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o intuito de apresentar propostas percorrida, velocidade média, atrito, etc,
alternativas a abordagens meto- superando por vezes, a falta de laboratório Rosana B. Santiago e José Carlos
dológicas para o ensino de física, para desenvolvimento de atividades expe- Martins
nesse artigo propomos trabalhar com a rimentais. Instituto de Física, Universidade do
interdisciplinaridade da física dos espor- Nesse trabalho escolhemos o karatê Estado do Rio de Janeiro, Rio de
tes. Sabemos do grande fascínio que os como o esporte a ser estudado. Vamos Janeiro, RJ, Brasil
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esportes exercem na maior parte dos jo- apresentar um modelo físico que desen-
vens no mundo atual, seja na sua prática volvemos para o golpe chamado Gyaku-
direta ou como torcedores. Portanto, zuki, este golpe usa o quadril, o braço e
realçar as relações significativas entre es- punho, resultando num movimento
sas duas áreas do conhecimento humano parecido com um soco. Apresentaremos
tem um grande potencial pedagógico a ser as relações culturais inerentes à compre-
explorado. E que jovem não gostaria de ensão desse esporte, que provocam um
estudar o universo do vôlei, do futebol, diálogo não só com a física e biologia, mas
das lutas e de outros tantos esportes também com as disciplinas de história,
associado ao da ciên- geografia e filosofia,
Uma vantagem de trabalhar
cia? Falar dos times, deixando ao cargo da-
com a física dos esportes é a
das regras, dos movi- quele que se interes-
possibilidade do
mentos dos atletas, sar por esse assunto
desenvolvimento de projetos
dos chutes, dos golpes, aprofundar-se nas
interdisciplinares nas escolas
e das jogadas histó- questões aqui levan-
do ensino básico entre
ricas que ocorreram tadas. Do ponto de
professores de diferentes
ao longo dos tempos. vista do ensino, já há
disciplinas, principalmente com
E por que não falar dos algum tempo perce-
os de educação física
conceitos físicos en- beu-se como é insti-
volvidos nesses lances? Falar da evolução gante investigar as relações entre a física
dos materiais utilizados para produzir os e o karatê [1, 2]. Aqui abordaremos temas
equipamentos e vestimentas, como a como movimento uniformemente variado
roupa desenvolvida pela Nasa que ajudou (MUV) e movimento circular uniforme
ao nadador Michael Phelps a ganhar suas (MCU) que estão presentes no golpe
oito medalhas de ouro na Olimpíada de Gyaku-zuki. Nosso objetivo é obter o valor
Pequim. Em contra partida do prejuízo da da força final associada a esse golpe, ou
brasileira Fabiana Murer na perda da me- seja, a força que atinge o alvo.
dalha, nesse mesmo evento, devido ao
sumiço temporário de sua vara especial- A origem do karatê
mente produzida para um determinado O karatê teve suas origens no século
salto em altura. XVII nas ilhas de Okinawa, parte sul do
Uma outra vantagem de trabalhar território japonês, situado no Mar Ama-
com a física dos esportes é a possibilidade relo (veja Fig. 1). Provavelmente, essa luta No intuito de apresentar propostas alternativas
do desenvolvimento de projetos interdis- é resultado da união de uma arte chinesa a abordagens metodológicas para o ensino de
ciplinares nas escolas do ensino básico levada por mercadores e marinheiros à física, nesse artigo propomos trabalhar com a
entre professores de diferentes disciplinas, província de Fujian com uma arte marcial interdisciplinaridade da física dos esportes.
Desenvolvemos um modelo físico para calcular
principalmente com os de educação física. local. Karatê significa “mãos vazias” retra-
o valor da força final que atinge o alvo quando
Através de atividades esportivas como cor- tando o tipo de luta desarmada e desenvol- o golpe do karatê chamado Gyaku-zuki é apli-
rida, natação, salto em altura, entre ou- vida em segredo durante muito tempo em cado. Este golpe usa o quadril, o braço e punho,
tras, é possível contextualizar alguns Okinawa, como consequência da imposição resultando num movimento parecido com um
conceitos físicos, como exemplo, distância dos fidalgos japoneses que conquistaram soco.

Física na Escola, v. 10, n. 2, 2009 A interpretação física de um golpe do karatê 19


Ao término da rotação do quadril, ao serem empregadas às equações de movi-
a alavanca do ombro é acionada, mento. A seguir, iremos modelar fisicamen-
o braço é estendido lançando um te o primeiro estágio do golpe do karatê.
soco que atravessa uma linha reta
para frente até atingir o alvo, com Movimento do quadril
o cotovelo seguindo praticamente Nesse tópico analisa-se a biomecânica
a mesma linha do punho. No fi- associada ao primeiro estágio do golpe
nal do movimento, o punho faz Gyaku-zuki. Observa-se que o movimento
uma rotação para que no fim do dos quadris executa uma rotação tendo
movimento esteja com a parte da como centro, o ponto de interseção dos
palma da mão voltada para baixo, eixos principais longitudinal, transversal e
Fig. 2b. No final do movimento frontal do corpo do atleta [5]. No karatê o
deve acontecer o kime, que é a giro perfeito do quadril representa o aper-
contração dos músculos para feiçoamento da técnica e este é um dos
Figura 1 - Mapa da região onde Okinawa se situa.
sustentar o impacto do golpe. aspectos que faz com que o atleta consiga
Segundo Nakayama [3], “...um subir de categoria ao pleitear uma troca de
essa ilha, proibindo os seus súditos de certo grau de rotação dos quadris resulta faixa. Para fins práticos do nosso modelo
usarem armas. Os estilos de karatê de num movimento maior das extremidades físico, num primeiro momento, vamos
Okinawa mais antigos são o Shuri-te, o do corpo”. Motivados por estas observa- supor que o giro executado (no máximo
Naha-te e o Tomari-te, assim chamados de ções, veremos como esta rotação pode aju- de 45°) no Gyaku-zuki descreve um movi-
acordo com os nomes das três cidades em dar na eficácia do golpe. mento circular uniforme (MCU). O MCU
que eles foram criados, a terminação te sig- A pergunta que estamos interessados é um movimento que em intervalos de
nifica mão. Em 1820, Sokon Matsumura em responder é: Qual é a força final que o tempos iguais se percorre as mesmas
fundiu os três estilos e criou o shorin e este braço de um karateca faz ao colidir com o distâncias em trajetória circular [6]. Neste
teve muitos seguidores. Um de seus discí- alvo? movimento apenas está presente a acele-
pulos e filósofo, Gichin Funakoshi, foi Para entender a física envolvida nesse ração centrípeta, direcionada para o centro
quem popularizou essa luta no resto do golpe, dividiremos o Gyaku-zuki em dois da trajetória, fazendo com que a velocidade
Japão ao introduzi-la nas escolas como estágios: 1) o primeiro estágio está tangencial mude de direção a cada instante,
uma atividade esportiva, em 1913, antes associado ao giro do quadril com o braço sem alterar o seu módulo. Portanto, ao ser
da 1ª Guerra Mundial. O karatê na cultura direito rente à cintura, acompanhando o lançado o braço para golpear o alvo, este
moderna japonesa é imbuído de elementos movimento do quadril (Fig. 2a), 2) o não sairá do repouso, mas com a mesma
do zen budismo, onde palavras como hon- segundo estágio começa no instante em que velocidade da trajetória circular que o con-
ra, lealdade, compromisso e respeito ga- cessa o movimento do quadril e o braço é junto quadril-braço apresente. Desta for-
nham significados reais através da prática lançado horizontalmente para frente até ma, suporemos que esta velocidade tangen-
desse esporte. As aulas frequentemente atingir o alvo (Fig. 2b). cial é a velocidade inicial do segundo estágio
começam e terminam com curtos períodos O modelo físico que aqui propomos do Gyaku-zuki.
de meditação. Também a repetição de movi- usa os resultados analisados num traba-
mentos, como a executada no kata, é con- lho experimental [4] sobre o deslocamento Movimento do braço
sistente com a meditação zen pretendendo da mão em função do tempo em um soco Para interpretarmos o segundo está-
maximizar o autocontrole, a atenção, a for- do kung-fu que não usa o quadril para gio desse golpe nos apoiamos no trabalho
ça e velocidade, mesmo em condições adver- lançar o braço, ou seja, o que corresponde sobre o soco do kung-fu [4], cujo movi-
sas. Valores como estes também são funda- apenas ao segundo estágio do Gyaku-zuki. mento do braço do atleta durante o golpe
mentais na construção do ensino e aprendi- Neste trabalho, os autores usaram uma foi filmado, analisado e obtido o gráfico de
zado em ciências. Assim como, a vivência câmera rápida de 1000 Hz que registra ima- deslocamento em função do tempo,
dos professores em sala de aula, a influência gens em intervalos de 0,005 s, confirman- confirmando que o movimento descrito é
do zen nesta arte marcial depende muito do que a força muscular resultante desse um movimento uniformemente variado
da interpretação de cada instrutor, o que soco é constante durante o movimento e (MUV) [6]. A diferença básica entre esses
se assemelha aos saberes experiênciais dos que a resistência do ar pode ser desprezada dois golpes fica por conta que no golpe do
professores em atividade.
O golpe Gyaku-zuki
As técnicas do karatê que descrevem
um soco direto recebem o nome de Choku
zuki. Para a execução do golpe Gyaku-zuki,
a mão que golpeia deve iniciar seu
movimento na lateral do corpo, entre o
quadril e costelas, veja Fig. 2a, com a parte
que corresponde à palma da mão voltada
para cima e o braço rotacionado na sua dis-
tância máxima. O movimento do golpe
inicia-se com a rotação do quadril com o
punho junto a ele acompanhando a rota-
ção; durante esse movimento as pernas per- Figura 2 - a) posição inicial do golpe, b) giro do quadril acompanhado da distensão do
manecem abertas e fixas no mesmo ponto. braço.

20 A interpretação física de um golpe do karatê Física na Escola, v. 10, n. 2, 2009


kung-fu não há o giro da cintura e, por- do golpe, feitas no primeiro e no segundo zida pelo golpe ao atingir o alvo com ou-
tanto, o golpe parte do repouso, enquanto estágio do golpe, ou seja, a força do tras forças que o ser humano pode fazer.
que no Gyaku-zuki tem velocidade inicial quadril (F Fquadril) com a força feita pelo braço Por exemplo, para sustentar uma massa
não nula. Suporemos que o segundo está- F braço).
(F de 6 kg na mão, com o antebraço forman-
gio do golpe do karatê é semelhante ao gol- Sabendo que o movimento do braço do um ângulo de 90º com o braço, um
pe do kung-fu e que também é descrito pelo é o MUV, então a força associada a esse adulto faz uma força muscular de
MUV. estágio é constante e escreve-se como 563,81 N [9], ou seja, é equivalente à força
Em ambos os golpes o deslocamento peso de um corpo adulto de aproximada-
total associado ao final do movimento deve . mente 57 kg. Um atleta de 70 kg, com
ser igual ao tamanho do braço do atleta, já seu corpo pendurado pelas suas mãos
Supondo um atleta de 70 kg, a massa do
que o corpo do mesmo não deve deslocar- numa barra horizontal, com o antebraço
se durante a execução do golpe. Conside- braço é 13 kg [7], então = 1067,69 N. levemente inclinado formando um ângulo
ramos que o tamanho do braço do atleta Podemos admitir que a força que o de 10º com relação à vertical, o tendão do
que executa o golpe do Kung-fu é igual ao quadril faz é a própria força centrípeta seu bíceps (músculo do braço que liga ao
do karateca e que ambos tem a mesma ace- , onde m é a massa do antebraço) faz uma força de 1303,16 N
leração ao distender o braço. Assim é pos- tronco de um ser humano, que corres- para manter-se nessa posição em equilí-
sível igualar a função horária do MUV ponde a 46,10% da sua massa total e R o brio [9]. Dessa forma, concluímos que o
desses dois golpes (no caso do karatê so- raio deste tronco (considerando uma cir- corpo humano produz valores de forças
mente o 2° estágio) por terem a mesma cunferência perfeita) [7]. Então, para esse expressivas para se deslocar ou se manter
posição final (o tamanho do braço) e obter mesmo atleta, m = 32,27 kg e R = 0,14 m. em determinadas posições.
a velocidade inicial v0 do soco do karatê A Fig. 4 apresenta os possíveis valores Conclusão
da força total exercida no golpe direto do
, karatê em função da velocidade inicial do Inovar a metodologia de ensino de ciên-
segundo estágio do golpe. cias através de temas interdisciplinares
Observando a Fig. 4, nota-se que permite trazer para sala de aula situações
onde, a é o módulo da aceleração, t1 e t2 é o
quando o golpe parte do repouso a força reais do cotidiano dos alunos. A física dos
tempo que o braço leva para ser totalmen-
final é em torno de 1000 N, correspon- esportes é um tema que tem essas caracte-
te distendido no kung-fu e no karatê,
dendo a um tempo de distensão do braço rísticas e supera obstáculos disciplinares.
respectivamente; note que t1 > t2 porque
do atleta próximo de 0.08 s. Para produzir Nesse trabalho, mostramos que conteúdos
temos a contribuição da velocidade inicial
uma força de 2000 N o atleta precisa di- de física comumente apresentados nas
não nula no golpe do karatê. A Fig. 3 apre-
minuir este tempo em séries iniciais do ensino médio podem ser
senta alguns valores
torno de 0.02 s, em- vistos de uma forma diferente, em certo
possíveis de veloci- Inovar a metodologia de ensino
bora pareça um inter- aspecto, mais lúdica. Analisamos um gol-
dades iniciais para o de ciências através de temas
valo de tempo irrele- pe do karatê e o modelamos com os MCU
segundo estágio do interdisciplinares permite trazer
vante, para efeitos de e MUV para obter o valor da força que atin-
Gyaku-zuki. No mo- para sala de aula situações
melhoria de resposta ge o alvo. Sugerimos ao professor que ao
delo aqui sugerido não reais do cotidiano dos alunos.
do corpo humano é apresentar essa aplicação peça aos seus alu-
é levada em conta a A física dos esportes é um tema
um valor considerá- nos para levantarem, tentarem reproduzir
torção do punho du- que tem essas características e
vel, já que é o tempo o golpe com e sem o giro do quadril, obser-
rante a distensão do supera obstáculos disciplinares
que o cérebro huma- vando e sentindo a mudança do movimento.
braço, o valor da
aceleração é 82,125 (m/s2) e t1 = 0,08 s no demora para registrar um som [8].
foram experimentalmente obtidos via fil- Portanto, o giro do quadril no golpe do
Gyaku-zuki vem facilitar a diminuição Referências
magem [4].
desse tempo através da introdução da [1] J. D. Walker, Am. J. Phys. 43 43, 845
Força final do golpe velocidade inicial no MUV. (1975).
É interessante compararmos os valo- [2] S.R. Wilk, R.E. McNair and M.S. Feld;
A força final do Gyaku-zuki é a soma Am. J. Phys. 51
51, 783 (1983).
das forças, que são colineares no instante res do gráfico acima da força final produ-
[3] M. Nakayama, O Melhor do Karate –
Fundamentos (Cultrix, São Paulo,
1999).
[4] O. Pinto Neto, M. Magini, M.M.F. Saba;
Revista Brasileira de Ensino de Física
28
28, 235 (2006).
[5] Gerry Carr, Biomecânica do Esporte (Ed.
Manole Ltda., São Paulo, 1998).
[6] A. Máximo e B. Alvarenga, Curso de
Física – Volume 1 (Scipione, São Paulo,
2003), 6ª ed.
[7] O. Okuno e L. Fratin, Desvendando a
Física do Corpo Humano (Ed Manole,
São Paulo, 2003), 1ª ed.
[8] D. Texeira, Revista Veja, 5 de setembro,
p 93 (2007).
Figura 3 - Velocidade inicial do 2º estágio Figura 4 - força final do golpe do karatê [9] J.E.R. Durán, Biofísica Fundamentos e
do golpe do karatê em função do tempo em função da velocidade inicial do segun- Aplicações (Pearson Prentice Hall, São
de duração do mesmo. do estágio desse golpe. Paulo, 2003).

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