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EM FOC

A Revista do Ensino Médio da Editora do Brasil ANO 1 • 2017


EDIÇÃO 1

OPINIÃO DO PROFESSOR:
O QUE VOCÊ ACHA QUE DEVE
MUDAR NO ENSINO MÉDIO?

DIVERSIDADE EM SALA DE AULA

TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO
Escola Bosque implanta plataforma da Microsoft
Education e mostra resultados surpreendentes

OS DESAFIOS DO NOVO ENSINO MÉDIO


Fique por dentro de tudo o que está acontecendo com a BNCC
NOSSO COMPROMISSO
COM A EDUCAÇÃO
BRASILEIRA COMEÇA
PELO NOME.

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Kelly Cardoso
Professora do
Ensino Médio
SÉRIE BRASIL
O ENSINO MÉDIO
NA MEDIDA CERTA

Saiba mais: 
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impressos de Revisão digitais exclusivo

A Série Brasil – Ensino Médio tem como propósito contribuir para a formação
de cidadãos conscientes de seu papel na transformação da sociedade. O projeto
apresenta um conjunto de propostas que privilegia tanto a assimilação dos
conteúdos curriculares como o exercício de uma postura crítica, possibilitando
ao aluno construir uma opinião independente e uma leitura própria do mundo.
Ensino Médio EM FOCO
A Editora do Brasil lança a revista EM Foco com o
objetivo de levar aos educadores os assuntos mais
atuais sobre o Ensino Médio.

Esta primeira edição traz um material completo sobre


a BNCC – Base Nacional Comum Curricular. Essa diretriz
estabelece conhecimentos, competências e habilidades
que todos os estudantes deveriam desenvolver ao longo
da escolaridade básica.

Contamos com diversos especialistas da área


educacional para opinar sobre o tema e conversamos
com professores do Ensino Médio para entender o que
pensam sobre todas essas mudanças.

Além da BNCC, há um assunto que muito se discute


no Brasil, porém ainda avança lentamente: o uso
da tecnologia em sala de aula. Conversamos com a
diretora e a coordenadora pedagógica da Escola Bosque,
em São Paulo, instituição que implantou a plataforma
da Microsoft Education e conseguiu envolver toda a
comunidade escolar em menos de um ano.

A revista EM Foco deseja levar a você, educador,


informações que gerem reflexão e, desse modo,
contribuam para seu dia a dia em sala de aula.

Boa leitura!

Helena Poças Leitão


Gerente de Marketing da Editora do Brasil
SUMÁRIO
36
TEMPOS MODERNOS,
TEMPOS DE SOCIOLOGIA
A Sociologia, assim como a Filosofia,
deixou de ser obrigatória em 2008. O que
isso significa para o futuro da disciplina?

8 OS DESAFIOS DO NOVO
ENSINO MÉDIO

40
Uma reflexão sobre os possíveis LANÇAMENTOS DE GRAMÁTICA E
caminhos do Ensino Médio no Brasil. QUÍMICA COMPLETAM A SÉRIE BRASIL
A Editora do Brasil apresenta as
novidades da coleção de livros didáticos

12
OPINIÃO DO PROFESSOR do Ensino Médio que conquistou escolas
Professores respondem ao em todo o país.
questionamento: “O que você acha que
deve mudar no Ensino Médio?”

42
TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO

14 BNCC DO ENSINO MÉDIO Escola Bosque implanta plataforma


Entenda as mudanças propostas e da Microsoft Education e mostra
confira opiniões sobre o tema resultados surpreendentes

18
A HISTÓRIA E A LUTA PELA PLURALIDADE

46
O currículo de História da BNCC foi ponto PROFESSOR: O VERDADEIRO AGENTE
central de um debate importante, mas ainda QUE FARÁ A BNCC ACONTECER
pouco compreendido: a luta pela pluralidade. Na opinião de formadores, a garantia do
direito à educação, como prometido pela
Base Nacional Comum Curricular (BNCC),

20
TECNOLOGIA: PROTAGONISTA OU só vai se confirmar se a formação dos
CENÁRIO EM SALA DE AULA? professores prepará-los para a nova
A pedagoga Francisca Paris ajuda a refletir dinâmica em sala de aula.
sobre tecnologia e a resistência dos educadores
em inseri-la em sala de aula.
Coordenação
Helena Poças Leitão

26
DIVERSIDADE EM SALA DE AULA
Saber lidar com a diversidade em suas várias Jornalista Responsável
dimensões é um aspecto crucial para o êxito Tânia Pescarini (MTB 0077719)
do processo de ensino e aprendizagem.
Produção de textos
Tânia Pescarini

30
ENTREVISTA
Ocimar Alavarse, professor e pesquisador na Edição de Arte e Diagramação
Faculdade de Educação da Universidade de São Z1 Propaganda
Paulo (FEUSP), fala sobre os tipos de avaliações
educacionais brasileiros, as dificuldades para Revista EM Foco é uma publicação gratuita voltada para
implantá-las e a efetividade de seus resultados. professores do Ensino Médio.
7
OS DESAFIOS DO
NOVO ENSINO MÉDIO
Não existe uma resposta única para os desafios que o Ensino Médio
enfrenta no Brasil. Entretanto, mudanças significativas passam,
necessariamente, por melhores formação e condições de trabalho para os
professores, além de uma cultura de valorização do conhecimento.

O Ensino Médio (EM) no Brasil não vai bem: altas lhor caminho para o Ensino Médio aqui no Brasil,
taxas de evasão escolar, notas baixas em avaliações precisamos levar em conta as realidades sociais e
unificadas, violência. A Medida Provisória no 746 culturais plurais dos nossos jovens. Afinal, o Brasil
(2016), agora transformada em Lei no 13.415/2017, tem muitas faces e é relativamente recente o proje-
tenta combater o que é encarado por diversos es- to de contar com todos os adolescentes entre 15 e
pecialistas como um dos principais problemas do 17 anos na escola.
Ensino Médio em nosso País: a falta de atrativida-
de da escola para os jovens. Por isso, o currículo ENSINO MÉDIO PARA TODOS: UMA META RECENTE
foi flexibilizado, instituindo 5 diferentes itinerários
Até a década de 1970, no Brasil, o Ensino Mé-
formativos. O diagnóstico de falta de atratividade
dio era um luxo a que tinham direito somente os
da escola apoia-se em diferentes pesquisas. Uma
filhos da elite que pretendiam seguir rumo à uni-
delas, organizada pela Fundação Victor Civita — O que
versidade. Naquela época, essa etapa do ensino era
pensam os jovens de baixa renda sobre a escola? —,
dividida entre o científico, o clássico e o normal.
indica que, muitas vezes, os adolescentes não veem
A universidade era restrita até mesmo a mulhe-
sentido na escola. Sem que haja conexão entre a es-
res de famílias abastadas: muitas faziam apenas
cola e o projeto de vida dos adolescentes, muitos deles
o curso normal. Essa realidade mudou nas décadas
optam por abandonar os estudos a fim de trabalhar.
seguintes, quando jovens das classes trabalhadoras
A flexibilização do currículo pode ajudar nesse sen-
passaram a cursar o Ensino Médio, em parte devido
a mudanças no mercado de trabalho e na economia
PARA PENSARMOS QUAL SERIA O MELHOR mundial. Ainda hoje, poucos adolescentes concluem
CAMINHO PARA O ENSINO MÉDIO AQUI NO o EM na idade certa (até os 19 anos): apenas 56,7%,
BRASIL, PRECISAMOS LEVAR EM CONTA
segundo o levantamento Todos Pela Educação
AS REALIDADES SOCIAIS E CULTURAIS
PLURAIS DOS NOSSOS JOVENS. (2016). E muitos jovens entre 15 e 17 anos ainda
estão fora da escola: 1,7 milhão, segundo estima-
tivas mais conservadoras. Milhares de outros bra-
tido. No entanto, o mesmo documento lembra que
sileiros continuam presos no Ensino Fundamental.
a falta de atratividade está ligada a outros fatores,
como infraestrutura precária e falta de seguran- Em outras palavras, o Brasil ainda não alcançou a
ça, pouco uso e baixa valorização da tecnologia universalização do Ensino Médio. Contudo, a cara
em sala de aula, absenteísmo e falta de contato dessa etapa da educação básica mudou, seja por
com o professor. Para pensarmos qual seria o me- fatores geracionais, tecnológicos ou de composi-
8
Os desafios do Novo Ensino Médio

ção socioeconômica. Talvez porque os professores


especialistas venham de um sistema de ensi-
no superior que ainda é elitizado e de cursos de
licenciatura onde o trabalho com habilidades socio- “ACHO QUE TEM MUITA GENTE
emocionais e relacionais é negligenciado em nome PENSANDO EM UMA FORTE GUINADA
do conteúdo, a escola de EM não concluiu um ciclo RUMO AO ENSINO A DISTÂNCIA”,
AFIRMA EDGAR LYRA.
de adaptação completa à realidade cultural, social
e econômica das novas comunidades que nela in-
um dos pontos mais problemáticos da reforma.
gressaram. Faltam também recursos materiais e
Na Alemanha, onde notoriamente se oferece um
humanos para cumprir o que está no papel: mais
dos melhores ensinos profissionalizantes do mundo,
especificamente, faltam professores de Física, Quí-
a realidade é completamente diferente da do Bra-
mica, Biologia, Matemática, Sociologia, Artes, Filo-
sil. O País europeu tem uma das indústrias mais
sofia, História e Geografia com formação adequada
bem desenvolvidas da do mundo, e seu modelo de
para atender à demanda dos alunos já matriculados
educação profissionalizante — uma parceria entre o
no EM. De acordo com o Censo escolar, a única dis-
setor produtivo e as escolas — é fruto de um sis-
ciplina em que parece haver professores suficientes
tema que data do século XVIII, criado na antiga
é a de Língua Portuguesa.
Prússia. Para o Brasil, teríamos que pensar um
novo modelo. “Acho que tem muita gente pensando
A LEI No 13.415/2017 E SEUS DESAFIOS
em uma forte guinada rumo ao Ensino a Distância.
Não se sabe ainda exatamente como será imple- Vejo os percursos profissionalizantes e penso se já
mentada a Lei no 13.415/2017, e são muitos os não há muita gente se preparando para vender cur-
desafios que se apresentam nessa nova etapa para sos como Contabilidade e Design Gráfico no modelo
a Educação. O que sabemos, por enquanto, é que a distância ou semipresencial”, afirma Lyra. Garan-
as redes e escolas particulares terão algum tem- tir que todos os alunos possam, de fato, escolher
po para se adaptar. Como a Base Nacional Comum seus percursos formativos pode ser um tanto pro-
Curricular (BNCC) e a reforma não podem bater de blemático. Além da falta de recursos financeiros e
frente, será preciso aguardar o texto final da base humanos, há também desafios logísticos. “Mais
para que as escolas e redes definam suas novas de 50% dos municípios no País têm somente uma
matrizes curriculares. A partir daí, diversos cami- escola de Ensino Médio. Como fazer? Deveremos
nhos poderão ser seguidos. Edgar Lyra, professor e oferecer todas as opções?”, indaga Lyra.
pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Segundo Olavo Nogueira Filho, gerente geral
Rio de Janeiro (PUC-Rio) e membro da comissão da ONG Todos Pela Educação, a autonomia dos
que ajudou a definir a BNCC de filosofia até 2016, estados na implementação da reforma é um pon-
conta que, no estado do Rio de Janeiro, um pro- to positivo. No entanto, essa é uma mudança que
grama piloto que envolve 3 escolas propôs a opção pode ser demasiado complexa para o corpo técnico
de empreendedorismo para o percurso formativo de alguns estados brasileiros, o que tende a gerar
profissionalizante. Em São Paulo, algumas escolas cenários muito desiguais regionalmente. “De fato,
de tempo integral organizam o tempo em torno de será viável ofertar todos os cinco percursos forma-
projetos interdisciplinares, a exemplo do que seria tivos em todas as escolas? Pode ser que algumas
feito em uma iniciação científica. A oferta do ensino escolas ofertem apenas um itinerário”, alerta Olavo.
profissionalizante em larga escala parece ser, aliás, Um documento publicado pelo Instituto Unibanco
9
alerta para o risco de que uma implementação mal dos países considerados referência em educação
cuidada agrave as desigualdades no sistema de en- pública por suas altas notas em avaliações e pela
sino, que já são enormes. Se no Reino Unido, um satisfação das famílias com o sistema de ensino. Lá
país socialmente menos desigual que o Brasil, o en- também se oferece mais de um itinerário formativo:
dereço postal da família é fator determinante para o estudante pode entrar na escola vocacionada ou
a carreira que os jovens escolherão — historiador, na acadêmica. Entretanto, é possível aos finlandeses
pedreiro, matemático, etc. —, que efeito teria um ingressar na universidade mesmo tendo cursado o
sistema desse tipo aqui no Brasil, onde o Censo de itinerário vocacional e apenas 10% dos aspirantes a
2010 mostra que um em cada quatro brasileiros é professores conseguem vaga como docente. A Co-
analfabeto funcional? reia do Sul é outra nação em que os alunos podem
escolher entre o Ensino Médio vocacional e o aca-
Há ainda quem relute em reconhecer a Lei no
dêmico, voltado para o ingresso na universidade. O
13.415/2017 como uma reforma. Ocimar Alavarse,
sistema é competitivo, voltado para resultados em
pesquisador e professor da Universidade de São
avaliações objetivas. No entanto, cada um desses
Paulo (USP), acredita que a nova legislação engana
países tem história e cultura únicas, e copiar mo-
ao dar a impressão de que os jovens terão muitas
delos estrangeiros passa longe de garantir sucesso
opções para escolher quando, na verdade, faltam
recursos humanos e materiais nas escolas públicas. no projeto de melhoria da qualidade da educação
“A legislação [em vigor até o ano passado] já permi- pública no Brasil. “É hoje muito comum ouvir falar,
te algumas diferenciações”, diz. “Claro que devemos especialmente nos grandes meios de comunicação,
ouvir os jovens. Mas se vende a ilusão de que os sobre o sucesso educacional de países como a Fin-
adolescentes, aos 15 anos, já sabem o que querem lândia, a Austrália e a Coreia do Sul. Só que o êxito
da vida”, lembra Alavarse. Para ele, nas escolas pú- desses países não pode ser aferido à margem de
blicas de Ensino Médio — onde estudam cerca de suas situações históricas e políticas, de seus tecidos
80% dos alunos — observa-se escassez. A escolha, sociais e econômicos, e mesmo de suas demogra-
por outro lado, pressupõe abundância. fias e geografias físicas”, lembra Lyra.

O ENSINO MÉDIO EM OUTROS PAÍSES DESAFIOS E NOVOS CAMINHOS PARA O BRASIL

“A reforma tem dois pontos positivos: ela acerta no Até o momento, não existe consenso a respeito de
diagnóstico de que a escola é pouco atrativa para
o jovem de hoje e está alinhada com o que se faz “OS PROFESSORES PRECISAM DE
em outros países”, afirma Olavo. Ele acredita que o CONDIÇÕES BÁSICAS PARA FAZER UM
modelo único de currículo, em que o jovem deve se TRABALHO DE QUALIDADE”, DIZ LYRA.
adaptar à escola e não o contrário está falhando
com a juventude. No entanto, é preciso lembrar que um modelo único de sucesso para o Ensino Médio.
o Ensino Médio também é um desafio em outros No entanto, a educação de qualidade passa neces-
países e que não existe uma fórmula única para o sariamente pelo investimento e pela valorização
sucesso. das pessoas envolvidas. “Se pensarmos a palavra
‘caminho’ a partir daquilo que mais imediatamente
Nos Estados Unidos, os estudantes são livres para
nos falta, e não a partir de metas, no mais das
montar a própria carga horária. São três as dis-
vezes, abstratas, penso que precisamos primeiro
ciplinas obrigatórias para todos: Inglês (língua
dar aos nossos estudantes — todos os estudantes —
materna), Matemática e História. A Finlândia é um
10
Os desafios do Novo Ensino Médio

O GRANDE DESAFIO DA IMPLEMENTAÇÃO DA BASE


NACIONAL COMUM CURRICULAR E DA REFORMA DO
ENSINO MÉDIO ESTÁ NO PROFESSOR. NO FIM DO DIA,
É ELE QUE FAZ A COISA ACONTECER.
Olavo Nogueira Filho,
Gerente geral da ONG Todos Pela Educação

condições mínimas de estudo, ou seja, facilitar a co- ma Olavo. Hoje, a profissão não é muito atrativa
existência entre sua formação escolar e a realidade por razões já conhecidas: salas superlotadas, pouco
social e cultural em que se inserem”, acredita Lyra.
tempo para planejar atividades, salários ruins, entre
“Também os professores precisam de condições bá-
outras. Mas há razões culturais que podem estar
sicas para fazer um trabalho de qualidade. Nossas
professoras e nossos professores, na imensa maio- atrapalhando, tais como a sociedade que valoriza
ria das vezes, em nenhum sentido dispõem dessas resultados rápidos e posições de liderança, relegan-
condições, seja em termos salariais, seja de tempo do atividades técnicas e conhecimentos a segundo
disponível para uma formação continuada e apri-
plano. Países com educação de alta qualidade são
morada, nem sequer para a preparação das aulas
aqueles em que a profissão docente é valorizada
e avaliações. Não fosse tudo isso já suficientemen-
te ruim, projetos de criminalização das atividades e está entre as mais disputadas. São os casos da
docentes, como o ‘Escola Sem Partido’, podem, se Coreia do Sul e da Finlândia, por exemplo.
forem adiante, tornar o quadro ainda menos atrati-
vo para o magistério”, diz. Talvez não seja necessário olhar muito longe para
ter uma ideia de como tornar o magistério atrativo
“Se pudesse eleger uma etapa do ensino onde mais
para profissionais talentosos. Temos uma história
se acumulam problemas, elegeria o Ensino Funda-
mental II. Muitos problemas atribuídos ao Ensino de sucesso no Brasil mesmo. Aqui, a carreira de
Médio, como alta distorção idade-série vêm lá de professor em universidades federais está entre as
trás”, aponta Olavo. Para ele, uma reforma real do mais disputadas e é valorizadíssima. Seus profissio-
EM envolveria necessariamente um amplo progra-
nais são comprometidos com a produção, exigentes
ma de formação de professores.
com a qualidade do ensino em suas instituições,
Olavo lembra que melhorar a educação significa
respeitados pela sociedade e para eles não faltam
valorizar o professor. “O grande desafio da imple-
oportunidades de crescimento profissional, pessoal
mentação da Base Nacional Comum Curricular e
da reforma do Ensino Médio está no professor. No e intelectual — como viagens, congressos, contatos
fim do dia, é ele que faz a coisa acontecer”, afir- com outras culturas — etc.
11
OPINIÃO DO PROFESSOR:
O QUE VOCÊ ACHA QUE DEVE
MUDAR NO ENSINO MÉDIO?
paração de aulas, entre outros. Logo, não acho
que adianta muito mudar o currículo sem que haja
preocupação em melhorar a infraestrutura da Edu-
cação. Quanto à reforma do Ensino Médio, acho
que ela tem vários pontos em aberto e cito quatro
como exemplos: primeiro, essas questões de infra-
estrutura mal foram comentadas e precisam ser
debatidas. Segundo, de forma simplificada, as es-
colas escolherão quais áreas elas vão querer apro-
Letícia Vieira, fundar: se são as humanas, as biológicas ou todas,
Professora de Geografia do
Ensino Fundamental II e do por exemplo. Mas como será feita essa escolha? Eu
Ensino Médio acho que o vestibular ainda terá papel importan-
te na definição da grade de aulas e me preocupa
“Não devemos pegar os exemplos internacionais
a possibilidade de, em determinadas regiões, não
e aplicar na realidade educacional brasileira sem
haver uma ou outra disciplina disponível para o
refletir sobre nossas particularidades. Por exem-
aluno que queira aprendê-la. E isso é um tercei-
plo, falta infraestrutura nas escolas públicas e pri-
ro problema: como vamos lidar com as diferenças
vadas. Essa é a primeira questão que o governo
regionais e conseguir ofertar todas as possibilida-
deveria enfrentar antes de aumentar carga horária
des do novo currículo a todos os alunos? A quar-
dos alunos. As escolas precisam de infraestrutura
ta questão é que parte do Ensino Técnico poderá
para que professores, alunos e funcionários consi-
ser feito em empresas. Porém, qual proteção legal
gam passar o dia lá: papel higiênico nos banheiros,
os alunos vão ter? Esse estágio será remunerado?
lugar para tomar banho depois de treinos, salas
de estudos, computadores e internet, entre outras Quantas horas o aluno poderá trabalhar? Haverá
coisas. Além disso, o ideal seria que o professor alguma ajuda de custo? Essas regras não estão
pudesse arrumar a sala de forma antecipada para muito claras e corremos o risco de, nesse momen-
a dinâmica de aula que ele pensou. Para isso, seria to, Ensino Técnico ser entendido como uma forma
necessário repensar a sala de aula. Também de- de mão de obra superbarata para as empresas.
veríamos repensar o número de alunos nas salas: Enfim, existem muitas outras questões associadas
com 30, 40 ou mais alunos numa sala, o professor ao Novo Ensino Médio. Porém, eu escolhi algumas
não consegue dar a atenção necessária ao apren- mais básicas para ilustrar o quanto o tema ainda
dizado individual. Também temos que remunerar está incerto. Até acho que existam ótimas pessoas
melhor os docentes e considerar mais o trabalho trabalhando com esse assunto, mas falta transpa-
feito fora da sala de aula: correção de provas, pre- rência e um diálogo mais claro com a população.”
12
Opinião do Professor

Paulo Crispim,
Professor de Sociologia
do Ensino Médio

“O Ensino Médio universalizado


de qualidade. Uma reforma de Ensino Mé-
no Brasil ainda é uma utopia.
dio conduzida sem debate e sem consulta
Em um país que apresenta
aos órgãos e categorias organizadas e
imensas desigualdades, a
suas representações é inconcebível, e os
maioria dos jovens não con-
elementos citados são condição primária
segue encerrar o ciclo básico de
para quaisquer mudanças envolvendo o úl-
ensino. Muitos abandonam a es-
timo ciclo do Ensino Básico. Por fim, defendo
cola justamente nesse período, seja
uma mudança estrutural, e não retórica, acerca
por necessidade econômica, seja pela
dos desafios da educação pública e de qualidade
desvalorização que o conhecimento e o
voltada para o Ensino Básico: radicalizar a demo-
estudo sofrem em um modelo de socieda-
cracia e a participação direta dos atores envolvidos
de consumista. A primeira mudança que deveria
com a prática educacional, incluindo estudantes;
ocorrer seria a transferência das decisões das po-
descentralizar as decisões para os estados a partir
líticas curriculares voltadas para o Ensino Médio
da formação de conselhos deliberativos, que ate-
do MEC para conselhos deliberativos, compostos
nuem a influência e os interesses econômicos em
pela sociedade civil organizada e por sindicatos
detrimento dos interesses políticos; retirar o dis-
dos professores, organizações estudantis, gestores
curso do mercado das Secretarias de Educação,
educacionais, trabalhadores da Educação e repre-
que apresenta exames padronizados, estímulo à
sentantes do poder legislativo do Estado, além de
mediocridade e linguagens oriundas das relações
demais atores envolvidos com a luta diária pela
de trabalho enxertadas na Educação; e demais as-
Educação. Esses conselhos deveriam ter paridade
pectos que acompanhamos diariamente na socie-
de representações, contando, inclusive, com elei-
dade brasileira.”
ções bianuais diretas por parte dos professores da
rede pública básica e professores das universida-
des públicas na área de Educação de cada estado. É
urgente retirar as políticas e as decisões que atin-
gem realidades e contextos distintos dos interesses Ana Paula
privados de grupos econômicos que atuam como de Barros Jorge,
Professora de
lobistas, impondo o discurso, a linguagem e as Língua Portuguesa do
propostas que beneficiam o mercado da Educação Ensino Médio

em detrimento do Direito à Educação preconizado “A dinâmica das aulas.


pela Constituição. Os conselhos com eleições diretas Precisamos buscar mais
garantiriam decisões democráticas sobre as medi- integração entre as áreas
das de estimulo ao Ensino Básico aos verdadeiros de conhecimento e as múlti-
atores da Educação. Defendo a suspensão da BNCC, plas linguagens do mundo de hoje.
que vem sendo desvirtuada para atender a interes- Já não é mais tempo de pensar que as mídias e as
ses escusos de setores organizados e financiados tecnologias não fazem parte do ambiente de apren-
pelo capital estrangeiro e nacional, com o intuito de dizagem. Mais leitura, mais reflexão, mais interação
precarizar, elitizar e manter as assimetrias entre para formar pessoas mais interessantes e capazes
ricos e pobres quanto ao acesso à educação pública de potencializar os seus saberes.”
13
BNCC DO
ENSINO MÉDIO
A iniciativa de compor uma Base
Nacional Comum Curricular que
garanta direitos de aprendizagem
para todos os jovens entre 15 e 18
anos, assim como para os cidadãos
que cursam a Educação de Jovens
e Adultos, é comemorada como
um grande marco para a educação
brasileira. No entanto, para que a
BNCC consiga de fato reduzir as
desigualdades, será preciso investir
na sala de aula e no professor.

Gilda Albuquerque
Professora de História

14
BNCC do Ensino Médio

A Constituição de 1988 garante o direito univer- alunos mais e menos favorecidos do ponto de
sal à educação. A efetivação desse direito, en- vista socioeconômico é grande. Enquanto alunos
tretanto, enfrenta inúmeros desafios de ordem de escolas federais e privadas, cujos pais cursa-
orçamentária e administrativa, seja do ponto de ram Ensino Superior ou Pós-Graduação, podem
vista de recursos humanos, seja da logística. En- ultrapassar os 600 pontos como nota média no
quanto nos últimos 29 anos esforços significati- ENEM, as notas de alunos de escolas municipais
vos foram empregados para ampliar o acesso à ou estaduais, cujos pais não estudaram, nem se-
escola, garantias de aprendizado para as crian- quer alcançam 450 pontos.
ças que estavam na escola também não eram
A lista de desigualdades continua em áreas como
completamente asseguradas. A Base Nacional
infraestrutura, acesso a bens culturais e produ-
Comum Curricular (BNCC) é uma tentativa de ga-
ções científicas, acesso à orientação profissional
rantir o direito ao conhecimento. “A Constituição
e auxílio na formulação de um projeto de vida.
de 1988 estabelece o direito à educação mas não
explica como efetivar esse direito”, afirma Olavo
DESAFIOS: ARTICULAÇÃO COM A REFORMA DO
Nogueira Filho, gerente geral da ONG Todos pela
ENSINO MÉDIO E IMPLEMENTAÇÃO
Educação. “A BNCC é importante para a concre-
tização do direito à educação”, acredita. Na primeira semana de abril de 2017 foram
apresentadas ao Conselho Nacional de Educação
A garantia de que todos os jovens de 15 a 18
(CNE) a BNCC do Ensino Fundamental e da Edu-
anos, além dos alunos matriculados na modali-
cação Infantil. Os documentos trazem marcos
dade Educação de Jovens e Adultos (EJA), terão
como parâmetros de aprendizagem para bebês e
o direito a um conteúdo mínimo é também uma
crianças menores de 6 anos e a obrigatoriedade
tentativa de mitigar um dos principais problemas
do ensino de Inglês. No entanto, a BNCC para o
da educação brasileira: a desigualdade. Alguns
Ensino Médio ainda está em discussão. A expec-
indicadores preocupam nesse sentido. Por exem-
tativa é que sua base chegue ao CNE até o final
plo, o Brasil ainda tem 12,9 milhões de analfa-
de 2017. Assim que a BNCC for aprovada pelo
betos (PNAD/ 2016), pessoas que não conseguem
Conselho e sancionada pelo Ministério da Educa-
ler ou escrever uma sentença simples. Entre essa
ção (MEC), escolas particulares e redes estaduais
população, mais da metade (6,5 milhões) é com-
de ensino deverão elaborar currículos que incor-
posta por idosos com mais de 60 anos. Observa-
porem simultaneamente o novo documento e os
ram-se avanços principalmente nas últimas duas
percursos formativos (Lei no 13.415/2017). A ex-
décadas. O percentual de jovens que concluem o
pectativa é de que 60% do tempo seja dedicado
Ensino Médio (EM) antes dos 19 anos cresceu
à carga regular e 40% à carga horária flexível.
de 41,4% em 2005 para 56,7% em 2014 (PNAD).
Contudo, quando avaliamos as notas do Exame Pensar o conteúdo da Base Nacional Comum
Nacional do Ensino Médio (ENEM), observamos Curricular do Ensino Médio não será uma tarefa
que ainda persistem muitas desigualdades na simples. “Todos os alunos terão todo o conteú-
educação. A diferença entre o desempenho dos do da BNCC nos 3 primeiros semestres. Depois

15
TODOS OS ALUNOS TERÃO TODO O CONTEÚDO DA
BNCC NOS 3 PRIMEIROS SEMESTRES. DEPOIS PODERÃO
ESCOLHER SEUS ITINERÁRIOS FORMATIVOS.
Mariana Guglielmo,
Pesquisadora da Fundação Getulio Vargas (FGV)

HABILIDADES E COMPETÊNCIAS

A Base Nacional Comum Curricular define não so-


poderão escolher seus itinerários formativos”, mente conteúdos básicos a serem ensinados a to-
acredita Mariana Guglielmo, pesquisadora da dos os alunos do Ensino Médio em cada disciplina,
Fundação Getulio Vargas (FGV) e autora de li- como também delimita uma série de habilidades
vros didáticos de História. “Não se sabe se nos e competências. Dez competências gerais da BNCC
diferentes itinerários formativos os alunos irão mobilizam o desenvolvimento interpessoal e intra-
aprofundar conteúdos da BNCC ou se os profes- pessoal, além do cognitivo. Esses três desenvolvi-
sores ensinarão conteúdos extras”, lembra. Tam- mentos deverão ser articulados. Mariana Gugliel-
bém não está definido se a Base vai apontar os mo acredita que esse será um grande desafio para
conteúdos, assim como as habilidades e compe- os professores. “Poucos professores vão conseguir
tências, a serem trabalhados nesses itinerários. articular os desenvolvimentos intrapessoal, inter-
pessoal e cognitivo. Como o professor trabalhará
Outro aspecto desafiador da articulação entre
a resolução de conflitos? Ele não tem formação
BNCC e reforma do Ensino Médio é a transição
para isso”, afirma.
do Ensino Fundamental II para o Ensino Médio.
“A construção do Ensino Médio foi rompida e a Algumas das competências gerais da BNCC tam-
Base do Ensino Médio terá necessariamente que bém esbarram em desafios de infraestrutura.
trabalhar com a BNCC do EF II. Afinal, a Base Por exemplo, o documento menciona o uso cria-
Nacional Comum Curricular é uma só”, lembra tivo e significativo das tecnologias digitais. Se-
Olavo Nogueira. Além disso, para que a Base gundo dados do PNE, em 2015 apenas 22,6% das
chegue às salas de aula, um grande esforço de escolas de Ensino Médio no Brasil contavam com
adaptação dos currículos estaduais e municipais infraestrutura adequada. Para ser assim consi-
deverá ser conjuntamente empregado. O Brasil derada, a infraestrutura de uma escola precisa
tem mais de 5 mil municípios, e elaborar um contar com os seguintes itens: acesso à energia
currículo voltado para cada um deles não é um elétrica; abastecimento de água tratada; rede
processo simples. “Não seria esse o momento de pública de esgotamento sanitário; quadra espor-
os estados pensarem em liderar uma articulação tiva; laboratório de ciências, biblioteca ou sala de
com os municípios?”, indaga Olavo. leitura; e acesso à internet de banda larga.

16
BNCC do Ensino Médio

10 competências Texto extraído da terceira versão


da Base Nacional Curricular

gerais da BNCC
Exercitar a curiosidade intelectual e
Valorizar e utilizar os conhecimentos recorrer à abordagem própria das
historicamente construídos sobre o mundo ciências, incluindo a investigação, a
físico, social e cultural para entender e
1 reflexão, a análise crítica, a imaginação
explicar a realidade (fatos, informações, e a criatividade, para investigar causas,
fenômenos e processos linguísticos, elaborar e testar hipóteses, formular e
culturais, sociais, econômicos, científicos, resolver problemas e inventar soluções
tecnológicos e naturais), colaborando para com base nos conhecimentos das
a construção de uma sociedade solidária. diferentes áreas.
2

Desenvolver o senso estético para Utilizar conhecimentos das linguagens


verbal (oral e escrita) e/ou verbovisual (como
reconhecer, valorizar e fruir as 3 Libras), corporal, multimodal, artística,
diversas manifestações artísticas
e culturais, das locais às mundiais, matemática, científica, tecnológica e digital
e também para participar para expressar-se e partilhar informações,
de práticas diversificadas da experiências, ideias e sentimentos em
produção artístico-cultural. diferentes contextos e, com eles, produzir
4 sentidos que levem ao entendimento mútuo.

Utilizar tecnologias digitais de


Valorizar a diversidade de saberes e
comunicação e informação de forma
vivências culturais e apropriar-se de
crítica, significativa, reflexiva e ética nas 5 conhecimentos e experiências que lhe
diversas práticas do cotidiano (incluindo
possibilitem entender as relações
as escolares) ao se comunicar, acessar
próprias do mundo do trabalho e fazer
e disseminar informações, produzir
escolhas alinhadas ao seu projeto de
conhecimentos e resolver problemas.
vida pessoal, profissional e social, com
liberdade, autonomia, consciência
6 crítica e responsabilidade.

Argumentar com base em fatos, dados e


informações confiáveis, para formular, negociar e
defender ideias, pontos de vista e decisões comuns 7
que respeitem e promovam os direitos humanos e a
consciência socioambiental em âmbito local, regional
e global, com posicionamento ético em relação ao Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física
cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. e emocional, reconhecendo suas emoções e as dos
outros, com autocrítica e capacidade para lidar com
8 elas e com a pressão do grupo.

Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de


conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e
promovendo o respeito ao outro, com acolhimento
e valorização da diversidade de indivíduos e de
grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas 9 Agir pessoal e coletivamente com
e potencialidades, sem preconceitos de origem, autonomia, responsabilidade,
etnia, gênero, idade, habilidade/necessidade, flexibilidade, resiliência e determinação,
convicção religiosa ou de qualquer outra tomando decisões, com base nos
natureza, reconhecendo-se como parte conhecimentos construídos na escola,
de uma coletividade com a qual deve segundo princípios éticos democráticos,
se comprometer. 10 inclusivos, sustentáveis e solidários.

17
A HISTÓRIA E A LUTA
PELA PLURALIDADE
O currículo de História da Base Nacional Comum Curricular foi
ponto central de um debate importante, porém pouco compreendido:
a luta pela pluralidade. Duas leis — a Lei no 10.638/2003, que
estabelece a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Africana e
Afro-Brasileira, e a Lei no 11.645/2008, que modifica e complementa
a Lei anterior, tornando obrigatório o ensino de História e Cultura
Africana, Afro-Brasileira e Indígena —, tentam equilibrar uma
narrativa compatível com a sociedade plural em que vivemos e
com métodos internos da disciplina.

Para uma criança parda, negra ou indígena no da mais sofisticada, precisaria ser assimilada por
Brasil, é quase impossível não se sentir deslo- qualquer cidadão com ambição de conquistar um
cado dentro da própria pátria diante da enorme bom emprego, além de sucesso material e social,
representatividade de crianças e adultos brancos uma vez que nossas instituições e nossos mo-
na televisão, no cinema, em anúncios, revistas e delos econômico e político são influenciados por
livros didáticos — sem mencionar as inúmeras re- construções ocidentais. Daí sua proeminência na
ferências culinárias, comportamentais e de moda, literatura escolar e acadêmica. Mesmo quando se
que pouco têm a ver com a natureza e o clima falava sobre cultura e literatura indígena e africa-
que vivenciamos aqui. A criança não precisa ser na, os assuntos eram tratados por meio de uma
negra, parda ou indígena para estranhar o Papai perspectiva europeia.
Noel sentado em uma cadeira cercada por neve
falsa e vestindo uma roupa desconfortável en- Nos últimos anos, no entanto, observamos um
quanto o termômetro marca 30˚ C. Esse processo, movimento de recuperação da História e da cul-
conhecido como aculturação, ocorre quando duas tura de povos africanos e de nativos americanos,
ou mais culturas se encontram e um grupo abre culminando na criação das Leis no 10.638/2003,
mão de sua cultura para assimilar outra. Em um que estabelece a obrigatoriedade do ensino de
contexto histórico de colonização, uma cultura é História e Cultura Africana e Afro-Brasileira, e
colocada como superior, enquanto as demais são no 11.645/2008, que tornou obrigatório o ensi-
relacionadas ao “subdesenvolvimento”. Foi o que no de História e Cultura Africana, Afro-Brasileira
aconteceu no Brasil e no restante das Américas, e Indígena. Não é um movimento que acontece
de maneira geral. A cultura europeia, considera- somente no Brasil: o Fundo das Nações Unidas
18
A história e a luta pela pluralidade

“AS DUAS PRIMEIRAS VERSÕES DA BNCC


DE HISTÓRIA TINHAM UMA ÊNFASE MUITO da tradição e da metodologia própria à disciplina.
GRANDE NOS CONTINENTES AFRICANO E “Do ponto de vista da diversificação das narrati-
AMERICANO”. vas, é interessante essa repartição da História em
três eixos geográficos. Porém, do ponto de vista
científico e interno da disciplina, há vários desa-
para a Infância (UNICEF) publicou uma série de fios na descentralização do Foco da disciplina de
livros sobre a História Geral da África, um traba- História”, afirma.
lho de pesquisa que se iniciou em 1964. É natural
que essas novas diretrizes se reflitam na Base “Em primeiro lugar, essa disciplina, como conhe-
Nacional Comum Curricular (BNCC). Em História, cemos, nasce na Europa. É lá que se originou a
particularmente, as primeiras versões da BNCC tradição de se documentar os acontecimentos do
passado de maneira ao mesmo tempo plural e
para o Ensino Fundamental (EF) trouxeram uma
sistemática. Em segundo lugar, há a questão da
ruptura muito grande, o que gerou controvérsia.
falta de registros escritos (nos continentes africa-
“As duas primeiras versões da BNCC de História
no e americano), que são extremamente impor-
tinham uma ênfase muito grande nos continentes
tantes no método científico”, argumenta. Ou seja,
africano e americano. Foi uma tentativa de se
é preciso sempre tomar cuidado com a viabilidade
afastar do eurocentrismo. No entanto, a ruptu-
da narrativa e também com o respeito aos mé-
ra foi considerada muito extrema, o que gerou
todos internos da História. “Todavia, já existem
críticas”, afirma Mariana Guglielmo, professora
algumas pesquisas de alta qualidade sobre o as-
e pesquisadora de História na Fundação Getulio
sunto, capazes de subsidiar um currículo sólido”,
Vargas e uma das autoras da coleção História
conclui.
em Curso. Segundo ela, no EF acabou-se optando
pela permanência de temáticas mais tradicionais. Caffagni ainda observa que a narrativa histórica
Por outro lado, a História da Ásia acabou ficando é sempre uma escolha política. “A História é uma
de lado, entrando com mais força somente no 8o construção de narrativas, e isso é um exercício
ano. Na terceira versão da BNCC do Fundamental, político. No limite, sempre se opta por tornar vi-
segundo Mariana, tentou-se atingir um equilíbrio síveis alguns aspectos em detrimento de outros”,
maior. “A História da África, das Américas, da afirma. Um dos exemplos mais salutares é a His-
Ásia e da Europa estão totalmente conectadas — e tória do Antigo Egito. Tradicionalmente, sempre
focar nessas conexões é importante”, acredita. se incluiu a História desse povo no estudo da ci-
vilização europeia, pois se reconhece nela uma
das fontes da cultura ocidental. Já afrocentristas
DIVERSIDADE, CIÊNCIA E CAMPO
veem nessa narrativa uma tentativa de diminuir a
DE DISPUTA POLÍTICA
importância da contribuição da África para as ci-
Lou Guimarães Leão Caffagni, doutorando em ências, a religião, o comércio e a escrita. De fato,
Educação pela Universidade de São Paulo (USP), a disputa em torno do Antigo Egito tornou-se o
estuda a diferença no currículo. Ele pondera que, epicentro de inúmeras polêmicas envolvendo os
apesar do ganho social notável com a aprovação afrocentristas — que reivindicam mais espaço
da legislação e com a diversificação das narrativas para a África no currículo escolar — e aqueles que
históricas, não se pode negligenciar a importância criticam o movimento.
19
TECNOLOGIA:
PROTAGONISTA OU CENÁRIO
EM SALA DE AULA?
Os ideais da “escola nova”, centrados no aluno e na aprendizagem
individual e propostos há mais de cem anos, ganham materialidade a
partir do advento da tecnologia.

FRANCISCA PARIS, PEDAGOGA E MESTRA EM EDUCAÇÃO

A tecnologia possibilitou transformações em nos- aumenta, de modo que esses aparelhos hoje po-
so mundo de modo antes inimaginável. dem ser considerados instrumentos facilitadores,
podendo apoiar o aprendizado de maneiras inusi-
Dispositivos móveis fazem parte de nossa vida,
tadas, tanto fora como dentro das salas de aula.
provendo um acesso sem precedentes à comu-
nicação e à informação. Hoje, grande parte da Apesar do reconhecido conceito sobre seu poten-
população usa aplicativos nos dispositivos mó- cial educativo e de aprendizagem, os dispositivos
veis, e há estimativas de que a quantidade de móveis costumam ser banidos de escolas, princi-
dispositivos móveis já supere o número total da palmente durante as aulas, momento legítimo e
população mundial. instituído de organização de situações de aprendi-
zagem. Proibições como essa baseiam-se no jul-
Muitos usuários afirmam que o WhatsApp, o
gamento de que os dispositivos móveis são noci-
LinkedIn, o Spotify e o aplicativo de navegação
vos à aprendizagem escolar.
Waze são muito importantes em seu cotidiano.
Em outras palavras, as pessoas argumentam que Há, entre os professores, uma percepção de que o
precisam de aplicativos de smartphone voltados celular atrapalha o andamento das aulas, assim
para muitos aspectos de sua existência, do trans- como queixas de que os telefones celulares distra-
porte ao entretenimento, e de redes sociais para em os alunos. É possível. Porém, sem os telefones
conexão com seus grupos de amigos. celulares, os estudantes também se distraem; a
diferença é que antes eles se distraíam com ou-
O uso de aplicativos propagou-se, sobretudo, en-
tras ocorrências. Algo que também pode causar
tre os jovens. Pesquisas de mercado revelam que
a distração nos alunos é o desinteresse pelo as-
mais de 80% dos adolescentes entre 15 e 17 anos
sunto discutido em sala, e não necessariamente
de idade têm smartphones. 
a presença de um telefone celular. Professores
Assim, podemos observar que à medida que os também compartilham da ideia de que os alunos
dispositivos se tornam mais robustos, funcionais podem usar celulares para colar. É provável que
e baratos, o potencial pedagógico deles também sim. Entretanto, eles copiarão as respostas se es-
20
tecnologia: protagonista ou cenário em sala de aula?

tiverem diante de atividades que permitem ou es-


timulem somente a memorização. Em atividades
operatórias que demandam um complexo proces-
so cognitivo, nas quais o aluno precisa pensar e
elaborar respostas próprias, praticamente não há
como colar.
Todavia, o fato de alguns educadores já aliarem o
Para reconstruirmos tais opiniões é fundamental uso do celular e a aprendizagem dos alunos é bas-
que a implementação de projetos de aprendiza- tante significativo e positivo, especialmente pelos
gem móvel e seus modelos pedagógicos não se- resultados observados.
jam orientados apenas pelas vantagens e limita-
Tecnologias móveis podem ajudar os alunos a
ções das tecnologias móveis mas também pela
percepção de como as tecnologias se encaixam no descobrir o mundo a sua volta e desenvolver suas
planejamento pedagógico, na estrutura didática próprias soluções para problemas reais, enquanto
das aulas e, consequentemente, na aprendizagem trabalham com colegas sob a orientação de pro-
efetiva dos alunos. A tecnologia deve ser transpa- fessores. Precisamos propor o uso dos celulares
rente em sala de aula. Ela nunca deve ser prota- como ferramentas para os alunos aperfeiçoarem
gonista, apenas cenário; ela deve ser somente um seus trabalhos, já que o celular dispõe de gravador
meio para que a educação escolar seja efetivada, de voz, imagem e vídeo, ou seja, é uma ferramen-
servindo como apoio pedagógico e elemento didá- ta de registro, edição e publicação, que pode ser
tico facilitador. utilizada também para reforçar e socializar aquilo
que foi transmitido para a turma.
O tempo e o uso cotidiano têm se encarregado de
ensinar professores e alunos a tirarem melhor pro- Novas tecnologias de visualização nas salas de
veito dessa tecnologia, que antes era vista apenas aula levam a novos saberes sobre os fenôme-
como uma ameaça à disciplina dos alunos, pela nos. Por exemplo, existem alguns aplicativos que
tentadora distração que os aparelhos são capazes utilizam a capacidade de captura de imagens de
de provocar com todas suas funções, aplicativos smartphones e outros dispositivos móveis para
e encantos que exercem sobre todos — e especial- auxiliar alunos de Botânica a identificar diversos
mente sobre os jovens. Contudo, de uns tempos tipos de árvores e plantas que encontram no seu
para cá, muitos professores estão sabendo tirar dia a dia, no entorno da escola.
proveito disso, usando as tecnologias disponíveis
Entretanto, para além do acesso a oportunidades
como atrativo para transmitir conteúdo e ensina-
educacionais mediante a disseminação de conte-
mento aos alunos.
údo, o mais essencial para a educação escolar é
Esse avanço já pode ser verificado em algumas es- o fato de que os recursos de personalização das
colas pelo país. Basta uma rápida pesquisa sobre tecnologias móveis permitem a alunos com habi-
esse tema pela internet, especialmente em sites lidades diferentes ou em diversas etapas de de-
de notícias, e já é possível encontrar vários casos senvolvimento progredirem em seu próprio ritmo.
acerca do uso do celular em sala de aula que po- Os ideais da “escola nova”, centrados no aluno e
dem servir de exemplo. Não é que uma nova me- na aprendizagem individual e propostos há mais
todologia tenha sido adotada nessas escolas por de cem anos, ganham materialidade a partir do
todos os professores e em todas as disciplinas. advento da tecnologia.
21
O tempo da aula não é o tempo de aprendiza- Já sobre o fato de que, em determinados casos,
gem. Muitos aspectos administrativos diminuem muitos alunos optam apenas por se dar ao traba-
os tempos letivos. Uma coisa muito simples que lho de copiar e colar os textos que encontram na
pode ampliar significativamente esses tempos de internet, sem realizar verdadeiramente uma pes-
aprendizagem real é a permissão para fotografar quisa mais aprofundada sobre o tema proposto
anotações importantes da lousa. Essa ação possi- em sala de aula, acreditamos que esse não é um
bilita mais tempo útil de aula, ou seja, abre espa- problema exclusivo da internet. Antigamente, os
ço para mais discussões e reflexões. alunos copiavam a mão páginas e mais páginas
de enciclopédias, por exemplo. Cabe aos educado-
Sobre o uso da internet para as pesquisas esco-
res buscarem um modo de identificar e de coibir
lares, é importante ressaltar que apesar de ter
essa prática, mas, acima de tudo, de despertar
se tornado o principal meio de pesquisa para
nos alunos o real sentido e interesse pela pesqui-
trabalhos escolares, e, para muitos, provavel-
sa. Pesquisar é muito mais do que dar CTRL C +
mente o único, é preciso mostrar aos alunos que
CTRL V. Esse seria só o começo de uma pesquisa.
esse recurso deve ser encarado apenas como
Depois de coletadas e checadas as informações,
mais uma ferramenta de pesquisa — e com res-
tratar analiticamente os dados obtidos à luz de
salvas. Devemos lembrá-los de que nem tudo o
um referencial é verdadeiramente pesquisar.
que está na internet é verdadeiro, ainda mais
na Era da Pós-Verdade, em que os sites são A recomendação é também para que os profes-
remunerados por cliques, e muitas informações sores não atuem apenas nas duas pontas, isto
falsas ou equivocadas circulam livremente. Ou é, pedir aos alunos que façam o trabalho e, por
seja, deve-se ter muito cuidado com o que e fim, apenas avaliem o que foi feito, dando nota à
onde se pesquisa. É sempre importante con- pesquisa apresentada. É importante que os pro-
frontar as informações apresentadas na web fessores busquem acompanhar todo o processo,
com outras fontes também. orientando os alunos sobre qual caminho seguir,
22
tecnologia: protagonista ou cenário em sala de aula?

oferecendo dicas de obras e bibliografias, entre


outras maneiras que possam colaborar com o tra-
balho que está sendo desenvolvido pela turma e
ainda incentivá-la nessa tarefa.

Para realizar uma boa pesquisa escolar, o alu- “É NECESSÁRIO ESTABELECER


no deve selecionar o maior número possível de DISCUSSÕES SOBRE QUESTÕES ÉTICAS
E MORAIS ENVOLVIDAS NO USO DE
informações a respeito de determinado assunto,
IMAGENS E REGISTROS, BEM COMO O
ler com muita atenção tudo o que conseguir en-
USO INDEVIDO DOS CELULARES E DE
contrar sobre o tema e interpretar as informa-
OUTROS EQUIPAMENTOS DE MÍDIA.”
ções coletadas da maneira mais crítica possível.
É importante, principalmente, que o texto seja
redigido pelo próprio aluno com uma linha de perceber, esses alunos acabam aprendendo de
raciocínio muito clara, apresentando, de modo maneira intuitiva.
lúcido, suas ponderações a respeito do tema e
Por fim, mas não menos importante, é necessá-
suas conclusões.
rio estabelecer discussões sobre questões éticas e
Vale ressaltar que essa mudança cultural se deve morais envolvidas no uso de imagens e registros,
também porque muitos professores em ativida- bem como o uso indevido dos celulares e de outros
de, especialmente aqueles que atuam na educa- equipamentos de mídia. E, por último, faz-se ne-
ção não universitária, pertencem a essa geração cessário estabelecer claramente regras de uso dos
tecnológica. Logo, esses docentes dominam as celulares durante as aulas. Também fazemos isso
novas tecnologias tão bem quanto seus alunos, quando estabelecemos outras regras de convivên-
pondo fim à resistência que era notavelmente cia na escola. O celular é parte do nosso cotidiano
observada entre os professores veteranos. Com e ensinar os discentes a usá-lo é também parte da
isso, a ideia de que nenhuma tecnologia ou mo- nossa tarefa como educadores.
dernidade é capaz de substituir a capacidade
Não há como retroceder. A educação está em
de ensinar dos livros já não é mais tão forte
pleno processo de transformação com o uso de
como antes. Está entendido que uma forma de
novas tecnologias. O aprendizado atravessou as
aprendizagem não substitui a outra, mas que
paredes das escolas por meio dos dispositivos
elas podem ser agregadoras e complementares
móveis disponíveis nos dias de hoje. E é justa-
a seu modo.
mente essa nova realidade que tem levado países
E o que se nota no ambiente virtual é que esse mais desenvolvidos, como os Estados Unidos e a
universo não para de crescer. Estima-se que, hoje, Inglaterra, por exemplo, a elevarem seus gastos
existam mais de 100 mil aplicativos educacionais. públicos em tecnologia. No Brasil, infelizmente,
Muitos deles são gratuitos, o que fomenta ainda a expectativa é de que os investimentos não se-
mais seu uso pelos professores em sala de aula jam tão significativos nem em tecnologia, nem
e também pode motivar os alunos a explorá-los em educação. Entretanto, pelo que vimos, não
fora das escolas. Fascinados pelas novas tecnolo- será pela falta de vontade de muitos educadores
gias, os jovens aprendizes rendem-se até mesmo que deixaremos de avançar nesse sentido. A fala
inconscientemente aos estudos, aprofundando-se magistral, dita quase automaticamente — “Abram
nos temas abordados pela escola e compartilhan- os livros e desliguem os celulares” — parece estar
do conhecimento com os colegas de classe. Sem com os dias contados. Estamos ligados.
23
MAIS QUE AUTORES
DE LIVROS. PROFESSORES
QUE AMAM A EDUCAÇÃO.
A Editora do Brasil conta com um time
de grandes autores em suas coleções do
Ensino Médio. São professores que vivenciam
o dia a dia da sala de aula e conhecem as
realidades e necessidades dos estudantes. Carlos Henrique Albrecht, José Carlos Bianchi
e Daltamir Justino Maia – Química
Analise as coleções do Ensino Médio da
Editora do Brasil e tenha conteúdos na Francione Oliveira –
Arte
medida certa para sua escola.

Rosiane de Camargo e Renato Mocellin – História

Maurício Pietrocola, Talita Raquel Romero, Renata de

Mary Murashima, Ana Paula de Barros


e Elisabeth Silveira – Português

Carla Maurício, Adriana Saporito e Gisele Aga – Inglês

Claudia Capello – Português

www.editoradobrasil.com.br
Douglas Santos – Geografia

Bianca Freire Medeiros e Mariana Guglielmo, Marieta de Moraes e Renato Franco - História em Curso
Julia O´Donnell – Sociologia

Diarone Paschoarelli Dias e Verônica Bercht – Biologia Adilson Longen –


Matemática

e Andrade e Alexander Pogibin – Física

Levon Boligian e Andressa Alves –


Geografia

Elenice Rodrigues, Cibele Lopresti, Aline Evangelista e Angela Kim – Gramática


DIVERSIDADE EM SALA DE AULA
Saber lidar com a diversidade em suas várias dimensões é um aspecto
crucial para o êxito do processo de ensino e aprendizagem. O tema é
recorrente, mas, às vezes, pode ser mal interpretado. Afinal de contas,
a diversidade se apresenta em diferentes aspectos, como em tempos de
aprendizado, trajetórias de vida, origem social, cultura familiar... Nessa
reportagem, professores e diretores de escola revelam como lidam com
o desafio de encontrar o método mais eficiente para cada aluno.
Diversidade em Sala de Aula

Para quem trabalha todos os dias na sala de


aula, algumas coisas são quase intuitivas: por CELEBRAÇÃO VS. REJEIÇÃO DAS DIFERENÇAS
exemplo, cada aluno apropria-se daquilo que o
O professor e pesquisador Luiz Gonçalves Júnior,
professor fala de um modo diferente. Uma aula
da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR),
expositiva de 30 minutos pode significar muito
desenvolve trabalhos nas áreas de Educação Físi-
para alguns alunos em sala, mas para outros
ca, de inclusão e de formação de professores. Ele
nem tanto. Há algumas teorias publicadas sobre
lembra que a intolerância é fruto de uma época
o fenômeno: Teoria das Inteligências Múltiplas
histórica em que culturas foram subjugadas em
(Howard Gardner), Teoria dos Estilos de Aprendi-
zagem, Teoria dos Estilos Cognitivos. Ou seja, a uma escala global — afinal de contas, animosi-
diversidade está na escola, assim como em qual- dades entre etnias vizinhas sempre existiram — e
quer outro espaço de convívio público. Isso vale diferentes povos foram agrupados de acordo com
para escolas públicas e privadas, ambas espa- características fenotípicas, como tamanho e for-
ços de convívio entre diferenças. O que muda é mato do crânio. Essa situação criou a mentalidade
a maneira como os educadores lidam com esse de que existiriam povos superiores e inferiores,
fato no seu dia a dia, assim como as práticas como se essas características fossem algo gene-
educacionais que implementam. ticamente determinado. Contudo, a realidade do
século XXI é completamente distinta. No mundo
Hoje, mais do que em tempos passados, as es-
globalizado, compreender diferentes culturas —
colas vêm investindo em uma nova abordagem
em relação à diversidade. Em vez de esperar que assim como falar outras línguas — é uma vanta-
o aluno se integre à instituição, cada vez mais gem: gera oportunidades de aprendizado, trocas
é esperado que a escola se esforce para incluir e negócios. Além disso, com a maior mobilidade
a todos. Integração e inclusão são perspectivas de bens, serviços e pessoas, saber aproveitar a
bastante distintas, acredita Cláudia Regina de diversidade a serviço do crescimento econômico é
Souza Costa, diretora-geral do Catavento Espa- estratégico. E isso é bem distinguível de simples-
ço de Educação. “Integração envolve o aluno se mente “tolerar” o diferente. Falhar nessa missão
adaptar à escola. Inclusão é o contrário, pois pode levar a escolhas políticas autodestrutivas,
pressupõe que todo ser humano é diferente e como se observa em outros países.
que cada um aprende de um jeito. É responsa-
Não é preciso olhar para fora para encontrar exem-
bilidade de todos que cada criança e jovem atin-
plos de intolerância, muitas vezes fruto da ignorân-
ja seu máximo potencial.” A educadora defende
ainda que é perfeitamente possível para a rede cia em relação à cultura, crença política ou condi-
privada de ensino atender a todos sem grandes ção de vida do outro. Luiz comenta o exemplo da
onerações financeiras. “Precisamos de uma es- capoeira, atividade prevista para aulas de Educação
cola flexível”, diz. “A ética é muito importante. Física no currículo das escolas no estado de São
Sem ela, estaremos excluindo não somente os Paulo. Há relatos de alunos que se recusam a par-
deficientes mas também as crianças com altas ticipar da prática por confundir a atividade com o
habilidades, muitas vezes tachadas como antis- candomblé e outras práticas derivadas de religiões
sociais”, argumenta. africanas. Na realidade, são coisas distintas.
27
ESCOLA DE EXCELÊNCIA: ESPAÇO PARA TODOS Rio de Janeiro, respectivamente. Elas argumen-
tam que uma escola bem-sucedida na inclusão
A legislação brasileira afirma que a educação é
de todos os seus alunos é, sobretudo, uma escola
um direito de todos. Não faria sentido falar em
escola com política inclusiva, pois todas as esco- de excelência. Ou seja, não se trata de uma po-
las deveriam sê-la. No entanto, foi necessária a lítica de adaptação de alunos com deficiência e
promulgação de uma lei específica — Lei no 14.146 sim de uma visão de escola para todos. “Posso
(2015) — para realmente disparar uma mudança ter alunos de 14 anos com alto nível de compre-
em larga escala na inclusão de um grupo que ensão crítica de um texto, enquanto o resto da
ficava à margem da Educação. Trata-se da Lei turma ainda está na compreensão literal. Devo
Brasileira de Inclusão, que assegura claramente dar a esses alunos textos diferentes”, exemplifi-
às pessoas com deficiência — seja ela visual, au- ca Edimara. Entre outras coisas, a celebração do
ditiva ou intelectual — o direito à educação e o diferente envolve educar segundo as possibilida-
acesso à escola. des e potencialidades de cada pessoa. Receber
Em uma palestra em 11/5, Claúdia Regina de um feedback de um aluno que acaba de publicar
Souza Costa e Edimara de Lima, diretora-geral a tese de doutorado sobre um tema que havia
da Escola Prima Montessori, palestraram sobre o desenvolvido na monografia de formatura do En-
tema “Inclusão”. Elas expuseram o case de suas sino Fundamental II e saber que outro ex-aluno,
respectivas escolas, algumas das instituições apesar de suas dificuldades, agora trabalha em
mais bem-sucedidas no programa de inclusão um banco e é independente podem ser momen-
de pessoas com deficiência em São Paulo e no tos igualmente satisfatórios.

28
Diversidade em Sala de Aula

TECNOLOGIA PODE AJUDAR “Por exemplo, você pode gravar videoaulas e nelas
os alunos podem rever coisas que em sala não con-
Em uma aula puramente expositiva, o professor
seguiriam. Depois você pode colocar material sobre
pode não ter muita certeza de como a mensagem
o mesmo assunto para os que têm mais ou menos
que pretendeu transmitir foi recebida por seus alu-
dificuldade — artigos ou exercícios. Ou seja, é preci-
nos de modo individual. Já em um modelo mais
so criar o seu jeito de elaborar percursos diferentes
interativo, que faça uso de diversas linguagens, é
para seus alunos” , acredita Moises.
mais fácil receber um feedback do que cada um
está aprendendo. O professor Moises Zylbersztajn, “Os alunos têm perfis diferentes de aprendizado.
do Colégio Santa Cruz, acredita que a tecnologia Tem aluno que gosta mais de ler, tem aluno que
pode ser uma grande aliada. “A tecnologia não re- gosta mais de ouvir, tem aluno que aprende bem
solve a questão, mas ela permite que você pos- quando assiste a um vídeo ou quando faz um exer-
sa produzir roteiros de trabalho e de estudo, além cício. Há mil formas. Então, quando você tem uma
de diagnósticos que permitam ao aluno encontrar diversidade de opções para fazê-lo chegar àquele
outros jeitos de estudar o conteúdo que você está conhecimento, é mais fácil abraçar essas diferen-
trabalhando”, afirma. ças”, conclui.

LEIS QUE VERSAM SOBRE DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO


Lei Brasileira de Inclusão — Lei no 14.146 (2015)
O que diz: “(a lei) é destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o
exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à
sua inclusão social e cidadania”.

Lei no 11.645 (2008)


O que diz: “Nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e de Ensino Médio, públicos e
privados, torna-se obrigatório o estudo da História e cultura afro-brasileira e indígena.

1 — O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da


História e da Cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses
dois grupos étnicos, tais como o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos
negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e
o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas
social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

2 — Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas bra-


sileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de
Educação Artística e de Literatura e História brasileiras.”

29
ENTREVISTA
AVALIAÇÃO: UMA
OPORTUNIDADE
DE APRENDIZADO
PARA TODOS

Ocimar Alavarse, professor e pesquisador na Faculdade de


Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP), fala sobre os
tipos de avaliações educacionais brasileiros, as dificuldades
para implantá-las e a efetividade de seus resultados.
30
entrevista

Ocimar Alavarse é um dos principais especialistas


em avaliações do Brasil, com um trabalho ampla-
mente reconhecido sobre o Sistema de Avaliação
da Educação Básica (SAEB). Antes de partir para na 3a série do Ensino Médio. Depois, em 2012,
Moçambique, onde participaria de um projeto fi- criou-se a Avaliação Nacional da Alfabetização
nanciado pelo Japão para avaliar o sistema de saú- (ANA), aplicada a alunos do 3o ano do Ensino
de, ele concedeu esta entrevista para a revista EM Fundamental em escolas públicas. Qual é o gran-
Foco. Confira o que ele tem a dizer sobre as avalia- de desafio dessas avaliações? Teoricamente, elas
ções no Brasil e nosso sistema educacional e como serviriam para construir indicadores a fim de que
as provas poderiam ser utilizadas para melhorar o as redes públicas pudessem utilizar os resultados
aprendizado dos alunos. para alimentar políticas voltadas à melhoria no
desempenho dos alunos. Em 2007, com a cria-
EM Foco — Você apresenta um amplo trabalho
ção do Índice de Desenvolvimento da Educação
com avaliações. Fale um pouco sobre o SAEB,
Básica (IDEB), que combina as proficiências da
uma avaliação que você estuda já há algum
Prova Brasil e da ANEB, além da taxa de apro-
tempo.
vação, talvez efetivamente se tenha constituído
Ocimar — O SAEB passou recentemente por uma uma avaliação, supondo que os critérios sejam
modificação, incluindo as escolas privadas que as metas fixadas para cada uma das escolas e
desejam participar da avaliação. Mas ele tem regiões do País.
dois momentos: de 1995 até 2003, quando era
EM Foco — Quais são os desafios das avalia-
apenas amostral, e de 2003 em diante. Salvo
ções por amostragem?
algumas exceções, sempre teve como objeto de
avaliação a leitura — também chamado de Lín- Ocimar — Quando você tira uma amostra, o
gua Portuguesa — e a resolução de problemas, grande problema estatístico é saber se aquela
também chamada de Matemática. Quais eram amostra de fato representa a população. Mas é
as populações amostradas? Crianças terminando possível estabelecer anos amostrais de tal ma-
a antiga 4 a série, que agora corresponde ao 5o neira que esse erro pode ser controlado. É o que
ano; quem terminava a antiga 8a série, agora 9o o Programa Internacional de Avaliação de Es-
ano; e também os estudantes que concluíam a tudantes (PISA) faz. Há também questões que
3a série do Ensino Médio. Esses resultados, salvo envolvem a metodologia censitária. Quando você
algumas exceções, eram publicados por estado, vai fazer a prova em determinada escola, não
por regiões geográficas e nacional. Havia ainda necessariamente todos os alunos estão lá para
a diferenciação entre escolas urbanas e rurais. fazer a prova. Não estou dizendo que isso pos-
De 1995 até 2003, a cada dois anos, tínhamos sa ocorrer por fraude. Mas pode haver proble-
esses resultados. A partir de 2005, o SAEB tem mas de transporte, por exemplo, entre inúmeros
um importante desdobramento com a criação da outros. Então, embora a intenção seja captar o
Prova Brasil. A avaliação passa a ser censitária. desempenho de todos os alunos, você acaba re-
A outra parte do desdobramento do SAEB é a colhendo um número pequeno de alunos. Isso
Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB), coloca, inclusive, outro problema: essa parcela
que continuou sendo por amostragem, envolven- de alunos que fez a prova representa a esco-
do as escolas privadas do 5o e 9o anos do En- la? Nem sempre a intenção de fazer a avaliação
sino Fundamental e todas as escolas privadas censitariamente se confirma na prática.
31
EM Foco — Há o risco de os alunos fazerem a sistências compreensíveis, somadas ao desconhe-
prova de qualquer jeito, sem tentar? cimento de como essas provas são organizadas,
não se utilizam os resultados.
Ocimar — Isso é um problema que existe, não só
nessas avaliações. A prova se dá em cima de uma EM Foco — Como ajudar os professores na
noção de competências e habilidades, algo que é compreensão das matrizes das provas?
cumulativo. Rigorosamente falando, nunca sabe-
Ocimar — Essa é uma tarefa muito mais complica-
remos como cada um dos alunos se envolveu com
da do que parece. Não se resume a uma simples
a prova. Temos alguns cuidados técnicos para sa-
distribuição de apostilas. É preciso convencer os
ber, por exemplo, se num determinado momento
professores da importância da avaliação. Quando
o aluno deixou de se envolver com a prova. Por
as redes responsabilizam unicamente os professo-
exemplo, podemos observar quando o aluno mar-
ca uma alternativa só em toda prova. De toda res, gera-se ainda mais resistência.
maneira, o que temos observado pelos resultados A Prova Brasil é realizada em anos ímpares,
da imensa maioria dos alunos é que eles tentam sempre no final do ano letivo. Pesquisas mos-
fazer a prova, o que é compatível com outras in- tram que quando os resultados começam a che-
formações que levantamos, e inclusive é consis- gar nas escolas, as instituições estão trabalhan-
tente com a série histórica. Algumas informações do com resultados de um ano e meio atrás. O
que levantamos com os professores das escolas resultado gerado não é fruto daquele ano. Isso
indicam que os jovens se envolvem com a prova, obriga os educadores que queiram se debruçar
mesmo que não seja do jeito como gostaríamos. sobre seus resultados a um exercício de retros-
Mas essa ideia de que os alunos a fazem de qual- pectiva de seu trabalho. Nem sempre há condi-
quer jeito, que chutam todas as alternativas, isso
ções para isso. Estamos falando da dissonância
não se sustenta. Outra coisa que é distinta é a
entre o momento em que o dado é gerado e
capacidade que os alunos têm de fazer a prova.
aquele a que ele diz respeito. Evidente que há
Os alunos têm dificuldade de fazê-la. Só queria
algumas redes que organizam equipes de ava-
alertar que, como qualquer prova, o SAEB tem o
liação e têm mostrado um trabalho mais siste-
que chamamos de erro de medida. Isso diz res-
mático, e isso produz mais conhecimento sobre
peito à precisão da estimativa divulgada. Quando
essas avaliações, o que favorece essa apropria-
uma escola tira uma nota de, por exemplo, 220
ção, pois, muitas vezes, o professor nem sequer
pontos, esse valor está dentro de um intervalo de
compreende as avaliações. É como se houvesse
proficiência; as pessoas se esquecem disso.
uma distância gigantesca entre como o profes-
Mas quero voltar ao principal, que é se de fato o sor avalia seu aluno e como a Prova Brasil o
SAEB está sendo utilizado. Há poucos indícios de avalia. Por isso que não se trata de uma simples
que as escolas usem esses resultados em suas publicação de um manual, não se trata de or-
políticas educacionais, ou então façam pouquís- ganizar rápidos cursos; trata-se de estabelecer
simo uso deles. Por que não usam? Primeiro, por um processo sistemático de análise de dados.
resistência. O próprio nome já diz que as avalia- É importante realçar que até as avaliações que
ções são externas. Outra questão é que, embora já os professores oferecem nas escolas, que ge-
participem da avaliação há vinte anos, as escolas ralmente tendem a ser realizadas no final do
não conhecem a matriz das provas. Então, por re- ano, merecem reflexão do corpo pedagógico
32
entrevista

da escola. Quiçá se dedicaria tanta reflexão às Não quero dizer com isso que os resultados do
avaliações organizadas por um corpo externo. PISA não devam ser olhados. Não quero dizer com
Acaba-se criando um cenário que dificulta a isso que a margem de erro do PISA o inviabili-
apropriação. ze. O Brasil é um dos países onde o desempenho
dos jovens de 15 anos apresenta um dos maio-
res crescimentos, inclusive em relação à OCDE, já
“O BRASIL É UM DOS PAÍSES ONDE que a série histórica mostra a OCDE em declínio.
O DESEMPENHO DOS JOVENS DE 15
ANOS APRESENTA UM DOS MAIORES O problema é que projeções indicam que levaría-
CRESCIMENTOS.” mos de 50 a 90 anos para ultrapassar a OCDE. Por
quê? Porque nossos resultados são baixos. Porém
eles são completamente compatíveis com as nos-
sas avaliações, inclusive com o SAEB e mesmo
EM Foco — O PISA é uma boa referência para o com outras avaliações estaduais. O problema é
Brasil? Quais são os desafios dessa avaliação? gerar políticas para alterar o quadro da educa-
ção escolar, de onde derivam parte dos resultados.
Ocimar — O primeiro desafio do PISA é que não é
organizado pela Organização das Nações Unidas Digo “parte” porque as condições socioeconômicas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), das quais os jovens derivam alteram os resultados
uma instituição com tradição em Educação. Essa sobremaneira. Se não mudarmos a maneira como
avaliação é organizada pela Organização para a as escolas trabalham, seja na reflexão sobre re-
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), sultados gerados por avaliações externas, seja na
o que não lhe dá toda a legitimidade para ser a reflexão das avaliações internas, não veremos as
indicadora da qualidade das escolas mundo afora. mudanças que queremos.
33
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de Revisão seguem a mesma ordem de de questões pode ajudar na organização de
apresentação do livro impresso, mas podem materiais de revisão e de avaliação no decorrer
ser customizadas pelo professor de acordo do ano letivo.
com as necessidades identificadas.

seriebrasilensinomedio.com.br
TEMPOS MODERNOS,
TEMPOS DE SOCIOLOGIA
A Sociologia, assim como a Filosofia, deixou de ser disciplina obrigatória
pouco depois de sua introdução no currículo do Ensino Médio, em 2008. O que
isso significa para o futuro dessa matéria? Nesta reportagem, trazemos a
visão de duas pesquisadoras da área sobre o papel da Sociologia na escola.

Se você tem mais de 25 anos de idade, é provável O FUTURO DA SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO
que não tenha tido aulas de Sociologia no Ensino
Professores, estudantes e gestores de escolas pú-
Médio (EM). A disciplina tornou-se obrigatória em blicas e particulares aguardam ansiosos a publi-
2008 e, com a proposta de flexibilização do currí- cação da versão final da Base Nacional Comum
culo na última etapa da Educação Básica, acabou Curricular (BNCC) para saber como será, de fato, a
voltando a ser matéria optativa. Para Raquel Bal- organização do Ensino Médio após a flexibilização
mant Emerique, professora, pesquisadora e autora curricular. Afinal, a BNCC é que deve decidir aquilo
de livros didáticos, o principal desafio para o ensino que deverá ser ensinado a todos. No entanto, com
de Sociologia nas escolas está em sua legitimação o fim da obrigatoriedade do ensino de Sociologia
perante os estudantes, as famílias, os colegas e a na Educação Básica, é possível que diversas Se-
cretarias Estaduais de Educação decidam cortar a
sociedade de modo geral. Ou seja, ainda há muita
matéria do currículo.
gente que considera Sociologia uma disciplina pou-
co necessária na grade curricular. A pesquisadora Uma reivindicação antiga de profissionais da área,
considera que ainda há muita incompreensão acer- o ensino de Sociologia na Educação Básica ainda
ca da disciplina. Além da pressuposição de que seu enfrenta desafios. Tal como ocorre com Filosofia,
conteúdo possa ser diluído em aulas de História e trata-se de uma das disciplinas com o maior ín-
dice de professores sem a titulação adequada no
Geografia, por exemplo, sem prejuízos à formação
Ensino Médio. Segundo o Censo Escolar, 88% dos
do aluno, há ainda a pressão de grupos sociais que
profissionais que ministram aulas de Sociologia e
temem “doutrinação ideológica” em sala de aula,
77% dos que dão aulas de Filosofia no EM não
quando, na verdade, o objetivo da matéria é levar
têm licenciatura na área. Isso acontece, em par-
ao estudante conhecimento científico sobre o mun- te, porque a presença dessas disciplinas na grade
do social. Em outras palavras, a Sociologia, como curricular é recente. Bianca Freire-Medeiros, pes-
qualquer outra ciência, apresenta métodos, objetos quisadora da Universidade de São Paulo (USP),
de estudo e referências na literatura clássica, que atualmente alocada em Austin, Texas (EUA), acre-
compõe a espinha dorsal da civilização ocidental. dita que o fim da obrigatoriedade pode colocar em
36
Tempos Modernos, tempos de sociologia

“EU ACHO QUE ESSE É UM MOMENTO DE LUTO, DE REVERSÃO DE CONQUISTAS


MUITO CELEBRADAS (A POSSÍVEL QUEDA DA OBRIGATORIEDADE DO ENSINO DE
SOCIOLOGIA). MAS ESSE TAMBÉM É UM MOMENTO EM QUE A SOCIOLOGIA SE FAZ
MAIS NECESSÁRIA. NOSSO DESAFIO É FAZER COM QUE O JOVEM, APESAR DE
SER TÃO SEDUZIDO, TÃO EXPOSTO A ESSE DISCURSO DAS CIÊNCIAS DURAS, DO
PRESTÍGIO DADO AO MUNDO DA TECNOLOGIA, POSSA ENTENDER QUE NADA DISSO
É POSSÍVEL SEM A COMPREENSÃO DE COMO A SOCIEDADE SE ORGANIZA. SOMENTE
VAI HAVER TRANSFORMAÇÃO A PARTIR DESSA COMPREENSÃO, E ISSO PASSA
PELAS CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS”, DIZ BIANCA.

xeque a licenciatura em Sociologia. Tradicional- Foucault, literatura clássica pouco presente em


mente, formandos na área tendem a buscar car- aulas de História e Geografia, por exemplo. Esses
reiras acadêmicas. “Mas há um recorte geracional autores possibilitam o debate acerca do mundo em
considerável. Quem está se formando agora sabe que vivemos, levando em conta o distanciamento
que dar aulas no Ensino Médio é uma alternativa do discurso pautado no senso comum. Do ponto
importante”, afirma Bianca. de vista estritamente prático, saber articular argu-
mentos coerentes é de grande ajuda nas redações
Algumas iniciativas procuram aproximar as escolas
de vestibular e no ENEM.
públicas das universidades, como o Programa de
Pré-Iniciação Científica da USP, que oferece oportu- Outra vantagem, como lembra Bianca, é a oportu-
nidades a alunos do Ensino Médio da rede pública. nidade de reflexão que a Sociologia oferece. Res-
Há também diversos programas de mestrado pro- peitando-se a pluralidade de visões de mundo, a
fissional voltados exclusivamente para professores, discussão sobre as mudanças que presenciamos na
além, claro, do Programa Institucional de Bolsa de sociedade não pode ser suprimida na escola. “O go-
Iniciação à Docência (PIBID). verno brasileiro olha muito para os Estados Unidos,
o que pode não ser uma boa ideia. Há muitos cor-
tes em Educação por aqui. O conhecimento técnico
CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA PARA A
é hipervalorizado”, declara Bianca. E falar acerca
ESCOLA
da valorização da Sociologia no currículo implica
Uma das contribuições da Sociologia para a Educa- falar também sobre a valorização das Ciências
ção Básica é apresentar aos estudantes questões e Humanas, tanto no mercado de trabalho como na
autores aos quais, de outra maneira, eles não te- Academia. Com o avanço da sociedade tecnológica,
riam acesso. É o caso, por exemplo, da introdução elas vêm perdendo prestígio; entretanto, continu-
aos textos de Émile Durkheim, Max Weber e Michel am sendo importantes na escola.
37
OS DESAFIOS DAS
AULAS DE SOCIOLOGIA
Entrevistamos Raquel Balmant Emerique, mestre e doutora em
Ciências Sociais pela UERS e uma das autoras da coleção
Tempos Modernos, Tempos de Sociologia, da Editora do Brasil,
para entender os principais desafios do ensino de Sociologia.

EM Foco — Quais são os principais desafios


para os professores de Sociologia no Ensino
Médio? 

Raquel — A formação inicial e continuada é o prin-


cipal desafio, atingindo a todos os professores das
disciplinas do EM. Há ainda os problemas ligados
à valorização da profissão docente, que são ge-
neralizados também. No caso específico do tra-
balho do professor de Sociologia, a duração dos
tempos de aula é um ponto muito sensível. Em
muitos estados, a disciplina conta apenas com um
tempo de aula por ano do Ensino Médio, o que
exige grande domínio do currículo para decidir as
escolhas que mais contribuirão para a formação
dos estudantes, assim como para a administra-
ção do tempo e planejamento. Os professores de
Sociologia enfrentam muitas dificuldades para
construir com os estudantes a compreensão cien-
tífica do mundo social em razão do pouco tempo
que dispõem para isso. Não posso deixar de falar
também que existe uma dificuldade extra para os
professores que ministram essa disciplina, mas
Tempos Modernos, Tempos de Sociologia, uma das não são formados em Ciências Sociais.
obras mais adotadas nas escolas de todo o país.

38
Os DESAFIOS das AULAS de SOCIOLOGIA

EM Foco — A Medida Provisória do Ensino Mé- EM Foco — A Sociologia foi alvo do ataque de
dio tornou a Filosofia e a Sociologia matérias grupos ultraconservadores, que parecem res-
optativas. Isso ameaça a permanência da So- sentir-se de debates multiculturais em sala de
ciologia no currículo?  aula, distintos dos pontos de vista de famílias
mais tradicionais, por exemplo. Qual seria,
Raquel — Essa legislação ainda é bastante con-
então, o lugar da Sociologia na escola? 
fusa para mim. O que me parece claro é que
estamos aguardando a aprovação da BNCC para Raquel — A disciplina pretende contribuir para que
saber quais serão os conteúdos obrigatórios para os estudantes compreendam como a ciência se
a primeira fase do Ensino Médio. Para a segun- aproxima do mundo social para estudá-lo. Ela tem
da etapa do Ensino Médio, os estados terão au- métodos, teorias, objetos, conceitos e questões
tonomia para definir o que ficará no currículo (problemas sociais). O estudante precisa com-
e o que sairá. Nesse sentido, há possibilidade preender isso porque vivemos em uma socieda-
de a Sociologia ser retirada de diversos currí- de científica, isto é, uma sociedade que se apoia
culos estaduais. Mas acho que, depois de qua- muito no conhecimento científico para definir suas
se uma década em que figura como disciplina políticas públicas, por exemplo. Um cidadão bem
obrigatória em âmbito nacional (2008-2017), formado precisa compreender minimamente como
ela já acumulou — do ponto de vista curricu- são formulados os problemas, como eles são pes-
lar e metodológico — muitas contribuições para quisados e como os dados são analisados. Todos
a formação dos estudantes secundaristas. E os dias somos desafiados a ler informações sobre
não podemos fragilizar a luta dos professores o mundo social em revistas e jornais impressos,
de Sociologia nesses anos todos. Mas precisa- na TV e na internet. Precisamos ser críticos acer-
mos ficar atentos, porque estamos vivendo um ca desses dados, ou seja, questionar como foram
momento em nosso país em que mudanças produzidos e que novos conhecimentos eles estão
importantes estão acontecendo muito rápido trazendo sobre a sociedade brasileira, por exem-
(às vezes na base da canetada). plo. Sabendo fazer isso, podemos produzir um
pensamento crítico sobre a informação e sobre a
EM Foco — Qual literatura é possível aprovei-
própria realidade social e podemos fazer escolhas
tar em sala de aula? Os alunos nessa faixa
que ajudem a transformá-la em direções dese-
etária estão prontos para aproveitar as obras
jáveis: mais igualitária, mais democrática, mais
de Foucault, Marx etc.? 
livre etc. Um professor de Sociologia não está na
Raquel — Acreditamos que sim. Por essa razão in- sala de aula para “fazer a cabeça” dos seus alu-
cluímos esses autores no livro. Além disso, a teoria nos, mas sim para ajudar a botar a cabeça deles
social permite um diálogo com as demais discipli- para funcionar, fazendo perguntas e buscando
nas da área de Humanas que também abordam respostas com os recursos disponibilizados pelas
esses autores. Ciências Sociais.

39
LANÇAMENTOS DE
GRAMÁTICA E DE QUÍMICA
COMPLEMENTAM A
SÉRIE BRASIL

Com o lançamento de Gramática e de Química


para a Série Brasil, a Editora do Brasil reafirma seu
compromisso com a formação dos alunos, respei-
tando as necessidades e demandas de cada área do
conhecimento.

As propostas privilegiam conteúdos didáticos estru-


turados na medida certa, favorecendo tanto a assi-
milação dos conteúdos curriculares como o exercício
da postura crítica necessária à formação cidadã e à
construção da autonomia de pensamento.

As duas coleções oferecem um pacote integrado de


soluções didáticas nos formatos impresso e digital,
com total integração entre todos os recursos. Um
portal educacional exclusivo oferece acesso com-
pleto à oferta multiplataforma para professores e
alunos adotantes.

Conheça mais detalhes dessas obras que, assim


como as demais coleções da Série Brasil, conquis-
tarão ainda mais professores e alunos das escolas
de todo o país. • Infográficos e esquemas ilustrados exempli-
ficam e facilitam a visualização do conteúdo
QUÍMICA — MATÉRIA, ENERGIA E conceitual.
TRANSFORMAÇÕES
• A clareza na exposição dos conteúdos e o rigor
Autores: José Carlos de Azambuja Bianchi, científico favorecem a abordagem contextualiza-
Carlos Henrique Albrecht e Daltamir Justino Maia da e o contato direto com a realidade dos alunos.
40
Lançamentos Série Brasil

• Os conceitos abordados partem de algum conhe-


cimento ou do senso comum, mas estão sempre
baseados na história do conhecimento.

• A exposição teórica é intercalada por perguntas


e questionamentos que, sob a forma de exercí-
cios, favorecem a fluência do percurso de leitura
e facilitam a organização do estudo.

• Exercícios propostos e resolvidos (com soluções


comentadas) indicam estratégias que poderão ser
usadas durante os estudos. Exercícios selecionados
do ENEM e dos principais vestibulares do país au-
xiliam o aluno que se prepara para os exames de
ingresso no Ensino Superior.

• As relações entre Ciência, Tecnologia, Sociedade e


Ambiente são valorizadas pela Química aplicada
ao bem-estar da sociedade.

• Notícias e textos extraídos de fontes variadas são


explorados e apresentados de modo que o pro-
fessor utilize-os de acordo com a dinâmica e o • O código linguístico é tratado como objeto de ob-
planejamento das aulas. servação, de reflexão e de análise, promovendo
consciência linguística e desenvolvimento do en-
GRAMÁTICA — TEXTOS E CONTEXTOS foque crítico.

Autoras: Cibele Lopresti, Aline Evangelista, • Por meio da reflexão sobre o uso da língua, o
Elenice Rodrigues e Angela Arahata aluno é levado a perceber formas adequadas a
diferentes contextos, considerando as variedades
• Variedade de gêneros e textos atuais contextua-
linguísticas de prestígio ou norma-padrão.
lizados.
• Exploração dos textos em diferentes níveis, por
• Estudo da língua por meio da análise de textos, meio de perguntas que enfocam a macroestrutu-
seja de natureza escrita, seja de oral. ra e a microestrutura.
• Exploração de aspectos fonológicos, morfológicos, • Exercícios elaborados especialmente para essa
sintáticos, semânticos e morfossintáticos, além obra, a fim de que o aluno exercite o desenvolvi-
do estudo da estilística dos textos. mento de competências e habilidades.

• Conhecimentos da norma-padrão e sistematização • Em todos os capítulos há uma série de questões


de regras. Observação da variedade linguística. extraídas de vestibulares e provas do ENEM.
41
ESCOLA BOSQUE:
TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO
PODEM (E DEVEM) ANDAR
DE MÃOS DADAS!
Escola Bosque implanta plataforma da
Microsoft Education e mostra resultados surpreendentes.

As escolas sabem que precisam mudar o formato EM Foco — Quais são os principais benefícios
de ensino voltado para essa nova geração de alu- que a escola percebe após a implantação da
nos. Agora, o que seria esse novo formato? Como Microsoft Education?
tornar a aula mais prazerosa para o aluno? Como
Silvia/Fátima — O pacote que adquirimos nos aju-
conectar toda a comunidade escolar em seus pro-
dou não só no âmbito pedagógico, mas também
jetos? O que é, hoje em dia, ser uma escola voltada
na eficiência de gestão. Nossa comunicação inter-
para a tecnologia?
na melhorou muito entre professores, pais e alu-
Essas e outras perguntas não são fáceis de ser res- nos. As ferramentas também ajudaram nas me-
pondidas pois não há uma fórmula do sucesso ou lhorias dos processos. Então, processos que eram
um único caminho a trilhar. As escolas brasileiras manuais passaram a ser digitais. Por exemplo,
estão se reinventando a cada dia, recorrendo a tec- os semanários com os planejamentos das aulas
nologias que facilitem a vida dos professores e que dos professores eram feitos num caderno a mão;
sejam atrativas para os alunos. agora, estão todos na plataforma. Essa mudança
facilitou muito a vida dos professores, que pude-
Fomos conhecer a Escola Bosque, em São Paulo,
ram organizar melhor suas aulas, já incluindo no
que implantou um pacote completo de recursos da
planejamento os recursos que utilizarão em cada
Microsoft Education e atualmente é uma das esco-
aula, como vídeos, slides, fotos, entre outros. Caso
las de referência na implantação da tecnologia no
o professor precise faltar, repor sua aula será
ambiente escolar.
mais fácil também.
A revista EM Foco conversou com Silvia Scuracchio,
diretora pedagógica da Escola Bosque, em São
Paulo, e com Fátima Costa, coordenadora peda- “UM PONTO POSITIVO PARA OS
gógica do colégio, para entender como se deu o ALUNOS FOI O USO DA TECNOLOGIA
processo de implantação desse tipo de tecnologia PARA DESENVOLVER SUAS LIÇÕES DE
CASA, TRABALHOS EM GRUPO, ENTRE
na instituição e quais são os principais benefícios
OUTROS PROJETOS DA ESCOLA.”
e desafios dessa estratégia letiva.

42
Tecnologia: casos de sucesso

Espaço da Microsoft Education dentro da escola: decoração lúdica e espaço aconchegante voltado para os alunos.

Professor pode corrigir as provas via plataforma e deixar recados para seus alunos ou por meios escritos ou por áudios.
43
Fátima e Silvia com aluno no espaço escolar da Microsoft Education.
44
Tecnologia: casos de sucesso

Um ponto positivo para os alunos foi o uso da


tecnologia para desenvolver suas lições de casa,
trabalhos em grupo, entre outros projetos da es- um deles. Ele consegue enxergar, inclusive, quanto
cola. Um exemplo foi um diário on-line criado tempo os alunos ficaram em cada slide e identificar
dentro da plataforma para que cada aluno pu- as principais dificuldades da classe.
desse contar suas experiências dentro e fora da
EM Foco — Essa parceria com a Microsoft Edu-
escola. Nesse diário era possível incluir fotos e
cation ajudou na captação de mais alunos
vídeos também. É um jeito de o aluno se interes-
para a sua escola?
sar mais pelos conteúdos ensinados e aplicá-los
em seu cotidiano. Além disso, a plataforma per- Silvia/Fátima — Com certeza ajudou muito. Os pais
mite que os alunos façam o trabalho em grupo, se interessam muito quando explicamos como in-
porém estando cada um em sua casa. Sabemos serimos a tecnologia no cotidiano escolar. Além de
da dificuldade dos alunos em realizar trabalhos pais e alunos que nos procuraram, muitas escolas
em grupo em razão da mobilidade, principalmen- e educadores nos procuram para visitar e conhecer
te em grandes cidades, como em São Paulo. En- nosso trabalho.
tão, os alunos estão amando essa facilidade que
EM Foco — Vocês também fazem avaliações
a tecnologia traz.
via plataforma?
EM Foco — Como os professores reagiram à
Silvia/Fátima — Sim, os professores adoram, inclu-
implantação dessa tecnologia?
sive! Eles desenvolvem as avaliações e encaminham
Silvia/Fátima — Foi muito tranquilo. Os professores aos alunos. A plataforma já corrige as avaliações
ficaram muito animados e interessados. Não houve ou, dependendo do tipo de avaliação, o professor
resistência. Lógico que há uma insegurança acerca mesmo a conduz. Ele pode incluir mensagens escri-
do que é “novo”, mas a plataforma é muito intuitiva tas ou áudios na correção para ajudar seus alunos.
e fácil de manejar, então não tivemos problemas Tudo muito prático para o professor e para o aluno
para ensinar nossos educadores e envolvê-los. Co- também, claro.
meçamos em agosto do ano passado e hoje 100%
EM Foco — Você acredita que a tecnologia re-
dos professores dominam a ferramenta.
almente faz o aluno se interessar mais pelos
EM Foco — Quais recursos a plataforma ofere- conteúdos escolares?
ce ao professor?
Silvia/Fátima — Sim, com certeza. Os jovens estão
Silvia/Fátima — São muitos. Como já observado, a cheios de energia e precisamos aproveitar isso.
organização de seus planos de aula melhorou mui- Eles querem ser os protagonistas e não ficar so-
to. Um recurso muito interessante é o Office Mix, mente ouvindo o professor na sala de aula. Eles
que chamamos de “Power Point com superpode- querem interagir, ser ouvidos e fazer algo para
res”. O professor pode fazer uma aula tipo EAD. mudar o planeta. É muito legal ver a motivação
Ele monta suas aulas como se fosse em um Power deles ao debater assuntos polêmicos como a pre-
Point, podendo adicionar vídeo ou áudios dele pró- servação do meio ambiente. Então, quando junta-
prio falando sobre cada slide. Pode ainda incluir mos a oportunidade de o aluno poder ser o prota-
animações. Esse recurso é incrível! O professor gonista dentro da escola e as ferramentas de que
compartilha essa aula com os alunos e depois con- ele gosta e tem familiaridade, o conhecimento é
segue fazer a avaliação de desempenho de cada transmitido de uma maneira mais leve e eficiente.
45
PROFESSOR:
O VERDADEIRO AGENTE QUE
FARÁ A BNCC ACONTECER
Na opinião de formadores, a garantia do direito à educação,
como prometido pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC),
só vai se confirmar se a formação dos professores prepará-los
para a nova dinâmica em sala de aula.

46
Professor: o verdadeiro agente que fará a BNCC acontecer

Desde que a publicação da terceira e última ver- veram tanto professores e pesquisadores liga-
são da Base Nacional Comum Curricular para o dos às universidades quanto grandes grupos de
Ensino Fundamental e Educação Infantil foi apre- capital aberto e associações, como a União dos
sentada pelo Ministério da Educação, houve con- Dirigentes Municipais de Educação (Undime). No
trovérsias. A BNCC foi fruto de um debate que entanto, houve quem considerasse que a última
envolveu atores sociais diversificados e contou versão publicada pelo MEC deixou de lado grande
com o apoio de parte significativa de professo- parte do que havia sido debatido. Não demorou
res, pesquisadores e governo. Os debates para para que o debate, já acalorado antes da apre-
a formulação das duas primeiras versões envol- sentação do documento, fosse transformado em
crítica. No entanto, vale a pena prestar um pouco
mais de atenção à formação de professores, já
que muito do sucesso da implementação das ba-
ses dependerá deles.

Madalena Guasco Peixoto, professora da Ponti-


fícia Universidade Católica de São Paulo, alerta:
“A BNCC pressupõe um número grande de obje-
tivos para cada área. Para implementá-los será
necessária uma estrutura que não existe em
muitas escolas”. Em outras palavras, para que se
firme o compromisso com uma reforma real da
educação — que não se resuma apenas ao currí-
culo — vai ser difícil garantir o corpo de direitos
que a base defende. O Ministério da Educação já
afirmou, por meio de nota, que foi instituído um
grupo de trabalho para garantir a implementa-
ção da nova lei. “Antes que as diretrizes da Base
entrem nas salas de aulas, haverá formação con-
tinuada para os professores e gestores em ser-
viço. A formação continuada será fundamental
para garantir que os professores estejam pre-
parados e seguros para lidar com a Base e com
os novos currículos. Embora a implementação da
Base seja prerrogativa dos sistemas e das redes
de ensino, a dimensão e a complexidade da tare-
fa vão exigir que União, Distrito Federal, estados
e municípios somem esforços”, afirmou o MEC em
resposta à reportagem.

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A implementação da BNCC ocorrerá em um cená- é um ponto importante na BNCC. Os professores
rio de austeridade econômica. Mesmo que ainda terão de organizar suas aulas levando em consi-
não tenham sido anunciados cortes para a edu- deração as Unidades de Conhecimento. Algumas
cação, teme-se que os investimentos parem de escolas, porém, podem sofrer para colocar em
crescer. Além disso, escolas públicas e privadas, prática essas ideias. Em muitos casos, os pro-
urbanas e rurais, nas cinco regiões do Brasil te- fessores lecionam em diversas unidades e mal
rão de implementar essa lei em condições muito têm tempo de preparar as aulas, e menos ainda
desiguais. Há, ainda, o desafio da própria gestão tempo de se reunir.
dos colégios. Por exemplo, a interdisciplinaridade

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Professor: o verdadeiro agente que fará a BNCC acontecer

houve investimentos consideráveis nos últimos


“SÃO PROBLEMAS QUE PERSISTEM anos, mas faltam condições atrativas para o exer-
NA SOCIEDADE BRASILEIRA. ALÉM cício da docência. “São problemas que persistem
DA QUESTÃO SALARIAL, HÁ AQUELA na sociedade brasileira. Além da questão salarial,
DO NÚMERO EXCESSIVO DE ALUNOS
há aquela do número excessivo de alunos por sala
POR SALA DE AULA”, AFIRMA INÊS
ASSUNÇÃO DE CASTRO TEIXEIRA, de aula”, afirma.
PROFESSORA DA UFMG.
João Valdir argumenta que as expectativas
em relação ao professor são pouco realistas.
Trata-se de uma profissão complexa, que de-
PARA ALÉM DO CURRÍCULO
manda do profissional excelentes conhecimentos
Em primeiro lugar, vale lembrar que, nos últimos da disciplina que leciona, além de conhecimento
20 anos, o Brasil investiu na formação de pro- sobre o ser humano e domínio das relações in-
fessores, e boas universidades abrirão novos cur- terpessoais na escola. Ao mesmo tempo, persiste
sos de licenciatura, como a Universidade de São a ideia de que a profissão docente é uma espécie
Paulo (USP), a Universidade Federal de Minas Ge- de vocação missionária. Essa ideia é prejudicial
rais (UFMG) e a Pontifícia Universidade Católica porque não contribui para um projeto central que
de São Paulo (PUC). Foi estabelecida também a possibilite ao país ganhar qualidade na educação:
obrigatoriedade de diploma de nível superior para a profissionalização da profissão docente. Para
professores do Ensino Fundamental I e da Educa- atrair bons educadores, é preciso oferecer a eles
ção Infantil. Além disso, a resolução do Conselho oportunidades de crescimento, boas condições de
Nacional de Educação, de 2015, aumentou para trabalho etc.
3.200 horas a duração mínima para todos os cur-
Some-se a isso a realidade de arrocho fiscal.
sos de pedagogia. “A resolução (do CNE) se abre
Diante disso, o Brasil precisa tomar cuidado para
para as novas demandas dos últimos tempos,
não caminhar na direção contrária. Para Madale-
como formação para lidar com diferentes identi-
na Guasco, um dos problemas que aparecem no
dades etnorraciais, direitos humanos e educação
Ensino Médio é a precarização das condições de
inclusiva”, ressalta João Valdir Alves de Sousa,
trabalho. “A [lei da] terceirização abre uma bre-
professor da UFMG. No entanto, alguns desses
cha para que as pessoas deem aulas como ‘bico’,
novos cursos que exigem a licenciatura estão fe-
o que dificulta a implementação da BNCC”, afir-
chando. Em muitas universidades, até mesmo os
ma ela, que vê riscos de desprofissionalização e
cursos de Ciências, Física e Matemática têm altas
“aligeiramento” na formação. É preciso lutar pela
taxas de desistência. As notas de corte para os
manutenção do Fundo de Manutenção e Desenvol-
vestibulares desses cursos estão entre as mais
vimento da Educação Básica e de Valorização dos
baixas. A evasão também é alta.
Profissionais da Educação (Fundeb) e pela conti-
Inês Assunção de Castro Teixeira, professora da nuidade do processo de profissionalização do pro-
UFMG, acredita ser incorreto dizer que o Brasil fessor, questões em que o Brasil vem avançando
não investe na formação de professores. Para ela, a duras penas.

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Carla Sousa
Professora de História
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