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Quando Jesus foi pregado na Cruz, estavam junto d’Ele Maria, sua Mãe,
São João, o discípulo amado, e algumas santas mulheres. O Senhor dirigiu
então à sua Mãe essas palavras que tiveram e terão tanta transcendência na
vida de todos os homens, de cada um de nós: Mulher – disse à Virgem –, eis aí
o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí a tua Mãe3.
Eis aí o teu filho. “Esse foi o segundo Natal. Maria tinha dado à luz o seu
Filho primogénito sem dor alguma na gruta de Belém; agora dá à luz o seu
segundo filho, João, no meio das dores da Cruz. Nesse momento, Maria sofre
as dores do parto, não apenas por João, seu segundo filho, mas pelos milhões
de outros filhos seus que a chamariam Mãe ao longo dos tempos. Agora
compreendemos por que o Evangelista chamou a Jesus filho primogénito de
Maria, não porque Ela viesse a ter outros filhos da sua carne, mas porque
geraria muitos outros com o sangue do seu coração”5, com uma dor redentora,
cheia de frutos, pois estava unida ao sacrifício do seu Filho. Compreendemos
bem que a maternidade de Maria em relação a nós, sendo de uma ordem
diversa, seja superior à maternidade das mães na terra, pois Ela nos gera para
uma vida sobrenatural e eterna.
A sua maternidade abarca a pessoa inteira, alma e corpo. Mas a sua acção
maternal, mesmo a que se exerce sobre o corpo, tem por fim “restaurar a vida
sobrenatural nas almas”7, a santidade, uma identificação mais perfeita com o
seu Filho. Nesta tarefa, a Virgem é a colaboradora por excelência do Espírito
Santo, que é quem dá a vida sobrenatural e a mantém.
Mãe por excelência, a Virgem tem sempre para nós um sorriso nos lábios,
um gesto acolhedor, um olhar que convida à confiança; sempre está disposta a
entender o que se passa no nosso coração; n’Ela devemos descarregar as
nossas penas, aquilo que mais nos pesa: “Fez-se tudo para todos; fez-se
devedora dos sábios e dos ignorantes, com uma copiosíssima caridade. Abre a
todos o seu seio de misericórdia, para que todos recebam da sua plenitude:
redenção o cativo, saúde o enfermo, consolação o aflito, perdão o pecador”9.
III. E DESSA HORA em diante, o discípulo recebeu-a em sua casa 11. Que
inveja temos de São João! Como se encheu de luz aquele novo lar de Santa
Maria! “Os autores espirituais viram nessas palavras do Santo Evangelho um
convite dirigido a todos os cristãos para que todos saibamos também introduzir
Maria em nossas vidas. Em certo sentido, é um esclarecimento quase
supérfluo, porque Maria quer sem dúvida que a invoquemos, que nos
aproximemos d’Ela com confiança, que recorramos à sua maternidade,
pedindo-lhe que se manifeste como nossa Mãe”12.
Talvez possa ser este o nosso propósito para hoje: contemplar Nossa
Senhora na casa de São João, ver a extrema delicadeza com que o discípulo
amado a trataria, as confidências cheias de intimidade que lhe faria... E colocá-
la na nossa vida: fitá-la como o fazia o Apóstolo, recorrer a Ela em tudo com
confiança filial, amá-la como a amou São João.
Como é fácil amar Santa Maria! Nunca, depois de Jesus, existiu nem existirá
criatura alguma mais amável. Já se disse de Santa Maria que Ela é como um
sorriso do Altíssimo. Nada de imperfeito, inacabado ou defeituoso encontramos
no seu ser. Não é alguém longínquo e inacessível: está muito perto da nossa
vida diária, conhece as nossas aflições, o que nos preocupa, aquilo de que
precisamos... Não tenhamos receio de exceder-nos no nosso amor a Maria,
pois nunca chegaremos a amá-la como a Santíssima Trindade a amou, a ponto
de fazê-la Mãe de Cristo. Não tenhamos receio de exceder-nos, pois sabemos
que Ela é “um presente do Coração de Jesus moribundo”13.
Sancta Maria, Mater amabilis, ora pro eis... ora por me. Ensina-me a querer-
te cada dia um pouco mais.
(1) Cfr. R. Garrigou-Lagrange, La Madre del Salvador, pág. 219; (2) Conc. Vat. II,
Const. Lumen gentium, 53; (3) Jo 19, 27; (4) João Paulo II, Enc. Redemptoris missio, 7-XII-
1990, n. 23; (5) F. J. Sheen, Desde la Cruz, Subirana, Barcelona, 1965, pág. 18; (6) cfr. Jo 10,
3; (7) cfr. Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 61; (8) cfr. J. Ibañez-F. Mendoza, La Madre del
Redentor, págs. 237-238; (9) São Bernardo, Homilia na oitava da Assunção, 2; (10) São
Josemaría Escrivá, Caminho, n. 516; (11) Jo 19, 27; (12) São Josemaría Escrivá, É Cristo que
passa, n. 140; (13) cfr. Pio XII, Enc. Haurietis aquas, 15-V-1956, 21; (14) Santo Afonso Maria
de Ligório, As glórias de Maria, III, 9; (15) L. M. Herrán, Nuestra Madre del Cielo, 2ª ed.,
Palabra, Madrid, 1988, pág. 102.