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ANTROPOLOGIA E DESIGN: o olhar antropológico do designer 


Irene G. Rodrigues (2005)
“Se depender de mim, nunca ficarei 
 plenamente maduro nem
nem nas idéias nem no estilo,
mas sempre verde, incompleto, experimental” 
Gilberto Freyre
“Tempo morto e outros tempos” -
tempos” - 1926

 A ênfase no discurso antropológico junto aos designers foi sendo construído


ao longo do tempo pela aproximação constante
constante com os alunos, procurando sempre
sempre
por respostas às suas curiosidades, questionamentos e dúvidas.
Falar de Antropologia é falar de nós mesmos, pois o sentido etimológico da
palavra nos coloca no centro da questão: do grego ánthropos,
ánthropos, - “homem”, “ser 
humano”, mais logia – conhecimento, do grego lógos:
lógos: palavra, estudo, tratado.

O alcanc
alcance
e dos estudo
estudoss antrop
antropoló
ológic
gicos
os abord
abordam
am uma série
série de elemen
elementos
tos
constituintes de uma sociedade, ou seja, sua organização econômica, social, jurídica
e política, além de seus sistemas de parentesco, religiosos, míticos, e suas criações
artísticas. Sem pretender dar conta de todos esses aspectos neste texto, tomo a
liberdade de comentar
comentar alguns elementos
elementos da Antropologia
Antropologia Cultural enfatizando como
se posicionar
posicionar frente à prática
prática antropológ
antropológica,
ica, ou seja,
seja, como trabalhar
trabalhar esta ciência no
sentido de encontrar eixos que possam nortear o pesquisador/designer nas atividades
projet
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entre eles,
eles, ou seja,
seja,
esclarecer os nexos existentes entre os diversos fenômenos em suas manifestações,
permitindo, desta forma, uma
uma contextualização
contextualização das especificidades
especificidades culturais de cada
grupo social ou sociedade.
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caminh
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Antrop
opol
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distan
ante
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desvendando complexas organizações
organizações culturais nos lugares mais remotos do planeta,
ao mesmo tempo que pode nos trazer uma série de questionamentos sobre a nossa
própri
própria
a realida
realidade.
de. Intere
Interessa
ssa-me
-me em partic
particula
ularr perceb
perceber
er como
como se conduz
conduz o que
podemos chamar de uma "antropologia do cotidiano”, um olhar diferencial sobre o
anthropós.
anthropós. É exatamente esta abordagem do homo faber  que estaremos colocando
como foco de um novo paradigma do design centrado no ser humano.
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Em seu caráter mais fascinante a Antropologia se revela como uma ciência dos
observadores capazes de desvendar um conhecimento que não é explícito, ou seja,
captar os valores que os indivíduos de uma determinada cultura exprimem de forma
sistemática sem ter consciência de seus fundamentos. Recorrendo às palavras de
 Antonio Gramsci: “O homem ativo da massa atua praticamente, mas não tem uma
clara consciência teórica desta sua ação, que, não obstante, é um conhecimento do
mundo na medida em que o transforma” 1. O exercício da observação é um processo
contínuo mas, para dar conta do que vemos e interpretamos são necessários alguns
conhecimentos anteriores. O universo cognitivo pode ser apreendido pela própria
experiência de vida, mas os meios acadêmicos fornecem uma gama de
conhecimentos que fazem de um designer uma “pessoa especializada” e, portanto,
munida de ferramentas intelectuais, e tecnológicas, que lhe permite desenvolver suas
atividades projetuais. Os estudos antropológicos são um exemplo de como o designer 
se posiciona frente ao desvelamento do mundo imagético do social. Antes de
concretizar qualquer trabalho, presume-se que sua autoconsciência crítica colabore
para a criação de uma “nova cultura”, pois o design trabalha efetivamente para o
amanhã. Seus projetos do tempo presente visam à construção de um futuro possível,
enfatizando sua responsabilidade social em pensar utopicamente a realidade.
Desde o momento em que a Antropologia Cultural se deu conta de que não
poderia ter olhos somente para as sociedades ditas “primitivas”, seu eixo analítico
começou a contemplar os grupos urbanos. A complexidade das sociedades
modernas, ou pós-modernas, foi levando a Antropologia necessariamente a dialogar 
com diversas outras áreas do conhecimento criando, desta forma, uma comunicação
interdisciplinar. Como a Antropologia se dispõe a dar conta do “Homem Total”,
mesmo em sua diversidade, os diálogos interdisciplinares foram se demonstrando
construtivos. Diálogos estes que se estendem desde as ciências mais tradicionais até
as mais contemporâneas, incluindo a tecnologia. O comentário de Diana Domingues
em seus escritos sobre a Ciberarte chama nossa atenção para esta questão: “Encaro
as tecnologias como responsáveis por uma revolução que mais do que tecnológica é
uma verdadeira revolução antropológica.” 2 Não há como negar que o
desenvolvimento tecnológico e a criação de novas mídias, principalmente as
interativas, revolucionaram, e continuam revolucionando, o destino do homo sapiens.
 A partir do universo tecnológico a Antropologia visualiza o forjar de um novo ser.
1
Antonio Gramsci, Concepção Dialética da História, p. 20
3

Navegar através das inúmeras possibilidades científicas, no exercício


interdisciplinar, pode nos levar ao descobrimento da “aventura antropológica”.
 Aventura (do latim adventura, significa ‘coisas que estão por vir’) reforça o papel do
novo design como construtor do devir . Digo “aventura” por acreditar no que disse
Kierkegaard: “Aventurar-se causa ansiedade, mas deixar de arriscar-se é perder a si 
mesmo. E aventurar-se no sentido mais elevado é precisamente tomar consciência
de si próprio.” 3

Consciência e design
O que se entende por consciência? Meu olhar antropológico dialoga com a
psicologia social: é algo que se constrói a partir da vivência, da experiência, dos erros
e acertos dos nossos comportamentos em relação às outras pessoas. É
conhecimento agregado à vida. “Conscious (consciente), deriva de con ou cum, que
significa “com” ou “juntamente com”, e scire, “saber” ou “ver”.4 É o se conhecer e
conhecer o outro, num processo de dualidade. A consciência é, antes de tudo, um
potencial humano, mas que necessita conteúdo, ou seja, precisa ser 
substancializado, o que se consegue através da experiência cultural. Todos os seres
humanos contribuem, uns mais outros menos, para as transformações culturais de
suas sociedades, dependendo do grau de conscientização de que são portadores,
mas ao designer espera-se muito mais pois ele não é somente um cidadão, é um
colaborador responsável pelos caminhos futuros de sua sociedade. Ele é, antes de
tudo, um agente construtor de cultura.
Em suas incursões reflexivas, Paulo Freire nos legou uma abordagem sobre a
consciência que merece ser revisitada. Para ele não basta ter consciência mas
produzir conscientização, e isto significa ultrapassar a visão expontânea da realidade
e exercer um conhecimento crítico desta mesma realidade, o que exige uma posição
e uma ação. “A conscientização não pode existir fora da “práxis”, ou melhor, sem
ação – reflexão. Esta unidade dialética constitui, de maneira permanente, o modo de
ser ou de transformar o mundo que caracteriza os homens.”  5 Substancializar para o
designer significa, portanto, realizar um trabalho consistente. As atividades projetuais
são ações culturais que exigem um “fazer consciente”, desde a escolha de seu objeto
de estudo, sua interpretação e sua transmutação.
3
Júlio Maran, Olhai os Girassóis, p. 116
4
Edward F. Edinger, A Criação da Consciência, p. 34.
4

Uma das coisas mais preciosas que aprendi com a Antropologia é que “Olhar 
se Aprende”. Esse olhar, a princípio descontraído, deve se transformar num olhar que
“vê”, pois podemos olhar constantemente para algo e nunca ver. É o caso da
compreensão do universo cultural no qual estamos mergulhados. É possível nos
distanciarmos do que vivemos para ter outro olhar sobre nós mesmos? Tomemos por 
exemplo a concepção de “cultura”.

Cultura
 Ao adentrarmos especificamente no universo da discussão cultural é
necessário desmitificar algumas concepções antigas, mas que infelizmente ainda hoje
são possíveis de se perceber.
Tomemos como ponto de partida que o conceito de cultura não mais se
apresenta como sinônimo de civilização, como era considerada nos séculos XVII,
XVIII e XIX. Aliás, tal concepção justificou, e muito, a dominação européia sobre
várias sociedades, inclusive sobre as sociedades indígenas nas Américas.
Carregados de etnocentrismo, os europeus se atribuíam cultura porque eram
“civilizados”, negando qualquer possibilidade de atribuí-la aos silvícolas. Em resumo,
a idéia era que as sociedades européias tinham cultura enquanto os nativos não a
tinham. Essa bipolaridade entre “ter” e “não ter” cultura foi superada pela antropologia
a partir da segunda metade do século XX. Trata-se agora de compreender de que
todos os grupos humanos desenvolvem cultura, cada qual criando suas próprias
linguagens orais, escritas, corporais, religiosas e artísticas.
Outra abordagem que deve ser superada é a visão elitista de cultura. Para
alguns o que merece ser considerado está no campo da erudição. Ora, o erudito é,
sem dúvida, uma cultura que envolve saberes mais avançados, mas o campo da
cognição não se restringe ao caráter científico. Se assim o fosse, a cultura popular 
estaria relegada ao submundo da ignorância, perdendo toda a sua eficácia simbólica.
 A cultura, de um modo geral, não pode ser encarada como algo “superior” que possa
ser usufruído apenas por aqueles que têm “capacidades” ou meios para “adquiri-la”.
Concebida desta forma a cultura passa a ser um “produto” para poucos e, o pior,
passa a ser “mercadoria”.
 A Antropologia no século XX parte da separação entre natureza e cultura,
dissipando as tendências orientadas para a justificativa de que cultura seria um
segmento “natural”. De fato o homo sapiens, enquanto parte da natureza, nasce com
5

inúmeras capacidades, inclusive a de desenvolver cultura, mas entre tê-las e


desenvolve-las, existe aí um aprendizado. Se outros animais nascem com uma
herança genética em relação à cultura, isto não ocorre no nosso meio, pois para nós
a cultura é adquirida. Visto essa separação é possível dizer que: enquanto seres
naturais somos homo sapiens e, enquanto seres culturais somos humanos. Tornar-se
humano, portanto, significa construir cultura, e esta é imprescindível para qualquer 
indivíduo que viva em uma sociedade, independente de sua situação social, ou de
classe.
Essa “divisão” entre natureza e cultura de nenhum modo exclui a visão do
“Homem Total”, “integral”. Não é uma separação que o exclui da visão de um ser vivo
que transita em sociedade, a qual é organizada sobre um sistema de comunicação e
significação. Nossas necessidades naturais não são satisfeitas de modo aleatório e
vulgar. A cultura é um complexo sistêmico fundamentado por três segmentos: é um
sistema cognitivo que parte da noção de conhecimentos adquiridos pelo homem
através de um processo de socialização; é um sistema estrutural sobre o qual
organizamos a sociedade; é um sistema simbólico permeado de valores e
significados, possibilitando organizar nossos pensamentos e idéias que conduzem à
comunicação. Através desses sistemas distinguimos o certo do errado, o justo do
injusto, o belo do feio, construindo, desta forma, nossos comportamentos e atitudes.
É merecido lembrar Geertz quando afirma que: “Entre o que o nosso corpo nos diz e
o que devemos saber a fim de funcionar, há um vácuo que nós mesmos devemos
 preencher, e nós o preenchemos com a informação (ou desinformação) fornecida
 pela nossa cultura”.6 
 Além das necessidades naturais os humanos também têm necessidades
estéticas. Enfeitar bolos, vestir fantasias, organizar festas ou trabalhar artificialmente
o espaço são características tipicamente culturais. Se pensarmos sobre a ocupação
territorial, por exemplo, podemos verificar que enquanto outros animais delimitam
seus territórios através de odores, os humanos o fazem através de símbolos visuais.
É exatamente este recorte que mais deve chamar a atenção do designer pois é neste
campo que detectamos como os humanos se enxergam, o que pensam do mundo e
como refletem o imaginário social.
Cada sociedade constrói um sistema que lhe parece ideal, o qual serve como
um “mapa” de orientação, um conjunto de valores que atua como parâmetro para a

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