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3. A terceira parte traz uma fase marcada pela fragmentação e por exercer
grande influência sobre a historiografia e sobre o público leitor, em abordagens
que comumente chamamos de Nova História ou História Cultural.
Nos cinco capítulos que integram a obra, o autor proporciona uma viagem
através da “história da história”, seus principais escritores, métodos e
finalidades de sua escrita, partindo da contribuição antiga até chegarao século
XX. Trata-se da História da Historiografia na sua longa duração. Considera o
autor que, a partir da “Revolução Copernicana” na história, com Leopold Von
Ranke, a história sócio-cultural foi remarginalizada. Foi dada ênfase nas fontes
dos arquivos, numa época em que os historiadores buscavam se
profissionalizar e a história não política foi excluída. O século XIX ouviu vozes
discordantes entre historiadores, a exemplo de Michelet e Burckhardt que
propuseram uma visão mais ampla da história.
Outros exemplos podem ser citados, como Fustel de Coulanges e Marx que
ofereciam um paradigma histórico alternativo ao de Ranke. Historiadores
econômicos foram os opositores mais bem organizados da história política. Os
fundadores da Sociologia - Comte, Spencer e Durkheim - expressavam pontos
de vista semelhantes.
A segunda geração dos Annales foi protagonizada por Fernand Braudel que
sucedeu Febvre como diretor efetivo da revista. Para Braudel, a contribuição
especial do historiador às ciências sociais é a consciência de que todas as
“estruturas” estão sujeitas a mudanças, mesmo que lentas. Ele desejava ver as
coisas em sua inteireza, por isso era impaciente com fronteiras, separassem
elas regiões ou ciências. Quando prisioneiro, durante a Segunda Guerra,
Braudel teve a oportunidade de escrever sua tese. Seus rascunhos eram
remetidos para Febvre, de quem recebeu forte influência que o direcionaram
para a geo-história. A obra com o título o Mediterrâneo e Felipe II, degrande
dimensão, era dividida em três partes, cada uma exemplificando uma diferente
forma de abordagem do passado: primeiro, uma história “quase sem tempo” da
relaçãoentre o “homem” e o ambiente; segundo, a história mutante da estrutura
econômica, social e política e, terceiro, a trepidante história dos
acontecimentos (a parte mais tradicional), corresponderia à idéia original de
uma tese sobre a política exterior de Felipe II.
Ainda conforme o texto de Burke, a terceira geração dos Annales foi marcada
por mudanças intelectuais. O policentrismo (o centro do pensamento histórico
estava em vários locais) permitiu a abertura para idéias vindas do exterior e a
inclusão de novas temáticas. A ausência de um domínio temático fez com que
alguns comentadores falassem numa fragmentação. Burke abordou três temas
maiores: a redescoberta da história das mentalidades, a tentativa de empregar
métodos quantitativos na história cultural e a reação contrária a tais métodos
(quer tomem a forma de uma antropologia histórica, um retorno à política ou o
ressurgimento da narrativa). A mudança de interesses dos intelectuais dos
Annales, da base econômica para a “superestrutura” cultural – reação contra
Braudel e contra qualquer determinismo - foi intitulada por Burke como um
movimento “do porão ao sótão”.