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“Fate is remarkable”
Betty Neels
Digitado: Valéria
Corrigido: Andréia
Uma mulher em leilão (Fate is remarkable) Betty Nells
Sabrina no. 39
CAPITULO I
Livros Florzinha - 10 -
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Livros Florzinha - 14 -
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Sarah ficou curiosa por saber se ele ainda tínha uma família que
lhe escrevesse. Esperava que sim; ele era tão bom.. . O médico ca-
minhara até a porta que dava para o jardim e abríu-a, deixando entrar
dois cães. Eles farejaram-na, abanaram o rabo e sentaram-se ao pé de
seu dono.
Ele disse: — Sente-se, por favor. Vamos dar a eles dez minutos
para que vocês se conheçam melhor. Se quiser fumar, há cigarros aí ao
lado.
Ela abanou a cabeça. — Não, obrigada. Só fumo nas festas, quan-
do não sei o que fazer com as mãos. Ele sorriu
— Não se incomoda se eu acender o cachimbo?.
— Por favor! O que o senhor pretende fazer em relação à sra.
Brown?
— Exatamente o que eu disse: manté-la o quanto possível no hos-
pital e em seguida mandá-la de volta para casa.
Sarah pareceu horrorizada. — De volta à rua Phipps? Ele alçou as
sobrancelhas. — A rua Phipps é seu lar — disse calmamente. — Ela
viveu la durante tanto tempo que seria uma crueldade tirá-la, sobretudo
porque lhe resta somente um pouco de vida. Vou providenciar para que
alguém vá lá diariamente e faça tudo o que for preciso. Acho que
poderíamos convencer o senhorio a limpar o quarto e talvez pintá-lo,
enquanto ela estiver hospitalizada.
Sarah aprovou. — Seria muito bom. Sim, o senhor tem razão, é
claro. Em qualquer outro lugar ela se sentiria perdida.
Ele acendeu o cachimbo e ficou de pé. Disse, sem o menor
sarcasmo: — Fico contente com sua aprovação. Vou buscar a sra.
Brown. Quer esperar aqui? Não demoro.
Quando ele partiu, Sarah levantou-se e começou a inspecionar a
sala. Era confortável e acolhedora, mobiliada com cadeiras de couro e
um enorme divã colocado diante da bela lareira de mármore. O assoalho
era encerado e coberto com um tapete igual ao do hall.
Sarah sentou-se sentindo um alívio e uma calma que não experi-
mentava havia dois dias. Deu-se conta de que há muitas horas não
pensava mais em Steven, Estivera muito ocupada com a sra. Brown e o
ridículo Timmy. Fora mera coincidência, claro, o fato de o dr. van Elven
ter pedido sua ajuda; mesmo assim ela sentia-se grata em relação a ele.
Ele fizera tudo o que pudera para distraí-la de seus pensamentos, ainda
que ela não lhe tivesse contado todo o sucedido. Sua gratidão
transpareceu ao despedir-se dele no hall de entrada do hospital. O dr.
van Elven foi cuidar de seus negócios e Sarah conduziu a sra. Brown
até a ala feminina. Ele, porém, não demonstrou o menor sinal de ter
ficado surpreendido com a franqueza de seus agradecimentos. Somente
mais tarde, em meio à solidão da clínica, é que as dúvidas relativas à
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CAPITULO II
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mesmo que tiverem, não conseguirão encontrar lugar — disse dr. van
Elven, e continuou: — Vamos tomar um chá?
Assim que o chá foi servido, os dois médicos discutiram o próximo
caso e o dr. Coles falou-lhes de seu filho mais velho, que estava indo
muito bem na escola. Foi quando Sarah estava colocando as xícaras e
os pires em uma bandeja que o dr. van Elven comentou calmamente: —
A senhora Brown contou-me que a senhorita a visita regularmente. É
muita bondade de sua parte.
Sarah passou-lhe as anotações relativas ao próximo paciente e
disse-lhe despretensiosamente: — Acho que ela não tem parentes ou
amigos que venham visitá-la, doutor. E o senhor sabe como é terrível
para um paciente ser o único da enfermaria que não recebe visitas.
— Imagino que deve ser uma experiência muito triste. Ela está
reagindo muito bem, sabe? Devo tomar providências para que ela volte
para casa.
— Como vai Timmy? — perguntou Sarah.
— É um hóspede perfeito. Seus modos, ao contrário de sua apa-
rência, são encantadores.
Finalmente, terminaram. Sarah dispensou as estudantes da enfer-
maria, mandou as atendentes colocarem um pouco de ordem na clínica
de ginecologia do outro lado do departamento e começou a arrumar
suas coisas. O dr. Coles tinha ido atender ao chamado de uma das
enfermeiras e ela estava a sós com o dr. van Elven, que presumi-
velmente estava entregue a seus pensamentos. Percorreu a pequena
sala colocando-a em ordem e empilhando as fichas, a fim de levá-las de
volta para o escritório. Tinha se esquecido completamente do homem
sentado tão tranquilo à escrivaninha. Quando ele falou, ela teve um
sobressalto:
— Fica mais fácil à medida que os dias passam, especialmente se
há muito trabalho a fazer. Boa noite, senhorita.
Sarah ficou parada, boquiaberta. Ele já estava fora do alcance de
sua voz quando ela retribuiu o boa noite.
Quando chegou à residência havia um bilhete para ela, da parte de
Steven, dizendo que precisava vê-la e se ela não poderia esperar por
ele às sete horas. Mas ela não tinha a menor intenção de capitular
diante dele. Trocou de roupa rapidamente, pois tinha uma boa desculpa
para sair, e estava contente por isso. Iria dar uma espiada no quarto da
sra. Brown.
A rua Phipps tinha aparência deprimente; a chuva parara, mas o
vento soprava forte e o céu do final da tarde estava carregado de
nuvens. Sarah bateu na porta da entrada e o mesmo homem abriu-a.
Chegaram ao primeiro andar e ele abriu a porta do quarto da sra.
Brown. Estava desprovido de móveis — aliás, de tudo, ela notou com
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— Oh, meu Deus! Tenho que ir correndo, o tempo passou tão de-
pressa!
O médico pagou a conta e disse com toda calma: — Não se
preocupe, você não vai se atrasar.
Não falaram muito no caminho de volta para o hospital, mas o
silêncio até que era agradável; ele não era o tipo de homem com quem
se precisava falar sem cessar. Não houve muito tempo para lhe
agradecer ao chegarem ao hospital, mas apesar de necessariamente
rápidas, suas palavras foram sinceras; ela, de fato, se divertira muito.
Ele a ouviu com um meio sorriso e disse: — Fico contente. Eu também
me diverti. Espero não estar abusando de sua boa vontade se lhe pedir
para acompanhar a senhora Brown quando eu a levar de volta para
casa. Sim, bem sei que ela poderia perfeitamente ir de ambulância, mas
tenho de devolver Timmy e posso perfeitamente vir buscá-la. Dez horas
está bem para você? Ah, e por falar nisso, descobri uma ótima
empregada que irá lá todos os dias.
Sarah respondeu que a notícia a deixava contente e que o horário
lhe convinha perfeitamente. Sentiu-se um pouco desapontada, pois uma
vez que a sra. Brown regressasse para casa não haveria mais
necessidade de ela assessorar o dr. van Elven. Pos imediatamente de
lado tais pensamentos; era uma deslealdade em relação a Steven,
apesar de que ela não mais o amava. Despediu-se com sobriedade e
mais tarde, sentada no consultório austero, tentou persuadir-se que
Steven surgiria a qualquer momento para dizer-lhe que tudo não
passara de um equívoco e que ele absolutamente não se casaria com
Anne Binns.
A semana voou. Viu Steven diversas vezes, mas nunca a sós. Pro-
videnciou para que isto não ocorresse, apesar de achar bem plausível
que ele, de sua parte, não quisesse falar com ela. Talvez, pensou es-
perançosa, ele se envergonhasse de si mesmo, apesar de não demons-
trar. Saiu bastante em seus momentos de folga. Suas amigas, aliás,
cuidavam para que isto acontecesse. Sempre havia alguém sugerindo
um cinema ou um jantar no Joe. Ela confeccionou as cortinas e a toalha
de mesa e levou-as consigo na sexta-feira à noite. Hugo não lhe dissera
nada a respeito da sra. Brown ou de seu quarto. De fato, pensando bem,
não conseguia se lembrar dele falando qualquer outra coisa que não se
referisse a seu trabalho.
0 sr. Ives a mandou entrar com um amistoso: "Olá, como vai?".
Sarah respondeu no mesmo tom e ele a precedeu ao subir a escada.
Ela parou no meio do caminho para mirar os consertos que ele havia
feito. Quando chegaram ao andar de cima Ives, com um gesto largo,
abriu a porta do quarto da sra. Brown e sorriu:
— Bem bonito, não é? — comentou satisfeito.
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CAPÍTULO III
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a ponto de dar as costas e voltar para o quarto quando viu Hugo no hall,
muito elegante em seu smoking e parecendo estar bem a vontade.
Estava conversando com a secretária da residência, uma das pessoas
mais fofoqueiras do hospital. Sarah cumprimentou-o rapidamente,
enquanto a mulher os devorava com o olhar.
Ele não lhe deu oportunidade de comentar sobre sua indecisão e
entabulou uma conversa corriqueira que durou até chegarem ao
restaurante. Lá estando puseram-se a decidir o que comeriam.
— Você quer se casar comigo, Sarah? — o tom que falava era
amistoso e ela teve consciência de que ficara desapontada, até que ele
sorriu, um sorriso acolhedor, obrigando-a a sorrir em retribuição. Disse,
um tanto encabulada:
— Sim, Hugo, quero. — Havia firmeza em sua voz, do mesmo
modo que em seu olhar, no momento em que se encararam. Aquela
agradável sensação de calor que ela havia sentido antes voltou e tor-
nou-se mais forte, ao notar a admiração nos olhos de Hugo. Ele le-
vantou o copo para um brinde e pela primeira vez em muitas semanas
ela se sentiu quase feliz. Talvez por isso ela se deu conta, duas horas
mais tarde, que não somente tinha ajudado Hugo a redigir o anúncio de
casamento, como também tinha aceito sua oferta de levá-la até sua
casa quando ela fosse para lá e, mais ainda, tinha-o convidado para
passar o fim de semana com ela. E finalmente concordara em se casar
com ele exatamente dentro de um mês.
Despediram-se diante das escadas da residência e ele a beijou li-
geiramente no rosto antes de abrir a porta para ela. Caminhou até o
quarto, a fim de não acordar Kate e despiu-se às pressas. Já na cama
deu-se conta de que talvez tivesse se excedido no champanhe, pois a
imagem de Steven se apagara o suficiente para que ela pudesse sentir
prazer no beijo de Hugo, mesmo sabendo que ele poderia ter ido um
pouco mais longe.
No entanto, quando ele veio buscá-la na manhã de domingo con-
tentou-se em lhe dizer um bem-humorado: "Olá. como vai?", acomodou
suas malas no porta-bagagens, fez com que ela sentasse a seu lado e
então, acenando para os rostos que os olhavam de várias janelas,
atravessou os portões sem a menor pressa. Ainda era cedo, o relógío
não marcava nove horas. Londres estava relativamente livre de tráfego
e era um dia suave de primavera. Acomodou-se no assento, certa de
que sua aparencia não podia ser melhor e antegozou os feriados que a
esperavam.
Telefonara para sua mãe na noite anterior. Esperava com isso que
a surpresa natural de seus pais fosse temperada por uma acolhida que
não parecesse óbvia demais. Seu pai, um coronel aposentado, era
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pela qual quero um casamento bem íntimo. Parece uma tolice, pois não
tenho certeza de meus motivos; mas quando tiver, eu lhe direi.
Ela ficou sentida ao vê-lo partir à noitinha, no final de um dia que
lhe parecera curto demais. Tinham ido falar com o vigário a respeito do
casamento, e ao voltar para casa sentaram-se sobre o tronco caído de
uma árvore, ao calor do sol, e conversaram como velhos amigos.
Separaram-se também como velhos amigos, apesar de ele não a ter
beijado. Ao invés, tomou sua mão e disse de modo bem convencional:
— Voltarei no fim de semana, Sarah. Aproveite suas férias.
E partiu, deixando-a com o sentimento de que gostaria de ter ido
junto com ele.
A semana passou rapidamente. Sua mãe, mostrando um lado
inesperadamente prático de sua personalidade, levou-a a Salisbury para
comprar roupas, uma iniciativa aliás muito facilitada pela importância do
cheque que seu pai lhe presenteara. E o que era melhor, morava na
cidadezinha uma costureira incrivelmente competente. Sarah passava
uma boa parte do dia às voltas com aquela importante personalidade,
ouvindo-a com seu saboroso sotaque a discutir tecidos e figurinos, e,
mais tarde, submetendo-se pacientemente às provas intermináveis.
Se seus pais pensavam em Steven, exteriormente não davam a
menor demonstração. Ela ficou contente ao constatar que eles não
falavam incessantemente a respeito de Hugo. Ao que parecia, tinham-no
aceitado e estavam contentes. Do mesmo modo como ela ficaria
contente, dizia a si mesma com incómoda frequência, uma vez que
esquecesse Steven.
Sua mãe recebeu flores durante a semana, acompanhadas de um
cartão muito polido de Hugo e de uma carta para ela — uma carta
breve, escrita com sua letra pequena e quase ilegível. Ela a leu por
diversas vezes, mas nenhum vôo de imaginação conseguiria alterar seu
conteúdo. Suspirou sem se dar conta e a guardou na mesma caixa
perfumada com saches onde estavam seus lenços, dizendo-se que na
realidade era exatamente isto o que ela queria: ele prometera ser um
amigo e companheiro, que talvez, com a passagem dos anos, sentisse
afeto por ela, do mesmo modo que ela por ele, uma vez que Steven
estivesse fora de suas cogitações.
Ele dissera que chegaria a tempo de almoçar no sábado. A manhã
estava quente e linda; mesmo após ter tomado algumas providências na
casa, arrumado as flores e improvisado um penteado, ainda assim tinha
algumas horas pela frente. Assoviou para os cães e saiu com eles,
subindo a colina atrás da casa. Estava deitada no gramado, sem se
importar com o penteado que lhe dera tanto trabalho, quando Hugo
sentou-se a seu lado. Sarah levantou-se no mesmo momento.
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Pós uma pequena caixa em sua mão e ela abriu-a, feliz por ele ter
pensado nisso, e prendeu a respiração ao ver o par de brincos de
pérolas e brilhantes.
Ela disse com tremor na voz: — Hugo, você é bom demais para
mim. — Ficou na ponta dos pés e beijou-o no rosto.
A viagem de volta correu bem, apesar de Sarah inicialmente ter
dado uma marcha a ré mal executada e ter, em várias ocasiões, mudado
de marcha um tanto bruscamente, o que a fez ficar um tanto
encabulada. Hugo, entretanto, ignorou aquelas pequenas imperícias e
continuou a conversar como se nada tivesse acontecido, o que res-
taurou sua confiança em si mesma.
Sarah ficou rubra de prazer; teria ficado muito incomodada se ele a
tivesse criticado, apesar de ter plena consciência de que merecia. De
certa forma, a opinião que ele tinha a seu respeito importava-lhe muito.
Foi portanto em um clima de contentamento que ela o acompanhou até
a casa, para provar o jantar delicioso que Alice tinha preparado para
eles. Logo em seguida inspecionaram seu futuro lar. Percorreram os
quartos, muito contentes com a companhia um do outro. Era uma linda
casa; o mobiliário, apesar de antigo, tinha aspecto agradável; as
cadeiras eram confortáveis e as cores dos estofamentos, discretas. Ela
aprovou tudo o que viu e declarou que não tinha o menor desejo de
alterar o que quer que fosse. Foram até o andar de cima e ela olhou
com uma certa preocupação para o lindo quarto que lhe era destinado.
Ficava nos fundos da casa e tinha um pequeno balcão que dava para o
jardim.
O quarto de Hugo era menor, e apesar de a mobília ser igualmente
bela, ele parecia um tanto frio. Sarah decidiu providenciar para que
sempre houvesse flores lá. Havia outros quartos, todos igualmente
encantadores; até mesmo o pequeno sótão tinha sido mobiliado com
capricho. Ao descerem as escadas, ela parou ao lado de uma grande
porta dando para o patamar; tinha notado sua existência quando
subiram, porém Hugo passara por ela sem se deter.
— Para onde dá esta porta? — quis saber, e sentiu-se desaponta-
da, quando ele disse: — Para nenhum lugar em particular.
— O que, na realidade, não fazia o menor sentido. Simplesmente
ele não queria que ela soubesse. Ela prometeu-se a si mesma que
descobriria assim que pudesse.
Ele a precedeu na escada e Sarah seguiu-o, ruminando o
pensamento desagradável que provavelmente ele havia feito tudo aquilo
para Janet. Um tanto deprimida, sugeriu que talvez já estivesse na hora
de voltar para o hospital.
Parecia-lhe estranho usar novamente o uniforme e ver Hugo reas-
sumir a clínica. Ele se dirigia a ela com sua habitual formalidade e
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CAPÍTULO IV
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Hugo não viria jantar em casa e ela não tinha necessidade de apressar-
se. Hugo também não viera jantar na terça-feira; disse que tinha muito
trabalho para fazer. Ela se pôs a imaginar que trabalho seria este, e
constatou que, apesar de serem tão bons amigos, ela não gostava de
lhe fazer perguntas. Imaginou que quando uma pessoa era casada —
casada de verdade, amando seu par — não havia necessidade de
perguntar o que o outro estava fazendo, pois a vida de qualquer modo
seria compartilhada.
CAPÍTULO V
Ela dormiu até muito tarde, na manhã seguinte. Era sábado e Hu-
go estava livre durante todo o dia. Alice a tinha chamado, pois a bandeja
com o chá estava no lugar de sempre, ao lado da cama. Devia ter
voltado a dormir. Quando desceu, Hugo estava no jardim, lendo o jornal.
Levantou os olhos e disse bem-humorado: — Bom dia, Sarah.
Dorminhoca! Não deviam ser nem onze horas, quando cheguei, ontem à
noite, e você já devia estar dormindo quando a chamei. — Seus olhos
cinza subitamente a fitaram. — Ou talvez não estivesse?
Ela evitou dar uma resposta direta. — Eu devia estar cansada.
Acho que foi o resultado de guiar duas vezes até o hospital no mesmo
dia.
— É mesmo? Muito bem! Em compensação, eu a levarei ao teatro
e mais tarde jantaremos em um restaurante no Mirabelle. Tenho
entradas para aquele show no Comedy. — Estendeu um braço para ela.
— Venha tomar o café da manhã, estou morrendo de fome.
Sarah, depois de vestida, mirou-se no grande espelho do quarto e
ficou muito satisfeita com o que viu. Comprara o vestido em Salisbury,
com uma parte do cheque de seu pai, e agora ficara contente por tê-lo
feito.
— Você parece uma princesa de contos de fada. Espero que não
desapareça durante a noite — disse Hugo, ao entrar no quarto, e des-
cruzou as mãos; e ela então viu o estojo de veludo. — Eu devia ter-lhe
dado isto quando nos casamos, mas é que não tive oportunidade de ir
até o banco. Era de minha avó. Foi um presente de meu avô quando
eles estavam noivos.
Dentro havia um colar de pérolas, de fileira dupla, com fecho de
diamantes. Ela o segurou e disse, mal podendo respirar de tanta ex-
citação: — São lindíssimas! Fabulosas! — Lançou-lhe um olhar pro-
longado, tentando ler a expressão de seu rosto. A tarefa revelou-se das
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Falou com uma certa dose de violência: — Não, não convido nin-
guém! Você,.. todas as terças e sextas, você vem para casa tarde da
noite!
Ele arqueou as sobrancelhas e havia a sombra de um sorriso nos
cantos da boca. — Venho mesmo, não é? — concordou, imperturba-
velmente. Sarah esperou que ele dissesse alguma coisa, qualquer coi-
sa, o que não aconteceu. Era como se fechassem delicadamente uma
porta em seu rosto.
Ela saiu correndo para seu quarto, onde, para sua grande surpre-
sa, começou a chorar. Logo após sentiu-se melhor. Provavelmente era o
resultado de ter voltado a ver Steven. Pensou nele e ficou surpreendida
ao sentir que aquilo, antes de mais nada, a aborrecia. Após algum
tempo desistiu, tomou um banho e deitou-se. Ouviu Hugo sair com os
cachorros e em seguida trancar a porta da frente, porém ele ficou no
andar térreo. Imaginou que ele tivesse ido ao seu escritório. Passava da
meia-noite quando ouviu seus passos ligeiros diante de sua porta,
atravessando o corredor em direção ao quarto.
Sentiu-se tola e culpada quando acordou, na manhã seguinte, mas
ao descer as escadas encontrou Hugo à sua espera, como se nada de
mais tivesse acontecido. O dia estava abafado, o sol vez por outra era
visto entre as nuvens carregadas e as águas do rio refletiam aquele
horizonte opressivo. Caminharam até a beira da água e ela falou,
desordenadamente, tudo o que lhe vinha à mente, mudando de um
assunto para o outro sem se importar muito com o contexto. Quando
finalmente parou para respirar, Hugo indagou: — Você vai visitar a sra.
Brown hoje?
Ela não tinha pensado no assunto, mas agora que ele lhe fizera a
sugestão, respondeu que sim, que bem poderia ir ate lá.
— Posso sugerir que você não vá de carro? Acho que vai cair um
temporal, e guiar em meio à chuva pode ser um tanto desagradável.
Tome um táxi, após o almoço.
Voltaram para dentro de casa e ela respondeu docilmente: — Mui-
to bem, Hugo — secretamente aliviada, pois no íntimo detestava
temporais. Então lembrou-se de que Alice sairia aquela noite e esperou
que o mau tempo tivesse passado quando chegasse a hora de voltar
para casa. Comunicou seus pensamentos a Hugo e então sentiu-se
extremamente ruborizada, pois parecia que ela o estava recriminando
pelo fato de ele não se encontrar em casa. Ele não respondeu e, após
alguns minutos, ela concluiu que ele não estivera prestando atenção ao
que dizia.
A chuva caía, quando ela chegou à rua Phipps. O chofer do táxi
olhou-a intrigado, enquanto ela lhe pagava, diante daquela casa de
aspecto acanhado, e quando íves apareceu, todo carrancudo, Sarah
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que via sangue passava mal, e que agora as coisas ficariam mais fáceis,
pois eram quatro mãos trabalhando.
Quando a noite chegou ao fim, Sarah sentiu-se intrigada, sem sa-
ber como os três tinham podido, até então, dar conta de tantas tarefas:
despiu bebês, lutou com crianças pequenas que usavam roupas
apertadas demais e portanto difíceis de se tirar; recolheu urina, tomou a
temperatura, removeu a sujeira de mãos, pés e rostos, a sujeira de
trabalhadores que lhe confessaram, sem maiores rodeios, não ter tido
tempo de se limpar antes de virem para o consultório. O último paciente
se foi após as nove horas, e Sandra seguiu-o, dizendo a todos um
alegre "até logo". Os médicos acenderam os cachimbos e puseram-se a
examinar suas anotações. Sarah fez uma limpeza geral, desligou o
antiquado esterilizador e sentou-se na cadeira de pau, de assento duro,
no consultório de Hugo. Ele levantou os olhos rapidamente, sorriu e
continuou a escrever. Ela sentou-se em silêncio, contemplando-o, até
que o dr. Bright apareceu na soleira da porta e disse:
— Que tal irmos tomar café em meu apartamento?
Ele parecia aguardar sua resposta com ansiedade. Sarah olhou
Hugo de relance e disse imediatamente: — É só o que estou querendo.
Fiquei exausta, depois de tanto trabalho!
Sorriu para o dr. Bright, mas, para uma pessoa exausta, parecia
extraordinariamente bonita e cheia de vida. Hugo não levantara os
olhos, mas ela sentiu que ele estava contente com sua resposta; talvez
eles sempre tomassem café depois que o consultório fechava.
O dr. Bright vivia sozinho, no segundo andar. Explicou a Sarah que
tinha uma diarista que cozinhava e fazia limpeza. Acrescentou
brevemente que sua mulher morrera havia muitos anos e seu filho dirigia
um hospital em Mombaça. Conduziu-os ate uma sala de estar
confortável, atulhada de livros e papéis; removeu uma pilha deles de
uma poltrona desajeitada, porém enorme, e convidou-a para sentar-se.
O dr. Bright olhou-a por cima das lentes espessas dos óculos, logo
após o café:
— Minha cara senhora van Elven, claro que vai poder nos ajudar
muito. Precisamos desesperadamente de alguém, porém não tenho
dinheiro para pagar uma assistente e não posso permitir que Hugo seja
mais generoso do que tem se mostrado.
No carro, a caminho de Richmond, Sarah disse com certo ar de
desafio:
— Eu disse ao dr. Bright que viria sempre com você para ajudar.
Acrescentou apressadamente, sem querer parecer que estava se
impondo: — Isto é, se você não se importar. Seria tão bom ter um
emprego... Não é que eu esteja me aborrecendo. Sempre há muito o
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— Não olhou para Hugo enquanto falava, mas achou que ele não se
importaria por ela dizer isto; obviamente era o que a velha senhora
gostaria de ouvir. Tratava-se de uma mentira tão inócua que não feria
ninguém. Mas isto não era verdade, Tinha consciência do quanto ficara
magoada, mesmo enquanto sorria para a sra. Brown, que esboçou um
brevíssimo sorriso e fechou os olhos, para não abri-los mais.
Havia muitas coisas a fazer, claro, e precisamente naquele mo-
mento a sra. Crews voltou. Hugo disse: — Vamos, Sarah! — e ela se
encontrou no corredor com ele. Pairava no ar um cheiro forte de peixe,
batatas e vinagre, e a torneira da pia, num dos cantos, não parava de
pingar. Ela deixou escapar um soluço que tentara reprimir e, quando se
deu conta, já estava nos braços de Hugo, chorando de encontro a seu
peito.
— Agora me sinto melhor, obrigada. Que tolice da minha parte!
Ele continuava a mantê-la em seus braços. — Não! — disse com
ternura. — Você não é tola. Sinto muito não ter podido deixar a clínica e
vir para cá, logo que recebi seu recado.
Ela o olhou, espantada. — Mas é claro que você não podia, com
toda aquela gente esperando...
Ele parecia estar prestes a responder a este comentário, mas, em
vez disto, inclinou-se e beijou-a ternamente. Em seguida acompanhou-a
até a entrada do prédio. O sr Ives já estava esperando, parado diante da
porta. Hugo manteve o seu braço em torno dela enquanto falava
rapidamente com o senhorio. Ela permaneceu em silêncio, sentindo-se
amparada e mal prestando atenção ao que era dito.
Quando voltaram para a rua Phipps ele mandou que ela entrasse
no carro e disse em tom decidido: — Fique aqui, Sarah, não vou me
demorar. — E entrou em seguida no prédio. Daí a pouco voltou, com o
precioso vaso num dos braços e Timmy no outro.
Já estavam quase chegando em casa quando ela finalmente
conseguiu falar. Olhou para Timmy, sentado em seu colo, e perguntou:
— Quem é que vai providenciar o...
— Já combinei tudo com Ives e a sra. Crews. Não se preocupe ,
com isto, Sarah.
Sua voz era calma e bondosa; ela constatou que parara de se
preocupar pela simples razão de que ele lhe ordenara não fazê-lo. Che-
gando em casa, foi entregar Timmy a Alice e voltou ao hall, a tempo de
deparar com Hugo, que vinha carregando o vaso de porcelana. Seguiu-o
até a sala de jantar e viu-o colocando o vaso no lugar de sempre.
— Espero que você não tenha ficado aborrecido, Hugo. Não havia
tempo de levar mais nada. Estava com pressa e tinha acabado de
fazer um arranjo floral, que aliás ficou lindo. — Ela parou, surpreendida
ao constatar que sua voz tremia.
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CAPITULO VI
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sala de espera estava repleta. Sarah disse alô ao dr. Bright e foi vestir o
uniforme no cubículo onde Sandra trabalhava. Em seguida, armada com
um lápis e um bloco de anotações, começou a organizar o atendimento.
Havia mais pacientes do que de costume, para Hugo, naquela noite, e
muitos vinham pela primeira vez.
Aos poucos a sala de espera ia se esvaziando; havia ainda umas
doze pessoas para serem atendidas, quando três jovens entraram e
sentaram-se ao lado um do outro. Não trocaram uma palavra, mas
puseram-se a olhar os demais pacientes, que os encaravam rapida-
mente e em seguida olhavam em outra direção. Sarah saiu da sala do
dr. Bright e sentiu alguma coisa no ar; percebeu também que fumavam.
— É proibido fumar aqui dentro. Se quiserem acabar de fumar, por
favor vão lá fora. Ainda não está na hora de serem atendidos e eu os
chamarei, — Sorriu para eles. — Seus nomes?
O rapaz do meio falou. — Não queremos esperar, vamos ser os
próximos.
Ela o encarou sem perder a calma. — As pessoas aqui têm sua
vez — explicou pacientemente. — E jogue fora esse cigarro.
Eles riram, soltaram uma baforada em seu rosto e ficaram
desconcertados ao ver que ela não tomava conhecimento, perguntando
simplesmente: — Qual de vocês é o paciente?
Eles não responderam. Sarah colocou o bloco de anotações no
bolso e disse, procurando controlar uma irritação crescente: — Acho
melhor vocês irem embora. Estão me fazendo perder tempo. — Antes
que pudesse acrescentar algo mais, o rapaz agarrou-a pelo pulso. Não
sentiu dor, mas teve de lutar para desvencilhar-se. Ficou sem se mover,
irritada, mas não especialmente assustada. Os rapazes eram jovens,
tolos e dispostos a provocar confusão. Com o canto do olho viu o
paciente sentado ao lado da porta da sala de Hugo levantar-se e entrar.
Era um homem velho e movia-se com lentidão, porém os rapazes não
notaram. Segundos mais tarde a porta abriu-se e Hugo, parecendo
maior do que era na verdade, caminhou em sua direção com andar
decidido.
Passou o braço em redor de seus ombros e o rapaz largou seu
pulso, como se aquilo o estivesse queimando. Hugo falou sem levantar
a voz, mas ela ressoava como uma chicotada.
— Se você puser um dedo sequer em minha esposa, acabo com
vocês três! — Ele os olhou de cima a baixo, enquanto sua mão exercia
uma pressão reconfortante sobre os ombros de Sarah. Os rapazes
agruparam-se. Jogaram os cigarros no chão, se recompuseram, en-
quanto o mais jovem e o mais limpo de todos disse, precipitadamente;
— Olhe, doutor, não sabíamos que ela era sua mulher, juro que
não. — Seus companheiros começaram a falar ao mesmo tempo. —
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Era só uma brincadeira, nós não íamos fazer nada e não fizemos
por mal.
— É verdade — concordou Sarah, ainda indignada, mas cujo
senso de justiça era profundo. Ela olhou de relance para Hugo. Seu
rosto estava tenso e havia um brilho em seus olhos que prenunciava o
pior. Sarah acrescentou apressadamente: — Aceitarei suas desculpas,
se eles as oferecerem.
Surpreendeu um brilho irónico e inesperado no olhar de Hugo, mas
o que ele tinha a intenção de dizer foi interrompido por uma profusão de
desculpas, tais como "Perdão, dona" ou "Não queira mal à gente, dona".
Os três já caminhavam de fininho em direção à porta e estavam para
sair quando Hugo disse:
— Esperem! Por que foi que vocês vieram aqui? E não adianta
querer me despistar com mentiras.. .
Eles arrastaram os pés, deram de ombros e fitaram-no sem saber
o que dizer. Muito contra a vontade, abanaram a cabeça, assentindo, e o
rapaz que agarrara o pulso de Sarah sorriu desajeitadamente para ela.
— Vocês não valem nada — observou Hugo —, e acho que nem
sabem o significado da palavra trabalho. Venham na próxima semana.
Talvez a gente até precise da ajuda de vocês, mas não esperem receber
pagamento! — Eles pareciam surpresos, cheios de suspeita e, de certo
modo, agradecidos, quando ele completou: — Agora, rua! em um tom
que não admitia contestações. Eles se foram. Assim que saíram, ele
olhou Sarah. — Desculpe, Sarah. Eles a assustaram? — Falava com
tanta ternura que ela imediatamente ficou comovida. Secretamente
ficara um pouco alarmada, mas agora, por nada deste mundo, o
confessaria.
Ele pelo menos poderia ter perguntado se ela ficara preocupada,
indisposta ou qualquer coisa no género. Em vez disto, Hugo disse
brevemente: — É, imagino que não! — Retirou o braço dos ombros dela
e voltou para sua sala sem dizer mais nada, deixando-a um tanto
decepcionada.
Minutos mais tarde ele a solicitou para colocar uma atadura num
dedo machucado que acabara de lancetar. Ela executou sua tarefa com
uma calma plena de eficiência, contornando os protestos de dor do
paciente, e estava a ponto de sair da sala quando Hugo se inclinou,
tomou-a pelo braço e disse calmamente:
— Eu não devia ter trazido você para cá.
Suas preocupações no mesmo instante dissolveram-se numa onda
de felicidade. Ele, em absoluto, não estava zangado com ela; apenas
com ele mesmo.
— É que até há pouco pensei que você estava zangado comigo, e
depois achei que estava tudo bem, pois, na realidade, estava zangado
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porém. Sarah agradeceu aos Céus ao ouvir sua vozinha fraca, apesar
de horrorizada com a dor que a criança devia estar sentindo. Caminhou
direto para o consultório de Hugo, pôs o bebê sobre um divã, indicou a
mãe e mergulhou uma toalha em solução salina. No momento em que
Hugo solicitava: — Quer providenciar. . . — a toalha já estava pronta e
ela embrulhava cuidadosamente o bebê. Hugo disse: — Já para o
hospital!
Ela sentou-se a seu lado, com aquele fardo patético nos braços,
enquanto ele guiava pelas ruas apinhadas de veículos. Era a primeira
vez que ela o via com a mão na buzina.
Encontraram enfermeiras já à sua espera, pois John Bright telefo-
nara. Sarah entregou o pequeno paciente para uma atendente, levou a
mulher para uma das saletas e deu-lhe chá, enquanto solicitava dela
todas as informações de que o hospital necessitava. Parecia que tinham
ficado lá por uma eternidade, apesar de que não se tinha passado nem
uma hora. Finalmente, a enfermeira de plantão veio dizer que a criança
tinha boas possibilidades de se salvar e que a mãe poderia passar a
noite no hospital, se quisesse. A mulher acompanhou-a e seu rosto,
devido ao choque, não tinha a menor expressão.
O silêncio no setor infantil era quase total, não fora a atividade
febril na pequena sala do fundo do corredor. Através da divisória de
vidro Sarah notou a maca no meio da salinha, bem como o aparelho de
soro, manipulado pela enfermeira da noite. Hugo falava com o médico
de plantão; lá estavam também mais uma enfermeira e a mãe da
criança. Esta, ao vê-los chegar, saiu correndo ao seu encontro,
esquecendo-se até mesmo de tirar o avental branco que lhe tinham
dado. Ao chegar até eles, atirou-se desesperada nos braços do marido,
que chegara com o dr. Bright. Ele a apertou de encontro a si e, apesar
do susto, procurou reconfortá-la. Beijou-a na boca, e Sarah desviou o
olhar, chocada ao perceber que sentia inveja da moça. Invejar uma
mulher tão infeliz, só porque seu marido a amava! Fechou os olhos por
um segundo e, quando voltou e abri-los, Hugo também estava no
corredor e a observava. Ela deu as costas e foi para a recepção; não
havia mais nada a fazer, a não ser esperar por ele. Daí a pouco ele
apareceu e disse calmamente:
— Sinto muito fazê-la esperar, Sarah.
Falaram muito pouco no caminho de volta para Richmond. Sarah
sentia vontade de dizer-lhe o quanto estava arrependida, mas sim-
plesmente não conseguia encontrar as palavras apropriadas.
No domingo, após o almoço com os pais, decidiu levar os
cachorros para dar uma volta. Hugo juntou-se a ela inesperadamente e
Sarah nesse momento resolveu lançar mão de toda sua coragem.
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CAPITULO VII
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de admiração, mas ela nem se importou. Mais significativo para ela foi o
cumprimento de Hugo: — Você está encantadora. Sarah!
Ela jantou com excelente apetite, sentindo-se muito contente, e
quando terminaram a refeição acompanhou-o para um passeio pelas
ruas da vizinhança. A rua Rokin tinha alguns antiquários de dar água na
boca, e apesar de ela não ser muito entendida nesses assuntos,
conhecia o suficiente para apreciar os tesouros que ele lhe apontava. O
que lhe chamou especialmente a atenção foi um belo serviço de prata e
uma coleção de cálices dourados que provavelmente constituíam parte
do enxoval da filha de algum rico fazendeiro, há mais de duzentos anos,
segundo explicou Hugo.
Voltaram para o hotel. Ele foi ler jornais e ela se deitou, munida
com um guia de Amaterdam e a última edição parisiense da VOgue. Ao
folheá-la, ela tomou consciência de que uma das muitas razões pelas
quais ela amava Hugo se devia ao fato de que ele vivia cobrindo-a de
gentilezas, sem nunca chamar atenção sobre o fato.
Estava ocupada em se pentear na manhã seguinte quando ele
bateu à porta. Com a boca cheia de grampos, murmurou um abafado:
"Entre". Ele abriu a porta apenas alguns centímetros, perguntou se ela
tinha dormido bem e se conseguiria chegar sozinha até o restaurante,
onde ele estaria à sua espera para o café da manhã.
Hugo estava à sua espera sentado à mesa, lendo um jornal.
Levantou os olhos quando ela se aproximou e exclamou, enchendo-a de
prazer: — É novo. Gosto muito!
Ela sentou-se, Ligeiramente ruborizada pelo elogio à sua roupa, e
no mesmo momento percebeu o pequeno embrulho ao lado do prato.
Fitou Hugo, que no mesmo instante lhe disse: — Vamos, abra! Ê seu,
Sarah.
Era uma antiga corrente relógio que ela admirara na noite anterior,
comentando que daria uma pulseira sensacional. Retirou-a da caixa,
exclamando: — Oh, Hugo, que linda! Quanta bondade de sua parte!
Muito obrigada! — Observou seu rosto, na esperança de poder ver
estampado nele algo mais do que a calma expressão de sempre, o que
não aconteceu.
— Algo que lhe recorde Amsterdam — ele observou, tirando a cor-
rente de suas mãos e enrolando-a em torno de seu pulso. — Que bom
que você gostou. — Ele então sorriu, o mesmo tipo de sorriso que seu
irmão poderia lhe ter dado, ela disse a si mesma desesperançada:
afetuoso e bem-humorado.
Já estavam quase terminando quando Hugo foi saudado por um
homem que acabara de entrar. Encaminhou-se rapidamente em direção
à mesa e Sarah teve tempo de observar que era tão alto quanto Hugo,
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Ela comentou, pensativa: — Sim, acho que são mesmo. Isto é, no-
ta-se ... o modo como ele disse seu nome. — Fez uma pausa, — Sim, é
evidente — reiterou, como se ele a estivesse contradizendo, o que aliás
não acontecera.
Comeram no De Borderij. Pediram frango no espeto e um excelen-
te vinho borgonha, que ela achou um tanto forte. Sarah pediu como
sobremesa um delicioso bolo de amêndoas recheado com creme, co-
mentando feliz que era uma sorte tais coisas não afetarem em nada seu
peso.
Após o almoço Hugo levou-a para conhecer a Nova Spiegel-straat.
Sarah comentou que ela não era absolutamente nova, pois as
casas todas tinham uns duzentos anos e quase todas tinham se tornado
lojas de antiguidades. Percorreram-na inteira, e Hugo, sempre genltil,
comprou-lhe um koekeplank esculpido, pois ela tinha achado que a peça
ficaria muito bem na cozinha de Richmond. De lá, as lojas da rua Síngel
eram um pulo. Numa delas Sarah ficou entusiasmada com uma gravura
antiga avte Hugo comprou.
Deixaram o hotel após o chá. Vierhouten era a uns oitenta
quilômetros, mas a tarde que caia estava agradável e não havia pressa.
Hugo deixou a rodovia principal assim que saíram de Amsterda e tomou
a estrada de Hílversum e Weesp. Tomou em seguida uma das estradas
secundárias que parecia conhecer tão bem. A região era muito
arborizada e as pequenas cidades pareciam prósperas, com casas de
veraneio em meio a jardins. Aqui e ali erguiam-se sólidas casas
quadradas, bem afastadas da estrada, e escondidas em meio às
árvores. Hugo, atencioso como sempre, deu uma parada em Soestdíjk,
a fim de que Sarah pudesse apreciar o palácio real, traçando ao mesmo
tempo uma história sucinta da Dinastia de Orange. Tomou novamente as
pequenas estradas que cortavam o campo, na região de Veluwe, até
chegarem ao hotel. Estava deliciosamente situado no meio de um
bosque. Talvez não fosse muito imponente, mas era confortável, a ponto
de chegar quase ao luxo. Sarah mudou de vestido e olhou em torno do
quarto. Hugo, na verdade, era um homem que esperava e obtinha as
melhores coisas da vida.
Mais tarde, enquanto sentavam-se para o jantar, ele indagou: —
Espero que goste deste lugar, ouviu, Sarah? Sempre o achei muito
agradável. Foi reaberto há uns dois anos, mas é confortável e a comida
é boa.
Ela como entrada, comia enguia defumada.
— É muito bonito. Diga-me, Hugo, você conhece os melhores ho-
téis da Europa?
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ele comentou: — Foi um dia bem agradável, não acha? Você gosta de
minha casa?
Resignada, ela dominou o desapontamento que sentia. — Muito,
só que eu não imaginava que ela fosse tão.. . tão suntuosa.
Ele a olhou, admirado. — Não parece suntuosa para nenhum de
nós, e muito menos para você, quando a conhecer melhor. Voltaremos
lá com frequência. Quando meu pai morrer e eu herdar a casa, mas
espero que isto ainda demore muitos anos, você gostaria de morar lá?
Sarah não pensou duas vezes. Disse imediatamente: — Oh, sim,
claro! Gostaria muito. Você acha que eu diria não?
— Não. Acho que conheço suas preferências e suas
idiossincrasias, Sarah, mas se a ídéia não lhe agradasse, nós a
deixaríamos inteiramente de lado.
Ela ruminou essas palavras em silêncio. — Você me considera de-
mais, Hugo. Não espero que você altere toda sua vida só para me
agradar.
Ela sentiu um tom galhofeiro em sua voz, quando ele respondeu:
— Minha querida Sarah, permita que eu seja o árbitro disto.
Fizeram muitas coisas durante a semana que se seguiu. Explora-
ram o Veluwe em profundidade; jantaram, conforme Hugo havia
prometido, no restaurante da Avifauna; visitaram Arnhem, onde Sarah
passou horas empolgantes no museu ao ar livre e comprou presentes
para seus pais; voltaram a Amsterdam, a fim de que ela pudesse dar um
passeio de barco pelos canais e visse um pouco dos museus.
Foram também a Hasselt passar o dia com a irmã dele, Joanna. O
sol de setembro brilhava sobre a pequena cidade, em parte medieval,
tranquila e antiquada, inesperadamente próxima à estrada principal.
Joanna vivia nos arredores da cidade com seu marido, o médico do
lugar, e seus quatro filhos. Sua casa era um tanto parecida com a de
seus pais, mas não tão grande, e estava cheia de bicicletas, varas de
pescar e uma infinidade de cães. As crianças caíram em cima do tio,
depois de saudarem Sarah com muita educação, e imediatamente
levaram Hugo para ver o barco que tinham acabado de comprar. Logo
mais chegou o cunhado. Era um homem silencioso, que obviamente
adorava sua mulher. Os três sentaram-se para tomar café, e Sarah logo
descobriu que gostava imensamente do casal. Quando Hugo voltou com
as crianças, ela estava num agradável bate-papo com Joanna. Ao
perceber o olhar astuto de Hugo, Sarah imediatamente deduziu que ele
tinha se afastado de propósito.
Ele fez o mesmo em Wassenaar, indo brincar bem-humorado com
seus dois sobrinhos pequenos, enquanto sua irmã Catherina e Sarah
travavam conhecimento. Catherina era mais jovem do que Joanna e
bem bonita, com os olhos cinza de Hugo e um jeito muito calmo. Tentou
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fazer com que Hugo falasse a respeito das crianças, quando voltaram
para o hotel, pois ele parecia tão dedicado aos sobrinhos, mas ele, com
muito jeito, mudou de assunto. Ela foi para seu quarto, pensando, quase
em pânico, que a vida de modo algum era tão simples quanto imaginara
quando se casou. Mas é que então ela não o amava.
Passaram o dia no Polder de Noordoost, porque Hugo disse que
aquela obra era um milagre de recuperação. Sarah achou-o
desinteressante e monótono, mesmo apreciando a grandeza da tarefa
executada pelos holandeses. Ouviu com interesse enquanto ele
explicava o que tinha sido feito.
— Passamos nossa vida tentando evitar que nosso país deslize
para o mar — ele concluiu.
Sarah fitou-o e disse, após uma pausa: — É estranho, na Inglater-
ra eu só pensava em você como sendo inglês. Oh, sei que de vez em
quando seu sotaque o trai, mas aqui você é todo holandês, mesmo
quando fala inglês comigo.
Ele começou a rir. — Sabe, Sarah, estou começando a pensar se
você refletiu seriamente antes de casar comigo. — Ele ainda estava
rindo, porém, seus olhos a estudaram atentamente, até que ela corou e
disse apressada:
— Oh, refleti, sim. .. Pelo menos no início eu não tinha tanta cer-
teza. Foi. .. isto é.. . — Ela gaguejou um pouco diante daquele seu olhar
fixo, mas ele tomou-a pelo braço e disse, com aquele seu jeito calmo de
sempre:
— Pobre Sarah! Estou brincando com você. Vamos almoçar em
Kampen; em seguida iremos visitar minha mãe.
O resto do dia foi perfeito. Os pais de Hugo cobriram-na de genti-
lezas durante o chá. Conversaram a respeito da casa de Richmond, da
Escócia e da possibilidade de uma visita a Londres no futuro.
— Venham para o Natal — convidou Hugo — e talvez a gente
consiga convencer o pai e a mãe de Sarah a vir na mesma época. Você
gostaria, Sarah? — Voltou-se e sorriu para ela, mais insinuante do que
nunca. Só de olhar para ele Sarah começou a sonhar de olhos abertos,
imaginando que ele, súbita e irresistivelmente se apaixonaria por ela.
Quando ele disse "querida", com voz cheia de ternura, pareceu-lhe, por
um momento, que o sonho, de alguma forma, tinha se tornado realidade.
Dois dias após estavam de volta para jantar. Sarah pôs o vestido
de crepe cor de mel, pois os diamantes exigiam algo muito simples.
Estava com o colar de pérolas na mão quando Hugo entrou.
— Não vou ficar muito espalhafatosa? — perguntou, preocupada.
— Por mim, usaria todas as jóias que tenho.
Ele a estudou cuidadosamente. — O vestido é muito simples e a
cor é linda; você não parecerá nem um pouco exagerada.
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seus braços e dançaram por mais uns cinco minutos, durante os quais
não havia passado ou futuro, somente aquele presente fantástico.
Partiram muito cedo na manhã seguinte, pelo caminho de Le Puy.
parando para almoçar em um pequeno restaurante de aldeia, a alguns
quilómetros de Clermont-Ferrand. Tinham ainda uns duzentos
quilómetros pela frente, pois ele pretendia passar a noite em Tours,
mas ela achou que a distância era pouca. Havia tanta coisa para se
conversar que ela, de repente, percebeu que gostaria que a distância
fosse duas vezes maior e que Hugo guiasse mais devagar.. .
Queria que o dia se prolongasse para todo o sempre. Chegaram a
Tours rápido demais; amanhã estariam de volta à Inglaterra, de volta
àqueles breves momentos pela manhã, quando ela estava com Hugo
antes de ele ir para o consultório ou para o hospital. Havia também a rua
da Rosa, claro, e ela agradeceu aos céus por isto. Isto sem falar nos fins
de semana, mas ela desconfiava que com a aproximação do inverno
receberiam e seriam recebidos com maior frequência. Isto significava
menos tempo juntos e uma consequente diminuição da intimidade de
que gozaram durante as férias. Se pelo menos conseguisse ter
paciência até que chegasse a hora de viajar para o chalé na
primavera. .. Foi dormir, com este pensamento em mente.
CAPÍTULO VIII
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a palpitar cada vez mais forte até que a porta se abriu e Hugo surgiu.
Ele acariciou os animais e disse calmamente: — Alô, Sarah.
Sarah foi ao seu encontro, com o rosto brilhando de felicidade e
sem se importar que ele estivesse notando. Tinha dado talvez uns três
passos quando ele voltou a falar. — Trouxe alguém comigo, você jamais
adivinharia de quem se trata.
Ela deteve-se, com a súbita convicção de que seria perfeitamente
capaz de saber quem era. A felicidade em seu rosto deu lugar a uma
expressão de polidez enquanto ele se punha de lado, para dar passa-
gem a uma mulher alta e morena.
Sarah disse do modo mais cortês possível, em um tom de voz que
não oscilava nem um pouco: — Mas eu acho que sei, sim. Você é Janet,
não é mesmo?
Ela olhou para Hugo e então, sorrindo um pouco, suas
sobrancelhas arquearam-se interrogativamente. Sentiu-se de certo
modo satisfeita ao notar como ele ficara desconcertado. Hugo disse: —
Sim, esta é Janet. Como é que você sabia, Sarah?
Ela deu uma risada alegre ao ouvi-la, pensou que na verdade
deveria ter seguido uma carreira de atriz. Antes que ele pudesse
acrescentar qualquer coisa, ela deu a mão para Janet e disse sorridente:
— Que prazer conhecê-la, Janet. Você é exatamente como eu havia
imaginado. Fico tão contente por Hugo tê-la trazido com ele!
Janet sorriu. Não era precisamente bonita, mas havia algo nela
que chamava a atenção. Os olhos eram castanhos e também sorriam.
Sarah sentiu-se confusa ao descobrir que gostava dela.
— Eu não queria vir desse jeito, porém, Hugo convenceu-me. —
Olhou para Hugo, que fitava Sarah.
— Encontrei-me com Janet no avião — ele explicou — e insisti
para que ela viesse tomar um drinque conosco.
Sarah respondeu no mesmo instante: — Claro. .. e vai ficar para o
jantar. Alice e eu preparamos um jantar especial, e você tem que nos
fazer companhia. — Caminhou em direção à lareira e fez com que Janet
se sentasse a seu lado, no grande divã. — Você precisa ver Alice, poís
ela me disse que a conheceu, por ocasião de sua última estada na
Inglaterra. Você voltou para morar aqui?
Sarah aceitou a bebida de Hugo com um sorriso um tanto
desprovido de expressão e segurou o copo com as duas mãos, pois
estava tremendo.
— Tenho um emprego aqui — disse Janet. — Supervisiono a
recepção no Hospital St. Kit. É um contrato de seis meses, mas que me
dará tempo de organizar o futuro.
Sarah tomou um grande gole da bebida. Provavelmente uísque ou
brandy cairiam melhor, mas o sherry resolvia a situação, no momento.
Livros Florzinha - 99 -
Uma mulher em leilão (Fate is remarkable) Betty Nells
Sabrina no. 39
Sentia frio por dentro; isto a impedia de pensar, o que talvez fosse boa
coisa. Seu futuro iria ser decidido com Janet?
Colocou o copo sobre a mesinha e olhou para Hugo, encostado
em um dos cantos da lareira. — Você fez boa viagem, Hugo? Gostou?
— Tentou pôr um pouco de calor na voz, mas sem muito sucesso. Ele
nem sequer a saudara ou lhe perguntara como ia.
Respondeu calmamente: — Acho que tudo deu certo. Não posso
dizer que tenha gostado muito. Você está bem, espero?
Sarah respondeu que sim, que tudo estava ótimo, e pediu licença
enquanto ia falar com Alice. Precipitou-se para a cozinha, lutando
contra um forte impulso de voltar para a sala de estar e ver o que eles
estavam fazendo.
Eram quase onze horas quando Janet levantou-se com certa relu-
tância, dizendo que teria de ir embora. Sarah, possuída por um desejo
negativo de ferir-se ainda mais, convidou-a para passar a noite com
eles, mas ao que parecia ela tinha reservado um quarto em um hotel e
deixado a bagagem lá. Hugo também levantou-se. — Vou levá-la de
volta, — disse, muito gentil, e quando Janet recusou, interrompeu-a: —
Mas que bobagem, não vai levar muito tempo, o tráfego a esta hora flui
muito bem. Além do mais, se não fosse por insistência minha, você a
estas horas já estaria na cama.. .
Sarah acompanhou-os até a porta e desejou um caloroso boa-
noite a Janet. Voltou para a sala de estar, à espera de Hugo. Passou-se
uma hora e então ela subiu para deitar. Permaneceu acordada até que
finalmente ouviu os passos de Hugo, que subia a escada. Quando ele
fechou a porta do quarto, ela acendeu o abajur de cabeceira e olhou a
hora. Eram bem mais de três da manhã.
Ela o ouviu descer bem cedo, antes das sete da manhã, e sair com
os cães. Provavelmente leria a correspondência antes do café. Quando
desceu, ele saía do escritório, com um punhado de cartas na mão.
Cumprimentaram-se como duas pessoas civilizadas e conversaram
durante o café como dois estranhos bem-educados que se encontram à
mesma mesa. Tinham quase terminado quando Sarah referiu-se ao
casamento de Anne Binns, dentro de uma semana, seguindo-se, após
alguns dias, o de Kate. O de Anne seria celebrado com grande pompa
em uma igreja de Knighstbridge, e Hugo, franzindo o cenho, disse: —
Meu Deus, tinha esquecido completamente. Suponho que terei de usar
fraque. Que foi que compramos para eles?
— Talheres para peixe em um estojo magnífico — replicou Sarah.
Ele riu e perguntou o porquê da escolha. Ela respondeu: — Eu real-
mente agi contra minha natureza.
fosse ficar com Hugo e disse a si mesma que não se importava nem um
pouco. Janet, no entanto, ficou o tempo todo com John Bríght e preferiu
sentar-se a seu lado, no banco de trás, quando foram jantar mais tarde.
Foram a um restaurante nas proximidades da igreja de São Paulo.
Comeram um bife delicioso e creme de fígado, que Sarah, aliás, foi
incapaz de apreciar. Hugo começou a relatar um caso interessante
de septicemia que lhe tinham trazido naquela tarde e, apesar de tomar
parte na conversa, eles de vez em quando se esqueciam de sua
presença e ela se via completamente excluída da profundidade dos
temas abordados. Após um certo tempo em seu rosto surgiu uma ex-
pressão de interesse meramente convencional. Quando o dr. Bright
voltou-se para ela e disse: — Sarah, como você está quieta — foi-lhe
um esforço sorrir.
Ela respondeu tão baixo que somente ele conseguiu ouvi-la. — Ê
mesmo? Bem, o que vocês estão dizendo escapa um pouco a meu
entendimento.
Ele lançou-lhe um olhar penetrante e para sua consternação disse
em voz alta:
— Não sei quanto a vocês, mas preciso ir para casa.
Suas palavras tiveram o efeito de interromper o jantar, e, apesar
de ele não voltar a lhe dirigir a palavra a caminho de casa, ela ficou
surpreendida e tocada quando ele inclinou-se e beijou-a, antes de sair
do carro. Aquele simples gesto a fez sentir-se um tanto arrependida de
sua atitude. Foi talvez por isso que se mostrou tão amável com Janet,
quando chegaram ao hospital.
— Você precisa vir jantar em casa. Hugo irá buscá-la. Nunca fa-
zemos nada aos sábados à noite. — O que era uma mentira: logo que
se casaram, sempre saíam para um jantar ou para o teatro. — Venha
tomar chá e fique para jantar. — Sarah disse a Janet quando se
despediram.
No dia seguinte foi o casamento de Kate. Comparado com a impo-
nente cerimónia de Anne Binns, foi uma festa pequena, mas muito mais
divertida, pois havia somente a família, alguns amigos íntimos e todo
mundo se conhecia. Kate estava tão linda que Sarah se sentiu
comovida; não ousou olhar para Hugo de medo que seus sentimentos a
traíssem. Felizmente havia tantas pessoas presentes à recepção que
ela não teve tempo de pensar. O casamento fora às duas horas, mas
passava das cinco quando eles deixaram a casa agradável em Finchley,
onde os pais de Kate moravam. Quando chegaram a Marylebone Road,
Hugo virou à direita. Ela esperou durante alguns momentos que ele
dissesse o porquê e perguntou: — Estamos indo para o hospital?
— Não. Preciso passar no consultório. Não vou demorar muito.
Deixou-a à sua espera no carro. Ela o viu atravessar a rua e entrar,
Primeiramente foi até a cozinha dizer a Alice que não voltaria até a
noitinha e que não haveria necessidade de ela se preocupar, caso
houvesse atraso. Em seguida subiu para o quarto, recusando a oferta de
Alice de lhe levar algo para comer. Não tinha tempo a perder.
Pendurou cuidadosamente o casaco e pôs uma saia de tweed e
um suéter. Encheu a mala de roupas, mais suéteres, calças compridas,
um vestido de lã, roupas de baixo. Enfiou o capote pesado que usava
quando levava os cães para passear. Isto feito, abriu a gaveta da pen-
teadeira e tirou o broche de diamante, o colar de pérolas e, após um
momento de hesitação, a aliança, antes de levá-los para o quarto de
Hugo e trancá-los na gaveta do criado-mudo. Finalmente sentou-se e
contou seu dinheiro. Estivera no banco aquela manhã e ainda tinha
algumas libras de sua pensão, mais do que suficientes para suas
necessidades. Faltava somente a carta que ela iria escrever. Gostaria de
ter saído da casa e da vida de Hugo sem uma palavra, mas isto seria
injusto. Levou um certo tempo e gastou algumas folhas de papel antes
que ficasse satisfeita. A carta saiu finalmente com a seguinte redacão:
"Querido Hugo:
"Vou embora, a fim de que você consiga o divórcio e possa se
casar com Janet. Tentei conversar a respeito disso tudo, porém, você
não permitiu. Quando os vi juntos no café hoje, compreendi que não su-
portaria mais. Tome as providências que achar necessárias; concordarei
com qualquer coisa, contanto que você possa ser novamente feliz.
Estou levando o carro. Espero que não se importe, mas deixei as jóias
que me deu na gaveta do seu criado-mudo. Tenho dinheiro suficiente e
tudo irá bem, pois conseguirei um emprego com toda facilidade. Mais
tarde avisarei o advogado, comunicando-lhe meu endereço."
Assinou "Sarah" e leu a carta mais uma vez. Era um pouco árida e
distante, apesar de que interiormente sentia uma vontade imensa de
confessar o quanto o amava. Se bem que isto de nada adiantaria...
Ouvia Alice lidando na cozinha; pegou a mala e desceu a escada
sem fazer o menor barulho. Pôs a carta sobre a escrivaninha de Hugo
no escritório e saiu de casa, esforçando-se por não voltar a cabeça.
Havia gasolina suficiente no tanque. Sarah pôs a mala no assento
de trás e tirou cuidadosamente o carro da garagem. O mapa rodoviário
estava aberto no assento ao lado dela; já o havia estudado minu-
ciosamente em seu quarto. Tão logo estivesse na estrada se lembraria
de tudo. Sabia que teria de dormir em um hotel duas noites durante o
percurso, talvez até mesmo três. Em outra oportunidade ficaria
horrorizada com a ideia de enfrentar uma estrada de alta velocidade,
mas agora não se importava. Os detalhes da viagem não a
incomodavam; seu único desejo era chegar ao chalé em Wester Ross e
CAPITULO IX
— Vim direto para cá. — Sua voz soava áspera, talvez devido ao
fato de ele estar tão exausto.
— Direto até aqui? — ela repetiu, horrorizada. — Com este tempo
horrível! São centenas de quilómetros! — Ela deu-lhe as costas e se
serviu de café, engolindo as lágrimas que lhe cobriam a face. Ele devia
ter achado que tal esforço valia a pena.
Hugo não prestou atenção a este comentário. Tornou a dizer com
toda calma: — Tenho de conversar com você, Sarah.
Ela pousou a xícara tão bruscamente que o café entornou, mas
sua voz estava calma. — Sim, já sei. Mas agora não. — Como poderia
lhe explicar que pretendia protelar aquilo ainda por algumas horas, antes
de ouvir o que ele tinha a lhe dizer? — Você agora está cansado demais
e vou arrumar sua cama. A água está quente. Você encontrará tudo que
precisa no banheiro.
Ao mesmo tempo que falava subia para o andar de cima, contro-
lando firmemente seus pensamentos. Já tinha quase acabado de ar-
ranjar a cama quando ele subiu. Sem lhe dizer nada, entrou no banheiro
e abriu as torneiras.
Ela desceu, limpou a mesa, lavou a louça e começou a preparar
um cozido. Hugo haveria de querer comer quando acordasse. Durante
algum tempo ela conseguiu se manter ocupada com essas tarefas
caseiras e então, esquecida do almoço, foi para a sala de estar e pegou
novamente o bordado. Era um trabalho que a acalmava e ela precisava
estar plenamente controlada quando ele acordasse. Bordava com
aplicação, esperando que a lucidez sobreviesse, de tal forma que
pudesse planejar o que tinha a dizer. . . Isto, porém, não aconteceu; na
verdade seus pensamentos se embaralhavam um com o outro, e cada
qual era mais incoerente. O único que fazia sentido e não perdia sua
clareza era o fato de que ela amava Hugo. Aliás, o único
pensamento que não lhe adiantava de nada, disse a si mesma
desesperançada.
O dia avançava; quando começou a escurecer ela parou de bordar
e acendeu um lampião. Foi dar uma espiada na carne, em seguida
lavou-se e penteou o cabelo. Deu uma olhada no pequeno espelho da
cozinha e achou que sua aparência não era tão má assim. Emagrecera
um pouco e não havia muita cor em seu rosto, mas contanto que se
lembrasse de sorrir.. . Ensaiou um ou dois sorrisos e sentiu-se
encorajada, ao constatar que seu aspecto era muito normal. A piedade
de Hugo era a última coisa que ela desejava.
Agora estava bastante escuro e do andar de cima não vinha som
algum. Sarah sentou-se na sala de estar e serviu-se de chá, mas
deixou-o esfriando na xícara enquanto pensava em Janet. Era absurdo o
quanto gostava dela. Na verdade deveria odiá-la por voltar para a
FIM