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EVERTON BARIAi
Introdução
A proposta desse trabalho é discutir sustentabilidade relacionada à produção gráfica na
impressão offset. O estudo tem como base pesquisas bibliográficas de autores como Carlo
Vezzoli e Ezio Manzini (2002), John Elkington (2001) e Marina Oliveira (2000), além dos sites
Design By Nature (2009), Produtor Gráfico (2006) e a Revista Tecnologia Gráfica (2008).
Iniciamos com o conceito sobre desenvolvimento sustentável da ONU – Organização das
Nações Unidas e vamos apontar como as empresas se comportam, hoje em dia, em relação a
esta questão, como elas atuam junto ao meio ambiente.
Com isso, apresentaremos alguns caminhos utilizados, como é o caso do Ecodesign,
considerado como uma das ferramentas necessárias para atingir o desenvolvimento
sustentável, e que deve ser levado em consideração na hora da tomada de decisões
estratégicas.
Depois desta contextualização, vamos delinear as questões pertinentes à produção gráfica.
Com base no site Design By Nature (2009), serão sugeridas ações para o desenvolvimento de
uma peça gráfica, que impacte menos o meio ambiente. Após isso, é descrito o processo de
impressão offset, citando suas operações de pré impressão, impressão e acabamento, e uma
tabela com as entradas e saídas de materiais, sua classificação ambiental, o tipo de resíduo e
o local onde deve ser descartado. Discorremos, ainda, sobre algumas certificações que as
gráficas brasileiras buscam tirar para mostrar o seu empenho com a preservação do meio
ambiente. Nosso objetivo é conhecer os impactos que o processo de impressão offset pode
causar ao meio ambiente e propor uma prática que colabore na sua preservação.
1 Sustentabilidade
Ser sustentável é uma preocupação que as pessoas têm agora, porém pensando no futuro.
Tendo isso em vista, John Elkington criou um conceito para Sustentabilidade que se baseia em
Anais do
2° Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (II SBDS)
Jofre Silva, Mônica Moura & Aguinaldo dos Santos (orgs.)
Rede Brasil de Design Sustentável – RBDS
São Paulo | Brasil | 2009
ISSN 21762384
três pilares: economia, meio ambiente e sociedade. Em seu livro “Canibais de Garfo e Faca”
(2001:20), ele diz que sustentabilidade pode ser definida como “o princípio que assegura que
nossas ações de hoje não limitarão a gama de opções econômicas, sociais e ambientais
disponíveis para as futuras gerações”. Esse equilíbrio entre os três pilares, chamado de Triple
Bottom Line pelo autor, será relevante para o estudo do meio ambiente nesse trabalho.
Ter um desenvolvimento sustentável significa ”atender às necessidades do presente sem
comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades"
(1991:46). Essa foi a definição apresentada no relatório "Nosso Futuro Comum", publicado em
1987 pelos membros da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, pela
Assembléia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), que resultou do trabalho
conjunto de representantes de 21 governos, líderes empresariais e representantes da
sociedade.
Com base nisso, Manzini e Vezzolli (2002:28) citam que as ações humanas, para serem
consideradas realmente sustentáveis, devem responder aos seguintes requisitos:
basear-se fundamentalmente em recursos renováveis (garantindo ao mesmo tempo a
renovação);
otimizar o emprego dos recursos não renováveis (compreendidos como o ar, a água e
o território);
não acumular lixo que o ecossistema não seja capaz de reutilizar (isto é, fazer retornar
às substâncias minerais orgânicas, e, não menos importante, às suas concentrações
originais);
agir de modo com que cada indivíduo e cada comunidade das sociedades “ricas”
permaneça nos limites de seu espaço ambiental, bem como que cada indivíduo e cada
comunidade das sociedades “pobres” possa efetivamente gozar do espaço ambiental
ao qual potencialmente têm direito.
Apesar dos esforços das empresas em proporem o desenvolvimento do design voltado para
a sustentabilidade, muitas vezes, elas esbarram em tecnologia ou até mesmo em questões
sociais e econômicas, ou a fabricação de um produto sustentável pode entrar em desacordo
com suas políticas. Assim, muitas vezes elas deixam de fazer um produto sustentável por não
conseguir atingir um nível econômico suficiente para colocá-lo no mercado e ser aceito pela
sociedade. Mesmo um produto sendo sustentável, o seu processo de fabricação pode gerar
alguns resíduos, no caso do design gráfico a impressão de um folheto, por exemplo, gera
resíduos sólidos como líquidos e gasosos. Segundo Ezio Manzini e Carlo Vezzoli, propor o
desenvolvimento do design para a sustentabilidade significa “promover a capacidade do
sistema produtivo de responder a procura social de bem estar utilizando uma quantidade de
recursos ambientais drasticamente inferiores aos níveis atualmente praticados” (2002:23).
Seguindo este raciocínio, estes autores acrescentam, “Para podermos falar de soluções
sustentáveis, um produto deve implicar em um consumo de recursos ambientais que seja ao
menos 90% inferior ao requerido pelos produtos tidos como não sustentáveis” (Manzini e
Velozzi 2002:38).
Muitas empresas hoje em dia atuam com a sustentabilidade de forma estratégica, a fim de
conseguir um novo reconhecimento, um novo patamar para sua imagem com os consumidores.
Assim, a relação da sustentabilidade com o marketing indica que é melhor uma empresa tentar
ser sustentável para melhorar sua imagem do que ela simplesmente não fazer nada.
Não há empresa totalmente sustentável, toda ação gera uma reação, portanto sempre que
um tipo de produto é gerado algum tipo de resíduo tem que ser descartado. De fato algumas
substâncias emitidas podem não causar qualquer efeito danoso, ou o efeito pode ser muito
reduzido, mesmo se emitidas em grande quantidade, não causando grandes preocupações.
Por outro lado, temos o caso das substâncias tóxicas, que podem ser responsáveis por efeitos
graves, mesmo se emitidas em pequenas quantidades.
O pensamento estratégico na criação de produtos ou impressos sustentáveis deve levar em
conta o ciclo de vida da peça, desde a extração da matéria prima, até os processos de
fabricação, utilização e descarte. Muitas vezes as escolhas dos materiais, dos quais vão ser
feitos os produtos, podem ter uma otimização de acordo com o seu tempo de vida ou o seu tipo
de uso. Manzini e Vezzoli dizem, em relação ao ciclo de vida dos produtos, que os designer
2 Ecodesign
O Ecodesign é uma determinante necessária para atingir o desenvolvimento sustentável,
aparecendo na atualidade como uma forma nova de projeto. Conforme Hollis diz em seu livro
“Design gráfico, uma história concisa”, que design gráfico é “a arte de criar/projetar ou escolher
marcas gráficas (como linhas de um desenho ou os pontos de uma fotografia), combinando-as
numa superfície qualquer para transmitir uma idéia” (2005:01). Fazendo uma ligação com
ecodesign, podemos considerar que ele atua como uma ampliação desse conceito, partindo do
pressuposto de conservação do meio ambiente, projetar se preocupando com o impacto que o
produto possa causar, ajudando assim a orientar a direção das decisões de design.
O conceito de Ecodesign parte do princípio de que as empresas devem ter total controle
sobre o projeto de seus produtos, seja ele gráfico ou não, tendo em vista um menor impacto
ambiental em todas as etapas do projeto. Segundo o IDHEA – Instituto para o Desenvolvimento
da Habitação Ecológica, cujo conceito também prevalece para a área gráfica, Ecodesign é
A responsabilidade ambiental não deve ficar a cargo apenas da gráfica, o designer também
deve ter essa responsabilidade e entender todos os aspectos ambientais relacionados as
principais etapas, afim de propor a adoção de um comportamento sustentavelmente correto.
O designer necessita entender as etapas que envolvem a produção para propor o
planejamento e execução do trabalho, passando pela pré impressão, impressão e acabamento.
Tipos de Papel
Atualmente 100% da produção de papel e celulose virgem no Brasil emprega matéria-prima
de áreas de reflorestamento, principalmente de eucalipto (65%) e pinus (31%) (IDEC 2009).
O processo de fabricação de papel virgem, na indústria de papel brasileira Suzano (2009), a
madeira é descascada e picada em lascas (cavacos) com tamanho controlados para facilitar a
penetração dos produtos químicos durante o seu cozimento, depois de cozida é separada a
celulose da lignina (uma espécie de cola que mantém as fibras unidas). O líquido resultante do
cozimento, chamado poupa marrom (celulose escura), essa celulose é usada para alguns tipos
de papel cartão. A etapa seguinte é o branqueamento da celulose. Esse processo físico-
químico utiliza como principal reagente o oxigênio. Até pouco tempo, o branqueamento era
feito com cloro elementar, que foi substituído pelo oxigênio. Após o branqueamento é obtida a
celulose que começa a dar origem a uma massa, sendo ela uma suspensão da celulose em
Pré impressão
Tabela 1 - Classificação de materiais, resíduos e seus destinos na pré impressa (Manual técnico ambiental da indústria
gráfica 2008:44-45)
Para essa tabela ser entendida é necessário saber o que diz a norma NBR 10004:2004 da
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, que lista cada resíduo gerado em uma
classificação de periculosidade:
Resíduos Classe l - perigosos;
São aqueles que apresentam periculosidade, conforme definido anteriormente, ou uma das
características seguintes: inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e
patogenicidade
Resíduos Classe ll - não inertes;
São aqueles que não se enquadram nas classificações de resíduos classe l perigosos o de
resíduos classe lll inertes, nos termos desta norma. Ou se resíduos classe ll não inertes
podem ter tais como: combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em água.
Resíduos Classe lll - inertes.
Quaisquer resíduos que, quando a mostrados de forma representativa e submetidos a um
contato estático ou dinâmico com água destilada ou ionizadas, a temperatura ambiente,
conforme teste de solubilização, não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a
concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, executando se ou os
padrões de aspecto, cor, turbidez e sabor. Como exemplo desses materiais, podem se
citar as rochas, tijolos, vidros e certos plásticos os e borrachas que não são decompostos
prontamente.
Impressão
É a operação no qual se transfere o trabalho de uma matriz para um suporte. A imagem é
transferida através da aplicação de pigmentos de diversas naturezas, como as tintas. Nesse
trabalho descrevo sobre o sistema de impressão offset.
Tintas
A redução do consumo de tintas pode começar com o designer, minimizar a cobertura de
cores em uma página e reduzir o número de cores é um simples ato pra ajudar a evitar o
impacto ambiental.
Tabela 2 - Classificação de materiais, resíduos e seus destinos na impressão offset. (Manual técnico ambiental da
indústria gráfica 2008:45-46 )
As tabelas apresentadas nos levam a conhecer todas as ações que envolvem a produção
gráfica. Elas nos conscientizam da quantidade de material que é utilizado em um processo e
sobre o seu destino final. Cada material possui sua classificação e seu destino específico para
descarte, porém nem sempre eles são sustentavelmente corretos, mas pode ser a melhor
forma de descarte no momento, mesmo assim, podendo à longo prazo agregar algum dano ao
meio ambiente. Por mais que esses resíduos tenham um destino final, ainda representam um
sério problema, justamente porque as tecnologias envolvidas não evoluíram a ponto de
conseguir fazer uma reutilização de todos os materiais descartados ou fazê-los com que eles
voltem para a natureza sem ter que agredi-la.
Considerações finais
Vimos que ao longo das operações do processo de impressão offset há muitos materiais
que podem degradar o meio ambiente, porém é importante pensar alternativas e soluções que
minimizem o impacto com o meio ambiente, visando a sua preservação.
O designer na produção de uma peça pode minimizar o formato, ou recorrer à utilização de
um papel reciclado, de uma gramatura menor, usar menos cores com tintas a base de óleo
vegetal, propor acabamentos a base de água, ou qualquer outra solução que possa reduzir o
Referências
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industriais. EdUSP, São Paulo, 2002.
i
evertonbaria@uol.com.br