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VIAGEM À LUZ
sências do doce com sa-
BATISTA bor distinto das frutas na
laranja e na jabuticaba e,
CUSTÓDIO sobretudo, emberça na
semente o pólen para o
parto nas flores.
Mas esse fenomenismo
N ENHUMA pessoa
engana tanto os ou-
tros como a si própria
natural é pouco ante uma
fenomenia que aguça a
minha curiosidade. Outra
nas que tapea. Vai nos observação deixa-me
esconderijos do olhar a ainda mais embasbacado
brutalização da crítica ir- e pensativo. A engenharia
radiada do recalcamento é tão perfeita nos cálculos
oculto da autocrítica no da flora, principalmente
subconsciente do julga- na vegetação dos Cerra-
dor. Toda vida particular dos, que na tortura das
dá escândalo se exposta árvores está a programa-
a público; afinal, inexiste ção na simetria do peso
quem não tenha cometi- que estabelece a medida
do muitas faltas seme- correta que as mantém
lhantes às que aponta de pé e determina e dife-
nos vizinhos; pois, até ao re a potência do impacto
contrário, o ser humano que resistirão nas copas
mais desprezível está do açoite dos vendavais
palpável no âmago do que as derrubará.
moralismo. Intrigam-me as flores
dos girassóis estarem vi-
“Toda vida particular dá rando-se de frente para o
escândalo se exposta a Sol o dia inteiro. É certo,
encanta-me o poema do
público; afinal, inexiste namoro de suas pétalas
quem não tenha come- semelhantes aos raios de
tido muitas faltas seme- luz e fazem os girassóis
acompanharem o roteiro
lhantes às que aponta do Sol. Enreda-me o fato
nos vizinhos” de a física não popu-
larizar esse fenômeno na
A pessoa precisa ir além legenda de suas desco-
do que está na frente dos bertas, que muitos con-
olhos. sideram lenda decorrente
O instante na vida não de os vegetais procura-
é apenas a fração do se- rem o Sol. Pode ser lenda,
gundo nos relógios, mas como um dia o foi que o
é o tempo no eterno da Sol é que girava em torno
distância que separa na da Terra. A lindeza dos gi-
música o compositor no Ascensão de Jesus Cristo rassóis apaixona-me e já
gênio Wolfgang Amadeus cheguei a plantar um al-
Mozart do genioso Zezé queire na Fazenda do En-
Di Camargo que, se fosse O tamanho do Univer- Mundo, com sopro dos Na comunidade dos cantado dessa maravilha
Andrea Bocelli, não con- so é a medida exata do ventos frios nas Estepes formigueiros e das col- codificada como a Flor
fundiria na voz o som do infinito no milímetro do da Rússia; mas é, tam- meias há estabilidade do Sol, só para apreciá-
grito com o tom do agu- grão de areia. bém, a ventania que mo- econômica e administra- los girando vagarosa-
do no canto lírico. Essa é Há no peso do pó de ve a Vida desde a respira- tiva e cujo segredo da or- mente, quase que imper-
a distância que se mede a terra a força que sustenta ção inaugural das crian- ganização os economistas ceptivelmente aos olhos
vida e mantém duas pes- a imensidão na leveza da ças no ventre. e administradores não quanto a velocidade do
soas defronte uma da ou- montanha. conseguem manter está- Sol em céu limpo.
tra e as coloca afastadas Espera na semente a “Desconfio que vel na sociedade humana. (Não opino a respeito
entre si no extremo de descendência da mata existem almas cegas Encabulo-me todas as do que não possua infor-
seus mundos no outro la- que está nas árvores que vezes que me vejo diante mação científica. Marco
do da constelação irra- estão nascidas em meu carentes de uma de uma árvore. Às vezes Antônio Sterd Leite, pro-
diante dos raios que não olhar e irão cobrir todas esmola de luz “ permaneço horas tentan- fessor aposentado de
se bifocam nas chamas as paisagens destruídas do decifrar o mistério da Física, da UFG, atendeu-
do talento no luzeiro da desde o dia em que as Em que enigma se es- operosidade intrínseca me ao telefone, cordial, e
inteligência criadora. pessoas foram animaliza- conde o maestro que en- de sua fecundação. Plan- não confirmou o giro da
das pelo materialismo sina aos pássaros a canta- tam-se a laranjeira e a ja- flor do girassol à luz do
continua
2 GOIÂNIA, TERÇA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2010 OPINIÃO Diário da Manhã
continua
Diário da Manhã OPINIÃO GOIÂNIA, TERÇA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2010 3
Sócrates Platão
vés de se perder tempo posteridade. Ou se volta cabe àquela instruída a prendimento do que plan- soa que trouxe a outra
fazendo-os ouvirem con- ao postergado. obrigação de elucidar a ta o aprendido e a humil- da vida dela para o seu
selhos de exemplos per- essa prejudicada pelo dade do que colhe o ensi- mundo não pode prati-
sistidos em derrotas não
reconhecidas, é recair-se
no vértice do ponto don-
A S turbinas da inteli- aprendizado no meio
gência rateiam o social à luz fraca do sa-
fornecimento de energi- ber, onde, geralmente, a
nado igualam-se na comu-
nhão de almas que se eram
escolhidas nos desencon-
car um só ato ou dizer
uma única palavra que
repasse dores das feridas
de as duas linhas da sina as sem os aditivos do rigorosidade da sobrevi- tros dos destinos divididos cicatrizadas.
se partem ao meio, uma conhecimento. O desní- vência chega a ser um nos sorteios da sorte. Inevitavelmente, a pes-
apontando para o mun- vel cultural é a viseira castigo, por isso se deve Positivamente, a pes- soa que buscou outra pa-
do do romantismo no que se interpõe, defor- ter o cuidado de ir le- soa que se reconstrói não ra a luz se deixou onde a
santificado dos vencedo- ma e fragmenta o relaci- vando-a com a ternura deve arrastar o clima am- tirou da escuridão. Ou
res, outra indicando para onamento entre as pes- da bênção do milagre bientado à mentalidade pode ser o contrário. A
o mundo do materialis- soas e as distancia, por que foi haver rompido o antiquada para respirá-lo pessoa que veio saiu da-
mo na pecação dos per- mais que se amem, no calvário das amarguras no ar da atmosfera oxige- quela vida, mas aquela
dedores, nessa parte da choque de visões dife- sem se tornar amarga nada no espaço da mo- vida não saiu dela. Não
vida que Deus nos con- renciadas das razões de na cruz que se liberta dernidade, sob pena de teve a prudência de insta-
fiou vir trabalhar na se viver e cria-se a in- agora para a ascensão poluir o fôlego das mu- lar um filtro às portas de
construção de Sua Obra. compatibilidade de gê- no universo do conheci- danças na inalação do ar saída de um mundo para
E é aqui que o futuro se nio recíproca e insus- mento ampliado. oxidado pelo atraso. outro. E aquele infiltrou-
acaba ontem. Ou se vai à tentável no convívio. E Necessariamente, o des- Decididamente, a pes- se nesse, sem que hou-
continua
4 GOIÂNIA, TERÇA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2010 OPINIÃO Diário da Manhã
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Diário da Manhã OPINIÃO GOIÂNIA, TERÇA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2010 5
Marconi Perillo
xado de choro nas nari- se a alma não é mas foi infinito enquan- dos poros. volta. Ali é onde a vida fez
nas. Enxuguei-a no con- pequena. to durou. A Marly entre- Até no perigo há a poe- a curva seca no seu uni-
solo: gou-me todos os pe- sia do épico: verso para o meu infinito.
– A pessoa vale, minha daços que lhe poderiam – O sucesso e o fracasso Ah, Marly! Vou retribu-
querida Marly, pelos Ao vê-la chegar tão fina haver nos sentimentos simbolizam-se no cano ir-lhe agora o prêmio do
bons livros que ler. E de uma vida grosseira, no seu coração inteiro do revólver que tivermos presente que me deu ao
tem a verdade que a prá- lembra-me uma lenda em seu amor. engatilhado às mãos. Se voltar a estudar. Um bei-
tica confirma a teoria de russa. Nasceram duas cri- Dia 16 de setembro fez apontado para a frente, jo. Receba-o com a leve-
que as descidas são mais anças no mesmo dia e 24 anos que Marly Vieira atingiremos o alvo do tri- za do sublime do ósculo
traiçoeiras que as subi- hora. Uma, filha de um de Almeida poemizou- unfo. Se miramos para à hóstia. Porque o meu
das. Em todas as cami- príncipe no castelo do rei. me a vida. Estou nela e trás, alvejaremos a des- coração está dentro des-
nhadas, as descidas nas Outra, filha de um ope- ela está em mim no João graça em nosso peito. se beijo.
ladeiras íngremes e a pi- rário na choça de um do Sonho e na Maria do Uma noite conversáva-
no são mais fáceis de se
escorregar no embalo
inopinado dos passos
operário. Aos 18 anos
fizeram um encontro dos
dois meninos. O que era
Céu. Em quaisquer horas
dessas, vou trazer a Igreja
Católica e o Cartório de
mos. Ela sobre seus re-
vezes. Eu a respeito dos
meus dissabores. Meus
H Á um mundo tão
perto e tão longe de
nós que, para entrarmos
que no cansaço pelejado filho do príncipe e criado Família à minha casa e olhos foram ao fundo nele, a viagem é mais es-
nas subidas empinadas. na roça tinha o porte de matrimoniar o seu nome dos seus esconder as carpada de sacrifícios
A doce Marly pontuou- príncipe. O que era filho para Marly Quimera lágrimas, ao ouvir-me que a transposição aci-
se no suspiro. Condoeu- do camponês e criado na Custódio – a quimera que em sua alma: dentada de meteoros va-
me pressioná-la a vir de corte tinha aprumo do deu flor no meu sonho de – A boa sorte esperava- gando na desoladora
dentro de si nos quebra- sertanejo. felicidade – e, talvez me na universidade do longitude de onde pode-
diços da sensibilidade assim assinada, vislum- seu conhecimento de rão chegar, um dia, as es-
fraquejada nas subnutri- “Foi o sem-votos bre escrito no seu destino autodidata. paçonaves à última es-
ções das possibilidades o fado de habitar em meu Ela não sabe. Eu sei. trela infinitada no incóg-
negadas:
Alcides que elegeu maktub: Aprendi com a sua ma- nito do Universo.
– Concordei quando Marconi e deselegeu – Se o abismo se abre neira de ser a prática apli- “A viagem dentro de
me dissera que a pessoa Iris. Palanque que ele diante de mim, não me cada da teoria que co- nós mesmos é a mais
é o que quer ser. Mesmo subir no segundo turno detenho nem me desvio nhecia a leitura de livros. bela e a mais terrível
ganhando a metade do da travessia. Desço no Há muitas formas no das experiências. Pois é
salário mínimo, que cairá fraco” barranco de cá, aprovei- molde do belo no bonito no mais íntimo do ser
reservava uma parte tando no esforço nas do bonito. É o que trans- que encontramos o que
para ajudar em casa, É a natureza dos fortes. quedas para exercitar os luz da beleza na Marly há de mais fascinante e
restavam alguns tostões O meio social muda a músculos. Cruzo o fundo nos lindos de seu interior. medonho da alma hu-
para frequentar o curso personalidade dos fracos. para medir a resistência mana”, desvendou Nie-
primário no Grupo Es- Não muda o caráter dos dos moles na terra cedi- “O governador Alcides tzsch, que andou muitas
colar Ernestina Lima fortes. ça. Subo a margem de lá Rodrigues é uma fanta- vezes por lá, e onde
Marra, no Parque João Marly é a discrição do cavando buracos com as Sérgio Caiado não es-
Braz Industrial, da Pre- esclarecimento silen- mãos para firmar os pés sia política andando por teve em si mesmo nas
feitura de Goiânia. Mas cioso que escuta para neles, uns após outros, aí à procura da realida- ocasiões que subiu altís-
a pobreza encolhia-me apreender, a voz medida até chegar em cima e ser- de eleitoral” simo ao poder. Pois con-
de timidez e eu me sen- nas palavras ao som do virem de marca para os firmou o que funda-
tia na orfandade do recato nas conversas e se que vierem depois. E si- Aos 48 anos, Marly mentou Platão, o autor
medo de enfrentar as reserva à alteza de não go, sorrindo, com a vida acordou-se no meu so- de A República:
valas da vida. participar de discussões batendo de frente no pei- nho. Matriculou-se no “Não há nada mais
Mas a Marly inspira na estridentes de ignorância to e sem chorar o que fi- curso Kumon, método de vergonhoso do que al-
candura o poema do pen- opinando sobre questões cou às costas. ensino japonês, e fre- guém ser honrado pela
samento de Gibran Khalil já definidas pela ciência e A Marly, a musa nela, a quenta a Unidade de Go- fama dos antepassados
Gibran que a bondade é a filosofia. paixão em mim, desse iânia, Nova Suíça, com a e não pelo merecimento
como a rosa que, pisada, Todas as pessoas que poema maravilhoso que orientadora Vilma Maria próprio.”
exala o perfume, ou o passaram pela minha é o simples fato de viver Franco Gomes, nas aulas As substâncias não se
verdadeiro sentido da vida levaram-me guarda- renascendo no mundo de matemática EI30B e isolam na unificação das
grandeza do poema de do em seu amor que – interior. E sem transpirar português DII136A. E faz essências nos elementos
Fernando Pessoa: parafraseando a meu no rosto a face dos cortes todas as tarefas escolares, da química e da física e
jeito o poeta Vinicius de duros. O que está no ínti- diariamente, com o entu- interligam a Ciência Clás-
Tudo valeu a pena? Moraes – não foi eterno, mo é tão caloroso, que o siasmo de adolescente. sica e a Ciência Quântica
Tudo vale a pena posto que foi chama, suor evapora-se dentro Cruzou a porta sem no motocontínuo da evo-
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6 GOIÂNIA, TERÇA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2010 OPINIÃO Diário da Manhã
O
mento aos elevados do oito anos” No próximo aeroporto tempo já entardece Palanque que ele subir
mais desconhecido de suspenso no insondável nas manhãs em to- no segundo turno cairá
todos os mundos das ga- Descortina-se, aí, no do seu âmago, o viageiro dos os horários das ur- fraco. Caiu desmontado,
láxias na vastidão do fir- prisma do cristal, as duas pode aterrissar em si que gências atuais das noites geral. Não aguentou nem
mamento, e não o fez faces da luz da sabedoria ouvirá Friedrich Wilhelm avelhentadas se clarean- o peso da candidatura a
dentro do avião, mas no que simboliza na consci- Nietzsch alertando-o: do no incêndio das mu- deputado federal do Sér-
livro O Pequeno Prínci- ência o espelho em que “A viagem para dentro danças históricas. As eli- gio Caiado. Coitado dele:
pe, que, para mim, o cada um pode contem- de nós mesmos é a mais tes do carrancismo ideo- gordo e só no cérebro de-
menino-personagem é plar dentro de si a verda- bela e a mais terrível das lógico à esquerda e à di- ve pesar uns quatro bur-
ele que se introjetou e deira natureza de seu ca- experiências. Pois é no reita do pêndulo da razão ros, mas magro de votos e
saltou nele para fora de ráter, mas, todavia, é on- íntimo do ser que en- tombam no crepúsculo apenas nessas urnas fina-
si e dialogou consigo de a maioria não percebe contramos o que há de às antevésperas da socie- dou-se politicamente o
mesmo no escrito. a decomposição nos re- mais fascinante e medo- dade se remodelando que daria para encher
flexos da imagem do au- nho na alma humana. O embaixo no povo e por aquelas outras urnas com
“O Jorcelino Braga já
os fantasmas diariamen-
te durante todos os anos
que lhe restarão morren-
O natural está no so- sofrer nos inventos da de- sam todos os povos. Não estava acometido da do de inveja do Ronaldo
brenatural e entrar em pressão. fiques nos baixos. Não Caiado.
suas dimensões depen- Este é o treinamento subas às alturas. O mais alucinação de que fora O governador Alcides
de do plano da elevação providencial para se des- belo mirante do mundo ele que elegera Alcides” Rodrigues é uma fantasia
espiritual nos planos do cer asado à segurança está no meio da encosta. política andando por aí à
corpo. dos sábios que estiveram Não há fenômenos mo- A vida da pessoa é o re- procura da realidade
Para fazermos a trans- nas profundezas do sub- rais, mas apenas uma in- sultado de seus atos e eleitoral que lhe acena
migração do mundo que consciente e trouxeram à terpretação moral dos não o efeito das culpas de nas miragens qual se en-
vemos e conhecer o tona o conhecimento fenômenos.” outros – se são atos bons, toam o relincho e a sinfo-
mundo que somos, tere- que o ser humano neces- Em seguida pode deco- a pessoa viverá as plurali- nia na música aos ouvi-
mos de nos transportar sita ter sobre si mesmo lar-se, fazer uma curva no dades da moral no digno, dos do dono. Seguia con-
no voo para as dimen- da pessoa que é real- ar da reflexão e voar para no leal, no justo e no belo tente nos limites expan-
sões secretadas em nosso mente na própria cons- trás para se encontrar dos que amam a vida; e didos de visionice medi-
íntimo, mas, antes, deve- ciência. com Sigmund Freud se forem atos maus, a ana e da conformação
mos ser passageiros da Nas idas e vindas des- ponderando: pessoa viverá a felicidade satisfeita com a ilusão fu-
nave-Alma na grande sa excursão interioriza- “A ciência não é uma triste e a alegria doída da gidia. A má sorte o achou
jornada dos roteiros que do ao seu íntimo é fun- ilusão, mas seria uma paz insultada pela fama no azar. Nas eleições de
levam a Deus, quando damental que o viajor ilusão acreditar que po- sem glória nas vitórias 1998, as aparições incor-
então estaremos prepa- pouse nas escalas para deremos encontrar nou- sem conquistas dos que poravam vultos levando
rados para a viagem escutar os desbravado- tro lugar o que ela não enfeiam a história de sua para o cemitério político
transcendental após a res da mente. nos pode dar. Não existe vida nos mesmos atos o cortejo da chapa majo-
continua
Diário da Manhã OPINIÃO GOIÂNIA, TERÇA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2010 7
O
da para os líderes de sua “Esse apoio do alcidis- quias do mandato de Al- governo de Goiás es- Mas tem mais que se
base partidária aliada. E, mo é missa de 7º Dia cides Rodrigues tem a tá com frente e verso pode pôr neles quantos
aí, surgiu-o vivo, muito na paróquia do udenis- música do agouro. Imita no poder, as duas partes mais a mais.
vivaldino, com o fantas- aqueles Especiais da Re- enfeixadas do mesmo la- Tem a incrível apro-
ma de governador na ca- mo para os fiéis ao de Globo nos fechamen- do no que não manda e priação indébita por usu-
beça. O Jorcelino Braga já pessedismo” tos do Ano Velho com no que desmanda o que capião das terras arrasa-
estava acometido da alu- apresentações do Rober- manda. das. Tem o governador-
cinação de que fora ele Esse apoio do alcidis- to Carlos. A voz do rei é É o desmando. por-acaso que dá ordem
que elegera Alcides, e mo é missa de 7º Dia na bela. Suas composições Tem o governador de e o governador-ocasional
acreditou tão iludido co- paróquia do udenismo são lindas. Mas seus fãs já direito e tem o governa- que ordena e o ordena-
mo o pato confuso que para os fiéis ao pessedis- estão nas plateias do ade- dor de fato. A dupla de dor cumpre o ordenado.
tentasse nadar num tan- mo, e culto ecumênico us. O repertório desatua- Suas Excelências, a por Mas tem o mais no
que de espelho com o não se reza no catecismo lizou nos auditórios mo- ocupação e a por locação, mais.
azul dos céus refletindo a dos ideais contrários dos ços. Caiu de moda o ído- mortifica o bem e vivifica Tem o governador-in-
água simulada. que trazem em suas veias lo. O show do Ano Velho o mal na construção do deciso que decide o que
E reescreveram Dom o sangue que escorreu do morre no Ano Novo. O destruir. não decidiu e o governa-
Quixote de La Mancha coração dos ancestrais cartaz de Roberto Carlos dor-decisivo que decide a
em que com dois Sancho nas temporadas do ja- finda-se na recorrência “Aqueles tempos de bi- decisão, mas não sabem
Pança nas chicotadas, guncismo político ou está das gravações, tão me- que, decididamente, go-
com moinhos de vento na memória enlutada na lancolicamente como vai
juterias fervorosas aca- verno acaba antes do fi-
no ar parado e onde se viuvez e na orfandade do se esvaindo no cancio- baram-se. Agora é tem- nalmente do mandato,
moviam apenas fantas- Estado Novo e do Golpe neiro político o mito no po em que milagres quando o maior aconte-
meira entrando e saindo de 64. O udenismo e o líder que não se renova têm de acontecer antes cimento após as eleições
de um cômodo para ou- pessedismo só se emen- nas ideias. é o Dia de Finados. Sem
tro nos porões das duas dam para rasgar depois, das promessas” chance de ressurreição
mentes. O Fantasma-
Mor bolou o seu funesto.
Descer para o túmulo,
assim como eleitorado
conservador do irismo e
progressista do lulismo
O carisma é desses
mistérios do fado
que energiza os líderes.
Mas tem mais.
Tem o que não se pode
no túmulo político que
abriram para o Vanderlan
Cardoso e vão enterrar
arrastando Marconi com unem-se nas eleições de- Iris Rezende e Marconi fazer no ético do decoro nele Iris Rezende. Alcides
ele e, assim, o Fantasma- salinhados nos votos. Perillo são possuídos pelo cívico. O primeiro-gover- e Braga já estão fantas-
Adjunto iria para a vitri- Aqueles tempos de biju- dom mágico do envolvi- nador que se elegeu com mas assustando os eleito-
ne do poder que, em rea- terias fervorosas acaba- mento emocional aos os votos de outro. O se- res aos portões de suas
lidade, estava em cima ram-se. Agora é tempo que atraem como que gundo-governador que presenças fúnebres elei-
da lápide, e saíram va- em que milagres têm de por uma hipnose mística. não tem voto de nin- toralmente.
gando nas assombrações acontecer antes das pro- Quando navegam nas guém.
do denuncismo fazendo messas. enchentes das multidões, Mas tem outro mais. Mas tem o mas
caveiras da imagem de A não ser que a sagaci- lembram a suavidade de Tem no Palácio das Es- na rima da paz.
Marconi. dade de Iris Rezende es- dois cisnes singrando o meraldas o bi-Gabinete
Coroaram-se de reis, teja rendida à obtusidade calmo dos lagos; e, quan- Governamental a dose de Dá epitáfios
mas com aquelas que, ao de Alcides Rodrigues, o do alçam candidaturas, embriaguez do poder. A
final, se levam para as que era explícito em um evocam o rasante das autoridade oficial que au- dos empáfios.
campas dos extintos. ficou implícito no outro. águias douradas cruzan- toriza. A autoridade ofici-
Usaram todas as mãos Só a simbiose fermenta- do os céus libertos. Já osa que desautoriza. Alcides
do aleijume político na da no insano no idiotado presenciar Alcides Rodri- Mas tem o mais sem rima sozinho
alça do próprio caixão explica esse laboratorio- gues enfrentá-los com as mais nem menos. no Rodrigues,
para arrastar Marconi e zado de porções que se asas de Jorcelino Braga Tem o mais demasiada- no Alcidinho.
acabaram descendo o destoam. O candidato no sobrevoo eleitoral su- mente demais, em dema-
Vanderlan Cardoso para cairá para os subterrâne- gere a tentativa compara- sia, no que é governador Braga
continua
8 GOIÂNIA, TERÇA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2010 OPINIÃO Diário da Manhã
rima
praga,
desagrada,
conflagra.
Há a morte dos mortos
e a morte dos que vagam
vivos nos sonhos mortos
à procura a esmo da se-
pultura que está em si
mesmo. E irão declaman-
do, não esses versos de
Fernando Pessoa:
continua
Diário da Manhã OPINIÃO GOIÂNIA, TERÇA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2010 9
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10 GOIÂNIA, TERÇA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2010 OPINIÃO Diário da Manhã
quiser tornar-se grande que determina e conduz tra a presença de empre- mo. Fomos pernoitar a Universo, a Unidade é a
entre vós seja aquele que os ascéticos nos seus de- sário no Executivo do Es- meio ano-luz no recan- Lei de Deus. Ajuda teus
serve.” sejos e decisões nos des- tado e do País. A política to de Nietzsch, onde foi irmãos a levantar a car-
Ao sairmos, a luz era in- tinos que definem a sua está cheia de comercian- difícil saber se aquelas ga, mas não a carregue.”
tensa. Muitos não conse- busca de realização. E tes e, cada vez mais, os estrelas, em verdade, Ato contínuo, volteou-
guiam olhá-la. E saímos exerce profunda influên- estadistas estão sendo não estavam buscando se para o Alcides e exem-
com essas palavras nos cia na energia psíquica excluídos. luz nele. plificou:
acompanhando: das multidões, o que é Jung abriu a porta, avi- “Com ordem e com
“Se um cego conduz um fator fundamental sou que estava tendo “Ano ruim de chuva e tempo encontra-se o se-
outro cego, ambos aca- para o líder político en- uma conversa com Pla- governador de governo gredo de fazer tudo
barão caindo num bu- volver na magia do ca- tão, pediu desculpas e bem.”
raco.” risma os eleitores. disse que só tinha cinco
ruim são parecidos. E E despediu-se, fazendo
Enquanto descíamos Alcides e Braga mostra- minutos em sua agenda. se os conhece desde o cálculos sobre quanto
na rota para o próximo ram-se curiosos. Princi- Ficou de pé e, empertiga- começo” tempo o homem Paulo
encontro, houve tempo palmente o Jorcelino, que do, filosofou: Coelho gastaria para che-
para meditar no aviso de é marqueteiro e não con- “Tudo depende de co- Ele, o luminar, agasa- gar aonde esteve Sócra-
despedida do Messias. segue popularizar a sua mo olhamos as coisas, e lhou Alcides e Braga em tes no futuro há 469 a.C.,
Paramos no consultório própria imagem. não de como elas são em seus únicos dois bancos, ao descobrir que “A sa-
de Sigmund Freud: – Leram Psicologia Hu- si mesmas... Sua visão se e permaneceu em pé, fa- bedoria é o poder da al-
– Fiquem alertas, Alci- mana, de Carl Gustav tornará clara somente lando tão naturalmente ma sobre o corpo”.
des e Braga. Não dur- Jung? quando você olhar para que, parecia, as palavras Pitágoras ia saindo,
mam no divã do Pai da – Não lemos – respon- dentro do seu coração. pensavam antes de che- olhou para trás e refle-
Psicanálise. deram Braga e Alcides, Quem olha para fora, so- gar à boca: xionou em Platão:
Freud olhou-os como uníssonos. nha. Quem olha para “Homens de natureza “Os males não cessa-
se os dois estivessem dentro, acorda... Tudo vivaz mentem só por um rão para os humanos an-
dentro de ambos em ca- “O complexo de subal- que nos irrita nos leva a instante; logo, em se- tes que a raça dos puros e
da um deles. E disse, ternidade deteriora a au- uma compreensão sobre gundos, eles mentem autênticos filósofos che-
compenetrado: nós mesmos... Nos indi- para si mesmos e ficam gue ao poder, ou antes
“Se dois indivíduos es- toestima dos que se en- víduos, a loucura é algo convencidos e se sentem que os chefes das cida-
tão sempre de acordo reinam no bastão do raro, mas nos grupos po- honestos... É verdade des, por uma única gra-
em tudo, posso assegu- poder imerecido e torna- líticos, nos povos, nas que se mente com a bo- ça, ponham-se a filosofar
rar que um dos dois os irascíveis e vingativos épocas, é regra... Conhe- ca, mas a careta que se verdadeiramente.”
pensa por ambos... O ca- ça todas as teorias, do- faz diz, apesar de tudo, a Não dava para ir embo-
ráter de um homem é aos quais devem favor” mine todas as técnicas, verdade... Não é só a ra- ra daquela constelação
formado pelas pessoas mas ao tocar uma alma zão, mas também a nos- humana. A frequência dos
que escolheu para con- – Nesse livro, Jung humana, seja apenas ou- sa consciência, que se iluminados da ciência e
viver... O Estado proíbe aborda o inconsciente tra alma humana.” submetem ao nosso ins- da filosofia fizera dali um
ao indivíduo a prática de coletivo. Se houvessem Saímos já às primeiras tinto mais forte, ao tira- ponto de encontros de co-
atos infratores, não por- pelo menos folheado Psi- estrelas do lado de fora no que habita em nós.” nhecimento. Entra Thales
que deseja aboli-los, cologia Humana, não te- do dia na noite. Deu a Pitágoras chegou de im- de Mileto. Pedi-lhe que
mas, sim, porque quer riam lançado a candida- impressão de que, con- previsto, foi dando boa- desse um jeitinho de per-
monopolizá-los.” tura de Vanderlan Cardo- templando-as, Alcides e noite, deu uma olhada no manecer desfrutando do
O sábio vizinho é Jung, so para governador de Braga viam a claridade Braga e aconselhou: seu convívio àquela noite.
que fez a descoberta do Goiás. O inconsciente co- que não estivera nelas “A Evolução é a Lei da O sábio perguntou se gos-
inconsciente coletivo letivo do eleitor está con- nos confins de seu ínti- Vida, o Número é a Lei do taríamos de conhecê-los
continua
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da reação colérica. Esta se produ- mento de rebelião ou indignação junto de fatores que o impediram de calor e fortalecimento interno; me de atos reparadores.
ziu, pois, pelo simples fato de não o (aumento da própria estima ou dig- de descarregá-la, e, o que é pior, vasodilatação e enrubescimento faci- Quem duvide desse fato (que pre-
deixar mover-se livremente, quer nidade), experimenta uma geral im- contra si mesmo, por não ter sido al e auricular (é por isso que, quando judica o conceito estabelecido de
dizer, de interferir em seu ritmo vi- pressão de calor e de força animado- capaz de satisfazer seus impulsos alguém nos diz algo desagradável, se equanimidade, que deve servir de
tal espontâneo. ra. O sangue se lhe "acende e ferve destruidores. costuma dizer que nos "deixou as essência definidora dos atos real-
É preciso, no entanto, que essa li- nas veias" (recordem-se os famosos A possível oposição das atitudes orelhas vermelhas"). mente justos) pode perguntar a si
mitação de movimentos, quer dizer, versos de Rafael Alberti, descrevendo medrosa e colérica nem sempre se próprio se todo o imenso dispositivo
essa interferência ou vulneração, a ira hispânica ante o absurdo ata- manifesta, explicitamente, do mes- da Justiça Estatal ou Oficial funcio-
não seja excessivamente intensa que do nazifascismo: "Madrid, co- mo modo como se produz no âni-
“Com extraordinária fre- na equitativamente para premiar e
nem brusca, porque, em tal caso, o razón de Espana, late con pulsos de mo. Assim, por exemplo: podemos quência, um sentimento castigar, ou somente para o último.
que surge, em toda sua potência e fiebre. Si antes la sangre le hervia, imaginar a situação de um encarre- Evidentemente, terá que responder
sem disfarces, é o espanto, isto é, o hoy con más fuerza le hierve"). Todo gado de oficina que, ao ver-se sur- colérico se disfarça em que nossa Justiça é fundamental-
medo primitivo: o recém-nascido fi- o centro da sua existência parece preendido pelo diretor numa falta mente penal: sempre que alguém
ca imobilizado e inibido, como se deslocar-se para a periferia corporal: do serviço, descontrola-se e enfure- atitude justiceira, e as- recorre a ela, é contra outra pessoa
estivesse morto. sente-se "sair do eixo". Esta impres- ce-se, acusando injustamente um ou alguma cousa; sempre que dita
A partir dessa reação colérica ini- são de desbordamento na Ira é tal, subalterno, ali presente; este se tor-
sim os excessos da vin- alguma sentença, há algum prejuí-
cial, com que todos nós responde- que o sujeito pode sentir-se "fora de na pálido à medida que o outro se gança tomam o nome zo... justificado, sim, mas nem por
mos à limitação de nossa zona de si", ou seja, projetado sobre o objeto avermelha e gesticula. Poder-se-ia isso menos prejuízo.
movimentos, a área e a variedade de sua ira, em um impulso de absor- deduzir que a excitação do encarre- de atos reparadores” Não é assim a Justiça Divina, se-
dessas reações se ampliam. Desde ção destrutiva, de tipo canibalesco; gado é causada pela Ira e a inibição gundo a qual recebemos alternati-
então, tudo quanto moleste, doa ou por isso, não é raro ver que a expres- do subalterno pelo Medo? Não, pos- vamente prêmios ou castigos, con-
perturbe o bem-estar fisiológico, des- são facial típica da Ira corresponde, to que a realidade é inteiramente O quarto grau de intensidade já forme nossos méritos, se bem que de-
pertará no aprendiz lactante verda- estaticamente, a uma contração dos outra: no íntimo do primeiro, está nos mostra a Ira desenfreada: inici- vamos confessar que os lugares de
deiros “faniquitos” ou “zangas”, du- músculos masseteres (que movem o em franca ascensão, o Medo, en- ada nossa ofensiva (que nós consi- sofrimento são dois; o do tédio é um,
rante os quais, de quando em quan- maxilar inferior), e a expressão di- quanto que no do segundo o está a deramos unicamente como "contra- e apenas um outro se reserva nela
do, surgem as reações de inibição nâmica corresponde ao chamado cólera; mas um desejo desesperado ofensiva"), não nos detemos no justo para o bem-estar das almas imor-
que o deixam “sem fôlego”, como di- "ranger de dentes", em antecipação de desculpar-se, no primeiro, e um limite senão depois de descarregar- tais, surgindo de tudo isso duas hi-
zem as amas. da mastigação do objeto odiado. temor de perder o emprego, no se- mos uma reação mais violenta e no- póteses: ou que o Senhor fez o ho-
A vasodilatação periférica, a difu- gundo, modificam o aspecto exteri- civa que o motivo do aborrecimen- mem mais mau do que bom, ou que
são do potencial nêurico até as zonas or de suas atitudes. Além disso, em- to. Estamos, de fato, zangados, enfa- sua administração de Justiça é tam-
efectoras ou motoras dos arcos refle- “A chispa da Ira é a bora sendo opostas, essas atitudes dados ou irritados; começamos a bém um tanto pejorativa.
xos, é acompanhada igualmente de têm em comum o fato de serem perder o controle de nossas palavras Mas se deixamos tais discussões,
um aumento geral das secreções la- consciência ou a mistas e terem igual motivação: a e a medida de nossos atos; necessita- um tanto transcendentes e perigo-
crimal, salivar, sudoral e também re- tendência a ficar bem ante o dire- mos dar golpes, e, quando não os sas, para nos restringirmos ao
nal, assim como das increções (secre- ameaça do fracasso” tor. Aqui, pois, mais que em outros podemos dirigir contra o objeto da campo da realidade terrena, pode-
ções internas) supra-renal, tireoidea campos da psicologia, cabe recor- Ira, derivamo-los para lugares neu- mos perguntar-nos se, efetivamen-
e hipofisária. Há fenômenos gerais Quanto à vivência colérica, pro- dar o prudente conselho de "não se tros ou os desfechamos no ar, em te, quem se sente dominado pela
de hipertensão arterial e de acelera- priamente dita, produz-se quando fiar em aparências"; repressão não gestos violentos. Ira reage contra ela, ou se identifi-
ção do metabolismo. O indivíduo a Ira é contida por afastamento é supressão e ficção não é, tam- No quinto nível de ação, a Ira ca com seu impulso até o ponto de
que vai "estourar" ou "explodir" tem material do objeto: imaginemos o pouco, realidade. toma o nome de Raiva e já se apo- encontrá-lo, a maior parte das ve-
necessidade de liberar esse excesso caso de um pedestre que é enlame- derou por completo da direção da zes, não só normal como até elogi-
energético em gritos, imprecações, ado por um automóvel, o qual Os diversos graus de intensidade conduta individual. Corresponde à ável. As pessoas se envergonham
movimentos ou gestos. É, pois, um lança sobre sua roupa a água de da Ira: impulsão versus paixão co- fase do pânico, na escala de inten- de sentir medo e, sobretudo, de ex-
transbordamento tumultuoso da uma poça e se afasta velozmente, lérica – Depois de diferençar as três sidade do Medo. Do mesmo modo teriorizá-lo: reconhecem que é um
corrente vital, um tanto interrompi- entre gargalhadas de seus ocupan- modalidades mais típicas de mani- que, sob os efeitos do pânico, o in- mau companheiro, contra o qual é
da em seu curso; algo semelhante ao tes. Sendo insuficiente e inoperan- festação do Gigante Rubro, vejamos divíduo "não sabe o que faz", as- preciso lutar para merecer a apro-
arroio que, detido por um tronco de te a descarga verbal e gesticulante agora quais são seus diversos níveis sim também, sob os efeitos da rai- vação social. Mas acaso se enver-
árvore, o transpõe e salta em cascata da Ira (pois as palavras não são de ação, quer dizer, os limites da es- va, é apenas espectador de seus gonham igualmente de sua ira ou
diminuta. Quanto mais tenha dura- ouvidas e os gestos não são vistos), cala de força com que nos pode fazer próprios atos, que são impulsiona- de exteriorizá-la? Reconhecem
do a compressão do eu, quer dizer, esse homem entra em estado colé- sentir sua presença. De um modo ge- dos por forças surgidas inopinada- também que é uma péssima conse-
quanto maior tenha sido a vulnera- rico. Esta é a denominação que se ral, já vimos que a Ira propende a mente de seu interior e que o po- lheira, a quem é preciso extermi-
ção ofensiva, tanto maior tempo terá dá à Ira em processo de interiori- manifestar-se pela ação ofensivo- dem levar até o assassinato. nar, para serem, precisamente,
sido detida a reação colérica e tanto zação visceral; o estado de contra- destrutiva, que leva à anulação do justos? Não é esse o caso, posto que
mais poderá durar sua manifesta- ção ou hipertonia passa então dos objeto que a excita; tem, pois, basi- a matreira se infiltra no próprio
ção. Tal é o que acontece ao lactante, músculos estriados aos de fibra li- camente, um caráter impulsional. “Do mesmo modo que, centro de nossos pensamentos e os
a quem se faz esperar demasiado pa- sa; a vesícula biliar se mobiliza e Mas também já assinalamos que os engana com a isca da reivindica-
ra satisfazer uma necessidade impe- produz uma descarga biliar, que poderosos tentáculos do Medo se en- sob os efeitos do pâni- ção, de tal modo que, só excepcio-
riosa (de limpeza, sono, alimento, pode dar à pele um tom levemente trecruzam amiúde com suas garras e nalmente, reconhecemos que nos
etc.): quando surge finalmente seu ictérico (amarelo-esverdeado), se- as paralisam antes que possam cra-
co, o indivíduo ‘não sa- achamos sob seu domínio.
protesto, quase sempre ultrapassa a melhante ao dos enfermos de cóle- var-se nas carnes da vítima. Então, a be o que faz’, assim Frequentemente confessamos es-
satisfação imediata, ou seja, não se ra. Quem sente esta vivência expe- Ira é forçosamente imobilizada e co- tar irritados, enfadados ou enfure-
extingue com a reparação do dano. rimenta um profundo mal-estar e meça um processo de interiorização também, sob os efeitos cidos, mas imediatamente esclare-
desassossego, quer dizer, um des- regressiva, dirigindo seu poder letal cemos que esse estado e as reações
Evolução do Gigante Rubro: fa- gosto: opressão torácica, peso no ao próprio sujeito que a alberga. da raiva, é apenas es- que dele resultam são naturais e se
ses, graus e variantes da Ira – Estu- epigastro, necessidade de "fazer al- Pois bem, nessa mudança o autor justificam por tal ou qual ofensa,
dados já, ainda que superficialmen- go, sem saber exatamente o que"; a passa a ser ator e, logo após, dorido
pectador de seus pró- por esse ou aquele insulto ou viola-
te, os ingredientes da Ira e suas pri- respiração e a circulação se acele- espectador de seus efeitos, transfor- prios atos” ção do que julgávamos dever ser o
meiras manifestações na vida hu- ram, há uma leve ansiedade e com mando-se com frequência em um curso dos acontecimentos. Em tais
mana, cumpre-nos agora seguir seu facilidade surge o "sobressalto", enfermo crônico, no qual a paixão condições, nossa conduta tende a
desenvolvimento através da evolu- quer dizer, põem-se em marcha os colérica cria úlceras e espasmos, Ainda outra ascensão na orgia "resolver" a situação, "desfazer o
ção individual, para surpreender deflexos defensivo-ofensivos desne- mal-estar e desesperações capazes de iracunda, e surgirá o estado de Fú- agravo", "revidar a ofensa", "reivin-
seus diversos disfarces e, o que é mais cessários e inadequados. Passado culminar na morte (pois é possível ria, durante o qual o sujeito não dicar nosso direito".
importante, suas diversas fórmulas algum tempo, esse cortejo sinto- morrer-se de raiva infecciosa e tam- só perde o controle de seus atos, E é assim que o impulso agressi-
de apresentação e descarga. mático exteriorizado se apaga; o bém de raiva psíquica) ou no suicí- mas inclusive a consciência ou vo-destruidor toma como pretexto
A Ira vermelha, a Cólera verde e indivíduo dorme pouco e se levan- dio (no qual o sujeito assassina al- percepção dos mesmos: é apenas qualquer alteração aparente da
o pálido Rancor – Antes de passar à ta sem apetite; com olheiras e tal- guém dentro dele). um autômato, uma espécie de conduta alheia para satisfazer-se,
descrição destas variantes básicas de vez com dor de cabeça; está rumi- No decorrer de todas essas muta- projétil humano, capaz de qual- enganando-nos ao mesmo tempo e
nosso rubro inimigo, é preciso insis- nando seu desgosto ou, mais exa- ções, produzem-se também varia- quer dislate, atacando não só os fazendo-nos crer que estamos ser-
tir no fato de que, sendo diretamente tamente, o está "armazenando". E ções de intensidade que permitem possíveis objetos determinantes de vindo a um dos mais excelsos valo-
provenientes do Medo, têm sempre de tudo isso resta uma cólera sur- ser classificadas em vários graus, sua ira, como a objetos neutros e a res humanos.
algo dele em suas entranhas. Quan- da, profunda, em conserva, que é como fizemos com os que servem si próprio. Tal é o caso do indiví- Em nome da "Justiça" revolucio-
do esse enxerto é mínimo, a Ira se facilmente convertida em ódio, à para dosar os efeitos e a ação do Gi- duo que sai para a rua dando tiros nária, Robespierre descarregou seus
nos apresenta em sua mais pura e medida que o sujeito se convence gante Negro. a torto e a direito, ferindo ou ma- instintos tônicos sobre centenas de
intensa manifestação: em forma de da impotência definitiva em que se A forma mais leve de apresenta- tando, e termina suicidando-se; vítimas inocentes. Em nome da
raiva ou fúria. Quando é máximo, encontra ante seus ofensores. A se- ção da Ira consiste em um suave tudo isso durou apenas uns minu- "Justiça" Divina, o inquisidor Tor-
interioriza-se e o Ser adquire a mor- guir veremos, mais pormenoriza- sentimento de exaltação ou "facili- tos. Naturalmente, por felicidade, quemada cometeu os mais horripi-
tal palidez do Rancor. Como forma damente, qual o ingrediente que dade de ação", que, por assim dizer, raras vezes se atinge esse nível trá- lantes assassinatos. Em nome da
intermediária, achamos a Cólera bi- falta para que a absorção colérica nos prepara para a consecução de gico, como raras vezes consegue o "Justiça" geopolítica, Adolf Hitler
liosa, na qual tanto valem o desgosto se transforme, realmente, no cha- nossos objetivos imediatos. Então, Medo levar-nos até o estado do lançou milhões de homens a uma
como o medo rancoroso. mado "rancor". enfrentamos a situação, como se terror. Mas qualquer pessoa – tu, morte tão horrível quanto estéril...
Um problema difícil e de urgente costuma dizer, decididamente. E do pacifico leitor, ou teus seres mais Em nome da "Moral" – quando não
solução é o de saber se essas estra- mesmo modo que a fase de prudên- queridos, eu ou os meus – é capaz se pode invocar a deusa das balan-
nhas mesclas ou blendings de Ira e “O curioso é que, então, cia, no Medo, é elogiada por quem de chegar a esse grau da Ira, se se ças-se desenrolam também, diaria-
de Medo são determinadas por pe- não percebe sua procedência, assim dão, durante um tempo suficiente, mente, atos nocivos, destruição de
culiares interferências hormônicas e não nos apercebemos também, esta fase de firmeza, na as circunstâncias favoráveis para conceitos e prestígios alheios, que
nervosas, ou se derivam de um rudi- Ira, é elogiada por quantos não deixar-se invadir totalmente por são mais penosos ainda que os pró-
mentar juízo avaliador das possibi- de que somos ofenso- compreendem que representa o pri- ela. E por isso que, em todos, os có- prios atos de sangue, pois estes se
lidades de êxito de cada uma das res, mas nos damos meiro degrau da escala que nos po- digos, se admite como atenuante curam com repouso, curativos e an-
antitéticas atitudes de fuga ou ata- de levar a condutas agressivas in- (ou inclusive como isenção) a "ob- tissépticos, em alguns dias ou sema-
que, com as quais procura superar a conta apenas de haver- controláveis. cecação" e o "arrebatamento" de- nas, enquanto aqueles podem con-
situação. Não há dúvida que a ati- A segunda fase, surgida dos pri- sencadeados pela Ira. verter a vida inteira de famílias ino-
tude de ataque é mais comum na mos sido ofendidos” meiros obstáculos que se acham no As formas de camuflagem do centes em um verdadeiro inferno,
pessoa adulta; esta costuma zangar- caminho da ação, é a fase de protes- Gigante Rubro – Nossa civilização, sem possibilidade de terapêutica.
se com quem pode, isto é, com seu Resta-nos agora descrever a cha- to interior, que marca, por sua vez, o teoricamente, é hostil à Ira, ainda O caso mais típico desta origem
igual ou inferior em potência. Mas o mada "cólera branca", a cólera to- impacto, no Eu, das resistências con- quando, implicitamente, a elogie iracunda do impulso reivindicató-
que é preciso saber é se o mesmo talmente interiorizada, na qual os flitivas, e o princípio de sua reafir- em determinadas circunstâncias. rio, temo-lo nos frequentes exem-
ocorre, de um modo mais ou menos fenômenos de congestão e trans- mação dominante. Habitualmente, Por isso, as pessoas "educadas" plos, que a Psiquiatria tem trazido,
inconsciente, em todos os casos, isto bordamento da Ira são substituídos expressamos esse nível de intensida- procuram reprimir suas manifes- da chamada "psicose litigante ou
é, se o aparecimento da Ira surge pelos fenômenos opostos, de pali- de colérica, dizendo que "nos senti- tações diretas, e, com isso, dão pleitista", na qual, a pretexto de
mecânica e inelutavelmente deter- dez e hermetismo, do rancor. Ocor- mos ofendidos"; outras vezes, quan- margem a que se manifestem suas cumprir a suposta vontade de um
minado pela passagem das células re aqui algo semelhante ao que se do se trata de condutas sociais, senti- manhas, adotando diversos disfar- morto, de defender um suposto pa-
nervosas, de um estado de inibição passa nas infecções cutâneas (espi- mo-nos "estranhos" ou "surpreendi- ces que é preciso conhecer, para trimônio ou de recuperar um supos-
(medrosa) para um estado de excita- nhas e abscessos), quando depois dos" por não encontrar o eco, a aju- bem de todos. Sem dúvida, alguns to e inoperante direito, se descarrega
ção (cólera) ou se é condição indis- de uns dias de dor, calor, rubor e da ou a compreensão esperada. Os deles são já suficientemente conhe- sistematicamente uma atividade
pensável a essa passagem a "intelec- inchação, o pus, em vez de abrir ingleses possuem uma palavra mui- cidos, enquanto outros não, tor- agressiva e maledicente, não só sobre
ção" de alguma possibilidade de êxi- caminho para o exterior através da to significativa para designar esse nando-se por isso os mais perigo- o objeto inicialmente odiado, como
to pessoal no domínio do obstáculo. pele, começa a ser reabsorvido pelo momento: "shocking" (chocante). sos. Vejamos, em primeiro lugar, o sobre tudo quanto com ele haja tido
Na dúvida, cabe supor que am- sangue e dá lugar à chamada "sep- Um grau acima, e esse protesto in- disfarce preferido e o mais usado relação e não se submeta ao domí-
bas as hipóteses são possíveis, ou se- ticemia", isto é, uma forma de in- terno adquirirá o aspecto de uma re- por este versátil inimigo. nio do litigante. Este se dirige pri-
ja, que existem fatores locais (orgâ- fecção generalizada e mais difícil belião pessoal e constituirá o primei- meiro ao Tribunal, depois à Supre-
nicos, fisiológicos) e fatores pessoais de tratar. Assim também, o rancor ro passo para a conduta ofensiva, O chamado "impulso reivindi- ma Corte, finalmente ao Presidente
(psicológicos) determinantes da é, sem dúvida, a pior modalidade que é característica da Ira. O curioso cativo" (sede de Justiça) – Deus da Nação, depois ao povo inteiro,
proporção de medo e de ira atuan- de que se pode revestir a ação do é que, então, não nos apercebemos de nos livre de pretender afirmar que através da imprensa e do rádio; fi-
tes em cada momento de emergên- Gigante Rubro, pois o empalidecer que somos ofensores, mas nos damos toda noção de Justiça se acha nalmente estende sua cólera a círcu-
cia emocional ante obstáculos ou não diminui seus efeitos nocivos, conta apenas de havermos sido ofen- mesclada de um sentimento ira- los cada vez maiores de pessoas
situações vulnerantes ou nocivas mas os destila e purifica, dando- didos (se se trata de obstáculos hu- cundo; mas, em compensação, alheias à situação desencadeante de
para o indivíduo. lhes um caráter ou tonalidade manos) ou dificultados (se se trata podemos asseverar que, com ex- sua ira. E termina "lutando só con-
Que sente ou recorda – fenomeni- muito mais letal, de vez que, nessas de obstáculos não humanos). Quan- traordinária frequência, um sen- tra o mundo", ao qual cobre de injú-
camente falando – a pessoa que en- condições, o sujeito não só sente có- do a Ira atinge este nível de intensi- timento colérico se disfarça em rias e imprecações; mas tudo isso faz
tra na órbita de ação da Ira? Coeta- lera contra o primitivo objeto de dade, produz já suas manifestações atitude justiceira, e assim os ex- o litigante, sem confessar-se que está
neamente com um indefinível senti- sua ira, como contra todo o con- congestionantes típicas: impressão cessos da vingança tomam o no- atuando sob o impulso de uma tre-
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mos quando, de algum modo, nos or dano; c) temor da sanção moral cos", "étnicos", "profissionais" e "fa- batalha contra os que comprome- za apenas porque outro ser, a
sentimos identificados com alguém ou social, no caso de satisfazer dire- miliares", sem que com isso se pre- tem o poder temporal, do (Papa) re- quem considera inferior, queira
que triunfa sobre algo, que desta tamente o impulso agressivo; d) re- tenda esgotar a lista de suas princi- presentante terreno de sua divina es- igualar-se a ele, e sim porque po-
forma fica em situação inferior em conhecimento implícito de que não pais formas. sência. Mais ainda: Torquemada de consegui-lo. Está disposto a
relação a nós. Por isso, o humorista há "razão suficiente" para justificar julgava merecer tanto mais essa gló- conceder, magnanimamente, be-
arremete contra tudo o que é "sé- a cólera sentida. Os ódios religiosos – Curioso pa- ria, quanto mais imolava, na fo- nefícios aos "pobres" negros, mas
rio", contra tudo quanto representa radoxo este, que as religiões – cuja gueira, velhas delirantes ou donzelas sente-se enfurecido se estes os to-
algo respeitável ou temível, ridicu- principal finalidade é a de unir (li- atraentes e desejadas. "O castigo da mam sem o seu consentimento.
larizando-o até provocar nosso riso “Analisando a ironia, vê- gar) e reunir (religar) os homens, te- carne" equivale, é claro, à agressão Dai, à proporção que os negros
como sinal de libertação e domínio nham sido, em todos os tempos, mo- física destrutiva, e desta forma se deixaram de ser escravos e foram
(agressivo). Quanto maior é a re- se que ela contém um tivo exacerbador de seus ódios! Cada santifica o ódio, dando-lhe uma interferindo na zona de ação re-
pressão de um sentimento (e por- uma delas se proclama a "única ver- aparência de submissão a um ideal servada a seus antigos amos, estes
tanto maior Ira se acumula em fundo sádico e perver- dadeira", considera aos que não co- transcendente. terem ido acumulando ódio, tan-
nosso íntimo), tanto mais fácil é so, que a torna ainda mungam em seu credo (infiéis) co- to mais exacerbado quanto, racio-
"fazer uma piada" no qual aquele mo inimigos e sobre eles descarrega nal e eticamente, menos justifica-
se acha envolvido. Isto foi perfeita- mais desagradável que não só anátemas, como, quando po- “Enquanto o verdadeiro da é a agressão direta.
mente demonstrado por S. Freud de, torturas, balas Ou bombas. E as- Por que o negro odeia o branco?
(em seu livro: O Chiste e sua Rela- a agressão direta, medi- sim que as maiores matanças coleti-
orgulhoso – autossatis- Não tanto pelo fato de havê-lo escra-
ção com o Inconsciente), mas não vas têm sido feitas na História da feito – procura dissimu- vizado durante séculos, como por es-
se precisa das técnicas psicanalíti- ante o insulto ou a Humanidade, invocando a defesa tar convencido de que, íntima e po-
cas para compreender que o humo- crítica franca” (?) dos diversos credos religiosos. lar esse defeito, o so- tencialmente, é, pelo menos, igual a
rista é, no fundo, um iracundo fra- Basta uma lógica elementar para seu atual opressor. Enquanto o ne-
cassado, que não se resigna a selo, e compreender que, se Cristo, Jeová, berbo o cospe sobre gro se considerou realmente inferior
que sobre o fundo de seu medroso A cólera em conserva – Qualquer Buda ou Maomé não existissem, se a seu conquistador, temeu-o, admi-
ceticismo constrói uma aparente- que seja o freio atuante, o certo e po- tornaria menos absurdo matar-se
quem o contempla” rou-o e até o adorou; quando se con-
mente risonha estrutura de epigra- sitivo é que quem odeia sente, de cer- por eles, do que se realmente exis- siderou seu semelhante, começou a
mas, mais ou menos ferinos, de co- to modo, paralisada sua atuação, tem, pois, neste segundo caso, são, Assim vemos converter-se a Cruz odiá-lo, porque ao medo primitiva-
mentários jocosos, com o propósito ou, pelo menos, impedida no senti- por definição, todo-poderosos e não em Espada e pender do cinto dos mente sentido se associou agora a
de provocar elogios, dizendo em do agressivo, pela presença de algo necessitam o sacrifício da vida hu- Papas-Reis, simbolizando a mais cólera que preparara sua rebelião.
forma de troça o que os demais (e que detém e perturba a livre descar- mana, que eles mesmos criaram. A perfeita contradictio in adjectio que Precisamente por esta razão, o
ele mesmo) não se atrevem a afir- ga de sua ira e dá lugar a que esta se luta religiosa é, sem dúvida, tão ab- jamais existiu. A racionalização des- mestiço (mulato) sente ainda mais
mar a sério. concentre em seu íntimo e se "croni- surda como a blasfêmia. Por que, se fato consiste em tornar sinônimos ódio ao branco que seu negro proge-
O humorista não "se mete" com o fique", conforme o afirmamos ante- pois, a exaltam os que se adjudicam o amor ao Bem (Deus) e o ódio ao nitor. A quantidade de ira armaze-
que estima, mas sim com o que riormente. Efeito desta tensão e con- o título de representantes de seus res- Mal (Demônio). Mas, ainda abstra- nada nele duplica-se, por ser dupla-
odeia. Não faz graça pelo que traz flito (entre duas forças equipotentes, pectivos credos? Em todo caso, a indo que este Mal foi engendrado mente "semelhante" e não chegar a
em si de amor, e sim de ira e, no fun- uma excitante e outra inibidora) é (mica luta que poderia ser até certo por aquele Bem (Lusbel foi anjo an- ser idêntico a nenhum dos dois polos
do, de impotência. Por isso, se bem um "aquecimento" progressivo do ponto justificada, sob o aspecto lógi- tes de ser diabo), é evidente que a dos quais emerge e aos quais jamais
que às vezes não o perceba, é uma odiento, que sofre cada vez mais as co, seria a da totalidade dos crentes verdadeira doutrina cristã deve re- poderá retornar. Síntese falhada,
vítima indireta do próprio humoris- conseqüências do seu ódio; este se (de todas as religiões) contra a totali- tribuir o mal com o bem ("Paga o quer dizer, catátese permanente, so-
mo, já que, roído pela Ira, mais de condensa e concentra, comunican- dade dos ateus, infiéis ou céticos. mal com o bem", pregou Jesus Cris- fre em seu próprio íntimo a falta de
uma vez "ri de si mesmo", quer dizer, do-lhe uma rigidez e um aspecto in- Mas nunca se viu tal agrupamento; to), e, portanto, não se justifica de pureza, harmonia e individualidade
despreza-se. confundível quando se acha no as lutas mais terríveis têm-se dado modo algum que se junte em um genotípica. Mas esse sofrimento não
Coisa bem diferente é o verdadei- campo de ação ou em presença de entre as diversas crenças e, inclusive, mesmo objeto um símbolo de amor é estéril, pois, em várias gerações, na
ro "bom humor", isto é, uma atitude seu "objeto", dando-se então o curio- entre os matizes ou derivados de um sublime e um fio de ódio mortal. imensa retorta americana, dará um
otimista e benévola, que leva a so paradoxo de que quanto mais mesmo credo (recorde-se, por exem- Não obstante, a História nos ensi- homem novo, que terá incorporadas
quem a sustenta a ver "o lado alegre" afirma que "não o pode ver", mais o plo, o advento da Reforma luterana na que, tão próximas como o cabo e sementes não só branco-negras co-
das coisas e dos acontecimentos, cri- enfrenta e detesta. na Europa). a ponta da espada, têm estado, sem- mo índias e amarelas: um homem
ando e espargindo em derredor um Desta sorte, o odiento e o odiado A explicação deste paradoxo en- pre, as prédicas e as lutas religiosas. cósmico, que resolverá definitiva-
riso franco, generoso e eufórico. Este ficam presos por uma invisível ca- contra-se na já citada "lei do ódio" A frase "A Deus rogando e com a cla- mente este problema, hoje angusti-
"bom humor" é naturalmente mais deia, seguindo-se como o corpo e a (dado um motivo qualquer de ódio, va dando" ("Pray God and pass the ante, do ódio inter e intra-racial.
próximo tributário da efusão simpá- sombra, mas sem nunca chegar a este aumenta na razão direta da se- ammunition") tem sido exemplifi- Naturalmente, além dos ódios
tica (amorosa) que do encoberto sar- pisar-se. Nada há que prenda tanto melhança ou proximidade essencial cada pelos que mais obrigados esta- baseados em desníveis relativos da
casmo do "engraçado" profissional, como o ódio, e precisamente por isso entre os dois termos protagonistas vam a combatê-la. autoestima coletiva, há outros nos
sempre ressentido, qual o antigo pode-se afirmar, sem medo de errar, do mesmo). Mas isso nos convence, Mas, considerando bem, não há quais o motivo aparente se baseia
"bobo" da corte. que "do ódio nasce o amor, como o mais uma vez, de que a razão (lógi- por que estranhar que o ódio se haja em circunstâncias históricas ou, in-
amor pode transformar-se em ca) nada tem a ver com a origem infiltrado em todas as atitudes reli- clusive, em falsos prejuízos de tipo
A soberba – Não há dúvida que é, ódio". É que, no fundo, o odiento dá dos ódios e menos ainda com seu giosas: não há uma única religião, psicológico. Assim sucede que, den-
também, prima irmã, pelo menos, certo valor ao que odeia, pois, do apaziguamento. Assim, quando. se entre as várias centenas que existem, tro de uma mesma unidade nacio-
do Gigante Rubro. Há quem a con- contrário, não seria possível ter-lhe procura demonstrar a uma criatura com tradição, desprovida de um ou nal (política), surgem atitudes hostis
funda com o "orgulho", porém, na ódio. O ódio só nasce em nós quan- cheia de ódio – com provas eviden- vários crimes em sua origem. E mais: entre grupos regional ou geografica-
realidade, distingue-se dele. E, quase do a Ira não é totalmente descarre- tes – que não tem motivos justifica- todo o conjunto de normas "expiató- mente vizinhos, mas que se creem
se pode dizer, sua "bastarda imita- gada ou satisfeita: e já vimos que a dos para alimentar essa atitude, se rias" que se impõem aos fiéis, é para oriundos de fontes diferentes e, so-
ção exibicionista". De fato, enquanto Ira, por sua vez, só desperta quando consegue apenas que ela a interiori- liquidar o sentimento de culpa do bretudo, orientados para diferentes
o verdadeiro orgulhoso – autossatis- encontramos um obstáculo capaz ze e dissimule, mas não que a evite. chamado "parricídio primitivo", o roteiros ideais. É aí que o Gigante
feito – procura dissimular esse defei- de malograr (ou ameaçar de fracas- Os piores ódios são, precisamente, assassinato ancestral, que com tanto Rubro se serve de qualquer pretexto
to, o soberbo o cospe sobre quem o so) nossa habitual adaptação situa- os "inconfessáveis". Daí as lutas reli- vigor descreve S. Freud em sua obra para nutrir-se, e, quando não pode
contempla: em sua voz grave, em cional. E por isso que o ódio a um giosas se terem desenrolado, geral- Totem e Tabu. escancarar suas fauces diretamente,
seus gestos e ademanes altaneiros, semelhante aumenta precisamente mente, não tanto no terreno da dis- acumula sua raiva rangendo os
em seu porte um tanto provocativo e à medida que este é mais semelhan- cussão teórica (crítica dos credos ou dentes e purificando-a na vesícula
em sua atitude depreciativa, mani- te a nós, isto é, que seus atos sejam dos testemunhos relativos à veraci- “O ódio é a cólera biliar. Tais ódios intranacionais são
festa-se esta constante agressão pré- mais equipotentes ou equivalentes dade das "revelações" e à existência os que se liberam nas chamadas
via ao ambiente. Quando se rende aos nossos. De fato, se fosse muito de seus autores), mas no terreno da em conserva” "guerras civis", que são, exatamente,
homenagem ao soberbo, não nos inferior, não nos poderia molestar, conduta dos fiéis e de suas atitudes as mais incivis (recorde-se, por
agradece a submissão, como faz o se fosse muito superior, ao contrá- ante os problemas humanos. E isso O ódio religioso é tanto mais in- exemplo, a Guerra de Secessão dos
vaidoso, pois aquele está seguro de rio, nos esmagaria. No primeiro ca- se explica porque, neste caso, o que tenso quanto menos livre ou explí- Estados Unidos).
seu valor e de seu poder, enquanto so, qualquer antipatia nos levaria a se odeia não é o falso Deus ou a fal- cito se encontra o potencial agressi-
este, em seu íntimo, sabe que é capaz descarregar livremente a ira sobre sa doutrina, mas o "semelhante" vo que o alimenta. E este é o caso Os ódios políticos – A hostilidade
apenas de representá-lo: ele e afastá-lo de nosso âmbito; no que não compartilha do mesmo cre- mais comum entre a maioria dos entre os chamados "conservadores"
Ora, não é difícil ver que a sober- segundo, o temor e a convicção de do e, portanto, se obstina em ser se- que seguem a via da "renúncia" em e os "liberais", entre "reacionários" e
ba representa o último grau ou fase sua superioridade absoluta nos de- melhante mas não "idêntico". Com vez da do "imperialismo" religioso: "progressistas" ou entre "direitistas"
do processo de "autogratificação" teriam o ódio e o transformariam isso, impede-se a livre prossecução enquanto isso, o missionário, lan- e "esquerdistas" tem existido secu-
que sempre – sempre – se exacerba e em temor admirativo. Daí, por da chamada "paz" religiosa. E jus- çado à conquista de novas ovelhas larmente e teve sangrentas manifes-
destaca como reação secundária a exemplo, o fato de que, a Deus, se tamente a perturba tanto mais para o Senhor, discute e combate, tações coletivas nas principais revo-
uma decepção ou frustração pessoal. pode temer ou amar, mas não é pos- quanto mais "semelhante". E assim viaja e trabalha, mas não odeia. luções e contra-revoluções políticas
Se o soberbo "fala forte" é porque al- sível odiá-lo. E muito menos odiar a que, por exemplo, entre população Em compensação, a aparentemen- da História. Mas, desde o advento
guma vez ficou mudo; e é a cólera uma formiga. Assim pode-se dizer de países que se dizem civilizados, se te humilde e passiva monja de de Carl Marx e o aparecimento de
acumulada naquela ocasião que que muitas vezes usamos os nossos dão com freqüência pendências e clausura, que consome sua existên- sua concepção materialista da His-
agora recheia e incha seus músculos, semelhantes para odiar e censurar lutas sangrentas, por ocasião de fes- cia em constante mortificação, al- tória, todo o cenário das lutas políti-
enrijece seu queixo e ergue sua cabe- neles as nossas fraquezas. tas religiosas, entre moços filiados à berga, em seus planos subconscien- cas se deslocou, e o agrupamento
ça, tornando-o ridículo, às vezes, pe- mesma "fé" mas que comparecem à tes, tremendo potencial de ódio. E a dos bandos foi paulatinamente se
lo excesso de amplitude majestática procissão levando diferentes ima- prova é a frequência com que nela fazendo em função de um conceito
de seus gestos. A soberba é, pois, uma “O humorista não ‘se gens sacras (!). se observa o delírio de perseguição de "classes", observando-se uma
espécie de "espartilho" psíquico; Por outro lado, se o fundamento (que, de acordo com o próprio Pier- tendência à concentração progressi-
dentro dele, na realidade, debate-se mete’ com o que esti- principal das crenças religiosas se re Janet, não é senão um delírio de va dos numerosos matizes políticos,
uma alma insatisfeita, que, à força acha no medo da morte e do sofri- ódio. V. a obra do dito autor, que haviam aparecido depois da re-
de enganar-se, chegou a julgar-se ma, mas sim com o mento (que cria as noções de "imor- L'Amour et la Haine, Ed. Maloine, volução burguesa de 1789. Assim es-
valiosa, mas que se sente vulnerável que odeia” talidade" e de "salvação"), não é me- Paris, 1932, pág. 231: "Le délíre de tavam as coisas, quando a recente
e rodeada de "invejosos", que so- nos certo que uma maioria de credos persécution n'est autre chose guerra mundial veio complicar a si-
mente existem em sua imaginação. religiosos tem imposto a seus fiéis qu'un delire de haine"). tuação política por haver surgido
Foi Alfredo Adler quem melhor res- É pois, lei do ódio a da semelhan- "abstenções" (sexuais, etc.) para me- Os ódios raciais – Até que ponto no palanque, com singular força,
saltou que este processo de super- ça – mais ou menos grande – entre o recer seus céus, e isso os tem colocado pode chegar o ódio, não já inter-ra- uma nova ideologia: a fascista, ba-
compensação do fracasso (o chama- odiento e o odiado. Isso supõe que os em um estado de tensão que os torna cial como intra-racial, na espécie seada na união de um nacionalis-
do "protesto viril") pode chegar, não rivais são, de certo modo, coinciden- agressivos – porque, como disse Plo- humana, nos acaba de mostrar o mo imperialista e chauvinista a um
só à vaidade como à soberba, mas tes, não só em suas intenções como tinus, "o amor insatisfeito se trans- hitlerismo, ao levar até os extremos pseudo-socialismo burguês-estatal,
sempre leva a inconfundível tensão em suas possibilidades. E assim se forma em raiva" – e é assim que o a chamada "teoria de Gunther" re- chamado "corporativista".
afetiva, o mal-estar e a falta de paz explica que os ódios mais profundos primitivo "sentimento" religioso se ferente à superioridade da raça Mas, atualmente, volta a ser claro
que caracterizam a presença subja- surjam precisamente entre os que transmuda em "furor" religioso, com ariana. Mas, sem necessidade de o campo de luta: de um lado, encon-
cente da Ira. pertencem a estreitos círculos hu- sua dupla variante, sádica ou mas- chegar a tal desvario, basta que se tram-se todos os partidos que direta
manos (a própria família, o mesmo oquista. Começam então as auto- passeie por qualquer cidade do Sul ou indiretamente cobiçam o poder
clube, lugar de trabalho, etc.). Mas mutilações e sacrifícios, ou as guer- dos Estados Unidos, para ver a que para defender interesses econômicos
CAPÍTULO VIII esta semelhança e afinidade expli- ras "santas", cujo fim, mais ou me- ponto pode chegar o ódio racial em da classe dominante (capitalismo fi-
ESTUDO ESPECIAL cam, por sua vez, a complicada con- nos subconsciente, é a descarga das um país civilizado. E se não se dese- nanceiro); de outro, acham-se os que
duta e a multiplicidade de manifes- tensões acumuladas pela insatisfa- ja ou não se pode fazer tal experiên- de um modo sincero e verdadeiro in-
DO ÓDIO tações do ódio, que é capaz de infil- ção dos impulsos vitais criadores. cia, leia-se o magnífico livro de Ri- tentam ganhar o poder para proce-
trar-se até nos sentimentos aparen- Quanto pior é a existência terrena, chard Wright (Twelve Million of der a uma revolução social que asse-
Uma vez conhecidas as formas temente mais nobres e elevados. Po- tanto mais se deseja abreviá-la Black Voices, Viking Press, Nova gure uma distribuição mais eqüita-
mais comuns de manifestação da de-se quase dizer que o ódio é a for- ("Morro porque não morro", clama- Iorque, 1941), onde se apreciará em tiva da riqueza. Apesar disso, para
Ira – direta e encobertamente –, con- ma de Ira que mais se mescla e con- va Santa Teresa), mas como, por ou- toda sua pujança como a convivên- muitos observadores superficiais,
vém agora que nos detenhamos a funde com qualquer outro tipo de tro lado, é preciso assegurar-se a cia e a interpenetração cultural de existem ainda demasiados motivos
avaliar o produto resultante de seu atitude afetiva, constituindo verda- existência extraterrena compensa- brancos e negros na terra dos ian- de confusão, pois há quem esteja in-
estancamento. O ódio é a "cólera em deiros coquetéis emocionais, cujo dora, o único meio para isso é mor- ques, longe de diminuírem, aumen- teressado em confundir o dilema po-
conserva", ou seja, uma atitude ira- exemplo principal é o chamado rer por amor ao Deus reverenciado, taram os motivos de ressentimento lítico entre as chamadas "concepções
cunda que se cronifica, estratifica e "ódio dos ciúmes". ou seja, buscar a morte em uma em- e ódio recíprocos. totalitárias" ou "extremistas" (Fas-
adquire especiais peculiaridades, pe- Talvez o melhor modo de pene- presa soi-disant religiosa. E assim se Por que o branco odeia o negro? cismo, Socialismo, Comunismo) e as
la insuficiente descarga de seus im- trar neste desagradável e vasto cam- consuma, inclusive na mais civiliza- Pela mesma razão por que odeia "democráticas", difundindo a crença
pulsos destrutivos. Estes ficam deti- po da psicologia dinâmica seja estu- da das religiões (a Católica, Apostóli- as demais raças humanas, ou se- de que, nas primeiras, o indivíduo
dos e armazenados no odiento, por dar separadamente algumas das si- ca Romana), o grande paradoxo de ja, porque teme que sua maior vi- sucumbe ante o poder onímodo do
diversos motivos: a) impossibilidade tuações "típicas", nas quais o ódio se que um sacerdote possa absolver da talidade primária as leve algum Estado", enquanto nas segundas
material de alcançar o objeto (ou su- condensa e cultiva. Vamos, pois, des- infração do quinto mandamento dia a superar as vantagens que ele conserva seus direitos e liberdades.
jeito) odiado; b) temor de que este, crever e analisar – embora sumaria- ("Não matarás"), e ainda prometer a conseguiu com sua maior astúcia. Não é este o lugar para entrar na cri-
ao ser atacado, reaja infligindo mai- mente – os ódios "religiosos", "políti- glória eterna aos que se lançam à O homem branco não se encoleri- tica desta atitude, mas não há dúvi-
continua
16 GOIÂNIA, TERÇA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2010 OPINIÃO Diário da Manhã
da que toda verdadeira democracia dendo este a importância ante o que existência. O inapto não pode aspi- econômico e político, atiçada pela ciliável pelo prejuízo da obrigató-
(governo do povo, pelo povo e para o pode reinar entre dois banqueiros ou rar nunca a ser como o apto; o máxi- população do lugar, cujos compo- ria subordinação de filhos a pais,
povo, como postulou A. Lincoln) dois professores (quem pode olvidar mo que pode fazer é tentar suplantá- nentes menos destacados encon- de sobrinhos a tios, de irmãos me-
pressupõe uma máquina estatal for- as terríveis polêmicas surgidas entre lo e aparecer como se fosse seu igual. tram nela um meio fácil e cômodo nores a maiores, etc. Há implícita
te, capaz de fazer cumprir as leis, os aparentemente pacíficos astrôno- Ante tal impotência, não lhe resta de satisfazer seus impulsos agressi- em cada família uma luta seme-
não somente aos fracos, ignorantes e mos para decidir sua prioridade no outro caminho senão o da intriga, vos, suas ambições de progresso e lhante à das tribos primitivas: cada
submissos cidadãos ou camponeses descobrimento de um asteroide?) e nem outra atitude senão a do ran- sua tendência à intriga. Quase sem- membro ambiciona o poder ditato-
"desconhecidos", como aos podero- este, por sua vez, empalidece ante o cor. Não é raro então que funcione o pre, os protagonistas da primeira rial do "chefe" e procura conquistá-
sos, audazes e prestigiosos persona- que são capazes de sentir dois políti- processo de "projeção" psíquica, e o cena são pessoas do mesmo sexo, e lo com bajulações, ou, então, trata-
gens, "famosos" no "seleto" círculo cos ou dois jerarcas. E isso pela sim- inapto racionalize seu ódio, afir- não é raro que seu motivo aparente o com desprezo se se crê suficiente-
da chamada "high-life". E isto é o ples razão de que, sendo o ódio um mando que o apto é "vaidoso", que o seja a concorrência sexual. Nestes mente forte para ganhar sua inde-
que, com frequência, chamam "in- estado passional, aumentará na me- "despreza e rebaixa sem motivo", ou, ódios, cada família atua como um pendência: a esta situação se agre-
tervenção totalitária" os que, sob a dida em que deva ser reprimido ou inclusive, que o "persegue, escudan- único indivíduo, enquanto a luta se gam, complicando-a, os motivos
capa de uma democracia (ad usum dissimulado e, é claro, a rivalidade do-se em sua superioridade profissi- estabelece no estreito marco local, sexuais antes mencionados, e, por
delphini) são, na realidade, modelos entre dois carregadores, por exem- onal" (único modo de reconhecer- mas a lei das compensações, mani- outro lado, também em plano rele-
de mentalidade anarquista e solip- plo, pode resolver-se mediante uma lhe esta é o de afirmar simultanea- festada em forma de contraste afeti- vante, os de índole econômica, que
sista. De que serve que nos "deixem" oportuna troca de insultos e socos, mente que abusa dela). vo, determina às vezes o apareci- são aproveitados quase sempre no
teoricamente fazer quanto nos dê mas, em compensação, a pugna en- mento de um belo romance de "jogo político" do chefe da família,
vontade, se carecemos dos meios pa- tre dois estudiosos rivais requer, pa- amor, quase sempre tragicamente como meio de assegurar seu poder:
ra "poder" fazê-lo? Qual seria o efei- ra manifestar-se, a elaboração de te- “O ódio político é extre- terminado (como o dos amantes de daí a tradicional aversão que os
to de um decreto autorizando os ha- orias e hipóteses contraditórias, de Teruel) entre jovens descendentes patriarcas sentem em introduzir
bitantes de um país a repartir entre longas horas de trabalho experi- mamente devastador das famílias contendoras que, ao em seu pequeno reino o regime de-
si o território da estrela alfa do Cen- mental e de elucubrações teóricas, porque pode invocar, extraviarem-se da tônica ambien- mocrático baseado na possibilida-
tauro? Aproximadamente o mesmo sem que, ao fim de contas, a "vitória tal, intentam proclamar o triunfo de de uma existência autônoma de
que o de muitos dos artigos constitu- científica" assim obtida se traduza para satisfazer-se, a ca- de Eros sobre Tanos, mas pagam cada um de seus membros.
cionais das chamadas "democracias em uma definitiva anulação do com a vida tal audácia. Um caso particularmente interes-
liberais". prestígio (nem muito menos da con- da momento, o ‘sagra- A condensação do "rancor local" sante e sui generis de ódio familiar tí-
A realidade é outra: a luta política corrência e oposição) do adversário. se explica pela limitação de suas pico é a antinomia entre os denomi-
atingiu, hoje, a máxima violência e No campo profissional, conden- do prestígio da Pátria’” possibilidades de derivação, pelo nados "pais e filhos políticos", de cu-
extensão. O século XX marca o ad- sam-se além disso três distintos mo- primitivismo mental de seus mante- jas múltiplas variantes elegeremos,
vento do Homo Politicus sive Uni- tivos de ódios: o de ricos contra po- Em tais condições, cada adversá- nedores e, sobretudo, pela quase nu- para análise, a do ódio entre sogra e
versalis e canaliza grandes torrentes bres, o de velhos contra jovens, o de rio acumula motivos de cólera e vai la renovação do plasma germinal, já nora, por ser o mais claro e de mais
de ódio para os dois grandes setores aptos contra inaptos. Prescindire- utilizando armas menos recomen- que se sucedem as gerações sem con- transcendentais efeitos na vida de to-
humanos: o que se "sente oprimido" mos de analisar os dois primeiros, dáveis em sua luta, cada vez mais tribuição constitucional nova, pois, do novo lar.
e o que "deseja continuar oprimido". por serem de ordem geral, e nos li- rancorosa e hipócrita. Ao mesmo como é sabido, existe em tais lugares
Esta é a verdadeira atitude que per- mitaremos a considerar o último, tempo, sente necessidade de encon- o costume de concertar os matrimô- Sogras versus noras – Alguém
mite traçar a linha divisória, ainda por sua especificidade e sua impor- trar partidários de sua atitude e lo- nios entre consanguíneos mais ou já disse que "a sogra é o mais efi-
em ausência de critérios econômicos tância na determinação das condu- go ingressa em algum grupo ou so- menos próximos. Basta abrir novas caz dissolvente dos matrimônios",
e nominais: há membros de partidos tas no mundo do trabalho. ciedade de caráter profissional ou rotas, físicas ou psíquicas, à ativida- e, sem dúvida, é certo nos casos
comunistas que têm "mentalidade técnico (científico, artístico, indus- de popular, para que se mobilize o em que a sogra é viúva, o marido
opressora", e há adeptos de partidos trial, etc.), de onde, – como capitão pantanoso potencial passional e de- é filho único e os três convivem na
conservadores que, inversamente, “E assim se explica que ou como soldado, conforme suas sapareçam estes ódios interfamilia- mesma casa. Em tal situação, a
têm "mentalidade oprimida". Aque- os ódios mais profun- condições – continuará atuando res, muito mais frequentes entre os disputa entre a mãe e a esposa,
les buscam subconscientemente o contra os "companheiros" filiados povos da montanha que os do litoral pela posse do carinho, está no co-
poder político-social como substitu- dos surjam precisamen- ao bando contrário. Assim, em ca- (pela amplitude infinita da paisa- meço perdida para a primeira,
to do poder econômico de que care- da localidade se constituem em for- gem nestes últimos). Outro motivo que vê seu lar invadido por uma
cem. Estes querem a "ordem", qual- te entre os que perten- ma de pequenos exércitos profissio- para explicar a condensação do ódio "intrusa" que lhe rouba seu único
quer que seja, como meio de achar nais, umas vezes agrupados sob nos terrenos montanhosos nos dá a bem e à qual, para maior sarcas-
uma tranqüilidade existencial que cem a estreitos círculos uma comum e inoperante bandei- tendência ao predomínio das for- mo, se vê obrigada a tratar como
não conseguem alcançar com todas humanos (a própria fa- ra social e, as mais das vezes, divi- mas leptossomo-atléticas dos seus a filha. A impossibilidade de sa-
as suas riquezas. E por isso, a cada didos em dois ou mais setores cla- moradores; o temperamento esqui- tisfazer seu ódio mediante uma
passo, se produzem "expurgos" em mília, o mesmo clube, ramente antagônicos. Até que pon- zoide que com elas coincide predis- vingança, desperta na pobre sogra
um e outro bando contendente; por- to o ódio profissional conduz a bai- põe ao absolutismo conceitual (veja- a atitude de ressentimento e, por
que não basta a aquisição de um lugar de trabalho, etc.)” xezas de todo gênero, pode compro- se na Espanha o caso geral dos na- outro lado, a estreiteza das pare-
carnet para adquirir uma "postura vá-lo quem, com ânimo imparcial, varros) e torna mais difícil toda con- des da casa a impossibilita de re-
mental" coerente e consequente com O ódio do apto contra o inapto assista, por exemplo, aos preparati- ciliação entre os bandos em luta. fugiar-se no desprezo. Assim, o
a visão do mundo e a missão no profissional se apoia, como se adivi- vos para a confecção de uma can- (Sobre este ponto que está ligado ao ódio se estratifica e começa geral-
mundo que o dito carnet implica. nha, em motivos diferentes do seu didatura de Junta Diretiva Profissi- problema psiquiátrico, é interessan- mente a estabelecer seu único de-
Mas, seja lá como for, também recíproco, e manifesta-se também de onal, às deliberações para a conces- te o estudo de Robin sobre Les Hai- rivativo possível: a critica da nova
neste campo da política belicosa se um modo distinto. A priori – dir-se-á são de um prêmio (artístico ou ci- nes Familiales.) organização doméstica, exercida
cumpre a famosa "lei do ódio": este – o profissional apto não deveria entífico) ou a uma "tertúlia" de de forma aparentemente inofensi-
aumenta na razão direta da se- sentir ódio ao inapto e sim compai- profissionais. Sem dúvida, encon- va para ser permitida pelo marido
melhança dos termos em que sur- xão; isto seria certo se a atual orga- tramos aqui um dos maiores obstá- “O inapto não pode as- e filho; quer dizer, apresando-se a
ge. E assim vemos que o ódio exis- nização social permitisse que a hie- culos e, por sua vez, um dos melho- mãe, solicita, em sanar e em repa-
tente entre os partidários de Ma- rarquia profissional se ajustasse es- res incentivos para o progresso do pirar nunca a ser como rar as omissões da esposa na satis-
lenkov e os de Beria, ou entre os tritamente ao valor da aptidão para trabalho técnico. O obstáculo vem fação dos gostos deste. Um pouco
adeptos de Beven e os de Attlee, é o trabalho, mas, infelizmente, o representado pelo fato de que qua-
o apto; o máximo que mais tarde, adotando aparente-
maior que entre qualquer deles e inapto ocupa freqüentemente cargos se sempre este não se realiza como pode fazer é tentar su- mente a racionalização de que
os membros dos demais partidos profissionais superiores aos do com- fim, mas como meio de obter satis- "não quer ser um estorvo" e que
nacionais. petente, e, em tal caso, surge a vulne- fação pessoal, derrotando os parti- plantá-lo e aparecer co- "deve ajudar no trabalho da ca-
Esta circunstância é a que explica ração do "eu" deste último, condição dários da outra "escola"; o incenti- sa", a sogra rivalizará com a nora
a facilidade com que, nas votações inicial de sua cólera e da condensa- vo, achamo-lo na severa crítica a mo se fosse seu igual” e medirá suas forças em outros as-
parlamentares, se unem os votos dos ção de seu ódio. que todo trabalho deste gênero se pectos do ménage, até conseguir
partidos mais distanciados ideologi- vê submetido pelos profissionais ri- Os ódios intrafamiliares – Sua que o filho admita implicitamen-
camente, para enfrentar as teses dos vais do autor; assim, perpetuamen- existência nos revela quanto é erra- te a superioridade da mãe, por
partidos do centro. Assim, é frequen- “A luta religiosa é, sem te, destacam-se no palanque da di- do e artificial o conceito que a mo- sua maior "experiência" em tais
te criar um confusionismo e fazer alética cultural diversas teses e an- ral tradicional quer impor acerca misteres. Uns meses depois, dis-
crer aos eleitores ingênuos que "os dúvida, tão absurda títeses, sem que seja possível chegar da denominada "célula social". De farçadamente, os dardos se dirigi-
extremos se tocam", quando na rea- facilmente às correspondentes sín- fato, basta considerar que as esta- rão diretamente à própria perso-
lidade o que fazem é, simplesmente, como a blasfêmia” teses, pela má vontade subconsci- tísticas dos crimes de morte intra- nalidade da nora, a seus vestidos
tocarem-se episodicamente, em sua ente dos que a sustentam. Basta, de familiares são tão elevadas como e enfeites, à distribuição de seu
comum e raivosa oposição aos cen- Como é possível tal irregulari- fato, que surja um espírito concili- as dos homicídios interfamiliares tempo, etc. Mas a ofensiva se de-
tros intermediários. dade? Por várias causas que vale a ador e eclético que procure realizar para compreender a violência e a sencadeará em todo o seu esplen-
O ódio político é extremamente pena enumerar: 1ª) porque a colo- tal síntese para que, longe de aju- frequência deste tipo de ódio. Sua dor na gravidez e no parto; em
devastador porque pode invocar, cação no trabalho não se dá de dá-lo em sua empresa, caiam sobre compreensão requer o conheci- tais condições, o rancor da sogra
para satisfazer-se, a cada momento, acordo com os méritos de cada ele os partidários de todas as teori- mento psicanalítico da denomina- alcança, às vezes, um maquiave-
o "sagrado prestígio da Pátria". As- qual e sim de acordo com influên- as que intenta integrar acusando-o da "constelação" familiar. Esta nos lismo refinado: ao ascender à ca-
sim, basta acusar o vizinho odiado cias (políticas ou sociais), com sim- de oportunista, de mole ou – o que esclarece, em primeiro lugar, a si- tegoria de avó, a sogra se sente re-
de ser "traidor da Pátria" para que patias pessoais, com a sorte ou o é pior – de traidor. tuação afetiva típica entre pais e fi- forçada em sua posição e lança
sobre ele caiam os anátemas dos que azar (vale mais chegar a tempo No campo das reivindicações lhos (Complexos de Édipo e de mão do neto como arma para ter-
(e são, ainda, a maioria) são incapa- que esperar um ano) do colocado; sociais, o ódio profissional é a cau- Electra), resumida no ódio ao pro- minar seu trabalho de reconquis-
zes de dar a essa palavra um valor 2ª) porque, na maioria dos casos, sa principal das dificuldades com genitor do mesmo sexo pela rivali- ta do filho.
variável, em função do marco em não se faz uma comprovação séria que na prática tropeça a célebre dade no monopólio da posse do se- As derrotas e as vitórias desta
que é empregada. Tão intensa é a do rendimento de cada trabalha- doutrina de Marx, que postula a xo contrário; em segundo lugar, ex- luta, surda umas vezes e escanda-
carga virulenta dos ódios políticos, dor em seu posto, com o fim de ve- união de todos os trabalhadores. E plica-nos também os ódios frater- losa outras, constituem para seu
que hoje vemos usar, a seu serviço, rificar se o mesmo ocupa o lugar no campo político, esse mesmo nais (regidos pelo denominado inocente causador outros tantos
pelos Poderes Públicos encarregados que lhe corresponde ("The right ódio explica o fracasso antecipado "Complexo de Caim"). Mas a pato- motivos – se mais não os tivesse –
de garantir a Justiça em países civili- man in the right place"); 3ª) por- dos denominados "Ministérios genia de tais situações de rancor para cansar-se do cenário da mes-
zados, instrumentos repressores "es- que a rivalidade existente entre os Técnicos". Se é condição quase in- não se esgota, a nosso juízo, com a ma e procurar fora dele a paz que
peciais" (Gestapo, G.P.U., O.V.R.A., profissionais competentes determi- dispensável para dirigir um Minis- interpretação freudiana, e é muito lhe haviam prometido. Não se jul-
S.I.M., Brigada Especial, F.B.I.), que na que estes, em certas ocasiões, tério da Marinha não ser mari- mais complexa. Sua raiz mais im- gue, entretanto, que a nora de-
com frequência excedem em seus prefiram elevar aos cargos de dire- nheiro, para ser ministro da Saúde portante, a encontramos no terrível sempenha um papel de vítima in-
meios de agressão física e mental a ção pessoas inaptas, para assim não ser médico, para ocupar a ca- a priori da estrutura familiar que defesa e que é alheia à precipita-
tudo quanto é utilizado pelos ele- evitar que se engrandeça seu deira ministerial da Educação não determina de antemão a "obriga- ção do desenlace; com sua condu-
mentos antissociais mais perigosos. "igual" e, por outro lado, poder-se ser professor, etc., isso se deve não ção" de estimar (como se fosse pos- ta queixosa e intransigente, com
E isso é tanto mais paradoxal dar, continuamente, a satisfação tanto aos defeitos da organização sível impor sentimento de qualquer seus choros e reproches, coloca o
quanto se deve levar em conta que a de sentir-se intimamente superior política do país, como à violência gênero) a seres cuja única coinci- marido no dilema de ser um mau
atividade política – por definição e a seus dirigentes, mas estes, uma do ódio profissional que só tolera o dência é a de encontrar-se em uma filho ou um mau esposo, dilema
por tradição – deveria ser modelo de vez exaltados com sua cumplicida- engrandecimento daquele a quem mesma árvore genealógica. Nin- que este costuma resolver sendo
tato, de generosa compreensão e de de, não se mostram propensos a ser pode constantemente ridicularizar guém pode "escolher" seus irmãos, ambas as coisas ao mesmo tempo.
respeito ao ser humano. Mas a expli- simples marionettes, e, ao procu- por sua inferioridade técnica. seus pais, seus primos ou sobri- Bem se pode afirmar que esta si-
cação baseia-se na violência da ten- rar impor seu critério, suscitam nhos, mas estes lhes são dados ao tuação conduz, inúmeras vezes, a
dência iracunda que se alberga no duplamente o ódio dos aptos, pos- Os ódios familiares – É um fato nascer; durante toda a vida a orga- reações passionais patológicas, es-
Homem, desde sua mais remota an- to que estes hão de reconhecer que inegável que o ódio surge, com fre- nização social impõe que os trate pecialmente por parte de suas du-
cestralidade e que o leva a desejar o tiveram em suas mãos a possibili- quência, não só entre uns e outros com afeto e, não raras vezes, com as protagonistas femininas, que
poder (Will zur Macht) não para dade de evitar tal situação. (Tal é o troncos familiares, como entre os subordinação hierárquica, ainda inventam toda sorte de ideias de
servir, mas para servir-se. mecanismo pelo qual muitos inte- membros de um mesmo ramo fami- quando intelectualmente seja su- prejuízo, de perseguição, hipocon-
lectuais que criticam acerbamente liar. Quer dizer, existem ódios inter perior a eles. Maior coação não se dríacas, de autorreferência, de-
Os ódios profissionais – Triste os representantes do governo, se e intrafamiliares. Os primeiros sur- pode imaginar e por isso se com- pressivas, etc., e passam a engros-
destino o da Humanidade: a força negam a substituí-los quando são gem, sobretudo, quando, por moti- preende que, sob a ficção que tal sar o contingente de clientes am-
de seu egoísmo é tal, que não só "o chamados a fazê-lo.) vos de vizinhança, é forçada uma organização impõe, se encubram bulatórios dos clínicos ou, o que é
ódio cresce na razão inversa do qua- Quanto ao ódio do inapto ao relação entre grupos familiares rancores e ressentimentos sem con- pior, de adeptos das mil e uma
drado das distâncias", como glosa competente é, logo se vê, mais pro- equipotentes em sua ação social e ri- ta. Por outro lado, toda família seitas e organizações pseudo-reli-
em seu L'ile des Pingouins o irônico fundo e intenso, pois é motivado não vais em suas pretensões de domínio tende a funcionar em regime mo- giosas que lhes prometem e asse-
Anatole France, como aumenta tanto pela consideração da melhor patriarcal e econômico em um cam- nárquico absolutista: há um "cabe- guram uma solução "mágica" pa-
também na "razão direta do qua- posição, do maior prestígio, etc., que po de ação limitado. A ofensa que ça" da família que rege seus desti- ra seus sofrimentos.
drado da hierarquia social" dos que este possa ter, como pelo fato irreme- desencadeia a manifestação inicial nos e, atrás dele, em disposição ver- O ódio, homônimo, de sogros e
o albergam. Não há dúvida: o ódio diável de sua superioridade técnica, do ódio não é causa, mas pretexto tical, se estratificam as hierarquias, genros é, em geral, menos pronunci-
profissional entre dois garis é menor superioridade ligada a condições es- para sua eclosão; e, uma vez inicia- sem se levarem em conta os valores ado e tem menos complexidade ex-
que o que se pode desenvolver entre senciais de seu psiquismo e, portan- da, a pugna se estabelece, apoian- psíquicos dos que as ostentam: daí, pressiva, pois costuma descarregar-
dois alfaiates ou comerciantes, per- to, consubstancial de sua própria do-se principalmente nos terrenos a divergência de opiniões, irrecon- se com maior rapidez.
continua
Diário da Manhã OPINIÃO GOIÂNIA, TERÇA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2010 17
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20 GOIÂNIA, TERÇA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2010 OPINIÃO Diário da Manhã
melhor traço de uma vida irismo e secadas no alci- Vésperas do Dia de Fi-
humana. O de o poder dismo...; nados. Imagine-se Pedro
não subir à cabeça e Dois poemas de Totó Caiado e se diluviarem um ar- Ludovico e Totó Caiado
manter o coração onde rastão conjuntado das sentados em duas nu-
se alcança Deus. sobras mais nefastas do vens, revendo velhas ce-
E teve os dias mais feli- udenismo boiando no Al- nas do caudilhismo mú-
zes da vida no coração: cides e dos restos mais tuo de suas prisões e, de
quando criou o Programa poluídos do pessedismo repente, abre-se o cenário
da Solidariedade Huma- ancorados no Iris...; do enterro, ao vivo, sepul-
na, distribuindo diaria- e se a enchente da con- tando suas lembranças,
mente 150.000 litros de fluência das duas verten- mortas, no esquife con-
leite, 150.000 pães e 130 tes for empoçada na vi- duzindo nas urnas eleito-
mil cestas básicas com 25 tória represada no estuá- rais. Nas alças do caixão,
quilos de alimentos men- rio de um governo unifi- de um lado, o Iris levando
salmente durante os seus cado no estilado do iris- o pessedismo na da dian-
quatro anos no Palácio mo e no modelado do al- teira e o Mauro Miranda
das Esmeraldas. cidismo...; na da traseira, e, do outro
Aqui, eu garanto: o Ma- e se (partícula apassiva- lado, o Alcides levando o
guito vai ler chorando. dora se) não se recanaliza- udenismo na de trás e o
Conheço o sangue que rem para as fontes da men- Braga na da frente, saindo
corre no seu coração. É o Senador Antônio Ramos Caiado talidade para desaguar no do velório que, em verda-
mesmo que move o meu. oceanado das ideias da mo- de, é o sepultamento elei-
dernidade, estarão singran- toral dos próprios nas
Marconi Pe- do com o barco lotado para próximas eleições.
rillo – É o Iris o porto na foz da prisão an- Lá de cima, Pedro e To-
rural novo tes do meio do mandato. tó se olham ao verem o
no urbano. Alcides Ro- governador bobo da UDN. A percepção universal “Descansem em Paz” na
Sua marca é drigues – É O governo de Alcides descortinou em Platão que fita da coroa de flores
a raiva da traição sofrida um erro de Rodrigues no governo de “O que faz andar o barco mortuária. As nuvens re-
que faz ventania momen- cálculo nos Jorcelino Braga é o ines- não é a vela enfunada, viram-se em trovoadas.
tânea nos nervos e não so- números perado do fracasso no mas o vento que não se O pessedista Pedro Aran-
pra a calmaria no coração. dos valores da espécie sucesso esperado. O vê”. A intuição fazendeira tes, ao ler a manchete “O
Há um choro de mãe nos humana. Soma os favores imprevisto é o tempo não divisa que o governo homem voltou e deu à
sentimentos. Existe uma recebidos e diminui a dos idiotas. simboliza o barco e os ven- luz” no semanário O Mo-
saudade amiga à espera consideração. Multiplica Alcides tem suas razões tos configuram as ideias. mento, mandou os ca-
nos gestos. Tem a solidari- traição na lealdade e divi- de não perceber o Mar- O encalhe está antevis- pangas Borrellí, Nenen
edade solidária, a bonda- de na delação e na ingra- coni. Aquele que está to nesse amasiamento do Calango, Sarapião e No-
de boa, a humildade hu- tidão. É a aritmética da longínquo no dilatado irismo PeSseDistado e o vais fazerem a notícia do
milde, a sinceridade since- parte da matemática em dos crepúsculos se apa- alcidismo UDeNistado assassinato do udeno-
ra. E o silêncio da palavra que investiga as proprie- gando não consegue en- adesismo ao concubina- jornalista Haroldo Gurgel
que não deve ser dita. dades elementares dos xergar, à distância, esse to em que a aliança parti- na Praça do Bandeirante,
Veio do futuro na ETI. números inteiros e racio- que está acendendo as dária quebrou em duas e detonaram tempesta-
Foi ao futuro no Centro nais e é matemática ciên- manhãs nascendo a to- partes remendadas e co- des entre si. A metralha-
Cultural Oscar Niemeyer. cia que investiga relações cha nos luzidios da es- locadas em dedos que dora do udenista Wilmar
Voltou ao futuro e bus- entre entidades definidas perança. não servem nelas, porque Guimarães e o revólver
cou o Centro de Reabili- abstrata e logicamente, (O néscio é feliz se a inchados nos gatilhos du- do pessedista Raul Prate-
tação Henrique Santillo mas que, na tabela das inteligência espertalhona elados nos tempos do ja- ado enfumaçaram as du-
(Crer). operações elementares é desprovida totalmente guncismo político e da as nuvens com tempora-
Não saiu mais do futu- com números de um ou de conhecimento. O Jor- quartelada do golpismo. is de rajadas de raios.
ro ao criar a Universida- dois algarismos, a tabua- celino Braga chega a criar Pitágoras transcendeu- Nisso, os quatro matado-
de Estadual de Goiás da dá o algarismo zero no crise até entre as pala- se para descoberta de res de Gurgel deram
(UEG). número dimensional nas vras, de os substantivos que “O Universo é a har- umas salvas de relâmpa-
O futuro veio nele nas contas do que não houve. irem aos tapas com os monia dos contrários”. gos com a chegada de
70 mil bolsas universitá- O governador Alcides adjetivos nos períodos de A irracionalidade dos Antônio Carneiro Vaz.
rias que geraram as se- Rodrigues só pode ter seu achismo opinativo fanáticos é a desarmonia Mas foram contidos por
mentes espalhadas pe- vindo pela política sal- contrário em questões já da incultura das emoções Hélio de Britto acenan-
los ventos do conheci- tando por cima e por fora definidas pelos filósofos. do sentimento na lógica do-lhes o “lenço branco
mento germinando can- dos livros. Se o cérebro do Alcides do pensamento. Pesse- da UDN” e Padre Trinda-
teiros de faculdades nos Não inaugurou o Cen- não fosse na cabeça do dista é a aptidão gover- de vestindo a sua batina
leitos da incultura em tro de Cultura Oscar Nie- Braga, o governador não nista. Udenista é a voca- do PSD para rezar a mis-
todo o Estado. meyer. Porque não o fez. teria ouvido tanto o ex- ção oposicionista. Aquele sa de corpo-presente do
O futuro bebeu nele o so- Inaugurou a represa do Sefaz e secretário ple- não dá certo na oposição cortejo de Iris e Alcides já
nho dos goianos na barra- João Leite. Porque o cór- nipotenciário por adoção e esse não dá certo no go- chegando ao seu póstu-
gem do Córrego João Leite. rego é que fez as águas como tutor de todo o verno. Os dois não fun- mo eleitoral. Quem ficou
O futuro está aí buscan- do lago. governo. Porque teria cionam juntos na mesma rolando o tambor de seis
do nele o fim do ódio no Fez o que pôde durante escutado Platão: direção. Tentar mantê-los coriscos Smith&Wesson,
governo e trazendo a paz os quatro anos de seu “O sábio fala porque unidos é como prender 44, nos olhos foi o Emival
para o funcionalismo pú- mandato para asfixiar fi- tem alguma coisa a dizer, as duas pontas de uma Caiado: queria porque
blico, a tranquilidade para nanceiramente o Diário o tolo porque tem que corda uma na outra e queria que o mano Eden-
o empresariado, o reata- da Manhã. dizer alguma coisa.A coisa querer mantê-la no círcu- val Caiado disparasse um
mento do diálogo com a Fez o que foi feito com mais indispensável a um lo em linha reta. pensamento fulminante
intelectualidade, o conví- a Rádio K até conseguir homem é reconhecer o Há feridas abertas nos para o filho têmpera-
vio respeitoso com a liber- sufocá-la com juros a 8% uso que deve fazer do seu ancestrais que não se ci- udeno Ronaldo Caiado
dade de imprensa, a certe- ao mês da Factore Klock próprio conhecimento. O catrizam nos descen- dar uns tabefes de raios
za de que Goiás voltará a Investimentos, do Jorceli- corpo humano é a carru- dentes. Os corpos dos no Sérgio Caiado ao ver o
crescer nos próximos qua- no Braga. agem; eu, o homem que a pais doem nas almas filho, não um Caiado,
tro anos e a fraternidade A álgebra, reunião, re- conduz; os pensamentos, dos filhos. Assiste-se, as- mas um Caído, enluaran-
de um parente de todo integração daquilo que as rédeas, e os sentimen- sim, o tragicômico do do o psd-ludo Iris.
mundo no governador. se quebrou, é também tos são os cavalos.”) sorriso de caveiras engo- Pedro Ludovico olha
Marconi Perillo é um restauração de ossos fra- E Pitágoras concorda: lindo a seco as próprias para Totó Caiado. Totó
bom. Há uma reza an- turados, deu este último “Os homens são mise- mordidas recíprocas do Caiado olha para Pedro
dando em sua alma. resultado. Na Sefaz, o ráveis, porque não sa- caiadismo e do ludovi- Ludovico. E ribombou
Marconi Perillo não con- Braga calculou errado. O bem ver e nem entender quismo nesse arranjado um trovão. Pelo visto, Tia-
segue entender o Mundo jornalista Batista Custó- os bens que estão ao seu barganhado de Iris e Al- go Peixoto escutou um
sem Deus. Há portas aber- dio não é Jorge Kajuru. O alcance”. cides à frente do que cla- brado, a duas vozes, ra-
tas em suas mãos estendi- Jorge tem mais talento na ma por respeito históri- lhando na trovoada:
das ao próximo.
Marconi Perillo é o meu
voto. Não no compadre
inteligência e mais volu-
me na popularidade. O
Batista tem mais livros no
( Teoria do Absurdo na
Hipótese do Ocasional
na Fatalidade da Utopia
co aos céus dos homens
que perderam a vergo-
nha da coerência e in-
“Que pouca vergo-
nha!!!”
E choveram votos no
padrinho do João do So- cérebro e mais prestígio Impossibilitada – Se as sultam os princípios dos Marconi Perillo.
nho, o outro candidato o na História das lutas. ondas montantes da po- líderes que sofreram e Iris pôs a culpa no Alci-
compadre padrinho do O Jerônimo Coimbra pularidade de Lula trans- morreram sem se deson- des e Alcides pôs a culpa
Fábio Nasser. Bueno foi o governador bordarem um maremoto rarem nos benefícios da no Iris.
Voto no melhor para louco da UDN. nesses cerrados goianos adesão traidora às suas Era tarde. Era o enxurro
Goiás. O Alcides Rodrigues é o de águas minguantes no convicções partidárias. da derrota.)
continua
Diário da Manhã OPINIÃO GOIÂNIA, TERÇA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2010 21
DE PERNAS PRO AR
Na edição de 17 de
agosto último, o Diário
da Manhã trouxe meu
artigo De pernas pro ar,
de quatro páginas, ana-
lisando a posição em
que se encontra o go-
verno de Alcides Rodri-
gues governado pelo
Jorcelino Braga.
Reproduzo aqui o tre-
cho em que revelo a
proposta indecente que
me fora feita e refeita,
na biblioteca de minha
casa, como proposta fi-
nanceira para o amor-
daçamento do Diário
da Manhã do noticiário
e foto de Marconi Peril-
lo e Iris Rezende na atu-
Dionízio Neves, diretor comercial do DM
al campanha eleitoral,
e, sobretudo, com au-
mento de espaço para o
governador Alcides Ro-
drigues e nenhuma li-
nha de matéria contra
Jorcelino Braga.
A seguir, inteiro teor
da tentativa de censura
chantagiosa desavergo-
nhada e que os gover-
nos da ditadura militar
tiveram vergonha de
me fazer: Imara Custódio Júlio Nasser Célio Campos
continua
22 GOIÂNIA, TERÇA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2010 OPINIÃO Diário da Manhã
A CARTA
Meu pai,Deus nos abençoe. nam com mais fracassos.
Responder ao seu coração é um fator de alegria, pois o As notícias também repercutem entre nós, filtradas, mas
que nos mantém unidos é o laço sacrossanto do amor. repercutem.
Sei de suas dúvidas e de suas ponderações, entretanto, O que um jornalista digno deve primar é pela ética e pe-
vejo-me dividido entre dois pontos cruciais: aquele que gos- la honradez de princípios.
taria de falar com ampla liberdade e aquele que precisa Peço-lhe continuar ético e honrado.
ponderar o que responde. Não se sinta frustrado por não dar ouvidos ao "canto
E é esse o maior dilema do jornalista no Além: submeter das sereias".Ilusão é ilusão e é passageira.
sua opinião à sua própria consciência. Prefira sempre ficar com a "paz do dever cumprido".
O senhor me comunica que às vezes se surpreende por Estamos ao seu lado sempre.
pensar que talvez o correto seria não ser tão ético e venho O senhor recuperará o bom ânimo de sempre.
defender, meu pai, a sua lenta agonia em primar por sua Em tempo oportuno,compreenderá.
consciência acima de qualquer fato. Vovó Romana e Bina estão sempre ao seu lado.
Estar interessado em verdades absolutas, nem sempre O senhor sentirá mais a minha presença, como conse-
compreendidas e aceitas, é esse o seu maior desafio, mas a Por isso temos, ao nosso lado, os familiares problemáti- guiu sentir o "meu beijo". Amo-te,meu pai,meu amigo.
mola propulsora do seu coração será sua grande intuição cos, mas também aqueles que nos ajudam a caminhar. E o Com o abraço saudoso do seu,sempre seu
sobre o certo e o errado. grande mistério é saber conviver com as diferenças.
E é justamente essa sua maior ajuda do Alto: saber usar Sei que o senhor questiona sobre sua maneira atual de Fábio Nasser
essa característica em todos os setores de sua vida. ver o jornalismo e a difícil tarefa de colocá-lo em prática e Custódio dos Santos
Convivência, meu pai, olhada deste lado da vida,é tema fazer com que o compreendam.
complexo, pois o senhor não imagina o complicado fator O que posso argumentar a seu favor é que daqui deste la-
da reunião do passado com a imperiosa necessidade de se do da vida saem jornalistas preparados para exercerem * Vovó Tanila Romana dos Santos, mãe do Batista
corrigir o presente. seus papéis na Terra... Alguns são vitoriosos, outros retor- * Vovó Bina é Felisbina Josefa dos Santos, avó paterna do Batista
continua
Diário da Manhã OPINIÃO GOIÂNIA, TERÇA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2010 23
continua
24 GOIÂNIA, TERÇA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2010 OPINIÃO Diário da Manhã
CONVERSA ÍNTIMA
Alfredo Nasser – Trabalhar em jornal.
Ao lhe fazer a pergunta esperava que
me fosse pedir um emprego, uma oportu-
Caiapônia, antiga Torres do Rio Bo- nidade, um jeito de ganhar dinheiro. Ante
nito, começou como sede da Comarca sua resposta pensei no Jaime Câmara, no
do Rio Coxim, cujos limites iam do Rio Braga Sobrinho, no Waldemar de Melo.
Verde, inclusive, até o Paraguai. Não Afinal, são meus amigos e não me seria
sei se estou insultando a verdade histó- tão difícil satisfazê-la. Ela ajuntou, antes
rica. Mas aprendi isso na escola pri- que eu concordasse:
mária e não me interessa desaprendê- – No Cinco de Março.
lo. Em São Paulo, terminando o curso Naquele momento ela me devolvia,
ginasial e morando com Irany Ferreira sem saber, a preocupação que dei ao
no mesmo quarto, eu lhe dizia fre- seu pai, Gabriel Nasser, que me criou,
quentemente dando início a intermi- quando iniciei minha turbulenta vida
náveis discussões e brigas: de jornal, menino ainda. Os perigos
– Estou estudando para comandar não eram menores para a imprensa de
um dia as forças de Caiapônia que vão combate, a incorporação era a mesma,
invadir Rio Verde. Subiremos a serra e re- os corruptos eram violentos, como em
anexaremos vocês. todos os tempos. Como o fizera seu pai,
Caiapônia é uma pequena cidade, fiquei calado. Esse meu irmão era um
bem menor que Rio Verde e Jataí. homem culto, conhecedor da boa lite-
Construída sobre um espigão, as tor- ratura, enérgico e suave na medida jus-
res a dominam, de longe. São blocos ta, líder por nascimento. Sua vida foi
enormes, um dos quais parece um gi- dedicada a educar seus irmãos. Dói-me
gante deitado. Comparado com o seu, até hoje a lembrança de vê-lo na fazen-
o luar de outras cidades é leite com da, nas geladas madrugadas de junho,
água, com muita água. Só é inferior ao pé do engenho, na faina da moa-
ao da antiga Capital do Estado, so- gem. Ele não nascera para aquilo, mas
bretudo visto de Santa Bárbara. As- fazia-o sem queixa e o fazia, como foi
sim mesmo, se Ely Camargo cantasse até o fim, calado e sorrindo. A vida não
em Caiapônia as "Noites Goianas", fez justiça ao meu irmão. Não só não
poderia muito bem haver um empate. teve as oportunidades que merecia, co-
Pois essa pequena localidade, velha mo dela se foi cedo demais. Suas filhas
Comarca do Rio Coxim, antigo cami- foram criadas no ambiente doméstico,
nho dos garimpos do Araguaia e aflu- sem receber ordens. As decisões eram
entes, com menos de quatro mil elei- tomadas depois de livre debate, dos
tores inscritos, situada, com o desvio quais participava minha irmã (que te-
das estradas para Mato Grosso, num ve nesse campo a maior parte dos en-
cotovelo que lhe dificulta o progresso, cargos), por maioria de votos.
Caiapônia já deu, de 1934 para cá, Um dia tivemos que decidir entre
três deputados federais, um senador, comprar carne ou papel para o Jornal
um membro do Conselho Nacional de de Notícias, pois o dinheiro não dava
economia, um vice-governador do Es- para as duas despesas. Contra apenas o
tado, um ministro da Justiça. Agora, meu voto, compramos o papel. Assim
dela despontam, caminhando céleres cresceram as meninas, assim cresceu
para o estrelato, dois jornalistas: Ba- Consuelo. Julgo as pessoas, mesmo as
tista Custódio e Consuelo Nasser, da por sua bondade, sua bravura, sua generosidade, seu mais chegadas, imparcialmente.
direção do Cinco de Março. puro idealismo. E seu caráter, também. Seu verdadei- Consuelo irá longe, tomem nota. Sua revolta contra as
Batista Custódio é o comandante da equipe deste jor- ro, sólido, indobrável caráter. injustiças, a corrupção, as mentiras, a hipocrisia, traba-
nal. Filho, neto, bisneto, tataraneto de fazendeiros, traz O mesmo se dá com Consuelo Nasser, tecnicamente lha em seu favor. Ela não calunia, sua linguagem é mo-
ele nas veias o sangue de várias gerações de homens minha sobrinha. Um dia, as cruéis imposições da políti- derada, seu julgamento dos outros impressiona pelo
honrados. Por poucas pessoas me responsabilizo moral- ca me levaram a criticar um velho amigo: Galeno Para- equilíbrio.
mente como por esse rapaz que tem, numa vocação de nhos. Na resposta, achou o meu antigo chefe na campa- Galeno não tinha razão. Além da nova geração de
apóstolo, a alma do panfletário. Seu pai foi meu com- nha de 1954 que sempre fui um boa-vida, pois sendo sol- filhos que crio e educo, aí estão marcando minha vida
panheiro na escola primária e sua família é ligada à teirão nunca tive coragem de assumir os encargos de e meu coração Stela e Consuelo. Por elas sei que a exis-
minha há mais de cinquenta anos. Quando ouço falar chefe de família. Coisa curiosa. Outra coisa não tenho tência acabou para mim, sob muitos aspectos. En-
em imprensa marrom, compreendo até onde pode che- feito senão ser chefe de família. Consuelo e sua irmã Ma- quanto a primeira me tira o sono vendo-a na labuta
gar a injustiça neste mundo. ria Stela fizeram-se pelo destino minhas filhas. Atual- de seu lar, quando os filhos adoecem, a segunda me faz
Batista Custódio é um dos mais puros idealistas, um mente tenho cinco filhos. Três meninas de criação e dois acordado sabendo-a no jornal, exposta aos mesmos
dos melhores espécimes humanos que já conheci. A sua filhos adotivos: um menino e uma menina. Vivem em perigos pelos quais passei, ao mesmo frio que já me
bondade dói. O Cinco de Março tira-lhe dinheiro e não minha companhia, dou-lhes purgante e lombrigueiro enregelou, ano após ano, tomando xícara após xícara
lhe devolve um tostão. Nem ele precisa disso. como qualquer pai. Mas voltemos à Consuelo e Maria de café, respirando o mesmo ar enfumaçado, o mesmo
O seu erro é imaginar que este mundo tem conser- Stela. Esta é tão inteligente como a irmã, tão lúcida co- ar viciado e sonolento das madrugadas que envolvem
to, que lutar contra a corrupção vale alguma coisa. mo ela, tão praticante, como ela, da boa leitura. Foi até o as redações. E acabou a vida para mim, sob muitos as-
Nas longas conversas que temos tido, procuro trans- Normal, diplomou-se, não quis ir adiante. Casou-se com pectos, porque enquanto dois seres que amo penetram
mitir-lhe o pouco que aprendi, um pouco do que me Jamil Issy, farmacêutico e professor da Faculdade de Far- nos mistérios e nas dificuldades da existência, não consi-
ficou das coisas que me feriram, um pouco do quanto mácia, e não poderia ter seguido melhor caminho. Cos- go mais ver – nunca mais verei – o sorriso de meu irmão
o caminho a percorrer é longo e duro. Ele me ouve, si- tumo dizer que ninguém é como Stela. E não é mesmo. nos claros, límpidos, doces olhos de suas filhas.
lencioso, porque sabe que penso como ele. Bom, bra- Consuelo formou-se em Direito e ao nos encontrarmos,
vo, generoso, Batista Custódio tem me arrastado à nos primeiros dias deste ano, lhe perguntei:
sua luta, numa solidariedade que não negaria a ne- – Filha, que vai você fazer? (Transcrito das páginas 309, 310 e 311 do livro
nhum órgão de imprensa, mas que para ele é maior, Ela respondeu: Alfredo Nasser - O líder não morreu)
A pergunta sonha:
continua
Diário da Manhã OPINIÃO GOIÂNIA, TERÇA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2010 25
continua
26 GOIÂNIA, TERÇA-FEIRA, 26 DE OUTUBRO DE 2010 OPINIÃO Diário da Manhã
O Diário da Manhã será Chega de governo com obras Autoridades corruptas de mantenha os que me perse- Xavier e psicografado pelo
assim. Livre. Independente. inacabadas e que duram menos mais um governo ordenaram guem e injustiçam-me triun- médium Carlos Baccelli. O li-
Isento. Já é uma escola de jor- que as placas de sua inauguração. a minha falência e a Justiça fantes a fim de que me vejam vro é um evangelho de alerta
nalismo. Será um templo no Chega de governo de Suas absolveu-me um quarto de passar por eles em condições para os que detêm poder e su-
coração dos goianos. Excelências que tomam posse século depois. de socorrê-los nas suas horas põem-se melhores que os de-
“Não é com honras e rique- pobres e saem milionários dos Autoridades corruptas de calvário e não devolvendo- mais humanos, inclusive cer-
zas que se contenta o coração mandatos. desse governo passaram lhes a cruz que puseram em tos kardecistas que se envai-
de um pensador, mas, sim, Chega de governo de posicio- quatro anos mantendo o Di- minhas costas. decem como donos da verda-
apenas com o saber e a virtu- nistas eleitos denunciando cor- ário da Manhã na tranca fi- Comungo o pensamento de de com o dom recebido na Es-
de” é o que pensou Platão. É o rupções e falcatruando no ofí- nanceira e tentaram subor- Jung: “O sofrimento precisa piritualidade.
que sinto, penso e sou. cio governamental. nar-me com verbas de pro- ser superado, e o único meio
E serei no governo de Marco-
ni Perillo.
Chega de governo no conti-
nuísmo da impunidade das
paganda depois.
As autoridades de dois
de superá-lo é suportando-o.”
À S vezes, Marconi Perillo
insinuava-se um maurici-
N A última mensagem do
espírito do jornalista Fá-
mazelas engordadas no erário
estadual.
Chega de governo que a gen-
desses governos se uniram.
Qualquer que seja o próximo
governador eleito, ao tomar
O Marconi Perillo engran-
deceu-se no sentimento
com a traição ingrata e delato-
nho nele. Iris Rezende perma-
nece sempre matusalenizado
nas ideias.
bio Nasser, publicada neste te se arrepende depois de ter posse verá o Diário da ra do governador Alcides Ro- Marconi retemperou-se de
artigo, houve um tópico que votado no candidato. Manhã livre da censura drigues ao senador. amadurecimento nas forjas
ficou se repetindo na minha Chega de governo enturma- econômica depois. A minha alma é que votará do sofrimento. O punhal da
consciência: do no Palácio das Esmeraldas nele. traição que lhe sangrou as
“Pai,sei de suas dúvidas e de
suas ponderações, entretanto,
com muitos políticos que devi-
am estar na cadeia. É urgente. Emergencial. Já
passou da hora de o líder
Marconi é um bom no co-
ração. A sua bondade sucede-
costas não feriu-lhe o coração.
Chega de governo como em- Autoridades corruptas de um nhece as tuas necessidades.” podem se ver em suas amar-
prego de amigos.
Chega de governo como pa-
governo ficharam-me como
comunista no Dops e fui anisti-
Sempre oro para que Deus
não me poupe dos sofrimen-
guras, não procurando-as nos
outros, mas em si mesmos ao
BATISTA
nela de parentes.
Chega de governo como
ado somente 15 anos depois.
Autoridades corruptas de
tos. Recebo-os como carinhos
divinos para a evolução desta
lerem os Quatro Gigantes da
Alma.
CUSTÓDIO
brinquedo de tecnocratas que outro governo prenderam-me vida, pois foi nos reveses que Façam como Marconi. Pas-
transformam a administração por oito meses e minha ino- me vi mais forte que as prova- sem dentro do sublime no Para ler este artigo
pública em laboratório de suas cência foi reconhecida 20 ções e as tentações. E, sobre- Doutrina VIVA, ditado pelo no DM Digital, acesse
invencionices mirabolantes. anos depois. tudo, invoco ao Céu para que espírito de Francisco Cândido www.dm.com.br