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Quem tem medo do futuro?

Uma análise do Viola de Bolso Arte e Memória Cultural constata que municípios do extremo sul da
Bahia não conseguem dar respostas às demandas para a criação de políticas culturais
apresentadas pelo governo estadual...porque?

“A Cultura é o futuro das cidades.” é o que sustenta Rita Davies em livro intitulado “A Cultura pela
Cidade”, organizado por Teixeira Coelho. A citação – segundo Davies – consta do documento
Agenda de Desenvolvimento Econômico de Toronto, Canadá em que antevê a importância
econômica da cultura. Rita Davies então aproveita a experiência de Toronto para analisar os
impactos da economia da Cultura e também o potencial desta, para o desevolviemnto humano e
social. O foco é a cidade, locus e espaço vital cotidiano das expressões culturais.

Os avanços da política da Secult e os novos desafios


Segundo dados da Secretaria Estadual de Cultura da Bahia(Secult/Ba), dos 417 municípios baianos,
341(82%) assinaram o Protocolo de Intenções, que trata sobre o interesse do município em
ingressar no processo de construção do chamado Sistema Estadual de Cultura, no âmbito das
politicas públicas para a cultura, implementadas pelo governo federal.
O território extremo sul da Bahia é formado por 21 municípios. Destes, apenas 13 assinaram o
“Protocolo de Intenções(PInt).” Apenas 04 administrações tem Secretaria específica de cultura.
Um passo importante tem sido o estreitamento do diálogo da Secretaria Estadual de Cultura com os
municípios através do Fórum de dirigentes municipais. O termo “dirigentes municipais” foi criado
pela Secult/Ba para designar os representantes do poder público municipal na interlocução entre as
esferas governamentais e legitimar o processo.
Sobre o funcionamento e importância estratégica desse Fórum os prefeitos precisam tomar
consciência; para isso, o dirigente presente nele, seja secretário ou diretor de departamento de
cultura, deve ter o poder de persuasão junto à administração local e ter entendimento do significado
dessa construção processual.
A assinatura do “PInt” não significa que houve avanço real, porque somente a intenção não
materializa a proposta. A intenção existe, porém ela perde sentido se perdurar demoradamente –
como temos visto – o desinteresse e alheamento para o passo seguinte.

A falta de encaminhamentos dos resultados das Conferências municipais é prova cabal desse
alheamento, ao percebermos que em nenhum município os resultados da Conferencia foram levados
a sério, nem se adotou qualquer item discutido e encaminhado pelos presentes. O tema da
implementação dos Sistemas municipais de Cultura seria um mote que elevaria as intenções dos
gestores locais e bastaria apenas que os responsáveis e legítimos condutores da mobilização,
articulassem os envolvidos, produtores culturais, artistas e grupos, artesãos e empresários da
cultura, para posteriores rodadas de discussões e consensos, mantendo assim acesa a chama da
intencionalidade e do querer. Quem sabe assim o debate ganharia forma e demandaria gestos
concretos e medidas legais da gestão municipal da cultura.
Porém isso é uma projeção ainda subjetiva e nem sequer foi pensada pelos dirigentes municipais de
cultura, infelizmente. Nem em Salvador, a capital da expressão cultural, o processo andou. Aliás, o
(des)caso de Salvador é emblemático, já que nem Secretaria específica tem e, um Conselho
municipal de Cultura funcionando de verdade, é perspectiva distante.
Sabe aquelas brigas antigas – retrógradas – entre prefeito e governo estadual? Parece que é o caso
de Salvador, para quem está olhando de longe, no interior do estado...
A esperança de maio
Quanto aos municípios, o governo estadual faz uma nova tentativa neste final de maio em Salvador,
quando reunirá todos os Dirigentes Municipais de Cultura em evento que tem caráter muito mais de
solenidade política do que reforço ou meta conclusiva de um processo importante para as políticas
públicas de cultura do estado. Claro, o efeito resultante disso é a re-animação institucional, o
contato com os gestores municipais para se fazer garantir a presença no evento(no Teatro Castro
Alves e no Centro de Convenções da bahia); É um olhar positivo do governo sobre si mesmo, além
de envolver os representantes territoriais e aproximar uma articulação com a Coordenação dos
Pontos de Cultura, tudo a relembrar que existem coisas acontecendo neste campo. É a oxigenação
do processo, para não parar.
Muito bem. Fora isso, o evento em Salvador tem cara de campanha eleitoral, recheado pelas
notícias dos Editais lançados entre abril e junho, pela abertura de novos créditos para produção
cultural, porque depois a justiça eleitoral não permite movimentações dessa natureza.

Municípios do extremo sul: Medo do governo Wagner ou alheamento à política cultural ?


Com bem ressaltamos no começo desse artigo, o território extremo sul da Bahia é composto por 21
municípios, onde em sua grande maioria, não tem Secretaria de Cultura, nem qualquer mecanismo
que favoreça o crescimento ou atenda o mínimo de ações culturais dos segmentos que insistem em
se manter. Mesmo com a divulgação do crescimento de gestores municipais que tenha assinado o
Protocolo de Intenções, uma espécie de Carta compromisso em que a administração local se propõe
a ingressar no processo de construção das politicas públicas para a cultura, com vistas a
consolidação de um Sistema Nacional, Estadual e Municipal de Cultura, plano superior pensado
pelo estado brasileiro, na prática os apoios locais são altamente restritos e são resultados de pressão
de grupos culturais junto ao prefeito diretamente.
Para entender este processo basta ler os documentos da Secretaria Estadual de Cultura dos últimos
anos, em preparação ás Conferencias de Cultura e apresentados por ocasião da Conferencia
Estadual de cultura em Ilhéus, novembro passado.

Dados culturais do xtremo sul da Bahia não mudam


Em 2006 o IBGE divulgou os seus dados sobre a realidade cultural em nossa região, registrando e
concebendo essa realidade a partir de dados como: números de equipamentos culturais; numero de
grupos de artes; cidades em que existem secretarias específicas ou não, população atendida, etc...
Depois de poucos anos - e com o advento do governo Wagner trazendo pra si a responsabilidade de
processar mudanças -, vimos que a situação nos municípios não mudou, apesar de o governo
estadual imprimir com radical tranquilidade metas estabelecidas em nível macro, mas que não se
materializa em nível local.
Quais são o fatores que denotam esta falta de visão ou interesse dos gestores municipais é o que
precisa ser analisado.
Ao nosso ver é escandalosamente um alheamento político, uma falta de sentido e ignorância do que
o estado brasileiro tem processado enquanto mecanismos, marcos legais, pedagogias e
metodologias criativas para uma nova formulação de ação cultural(do estado) em apoio aos diversos
e mais diferentes segmentos das áreas das culturas. Junte-se a isso o descaso com o fazer público e a
falta de sintonia com as politicas estabelecidas pelo governo Wagner, de transparência, autonomia e
confronto direto com a viciada política fisiologista do passado, há décadas vivenciada pela Bahia. A
soma desses fatores estão nos números e na inércia municipal e a presença dos representantes de
cultura no Fórum de dirigentes culturais, é a simples conformação do contexto político.
No caso do extremo sul, números e fatos demonstram este desinteresse proposital e total falta de
sentido nas ações pela cultura, que não passa de apoio a eventos sazonais, de caráter de massa, na
maioria das vezes para atender a algumas empresas do entretenimento.
Vimos em alguns números da cultura, que os índices variam muito mais para baixo do que para
cima, em se tratando de um contexto que poderia ser mostrado como favorável aos municípios, com
vistas a mudanças reais a partir dos programas da Secult/Bahia:
Municípios que possuem política municipal de cultural:
Bahia - 2006

Discriminação N %
Sim 192 46,0
Não 225 54,0
Total de municípios 417 46,0
Fonte: IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros Cultura/Suprocult - Secult

Gastos municipais em cultura em relação à receita total municípios classificados segundo a


população
Bahia – 2006

Município PIB (milhões/2005) População (2007) Gasto com Cultura %


Salvador 22.240,65 2.892.625 0,2
Feira de Santana 3.494,64 571.997 0,2
Vit. da Conquista 1.791,05 308.204 0,5
Juazeiro 1.158,58 230.538 0,0
Ilhéus 1.645,35 220.144 2,5
Itabuna 1.541,37 210.604 1,4
Eunápolis 753,40 93.984 0,0
Fonte: IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros Cultura/Suprocult - Secult

Em 2009 houve um salto significativo em relação a incrementos financeiros do governo estadual


para a cultura no apoio a grupos artísticos, além do envolvimento da maioria dos municípios na
adesão à proposta do SNC. A participação de representantes municipais no Fórum de dirigentes em
2007 era de 118, em 2009 foi para 393, de acordo dados da Secult/Ba. No site da Secretaria da
Fazenda da Bahia,(Sefaz) constatamos que em 2009 os municípios receberam recursos repassados
do Fundo Estadual de Cultura, porém poucos aplicaram adequadamente ou não houve nenhuma
forma de aplicação. É a demonstração clara do desinteresse e alheamento total, em que pese um
contetxo totalmente favorável.

Do ponto de vista da relação entre unidades da federação, a expectativa era que houvesse uma
significativa melhora, que avanços fossem registrados com a adoção de programas por parte dos
municípios e que a injeção de recursos financeiros em atividades culturais, intensificada, se
traduzisse em ações estruturantes.
Isso poderia caminhar para a discussão sobre políticas estruturantes de cultura e a superação de
problemas que se repetem ano a ano, tanto na capital quanto na maioria dos municípios baianos.
Não há registros de eventos significativos que tenham se transformado em exemplos e inspirados
programas mais consistentes de apoio à cultura local, nem mesmo a criação ou surgimento de novos
equipamentos culturais, nenhum espaço de apoio e incentivos às diversas formas de artes.
A impressão que fica – no caso do extremo sul - é que as Conferências municipais passaram como
um meteoro, raspando os territórios e suas unidades administrativas municipais; suas resoluções
esquecidas, com suas definições para encaminhamentos, engavetadas.
Não há registro de mudanças, do ponto de vista institucional do estado. Nem há espaços para
diálogos no terreno da municipalidade quando o assunto é política cultural. Os gestores municipais
fazem que escutam o governo estadual e em sua maioria, não demonstram interesse em aderir ao
processo que visa implantar o SNC.

Ohar o dialogar com movimentos culturais organizados


Bem diferente tem sido a relação e o diálogo entre o governo estadual e os movimentos sociais de
cultura, sobretudo no interior do estado, onde o terreno é fértil e tem produzido boas expressões
criativas, ampliando e fortalecendo os grupos culturais, gerando novas possibilidades de acesso a
recursos financeiros, fazendo movimentar a economia também a partir das produções culturais.
Dois exemplos são bem claros nesse sentido. O primeiro são os Pontos de Cultura, o segundo são os
Editais de acesso a programas de incentivo em todas áreas da produção cultural na Bahia, que tem
recebido propostas de instituições de cultura ou diretamente de artistas baianos, sem vinculo
qualquer com prefeituras ou instituições não-governamentais.

Essa tem sido a força motriz de ressonância real do que vem se realizando na Bahia: a força
expressiva dos movimentos de cultura, principalmente naqueles nichos que agora ganham corpo nos
Pontos de Cultura em todo o estado. A proposta de interiorização da ação cultural e a
descentralização dos recursos financeiros foi vencedora e chega ao seu ápice em 2010.
Essa construção já demonstra impactos positivos no presente e sinaliza resultados surpreendentes no
futuro próximo. É por isso que do ponto de vista dos movimentos sociais de cultura, os Pontos de
Cultura, as Redes sociais de intercâmbio e articulação, essa movimentação viva e crescente não
pode esperar pelo poder público lento e alheio a mudanças.
Mas os movimentos de cultura devem sim, jogar óleo na maquina estatal para fazer que esta se
movimente e que isto dê fluidez, fazendo as coisas acontecerem no que lhe cabe, neste contexto
histórico de avanços das políticas e da participação das comunidades e grupos nas decisões locais
ou de carater estadual ou nacional.

Eunápolis, maio de 2010.

Sumário Santana,
é do Viola de Bolso Arte e Memória Cultural
e membro da executiva de Pontos de Cultura da Bahia.

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