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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

DISCIPLINA: TEORIA CRÍTICA DO ESPAÇO ARQUITETÔNICO

PROFESSORA : SILKE KAPP

140 caracteres_37m²
O espaço virtual como uma
reprodução do espaço construído.

Roberta Ribeiro Hentschke

Julho | 2010
Resumo

O presente artigo utiliza o conceito de indústria cultural para comparar a lógica


de construção das relações sociais no espaço construído e no ciberespaço.
Como objetos dessa análise estão as opções de moradia que o mercado
imobiliário oferece para os consumidores e a forma de expressão do usuário
quando utiliza o micro blog Twitter.

Palavras Chave

Indústria Cultural

Pré-determinação dos espaços

Mercado Imobiliário

Redes Sociais

Introdução

Existe uma pré-determinação no modo de viver das pessoas. A indústria


cultural desenvolveu meios e artifícios para conseguir definir como e onde as
pessoas vão morar. Cada vez mais esses locais diminuem de tamanho e
aumentam de preço. O consumidor é obrigado a aceitar produtos enlatados,
onde cada função já está definida mesmo antes da aquisição de um imóvel.
Cada pessoa necessita de um tipo ideal de apartamento e isso é vendido como
um dos principais diferenciais de uma construção. Vive-se em pequenos
“estojos”, onde cada peça tem a sua função. O espaço construído é
manipulado junto com o público que o usufrui. O resultado é uma anulação da
crítica, uma aceitação de que o que é proposto é realmente o ideal. Essa lógica
repete-se quando saímos do ambiente construído e clicamos no ciberespaço. A
sociedade reproduziu a arquitetura do mundo “real” para o mundo virtual. E
junto com ela as formas de relação social. As novas tecnologias não
conseguiram mudar a ótica dominante, pelo contrário, trabalham para alienar
ainda mais o consumidor/usuário. As redes sociais surgem com a web 2.0,
permitindo maior interatividade e liberdade de expressão. Qualquer pessoa
pode, através da web, construir o seu espaço virtual e interagir com outros
usuários. No entanto, a mesma lógica reducionista do espaço construído
acontece no espaço virtual. Somos encaixados em retângulos e cubículos que
comprovam o domínio da indústria cultural e a retaliação a uma possível
criatividade coletiva.

“Loft” para um executivo

As moradias burguesas do século XIX foram caracterizadas por Walter


Benjamin1 como “estojos.” Nesse lugar, o ser humano acondicionava todos os
seus acessórios, cada um em seu compartimento específico. Ao mesmo tempo
em que as peças estavam organizadas e intactas, elas precisavam ser
manuseadas. “Então, por um lado, o estojo resultava de um raciocínio
tecnocrático, que queria acondicionar perfeitamente, da mesma forma que
queria ordenar o mundo. Mas, por outro lado, ele evocava a idéia de
aconchego dos objetos, como se tivessem alma e ali lhes fosse dado um
“repouso merecido” após um “trabalho” executado, na contramão do consumo
puro e simples.” 2

Essa pré determinação e racionalização do espaço ainda pode ser vista nas
moradias do século XXI. Com o notável crescimento da indústria da construção
civil e a valorização do metro quadrado na maioria das cidades brasileira, o que
se vê por aí são estojos cada vez menores que escondem a vida privada. O
espaço se reduz e os compartimentos aumentam junto com a necessidade de
consumo de bens específicos e adequados para cada “casulo”. Em uma
sociedade que se organiza prioritariamente pelo espaço, os desdobramentos
dessa realidade são bem importantes, já que a arquitetura determina
ambientes de ação, delimita e sustenta relações que os indivíduos

1 Filósofo Alemão
2  Kapp,  Silke.  Síndrome  do  Estojo.  Ar8go  para  a  MDC  -­‐    Revista  de  Arquitetura  e  Urbanismo
estabelecem entre si, influencia seus hábitos e movimentos de seus corpos,
forma a percepção do espaço e expressa significados da cultura.”3

As possibilidades de uso dos espaços se reduzem cada vez mais. Os


compartimentos estão prontos, basta encaixar as peças. É como se fosse uma
brincadeira de LEGO. Em contrapartida, o valor de troca, em função da força
da indústria, aumenta em proporções enormes. A arquitetura é produzida,
distribuída e consumida como uma mercadoria, tornando as relações de
comércio muito mais quantitativas do que qualitativas. O capitalismo dominou a
produção do espaço. De acordo com Lefebvre (1991), quem domina o espaço,
domina o mercado. As pessoas não produzem os seus próprios espaços, pelo
contrário, os recebem em formas determinadas por pessoas “mais aptas” a
entender como funciona o seu bem estar. Os dominantes utilizam-se de uma
ordem já estabelecida para mostrar que o espaço por eles produzido é
exatamente o que o consumidor precisa.
Por traz dessa estrutura social de dominantes geradores de estilos de vida e
dominados condescendentes está o que Theodor Adorno e Max Horkheimer
chamaram de Indústria Cultural.4 O domínio acontece de maneira que o público
sinta-se inserido no sistema. Não há conflitos, pois não há crítica ao que é
imposto. Criam-se valores, comportamentos, necessidades. O indivíduo deixa
de decidir autonomamente. E quanto mais o indivíduo se subordina, mais a
indústria cultural cresce e adquire poder sobre as necessidades do consumidor.
O sistema condiciona o tipo, a qualidade e a função do consumo na sociedade.
Se formos analisar o mercado de venda de imóveis, o que as construtoras
oferecem não são apartamentos, são estilos de morar, estilos de viver. Para um
casal, o ideal é isso e para uma família com três filhos, o ideal é aquilo. Adorno
e Horkheimer vão ao encontro dessa discussão: “A promissória sobre o prazer,
emitida pelo enredo e pela encenação, é prorrogada indefinidamente:
maldosamente, a promessa a que afinal se reduz o espetáculo significa que
jamais chegaremos à coisa mesma, que o convidado deve se contentar com a
leitura do cardápio.” (p. 115) . Para um homem, solteiro, com 35 anos, o que o
mercado oferece é um loft, onde as peças são integradas, o armário é de duas
portas, a televisão deve ser de tela plana e o fogão é do estilo cook top. Além
disso, ele e seus vizinhos dos outros 199 apartamentos, distribuídos em vinte
andares, podem desfrutar de um imenso complexo de lazer com três piscinas,

3  Kapp,  Silke.  Por  que  Teoria  Crí8ca  da  Arquitetura?  Uma  Explicação  e  uma  Aporia.  In: Maria Lúcia
Malard. (Org.). Cinco Textos Sobre Arquitetura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005, v. , p. 115-167.
4    Dialé8ca  do  Esclarecimento  (1985)  
espaço gourmet e fitness center. Devem se sentar em uma chaise longue no
jardim. Afinal de contas, tudo foi feito sob medida para sua felicidade e seu
estilo de vida.
A indústria cultural compromete-se em oferecer continuamente o novo. No
entanto, o que oferece é uma representação, sob formas diferentes, de algo
sempre igual. Fica difícil expressar a criatividade dentro de um espaço tão
compartimentado. Os apartamentos lembram show room de lojas de
decoração. Tudo na medida para não sair do padrão e não fugir do conceito.
Estamos acostumados com a pré determinação e até esperamos por ela.
Existe certa preguiça em criar, já que nos acostumamos com tudo pronto, como
criticou Andy Wharol no séc XX, tudo é enlatado. O próprio consumidor
contribui para o sucesso da indústria cultural. Sente que se estiver agindo de
acordo com a proposta sugerida pelo meio, estará sendo aceito pelo mesmo. É
uma relação de mão dupla que sustenta essa realidade. Ao mesmo tempo em
que são forçados a escolher o que é proposto “Ninguém deve sentir fome;
quem sentir vai para o campo de concentração” 5 querem escolher o que é
proposto para não sentirem-se excluídos da sociedade. Concordam com o fato
de que de um lado estão os produtores e do outro os receptores da
informação. É o que Adorno e Horkheimer (1985) denominam como estado de
bem-estar social em grande escala, onde para afirmar sua própria posição, as
pessoas conservam em movimento a economia na qual, graças às técnicas
extremamente desenvolvidas, as massas já são, em princípio, supérfluas
enquanto produtoras. (p.124)
Com espaços diminuídos e cada vez mais compartimentados, os indivíduos
têm pouca oportunidade e pouco estímulo para se expressar. A vida já vem
pronta. O espaço é esse. A única medida que é preciso tomar é a adequação.
É preciso se adequar à realidade existente, às transformações do espaço e às
possibilidades dadas para continuar jogando .

5  ADORNO  E  HORKHEIMER,  1986.  P.  123


Só muda o endereço

A passagem do século XX para o século XXI foi marcada por uma mudança
essencial: passamos de uma sociedade de consumo para uma sociedade de
comunicação. Para Flusser (2005), só há uma época comparável com a que
vivemos atualmente: aquela que ocorreu na antiguidade, quando o homem
passou de um estágio pré-histórico e mítico, para uma fase histórica, lógica e
baseada na escrita alfanumérica. No atual estágio, chamado pelo autor de pós
histórico, a escrita é construída por máquinas e consiste essencialmente em
uma articulação de imagens. Sendo assim, a comunicação é elemento
norteador das relações da sociedade contemporânea.

O rápido desenvolvimento dos sistemas fez com que surgisse uma nova
concepção de espaço onde se potencializam as capacidades de comunicação
e armazenamento da informação: o ciberespaço. Para Lévy (1998), assim
como o arquiteto urbanista contribui para produzir o ambiente material dos
grupos humanos, designers e engenheiros do ciberespaço contribuem para
produzir ambientes de pensamento, percepção, ação e comunicação que em
grande parte vão estruturar as evoluções sociais e culturais. Autores como
Gibson (2003), interpretam o ciberespaço como uma analogia ao espaço
urbano, espaços virtuais adotam a metáfora da cidade como forma de
representação e estruturação.

O ciberespaço designa ali o universo das redes digitais como lugar de


encontros e de aventuras, terreno de conflitos mundiais, nova fronteira
econômica e cultural.6 Essa relação entre técnica e vida social é o que Lemos
(2002) chama de cibercultura. As relações que acontecem no ambiente virtual
são marcadas pela ausência de espaço e tempo, pela tele-presença, pela
atitude hedonista e pela efemeridade. Tudo acontece muito rápido. Pierre Lévy,
no início desse século, em seu livro “A Conexão Planetária” aponta que “o
ciberespaço será o epicentro do mercado, o lugar da criação e da aquisição de

6  Levi,  Pierre.  A  Inteligência  Cole8va,  1998


conhecimentos, o principal meio de comunicação e da vida social”, e que “ a
internet representa simplesmente o estado de reagrupamento da sociedade
que se sucede à cidade física”.

Vemos então quase que uma releitura da cidade real para a cidade virtual,
onde algumas características, como barreiras de acesso ou limites físicos, não
existem, mas a essência das relações continua a mesma. O que se vê é uma
repetição das formas estruturais e de comportamento da sociedade “real”. Fica
inevitável voltar ao conceito de indústria cultural. As barreiras sociais
continuam. É preciso ser aceito em determinada comunidade, ou grupo de
discussão. As notícias atualizadas minuto à minuto em sites do mundo todo
são tão parciais quanto a dos veículos impressos. Quem domina a realidade
“real” também domina a realidade “virtual”. Se Benjamin falava da moradia
estojo do século XX, e o conceito serviu também para a moradia do século XXI,
será que pouco evoluímos a ponto de podermos falar da “realidade virtual
estojo”? Sites de notícias relatam o acontecimento em cada vez menos
palavras. Enquanto isso, nos satisfazemos apenas com as “manchetes”, não
damos nem um click para saber a notícia inteira. Da mesma maneira com que
uma construtora oferece cinco modelos de planta para um apartamento
tentando mostrar a possibilidade de escolha e autonomia do consumidor, sites
interativos oferecem a personalização de produtos na própria rede. Podemos
criar um tênis, uma estampa, um carro. E isso nos faz pensar que não somos
dominados. O espaço, mesmo que virtual, continua sendo um produto social
que determina o comportamento humano.

Bourdieu (1983) exemplifica muito bem a criação de valor típica da indústria


cultural no artigo Alta Costura e Alta Cultura:”Você tem um perfume do
Monoprix adquirido por três francos. A griffe transforma-o em um perfume
Chanel valendo 30 vezes mais. É o mesmo mistério do urinol de Duchamp, que
se constitui como objeto artístico porque ao mesmo tempo foi marcado por um
artista que lhe colocou uma assinatura e o enviou para um lugar consagrado
que, ao recebê-lo, fez dele um objeto de arte, assim transmutando-o
econômica e simbolicamente.” Essa valoração é feita através da criação de
símbolos que serão interpretados pela sociedade de determinada forma, que
terão tais valores. A realidade virtual tem sua construção baseada no uso
desses símbolos. Tudo é abstrato. Castells (1999) confirma Bourdieu (1983)
ao afirmar que culturas consistem em processos de comunicação e todas as
formas de comunicação são baseadas na produção de consumo e de sinais.
Portanto, não há separação entre “realidade” e representação simbólica. Para
o autor, “ todas as realidades são comunicadas por intermédio de símbolos . E
na comunicação interativa humana, independentemente do meio, todos os
símbolos são, de certa forma, deslocados em relação ao sentido semântico que
lhes são atribuídos. De certo modo, toda a realidade é percebida de maneira
virtual.” (p. 459)

Bourdieu (1983) afirma que para viver em sociedade o indivíduo precisa fazer
parte de um campo social. O que vai influenciar a seleção do mesmo para
determinado campo é o capital social (rede de relações que o indivíduo
dispõe), o capital cultural (acesso aos bens e às informações da cultura e
capital simbólico (títulos, honrarias). Sendo assim, a posição dominante fica
com os indivíduos que tiverem mais “capital” válido em determinado campo.
Essa forma de adquirir poder também se repete na realidade virtual. Por
exemplo, em um site de relacionamento como facebook, quem tem mais
“amigos” ou recebe mais “visitas” é visto como mais influente. Da mesma
maneira, quem tem acesso aos conteúdos privativos de determinado site,
adquire mais conhecimento.

As “novas tecnologias” deveriam alterar as características da nossa sociedade,


sobretudo no que diz respeito à relação com os espaços sociais. Mas, o que
ocorre é uma repetição do modo de vida atual, baseado nas relações de
propriedade de terra, mesmo que essa terra não exista na realidade. Para
Bourdieu (1983), cada campo social estabelece suas regras de convívio que
vão sendo incorporadas e se tornam, com o tempo, naturais. São regras
automáticas (hábitos) para quem faz parte do campo, mas causam
estranhamento aos novos. É a maneira com que os campos criam mecanismos
para restringir o acesso. O campo virtual utiliza-se dessa mesma medida para
se proteger. Para ter acesso ao mundo virtual é necessário um conhecimento,
uma aptidão para a informática. Quem não o tem, está fora desse novo mundo,
é praticamente um “ser do passado”.

Assim como a indústria cultural propõe certo estilo de vida no mundo real, nos
apresenta uma incrível potência das tecnologias no mundo virtual, promovendo
uma irresistível realidade, onde quem está por trás são os donos do
telecapitalismo. Para Baudrillar (1997), o mundo inteiro estaria à mercê de um
feudalismo tecnológico, onde restaria para os indivíduos desaparecer, já que
estariam, dentro dessa perspectiva, riscados do mapa como território. Assim,
da rua de endereço tal passamos para o WWW, mantendo a mesma estrutura
de relação com o espaço.

Caiu na rede é peixe

A realidade virtual organiza-se através de redes. Atualmente, através da web


2.0 podemos interagir e nos conectar com pessoas, lojas, instituições.
Podemos comprar, vender, fazer amigos, gerar conteúdo, escutar música. A
web 2.0 utiliza-se do usuário para montar seu conteúdo e gerar lucro. Pode-se
colaborar com o conhecimento como é o caso da Wikipedia ( uma enciclopédia
online baseada na noção duvidosa de que um verbete pode ser adicionado por
qualquer usuário da rede e editado por qualquer outro) ou dar opinião sobre um
livro na Amazon ( a empresa desenvolveu métodos de busca que utilizam a
atividade do usuário). De acordo com Lévy ( 1994), cria-se o reconhecimento e
enriquecimento mútuos das pessoas. As contribuições dos usuários são a
chave para a supremacia de mercado na Web 2.0. Alguns sistemas são
projetados de forma a encorajar a participação das pessoas para que possam
criar valor àquele espaço. Como apenas uma pequena percentagem de
usuários se dará ao trabalho de adicionar valor ao aplicativo, as companhias
Web 2.0 programam padrões para agregar dados do usuário e gerar valor
como um efeito paralelo ao uso comum do aplicativo. Tira-se partido da
inteligência coletiva, transformando a web em uma espécie de cérebro global. 7
A arquitetura do ciberespaço dita participativa mostra-se tão programada
quanto a arquitetura no espaço construído. Aparentemente os usuários são
convidados a participar e apresentar sua opinião, mas, no entanto, isso já está
previsto pelo sistema. O incentivo à participação não está atrelado ao desejo
da livre expressão, mas sim, à necessidade do lucro. Nunca deve ter sido tão
fácil fazer pesquisas sobre o consumidor: ele mesmo escolhe suas
comunidades, escreve sobre o seu modo de vida e mostra para a rede. Se uma
determinada empresa quiser lançar um novo tênis de corrida, pode procurar um
corredor influente que tenha um número razoável de amigos em sua rede
social para ser o formador daquela opinião.

Se por um lado a utilização desse conteúdo é benéfica por proporcionar acesso


e troca de informação, por outro, verifica-se o poder do capitalismo
apropriando-se do conhecimento da sociedade para gerar lucro. Para Lévy
(1994), a economia começa a girar em torno de algo que diferentemente da
agricultura, indústria e informação nunca se automatizará por completo: a
economia do “relacional”. Para o autor, não se trata apenas de uma economia
do conhecimento, mas uma economia do humano, do laço social, que engloba
a economia do conhecimento como um subconjunto. Quando McLuhan
escreveu que “o meio é a mensagem” há quase 30 anos, o universo
informacional era completamente outro. A importância do centro era
fundamental. O detentor dos meios era capaz de controlar o que as pontas
iriam ler, ouvir e ver. Através da conectividade e interação, as pontas tomam
um papel muito mais relevante, podendo se expressar sem precisar da
autorização do centro. O mundo das redes, especialmente das redes sociais
está tomando proporções como o da mídia de “massa”, permeando as relações
humanas, de negócios e poder. Quem era membro da audiência agora pode
virar ator.

A relação entre as pessoas, entre pessoas e instituições se dá de maneira


muito rápida na web. Enquanto um jornal impresso noticia um tornado que

7  h]p://www.cipedya.com/doc/102010  -­‐  acesso  em  20/07/2010  -­‐  Ar8go  realizado  por  Tim  O´Reilly  

Presidente  e  CEO  da  O´Reilly  Media.  Re8rado  do  original  publicado  em  h]p://www.oreilly.com  e  
traduzido  por  Miriam  Medeiros  em  Novembro  de  2006.
aconteceu na noite anterior, milhões de vídeos já foram postados no “you tube”
com imagens de primeira mão daquele incidente. Milhares de pessoas já
comentaram e conversam sobre a situação nas redes sociais. A informação
circula de forma muito mais dinâmica na medida em que as relações são mais
próximas e acessíveis. O efeito contrário também acontece. Ao mesmo tempo
em que a web possibilita ao usuário criar conteúdos e realidades, “emburrece”
a população entregando as informações já prontas. A partir do momento que a
informação está pronta, a maioria dos usuários se acomoda e aceita o que é
dado. – “ Está correto sim, eu vi no google”. Voltemos então, pela terceira vez,
à lógica do estojo: as coisas já vem, enlatadas, basta usar. Assim como no
espaço construído o valor de troca é maior do que o valor de uso, no
ciberespaço isso também ocorre. A preocupação, na maioria das vezes, não é
satisfazer as necessidades dos usuários, mas lucrar em cima da informação.

Se a rede é o novo “ponto de encontro” da sociedade que organiza através do


espaço, a lógica das redes sociais se assemelha com a lógica da arquitetura
vista anteriormente. O micro blog Twitter pode exemplificar essa relação. O
Twitter é uma rede social que permite aos usuários enviar e receber
atualizações pessoais de outros contatos (em textos de até 140 caracteres,
conhecidos como "tweets). As atualizações são exibidas no perfil de um
usuário em tempo real e também enviadas a outros usuários seguidores que
tenham assinado para recebê-las. Os usuários postam comentários,
acontecimentos, dicas, qualquer coisa que queiram divulgar na rede. Empresas
utilizam o espaço para divulgar produtos, meios de comunicação postam suas
manchetes. Na rede social, não há um meio como mensagem, pelo contrário, o
twitter é um ambiente de formação de comunidades, em que cada um escolhe
e se conecta para escrever suas histórias de forma coletiva e compartilhada. A
Cibercultura é o espelho da cultura no ciberespaço. Como pano de fundo, ela
continua sendo um produto da indústria cultural.

140 caracteres_37m²

O espaço é um produto social, seja ele virtual ou construído. Após uma análise
da realidade dos imóveis fabricados em série pela indústria da construção civil
e do surgimento e disseminação das redes sociais no ciberespaço, pode-se
fazer um paralelo entre as duas perspectivas. Avaliando essa realidade do
ponto de vista da possibilidade de criação e de transformação do espaço, as
opções de escolha são pequenas. A conquista do espaço é cada vez mais
difícil e a propriedade de uso cada vez menor. O twitter é uma ferramenta
usada para disseminar uma idéia, um pensamento. A oportunidade do usuário
criar seu conteúdo. No entanto, só é permitido fazer isso com o número
máximo de 140 caracteres por tweet. Ou seja, há um limite máximo de
palavras. As idéias devem ser reduzidas, absorvidas, dissecadas para que
possam ser enquadradas naquele retangulozinho vendido como se fosse “a
boca do mundo”. No espaço construído nos deparamos com as inúmeras
ofertas de imóveis cubículos onde a pré-determinação é a mesma. A chance
de se expressar se existingue, tudo já está formatado “ao gosto do freguês”. Os
espaços vão se apertando, as palavras, sumindo. E as pessoas vão se
acostumando com os cubículos, com os retângulos, sem perceber. O pensar e
o refletir ficam cada vez mais escassos. O que está em jogo não é o bem estar,
o interior, mas o que é percebido de fora. Como os meus “seguidores” irão me
perceber se eu escrever tais palavras?

Mesmo com grandes possibilidades de interação, de geração de conteúdo, de


crítica e questionamento, poucos o fazem. A maioria utiliza a interatividade para
produzir sua própria imagem. O estojo está ficando cada vez menor. E com o
aval de todos. A indústria cultural vende liberdade de expressão e de escolha,
enquanto, na verdade, as restringe a cada novo lançamento imobiliário. Se um
apartamento de 37m² é o ideal para um jovem solteiro, escrever 140 caracteres
também o é para o mesmo perfil de cliente.

Ao mesmo tempo, há uma contradição, dentro dessa lógica, entre o espaço


virtual e o espaço construído. Enquanto as pessoas vão se afastando das ruas,
deixando de tomar posse da cidade para entrar em seus casulos, no espaço
virtual querem fazer mais amigos, criar comunidades, contar sobre o jantar da
noite anterior. O espaço virtual vai tomando conta do construido. “De dentro do
meu web space que ocupa 2m² do meu apartamento, consigo enxergar o
mundo e isto basta.” De certa forma também há uma espécie de acomodação.
É muito mais fácil receber as coisas prontas e não precisar falar. Ficar
escondido atrás da tela e não sair do casulo.

Lefebvre (1991), aborda a questão do direito à cidade como o direito ao


excedente, o que chamou de festa e política. No entando, as pessoas estão
abdicando desse direito em troca das relações do ciberespaço. A arquitetura do
“mundo real” faz com que o mundo virtual fique cada vez mais interessante. E a
arquitetura do mundo virtual faz as pessoas sentirem-se participantes do
mundo real. É uma estratégia de duas frentes, que utiliza o consumidor para
criar a realidade desejada. O direito à cidade agora é o direito à geração de
conteúdo, o direito à editoração de textos, o direito de mostrar minhas ideias
para um grupo.

Resumindo, esse artigo em 140 caracteres poder ser postado assim

“Estamos vivendo através de caixas moldadas e empilhadas, de caixas de


texto e acreditamos ser esta a melhor forma de viver e de se relacionar.”
Referências Bibliográficas

ADORNO, Theodor W ; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento. Rio


de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1985

BAUDRILLARD, Jean. Tela Total: mito-ironias da era virtual e da imagem. Porto


Alegre: Sulina, 2005

BORDIEU, Pierre. “Alta costura e alta cultura”. In: Questões de Sociologia. Rio
de Janeiro: Marco Zero, 1983, p. 154-161

CASTELLS, Manuel. A Sociedade em rede. São Paulo: Editora Paz e Terra,


2006

FLUSSER, Villém. O Universo das Imagens Técnicas: Elogio da


Superficialidade. São Paulo: Ed Annablume, 2008.

KAPP, Silke. Síndrome do Estojo. Artigo para a MDC - Revista de Arquitetura e


Urbanismo

KAPP, Silke. Por que Teoria Crítica da Arquitetura? Uma Explicação e uma
Aporia. In: Maria Lúcia Malard. (Org.). Cinco Textos Sobre Arquitetura. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2005, v. , p. 115-167.

LEFEBVRE, Henri. The production of space. Oxford, U.K.: Blackwell, 1991.

LEMOS, Cibercidade : as cidades na cibercultura. Rio de Janeiro: E-papers,


2004

LÉVY, Pierre. A Inteligência Coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São


Paulo: Edições Loyola, 2007

LEVY, Pierre. A Conexão Planetária: o mercado, o ciberespaço, a consciência.


São Paulo: Ed. 34, 2001

O Meio é...Programável. Silvio Meira. Folha de São Paulo, 22/07/2010. P. B16

http://www.cipedya.com/doc/102010, acesso em 20/07/2010

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