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Denise de Camargo1
Sieglind Kind da Cunha2
Yára Lúcia Mazziotti Bulgacov3
”
seu espírito de esperança e entusi-
da. Para ele, a teoria atual é incapaz
de oferecer diretrizes para a criação de
espaços sociais em que os indivíduos
nidade. A partir daí, tomando o em-
preendedor como agente essencial
do processo de desenvolvimento, ele
asmo pelo papel que o conhecimen- possam participar de relações interpes- destaca que a ação essencial do em-
to psicológico das motivações huma- soais verdadeiramente autogratificantes. preendedor é realizar algo, enquan-
nas poderia ter na compreensão de O lugar adequado à razão é a psique e é to mudança, enquanto inovação, di-
um fenômeno humano tão comple- ponto de referência, tanto para a orde- ferentemente do que é feito em uma
xo como o desenvolvimento huma- nação da vida social, quanto para a rotina normal de negócios (como faz
no e em ajudar o homem a controlar conceitualização da ciência. Ele acredi- o empresário). Essa conceituação de
o seu próprio destino” (McCLE- ta que uma teoria social deve suge- Schumpeter abre caminho a uma
LLAND, 1972, p. xiii). rir tanto valores econômicos quanto certa parceria com a psicologia de
Essa postura, que entendemos da humanos, como critérios para a or- McClelland no campo do empreen-
mesma forma que Chanlat (1992), denação das associações humanas. dedorismo. Que concepção de ho-
levou pesquisadores a concentrar Não é adepto de uma ciência (natu- mem traz a psicologia de McClelland
seus interesses e a reduzir seus es- ral) que separa valores de fatos, de para encarnar o agente empreende-
forços a simples técnicas de contro- uma ciência que toma os valores (in- dor imaginativo, criativo, inovador
le, evidenciando uma orientação dividualistas e tão-somente econô- de Schumpeter? Como ela explica
tecnocrática de curto prazo, com micos) de uma sociedade e os legiti- essa imaginação, essa criatividade
foco na eficácia, no desempenho e na ma ao tratá-los como algo objetivo, do “Grande Homem”? A psicologia
produtividade. Concordamos igual- natural e não construído socialmen- de McClelland traz o homem com alta
mente que essa perspectiva já apre- te pelo homem. Propõe o Paradigma n realização... McClelland busca nos
senta sinais de decadência, ou seja, Paraeconômico, voltado para os siste- países uma alta taxa de concentração
cada vez mais pesquisadores contes- mas sociais e para a nova ciência da de n realização apostando, então, em
tam esta concepção instrumental, organização. seu desenvolvimento econômico. A
adaptativa. A critica é dirigida para psicologia abre assim a possibilida-
a visão contaminada do comporta- Schumpeter e McClelland de de uma investigação científica
mento por categorias econômicas, O primeiro destaque que faze- concreta, teórico-empírica do fenô-
instrumentais com alto grau de mos é que a psicologia McClelland meno psicológico, naturaliza o fenô-
etnocentrismo e ausência de consci- vem ajudar a romper com a premis- meno psicológico - a “necessidade de
ência histórica. sa de racionalidade ilimitada, pre- realização”, objetiva e quantifica o
McClelland, ao buscar a explica- sente no cenário das formulações fenômeno psicológico e o coloca
ção do desenvolvimento econômico clássicas da economia. A escola como fator de desenvolvimento eco-
em uma teoria psicológica centrada racionalista de conhecimento afirma nômico. Adota o método da ciência
no indivíduo, adota a ciência que na- que a razão é a responsável pelo co- natural, próprio das práticas da
turaliza o fenômeno psicológico e se- nhecimento. A matemática e a lógi- modernidade. Ou seja, tanto Schum-
para fato de valor. Adota uma postu- ca são as linguagens utilizadas, sen- peter, como McClelland, focalizam
ra que legitima os valores da socie- do que as verdades são obtidas atra- no indivíduo a necessidade de reali-
dade na qual ele se insere, centran- vés da intuição e inferências racio- zação voltada “naturalmente” para
do-se em pressupostos de sociedade nais (GRAYLING, 2001). Tanto para a economia.
baseados tão-somente no mercado. os economistas clássicos (Smith, Entretanto, uma leitura mais
Acreditamos, como Ramos (1989), Ricardo), como para os neoclássicos atenta de Schumpeter vai ressaltar a
na necessidade de um modelo alter- (Pareto), a figura do empreendedor ação empreendedora, enquanto um
nativo de ciências sociais que leve não existia. Os agentes eram homo- processo, sustentada nas relações