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OS ANDARILHOS DO BEM ( I Benandanti)

Informações gerais:

Carlo Ginzburg publicou seu primeiro livro I Benandanti em 1966. Nesse foi
introduzido um assunto que se tornaria uma marca em grande parte de sua carreira como
historiador: o elo entre os julgamentos de bruxos e as crenças populares.
A história se passa em FRIULI no século XVI e a perplexidade demonstrada
pelos inquisidores, manifestada nos autos de processos inquisitoriais, é o ponto de
partida para a pesquisa de Ginzburg.
Logo abaixo o mapa da hoje Itália unificada e na ponta setentrional, na cor
escura, a região do Friuli:

Quando em 1575 dois homens, o pregoeiro Battista Moduco e um certo Paolo


Gasparutto, no convento de San Francesco di Cividale, na comuna de Cividale-Friuli,
estavam em um interrogatório sob suspeita de práticas de bruxaria, os
juízes/inquisidores foram os receptores/ouvintes de histórias de andanças noturnas
mágicas e ritos secretos que pareciam encaixar-se perfeitamente em sua crença no
horrível Sabá dos Bruxos. Havia algo, contudo, que não encaixava entre a fala dos
acusados e as suas práticas: os acusados negavam veementemente serem bruxos. Pelo
contrário, eles afirmaram ser benandanti, “aqueles que fazem o bem” – bons cristãos
que, à noite, lutavam por Cristo contra os abomináveis bruxos que perambulavam para
destruir as plantações nos vilarejos. O depoimento de Moduco revela o cerne das
atividades dos benandanti:

Eu sou 'benandanti' porque vou combater com os outros quatro


vezes por ano, isto é, nos Quatro Tempos, de noite, de forma invisível,
com o espírito, ficando o corpo; e nós andamos em favor de Cristo, e
os feiticeiros, do diabo; combatendo uns contra os outros, nós com os
ramos de erva-doce e eles com os caules de sorgo.

Moduco e Gasparutto foram os únicos condenados por feitiçaria, ao contrário


dos demais acusados. No bojo do “culto” dos benandanti, emergia um rito de fertilidade
intimamente ligado aos ritmos das produções agrícolas. Se saíssem vencedores do
combate, estava garantida a boa colheita; caso contrário, haveriam de carregar o fardo
da fome. Contudo, um elemento novo, inserido na confissão de Paolo Gasparutto,
delineará as inquisições subsequentes. Quando indagado: “quem vos chamou para entrar
nessa companhia de benandanti?” Gasparutto respondeu: “o anjo do céu”.
Nesse momento, então, ocorreu uma brusca mudança de atitude por parte do
inquisidor. Sequioso por operar em terreno conhecido, passa a conduzir as questões de
maneira violenta, sugerindo a identificação do "anjo" com o diabo e dos "benandanti"
com os feiticeiros. Para isso, impregna o "anjo" de atributos diabólicos e termina por
conformar as atividades dos "benandanti" aos sabbats das bruxas e feiticeiras.
Em seu livro, Ginzburg revisa essa série de julgamentos (em um período de 50
anos) de benandanti acontecidos em Friuli entre os séculos 16 e 17. Sua teoria é que os
estranhos testemunhos oferecidos pelos “bons” bruxos nos legam uma visão de um
culto popular da fertilidade que deve ter existido antes, mas em paralelo com, a era
cristã – um culto que eventualmente reaparece em forma pervertida na crença da Igreja
no Sabá dos Bruxos. Esta teoria não apenas se chocou com outras concepções de
bruxaria, como também foi de encontro à visão comum da religião popular na Europa
medieval e moderna..

Conforme o próprio autor explicou, em entrevista em 2016, nos cinquenta anos de


publicação da obra, seu objeto de pesquisa surgiu ao acaso:

Tudo começou por acaso – como a maior parte das descobertas que
fiz em minha carreira. Creio que em alguns momentos do processo de
pesquisa o pesquisador deve permitir-se ser estúpido – para
simplesmente viver em estado de não-compreensão. Isto o deixa
aberto àqueles acasos dos quais descobertas importantes brotam. Eu
havia de fato terminado meu primeiro livro quando encontrei uma
referência a um homem na Livônia (atuais Estônia e Lituânia) que em
1692 fora acusado de ser um lobisomem. Ele havia dito aos juízes que
durante algumas noites tinha o hábito de se transformar em lobo e
lutar ao lado de Deus contra bruxos e demônios que estavam roubando
as colheitas do povo. Suas declarações convergiram em surpreendente
detalhe com aquelas dos benandanti. Eram estas semelhanças apenas
coincidências? Ou poderiam tais casos estar enraizados em crenças
comuns que estariam mais difundidas? Eu consegui reescrever parte
dos I benandanti nos últimos minutos, mas eu sabia que teria de
começar tudo do início.

A teoria permaneceria na dianteira dos interesses do historiador italiano pelos


30 anos seguintes e, em 1989, sua preocupação com ela resultaria na publicação de sua
grande obra Storia Notturna. Ginzburg mesmo vê este trabalho como seu capo lavoro.

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