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Roger Olson (1999. p.571) chama atenção para o fato de que antes da
ascensão do liberalismo teológico não havia fundamentalismo, embora existisse a
ortodoxia protestante. Paull Tillch procurou diferenciar a ortodoxia protestante do
fundamentalismo e a exaltou sobre o mesmo. Na sua visão a ortodoxia foi um
movimento maior e mais serio enquanto o fundamentalismo não passava de “(...) uma
forma primitiva de ortodoxia clássica.” (1999. p.272).
Entende-se por Ortodoxia Protestante o período da história nos séculos XVII e
XVIII, logo após a Reforma, onde os teólogos protestantes sistematizaram a teologia
dos reformadores ( ). Aqui o termo ortodoxia, do grego orthodoxia (de orthos “certo”
e doxa “opinião”), que originalmente significa crença correta, é sinônimo de
confessionalismo.
Para esse período da teologia protestante também é aplicada a denominação
“escolasticismo”. O historiador J. Gonzalez apresenta três razoes porque se chama
“escolasticismo protestante” a esse período: Primeiro porque enfatizar a sistematização
do pensamento teológico. Segundo por utilizar como método a filosofia de Aristóteles
e por fim porque a teologia era produto das escolas, nascia nas universidades. (1999.
p. 113).
Vandermoler, comentando sobre o escolasticismo protestante, aponta vários
fatores como elementos decisivos no crescimento da ortodoxia protestante: Primeiro,
a educação formal. Os protestantes em busca de um pensamento sistemático na
época utilizavam o método aristotélico em suas instituições de ensino. Segundo, o uso
da razão. Os teólogos estavam mais abertos em usar a razão como meio de
desenvolver uma teologia coerente a partir de uma variedade de textos bíblicos que
pudessem ser compreendidos e ensinados. Em terceiro e ultimo lugar, a controvérsia
doutrinária. A fim de alcançar uma formulação doutrinária bíblica, os protestantes
se lançaram num forte debato teológico fazendo uso da lógica escolástica.
Segundo Gonzalez (1999. p.110), o escolasticismo protestante entrou em
declínio no final do século XVIII, mas deixou dois legados importantes: Seu espírito de
rigidez confessional, apontado por Vandemoler no parágrafo supracitado como um dos
elementos contribuintes no crescimento da ortodoxia, e a sua doutrina da inspiração
das Escrituras. Na busca da defesa da melhor confissão como expressão das
Escrituras os teólogos escolásticos, de acordo com Gonzalez, tendiam a aceitar como
cristãos aqueles que defendiam seus pontos doutrinários e excluíam aqueles que
divergiam do seu ponto de vista confessional.
Com o objetivo de rebater a transição oral católica os teólogos protestantes
enfatizaram a inspiração das Escrituras, defendendo que o Espírito Santo [“...] não só
disse aos autores o que tinham de escrever, mas também lhes ordenou que
escrevessem”. Gonzalez acrescenta que eles radicalizaram a questão ao ponto de
afirmarem que [“...] os autores bíblicos não foram mais que copistas ou secretários do
Espírito Santo”. Essa posição levou, no seu modo de ver, a enfatizarem a inspiração
da Bíblia letra por letra. Roger Olson alinha-se a Gonzalez nesse pensamento ao
declarar que a ortodoxia protestante foi marcada pela [“...] forte ênfase às Escrituras
como verbalmente inspiradas, proposicionalmente infalível e mesmo inerrante”. (1999.
p.571).
Um dos grandes representantes da ortodoxia protestante no século XVII,
defensor extremado da inspiração verbal das Escrituras, foi o teólogo reformado
Francis Turretin (1623 – 1687). Francis nasceu e morreu em Genebra, Suíça,
é considerado um legítimo representante do escolasticismo protestante calvinista. Sua
principal obra foi Institutio Theologia e Elenectica, um manual de teologia sistemática
publicado em 1688. (Valdermolen. 1990. P. 580).
Turretin exerceu forte influëncia na teologia da Escola de Princeton (E.U.)
através do seu primeiro professor Archibald Alexander (1772-1851) que herdou de
Turretin a fidedignidade das Escrituras e o uso da razão para compreender a verdade
cristã. Segundo Olson, a escola de Princeton “[...] traduziu o escolasticismo e a
ortodoxia protestante do tipo Turretin para o contexto norte americano do século XX e
criou os alicerces teológico e doutrinário que dariam origem ao fundamentalismo no
século seguinte”. (1999. p. 570).
Dos sucessores de A. Alexander o mais destacável foi o seu aluno C. Hodge ( ).
Hodge adotou como base da sua teológica sistemática o livro de Turretin; defendeu a
inspiração verbal das Escrituras e a sua infalibilidade; no confronto com os liberais,
emergentes na sua época, fez forte crítica aos mesmos chegando à condenação. Para
Olson, “[...] os conceitos de Hodge sobre teologia e a doutrina das Escrituras o tornam
um precursor do fundamentalismo do século XX”. (1999. p.570).
Os teólogos de Princeton, apesar de não preverem o surgimento do
fundamentalismo, lançaram as suas bases ao apresentarem o Cristianismo como
doutrina correta, enfatizarem a inspiração e inerrância da Bíblia e fazerem forte
oposição ao liberalismo. Todavia, eles eram possuidores de um alto nível acadêmico
o que os diferenciavam dos fundamentalistas posteriores. (Olson. 1999. p.575).
Percebe-se, portanto, que o fundamentalismo cristão teve suas raízes no
escolasticismo protestante do século XIX vivido pelos teólogos da escola de Princeton
que enfatizavam o conservadorismo teológico baseado no conceito de inspiração
bíblica. Com o surgimento do liberalismo o fundamentalismo sente-se herdeiro do
conservadorismo teológico e parte para a defesa do cristianismo.
(1) O caráter de Deus é de puro amor, sem padrões morais. Todos os homens
são seus filhos e o pecado não separa ninguém do amor de Deus. A
paternidade de Deus e a filiação divina são universais. (2) Existe uma
centelha divina em cada pessoa. Portanto, o homem, no íntimo, é bom, e só
precisa de encorajamento para fazer o que é certo. (3) Jesus Cristo é
Salvador somente no sentido em que ele é o exemplo perfeito do homem. Ele
é Deus somente no sentido de que tinha consciência perfeita e plena de
Deus. Era um homem normal, não nasceu de uma virgem, não realizou
milagres, não ressuscitou dos mortos. (4) O cristianismo só é diferente das
demais religiões quantitativamente e não qualitativamente. Ou seja, todas as
religiões são boas e levam à Deus; o cristianismo é apenas a melhor delas.
(5) A Bíblia não é o registro infalível e inspirado da revelação divina, mas o
testamento escrito da religião que os judeus e os cristãos praticavam. Ela não
fala de Deus, mas do que estes criam sobre ele. (6) A doutrina ou
declarações proposicionais, como as que encontramos nos credos e
confissões da Igreja, não são essenciais ou básicas para o cristianismo, visto
que o que molda e forma a religião é a experiência, e não a revelação. A
única coisa permanente no cristianismo, e que serve de geração a geração, é
o ensino moral de Cristo. (p.03 )
(1) Uma declaração e defesa apologética das principais doutrinas cristãs (e.g., Deus,
a revelação, a encarnação, a ressurreição, o Espírito Santo, a inspiração);
(2) Uma defesa da Bíblia contra a alta critica alemã;
(3) Uma critica a movimentos considerados não-cristãos (e.g., romanismo,
eddyismo, mormonismo, racionalismo, darwinismo e socialismo);
(4) Uma ênfase dada à evangelização e às missões;
(5) Uma amostra de testemunhos pessoais dados por pessoas que contavam como
Cristo operara em sua vida. (1992, p. 191).