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Unidade II
3 MRP e a Gestão da Cadeia de Suprimentos
Objetivos
Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos da América passaram por um longo período de
crescimento, uma vez que tomaram a responsabilidade pela reconstrução de muitos países no pós‑guerra,
assumindo uma inegável posição de liderança mundial. As indústrias americanas cresceram e tinham
presença nos cinco continentes, o que exigia um esforço muito grande de administração de estoques, troca
de informações, logística, entre outros, tudo isso em uma época em que os meios de comunicação eram o
telex, a carta e o telefone a cabo (que consumia horas para completar uma ligação que fosse).
Porém, no fim da década de 1950, os volumes de itens tratados já eram de tal monta que, manualmente,
tornava‑se impossível fazer um controle razoavelmente correto das necessidades das operações
produtivas. Surge então o material requirements planning (MRP) – planejamento das necessidades de
materiais –, que permitiu que as empresas começassem a calcular o quanto de determinado tipo de
material seria necessário para atender à demanda, e, o mais importante, quando seria necessário.
Baseado nos pedidos de clientes e em uma previsão de vendas, o MRP (hoje em dia mais conhecido
como MRP1) faz uma avaliação de todos os itens necessários para atender a tais pedidos e previsões,
garantindo sua disponibilidade a tempo.
É, portanto, um sistema que calcula volume e tempo para grandes quantidades de itens diferentes,
o que é extremamente complexo. Manualmente, executar tais cálculos era extremamente desgastante
e custoso (muitas pessoas envolvidas no processo, com grande probabilidade de erros). Com o início da
utilização industrial dos computadores, a partir dos anos 1960, estava estabelecida a condição de fazer
esses cálculos detalhadamente e de forma, para a época, fácil.
Desde então, com a popularização do uso dos computadores, que finalmente saíram das grandes salas e chegaram
às mesas dos escritórios, muitas oportunidades foram desenvolvidas nos mais diversos ramos do saber, entre eles o
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Unidade II
Essa nova versão, mais completa e complexa, é conhecida até os dias de hoje como MRP2 (mais
exatamente, sua versão em número romano: MRPII), que deixa de ser um planejamento das necessidades,
e passa a ser o manufacturing resource planning – planejamento dos recursos de manufatura.
Saiba mais
Observação
Com o MRPII, as organizações passaram a ter a capacidade de visualizar o que a demanda futura,
prevista, causa à empresa em termos financeiros, de produção, de engenharia e de necessidade de materiais.
Se entendemos que uma simples atividade de planejar n máquinas para executar m tipos diferentes
de produtos pode resultar em um número gigantesco, representado por (n!)m possibilidades diferentes
de programação, imagine agora o que acontece se a organização produz e comercializa muitos produtos
finais, com todas suas possíveis configurações individuais, para muitos clientes, constantes ou não, que
geram demanda constante e ocasional ao mesmo tempo.
Difícil imaginar uma situação assim? Pense em uma montadora de automóveis que ofereça cinco tipos
diferentes de veículos, cada um deles com dois tipos de motorização, dois tipos de câmbio, possibilidade de
tração nas quatro rodas para alguns modelos, dez diferentes cores, quinze tipos de acabamentos de bancos,
com ou sem direção hidráulica, com ou sem ar condicionado, acabamento “pé‑de‑boi” ou “de luxe” etc.
O MRPII é a ferramenta capaz de mostrar aos administradores quais serão as necessidades para
atender a tais situações, gerando a base para o planejamento e para as decisões estratégicas e
operacionais. Todavia, fica claro que o MRP é a base do sistema, e que a partir dele pode‑se gerir o
sistema de materiais integrado com o restante da organização.
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Gestão de suprimentos e logística
Começamos assim a buscar entender o que se faz necessário para que a primeira etapa do processo,
a gestão dos materiais, possa ser executada de forma adequada.
Os cálculos de volume e tempo feitos pelos sistemas de MRP necessitam que as informações
correspondentes a certas variáveis sejam “carregadas” (inseridas, digitadas) nos arquivos eletrônicos
específicos e mantidas atualizadas, de forma que, ao executar a rotina do MRP, tudo seja atualizado.
A figura a seguir apresenta os grandes grupos de informações necessárias para carregamento do MRP.
Carteira de pedidos
MRP I Previsão de vendas
Programa-mestre de
produção
Planejamento das
Lista de materiais necessidades de Registro de estoque
materiais
Plano de materiais
Ordens de compra Ordens de produção
Partindo da figura 17, temos como dados de entrada para o processamento do MRP quatro grandes
grupos de informações:
1. A carteira de pedidos, que informa quais pedidos de clientes a organização tem em seus registros
e que devem ser atendidos no prazo de tempo contratado. A flexibilidade em aceitar alterações
nos pedidos (contratos) de venda depende muito da capacidade da organização em reagir
rapidamente a essas alterações.
Saiba mais
Carteira de
pedidos
Previsão de Restrições de
vendas capacidade
Demanda da Programa-mestre
de produção Níveis de estoque
empresa coligada
Necessidade de Necessidade
feiras, promoções de estoque da
e exibições segurança
Como exemplo simples de um programa‑mestre de produção, podemos imaginar uma padaria que
precisa fazer bolos de fubá todos os dias, para atender à demanda de um asilo que compra esses bolos
diariamente. Observar que o principal dado de partida para a programação é o estoque em mãos (bolos
de fubá prontos, considerando que a “vida” antes do descarte de cada bolo é de três dias):
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Gestão de suprimentos e logística
• As listas de materiais são documentos técnicos que indicam as necessidades dos itens que
compõem cada um dos produtos que foram (pedidos em carteira)/serão (previsão de vendas)
vendidos.
Tipicamente, uma simples receita de bolo contém uma lista de material que será necessário parta
fazer a quantidade de um bolo.
É possível assim imaginar que a quantidade de variáveis e informações que devem ser tratadas ao
mesmo tempo, a fim de definir novas necessidades de materiais e prazos de atendimento ao que foi
(pedidos em carteira)/será (previsão de vendas) vendido, é muito grande. O MRP realiza os cálculos
combinando todas essas informações, resultando em informações que são dependentes das informações
inseridas nos quatro primeiros itens citados.
A partir do processamento do MRP, são geradas as ordens de compra para itens que estão faltando/
irão faltar no estoque, os planos de materiais e as ordens de trabalho (ordens de produção).
No caso do bolo de fubá, a lista de materiais indica quais e quanto de cada produto necessitamos para
fazer o bolo, sem se preocupar com os recursos de transformação (instalações e pessoas) necessários.
Mas a observação de uma lista não é tão eficiente como a análise de um desenho que mostra como o
produto é composto, denominada estrutura do material.
Estrutura de
produto para o
bolo de fubá
O exemplo anterior é, por si, muito simples, uma vez que torna o entendimento do que é uma
estrutura de material fácil. Porém, se desejamos analisar algo que seja mais comum nas indústrias do
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Unidade II
que somente um bolo de fubá, deve‑se entender que um produto final (que está no nível “zero” da
estrutura) é feito de uma série de componentes (que se encontram no nível “um” da estrutura), que,
por sua vez nascem de outros componentes ou matérias‑primas (que se encontram no nível “dois” da
estrutura), e assim por diante.
Analisando uma caneta Bic cristal azul, vamos encontrar mais um exemplo simples que mostra como
é entendida a estrutura dos materiais.
Estrutura do produto
Caneta BIC Cristal azul Lista de material
1. Caneta Bic Cristal azul
1.1 Tampa dianteira
Nível “0” Caneta Bic Cristal azul
1.2 Carga
1.2.1 Ponta
Nível “1” Tampa dianteira Carga Corpo Tampa traseira 1.2.2 Tinta azul
1.2.3 Tubo plástico
1.3 Corpo
Nível “2” Ponta Tinta azul Tubo plástico 1.4 Tampa traseira
Figura 20 – Estrutura e lista de material para uma caneta BIC Cristal azul
• Não é exatamente o caso de uma única caneta Bic, mas se entendemos que, por exemplo, uma
loja de artigos de papelaria nunca iria comprar mil canetas Bic e recebê‑las a granel (soltas), mas
sim vinte caixas com cinquenta canetas cada, percebemos que, para o fabricante da Bic, existem
quantidades múltiplas de alguns itens. Nesse caso, teríamos:
O MRP precisa, assim, conhecer a quantidade necessária de cada item, em cada nível, para multiplicar
pelas quantidades necessárias;
• não é o caso da Bic Cristal, mas um mesmo item pode aparecer mais de uma vez na estrutura do material.
É o caso daqueles araminhos plastificados utilizados para amarrar fios de aparelhos eletroeletrônicos
quando novos. Um computador novo, por exemplo, necessita de pelo menos seis desses araminhos
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Gestão de suprimentos e logística
para ser despachado. E o MRP deve levar em conta tal multiplicidade, somando as necessidades que
aparecem nos diferentes níveis, e apresentando uma quantidade final a encomendar;
• todo estudo de estrutura se encerra nos itens produzidos pela organização. Se imaginarmos que
o fabricante da Bic não produz a tinta, mas sim compra de outro fabricante, não é a fábrica da
Bic que irá controlar as necessidades de estoque do fabricante de tinta. Ele deverá ter seu próprio
MRP, enquanto o fabricante da Bic controla o estoque disponível de tinta.
Lembrete
Programa-mestre Registro de
de produção estoque
Registro de
Lista de materiais
estoque
Registro de
Lista de materiais
estoque
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Unidade II
Desde a revolução industrial japonesa, “capitaneada”, entre outros, por Deming, ficou
claro que a manutenção de estoques deve ser feita de maneira absolutamente estratégica, de
forma a direcionar os recursos financeiros para outras áreas de investimento, como pesquisa e
desenvolvimento, por exemplo.
No processo tradicional de produção utilizado até então pela maioria das organizações
ocidentais, a programação era “empurrada”, dando‑se entrada nas ordens de produção assim
que chegassem à fábrica, gerando altos estoques em processo (estoques de peças entre etapas
do processo produtivo) e estoques de produtos acabados antes dos prazos contratados com os
clientes finais.
Observação
Por meio das técnicas japonesas, desenvolveu‑se o conceito de programação “puxada”, que é aquela
que ocorre a partir do momento em que o cliente solicita a entrega de um produto, e então, do último
processo produtivo, começa a requisição de componentes “para trás”, no processo produtivo. Como já
vimos, esse planejamento elimina desperdícios e estoques em processo.
Para bem entender a programação para trás, vamos utilizar um exemplo apresentado por Corrêa da
programação através do MRP para uma lapiseira.
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Gestão de suprimentos e logística
Lapiseira
P207
A partir da estrutura de material pode‑se responder a duas questões: o que e quanto produzir e
comprar. No exemplo proposto por Corrêa, se desejarmos produzir mil lapiseiras, precisamos comprar
quatro mil grafites, produzir mil corpos, e assim por diante, gerando a tabela a seguir.
Uma vez identificada a lista de necessidades, surge a segunda questão, que é o quando. Em que
momento produzir ou comprar? Nada deve ser feito antes da real necessidade, pois não se deve
estocar nada que não seja estritamente necessário. Assim, as atividades, como vimos antes, devem ser
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Unidade II
programadas para o momento mais tarde possível, diminuindo os estoques. A tabela a seguir mostra os
tempos de obtenção para cada um dos itens da estrutura de material da lapiseira.
Existe agora a condição de “desenhar” a estrutura de material para a lapiseira P207, porém,
adicionando os tempos de obtenção e partindo da data de entrega contratada (o que o cliente solicitou).
Conforme proposto por Corrêa, os itens são representados não por “caixas”, mas por segmentos de reta,
cada segmento correspondendo à escala de tempo utilizada para o gráfico e representando o tempo de
obtenção do item. E a estrutura é “desenhada” na horizontal, em vez de ser na vertical.
Nível B1 A
“0” Produto
Lead time Lead time
Produto
B2 B
Tempo
Figura 23 – Representação da mesma estrutura de material, desenhada na vertical e na horizontal, nesta ultima forma permitindo a informação de tempo
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Gestão de suprimentos e logística
Assim sendo, no modelo da lapiseira P207, a estrutura de material “desenhada” na horizontal e tendo
por referência uma escala de tempo resulta na figura a seguir:
Corpo da ponteira
LT = Lead time Plástico LT = 2
OC = Ordem de compra ABS (10g) Guia pont.
OP = Ordem de produção LT = 1 LT = 1
Corpo externo
LT ≠ 2
Presilha
Plástico Corante azul (0.1g)
Tira LT = 1 Lapiseira
ABS (7g) LT = 2
1mm (2g) Tampa LT = 1
LT = 3
Fio de LT = 1 LT = 1
Capa da garra borracha
LT = 3 (2 cm) Borracha
Plástico Mola LT = 1 LT = 1
ABS (7 g) LT = 1
LT = 1 Miolo interno
Corpo do miolo LT = 3
Miolo
Corante preto LT = 2 Tira Capa de
1mm (2g) borracha LT = 1
(.05g) Garra (3)
LT =2 LT = 1 LT = 1
LT = 1
Grafite (4)
Suporte da garra LT = 2
LT = 2
12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
OC capa da garra OC mola OC fio OP miolo Pedido
1000 1000 20 m OP borracha 1000 OP lapiseira lapiseira
1000 1000 1000
OC corante OP corpo OP miolo int. OC tira OP guia
0,05 kg 1000 1000 2 kg OP capa 1000
OC ABS OC garra OC grafite 1000 OC tampa
7 kg 3000 4000 1000
OC suporte OC corante OC corpo
1000 0,01 kg OC ABS OC presilha
1000
10 kg 1000
Figura 24 – Representação do tempo de obtenção de todos os componentes da lapiseira em uma programação “para trás”
Observação
A partir da figura anterior, são identificados os momentos em que ações devem ser tomadas nos
diferentes instantes de tempo. Dessa forma, as quantidades certas estarão disponíveis no momento
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Unidade II
certo para a produção da quantidade desejada (resultante da melhor visão de futuro, como o caso
do pedido de mil lapiseiras) de produtos acabados. Corrêa sugere como exemplo a seguinte lista
de ações.
Quadro 5 – Algumas ações que devem ser tomadas tendo por base a estrutura de material
Lembrete
Partindo‑se das listas de materiais e das estruturas de materiais, o MRP pode, muitas vezes,
recomendar a aquisição de quantidades que normalmente não são encontradas no mercado, como,
por exemplo, o plástico ABS, para o qual o sistema requer 7 kg, mas (por exemplo) só é encontrado em
embalagens de 50 kg. Tipicamente, é um caso sem solução, obrigando a aquisição dos 50 kg, a utilização
dos 7 kg e a armazenagem do excedente.
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Gestão de suprimentos e logística
Como o sistema de cálculo MRP tem como dados de entrada os pedidos de clientes e o planejamento
de vendas futuras, além das listas de materiais e dos estoques disponíveis, podemos então simular uma
situação para a montagem das mil lapiseiras, tendo em conta os itens de primeiro nível. Corrêa propôs
a seguinte hipótese como exemplo:
Observação
A partir dessa primeira planilha, repete‑se o processo para os demais níveis da estrutura de material,
para trás no tempo: para liberar uma ordem de produção de seiscentos miolos na semana 19, é necessário
que os componentes que compõem o miolo estejam disponíveis em quantidade suficiente na semana
19. Considerando que também no nível 2 da estrutura de material existia um estoque disponível, o
cálculo resulta em:
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Unidade II
Tabela 6 – Estoque projetado disponível e cálculo das necessidades para componentes nível 2
Continuando a repetir o processo, temos a visão geral das necessidades em termos de liberação de
ordens de compra e produção.
Estoque projetado
para a semana 16
garra = 1100
suporte =150
Miolo interno
Estoque projetado
LT = 3
para a semana 19 Miolo
miolo = 250 LT = 1
grafite =1500 Garra
LT = 1
Estoque projetado Suporte da garra
Grafite (4)
para a semana 20 LT = 2
LT = 2
miolo = 400
12 13 14 15 17 17 18 19 20
OC garra OC grafite OP lapiseira
OC suporte 0 OC miolo int. 900 OP miolo 1000
200 350 800
Figura 25 – Demonstração das necessidades brutas e líquidas para alguns itens da lapiseira
Não é tema a abordar nesta explicação, mas se torna evidente que qualquer atraso na entrega de
algum componente irá provocar o atraso de entrega de todo o lote. Por essa razão, a seleção adequada
de fornecedores e canais logísticos responsáveis são fundamentais para que o MRP resulte em decisões
efetivas e lucrativas.
O MRP deve informar a quem está gerenciando o processo quais são as necessidades que a
organização deve prover a fim de atender a uma demanda real (pedidos) e planejada (previsão).
Cada software tem sua própria “cara”, isto é, o layout de apresentação varia de caso para caso.
Mas, segundo Corrêa, uma forma básica de apresentação dos registros do MRP é dada pela figura
a seguir:
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Gestão de suprimentos e logística
Hoje
Miolo Períodos 1 2 3 4 5 6 7 8
interno
Necessidades brutas 100 230 400 380 600
Lote =1 Recebimentos programados 100
(mínimo)
Estoque projetado 380 280 280 380 150 0 0 0 0
LT = 3 Recebimento ordens planejadas 250 380 600
ES = 0 Liberação ordens planejadas 250 380 600
Observação
Temos, na tabela 7, todos os registros necessários para identificar o que fazer com o item em questão:
• o estoque de segurança (ES), muitas vezes utilizado como proteção ao sistema produtivo – no
caso, igual a zero;
• os períodos nos quais os eventos devem ocorrer: como já comentado, recomenda‑se o uso do
calendário de semanas, utilizando como período a semana;
• necessidades brutas: são as necessidades de disponibilização do item em cada período futuro, que
são saídas esperadas de material de estoque;
• recebimentos programados: são os materiais que chegam à operação, ficando disponibilizados no estoque;
• estoque disponível projetado: são as quantidades do item que sobram no estoque (após o cálculo
de quanto existia no estoque, mais as entradas esperadas e menos as saídas esperadas);
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Unidade II
• recebimento de ordens planejadas: quantidade de material que deverá ficar disponível no início
do período correspondente, para atender às necessidades brutas;
• liberação de ordens planejadas: mostra o período em que as ordens devem ser lançadas e em que
quantidade. O lead time é mostrado por meio do registro da quantidade na linha de recebimento
de ordens planejadas.
Período 4:
Período 5:
Observar que a ordem planejada recebida no período 5 havia sido liberada para produção no
período 2.
Saiba mais
56
Gestão de suprimentos e logística
• lotes mínimos: algumas operações necessitam de um volume mínimo de produtos para a abertura
de ordens de produção, devido a custos operacionais, entre outras razões. Acima da quantidade
prevista no lote mínimo, não existe, em princípio, restrições;
• estoque de segurança: todo processo tem incertezas e, no Brasil, com greves em portos
que podem durar meses, impedindo a chegada de mercadorias, ou “sinal vermelho” na
liberação alfandegária, ou, ainda, uma máquina que quebra em um fornecedor principal, a
possibilidade de atraso na entrega de itens essenciais é bastante provável. Essas inseguranças
obrigam os gestores a manter um estoque de reserva para contingências, que se denomina
estoque de segurança. Eventualmente pode‑se substituir o estoque de segurança por um
tempo de segurança, que considera um tempo de planejamento para obtenção dos itens
maior que o real e, dessa forma, protegendo a produção quando algo errado acontece. A
tabela a seguir mostra um registro de MRP considerando a existência de um estoque de
segurança:
Miolo Períodos 1 2 3 4 5 6 7 8
interno
Necessidades brutas 100 230 400 380 600
Lote =1 Recebimentos programados 100
(mínimo)
Estoque projetado 380 280 380 380 200 200 200 200 200
LT = 3 Recebimento ordens planejadas 50 400 380 600
ES = 200 Liberação ordens planejadas 50 400 380 600
Observar, por exemplo, no período 4, que, mesmo existindo um saldo de 380 itens no fim do
período 3, e o recebimento de uma ordem planejada de 50 itens no período 4, o MRP considera
a necessidade de manter um estoque de segurança de duzentos itens, que resulta no período 4
como estoque projetado;
57
Unidade II
Lembrete
Até agora apresentamos o MRP aplicado para um item único de determinada estrutura de
material, porém, já vimos que, como no caso da Bic ou da lapiseira, existem muitos componentes
que devem ser planejados para que o lote final de canetas ou lapiseiras seja entregue na data final
planejada.
Lapiseira
P207
Miolo
4x
Miolo
Grafite
interno
3x
Suporte
Garras
da garra
A estrutura anterior se torna muito mais complexa no momento em que tentarmos visualizar todos
os registros do MRP correspondentes ao trecho:
58
Gestão de suprimentos e logística
Lapiseira
Liberação de ordens 300 200 500 500 1000
Miolo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Necessidades brutas 300 200 500 500 1000
Lote Recebimentos programados
mínimo 300
Estoque disponível 350 350 50 50 150 150 150 0 0 0 0
LT = 1
ES = 0 Ordens planejadas 300 350 500 1000
Liberação de ordens 300 360 600 1000
Grafite 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Necessidades brutas 1200 1400 2000 4000
Lote Recebimentos programados
múltiplo 500
Estoque disponível 250 250 250 550 550 550 650 650 650 650 650
LT = 2
ES = 250 Ordens planejadas 1500 1500 2000 4000
Liberação de ordens 1500 1500 2000 4000
Miolo interno 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Necessidades brutas 300 350 500 1000
Lote Recebimentos programados 300
lote a lote
Estoque disponível 300 300 300 300 300 300 300 300 300 300 300
LT = 3
ES = 300 Ordens planejadas 350 500 1000
Liberação de ordens 350 500 1000
Suporte garra 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Necessidades brutas 350 500 1000
Lote Recebimentos programados
mínimo 500
Estoque disponível 120 120 120 270 270 270 100 100 100 100 100
LT = 2
ES = 100 Ordens planejadas 500 500 830
Liberação de ordens 500 500 830
Garra 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Necessidades brutas 1050 1500 3000
Lote =1 Recebimentos programados
mínimo 1500
Estoque disponível 450 450 450 900 900 900 150 150 150 150 150
LT = 1
ES = 150 Ordens planejadas 1500 1500 2250
Liberação de ordens 1500 2250
Observar que os suportes da garra e as garras ficam prontos sempre um período antes do miolo
interno, e que, por sua vez, o miolo interno e o grafite ficam disponíveis sempre um período antes do
término do lote de lapiseiras.
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Unidade II
O MRP é, assim, um método que realiza todas as rotinas de cálculo de necessidades, vindo do ponto
mais alto da estrutura até o ponto mais baixo, até que todos os itens necessários estejam calculados e
planejados. Em resumo, conforme Slack (2007):
O processo do MRP 1:
• para cada componente ou montagem que é necessária, mas não disponível, identifica quando o
trabalho de produção precisa começar para que o item esteja disponível até a data requerida;
Observação
A realidade nas fábricas não é assim, e faz‑se obrigatório um ajuste à capacidade disponível,
surgindo os gargalos (pontos de estrangulamento do processo, máquinas mais lentas) e os
recursos‑chave (processos por si só mais complexos). O programa‑mestre de produção deve então
ser ajustado.
Uma forma de fazer tal ajuste é a de utilizar o MRP 1 de ciclo fechado, que, ao mesmo tempo
que verifica as necessidades de materiais, confere se a capacidade de fabricação correspondente está
disponível e, nos casos em que não se consegue o equilíbrio, realiza‑se novamente o ciclo do MRP 1,
gerando novos planos corrigidos e adequados ao momento.
60
Gestão de suprimentos e logística
Plano de Plano de
materiais capacidade
É possível fabricar a
Planejado fabricar uma Plano de Plano de
Realístico? quantidade requerida por mês?
quantidade por mês produção produção Quais recursos são necessários?
É possível fabricar a
Planejado fabricar uma Plano de Plano de
Realístico? quantidade solicitada para a
quantidade para certa data produção produção data requerida?
Porém, o sucesso do seu uso chamou a atenção para a aplicação do conceito nas demais partes das
organizações. O criador do MRP, Oliver Wight, definiu o novo MRP, chamado de MRP 2 (MRP II) como
sendo: “Um plano global para o planejamento e monitoramento de todos os recursos de uma empresa
de manufatura: manufatura, marketing, finanças e engenharia”.
O grande sucesso do sistema está na integração de informações e sua manutenção ao longo do tempo,
ou seja, qualquer mudança em um produto desenvolvida pela engenharia é imediatamente repassada para
as demais áreas, gerando inclusive novas reservas de materiais por suprimentos, e assim por diante.
Toda a empresa passa a utilizar o mesmo banco de informações, conforme suas características funcionais,
diminuindo a incidência de erros. Porém, como cita Slack (2007), enquanto não existir uma real inteligência
artificial, não haverá forma de um computador substituir a inteligência, a intuição e a experiência local do
pessoal de fábrica. Ou seja, o final dos MRPs sempre dependerá dos gestores para a tomada final de decisões.
Marketing Finanças
Sistema central
de dados
Engenharia Produção
61
Unidade II
Cadeias de suprimentos
Segundo o dicionário da American Production Inventory Control Society, uma cadeia de suprimentos
(supply chain) pode ser definida como:
• os processos que envolvem fornecedores – clientes e ligam empresas desde a fonte inicial de
matéria‑prima até o ponto de consumo do produto acabado;
• as funções dentro e fora de uma empresa que garantem que a cadeia de valor possa fazer e
providenciar produtos e serviços aos clientes.
Para o Supply Chain Council (www.supply‑chain.com), uma cadeia de suprimento abrange todos
os esforços envolvidos na produção e liberação de um produto final, desde o (primeiro) fornecedor do
fornecedor até o último cliente do cliente. Quatro processos básicos definem tais esforços:
Planejar (plan)
Abastecer (source)
Fazer (make)
Entregar (delivery)
O bom entendimento de uma cadeia de suprimentos passa pela identificação, na cadeia, da empresa
foco, aquela que se pretende estudar. A partir dessa seleção, a cadeia de suprimentos passa a ser vista
pela perspectiva dessa empresa foco.
Saiba mais
62
Gestão de suprimentos e logística
Uma excelente analogia para bem entender uma rede de suprimentos foi feita por Martel (2008),
ao comparar uma rede com uma rede formada por tubos de diferentes diâmetros e capacidades, que
representam os gargalos ou os recursos com sobra de capacidade:
Lembrete
O modelo demonstrado na figura anterior mostra de forma clara que em cada etapa da rede
(representada pelos diferentes diâmetros de tubos) existe a necessidade de um intenso planejamento
e controle, assim como fica evidente que a capacidade, o volume e a vazão (demanda) tornam‑se
fundamentais para as atividades de planejamento e controle. Como forma de representar cada etapa,
a linha inferior utiliza símbolos comuns para a visualização de diferentes funções/atividades dentro do
processo produtivo:
63
Unidade II
Estoque
Transporte
Início/fim
Operação
Demora/atraso
Figura 32
O correto gerenciamento das atividades envolvidas nos processos da rede de suprimentos gera uma
vantagem competitiva importante para o desenvolvimento da organização.
O atendimento eficaz dos clientes, fazendo com que o fluxo de saída da rede seja igual à
demanda esperada pelos consumidores, requer a coordenação das atividades de transporte,
movimentação, fabricação, montagem, estocagem, venda, distribuição etc. ao longo da cadeia de
suprimentos. Exige‑se uma intensiva troca de informações entre os elos da rede, assim como um
planejamento antecipando as necessidades dos clientes (prevendo), resultando no planejamento
de vazão e volume na rede.
Assim sendo, a gestão do fluxo de mercadorias numa cadeia de suprimentos exige um encadeamento
de distintas atividades de planejamento e controle, encadeamento conseguido exclusivamente por meio
da informação, que se torna mais uma matéria‑prima. A forma como o planejamento e o controle irão
ocorrer irá depender:
• dos métodos definidos para a tomada de decisões e a execução das mesmas quanto a volume e
vazão (demanda).
64
Gestão de suprimentos e logística
Custos logísticos, qualidade de serviços prestados e tempos de ciclo dependem das estratégias
escolhidas. Tipicamente, as cadeias logísticas se dividem em segmentos interconectados (elos), podendo
ser identificados quatro elos principais:
Cada atividade anterior começa em função de algo que dispara o processo: um cliente chegando
a uma loja, um pedido que chega a um centro de estoque, incluindo‑se as atividades de preparação,
execução e finalização. Conforme Martel (2008), algumas atividades associadas aos ciclos da cadeia
logística são mostrados no quadro 6.
Saiba mais
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Unidade II
Lembrete
A estratégia a ser utilizada por cada organização fundamenta‑se na natureza e em práticas históricas
do setor de atuação, somadas às estratégias próprias da empresa.
Logística
Gestão de materiais
Figura 33 – Termos utilizados para descrever a gestão de diferentes partes da cadeia de suprimentos
A gestão da cadeia de suprimentos enxerga a cadeia completa como um sistema a ser gerenciado,
podendo ser definida como a gestão da cadeia completa do suprimento de matérias‑primas, manufatura,
montagem e distribuição ao consumidor final.
Assim, por incluir todos os estágios no fluxo total de materiais e informações, precisa também
incluir considerações sobre o cliente final, que é o único que tem a moeda “real” em toda a cadeia de
suprimentos.
A empresa‑chave ou foco numa cadeia é aquela mais forte, que está na posição de influenciar e dirigir
as demais, para que trabalhem juntas na causa comum de obter e reter os clientes finais. McDonald’s,
Dell Computadores, Volkswagen, Wall‑Mart, são alguns exemplos muito bons de empresas‑chave, que
“dirigem” a cadeia de suprimentos em que estão inseridas.
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Gestão de suprimentos e logística
Utilizar a abordagem holística (de toda a rede) para gerenciar a cadeia de suprimentos resulta em
novas oportunidades de análise e aprimoramento, localizando focos de atraso ou oportunidades para
reduções potenciais de custos.
Em longas cadeias de suprimentos envolvendo vários negócios, não é fácil coordenar toda a cadeia,
em particular quando parte da cadeia atende a dois conjuntos de clientes finais.
Forrester (1961) demonstrou que existe certa dinâmica entre empresas, numa cadeia de suprimentos,
que causa erros, desvios e volatilidade, e que tais desvios são crescentes para as empresas mais à
montante da cadeia de suprimentos.
O denominado efeito Forrester é similar ao jogo do telefone sem fio: quanto maior o
número de participantes do jogo, maior tende a ser a distorção. Quando o jogo termina e o
último participante fala em voz alta a mensagem, em geral nada tem a ver com a mensagem
original.
O efeito Forrester não é causado por erros e distorções, mas pelo desejo racional e compreensível de
cada um dos diferentes elos da cadeia de suprimentos, de gerenciar suas taxas de produção e níveis de
estoque de maneira independente.
67
Unidade II
Pode‑se observar que, quanto mais à montante (para a direita, sentido fornecedores) da rede de
suprimentos estiver a empresa, mais drásticas serão as flutuações causadas por uma mudança na
demanda do cliente final. A decisão sobre quanto produzir em cada período foi governada pela seguinte
relação:
Estoque inicial + taxa de produção = 2 x demanda (porque o estoque inicial deve ser igual a demanda)
O exercício não inclui nenhum período de defasagem entre a ocorrência da demanda em determinada
parte da rede e sua transmissão ao fornecedor. Na prática, porém, tal defasagem existe, fazendo com
que as flutuações sejam ainda maiores. Além disso, a maneira pela qual os diferentes integrantes da rede
definem seus lotes de produção pode causar distorções, que fazem com que os volumes de produção
variem nos fornecedores à montante, alternando momentos de não produzir nada com outros que
exigem horas extras.
Resumo
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Gestão de suprimentos e logística
Exercícios
Questão 1. (Enade 2006) A Cia. Goiás Velho S.A., fabricante de conectores, recebeu uma encomenda
de 1.200 conjuntos extensão‑tomada, cuja árvore de estrutura é a seguinte:
Conjunto
Extensão-Tomada
Fio 2 x 16
Tampas (2) Núcleo (2) Pino (1)
AWG (20)
A partir das informações apresentadas, pode‑se concluir que a quantidade do componente fio
(especificação 2 x 16 AWG) que precisa ser adquirido para atender a encomenda de 1.200 conjuntos
extensão‑tomada (utilizando todo o estoque existente) é:
A) 25.600
B) 21.000
C) 12.700
D) 11.000
E) 10.700
Demonstração de cálculos:
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: a essa resposta chegariam aqueles que raciocinassem da seguinte maneira: serão
produzidos 1200 conjuntos, cada conjunto precisa de 23 metros de fio, logo serão necessários 27.600
metros, mas como se tem 2.000 em estoque, basta adquirir 25.600 metros. A opção é falsa, visto que os
estoques do conjunto montado e de subconjuntos parcialmente montados são desprezados.
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Gestão de suprimentos e logística
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: a essa resposta chegariam aqueles que raciocinassem da seguinte maneira: serão
necessários 1200 conjuntos, como existem 200 deles no estoque, basta produzir 1000 unidades, cada
unidade precisa de 23 metros de fio, logo será necessários 23.000 metros, mas como se tem 2.000
em estoque, basta adquirir 21.000 metros. A opção é falsa, visto que os estoques dos subconjuntos
parcialmente montados são desprezados.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: a essa resposta chegariam aqueles que fizessem o cálculo corretamente, mas
esquecessem de descontar os 2000 metros de fio em estoque.
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa correta.
Questão 2. (Enade 2009) Os parâmetros fundamentais do MRP (material resource planning) são o
tamanho de lote de pedido, o estoque de segurança e o prazo de entrega (lead time). O departamento
de produção de uma empresa tem uma previsão de utilização de parafusos, no processo de manufatura,
apresentada na tabela a seguir, ainda incompleta:
Semana 0 1 2 3 4 5
Necessidade bruta 100 0 700 1000 400
Recebimento de pedidos planejdados 0 0
Estoque projetado 400
Liberação de pedidos planejados
Os parafusos são vendidos pelos fornecedores de material em lotes de 500 unidades, isto é, podemos
apenas comprar múltiplos desse valor (500, 1000, 1500 etc.). O prazo de lead time é de duas semanas,
o estoque de segurança é de 200 unidades, o estoque inicial é de 400 unidades, e não houve nenhum
pedido feito nas duas últimas semanas.
A) 500.
B) 400.
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Unidade II
C) 300.
D) 200.
E) 120.
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