans Wake, o livro que está em nossas mãos.
Livro mais azul, o mais azul de todos, lembra o "Guia Azul", oferecido a turis­
tas. O nome do pai da história, Heródoto, aparece modificado, herodotário -
herodotary, doador de heróis, os milhares que povoam Finnegans Wake. Joyce
sobrepõe à historiografia os quatro evangelhos, Mateus, Marcos, Lucas e João,
reunido s em Matemarco Lucajoão. A convergência ecoa n o s quatro
freqüentadores da taverna de Lacrainha a rememorar lembranças de outros
tempos ou nas linhas concêntricas do mandala budista confiado aos cuidados
de quatro guardiães cósmicos, sem omitir os quatro entes que sustentam a
abóbada celeste. Em Finnegans Wake, mitos, textos sagrados, lendas, boatos,
conversa informal, historiografia, soteriologia, elaboração literária concorrem.
An auburn mqyde, o 'brine a 'bride, to be desarted alude à primeira linha ("Sweet
Aubburn! Lovelist village of the plain") de Deserted Vil/age, do escritor irlan­
dês Oliver Goldsmith (1 730-1 774). Avesso a grandes idéias, Goldsmith é lem­
brado como autor espirituoso, simples, tocante. A palavra, envolta em cerra­
ção ou fumaça, revela obscuramente. A noiva desnoivada no altar é a Irlanda,
abandonada pelos seus, ainda que atraente. (Talmu:{) forma a trindade. O nú­
mero quatro compreende a totalidade da terra, os seus quatro cantos, onde se
encontra tudo o que se queira (quodlibet - quodlibus) . Dessa realidade falam
Shem ( penn - escrevinhista) e Shaun ( polepost - postalista) . Correspondem-lhes
Cadcfy e Primas, corruptela de Catulus e Primus. Quando se fala em livro, não se
pode esquecer Finnegans Wake, o livro dos livros.
1 1 32 é a data de nascimento de Laurence O'Toole, com quem principia um
novo ciclo. O ciclo anterior começara com a morte de Finn em 283. Importa
ainda o valor simbólico das datas. Os números nos introduzem na cabalística.
Em 1 1 32 A.D., 1 1 simboliza o reinício de uma série, subseqüente à encerrada
com o número 1 O. 32 abriga a queda. A física mede em 32 pés por segundo a
velocidade da queda dos corpos no vácuo. Sobre isso meditava Bloom. 1 1 32
concentra o fim, o reinício e a queda.
1 20 JAM E S JOYCE F i n n e ga n s Wake

566 é a metade de 1 1 32. Alude-se ao Dilúvio e ao resgate de seres salvos das


águas. Segue sugestivo silêncio, o fim de um ciclo a proclamar outro. 566 lem­
bra ainda a criação da mulher, a preciosa metade do homem (Adão). 566 lem­
bra, na segunda aparição, Maria chorando a morte de seu filho, temporariamen­
te derrotado pelo diabo, senhor das fornalhas de fogo, Pyropeu Pio. Devem-se ao
príncipe das trevas as guerras que ensangüentam a história. Retorna o número
partido e a história se refaz.
Se somamos as quatro datas, chegamos ao número 3396, especulação centrada
na trindade, semelhante às considerações de Dante sobre Beatriz em Vita Nuova.
Beatriz é 9, múltiplo de 3. O universo criado dilata o significado do 9.
3+3+9+6=2 1 , número cabalístico da queda e do recomeço.

1 7. AGORA [14.28 - 1 5.27)

É hora de levantar os olhos do livro (representado por Tito Uvido, corruptela


de Tito Lívio, renomado historiador romano) e contemplar a paisagem bucólica
de pacíficos rebanhos e de flores. O que é lívido no livro é vívido no campo. O
dia é de revelações. Levantamos pensamento, ouvidos e olhos - todos os sen­
tidos e faculdades - para o que letras não registram. Em pêlos, em pétalas, em
balidos há movimentos de vida que antecedem as letras. A Trindade, ardorosa­
mente discutida por séculos, penosamente desenvolvida em tratados, sorri na
trivialidade do trevo. Das trevas à luminosidade do trevo. A pena de um outro
Shem (shams) a registrou aí. Registro vivo, feito e refeito. Isso aconteceu por
anos e anos asnáticos. Montado num asno, o Redentor entrou em Jerusalém. O
que na cidade vira tragédia é comédia nos campos. Contra cataclismos que
reanimam a história, a paz irênica em que a vida late. A paisagem nos devolve à
liberdade que as regras urbanas reprimem. Estamos em plena freudolândia -
fredeland.
A força que inflama os campos é a mesma que incendeia os corpos. Veja-se
a força que lateja além dos corpos. As palavras que conflagram conflitos em
babéis e papéis não estão na origem. Palavras geram a confucião de todos os
Confúcios em todo o território do livro. A fonte livre da vida vigora fora dos
alfarrábios.
Notas de L eitura D ON AL D O S C H Ü L E R 121

1 8. JUTA E MUD O [1 5.28 - 1 8. 1 6]

Evitar a história? Como? Um salto (Hop! ) e caímos nela. Vegetais vivem


presos pelas raízes, homens reconhecem-se dentro da história, arrastados por
ela. Há o aspecto grotesco do ancestral que se move solitário nas montanhas,
versão muito antiga de HCE. Assim mostram-se os entes originários desde
Hesíodo. Para Vico, os primeiros homens eram mudos. Tinham os gestos como
única linguagem. Tentaram - com blasfêmias? - imitar a voz do trovão, do Thorvão.
Nos primeiros ensaios de fala, gaguejavam. Mudos, ou tartamudos, recolheram
sons informes no canto, e pelo canto principiou a construção da linguagem.
O narrador apanha um debate de irmãos, próximo à mítica alvorada, uma
das muitas versões dos encontros e desencontros de Shem e Shaun. Juta é Shaun,
Mudo é Shem. Surdez e Mudez alternam-se. Juta faz as perguntas, Mudo res­
ponde gaguejante como o determina sua condição de espécime próximo às
origens. Identificado com a sorte da Irlanda, ele conhece menos línguas que seu
irmão e rememora nostalgicamente o passado. Os irmãos desentendem-se ao
recordarem Brian Boru, soberano irlandês que submeteu os reis da Ilha a seu
poder e expulsou os viquingues. Na opinião de Mudo, máscara de Shem com
pendores pelos exilados, Boru não passa de usurpador. Juta, encarnando Shaun,
interessado em estabilidade, considera a campanha vitoriosa de Boru benéfica à
Irlanda. Já com as primeiras perguntas de Juta, sentindo-se ameaçado, Mudo
hesita. A moeda de madeira evoca a Irlanda antiga, a da monarquia, que, golpeada
com o assassinato de Boru pelos invasores vencidos, deu lugar à nova Irlanda,
oposta aos valores antigos. No confronto dos irmãos, precariamente delinea­
dos, desliza-se de um a outro, tanto aqui quanto em todo o livro. Mal começa a
conversa quem tartamudeia é Juta, contrariamente ao que se espera; no fim do
diálogo, quem pergunta é Mudo.
A narrativa embaralha estratos temporais e caracteres. Os fluxos não cabem
nas categorias excludentes do sim e do não, da verdade e do erro. Lei é a do
sonho.

1 9. TECURVA [1 8.17-19.19]

O tecurva soa após o debate de Juta (Shaun) e Mudo (Shem), o confronto


pessoal dos irmãos em conflito. Chegou o momento de refletir sobre história e
122 }AM E S J OYCE F i n n e ga n s Wake

historiografia, sair do limitado, a Irlanda, para considerar o grande movimento


da história. Ordens para deter-se são freqüentes em Finnegans Wake. Sem parar
para refletir não se alcança o sentido do texto.
O narrador nos leva à sala de banquetes onde se encontram, em festa, o
grande rei Baltazar da Babilônia e toda sua corte. Lêem-se na parede as palavras
MENE MENE TEKEL UPHARSIN (transcrevemos as palavras como se en­
contram na tradução da Bíblia de King James, lida por Joyce), escritas por mão
misteriosa. Eruditos recentes tentaram interpretá-las. Conjeturou-se que elas
aludem a três moedas orientais: a mina, o sido e a meia-mina (parás), além
disso, os termos se prestariam a trocadilhos: mene sugeriria o verbo maná (me­
dir), teke4 o verbo shaqal (pesar) e upharsin concentraria o verbo paraç (dividir),
unido ao nome dos persas. Outros lêem nelas três reinos sucessivos, de impor­
tância decrescente: o dos babilônios, o dos medos e o dos persas. Há os que
julgam que deveríamos ver nelas referência a três reis: Nabucodonosor, Evil­
Merodac e Baltazar. Pensou-se ainda que as palavras misteriosas poderiam estar
alicerçadas sobre um provérbio perdido.
Nenhuma dessas hipóteses ocorreu ao rei Baltazar nem aos sábios de seu
reino. Perplexo, o rei, aconselhado pela rainha, manda introduzir Daniel, um
prisioneiro judeu, de saber renomado. Conta-se (Dn 5, 26-28) que o prisioneiro,
instado, interpretou as palavras assim: Mene: Deus mediu o teu reino e o aniqui­
lou; Tekel: foste pesado e achado em falta; Upharsin: teu reino foi dividido e entre­
gue aos medos e aos persas.
O narrador do episódio de Finnegans Wake, agora em exame, coloca-se na
posição de Daniel e dá às palavras que desafiam os intérpretes de ontem e de
hoje nova interpretação. MENE (Maf!J, Miscegenations): Deu-se fim ao rei abso­
luto, à figura paterna, sem excluir a senhorial sobre o livro; o reino do senhor
absoluto, em ruínas, passou a muitos; processa-se a miscigenação de textos, de
línguas, de etnias; em lugar de uma nação, um universo de nações e de noções.
TEKEL (Tieckle) compreende a história de nações e de indivíduos: chegaram,
amaram, pariram, partiram; UPHARSIN (Porsons) lembra que o reino do pai (HCE)
foi entregue aos filhos, Shaun e Shem. Finnegans Wake é uma interpretação do
que se lia na parede, é um claybook, já que na Babilônia escrevia-se em barro. O
livro é barro, é pó. É o que resta das gerações que desde o princípio se sucede­
ram na terra.
Na posição de Daniel encontra-se o leitor ao abrir Finnegans Wake, livro mis­
terioso, escrito em língua estranha. Can you rede... its world? Palavras do rei a
Notas de L eitura DONALDO SCHÜLER 123

Daniel, do narrador ao leitor. Aceitemos o desafio e continuemos. O texto (rede)


forma uma rede. É preciso saber mover-se nela. World (word+worlâ) é palavra e
mundo, a palavra que é um mundo. A escrita antecede a fala, sustenta o univer­
so. Para perceber o movimento da escrita é preciso estar dotado de uma mente
abecedotada (abcedminded). O abecê não é criação da mente, é o movimento da
história, do universo. O abecementado está voltado ao allaphbed. Kindom, domínio
de um rei, converte-se em thingdom, universo de coisas. O alfabeto (allaphbet =
allah + phallus + bed + ALP + HCE), base de todo o texto, é o leito em que a
linguagem é gerada. Ler é acompanhar a concepção, a gestação e o nascimento
da linguagem. O texto está eivado de misses inprints, de movimentos femininos,
caprichosos, sedutores que levam à queda, a quedas que renovam o movimento
das gerações. Canyou rede (read + reden - as duas noções encontram-se em fogos) ...
this world (word+world)? Para falar (reden) é preciso ler primeiro. Quem lê faz o
texto falar. Lê-se a palavra, que é o mundo, o mundo que se fez palavra. But the
word, mind, is, was and will be writing its own wrunesfor ever. O reino de H CE foi dado
a medos e persas, os irmãos em conflito que usurpam o poder do pai. Cada um
tem coisas para doar. Seu território é o espaço que lhe cabe na terra. Tamanho?
De quase nada a muito. Cai um reino e outro se levanta. Assim corre a história.
Assim decorre o livro.
Passamos dos acontecimentos históricos ao livro, meandertale (meander, tal =
vale, em alemão, e tale, narrativa, meandro/ato). O livro chama-se meandrossaga
porque o rio, ao fluir, cava o leito em território que não lhe facilita a passagem.
Em cada parágrafo, cada frase, cada palavra, abrem-se espaços para muitas evo­
luções. Em Heidenburg (Pagãburgo), o nome foi calcado sobre uma universidade
de prestígio, Heidelberg. Do saber de tempos iluminados recuamos às origens,
época em que os que pisavam o solo viviam com a atenção dirigida ao alto, o
que permite designar Cabeça-nas-Nuvens o homem de então. Heiden designa não­
cristãos, homens que, por viverem nos campos, não acompanharam as trans­
formações que se operaram na cidade. Toda transformação acarreta perdas e ga­
nhos, morte e vida. Nova cultura assenta sobre os escombros da anterior. Na
ignorância dormiam as sementes do pensamento radical que chega a farejar a
morte. O caminho que leva ao texto sagrado nasce no umbigo, cicatriz do con­
duto que alimentava o corpo. Porque na Bíblia pulsa a vida, esta é vívlica e per­
mite interpretar o que se passa na terra, como Joyce o demonstra nesta mesma
passagem. Os balouços, aconteçam onde e quando acontecerem, são os da ges­
tação. Habitação, charrua e alçapão permitiram aos primitivos explorar o solo e
124 JAM E S J OYCE Finnegans Wake

caçar para garantir a existência. Nas iniciais do trinômio destaca-se HCE, es­
sência de todos os que em qualquer tempo e lugar labutam. A sigla permite ver
mais do que a paisagem imediata. Delineia-se a imagem do Homem que se
opõe e se une à Terra. Os tempos se sobrepõem como as páginas de um livro.
Ainda não saímos da aurora da humanidade e já estamos no Parque em que
Earwicker tombou seduzido pela fonte de que jorrava a urina (ftgurina), mani­
festação peculiar do líquido que irriga o corpo feminino e o universo. As jovens
(protegidas pelos três guardas que sujeitam o sujo Earwicker) são gansas e guer­
reiras, seduzem e atacam, comportamento que também marca a agressão mas­
culina. Irmãos armados contra irmãos lembram os spartoi, da mitologia grega,
os nascidos dos dentes do dragão, que já saem de espada em punho e se atacam,
impelidos por ódio fratricida. O episódio do parque é o primeiro passo de um
modelo que resume toda relação amorosa esboçada nas linhas seguintes. Na
parte vemos o todo (holos - panta). No percurso percorrido recebemos muito
mais que um alfabeto, atravessamos um al!forabit, alfarrábio que contém tudo
(ali, sem excluir ALP), que se destina a todos (for ali), que transforma os que o
interpretam em rabinos (rab[b}t), que instrui como o coelho (rabit) em Aventuras
de Alice no País das Maravilhas. O allforrábio nos devolve ao argilivro donde par­
tiram estas reflexões. O alfarrábio é uma tentativa de controlar o incontrolável,
o todo em movimento contínuo. Quem escreve assemelha-se à ave que percor­
re seletivamente os fragmentos que cobrem o território onde se travou a guerra.
Outro não é o comportamento do leitor. À maneira do homem das origens,
movemo-nos entre o arado e as nuvens, a exploração da terra e os lugares a que
ascendemos para, à distância, interpretar os fatos.

20. MEANDROLATO [1 9.20 - 30]

Já temos condições de investigar a origem dos primeiros livros. Após o pri­


meiro, vem o segundo, vem o terceiro e se multiplicam ao infinito como lascas
de madeira produzidas por golpes de machado. A proliferação dos livros acom­
panha a história que começa com sedução, queda e conseqüências, na versão do
parque (duas sedutoras, três guardas e um infrator) ou em outra qualquer. A
queda prolifera em homens, fatos, palavras e textos. O um, o dois e o três unem­
se em séries algébricas onde quer que apareçam. Meanderthalltale combina: o ho­
mem de Neanderthal, meander (meandro) e ta/e (conto, história). A história, que
Notas de L eitura DONALDO SCHÜLER 1 25

circula em meandros, se avoluma desde fontes que estão próximas ao homem


que deu origem a fluxos, refluxos, conflitos. Em vez de relato temos um tortuo­
so meandro/ato. Se ao relatar esquartejamos em busca de fios que nos orientem,
não podemos pretender como meta um ponto coerente, singular. Esquarte­
jadores, teremos que contentar-nos com uma idade que será pós-pro-neo-anti.
Como evitar o conflito entre pós e neo, entre pró e anti? Somos porque nega­
mos. Tendo negado, movemo-nos como falha filhas d'Onão.

21. GRALHAS DIMPRENSA (1 9.30 - 20. 1 8]

Não se confunda escrita e alfabeto. A escrita antecede o alfabeto, a indús­


tria da cerâmica, do pergaminho, do papiro, do papel. O processo da escrita, a
escrita em processo, está nas divisões, classificações que se observam na pró­
pria natureza. A escrita anterior aos sinais traçados pelo homem são as runas
do universo, que sustentam as marcas, as divisões, as classificações dos ho­
mens. O movimento da escrita antecede o homem e a idade da razão. O que
banimos como irracional na verdade se organiza e fundamenta nossas cons­
truções ditas racionais. Os fractais o confirmam. As combinações infinitas
executam o programa original.
Há determinismo na própria natureza, hostil ao caos. O que a teoria dos
fractais desenvolve já estava no sistema de Bruno. As quatro idades atuam em
todos os momentos. A camélia floresce no outono e no inverno. Em meio à
morte dos vegetais, a flora se refaz.
Respiramos porque as veias nos amarram à vida. A palma da vitória cabe,
entretanto, à morte. Isso determinam as runas. A vitória da morte favorece a
vida. Da morte, truta cuja carne triturada consumimos, nos vem alento. O pri­
mitivo (infantil) em nós propicia o novo. O produto nasce da falência do que é,
do que já foi. Não fosse assim, seríamos estáticos como as pedras.
A escrita da natureza não nos condena à situação de ágrafos. Elaboramos a
escrita que recebemos à semelhança da maneira com que transformamos ali­
mentos. Ao escrever refazemos. A página escrita é matrutqforno: matriz, truta e
forno.
A revolução de Gutenberg é o nascimento de um novo dia (Gutenmor;g: Guten
Morgen [bom-dia, em alemão] e morgue, necrotério). Gutenberg determina o
fim da era da produção oral e inaugura o grande dia da literatura escrita. Realiza
1 26 }AM E S JOYCE F i n n e ga n s Wake

ato semelhante a Cromwell, adversário da realeza. Visto que as monarquias se


apóiam na tradição oral, a escrita lhes é hostil. A escrita destrona o monarca e
passa a reinar em seu lugar. Democratizada, a escrita difunde poder. As gralhas
dimprensa (misses in prints) sugerem a errância e os movimentos caprichosos da
escrita. Parque é o texto, lugar de queda: venturosa, produtiva.

22. NONDUM [20. 1 9 - 21 .4]

Conversa com o leitor. A narrativa perde-se em voltas, meandros. Quando


chegaremos ao destino, Londres, Dublin ou qualquer outra cidade? Chegare­
mos? Pelo visto, nossa meta é sempre Nondum, Ainda-não, cidade Nenhuma.
Porque a Nondum não se chega, andamos na esperança. Narrativas desesperadas
constroem um fim. Fim que não é fim. O fim antes do fim é a marca da falsida­
de, do desespero. Que nos resta senão prosseguir? Andar é a condição da nossa
historicidade. Andemos sem pressa. O fim se anuncia em cada volta do rio.
Penetremos em detalhes atentamente. O saber escorre no momento que passa.
Coisas miúdas, não mais que pertences de mão: moças no parque, um jovem
carente, cotidianos conflitos matrimoniais. Os pequenos veios diários mistu­
ram-se com relatos que são do conhecimento de muitos, de muitas gerações:
Pirra, a mítica mãe da humanidade, Noé e sua arca, a mão que toca no fruto
proibido. Estas e outras narrativas ocupam a mente dos peregrinos a Nondum.
Esta é a vida.

23. A PRINCEPAQUERA [21 .5-23.1 5]

Da névoa de mil e uma estórias, baixemos a uma. O episódio mergulha num


tempo idílico, Adão e Eva no paraíso. Adão confunde-se com o Conde Oarl),
aristocrata de tempos rudes. A humanidade, à maneira de Mudo e Juta, ainda
articulava os primeiros sons. Imagine-se o conde como um portento que se
basta a si mesmo. Em lugar de interessar-se por fêmeas, aconchegava frias mãos
no seu próprio corpo. A essa variedade de andrógino, associam-se imagens
metafísicas e teológicas. Jari von Hooter eleva-se como um JaVeH aristotélico
que, para não contaminar-se, recusa conhecer o que não seja ele próprio. Vivem
em seu palácio dois garotos, Tristófero e Hilário, fixos como ele. Divertem-se
Notas de L eitura DONALDO SCHÜLER 127

com a irmã deles, a boba (dummy). Esboçado está o protótipo da família wakiana,
reiterada em inúmeras situações e nomes. O conde e seu castelo se confundem
com Porter e sua taberna.
O ataque ao brutamontes vem de uma mulher, a princepaquera (prankquean,
PQ), síntese de ALP, !solda e as moças do parque. À maneira delas, PQ rega,
com um jato de urina, o roseira! do castelo, antes de bater à porta.
Modelo do idílio é um relato que vem do século XVI. Grace O' Malice,
uma pirata, ao voltar de uma visita à rainha Elisabete, chegou ao Castelo do
conde à hora de jantar. O conde, para não interromper a refeição, manteve a
porta rudemente cerrada. Vingativa, a visitante raptou o pequeno herdeiro do
castelo e rumou para seu próprio território. Não devolveu o menino enquanto
o pai não prometesse que as portas do castelo jamais seriam fechadas à hora
da refeição.
Na reelaboração de Joyce, a pirata vem com um enigma: "Marc o Primeiro,
por que eu, alooka alice, peço uma poção e semelho cervilhas Porter em va­
gem?" O enigma encerra outros. Destaquemos o mais simples: "Marc o Pri­
meiro, peço uma poção de cerveja Porter". A pergunta confunde o castelão
com o rei Marc, tio de Tristão, e sobrepõe !solda à princepaquera. Não admira
que Marc recuse o pedido com violência. Transtornada por uma poção mágica,
!solda cedeu a virgindade ao sobrinho.
' Uma segunda pergunta insinua-se na primeira: "Por que sou uma ervilha na
vagem, uma Porter?" Agora PQ mascara ALP, que na sua exuberância juvenil
desperta a masculinidade de HCE. Não são ambos semelhantes como ervilhas na
vagem? Tão próximos, compreende-se que PQ aspire à condição de membro da
família Porter. Compreende-se que o castelão se oponha energicamente a tama­
nha insolência. Como pode uma vagabunda, perdida na inconstância dos mares,
comparar-se a ele, o imóvel, o absoluto, o sempre idêntico a si mesmo? Ofendida,
PQ rapta um dos meninos, Tristófero e, numa paciente educação de anos, o con­
verte no contrário. Esta é a primeira vitória de PQ sobre existências monolíticas.
Operada a transformação do menino, ela tem motivos para investir com
dobrada energia sobre a resistência pétrea de quem se sente seguro. Depois de
quarenta anos, não é provável que o mesmo monarca ocupe o trono. Reina
agora Marc o Segundo. Mudou o ator, o actante ainda é o mesmo. Mais con­
fiante que antes, PQ dobra o pedido. Quer que lhe sejam servidas duas poções
de Porter. Furioso como o seu antecessor, Marc o Segundo repele PQ. Esta,
deixando Tristófero, leva Hilário e o submete com êxito ao mesmo processo de
128 JAM E S J OYCE Finnegans Wake

transformação. Virando-o ao avesso, o menino reaparece como Láriohi, cristão


triste, cristrão.
A inconformada retorna ao castelo e ataca Marc o Tri com um pedido
triplicado de bebida. A resposta é um trovão, imenso, um dos que de tempos
em tempos mudam a história. Com o estrondo teofânico, as portas do castelo
se àbrem. Barris e mais barris aplacam a sede de todos.
Assistimos à vitória da feminilidade sobre a masculinidade. A mulher rompe
o isolamento masculino e o leva para o imarginável mundo feminino. Contra a
fixidez masculina, a mulher representa a pluralidade, a dispersão, a dissemina­
ção. A mulher sedutora provoca, desde o relato bíblico, a queda do homem,
ruína que o leva do conforto à conflitiva pluralidade da história. O felix culpa!
Retenha-se a queda divina, anterior à adâmica. A explosão comporta Deus
que ao criar substitui a unidade pela pluralidade proliferante. No trovão eclode
o caos da unidade rompida: pe (pea, ervilha) ... kurnn (koran, alcorão) ...gor/ (girl,
moça) ... A festa final tem sentido eucarístico. O álcool aproxima o que a explo­
são separou. Efeito agregador tem também a família. A origem comum explica
o mundo em que tudo pode transformar-se em tudo. Tristófero e Hilário se
originam de um mote de Giordano Bruno: Hilaris in tristia, tristis in hilaritate
(Alegre na tristeza, triste na alegria).
Preservamos na tradução alook, transformado em alooka. Pareceu-nos que
os dois oo representam iconicamente ervilhas.
No seio da família, o brutamontes das origens ingressa no processo da civi­
lização. A paz doméstica não elimina choques. O romance dramatiza o conflito
homem-mulher de ponta a ponta. O rapto dos meninos antecipa a inquietação
do pai, ameaçado pelos filhos. O conflito geracional se desdobra nesta e em
outras formas.

24. 0 FOENIX CULPRÉU! [23.16 - 24.02]

De uma estorieta de gosto medieval derivamos para uma interpretação que


toma a história da humanidade pelas raízes. Em O foenix culprit distingue-se a
voz de Santo Agostinho a exaltar o benefício da queda: O jelix culpa! - Ó culpa
feliz! Sem a desobediência adâmica estaríamos para sempre plantados no paraí­
so à maneira das árvores. A culpa substituiu o caminho único pela infinidade de
caminhos em que se dividem as culturas e se individualizam homens. Como
Notas de L eitura DONALDO SCHÜLER 129

ninguém é igual a ninguém, cada indivíduo inventa o seu próprio caminho.


Cada um é um universo, uma surpresa. Do mal, da falta de Lacrainha, nasce
Finnegans Wake.
O novo não vem do nada (nickelou - De nihilo nihil) . Do mal vem o bem ([De]
maio... bonum).
Há sobre a exclamação agostiniana duas sobreposições eloqüentes. Da culpa
nasce a vida, como das cinzas fênix se refaz. Culprit, o culpado, o réu é o Lacrainha.
A culpa dele gera o romance e as reflexões sobre vida e morte.
O episódio lembra o Adamastor camoniano, eternamente cercado pelas águas
de Tétis, sedutora e distante, intocável.
União perfeita não há. O golpe desferido por Zeus sobre o andrógino primi­
tivo é incurável, o desejo de reaproximação produz sofrimento. Finn, o gigante
petrificado, lamenta a distância de Anna, sedutora e esquiva.
Em nick e mick escondem-se o mal e o bem, o diabo e o arcanjo, Shem e
Shaun. É a luta de irmãos, a oposição dentro da unidade.
Novo Nilbud: Nil+Buddha+bud.

25. 0 DRAGÃO VOLANTE [24.3 - 1 5)

Cantam-se loas aos feitos do extinto, imargináveis por mesclarem qualidades


positivas e negativas. O libertador valeu-se do suor dos subordinados para o seu
próprio benefício. Confundido com o pai da humanidade, a ambição dele deixou­
nos males indeléveis que atormentam como piolhos e peste. Os desmandos do
ancestral (pecadoriginal) desgraçam todos os descendentes. Com feitos e defei­
tos, cavou sua própria sepultura quem agora reverenciamos. Ao partir, deixou
seus filhos para gerir seus negócios, mas não na completa extinção da vontade de
retornar. Sepulto, sonha com outras primaveras e novas bodas. O retorno do
mítico ancestral transfigurado sem cessar nas gerações que se sucedem é legítimo.
O retorno do passado sem retoques vive como ameaça. Para que a vida se renove,
importa que durma o que já foi para que possa continuar a alimentar as raízes.

26. A PRECE [24. 1 6 - 26.24]

A voz dos descendentes contraria a vontade do ancestral anelante de regres­


so. Os sentimentos de quando percorria as veredas dos homens vigoram. Tome-
1 30 JAM E S JOYCE F i n n egans Wake

se O Livro dos Mortos egípcio, repertório de orações destinadas a facilitar o cami­


nho do finado ao derradeiro repouso. As vozes que ouvimos agora impedem
que o pranteado retorne ao reino dos vivos. Todo chefe de horda é vítima de
seus rebelados filhos. Argumentam que o sepulto não se adaptaria às condições
de vida da geração presente. Estas são medidas para manter cerradas as portas
do mausoléu. A voz dos dublinenses entra no coro de todos os povos detento­
res de espesso passado. O que foi foi, não é, nem nunca há de ser.
A atitude dos rebeldes é contraditória, constrangem o antepassado morto a
ficar onde está, embora lhe prestem culto. Contraditória só na aparência. A
ausência é a condição do culto. Culto se rende ao egresso dos embates da histó­
ria. Presença física não é tudo. Sobrevive-se também na palestra dos que ficam.
Este foi o persistente sonho dos heróis antigos. Os que tombaram pela pátria
revieram na poesia. Finnegans Wake, epopéia do nosso tempo, abriga os que já
foram. A escrita reúne fragmentos em arquivos, livros, estantes. Lembra Í sis, a
deusa egípcia a procura de pedaços do corpo de seu irmão Osíris, disseminados
pelos areais do Egito. Quem escreve recolhe relíquias.

27. 0 SANTUTÉRIO [26.25 - 27.21]

O conflito já visto resiste; outro é o tom. Vozes anônimas insistem na


mesmidade, há, contudo, sensíveis sinais de vida, garantia do ricorso viconiano:
a tosse (no santuário/cemitério [santuary - santutério] ou em outro lugar não é boa
notícia para a influenza espanhola, empenhada em matança sem fronteiras), o
badalar do sino, as refeições diárias, a atividade comercial, a produção industrial
e comercial. A vida agita-se no cotidiano. Procuramos recriar caughings (caughing
[tosse] + co.ffins [caixões]) com tu s'indo (tossir + tu se indo). Na tosse, manifestação
de vida e sinal de doença, vida e morte convergem. A ênfase recai sobre a ativi­
dade dos filhos, dedicada à produção e à difusão das letras. A atividade literária
lembra Isaac D'Israeli (1 766-1848), descendente de judeus espanhóis fugidos da
inquisição. Contrariando a vontade do pai, riquíssimo, que o queria para o mun­
do dos negócios, Isaac preferiu a literatura, distinguindo-se como crítico da pro­
dução literária do seu tempo. Vemos nos livros o livro, Finnegans Wake, sepultura
e berço, mausoléu em que vigora a biblioteca universal.
O narrador passa de Finn, morto, aos dois filhos, Kevin (Shaun), o postalista,
e Jerry (Shem), o escritor. Este não recebe dons de instância sobranceira aos
Notas de Leitura DONALDO SCHÜLER 131

homens. Shem escreve com/ do corpo. A força lhe vem dos excrementos onde
a vida se desfaz, do sangue em circulação - Isolda, fluir das águas e da vida, dos
mosteiros aos prostíbulos. Os lábios rubros, sedutores, festivos da jovem es­
tampam beijos por toda parte.

28. SEJASSIM [27.22-30]

O gigante vive sem trilhar as rotas da aurora. Vive na sombra. Pulsa na escri­
ta, na circulação das cartas, nos sorrisos, nos abraços. Que outra existência lhe
conviria exceto a seiva que robustece as raízes? A campa é seu lugar. Campa que
é berço.

29. KATE [27.31- 28.34]

Kate não reerguerá o muro para a ascensão do herói que se revira inquieto
na tumba. É como na Teogonia de Hesíodo. Os gigantes tiveram vez. Outrora!
Agora é a vez de outras vidas. Kate seduz como em outros tempos, embora
acene no rubor de rostos refeitos. A energia masculina ou feminina do que já
foi não cessa. A presença física barraria o fluxo da vida que requer amplos
espaços para respirar, livre do peso de outras eras.

30. CORCOVADO [28.35 - 29-36]

Há sempre um substituto, seja para Isaque, votado ao sacrifício, seja para


Finn MacCool. No mito grego, dos dentes do dragão, marca do passado, nas­
cem os spartoi, heróis dos novos tempos. Ingressamos na era dos substitutos e
dos substitutos dos substitutos. A exemplo do sol heraclítico, a terra é e não é a
mesma todos os dias. O mesmo calor revigora corpos sempre diferentes.
Recordemos as caraterísticas do deus ocioso, freqüente nos mitos de mui­
tos povos. O criador, encerrado o trabalho, retira-se em benefício de outro. O
gigante dublinense foi substituído pela civilização urbana que o manda repou­
sar. Segregado pelo mundo dos negócios, onde impera agora Humme the Cheapner,
Esc, o gigante emerge na ficção. A civilização urbana não o tolera nem aí.
1 32 JAM E S JOYCE Finnega n s Wake

Livros são proibidos de circular. Autores são presos ou condenados a viver no


exílio. A viconiana idade dos deuses é essa reserva de forças negadas e contro­
ladas a explodir para desorganizar a ordem e reativar o ciclismo regenerador.
O homem urbano construiu uma civilização orientada por códigos austeros,
repressores das energias da natureza indomável. As Bacantes de Eurípides mos­
traram que a proibição fomenta a tragédia. A vida se renova tanto no amor
vendido como no comércio ilegal. Toda ilegalidade traz a legalidade no bojo,
negada mas não elidida. O falo se ergue gigantesco e viril no centro da histó­
ria, em Babel, no Himalaia ou em outra elevação, regada pela chuva, por !solda.
No Corcovado? Por que não? O Lacrainha penetra nos ouvidos para contar
histórias na vigília ou na imagem (imargem!) dos sonhos, na voz de Esopo ou
de outro narrador. Revém a versão truncada. A história se renova em outros
versos, outras versões. Nexos fazem-se e se desfazem, léxicos definham e cres­
cem. O ricorso arregimenta textos, contextos, intertextos, intratextos, tecidos,
testas ...
)

i
_,·

f'-.7/{:{�; :'
' ,. · ·

..•

.. ; >� ' ·- . -- ... ··�· ··· · ·�·---------- - · ___ ., .. · - - - ··--


DONALDO S C HÜLER É doutor e m Letras e Livre-Docente pela UFRGS.
Professor titular em lingua e literatura gregas na
mesma universidade. Pesquisador do CNPq por quinze
anos. Realizou estágio de pós-doutorado na USP,
concluído com a publicação do trabalho Eros: Dialética
I'
e Retórica (Edusp). Ofereceu cursos em nível de
graduação e de pós-graduação no Brasil, no Uruguai,
no Canadá e no Chile. Exerceu cargos administrativos
em várias instituições: Chefe de Departamento,
Diretor de Instituto, Coordenador de Curso de Pós­
Graduação, Presidente da Sociedade Brasileira de
Estudos Clássicos, Presidente da Associação Gaúcha
de Escritores. Integra bancas examinadoras de
mestrado a titularidade. Colabora em jornais e revistas
especializadas. Dirige seminários de literatura em várias
sociedades psicanalíticas. Traduziu Heráclito e
Sófocles. Atua como conferencista no Brasil e no
exterior. Como ensaísta, depois de escrever sobre
Machado de Assis, Guimarães Rosa, Drummond de
Andrade, Platão, Homero, Sófocles, publicou Um Lance
de Nadas na Poesia de Haroldo, parte de um projeto de
exame da vanguarda brasileira, e Na Conquista do Brasil
(Ateliê Editorial) . Como ficcionista, escreveu A Mulher
Afortunada, O Tatu, Chimarrita, Faustino, O Astronauta,
Pedro de Malas Artes, Império Caboclo, O Homem que Não
Sabia Jogar e Rifabular Esopo. Como poeta, publicou o
poema Marfim Fera. Recebeu o Prêmio Fato Literário,
em 2003, oferecido pela RBS e pelo BANRISUL. A
Associação Paulista de Críticos Literários (APCA),
escolheu (Finnegans Wake) como a melhor tradução de
2003. A Câmara Brasileira do Livro concedeu-lhe o
Prêmio Jabuti 2004 pela tradução de Finnegans Wake.
Foi escolhido como Patrono da Feira do Livro de
Porto Alegre em 2004.
LENA B ERGSTEIN Artista plástica, estudou artes plásticas n o Rio de
Janeiro e sua primeira exposição individual foi na
Galeria Macunaíma em 1 980. Participou das mais
importantes bienais de gravura nacionais e interna­
cionais. Expôs gravuras e pinturas na Petite Galerie,
pinturas na Galeria Cândido Mendes, montou a
instalação Tenda do Museu de Arte Moderna do Rio
de Janeiro, e expôs pinturas e os originais do livro
Enlouquecer o Subjétil no Paço Imperial. Expôs ainda na
Galeria Segno Grafico (Itália), Centro Internazionale
di Grafica (Itália), Bibliotheca Wittockiana (Bélgica), e
Galeria Debret (Paris). Morou dois anos em Paris,
onde participou dos seminários de Jacques Derrida:
"Questions de Responsabilité: Du secret au
témoignage" e "Hospitalité et hostilité". Ganhou o
Prêmio Jabuti pela melhor produção editorial de 1 999
com o livro Enlouquecer o Subjétil de Jacques Derrida.
Título Finnegans Wake
Título da Tradução Finnicius Revém
Autor )ames Joyce
Tradutor Donaldo Schüler
Desenhos Lena Bergstein
Prqjeto Grcifico Lena Bergstein
Cecília Costa
Editoração Eletrônica Ricardo Assis
Marcelo Cordeiro
Revisão Maria Cristina P. C. Marques
Reproduções Fotogrcificas Ângela Garcia
Formato 1 9,5 x 27 em
Tipologia Raleigh e Garamond
Papel Pólen Rustic Areia 1 20 g/m2
Fotolito MacinColor
Impressão e Acabamento Lis Gráfica
Número de Páginas 1 44

Digitalizado para PDF por Zekitcha.


Brasília, 23 de maio de 2017.
É como se mimetizasse a Work in Progress que foi,
durante dezesseis anos (entre 1923 e 1939, quando foi
publicada), a última obra de james ]oyce (1882-1941): a
tradução de Finnegans Wake, aventura mais do que de
tradução, intelectual, de Donaldo Schüler, será publicada
em partes, cinco volumes no total, correspondentes às
quatro partes da obra. Ela, também, uma work in pro­
gress. O que se tem agora é o primeiro capítulo da pri­
meira parte, cujo conteúdo foi resumido por Seamus
Deane,. para edição britânica da Penguin Books, de 1992,
da seguinte maneira: "Introdução - O Museu Willingdone
- O Encontro da Carta - Pré-história da Irlanda - Mutt e
]ute - Jarl van Hoother e o Prankquean - A Queda - O
Acordar de Finnegan - Introdução de HCE".
Foram necessários mais de trinta anos (desde o gesto
inaugural de Augusto;. e Haroldo de Campos, em
'
1962,
-..,

traduzindo fragmentos de FW, até a coragem de Antonio


Houaiss em enfrentar o Ulisses, em 1966) para que fosse
retomado o verdadeiro veio joyciano no Brasil: a tradu­
ção de suas primeiras prosas de ficção, Duhtinenses c O
Retrato do Artista Quando jovem , é tarefa menos des�l­
fiadora, embora não menos importante no sentido de
compor a imagem integral do escritor que foi]ames Joyce.
Duas perguntas correlatas surgem, até mesmo a ntes
da leitura desta obra e de sua versão em outra língua · é
possível ler FW? É possível traduzir FW? E, diante do
fato concreto de sua existência, ambas as questôes pa­
recem convergir para uma outra: como foi possível es­

crever FW?
Lembro-me de ter lido, já não sei onde, um ensaio
de Ernst Robert Curtius, escrito logo apôs a publ icaçào
do Ulisses, em 1922, em que, pelo menos, duas daque­
las três questões são, por assim dizer, implicitamente
propostas.
Referindo-se àquela obra, Curtius observava como
era difícil ler um livro em que um l enço que cai na
página 245 (uso um número hipotético) só é retomado
do chão à página 385 (outra hipótese). E duas observa­
ções de Curtius são básicas: a primeira, é de que o en­
contro do lenço na última página citada só é plenamen­
te apreendido pelo leitor se ele se transforma num releitor,
aspecto que o crítico amplia para todo o mecanismo de
leitum da obra; a segunda, é de que se este mecanismo
de leitura e releitura é difícil de ser mantido pelo leitor,
pode-se imaginar quão difícil terá sido para o escritor
fazer dele um processo ininterrupto de composição. E
se isto ocorre na obra de 1922, ónde ainda se conser­
vam tra�;os narrativos que cativam a disposição do leitor
pela intriga, imagina-se a de 1939, em que, como já ano­
taram todos os seus inumeráveis e gr,mdes leitores críti­
cos, a linguagem, com tudo o que ela implica de mundo
e existência, parece ser o grande tema da obra.
Embora tenha um elenco de personagens e um nú­
cleo temático perfeitamente identificáveis, o espaço e o
tempo preferenciais de FW são aqueles do sonho e da
noite, em marcante contraste com os da vigília e do dia
que são os de Ulisses.
Os estilha�:os de sessenta e cinco línguas diferentes
( segundo a tradição dos estudos joycianos), se espa­
lhando nos sombrios intervalos entre consciente e sub­
consciente, contam a história do mundo e da literatura,
sempre a partir da sensação de exílio e de estranhamento
que, para Joyce. era a Irlanda . Por isso, a sua mais ade­
quada k·itura, talvez, seja mesmo .a fragmentária, como
perceberam os seus primeiros e argutos tradutores bra­
sileiros: uma leitura também in progress .e que, assim,
nunca termina. Ou como a que agora propõe, em capí­
tulos. que também são parágrafQs de partes mais am­
plas, a ousadia notável de Donaldo Schüler.
O leitor, que deve se preparar pacientemente pam
ser um releitor, indo e vindo entre o texto original e a
sua tradução. descobrindo em cada página as contor­
çóes de l íngua e linguagem a que foi obrigado o tradu­
tor ( encontrando, por exemplo, a presença de um Ma­
chad< > de Assis ou de um Eça de Queirós que traduzem
Sterne e Swift), não está diante apenas de um texto
traduzido mas de uma arqueologia poética em que as
camadas de história e d e significações traduzem
palimpsestos que se desdizem pois, como já se obser­
vou , em FW as escrituras subjacentes continuam vivas
na superfície.

JoÃO ALEXANDRE BARBOSA

Vous aimerez peut-être aussi