USO DE DENTES PLANOS (ZERO GRAU) EM PRÓTESE TOTAL REMOVÍVEL

NONANATOMIC TEETH (ZERO DEGREE) IN COMPLETE DENTURE

Arnaldo Horácio Pereira1

Paulo Roberto G. do Nascimento2
Maria Otilia Andrade3
Wellington Correa Jansen4

Resumo: A forma dos dentes artificiais posteriores é fator essencial para a estabilidade e eficiência
mastigatória das Próteses Totais Removíveis (PTR) durante a mastigação. Geralmente a seleção dos dentes é feita
baseada mais em preferências pessoais do profissional, sem se levar em consideração as características mastigatórias
do paciente ou o tipo de esquema oclusal mais significativo para o sucesso do tratamento. Nesse artigo, os
autores visam divulgar a utilização de dentes planos, ressaltando sua funcionalidade e facilidade de emprego em
comparação aos dentes anatômicos cuspidados, mais conhecidos e mais comumente usados na confecção de
PTR.

Unitermos: Prótese Total Removível; Dentes planos; Dentes zero grau; Dentes sem cúspides; Dentes
não-anatômicos.

INTRODUÇÃO função mandibular (oclusão balanceada bilateral).

A forma dos dentes artificiais posteriores é fator
essencial para a estabilidade e eficiência mastigatória
das Próteses Totais Removíveis (PTR), durante a
mastigação. Geralmente a seleção dos dentes é feita
baseada mais em preferências pessoais do profissional,
sem se levar em consideração as características
mastigatórias do paciente ou o tipo de esquema oclusal
mais significativo para o sucesso do tratamento, que
são fatores essenciais para a estabilidade da prótese
(Sharry, 1977; Johnson & Stratton, 1988).
Alguns profissionais preconizam o uso de dentes
com cúspides (com angulagem de 20o, 30o ou 40o)
que devem estar em harmonia com a dinâmica da
Outros defendem que os dentes não devem possuir
cúspides, pois os planos inclinados induziriam
resultantes horizontais difíceis de serem controladas.
O uso de dentes planos (zero grau) asseguraria
estabilidade e preveniria a ocorrência de vetores
laterais causados pela inclinação das cúspides. O que
se deve ter em mente é que, independente do tipo de
esquema oclusal que se use para a confecção de PTR,
esse deve ser bem compreendido e aplicado de forma
correta e inteligente porque, de outra forma, as forças
que incidirão sobre a prótese poderão comprometer
sua retenção, estabilidade, eficiência mastigatória e
traumatizarão as estruturas de suporte, podendo
acelerar o processo de reabsorção óssea.

1
Mestre em Reabilitação Oral pela USP. Professor Titular da Faculdade de Odontologia da PUC-MG
2
Mestre em Materiais Dentários pela UFMG. Professor Assistente da Faculdade de Odontologia da PUC-MG
3
Mestre em Clínicas Odontológicas pela PUC-MG. Professor Assistente da Faculdade de Odontologia da PUC-MG
4
Doutor em Materiais Dentários pela USP. Professor Adjunto da Faculdade de Odontologia da PUC-MG.

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 Este trabalho tem por objetivo divulgar a
utilização de dentes planos, ressaltando sua
funcionalidade e facilidade de emprego em
comparação aos dentes anatômicos cuspidados, mais
conhecidos e mais comumente usados na confecção
de PTR.
REVISÃO DE LITERATURA
A despeito de sua eficiência mastigatória, baixa
iatrogenia, facilidade de montagem e ajuste oclusal,
os dentes planos, também denominados dentes não
anatômicos, sem cúspide ou de zero grau, são
praticamente desconhecidos no meio odontológico
brasileiro (Figura I).
Figura I - Dentes planos Sears® (Myerson)
O não uso desses dentes talvez seja explicado
pela dificuldade em se conceber que um dente sem
cúspides seja tão eficiente na mastigação quanto um
dente cuspidado (Figuras II a V). Foi comprovada a
Figuras II e III - Aspectos lateral e oclusal de dentes anatômico
e não anatômico
mesma eficiência mastigatória dos dentes planos e os
anatômicos, quando utilizados em PTR (Brewer et
al., 1967; Berg, 1988). Esses resultados foram
corroborados por McNeil (2000), quando assegurou
que a eficiência mastigatória das PTR está na
habilidade do paciente em posicionar os alimentos
sobre as superfícies triturantes e não na anatomia das
superfícies oclusais. Neiburger (1977, 1979a,b,c),
Pereira (1975) e Poole (1982) são de opinião que,
mesmo em dentes naturais, a prevalência de cúspides
nos adultos seria uma situação anormal, decorrente
da revolução industrial e das mudanças de hábitos
alimentares. As únicas funções que as cúspides teriam,
seriam a de romper a mucosa durante a erupção do
dente e direcionar seu posicionamento no arco. A
ausência das cúspides não implicaria em perda da
eficiência mastigatória, preservados logicamente, os
demais elementos anatômicos como sulcos, cristas,
fossas, etc. É importante salientar que a ausência de
cúspides não significa que a superfície oclusal seja
lisa e plana.
Figuras IV e V - Aspecto proximal da relação oclusal de
dentes anatômicos e não anatômicos
Existem várias concepções de dentes não
anatômicos (Figura VI) como as de Hall®, Meyrson®,
Nelson ®, Swenson ®, Hardy ®, Cook ®, Rational
Trubyte®, nos quais as superfícies oclusais apresentam
desenhos variados para favorecer a ação trituradora
Figura VI - Aspecto oclusal dos dentes não anatômicos da
Myerson®, Rational Trubyte® e Ivoclar®
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sobre os alimentos (Winkler, 1982). Mais
recentemente, surgiram os dentes Orthoplane da
Ivoclar Vivadent® (Figura VII) . Todos apresentam
em sua morfologia um ponto em comum: a inexistência
de componentes verticais (cúspides), ocluindo apenas
em duas dimensões (largura e comprimento), apesar
Figura VII - Dentes planos Orthoplane® (Ivoclar)
da mandíbula, devido às inclinações das guias
condilares, movimentar-se tridimensionalmente
(comprimento, largura e altura).
A ausência de relacionamento cúspide/fossa
(componente vertical), torna o uso de dentes planos
extremamente vantajoso (Figura VIII) nos seguintes
aspectos (Gronas, 1970a,b; Jones, 1972; Winkler,
1982, Hardy, 2001; Beresin & Schiesser, 2006):
Figura VIII - Prótese total removível finalizada utilizando
dentes não anatômicos
• O balanceamento por contato bilateral oclusal,
na sua concepção clássica, torna-se
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desnecessário, pois a existência de componentes
verticais minimiza o aparecimento de resultantes
horizontais, que poderiam deslocar a prótese. O
balanceamento é apenas unilateral;
• A montagem dos dentes, sem este relacionamento
cúspide/ fossa é, logicamente, mais fácil. Tem-se
apenas contato de plano contra plano;
• Os dentes planos oferecem maior conforto e
eficiência mastigatória por um período mais longo,
pois se acomodam melhor às alterações negativas
inevitáveis dos rebordos residuais que ocorrem
inexoravelmente com a idade;
• Os procedimentos de reembasamento tornam-se
mais simplificados, pois não há relacionamento
cúspide/ fossa;
• A característica oclusal faz com que os dentes
planos se adaptem em qualquer tamanho de
arcada sem que haja necessidade de ajustes
proximais;
• A ausência de componente vertical faz com que
os dentes planos possam ser montados em
articuladores mais simples, diferente dos dentes
cuspidados que necessitam de articuladores mais
complexos;
• O ajuste oclusal é mais simples. É feito com tiras
de lixa. Obtêm-se apenas áreas de contato mais
amplas entre os dentes antagônicos,
bilateralmente, em oclusão cêntrica e no lado de
trabalho nos movimentos excursivos.
Os dentes planos são ainda indicados nas
seguintes situações (Harrison & Hugget, 1977;
Passamonti, 1979; Ortman, 1971 e 1979;
Appelbaum, 1984):
• Rebordos alveolares muito reabsorvidos para
otimizar a estabilidade durante a função;
• Cristas alveolares em forma de lâmina;
 • Grande distância entre os rebordos alveolares,
criando um grande braço de alavanca, que pode
ser assim minimizado;
• Grande discrepância no tamanho e na relação das
arcadas: paciente classe II e III de Angle;
• Rebordos flácidos;
• Próteses totais imediatas;
• Dentição natural severamente gasta, opondo-se
a uma PTR;
• Portadores de distúrbios neuro-musculares
(doença de Parkinson, etc);
• Pacientes submetidos à condilectomia ,
mandibulectomia parcial;
• Portadores de desordens têmporo-mandibulares;
• Em casos de dificuldade em registrar precisamente
a relação cêntrica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista o exposto, pode-se concluir
que a facilidade de montagem dos dentes planos, a
não necessidade de balanceamento por contato
bilateral, ajuste oclusal mais simples, aliados à
eficiência mastigatória comprovada, justificam a maior
divulgação, conhecimento e utilização dos dentes
planos na confecção de Prótese Totais Removíveis.
Além disto, pode-se evitar iatrogenias causadas pelo
uso indevido de técnicas mais complexas. A adoção
de prática correta de seleção dos dentes artificiais
posteriores na produção de PTR funcionais tem
impacto significativo no sucesso do tratamento.
ABSTRACT
The form of posterior artificial tooth is an
essential factor related to denture stability during
mastication and to masticatory ability. Generally, cusp
teeth are selected based on personal preferences rather
than on the masticatory characteristics of the patient
or on the occlusal scheme more relevant for the
success of the treatment. In this article the authors
intend to make public the use of non-anatomic teeth
in complete denture, standing out the applicability and
easiness of use of non-anatomic teeth in comparison
to anatomic ones, which are more frequently used.
UNITERMS
Complete dentures; Nonanatomic teeth; Zero
degree teeth; Cuspless teeth; Monoplane teeth.
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Rua Martim Francisco 845 apto. 301 - Gutierrez
Interamericana; 1982. 632p.
32.310-000 - Belo Horizonte - MG
e-mail: arnaldohoracio@superig.com.br

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