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SILVA, F.A.; NOELLI, F.S. História indígena e arqueologia: Uma reflexão a partir dos
estudos sobre os Jê Meridionais. R. Museu Arq. Etn., 27: 5-20, 2016.
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História indígena e arqueologia: Uma reflexão a partir dos estudos sobre os Jê Meridionais
R. Museu Arq. Etn., 27: 5-20, 2016
Um aspecto fundamental desta nova agen- Este tipo de perspectiva de pesquisa tam-
da de pesquisas é a crítica ao pressuposto de bém se aplica aos povos Jê meridionais. Cabe
que as populações indígenas se comportaram lembrar que nas últimas décadas, vários pesqui-
passivamente frente aos projetos colonialis- sadores se dedicaram a investigar as suas traje-
tas das nações europeias. Cada vez mais fica tórias culturais, a partir de diferentes pontos
evidente que, ao contrário de sucumbirem, a de vista teórico-metodológicos e disciplinares,
maioria dos povos indígenas reelaborou suas gerando dados muito diversificados e amplian-
identidades e tradições culturais a partir do do o conhecimento sobre as suas dinâmicas
contato com os europeus. Assim, o modelo ex- culturais ao longo do tempo.
plicativo da aculturação foi repassado pela no-
ção de agência indígena (Silliman 2001, 2009).
Incorporando a noção de história indígena de 1. Uma agenda de pesquisa sobre os povos Jê
longa duração, e procurando romper com a meridionais
dicotomia entre pré-história e história pós-colo-
nial, essas pesquisas destacam a complexidade Na década de 1994-2004, um grupo de
dos processos de continuidade e transformação professores universitários, alunos de graduação
das identidades e dos modos de vida dos povos e pós-graduação e pesquisadores independentes
indígenas (Lightfoot 1995). Paralelamente, reuniu-se diversas vezes em eventos científicos,
os arqueólogos estão compromissados com a no Grupo de Trabalho (GT) “Estudos Inter-
construção de uma narrativa mais inclusiva disciplinares dos Jê do sul”, com o objetivo de
e não-eurocêntrica sobre as formas de colo- ampliar a agenda de investigações sobre esses
nialismo no continente americano e sobre as povos. A partir de uma perspectiva interdisci-
trajetórias culturais dos povos nativos. plinar o GT propôs trocar informações, debater
Além disso, em diferentes lugares são resultados e articular linhas de pesquisa em
desenvolvidas pesquisas arqueológicas sobre comum, para ter maior eficiência e ampliar ao
o passado recente das populações indíge- máximo a produção de conhecimento sobre a
nas. Elas tratam de forma crítica as fontes e trajetória cultural destes povos desde o perío-
interpretações históricas e mostram a rele- do pré-colonial até o presente etnográfico. A
vância dos relatos orais dos povos indígenas, perspectiva daquele momento era superar o
para a compreensão das suas etnohistórias e arraigado isolamento e a falta de comunicação,
dinâmicas culturais frente ao neocolonialismo evidentes na produção bibliográfica anterior
e à expansão capitalista. Elas também têm à década de 1990, entre pesquisadores das
procurado ressaltar que o encontro entre as diversas disciplinas envolvidas na pesquisa
perspectivas históricas, etnográficas, linguísti- sobre os Jê do sul. Também se procurava novos
cas e arqueológicas pode trazer aportes diver- caminhos para envolver e atrair os Kaingang e
sificados e complementares ao entendimento os Xokleng na produção de conhecimento sobre
das questões relacionadas com as trajetórias os seus modos de vida e histórias, a partir dos
históricas e culturais dos povos indígenas seus próprios regimes de conhecimento e de
(Lightfoot 1995; Rubertone 2000; Colwell- historicidade.
Chanthaphon & Ferguson 2006; Ferguson & As publicações que resultaram dos encon-
Colwell-Chanthaphon 2008; Silliman 2008; tros do GT foram várias (livros, artigos, capítu-
Oliver 2010; Flexner 2014; Silva & Noelli los de livros, dissertações e teses), divulgando
2015). Para além das analogias etnográficas, a grande parte das ideias e perspectivas lançadas
relação entre os diferentes dados é feita para e debatidas. A linha mestra do posicionamento
ressaltar uma história indígena onde não intelectual defendido pelo GT foi publicada
há rupturas, mas continuidades, transições nas apresentações de três livros que são coletâ-
e transformações culturais, desde o período neas de artigos produzidos pelos seus partici-
pré-colonial até hoje (Lightfoot 1995; Silliman pantes: 1) Bibliografia Kaingang. Referências sobre
2001, 2005, 2009). um povo Jê do Sul do Brasil (Noelli et al. 1998);
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Fabíola Andréa Silva
Francisco Silva Noelli
2) Uri e Wãxi. Estudos Interdisciplinares dos conhecimento da história das ideias como fator
Kaingang (Mota, Noelli & Tommasino 2000); fundamental para avançar e formular novas
3) Novas Contribuições aos Estudos Interdisciplina- pesquisas. Ou seja, defendíamos o princípio de
res dos Kaingang (Tommasino, Mota & Noelli que o conhecimento somente poderia avançar
2004). A maioria dos pesquisadores, de uma a partir da construção de um diálogo crítico
maneira ou outra, também teve um envolvi- com a produção científica anterior, revisando,
mento político com as causas a favor da autode- reforçando ou abandonando ideias e pres-
terminação Kaingang e Xokleng, participando supostos por ela definidos. Considerávamos
de “inúmeras atividades governamentais e não – e ainda consideramos – que era antiético e
governamentais relacionadas com a demarcação anticientífico ignorar o que foi produzido por
de terras, com a retomada de áreas de onde eles outros pesquisadores sobre os Jê meridionais,
foram expulsos, com a educação indígena, com independentemente das suas teorias, metodo-
a saúde, com a retomada e a manutenção das logias e posicionamentos políticos, como ainda
práticas e ritos tradicionais e com a defesa dos é possível observar em várias publicações do
ecossistemas dentro e fora das terras indígenas século XXI. Fundamentalmente, nosso objetivo
tuteladas pela FUNAI” (Tommasino, Mota & era propor a busca por uma erudição inter-
Noelli 2004). disciplinar e incentivar que os gaps entre os
Naquele momento o GT levantou e conteúdos das várias disciplinas fossem supe-
debateu várias questões: 1) a correlação entre rados e que se fizesse um esforço – com uma
as diferentes tradições arqueológicas (Taquara, perspectiva “americanista” – para elaborar uma
Itararé e Casa de Pedra) e os povos Jê meridio- síntese de abrangência temática e geográfica
nais historicamente conhecidos; 2) a relação mais ampla dos problemas. Uma nova síntese
linguística entre os Kaingang e Xokléng e com de viés arqueológico que pudesse substituir
as demais populações Jê setentrionais; 3) o o nível mais básico atingido pelas sínteses do
problema dos chamados vazios demográficos e século XX, cujo objetivo geral dos autores foi
a escassez de estudos históricos sobre o colonia- procurar compreender e definir o registro ma-
lismo e a expansão capitalista nos territórios terial relativo às tradições Taquara e Itararé e a
tradicionalmente ocupados por essas popu- sua dispersão espacial (Schmitz 1988; Brochado
lações indígenas; 4) as diferentes referências 1984; Prous 1992) e suas relações com as popu-
históricas sobre os povos não Tupi meridionais lações historicamente conhecidas (Miller 1978;
em termos da sua denominação representada Noelli 1999, 1999-2000).
nas fontes escritas (p.ex. cabeludos, botocudos, Várias dessas questões do GT ainda estão
gualachos, chiquis); 5) a relação dos povos Jê em pauta, juntamente com outras que foram
meridionais com os povos Tupi meridionais; 6) introduzidas nesta última década, nos novos
a relação dos povos Jê meridionais com as prá- projetos desenvolvidos para revisitar os “velhos”
ticas de uso e manejo de plantas; 7) a dinâmica problemas levantados desde o início das pesqui-
de ocupação territorial e os sistemas de assen- sas. No âmbito da pesquisa arqueológica houve
tamento dos Jê meridionais; 8) as tecnologias um aumento no número de pesquisadores, de
de produção e uso da sua cultura material, ao projetos com novas perspectivas teórico-meto-
longo do tempo; 9) a necessidade de se buscar dológicas e, consequentemente, uma qualida-
novos problemas e temas de pesquisa de rele- de e quantidade maior de coleta de dados e
vância para esses povos na atualidade. análise de informações em campo e laborató-
Uma história da pesquisa, dos temas e rio – tanto em nível local (intra-sítio) quanto
dos problemas relativos à arqueologia dos Jê regional (inter-sítio). Estamos mais próximos
meridionais foi por nós publicada (Noelli 1996, de compreender como era o padrão de implan-
1999, 1999-2000, 2000, 2004, 2005; Silva tação na paisagem, o sistema de assentamento,
1999, 2000; Silva & Noelli 1996). Também a monumentalidade, a subsistência, os modos
refletimos sobre os temas elencados acima e, ao de produção e utilização da cultura material e
mesmo tempo, reforçávamos a importância do alguns aspectos da vida ritual desses povos Jê.
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o programa tinha como pressuposto “tratar a (Brochado 1984; Noelli 1999, 2004; Araújo
cultura de uma maneira artificialmente sepa- 2001; Corteletti 2013). Já está óbvio que houve
rada dos seres humanos” (Meggers 1955: 129). um processo de ocupação de partes dessas áreas
Naquele momento, as pesquisas ainda estavam a partir do crescimento demográfico de uma po-
em sua fase inicial, e se fazia o primeiro mapea- pulação que tinha uma matriz cultural comum,
mento dessas evidências. Ainda se tinha muita que transmitia regionalmente os seus conheci-
precaução em estabelecer relações de continuida- mentos tecnológicos que permitiam a contínua
de entre as populações historicamente conheci- reprodução dos padrões da cultura material e
das e aquelas dos contextos arqueológicos. Isto é, da subsistência, e a manutenção dos sistemas de
não havia uma proposta/metodologia estabeleci- implantação dos sítios na paisagem.
da para reconhecer que as populações Kaingang Se alguém realizar um projeto de estudo de
e Xokleng faziam parte de uma história indígena larga escala e comparado de todas as coleções
de longue durée. Ao mesmo tempo, não havia museológicas de vasilhas cerâmicas (arqueológi-
uma investigação sistemática e comparativa entre cas e etnográficas), irá constatar que as mesmas
os registros arqueológicos e a cultura material apresentam atributos comuns. Além disso, que
(histórica e etnográfica) desses povos. a variabilidade (sincrônica) e as variações (dia-
Atualmente, o campo científico é outro e já crônicas) em cada uma das classes de vasilhas
existe uma preocupação em buscar indicadores ficam estatisticamente próximas não havendo
materiais deste processo de continuidade histó- modificações que formem conjuntos artefatuais
rica e das diferenças regionais, mesmo que sutis, relevantemente distintos entre si. Contudo,
no registro arqueológico. Procura-se evidenciar Souza (2011) vem mostrando que é na análise
tanto os aspectos de continuidade como de de vasilhas completas que se poderá ter con-
variabilidade (local e regional) e transformação dições de verificar variações regionais (com.
nos seus modos de vida a partir do estudo de pessoal 2016). As classes funcionais das vasilhas
diferentes aspectos dos seus sistemas culturais Kaingang foram reconhecidas por Miller (1978)
(p.ex. Noelli 1999; Silva 1999; Araújo 2001; e Robrahn-González (1997), enquanto que as
Silva 2001; Souza 2011; Corteletti 2013; Iriarte Xokleng ainda não foram estudadas devido à
et al. 2014). Considerando a longa duração situação histórica que impediu a permanên-
da presença Jê no sul do Brasil, em uma área cia das cerâmicas entre eles (existem algumas
ampla e diversificada ecológica e geomorfologi- coleções de vasilhas inteiras feitas no século XX,
camente era de se esperar a diferenciação local no MArquE/UFSC, em Santa Catarina). Mas
e regional da sua cultura material e dos padrões as vasilhas cerâmicas Kaingang e Xokleng e a
de implantação dos sítios na paisagem. Porém, cadeia operatória da sua produção foram obser-
tais diferenças não se revelaram discrepantes, vadas desde o século XIX, permitindo constatar
sugerindo uma permanência dos processos de que apresentavam um estilo tecnológico muito
transmissão de conhecimentos e de reprodução semelhante (Silva 1999).
da cultura material ao longo do tempo. Da mesma forma ainda se faz necessário um
levantamento sistemático das fontes históricas
e linguísticas sobre a cultura material e sua
2.3. Os dados arqueológicos da ocupação terri- terminologia indígena, sobre os sistemas de as-
torial Jê do sul sentamento e o manejo do ambiente, a exemplo
do que fizemos para os Guarani (Noelli 1993)
Os registros arqueológicos Jê meridionais e Asurini do Xingu (Silva 2000). Os museus e
(fig. 1) permitem concluir que as populações que outras instituições científicas possuem vários
colonizaram os Estados de São Paulo, Paraná, conjuntos artefatuais arqueológicos e etnográ-
Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Província ficos com enorme potencial para uma pesqui-
de Misiones (Argentina) e o Departamento de sa comparada em nível interdisciplinar. As
Canindeyu (Paraguai), o fizeram de uma forma matérias publicadas nos jornais locais também
sistemática por aproximadamente 2 mil anos são um campo inteiramente aberto à pesquisa,
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Fig. 1. Mapa dos sítios arqueológicos Jê do Sul e áreas dos municípios com sítios registrados.
sendo uma lacuna enorme a ser explorada e que caso de August Kunert, sobre os contatos com
poderá revelar e complementar inúmeros casos os Jê nas áreas de colonização de imigrantes
cotidianos e outros tipos de informação de europeus no sul do Brasil. Kunert (1890, 1892),
interesse arqueológico, etnográfico e histórico. a partir do relato de um colono alemão prisio-
E há muitas fontes conhecidas em listas biblio- neiro dos Kaingang, parece ser um raro caso
gráficas, mas que ainda permanecem inéditas que fez menção ao contexto etnográfico sobre
para os arqueólogos contemporâneos, como é o a forma e o uso dos aterros anelares, inclusive
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orientar suas interpretações dos processos ocor- anteriormente (Becker 1976; Schmitz 1988;
ridos no passado. A interdisciplinaridade devia Prous 1992: 310), os Jê do sul partilhavam do
ser uma regra, para que linguistas e arqueólogos sofisticado sistema de manejo agroflorestal simi-
possam calibrar mutuamente suas análises, pois lar ao identificado para os Kayapó (Posey 1987;
o resultado dessa colaboração deverá aportar Noelli 1996, 1999-2000, 2000). Agora, a partir
modelos e teorias mais completos. desta nova perspectiva, podemos compreender
D´Angelis e Jolkesky atualizaram e refina- porque ainda não se conseguiu distinguir os
ram as pesquisas anteriores sobre as relações conjuntos cerâmicos Kaingang e Xokleng. A sua
dos Jê meridionais com a família linguística Jê, separação é recente como mostra Jolkesky, ao re-
apesar das limitações que ainda existem para dor de 700 anos atrás, sendo necessário buscar
determinar a classificação interna desta família compreender as causas de haver mais semelhan-
(Jolkesky 2010: 6). Isto é um fato que confir- ças que diferenças no conjunto artefatual Taqua-
ma que os Kaingang e os Xokleng descendem ra-Itararé a partir de premissas semelhantes às
de populações que ocuparam a região sul e o que deram sustentação ao subgrupo oriental
Estado de São Paulo a partir do norte, onde do PJM, partindo da perspectiva dos estudos de
se encontravam os demais falantes das línguas transmissão e manutenção do conhecimento
Jê e Macro-Jê. Isso confirma o que apontamos tradicional.
anteriormente (Noelli 1999), de que a Tradição
Taquara-Itararé não era um desenvolvimento da
Tradição Humaitá (Altoparanaense). Esta era a 2.5. A relação entre os Jê do sul e os demais Jê
hipótese de Menghin (1956-1957), sobre uma ao norte de São Paulo
população meridional antiga que adotou a cerâ-
mica e agricultura por difusão. Ao contrário, foi A maior lacuna está na falta de conexão em
uma população ceramista e agricultora que se relação aos conjuntos artefatuais das populações
expandiu por partes de São Paulo, da região sul Jê do sul com os Jê ao norte de São Paulo, a
do Brasil, de Misiones e Canindeyu. partir de Minas Gerais e Rio de Janeiro, onde
D´Angelis e Jolkesky denominaram a ainda não foi desenvolvida uma investigação
língua falada por esta população original como comparativa apropriada, como foi primeiramen-
Proto-Jê Meridional (PJM). Ela deu origem a te sugerida por Brochado (1984). O problema
dois subgrupos: 1) ocidental, com as línguas ex- central reside no fato dos arqueólogos ainda
tintas Ingain e Kimdá (áreas de Misiones e Ca- estarem presos aos conceitos que definem as
nindeyu); 2) oriental, com as línguas Xokleng, “Tradições Arqueológicas” e não ficarem mais
Kaingang e Kaingang Paulista. Conforme a atentos aos elementos estatisticamente compa-
análise das “porcentagens de retenção lexical ráveis do registro arqueológico, bem como não
com as respectivas divergências temporais”, tentarem atualizar as comparações etnológicas
Jolkesky (2010: 269) concluiu que os Xokleng estabelecidas por Hermann Ploetz e Alfred Mé-
se separaram do grupo oriental ao redor de traux (1930), como já sugerimos anteriormente
1390 d.C. e ele mostra que a porcentagem de (Noelli 1999, 2004). Isto já começou a ser
retenção lexical entre o Xokleng e as línguas sanado (Souza 2011; Araújo et al. 2016) e está
Kaingang é de 97%. em andamento nas investigações mais recentes,
Na língua PJM (Jolkelsky 2010: 249), já a exemplo de outros capítulos deste livro.
existia a palavra “panela”, reconstruída como
*kukrũ{w}, assim como diversas palavras
associadas à agricultura e ao processamento de 3. A Arqueologia dos Jê do sul e a sua relevân-
alimentos, demonstrando claramente que os cia social
falantes do PJM eram agricultores e ceramistas.
Ao contrário de serem “agricultores incipientes” Não se deve esquecer que os temas da pes-
e “neolitizados” pela difusão cerâmica, com quisa sobre os povos Jê do sul têm uma relação
“expressão apenas regional”, como se acreditava direta com as experiências reais vivenciadas por
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eles. Vários dos problemas ligados à demarcação a arqueologia se caracterizou como tecnicista e
territorial, à exploração dos recursos ambientais descritiva. O PRONAPA tinha seus objetivos
nas suas terras, à subsistência, às necessidades voltados à definição de tipologias artefatuais e
materiais, preconceitos, violências e abusos quadros cronológicos de distribuição de con-
diversos, dentre outros, podem encontrar subsí- juntos arqueológicos (tradições e fases), para
dios nas pesquisas interdisciplinares. entender o passado pré-colonial, em termos da
Para nós existem claras relações entre o distribuição no tempo e no espaço das culturas
passado arqueológico, o passado histórico e arqueológicas. A Missão Francesa se dedicou à
o presente etnográfico. Tais relações, porém, aplicação de técnicas de escavação em superfícies
nem sempre apareceram de forma clara para os amplas e análises artefatuais – embasadas na
arqueólogos e, em parte, isto está relacionado tradição francesa de Leroi-Gourhan – com o
ao modo como a arqueologia se desenvolveu no objetivo de compreender pontualmente aspectos
Brasil – quase sempre distanciada das demais da vida e das tecnologias das populações pré-his-
disciplinas e dos povos indígenas. tóricas (Dias 1995; Barreto 1999-2000).
Cabe lembrar que a institucionalização da O legado desta história foi a construção de
arqueologia no Brasil iniciou no século XIX, um passado indígena pré-colonial que não se co-
no âmbito dos museus (Museu Paulista, Museu nectava com as trajetórias histórico-culturais das
Nacional, Museu Paraense, Museu Paranaense) populações indígenas no presente. Os arqueólo-
e se caracterizou pela relação da disciplina com gos – com algumas exceções – foram se alienan-
o nacionalismo, a mundialização da ciência e o do dos conhecimentos produzidos pela história,
colonialismo (Ferreira 2010). Influenciada pelo linguística e etnologia indígenas e, ao mesmo
naturalismo e evolucionismo, a arqueologia deste tempo, se colocavam distantes das questões rela-
período estava aliada à antropologia biológica cionadas com as lutas dos povos indígenas. A ar-
e concentrou sua atenção, principalmente, nas queologia relativa aos povos Jê meridionais não
investigações sobre a origem e evolução humana foi uma exceção. Para Noelli (1999) até o final
e na classificação das evidências arqueológicas da década de 1980 as relações entre os conjuntos
no quadro evolutivo de raças e culturas. Na cerâmicos (Itararé, Casa de Pedra e Taquara), sua
primeira metade do século XX, a arqueologia se distribuição geográfica e a trajetória cultural das
distancia dos museus e vai se constituindo como populações Jê meridionais não foram investiga-
uma disciplina interessada na pré-história das das com o objetivo de incluir sistematicamente
populações. Este é o período de consolidação da os dados linguísticos, etnográficos e históricos. A
pesquisa arqueológica no âmbito acadêmico, com honrosa exceção foi Tom Miller (1978), com seu
a criação de centros de pesquisa, de investimento estudo sobre as cerâmicas dos Kaingang paulistas
na capacitação profissional e de campanhas pre- que abriu o caminho sobre o tema no contexto
servacionistas. Intelectuais como Luis de Castro da arqueologia brasileira.
Faria, Paulo Duarte e José Loureiro Fernandes Este cenário de descolamento da pesquisa
foram grandes incentivadores do debate sobre arqueológica em relação às pesquisas etnológicas
a importância da pesquisa e preservação dos e históricas começou a se transformar de forma
registros arqueológicos, atuando para a promulga- mais substantiva a partir de 1984, quando a
ção e regulamentação de legislações de proteção tese de José Brochado defendia a premissa de se
do patrimônio arqueológico – incluindo a Lei construir uma relação de continuidade entre o
Federal 3924 de 26/07/1961 (Barreto 1999-2000; passado pré-colonial e as populações indígenas
Fernandes 2007). As décadas de 1950 e 1960 se no presente, ou seja, de fazer a história cultu-
caracterizaram pela presença de pesquisadores ral das populações indígenas. No entanto, foi
franceses (Missão Francesa) e norte-americanos somente a partir da década de noventa, com a
(PRONAPA/Programa Nacional de Pesquisas retomada do diálogo com a antropologia, a his-
Arqueológicas) que atuaram na formação teórica tória indígena e a linguística que a pesquisa com
e metodológica de uma geração de arqueólogos povos indígenas começou de fato a fazer parte da
brasileiros. Pode-se dizer que até a década de 1980 agenda arqueológica (p. ex. Wüst 1991; Noelli
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1993; Eremites de Oliveira 1996, 2002; Hec- ta no drama do encontro colonial e a distância
kenberger 1996; Neves 1998; Silva 2000; Silva entre as populações indígenas do passado e as
2001). Na última década, surgiram as primeiras atuais era reiterada pela arqueologia (Viveiros de
pesquisas arqueológicas colaborativas com povos Castro 2002).
indígenas no âmbito da arqueologia acadêmica,
da consultoria indigenista e da arqueologia de
contrato (referências em Silva 2012). Apesar das 4. Conclusão
novas perspectivas de pesquisa, o legado das prá-
ticas arqueológicas distanciadas das realidades Nos últimos vinte anos, com a diversificação
indígenas ainda se faz presente. das instituições de ensino e pesquisa em arqueo-
Alguns autores apontam que a história da logia e a ampliação do número de pesquisadores
arqueologia brasileira precisa ser entendida no com posicionamentos teórico-metodológicos dos
contexto das políticas colonialistas, tutelares e mais diversos, a arqueologia brasileira está re-
assimilacionistas dos governos brasileiros em vendo suas práticas e pressupostos científicos e,
relação aos povos indígenas – dentre as quais ao mesmo tempo, buscando aproximar os povos
a política indigenista é um exemplo. Segundo indígenas do passado e do presente. Além disso,
Noelli & Ferreira (2007), no século XIX, apoiada tem refletido sobre o seu papel e responsabili-
na teoria da degeneração indígena, a arqueologia dade em relação à gestão do patrimônio arqueo-
contribuiu para produzir uma imagem das popu- lógico neste cenário pluricultural que define o
lações indígenas como estagnadas e degeneradas Brasil. Porém, a situação que estamos vivendo –
em processo que se explicava por um suposto no âmbito das políticas econômicas e ambientais
determinismo ambiental e pela miscigenação. e dos trâmites burocráticos da legislação indige-
Esta percepção dos povos indígenas foi reiterada nista e do patrimônio arqueológico – nos mostra
nos primeiros anos do período republicano sob que ainda temos um longo caminho pela frente
a roupagem de uma arqueologia embasada no até conseguirmos entrelaçar a arqueologia com a
neo-evolucionismo e na ecologia cultural e que história dos povos indígenas no Brasil.
nos legou as classificações das populações indíge- Cabe dizer que esta reconfiguração da ar-
nas em áreas culturais e em tipologias definidas queologia – resultado das críticas pós-colonialis-
a partir de níveis de integração sociocultural e tas e do fortalecimento dos movimentos sociais
estágios de evolução cultural. Com o PRONA- nas últimas décadas – acompanha um movi-
PA, sob a influência da obra de Betty Meggers, mento que vem sendo realizado pela disciplina
se intensificaria o legado determinista ecológico, no mundo ocidental. Neste processo tem sido
colocando mais uma vez os povos indígenas enfatizada a reflexão sobre a relevância social da
sob o estereótipo da degeneração cultural, arqueologia, bem como o reconhecimento de
com seus modos de vida determinados pelas que o conhecimento arqueológico precisa ser
potencialidades e deficiências ambientais. Este compartilhado para além do campo científico.
legado persistiu até o final do século XX quando Portanto, uma abordagem sobre a trajetória
começaram a surgir novas estimativas sobre a histórica, a dinâmica cultural e o processo de
densidade populacional no período pré-colonial, expansão e ocupação territorial dos povos Jê
as ideias sobre a complexidade social dos povos do sul que tenha como objetivo apreender as
amazônicos e os dados sobre os aspectos cultu- suas particularidades e vicissitudes ao longo do
ralmente construídos das paisagens ameríndias. tempo, a nosso ver, necessariamente, pressupõe
No entanto, este novo paradigma que, por um a utilização de todas as informações possíveis
lado, apontava para a sofisticação das culturas (linguísticas, históricas, arqueológicas e etnográfi-
indígenas no período pré-contato, por outro, cas). Além disso, o interesse manifesto dos povos
evidenciava a perda das populações atuais, indígenas em reafirmar sua tradição cultural e
daquela plenitude e complexidade de outrora. identidade, através da sua tradição oral e memó-
A partir disso mais uma vez a degeneração das ria pode ser respaldado ainda mais pela história
populações indígenas reaparecia, desta vez envol- indígena, linguística, antropologia e arqueologia.
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História indígena e arqueologia: Uma reflexão a partir dos estudos sobre os Jê Meridionais
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SILVA, F.A.; NOELLI, F.S. Indigenous history and archaeology: A reflection from the
studies on Southern Jê. R. Museu Arq. Etn., 27: 5-20, 2016.
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