Vous êtes sur la page 1sur 13

Fisiologia da Fala

e da Fonoarticulacáo
L
capítulo 33 c. R. Douglas

íntroducáo Medida da lnformacáo

A fonoarticulacáo é um processo complexo, o qual Como toda teoria matemática, ela deve ser apoia-
envolve várias áreas ligadas ao SNC; a parte mo~ora da em códigos com sinais fundamentais; um conjun-
(neuromuscular), as estruturas periféricas; além do to coerente destes sinais denominado
é de alfabe-
inter-relacionamento respectivo. Pode ser definida to, cuja cornbinacáo dentro de determinadas regras
como a emissño da voz e o mecanismo de forma- gera o léxico (palavras). As palavras agrupadas com
9ao das palavras. Se for comparada a diferenca um significado - definindo urna configuracáo -
existente entre os animais e o homem, poder-se-ia gera a semántica, que regida pela sintaxe, na cria-
é

certamente afirmar que a funcáo fonatória passa a ser vao de textos decodificáveis e retransmitidos.
urna característica quase específica do ser humano.
Existiria urna comunicacáo presente nos animais,
I A LlNGUAGEM VERBAL I
porém esta comunicacáo nao contém classes lexicais
ou semánticas e gramaticais. Sua comunicacáo é ba-
A linguagem verbal exige urna intensa atividade
seada de acordo com suas necessidades primordiais
neura!. Se se imagina o processo desde a estrutura-
com um nível de complexidade variável conforme a
vao das idéias a serem transmitidas até a sua transfor-
escala zoológica - alimentacáo, sobrevivéncia, peri-
macáo em um conjunto de sons, que, emitidos, cons-
go, acasalamento etc. - portanto, diferenciada do ser
tituido as palavras verbalizadas por um sistema
humano.
que envolve músculos, ossos e sistemas, como o res-
piratório, estomatognático e posturais, além do que as
Comportamento da comunlcaeáo
palavras sáo colocadas de tal forma, que sua sinta-
xe seja correta para poder haver urna decodificacáo
A palavra "comunicacáo", do latim communicare =
por parte de outro ser inteligente. Ademais, pouco se
tornar comum, representa o básico para se tornar co-
sabe sobre os princípios que regem a codificacáo de
mum, entáo deve existir um emissor que utiliza um
informacóes no sistema nervoso. Esta Iinguagem
sistema de sinais com informacáo através de um ca-
pode aparecer de várias formas, por exemplo:
nal de informacáo, bem como um receptor que
Sinais naturais, visuais, auditivo s, táteis -
possui o papel de captar a mensagem, tornando-a
mas o homem pode representar estas sensacóes, ga-
"comum" a transrnissáo. Esta mensagem, para ser
rantindo ao interlocutor urna decodificacáo, através
entendida ou tornar-se comum, deve ser codificada;
de formas verbais como:
esta codificacáo para os seres humanos denomina-se
linguagem, que representa um modelo de caráter de - falando;
tempo-espaco. O processo pode ser codificado atra- - escrevendo, imitando a fala com sinais escritos
vés de um modelo matemático, criando-se com isso ou gráficos; ou
os princípios da teoría da informacáo. - lendo, imitando os sons das palavras.
Fisiologia Aplicada a Fonoaudiologia

Esta complexa, porém extremamente fina, com- seu desenvolvimento máximo, por exemplo, nos sur-
binacáo, entre o mecánico e o empírico da idealizacáo dos-mudos, que podem se comunicar quase táo bem
lógica, aparentemente distingue o homem dos ani- quanto aqueles que utilizam a fala. Provavelmente,
mais. Éstes apresentam, como foi dito anteriormen- deve ter surgido alguma espécie intermediária, já ex-
te, urna comunicacáo voltada somente a defesa indi- tinta, porque seria inadmissível supor que o desenvol-
vidual e coletiva, além da reproducáo e alimentacáo, vimento de urna estrutura táo complexa tenha evoluí-
simplesmente mecanizando um código genético. do abruptamente de alguma espécie, mas determinan-
Agora, quanto aos primatas e, recentemente, aos gol- do urna nova espécie. Para refletir, urna das condicóes
finhos e baleias, o processo se toma mais difícil de dis- especiais para gerar os sons ao nívellaríngeo, exige da
tingui-los, de algumas atribuicóes ditas humanas, nao posicáo ereta; se o homem tivesse conservado a pos-
só a mímica, como sons complexos e, até, no caso do tura quadrúpede, nao haveria sido possível desenvol-
famoso Washos, um chimpanzé que aprendeu cerca ver o fenómeno da vocalizacáo. Ou seja, na filogenia,
de 150 sinais, chegando a criar frases para fugir de primeiro foi estabelecido o equilíbrio e, logo, a fala.
objecóes, com clara nocáo de singular e plural, eviden-
ciando urna capacidad e de conceituar. Com base ni s- I CARACTERíSTICAS FíSICAS DO SOM I
so, deve-se tomar um cuidado especial, quando se
analisa o homem e deixa-se de olhar o mundo por Para a abordagem, mais adiante, das funcóes de
volta; é claro que o sistema fonoarticulador no homem cada estrutura, alguns conceitos de física ondulató-
atingiu urna escala táo elaborada, que, provavelmen- ria aplicados ao aparelho fonador sáo importantes de
te, determinou urna nova espécie, aprendendo e apri- analisar previamente.
morando seu uso, tornando-se a fonoarticulacáo dos
sons táo intrinsecamente ligada ao homem. Amplitude ou intensidade (sonoridade)

Aprendizado da linguagem verbal É um para metro físico diretamente ligado a fun-


v3.0 subglótica da coluna aérea, porque depende da
o aprendizado da linguagem verbal requer os quantidade de energia contida na corrente aérea pro-
meios comuns a todo aprendizado, comportamento duzida pelos pulmóes (energía cinética); no entan-
inato, condicionamento pavloviano, condicionamen- to, depende também do nível de tensáo das pregas
to operante e aprendizado imitativo. vocais e de sua adueño. Acusticarnente, depende da
O choro, por exemplo, representaria um tipo pri- maior ou menor amplitude da vibracño, ou seja, da
mordial de cornunicacáo, um comportamento inato, distancia entre a referencia e o ventre da onda, que
emitido imediatamente após o nascimento e que, ao é similar, a distancia quanto ao vale. A sensacáo psi-
longo dos anos de vida, vai sendo aperfeicoado como cofísica relacionada a intensidade, ou seja, como o
meio de cornunicacáo mais sofisticado em situacóes homern julga um som, considerando-o mais forte ou
sociais limítrofes; da mesma forma, o sorriso. mais fraco, recebe o nome de sonoridade (loudness).
A crianca está pronta em termos neurológicos A intensidad e é expressa em escala de decibéis,
para aprender a reproduzir os son s de forma ade- acreditando-se que o número de decibéis correlacio-
quada a partir dos 3 anos de idade; nesta idade, as na-se ao de loudness.
conexóes nervosas se tornam viáveis.
O ser humano tem o potencial hodológico para Freqüéncla ou altura
desenvolver o sistema da fala; porém, para aprender,
necessita de urna interacáo com outro sistema ner- Este parámetro relaciona-se com a vibracáo das
voso mais evoluído para nortear seu aprendizado; pregas vocais, ou seja, quantas ondas foram ge-
nestas circunstancias, a interacáo com os outros sen- radas em um período de tempo. Por definicáo, a fre-
tidos receptivos é fundamental, como visño, tato e qüéncia de vibracáo das pregas vocais é a freqüén-
pressáo, e, principalmente, audicáo. cia da fonte glótica (fg), A freqüéncia fundamen-
No caso da fala, criancas criadas em ambientes tal da voz (fg) está relacionada com a L" harmónica
em que sáo pouco estimuladas, ao crescerem, apre- (fl) e a freqüéncia da onda complexa (fo) da seguinte
sentaráo dificuldades em vocalizar as palavras. forma, segundo '1'osi;

Filo e ontogenia da linguagem f9 = fo = f1


Provavelmente, deve ter evoluído da mímica, que Assim, existe urna relacáo íntima entre o cha-
possui gestos e forma um potente alfabeto, atingindo mado som fundamental e seus harrnónicos. Mais

456
Fisiologia da Fala e da Fonoarticulacáo

adiante, ver-se-á como as pregas vocais trabalham Regiao frontal da linguagem,


estas grandezas. área de Broca ou área primária
A sensacáo psicofísica relacionada a altura, ou
seja, como é julgado um som, considera-o mais gra- Corresponde as áreas 44 e 45 de Brodman liga-
ve ou mais agudo, dependen do basicamente da fre- das a expressáo da linguagem. Quando lesada, a com-
qüéncia fundamental desse som (havendo também preensáo da linguagem fica intacta, mas há grave di-
a influencia da ressonáncia e da intensidade). Quan- ficuldade de expressáo motora; quando esta é soli-
to a grandeza física do tom, sua unidade é o hertz, e citada, há, praticamente, incapacidade de falar es-
sempre esta medida é expressa em urna escala de pontaneamente. Isso constitui a afasia motora. A
tempo (Hz). execucáo da fala é realizada pela respiracáo, larin-
ge e pelos músculos faciais e mastigatórios (muscu-
Hessonáncla latura estomatognática), controlados pela área mo-
tora pré-central (Fig. 33-1). A área de Broca fica abai-
Consiste na modificacño do som pelo reforce xo e adiante da área motora, e sua funcáo é coorde-
da intensidad e desons de determinadas freqüén- nar a acáo motora da fala, mas a execucáo é contro-
cias do espectro sonoro e no amortecimento de ou- lada diretamente pela área motora pré-central, de
tras. Do sistema de ressonáncia vocal, consta urna modo que as partes mais inferiores desta última es-
série de estruturas do aparelho fonador (pulmñes, la- táo ligadas a funcáo da garganta e, para cima, em
ringe, faringe, cavidades bucal e nasal, e seios para- ordem sucessiva: a língua, mandíbula, lábios e, final-
nasais) conhecidas, de conjunto, como caixas de mente, vocalizacáo. Assim, enquanto o controle da
ressonáncia, voz é pré-central e dos dois hemisférios, a área de
A ressonáncia pode ser vista como característica Broca refere-se somente a hemisfério categórico
estética de urna voz, podendo ser classificada numa dominante, isto é, o hemisfério esquerdo (por isso,
emissáo, como oral, nasal ou laringofaríngea. é dominante quanto a linguagem). Se acontecer urna
lesáo da área frontal esquerda de Broca na infancia,
o hemisfério direito pode passar a assumir a domi-
Qualidade vocal (timbre)
nancia e desenvolver a capacidade de integrar a ex-
pressáo da linguagem, porém este poder de compen-
É um termo usado para designar o conjunto de
sacáo do outro hemisfério do cérebro somente pode
características que identificam urna voz humana.
ocorrer antes dos 10 anos de idade. Após essa idade,
Relaciona-se com os harmónicos compostos de
o cérebro perde a capacidade de adaptacáo da lin-
urna onda sonora.
guagem, talvez pela maior diferenciacáo do hemis-
fério direito na orientacño espacial e coordenacáo do
I NEUROFISIOLOGIA DA LlNGUAGEM I corpo no espa~o. Acredita-se que a capacidade de
falar vá-se desenvolvendo lentamente, na infancia,
Pela sua complexidade, o controle neural da e seja devida a forrnacáo de múltiplas sinapses que
ernissáo da voz envolve diversas áreas. Dentre es- estruturam modelos neuronais na área de Broca.
tas, o córtex cerebral é fundamental. A linguagem Apresenta-se algo semelhante no processo de apren-
é controlada pelo córtex cerebral, já que lesóes am- dizado de urna segunda língua no adulto. Eviden-
plas do córtex determinam sérias alteracóes da lin- temente que, por estes fatos, a crianca poderia apren-
guagem. der várias línguas com muita facilidade.

Papel do córtex de aseoclacáo Regiao temporal


de Wernicke ou secundária
Na fala, todo o córtex cerebral participa, mas se-
ria papel do córtex de associacáo estabelecer as Refere-se a urna regiáo amplamente localizada no
idéias, pensamentos e conteúdos da fala, bem como lobo temporal abaixo do sulco longitudinal (Sylvius).
da decisáo da mesma fala e das características gerais Quando esta estrutura é lesada, apresenta-se pertur-
dessa fala. Contudo, a execucáo da fala exige o pa- bacáo na compreensáo da linguagem, o que se de-
pel de outras estruturas cerebrais; entre elas, outras nomina afasia sensorial. Tambérn se apresenta de-
tres áreas corticais, denominadas especificamente de senvolvida no hemisfério esquerdo, hemisfério cate-
áreas da fala, como sáo as áreas de Broca, de Wer- górico ou dominante quanto a linguagem. Esta área
nicke e de Penfield. representa urna área de associacáo auditiva e visual,

457
Fisiologia Aplicada a Fonoaudiologia

Área
Áreas motoras tores, podendo ser executados quando houver es ti-
da voz
terciária ----::::::::--.c:::::.~~< mulacáo cortical adequada, como seria o caso da fala,
em que o córtex determina um certo propósito es-
pecífico da fala, mas que exige, para sua realizacáo,
a existencia de um programa motor adequado para
os propósitos ou objetivos desse programa pretendi-
do de fala. Ora, dentro das estruturas motoras basais,
o corpo estriado parece ser preponderante porque os
sinais corticais chegam a ele, e daí partem impulsos
que integraráo todo o programa motor preexistente
entre os núcleos da base, núcleo rubro e cerebelo.

Fig. 33-1 - Esquema das áreas corticais cerebrais rela-


Papel da tormacáo reticular
cionadas com a linguagem.
Na efetuacáo da fala, a integracáo neural na for-
macáo reticular parece ser fundamental, dado que,
que se estende também ao lobo parietal, especialmen- a partir de excitacóes promovidas basicamente a
te ao giro angular e supramarginal (Fíg. 33-1). partir do corpo estriado excitando-se tres níveis di-
ferentes e seqüentes da forrnacáo reticular que per-
Regiao terciária de Penfield mitem a realizacáo integral da fala. Os níveis nervo-
sos em referencia sáo: adaptacáo respiratória; emis-
Descrita por Penfield, localiza-se no lobo frontal, na sáo do som elementar ou fonacño na laringe e no
parte mais alta e parcialmente interna, no sulco inter- sistema estomatognático a articulacáo da voz.
hemisférico (superfície media!). Esta área desernpe-
nharia um papel similar ao de outras áreas descritas e, Excitac;ao do centro respiratório
talvez, estaria ligada aos fenómenos associados a fala,
Os denominados grupos dorsal e ventral localiza-
como contar, ler, escrever, estabelecendo urna seqüén-
dos no núcleo do trato solitário da formacáo reticular
cia motora específica.
bulbar sáo fundamentais na localizacáo da respiracáo
Estas áreas estáo ligadas entre si, através do fas-
pulmonar. O primeiro, determinando o fenómeno ins-
cículo longitudinal superior (arcuato).
piratório, e o segundo, facilitando a extensáo suficien-
Aliás, foi demonstrada que, em seres humanos
te da inspiracáo ou permitindo a expiracáo ativa, se for
conscientes, o fluxo sangüíneo cerebral aumenta de-
o caso, ou controlando a duracáo do processo expira-
finidamente na área de Broca quando o indivíduo
tório, fundamental para a fala. Na fa la, ambos parecem
conversa, e no giro temporal superior durante a
importantes. Pela acáo do corpo estriado, excita-se pri-
leitura, o que indica a seletividade da circulacáo ce-
meiro, ao parecer, o núcleo de Botzinger, modifican-
rebral, segundo a atividade que estiver sendo reali-
do-se o programa rítmico, agora apropriado para a fala,
zada pelo cérebro.
mas logo após intervém no grupo dorsal, determinan-

Papel do corpo estriado ou estriato


If
Após a excitacáo do córtex motor corresponden-
,-,
te a regiáo orofacial, esta determina definida excita- -, -,
~ao dos núcleos da base, que já tem estabelecida ,,
,,
prévias seqüéncias sinápticas entre diversos núcle-
os de neurónios, próprios do mecanismo de apren-
"'~'"""
dizado, condicáo sine qua non para a fala, dado que o
indivíduo será incapaz de falar se nao tiver aprendi- .................•......

E
do previamente a mecánica da fala. Ora, toda me- ",

canica motora é estabelecida por inter-relaciona- <D "

mentos entre o córtex cerebral, os núcleos da base, <D Resplra~áo normal Tempo
o núcleo rubro e o cerebelo, de modo que se esta- <ID Inspira~áo intensa
@ Expira~áo prolongada
belecem circuitos - muitos de reverberacáo - en-
tre eles, que sáo armazenados como programas mo- Fig. 33-2 - Modiñcacáo espirométrica durante a fala.

458
Fisiologia da Pala e da Fonoarticulaciio

do inspiracáo que se torna profunda (intensa) pela pros- volve-se num conteúdo emocional, porque nao fala
secucáo funcional do grupo dorsal. Determina-se as- do mesmo jeito quando está alegre, contente, ou
sim uma inspiracáo profunda seguida de urna expira- quando está triste, preocupado ou furioso. Estas ca-
c;ao longa, mantida no tempo (Fig. 33-2). racterísticas emóticas da fala sáo controladas princi-
Esta modificacáo da ventilacáo pulmonar seria palmente pelo hipotálamo, que controla bastante
primordial na excecucáo da fala, porque cria um a funcáo dos núcleos da base, principalmente o cor-
grande fluxo expiratório (mais de 1.000 mi) que se po estriado.
prolonga no tempo, mantendo um fluxo aéreo im- A interferencia hipotalámica se efetua conspi-
portante e mantido que passa pela laringe, condicáo cuamente no controle da respiracáo, mas também na
estrita para a funcáo fonática. articulacáo da voz e tal vez, em menor grau, na me-
canica laríngea da fonacáo. Vide Fig. 33-3 acerca da
Excitac;ao do núcleo motor do intervencáo do hipotálamo nos centros neurais asso-
vago (X par) ciados a fala.

o corpo estriado excita, logo após, o núcleo FISIOLOGIA MECÁNICA


motor do nervo vago (X par), localizado também DA FONOARTICULACAo
na forrnacáo reticular bulbar. O vago excitado, atra-
vés do nervo recorrente (ou laríngeo inferior) e Características gerais da tonoarticulacáo
laríngeo superior, estimula os músculos intralarín-
geos, determinando respostas contráteis, que, de al- A voz pode ser descrita sumariamente pela pro-
guma maneira, modificam a funcáo das pregas vo- ducáo de um som pela laringe (fonacño) e pelas
cais, alterando principalmente sua tensáo, pelo que suas modificacóes ulteriores por ressonáncia do ar
estas estruturas passam a vibrar a passagem do flu- nos vários espacos localizados entre a laringe e os lá-
xo aéreo expiratório. O grau de tensño determina- bios, bem como outros processos (ar'ticulacáo).
da nas pregas vocais pode ser variável, dependen- Ambos os fenómenos sáo controlados pelo sistema
do fundamentalmente da acáo do nervo recorren- nervoso central e podem gerar uma considerável
te sobre a laringe. variedade de son s; porém, é praticamente impossí-
vel estabelecer o grau de participacáo das diferen-
Excitac;ao do núcleo mesencefálico tes estruturas da articulacáo da voz na modificacáo
do som iniciado pela fonacáo laríngea.
Este núcleo está localizado na forrnacáo reticu- O tono das fundamentais pode variar no homem
lar mesencefálica e controla muito efetivamente a de 90 Hz (voz baixa masculina) a 300 Hz (voz aguda
excitabilidade do núcleo motor do trigémio (V par), feminina) durante a fala habitual.
via de regra através do núcleo supratrigerninal, si- Obviamente, o tórax também tem um papel na
tuado já na formacáo reticular pontina. O nervo tri- fonoarticulacáo; pela maior ou menor ressonáncia
gérnio é crítico na articulacáo da voz pela sua acáo que pode produzir; além do mais, pode-se observar
sobre a mandíbula e os músculos supra-hióideos. que, durante a ernissáo da voz, o ritmo regular da
Contudo, a partir do núcleo supratrigeminal (da for- inspiracáo e expiracáo está modificado. A inspiracáo
macáo reticular pontina), há controle também dos ocorre muito rapidamente ao final das frases, ou
músculos motores do VII par ou facial, sendo parti- entre as pausas produzidas. A expiracáo apresen-
cularmente importantes na fala o bucinador e orbi- ta-se prolongada e dura entre pausa e pausa. Por
cular dos lábios; XII par ou hipoglosso, controlador outra parte, através da respiracáo, pode-se controlar
da musculatura da língua, também primordial na ar- a profundidade da voz; ao se aumentar a pressáo
ticulacáo da voz, o IX par ou glossofaringeo, que do ar expirado, aumenta-se a profundidade da voz
controla parte da língua e o palato mole, enquanto o ou como ocorre especificamente no canto.
XI par ou acessório que age sobre os músculos cer-
vicais permitiria a postura de extensáo da cabeca, ne- Mecanica da fonac;ao
cessária para a fala adequada.
Este assunto é tratado mais apropriadamente no
Papel do hipotálamo Cap. 34.
Ora, lembrando os fatos fundamentais, a laringe
Sabe-se que toda fala inclui determinadas carac- está formada por cartilagens (onze no total) ligadas en-
terísticas afetivas, ou seja, ao falar, o indivíduo en- tre si por músculos intrínsecos que se classificam

459
Fisiologia Aplicada ti Fonoaudiologia

Corpo
estriado

N. mesencefálico ---'r--\l~'C:-1 Articula~ao


da voz
N. supra-seminal
V VII
Laringe
N. motor do vago
Vago Fona~ao

,..-- -"""?'..--~. Expira~ao modificada


Centro respiratório

Fig. 33-3 - Esquema acerca das inter-relacóes neurais que realizam a etetuacáo da fala, através dos núcleos da
base - principalmente corpo estriado - que vai promover primeiro G)
acáo sobre o centro respiratório bulbar, logo
sobre ® corresponde ao núcleo motor do vago que permite a producáo da tonacáo: finalmente, determinante da ®
articulacáo da voz pelo sistema estomatognático.

em tres grupos, segundo sua acáo sobre as bordas li-


vres das cordas vocais (Fig. 33-4). Estes músculos sáo: Cartilagem
tlreólde
1)Músculo tensor das cordas vocais (múscu-
lo cricotireóideo);
Glote
2)Músculo dilatador da glote (cricoaritenóideo
Cartilagem
posterior); crlcólde
3) Músculos constritores da glote (cricoari-
tenóideo lateral, tireoaritenóideo inferior, tireoa-
ritenóideo superior e ariaritenóideo). Músculo
cricoaritenóideo Músculo
Exceto o último, todos os músculos sáo pares. Sáo lateral tireoaritenóideo
inervados pelo nervo Iaríngeo inferior ou recor- (constrltor) ~ (constritor)

rente, ramo do nervo vago, com excecáodo múscu-


lo cricotireóideo (tensor das cordas vocais) que é , ~ Cartllagem
aritenóide
inervado pelo ramo motor do nervo laríngeo supe-
Músculo Músculo
rior, também ramo do vago. Maiores detalhes no cricoaritenóideo aritenóldeo
Cap. 34. posterior transverso
(dilatador) (constritor)
Internamente, a laringe apresenta duas pregas
bilaterais de direcáo antera-posterior: a corda vo-
Fig. 33·4 - seccao transversal da laringe, onde se evi-
cal e a banda ventricular ou corda falsa. A corda denciam as cartilagens e músculos do órqáo da tona-
vocal contida dentro do ligamento tireoaritenóideo
é cáo.

460
Fisiologia da Fala e da Fonoarticulaiiio

inferior, estando nela inserido o músculo tireoari- estas bandas ventriculares controlariam a vibra-
tenóideo inferior. Quando se observa a glote pelo 93.0 das verdadeiras cordas vocais na ernissáo de
laringoscópio, pode-se avaliar que sua forma e di- notas de tom excessivamente alto.
mensóes sáo variáveis de acordo com a fase respira-
tória: na inspiracáo, as cordas vocais se afastam, en- Controle extralaríngeo da fonacáo
quanto se aproximam, levemente, na expiracáo, Na
fonacáo, as cordas se aproximam, ficando paralelas Se a funcáo laríngea, básica e adaptativa, depen-
e tensas, fechando a glote. A glote tem urna carac- de da tensáo e posicáo das cordas vocais, por urna
terística básica durante a respiracáo, já que as mu- parte, e pela pressáo do ar expirado, por outra, poder-
dancas que se apresentam na fonacáo estáo super- se-ia controlar a emissáo da voz controlando-se estes
postas a posicáo básica respiratória e, em grande dois fatores primários. Nao obstante, a boca e a farin-
parte, dependem dela. Ao mesmo tempo em que as ge representam estruturas importantes nesta regula-
cordas vocais se adaptam na ernissáo da voz, há um cáo, Assim, por exemplo, segundo a concepcáo de
posicionamento (aprendido) da mandíbula, faringe Husson, a linguagem oral nao deveria ser considera-
e língua, de modo a haver urna sincronizacáo moto- da como urna simples funcáo de mecánica estomatog-
ra bucal e laríngea com a respiracáo, o que determi- nático-laríngea, mas como urna conduta de natureza
na a fonacáo eficiente que, de fato, constituiria urna verbal que tem um sentido dirigido de natureza me-
adaptacáo geral da respiracáo. cánica, visando a um determinado objetivo. Esta con-
Pode-se estudar a funcáo das cordas vocais atra- duta verbal seria de natureza motora complexa que
vés do registro eletrolaringográfico, colocando-se pode incluir múltiplas modalidades de funcionamen-
dois eletrodos na superfície cutánea a cada lado da to, mas que, resumidamente, seriam as seguintes:
laringe; de acordo com as modificacóes da irnpedán- 1) Condutas fonatórias: agindo sobre a varia-
cia do instrumento, registram-se as aproximacóes e bilidade de intensidad e, freqüéncia ou timbre dos
separacñes das cordas vocais. sons emitidos pela laringe;
2) Condutas articulatórias: agindo sobre a va-
Reflexos laríngeos adaptativos riabilidade de fatores que determinam a articulacáo
do som (ver mais adiante);
Obviamente, os movimentos das cordas vocais 3) Condutas lingüísticas: referem-se aos fato-
exigem alta precisáo, de modo que o sistema de con- res que atuam no estilo da linguagem, isto é, na es-
trole por feedback deve ser muito estrito. Um cantor colha particular das palavras, na seqüéncia das fra-
capaz de produzir 2.000 graus de tom deve modifi- ses, no sotaque; enfim, no conjunto de elementos
car o comprimento de suas cordas entre 1 e 1,5 mm que determinam o significado e a característica "pes-
para cada variacáo de tomo Isso ocorre por reflexos soal" da voz.
adaptativos.
A parte aferente do reflexo inicia-se, quer em Estes tres elementos constituintes da condueño
mecanorreceptores mucosos (a menor parte), verbal, ou da expressáo oral da linguagem - que sáo
quer em terrninacóes nervosas corpusculares exis- de natureza motora - de acordo com Jenkine, en-
tentes nas articulacóes ou juntas da mesma larin- globam dois sistemas neuromusculares diferentes:
ge, estes últimos receptores se adaptam velozmen-
te, o que é importante na velocidad e de ajuste dos 1) Um bloco neuromuscular pneumo-tráqueo-
fenómenos laríngeos. '1'ambérn há receptores fu- Iaríngeo- faringeano;
sais no músculo, mas bem primitivos, nos mesmos 2) Um bloco neuromuscular bucolabial.
músculos laríngeos. O controle da tensáo muscular
é controlado por um grande número de terminacóes Como estabelecido previamente, ambos sáo con-
nervosas em espiral dos músculos laríngeos. trolados pelo SNC. Os efetores sáo principalmente
músculos esqueléticos, já que as glándulas exócri-
Papel das falsas cordas nas e a musculatura lisa térn urna importáncia secun-
dária, assim os músculos esqueléticos recebem im-
As bandas ventriculares ou falsas cordas tém, apa- pulsos nervosos das áreas corticais motoras (giro pré-
rentemente, como funcáo, manter lubrificadas as central) ou das áreas corticais de associacáo, passan-
cordas vocais, isso porque contérn um alto número do pelo estriato até chegar aos núcleos da formacáo
de glándulas mucosas, cuja secrecáo aumenta com reticular. Contudo, a área somatossensorial ou pós-
o maior exercício da voz. Acredita-se também que central do córtex seria também importante, ligando-

461
Fisiologia Aplicada ti Fonoaudiologia

se aos núcleos motores dos nervos cranianos; teria Reflexo cócleo-recorrencial


especial importancia a prega curva na regia o parietal.
No controle da fonacáo, além dos sinais de ori- Contudo, também o ouvido interno pode ser ex-
gem cortical ou cerebelar, apresentam-se reflexos citado pelas ondas sonoras que o próprio indivíduo
periféricos que controlam certas características da emite na producáo de sua voz. Esta excitacáo leva a
voz. Estes reflexos sáo: um ligeiro aumento da amplitude e a manutencáo
da freqüéncia das oscilacóes das cordas vocais. O
Reflexo trlqémlc-recorrencial. reflexo se produz em alta velocidade, porém se man-
Área de Maurau tém durante todo o período de ernissáo da voz. Este
reflexo controla, por conseguinte, a própria voz, mo-
o sistema de ondas sonoras emitidas pela larin- dificando a tensáo da musculatura laríngea através
ge provoca impacto na mucosa da cavidade bucal, es- do nervo recorren te, ramo do vago.
pecialmente da área mais anterior do palato duro.
Nesta regiáo, existem receptores sensíveis a vibra- Reflexo retículo-recorrencial
c;:aoprovocada pela onda sonora, em particular por
harrnónicas de 2.500 cps que, pelo seu especial com- . Quando a formacáo reticular ativada, por impul-
é

primento de onda, determinam a excitacáo destes sos provenientes da área de Maurau ou do ouvido
receptores palatinos. Esta área, senslvel a este com- (cóclea), aumenta também o tono do esfíncter glóri-
primento de onda, denomina-se área de Maurau. co. Assim, por exemplo, quando se eleva o hióide por
Pela via trigeminal, os impulsos chegam até a forma- acáo da forrnacáo reticular ou por efeito cortical, pode
c;:aoreticular, em que as fibras fazern sinapse com o aumentar o tono muscular que leve a excitacáo do
núcleo sensorial principal do trigérnio que, por sua núcleo motor do nervo vago no bulbo que, por via
vez, se as socia por colateral ao núcleo motor do vago. do nervo recorrente, estimula a musculatura da cor-
O vago, através do nervo laríngeo recorrente, deter- da vocal, aumentando seu tono.
mina na musculatura vocal um aumento do tom, sen-
do o principal fator que mantém este estado tónico
I FISIOLOGIA DA ARTICULACAO DA VOZ I
vocal. Ora, as harrnónicas de 2.500 cps dependem di-
retamente deste tono muscular vocal, pelo que se
A articulacáo da voz se refere as funcóes asso-
pode deduzir que a rnanutencáo destas harrnónicas
ciadas do sistema faríngeo-bucolabial, que determi-
depende do controle do reflexo trigémio-recorren-
na modificacóes do som fundamental produzido ini-
cial, agindo através de umfeedback positivo de ma-
cialmente nas cordas vocais. Quando as ondas sono-
nutencáo do tono das cordas vocais (Fig. 33-5).
ras entram no canal faríngeo-bucal, ocorrem varia-
cóes do tono e da intensidade produzidas pela COB-
tracáo fásica dos músculos faríngeo-bucolabiais ou
Núcleo motor
do vago ----z... musculatura estomatognática, em geral.

Via
sensitiva
Impedancia faríngeo-bucal

Núcleo Quando se fala de impedancia, refere-se a resis-


Vago sensorial tencia oposta a urna pressáo para determinar urna
principal
variacáo de fluxo quando esta pressáo modificada,
é

ou seja, por definicáo, a impedancia em mecánica


Nervo refere-se a relacáo entre a forca exercida sobre um
recorrente
corpo e a velocidade resultante que se consegue im-
Palato duro primir a este corpo.
Em que na boca seria:
Área de Maurau

1= __P 1_0_
)))))-
Laringe
,
Onda sonora
I impedancia;
=
qmd

Fig. 33-5 - Hepresentacáo esquemática do reflexo PíO = pressáo intra-oral aplicada;


triqémio-recorrencial. qmd = fluxo médio da distensáo das estruturas orais.

462
Fisiologia da Fala e da Fonoarticulacáo

Representaria assim urna resistencia a passagem


do fluxo aéreo através da boca. TABELA 33-1
Trata-se, neste caso, de urna impedancia acústi- Freqüénclas características das vogais (Hz)
ca que depende de vários fatores, entre outros das carac-
terísticas das paredes anfractuosas do canal faríngeo- Vogal Baixa Alta
emitida freqüéncla freqüéncla
bucal, dos turbilhóes produzidos no fluxo de ar, das di-
ferentes posturas dos órgáos moles bucais e farín- U (aberta) 400 800
geos, do aporte de harmónicas de alta freqüéncia ca-
pazes de criar zonas de ressonáncia etc. Entáo, a im- U (fechada) 475 1.000
pedancia significaria para a laringe urna resistencia que, OU 500 850
se nao for vencida pela pressáo do fluxo de ar expulso,
O 700 1.150
fará com que a emissáo sonora pelas cordas vocais dei-
xe de ocorrer; por isso, a impedancia faríngeo-bucal se- A 825 1.200
ria capaz de introduzir modificacóes no comportamen- E (aberta) 550 1.900
to glótico, tais como o reflexo trigémio-recorrencial.
E (fechada) 500 2.100
Aliás, a impedancia faríngeo-bucal, quando produz dis-
tensáo da glote, o faz como mecanismo protetor das cor- El 550 2.100
das vocais, cuja natureza exata é ainda pouco conhecida. I 375 2.400
As chamadas técnicas vocais estáo baseadas nas
variacóes da impedancia, de maneira a aumentá-Ia,
como, por exemplo, produzindo um alongamento da até chegar a 40 (teoria da dupla ressonáncia); a freqüén-
faringe por descenso da laringe, como o que aumen- cia das vogais é variável (Tabela 33-1).
taria o comprimento total do canal faríngeo-bucal. A A dupla ressonáncia poderia ser avaliada através
impedancia, por conseguinte, representa um fator mo- de trés métodos:
dificador da qualidade da voz e um mecanismo prote-
tor e controlador da funcáo laríngea. Assim, por exem- a) Análise subjetiva dos sons da voz, confirmada
plo, quando a impedancia for baixa, a voz apresenta- por Paget, mostrando a existencia de dois picos nos
se insignificante, apagada; quando for alta, a voz é tonos de cada vogal (dupla ressonáncia);
sombria, cavernosa. A voz habitual depende da regu- b) Registros fotográficos das ondas da voz;
lacáo adequada e dirigida da impedancia. e) Modelos de cámaras ressonantes em série que
Ora, a funcáo estomatognática, fundamental na abrangem urna ampla faixa de tonos, de modo que, quan-
fala, se efetua por meio de variacóes da impedancia. do ligados a urna fonte produtora da nota fundamental,
pode se obter um som semelhante a vogal (Tabela 33-1).
A boca como ressonador
Esta dupla ressonáncia seria determinada na mes-
Urna funcáo importante na articulacáo da voz é a ma articulacáo da voz.
capacidad e da boca de agir como caixa de ressonán-
cia, como se pode evidenciar na emissáo das vogais. Os ressonadores orais
Quando se emitem diferentes vogais, é porque há
No aparelho faríngeo-bucal ou supra-glótico, apa-
variacóes na pressáo e no tono do som ao nível das
rece de fato urna série de espacos que podem com-
estruturas bucais. Contudo, além das modificacóes
portar-se como cámaras de ressonáncia. Os prin-
bucais, a ernissáo das vogais depende inicialmente
cipais seriam os seguintes e resumidos no Boxe 33-1:
da laringe, sem obrigatoriedade de ulteriores modi-
ficacóes do res sonador bucal.

Teoria da dupla resscnáncia Boxe 33-1


Camaras orais de ressonancla
Através de metodologias diferentes, tem sido de- Vestíbulo laríngeo/supraglóticas
monstrado que as vogais consistem em sons que tém urna Espaco epiglótico
nota fundamental (a "formadora") que varia de urna para Espaco retrofaríngeo
outra vogal, e que depende da característica de cada voz Espaco linguopalatino posterior
Espaco linguopalatino anterior
em particular; além disso, a vogal possui duas harmóni-
Espacos vestibulares
cas principais que podem ser de intensidade diferente

463
Fisiologia Aplicada a Fonoaudiologia

Mas, considerando-as no contexto articulador, Rela~ao tonacáo/artlculecéo


seriam estas cama ras ou compartimentos:
A importancia relativa da fonacáo e da articulacáo,
a) Na mesma laringe, o vestíbulo entre as ver- ao formar os sons da fa la, embora nao é conhecida com
dadeiras e falsas cordas; exatidáo. Tern-se estabelecido que o sussurro con-
b) Cámara entre a laringe e a base da língua, siste somente em fenómeno articular, sern a partici-
envolvendo a epligote; pacáo das cordas vocais, pelo que é deduzido que a
e) Espaco entre a parede faríngea, o palato mole fonacáo nao seria essencial na génese dos sons, mas
e a úvula; representaria um importante mecanismo de amplia-
d) Compartimento formado entre o dorso da Iín- vao, conferindo inflexáo e qualidade emocional a
gua e a superfície posterior do palato duro; voz; porém, isso se aplica somente as línguas que
e) Cámara entre o dorso da língua e a superfície podem ser sussurradas, como sáo as línguas ociden-
anterior do palato duro; tais em geral: portugués, ingles, espanhol ou francés,
f) Espaco vestibular entre os dentes e os lábios. excluindo-se outras línguas diferentes como o chinés
ou os dialetos africanos. Nestas últimas, a inflexño é
Aceita-se, em geral, que o tono inferior (me- fundamental, e a fonacáo se torna fator essencial, nao
nor freqüéncia) de urna vogal seja produzido pelas podendo haver sussurro diferente da fala. Nao obs-
cama ras faríngeas de ressonáncia, enquanto aque- tante, trabalhos mais recentes permitem suspeitar de
le tono mais alto (maior freqüéncia) seria produzi- que, de fato, a fonacáo seja importante também no
sussurro, já que, durante sua producáo, há captacáo
do pelas ressonáncias originadas nas cámaras bu-
de potenciais elétricos nos músculos laríngeos e, sob
cais.
laringoscopia, observam-se modificacóes da forma da
glote. Para apoiar estas observacóes, a título de exem-
Poslcáo dos ressonadores orais
plo podem-se considerar as consoantes D e '1', que di-
ferem entre si, somente pelo fato de que a primeira
Na emissño de vogais, o fluxo de ar passa inin-
nao é acompanhada de fonacáo, enquanto a última o
terruptamente, via de regra, sem maior interferen-
é. Ora, se a fonacáo nao interferisse no sussurro, essas
cia da impedancia, que pode variar por interposi-
duas consoantes se confundiriam, mas, na realidade,
cáo da língua, lábios e estruturas faríngeas, ademais
isso nao acontece, pela prévia fonacáo. Pode-se en-
das bochechas e dentes. Além disso, as modificacóes táo concluir que há participacáo das cordas vocais ain-
sáo muito rápidas e variáveis, tornando seu estudo da no sussurro, embora com papel possivelmente me-
muito difícil. Registros oscilográficos da voz mostram nor, nao sendo táo fundamental na compreensáo da
que a onda padráo típica para cada som nao é pro- verbalizacáo, como tem sido postulado.
duzida instantaneamente. Pelo menos, aproximada-
mente 1/4 da duracáo total do som seria preenchido
Emissao de consoantes
por sons intermediários atípicos. Em parte, já no
início da fala, os órgáos da fonoarticulacáo ado-
As consoantes sáo produzidas por interrupcáo da
tam urna posicáo correta, mas, parcialmente ao final,
passagem do ar através da faringe e boca, seja pela lín-
tomam urna posicáo já preparatória para o próximo
gua, dentes ou lábios, provocada basicamente pelo
som. Por exemplo, quando se produz o som "ah", mesmo mecanismo da impedancia. Usando o modelo
parece que as posicóes das estruturas orais seriam in- de Paget, quando se interrompe temporariamente o flu-
significantes quanto as suas modificacóes, mas a ca- xo através de pipas em série, podem-se produzir son s
racterística inicial seria o estreitamento entre a bastante semelhantes as consoantes; por exemplo, se o
epiglote e a parede faríngea, seguida por urna arn- modelo reproduzir "ah", mas for tampado com a palma
pla abertura da boca, que tende a acentuar todos da máo e logo após rapidamente aberto pela rernocáo
os sobretonos, sem ser seletiva. Nas vogais 1 e E, a da máo, haverá emissáo de "pah" ou "bah". As conso-
faringe abre-se e amplia-se, a língua dobra-se ao antes, assim como as vogais, ocorrem por impedancia e
meio e se encosta firmemente contra o palato duro, ressonáncia das cámaras faríngeo-bucais, e seus sons
adotando sua forma. Na vogal U, os lábios térn um também poderiam ser analisados em dois tonos princi-
papel fundamental, assim como as bochechas. Os di- pais. Os sons nasais M, N, NH sáo mais complexos, com-
tongos sáo combinacóes de duas vogais seguidas ra- postos por tres principais, sendo o terceiro produzido
pidamente, de maneira que o movimento executa- quando a boca está obstruída e o som é orientado para
do pelas estruturas orais depende da passagem de as cavidades nasais (sons nasais). Algumas consoantes
urna vogal para a seguinte. como P, B, T e D diferem das vogais pelo fato de que

464
Fisiologia da Fala e da Fonoarticulacáo

as estruturas orais tém que se movimentar enquanto elas freqüéncias que, além disso, fazem variar a caixa de
estáo sendo pronunciadas, havendo assim um cerro grau ressonáncia onde sáo produzidas. É preciso desta-
de velocidade de mudanca do tono, que é precisamen- car que a ressonáncia bucal resultaria fundamental
te o que ajuda a diferenciar estas consoantes. É também para a ernissáo de todas as consoantes.
evidente que as ressonáncias para as consoantes va-
riam de acordo com a vogal a elas associada, possivel- Classifica{:ao das consoantes
mente, pela posicáo adequada e oportuna procurada pe-
la língua, para associar a vogal com a consoante. Nos pa- . As consoantes podem ser classificadas de vários mo-
latogramas, tém sido estudadas as posicóes da língua dos, como pode ser avaliado nos Boxes 33-11 e 33-111.
em relacáo ao palato duro, durante a pronunciacáo das
consoantes. Anthony usou nos palatogramas a distribui-
cyaode um corante aplicado previamente no palato duro. Boxe 33-11
Estes palatogramas sáo usados assim na avaliacáo das Classifica~8o das consoantes, de
mudancas da relacáo língua-palato depois da instalacáo acordo com as estruturas que causam
impedancia ou lnterrupeáo do fluxo de ar
de próteses, por exemplo. Podem-se também avaliar as
pressóes de aplicacáo da língua contra o palato. Es- bilabiais, como B, P e M;
tas pressóes variam entre 35 e 160 g X cm ? durante a labiodentais, como F e V;
fala e entre 140 e 320 g X cm -2 durante a degluticáo. linguodentais, como D e T;
As consoantes diferem umas das outras pela impe- linguopalatais, como G e K.
dancia produzida, dependendo do fato de serem ou nao
acompanhadas de fonacáo. Quando sáo acompanhadas
de fonacáo, chamam-se consoantes vocalizadas; Boxe 33-11I
quando nao o sáo, chamam-se consosantes nao-voca- ClassificaQ80 das consoantes, de
lizadas. Assirn, as principais diferencas entre S e Z, P e acordo com suas características sonoras
B, por um lado, ou F e V, por outro, residem no fato de
que as cordas vocais estáo silenciosas em S, P e F, mas - Nasal, como em N, M ou NH, que requerem obs-
participarn da ernissáo de Z, B e V. Nao obstante, duran- trucáo da boca com passagem nasal aberta;
Lateral, como em L; o ar é toreado a lateral izar-se
te o sussurro das chamadas consoantes vocalizadas (Z,
na boca;
Be V), ocorrem mudancas nas falsas cordas (bandas ven-
Enrolada, como em R;
triculares), com o que muda a ressonáncia produzida pe- Plosiva, como em P, B, T, D, G e K, que requerem
la cámara interposta entre as cordas verdadeiras e falsas. uma completa parada do fluxo de aro Sendo cha-
madas também de consoantes de detencño;
Características de Fricada ou fricativa, como em F e V, que preci-
treqüéncla das consoantes sam só de uma parada parcial;
- Africada ou africativa, como em CH e J, que, em-
bora abrangendo uma parada parcial do fluxo de
Como se pode observar na Tabela 33-11, na ge-
ar, também precisam de liberacáo rápida de aro
nese das consoantes há variacóes importantes das

TABELA 33-11- Características de freqüéncla das consoantes (Hz)

Som Ressonancia Ressonáncia Ressonancia


laríngea nasal bucal

L 250-400 600 2.000-3.000

N 200-250 600 1.400-2.000

NH 200-250 600 2.300-2.600

M 250-300 600 900-1.700

R 500-700 1.000-1.600 1.800-2.400

465
Fisiologia Aplicada ti Fonoaudiologia

Papel das estruturas moles Evolu~ao ontoqénlca da


fonoartlculacáo. Vocaliza~ao
As consoantes labiais sáo produzidas fechando-
se os lábios e, logo após, reabrindo-os abruptamen- A primeira manifestacáo sonora do homem é o
te. Nas consoantes labiodentais, o lábio inferior en- grito do récem-nascido devido a simples reacáo fren-
contra o incisivo superior e é rapidamente remo- te a entrada de ar nos pulmóes.
vido. As consoantes linguodentais sáo produzidas Logo após, aparece a balbuciacáo que represen-
por rernocáo da ponta da língua dos incisivos ou do ta uma expressáo de júbilo e caracteriza-se pelo apa-
palato duro, imediatamente posterior aos dentes. As recimento de consoantes, diversamente do grito, em
consoantes sibilantes, como S, X ou Z, dependem que só há vogais. Neste período, tanto o grito como
da passagem do ar expirado através de um espac;o o balbucio sáo exteriorizacáo de expressóes emocio-
muito estreito, entre a ponta da língua e a parte an- nais independentes das acústicas. Constituem a de-
terior do palato duro, com fonacáo, no caso de Z, ou, nominada vocalizacño,
sem fonacáo, no caso de S, CH e ]. Requerem a Inicia-se entáo a associacáo acústica de sons
maior parte da superfície da língua em con tato com emitidos, ou seja, associacáo sensorial-motora entre
o palato duro, mas permitindo um espac;o mais lar- o som emitido e o som ouvido, o que permite o de-
go do que no caso de S ou Z e, logo após, rápida re- senvolvimento da linguagem, como a imitacáo foné-
tirada da língua do palato. O enrolado R é devido a tica do que é escutado, isto é, repeticáo dos estímu-
rápida vibracáo da ponta da língua. L é produzi- los auditivos (fala, música, ruidos); é o que se deno-
do por desvio do ar expirado do centro da boca para mina período de eco.
ambos os lados. M é som labial, enquanto N seria Quando aparece a compreensáo, e sua ligacáo a
som mais dental, mas com desvio aos condutos na- expressáo verbal, nasce, de fato, a linguagem, ou seja,
sais, havendo ressonáncia nasal durante sua produ- com 12-18 meses de idade. A fa la inicial constitui-se
cáo. Aliás, merece destacar o papel do palato mole. de palavras isoladas; no processo evolutivo, aparecem
Na producáo da maior parte das consoantes (me- as ligacóes, formando frases com sentido. J á, a partir
nos M, N e NH), o palato mole fecha a passagem do sétimo ano de vida, a capacidade infantil para a lin-
da orofaringe para a nasofaringe, por movimentos guagem é similar a do adulto. A partir do que foi ex-
de ascensáo do palato mole, que volta a descer pesto, pode-se salientar a importancia da audicño no
quando cessa a pronúncia destas consoantes. Este processo de aprendizagem e formacáo da linguagem.
movimento parece ser fundamental; acompanha-se
de discreta, mas constante, elevacáo da faringe. Altera~oes fundamentais da linguagem
A elevacáo do palato mole pode atingir total ou par-
cialmente a parede faríngea, especialmente com Além das afasias motora e sensorial, devem-
vogais mantidas. se considerar:

Controle reflexo da artlculaeáo da voz Alexia


É a incapacidad e para ler, que pode, ou nao, ser
Existe um controle reflexo dos movimentos da acompanhada de afasia (motora ou sensorial). Iso-
faringe, e especialmente da boca, durante a verba- ladamente, pode manifestar-se devido a alteracóes
lizacáo. Este controle da articulacáo inicia-se na có- do lobo occipital do hemisfério categórico.
clea, como também em receptores da língua, sen-
do aparentemente estes últimos os mais importan- Dislexia
tes, como se pode avaliar na anestesia da superfície É uma alexia incompleta; o indivíduo afetado nao
da língua, no bloqueio da transmissáo nervosa origi- pode ler além de algumas poucas palavras, entenden-
nada na língua, e ao impedir a acáo do ouvido pela do bem; contudo, com maior quantidade, faz confu-
utilizacáo de ruído intenso em ambos os ouvidos. Sáo sáo, Trata-se transtornos das vias de projecáo anteri-
os reflexos cócleo-oral e glosso-oral. or após a excitacáo dos lobos ocipital e parietal,
A parte anterior da língua é a responsável por
articulacóes complexas, como as de S e CH, porque Altera~oes da evolucáo da linguagem
estruturas dessa regiáo térn mais receptores do tato,
órgáos tendíneos e receptores fusais, do que na par- Durante o desenvolvimento da linguagem, podem
te posterior da língua, responsável por movimentos apresentar-se distúrbios por causas muito va-
. .
mais grossetros. riáveis, como retardo mental, surdez congénita total ou

466
Pisiologia da Pala e da Fonoarticulacáo

parcial, lesóes cerebrais, alteracóes na maturacáo neural, fina do palato mole e dos pilares posteriores da amíg-
perturbacóes congénitas dos órgáos da fonacáo, fatores dala. Pode-se acompanhar de vibracóes dos lábios e das
emocionais ou, o que é muito freqüente, falta de estí- janelas do nariz. Robin determinou que, na maioria das
mulo auditivo ou emocional, fatores que levam a urna pessoas que roncam, há urna obstrucáo do canal nasal,
evolucáo rápida e eficiente da linguagem, como falha que leva a um aumento de resistencia nasal a res-
que acontece em grupos humanos pouco desenvolvidos, piracáo, com ligeira depressáo da ventilacáo pulmonar,
ou em indivíduos isolados de outros seres humanos. queda de pOz e aumento de pCOz, estimulando a ven-
tilacáo pulmonar e determinando maior fluxo de ar
Ronquidao e vibracáo do palato mole, porém baixa freqüén-
cia respiratória. A obstrucáo nasal pode ser produzi-
Trata-se de urna acáo involuntária que se produz da por aumento de tamanho das adenóides e eventual-
no sono de ondas lentas (SOL, náo-Rli.M nas fases III mente, tonsilas, além de rinite vasomotora, deslocamen-
ou IV), e cessa imediatamente com o despertar ou pas- to do septo nasal ou outros defeitos nasais. '1'odavia, a
sagem a fase REM. A ronquidáo é causada pela vibra- depressáo fisiológica respiratória do sono náo-Rlí M
cáo - usualmente durante a inspiracáo - da borda seria um fator importante na determinacáo do ronco.

SINOPSE

1. A linguagem constitui o principal meca- 3. O corpo estriado controla tres níveis mo-
nismo de comunicacáo entre seres humanos.' 1'odo tores da fala: 1) Centro respiratório (grupos dorsal
o córtex cerebral determina a funcáo de expressáo e ventral) da forrnacáo reticular bulbar, determi-
lingüística; porém, tres áreas parecem essenciais nando inspiracáo profunda e expiracáo prolonga-
na expressáo verbal: primária de Broca (frontal), da; 2) Núcleo motor do vago, que, através do
secundária de Wernicke (temporal) e terciária de nervo recorren te, modifica a funcáo laríngea ou
Penfield (frontal superior). fonacáo; 3) Núcleos mesencefálico e supra-
2. Através do córtex motor pré-central - trigeminal da forrnacáo reticular mesencefálica-
correspondente ao controle da motricidade oro- pon tina, controlando a musculatura estorna-
facial- inicia-se a fala, atuando como gatilho do tognática: articulacáo da voz.
programa motor verbal iniciado pelos núcleos 4. Há controle da fonacáo por reflexos origina-
basais - preponderadamente o corpo estriado dos na laringe (músculos e articulacóes) e na boca
- cerebelo e núcleo rubro. Há interferencia do (reflexos trigémio-recorrencial, cócleo-recorrenci-
hipotálamo conferindo o tono afetivo da ver- al). Reflexos originados no mesmo sistema estorna-
balizacáo. tognático modulam a articulacáo da voz.

Referencias Bibliográficas

1. BENEDIDKTSSON, E. Variations in tongue and jaw 4. CURRY, R. The mechanism ofthe human voice. Lon-
position in S sound production in relation to front teeth don, ChurchilI, 1940.
occlusion. Acta Odont. Scand., 15:275, 1957. S. EMMELIN, N. & ZOTl'ERMAN, Y. Oral Physiology.
2. BOND, E.K. & LA WSON. W.A. Speech and its rela- Oxford, Pergamon Press, 1972.
tion to Dentistry. Dental Pract., 19:75; 113; 150, 1969. 6. FAABORG-ANDERSEN, K. Electromyographic in-
3. COOPER, S. Muscle spindles in the intrinsec muscle vestigation of intrinsec laringeal muscle in humans. Acta
of the togue. J. Physiol. (London), 122: 193, 1953. Physiol. Scand., 41: Suppl. 140, 1957.

467

Vous aimerez peut-être aussi