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OBRAS INDICADAS PELA

COPEVE - UFPI
RESUMO DE OBRA
UM MANICACA
ABDIAS NEVES
COLÉGIO PRO CAMPUS - “A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO” - OBRAS INDICADAS - COPEVE - UFPI

“A PA Z E S T Á N A B O A E D U C A Ç Ã O ” UM MANICACA

ABDIAS NEVES

UM MANICACA

Abdias Neves

Apesar de a crítica literária, até mesmo do Piauí diminuir a obra não dando a ela o valor merecido por
sua bravura em desbravar terras até então inaptas, percebemos valor formal neste obra de grandeza gigantesca
para esta terra chamada Piauí.
O que difere “Um Manicaca” de outras obras literárias brasileiras e a geografia. As mais comentadas,
divulgadas e portanto, valorizadas são aquelas escritas no Sudeste e que retratam paisagens de cidades em
plena evidência que servem de cobiça para toda a população roceira do restante do Brasil.
Em se justificado o termo “roceira” quero frisar que, no Brasil de 1900 apenas o Rio de Janeiro possuía
mais de 600 mil habitantes. São Paulo, por exemplo, beirava 300 mil e todas as outras cidades não seriam mais
do que “cidadinhas”, pequenas, subdesenvolvissimas e com precarissimas rede de urbanização.
O Rio era, para todo o restante do Brasil a apoteose, a lucúria, exercendo influências grandiosas em
todos que, gostariam de para lá ir morar. Não é a toa que esta cidade de menos de um século chegou a mais de
dez milhões de habitantes e São Paulo a 16 milhões de habitantes.
Mas o que interessa é Um Manicaca. Obra realista / naturalista que tem por objetivo narrar os fatos
num ponto de vista do Positivismo. Percebemos que o Positivismo era crescente a partir da última década do
século XIX. A questão da traição de Júlia ao marido Araújo. A constante crítica acirrada a ideologia do catolicismo
que utiliza a mulher em função de combate à maçonaria. Os homens defendiam a maçonaria enquanto as
mulheres e combatiam dizer representar o signo do diabo. Chaves / Eufrasina, marido / mulher viviam em constante
combate, porque ele era maçom e ela católica praticante e fanática.
A divergência de católicos x maçons representando diferentes provoca censuras em toda a sociedade.
A Igreja prega o culto ao diabo praticado pelos maçons como forma de amedrontar a população. O maior intuito
da Igreja era impedir o constante e crescente crescimento da maçonaria.
Num contexto mais amiúde. Um Manicaca quer na verdade apresentar Teresina não somente como
um cenário, pano de fundo para o desenrolar da obra. Quer mais. Apresenta-a como uma personagem que marca
aqueles que a apresenta ao público leitor.
A obra de Abdias Neves representa muito mais que uma obra positivista / naturalista. Representa a
sociedade Piauiense que naqueles tempos, onde o grande intuito do homem rural era sair em busca de melhores
condições em regiões fora do estado. Enquanto o homem urbano quer apenas comercializar. Justificativa importante
para se compreender o alto custo de vida naquela cidade. Apesar do tema central estar centrado na traição – no
fanatismo católico – na maçonaria, triângulo que permite Abdias entrar para a história literária, quer a obra ir além
desta discussão. Quer apresentar a Teresina do final do século XIX e introduzi-la ao século XX, com a cara de uma
cidade plenamente atrasada. Onde quem detém a verdade do conhecimento são os bacharéis formado em Recife
na escola de direito. No entanto, este quadro precário não é apenas no Piauí; mas sim de todo o Brasil, excetuando,
claro o Rio de Janeiro e São Paulo.

CAPÍTULO I
Neste capítulo I, percebemos as duras críticas do autor quanto ao comportamento social daqueles
tempos.
A bajulação, o falar mal da vida alheia, a necessidade do casamento como forma de proteção econômica
e também do falatório social em relação a uma moça solteirona, sem casamento.
Candoca era a irmã mais velha das quatro filhas que tinha João de Souza, as outras filhas Miloca,
Rosinha e Marieta.
- Nenhum. Era noivo manicaca.
As moças riram-se. – Manicaca é o que e dirigido pela noiva, é o marido governado pela mulher. Manicaca?
Repetiram rindo-se, as moças.
Eram, além de Miloca, três filhas de um velho peralta, o João Sousa, antigo empregado da província, já
aposentado. A mais velha, a Candoca, a mais alta e a menos bonita, era uma solteirona rabugenta, senhora de
um nariz respeitável que prometia bom pois para os óculos futuros.
A obra faz também referência à moeda que o país utilizava na época; o mil Réis.

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“A PA Z E S T Á N A B O A E D U C A Ç Ã O ”
O tipo social que Abdias Neves mais criticou foi aquele que hipocritamente fazia o que a conservadora,
subserviente e amoral sociedade ditava como normas de ética de boa conduta. Quase sempre quem ditava o grau
de pecado de cada erro era a Igreja. Católica. Foi ela a mais criticada pelo autor que não a vida com moral
suficiente para determinar nada, afinal ela imortalmente cobrava os casamentos, batizados, missas encomendadas.
Muitas o pais tentara intervir. – Era demais. Não tinha olhos? O padre é um ganhador: uma missa custa
tanto; um batizado, tanto; um casamento, tanto. Se o pobre não tem dinheiro, o filho morre-lhe pagão; não se
casa na Igreja; não se enterra. A Igreja é uma para o pobre e outra para o rico. Os ricos merecem tudo, o pobre,
nada. A questão é de dinheiro. Por que o padre não faz como Cristo? Cristo jamais vendeu os sacramentos.
Cristo era pobre, o padre é rico, e não faz esmolas, e não reza uma novena, e não faz um sermão, não faz nada,
se os devotos não pagam seus serviços. E indagava:
- Já ouviste que um padre rezasse uma missa por sua conta, ou de outro padre? Já ouviste que fizesse
uma festa sacra sem o dinheiro do povo? Não sabes que as crianças morrem sem o batismo se faltam dez
tostões a importância que a Igreja exige, e morrem porque ali não se faz nada por menor? E terminava, convencido:
- Dize” Anda! É, ou não, uma religião do dinheiro? Jesus foi assim? Não foram os padres que inventaram o
batismo, e as cerimônias do casamento, e os dobres de sino, para ganharem a vida enriquecerem? – Queres ver
a sua moral? Indagava, ainda Jesus dizia que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um
rico entrar no céu: o padre é rico e não há, mesmo, profissão mais rendosa. Jesus mandava fazer bem ao inimigo
e perdoar-lhe as ofensas: o padre persegue os que não lhe dão dinheiro, injuria-os do púlpito e da imprensa.

CAPÍTULO II

No capítulo II trata-se da chegada de Pedro Gomes, a mulher e a filha Júlia a Teresina. Pouco tempo depois
a mulher de Pedro Gomes morreu. Este porém teve que tomar conta da filha. Abriu uma botequita e progrediu
muito, a ponto de alguns anos depois já fazer figura na capital Piauiense. A filha Júlia já era moça. Prepotente e
insuportável não era bem aceita socialmente. Entrou na escola da Sinhá Borges aos 13 anos, e aos 15 anos
saíram de lá um outra pessoa. Estava destinada a casar. Mas seus propósitos demoraram porque não era bem
quista junto à sociedade. Aos 18 anos conheceu o guardador de livros e namorador Luís Borges. Queria casar-se
com ele. Seu pai porém impediu o casamento. Tinha interesses maiores para a filha. Pretendia casá-la com
algum doutor da cidade.
Num certo dia, quando foi a uma festa em Palácio deixou a filha sozinha dizendo voltar tarde, lá pelas
madrugadas. Porém bebeu demais e já às onze horas estava de volta e encontrou a filha na cama com Luis
Borges. Correu atrás do rapaz e disparou 5 tiros não acertando nenhum. Tratou de casar a filha com o sócio
Antônio de Araújo. Um rapaz tísico, fraco, viúvo e sem vontade própria. Logo depois Pedro Gomes morre subitamente
ficando Antônio Araújo a fazer tudo que a mulher queria. Amava-a. foi quando voltou do Pará o Luís Borges.
Adoentado e amigo de Antônio foi convidado a entrar na sociedade do armazém. Não obtendo nenhuma resposta
contrária de Júlia, aceitou. Logo depois retirou-se para uma fazenda para tratar-se da doença deixando a família
e os negócios por conta de Luís Borges.

CAPÍTULO III
Este capítulo apresente a surpresa que Zeca fez para Rosinha, uma sua pretendente. No entanto, quem
chamou mais atenção foi o Dr. Ernesto. Justamente ele, o qual o Zeca falar tão mal.
A superioridade do pensamento dos habitantes do Recife sobre os de Teresina é aqui bastante enfático. Na
verdade por muito tempo a cidade de Recife tomou as rédeas do que representava de progresso, de desenvolvimento
no Brasil. Isto advém do ciclo do açúcar ainda no período das capitanias hereditárias. A faculdade de direito
movimentava os maiores pensadores da época. Por lá passaram: Castro Alves, Lima Barreto de Azevedo e outros
grande representantes das leis e da leitura brasileira.
Estendeu-se muito, sobre a função da mulher na sociedade, disse que é ela quem elabora as reformas do
futuro, inspirando ao homem as grandes idéias de emancipação e de justiça... Terminou fazendo a apoteose da
mulher de amanhã. “livre de preconceitos, espírito lavado de superstições, esquecendo o padre para viver a vida
da família, preparando os filhos para a luta.” E brindou em Rosinha a encarnação de todas as virtudes desse tipo
ideal.
A superstição, coisa de gente atrasada, pobre de espírito e economicamente falando representa de forma
bastante vulgar e depreciativa a capital do Piauí, naqueles tempos.
Não se ofendesse, continuou a outra. Não, mentira do Zeca... Mas, o que é verdade é que, quando chega
um rapaz a Teresina, começa, logo, o enredo: é uma história, é uma intriga a fim de fazer prevenções contra ele.
E ia continuar, quando um grito abafado de Candoca a interrompeu. Havia entrado, por um vidro quebrado da
janela, uma esplêndida borboleta negra, atraída pela luz, e estava poisada na parede, em frente, agitando,
mansamente, as grandes asas leves; A moça fitava-a, trêmula, assustada, vibrando toda na indefinível comoção
de supersticiosos temores. – Não é bom agouro, explicou às companheiras, que sorriam. Está pr’acontecer
alguma coisa. Não é a primeira.

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“A PA Z E S T Á N A B O A E D U C A Ç Ã O ”
Veja o que pensava doutor Praxedes e Dr. Ernesto da Igreja Católica e seus preceitos. Naqueles tempos
reinava na Europa Ocidental (principalmente na França, Inglaterra, Alemanha, Portugal, Itália, Espanha) a filosofia
do desenvolvimento, onde o industrialismo, o cientificismo (antropocentrismo) contrapunha ao religiosismo católico
(teocentrismo).
- Ora, seu colega, quem dá vida à igreja é a mulher. O padre tem todo o interesse em fanatizá-la, arrastando-
a para a confissão que a humilha e a entrega à discrição espiritual do seu diretor; detendo-a na igreja o mais que
pode, porque os perfumes que ali queimam, a música enervante que ali se ouve, aquela meia-obscuridade
entorpecem, pouco a pouco, a vontade mais dominadora, amolecem o caráter, fazendo de um temperamento
impetuoso um temperamento frouxo: obscurecem, pouco a pouco, a razão, obstruindo a inteligência de milagres
absurdos. É assim que começa a embriaguez da crença. Escute. Há intoxicação pelo álcool, como há intoxicação
pelo amor e intoxicação religiosa. A que lhe descrevi é a marcha desta última. EE ela que subjuga as massas.
Pensa você, pois, que o padre vá fazer obra oposta? No dia em que ele não puder mais prender a mulher, nesse
dia a religião terá desaparecido. E ele faz tudo para aprender; faz tudo por trazê-la debaixo da obsessão dos
santos, dos milagres, do outro mundo.
A festa na casa de Rosinha acabou com a expulsão de Zeca, após este Ter bebido demais e Ter sido
grosseiro com a moça devido a ciúmes de Sr. Ernesto que dançava com ela.
- Vamos! Disse ele ameigando a voz súplice, procurando sentar-se numa cadeira próxima. Por que está
zangada comigo? Vamos dançar a quadrilha...
Não podia. Tinha par.
- Já tem par?
- Sim, já tenho.
- Quem é? É aquele calunga? E, como não obtivesse resposta, exaltando-se: - Julga que eu morro por
dançar com você?
A moça ergueu-se da cadeira para se retirar.
- Vai embora? Vá! De um burro só se espera um coice. E afastou-se a passos lentos, cofiando o bigode.
Uma censura geral levantou-se.
- Está bêbado! Embriagou-se para Ter liberdade de dizer o que bem lhe parecesse! Afirmavam a João
Sousa, que queria polo fora. Não tomasse em consideração. Iam pedir que ele se retirasse. Era mais prudente.
- Retiro-me, sim, disse, quando lhe falaram. Mas a música vai comigo, não deixo para essa perua. Ou
então despacho.
E não houve meio de o conter. Saiu, depois de mandar embora a orquestra.

CAPÍTULO IV
Este capítulo trata do retorno de Antônio Araújo e Teresina, após um longo passeio pelo interior do estado.
Certamente D. Júlia e Luís Borges não gostaram de ver novamente o marido de Júlia de volta, afinal, eles maritalmente
na ausência de Antônio.
Como Antônio estava tuberculoso, Luís Borges não mais queria fazer as refeições em sua casa, seu
marido tuberculoso, a moléstia em franco progresso? Araújo não tomava precauções, comia em todos os pratos,
bebia nos canecos. Era o primeiro, de propósito, e não se resguardar. Era capaz de cuspir dentro do pote para
tinguijar a todos.
Neste capítulo percebemos as duras críticas que Luís Borges faz à Igreja Católica. Outros, porém, também
não a poupava, era, os estudante de Recife e Belém.
- Não, doutor, protestou o estudante. Quanto a isso em desacordo absoluto. Não sou religioso, sou um
espírito forte, emancipado das impressões da infância. Li, meditei muito e despedacei os laços que me prendiam
à Igreja, Fiquei, porém, tolerante e, confesso-lhe, que vejo com simpatia não a superstição, o culto pelo padre,
mas uma certa religiosidade, uma certa crença nas mulheres. É uma influência benéfica.
- Ora, seu colega, quem dá vida à igreja é a mulher. O padre tem todo o interesse em fanatizá-la, arrastando-
a para a confissão que a humilha e a entrega à discrição espiritual do seu diretor; detendo-a na igreja o mais que
pode, porque os perfumes que ali se queimam, a música enervante que ali se ouve, aquela meia-obscuridade
entorpecem, pouco a pouco; a vontade mais dominadora, amolecem o caráter, fazendo de um temperamento
impetuoso um temperamento frouxo; obscurecem, pouco a pouco, a razão, obstruindo a inteligência de milagres
absurdos. É assim que começa a embriaguez da crença. Escute. Há intoxicação pelo álcool, como há intoxicação
pelo amor e intoxicação religiosa. A que lhe descrevi é a marcha desta última. E ela que subjuga as massas.
Pensa você, pois que o padre vá fazer obra oposta? No dia em que ele não puder mais prender a mulher, nesse
dia a religião terá desaparecido. E ele faz tudo para a prender; faz tudo por trazê-la debaixo da obsessão dos
santos, dos milagres, do outro mundo.

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“A PA Z E S T Á N A B O A E D U C A Ç Ã O ” CAPÍTULO V
Apenas retrata o sofrimento de Antônio Araújo quanto à tuberculose. Os nervos ascendidos de Júlia devido
à mudança de Luís Bastos para com ela, o fato de acreditar que Miloca, e Luís Bastos estavam gostando era
outro fator do pleno descontentamento da mulher de Antônio Araújo.
A chantagem de Júlia dizendo se matar, se suicidar trazia na alma de Antônio um profundo sofrimento
porque acreditava que ela sofria daquela maneira por sua causa.
Fora precipitado. Obedecera a um impulso de momento e, tão contrário ao suicídio suicidava-se. Houve
uma revolta de todos os seus sofrimentos. Suicidando-se, pecava mortalmente. Sacrificando, de uma vez, o
corpo e a alma. Que diriam seus amigos? Que escândalo! Que desgraça! Nenhum padre queria acompanhá-lo ao
cemitério. Não rezariam missas por sua salvação. E tremeu. – Idiota! Voltou, porém, logo, à sua idéia absorvente:
- Que veneno fora? Arsênico?
- Que arsênico! Ora que maluquice!
- Dissesse. Queria saber, pediu ele, com as feições transtornadas.
D. Júlia afastou-se. Retirava-se. Não quis, entretanto, deixá-lo naquela persuasão e, já da de açúcar.
Convencera-se Araújo, mesmo, que ela queria suicidar-se? E saiu contarolando.

CAPÍTULO VI
Observamos neste capítulo a franqueza do chefe de família Antônio Araújo. Percebemos que, para que
aquela época, onde a família patriarcal era a única onde apenas o homem dava as ordens. No entanto, observamos
que na casa de D. Júlia e Sr. Antônio Araújo, quem mandava era ela. Ele era uma manicaca deveras, porque não
conseguia reagir o despotismo da esposa.
Araújo e a mulher entraram juntos, mas enquanto ela fazia a escolha, abrindo os sacos, ela saiu para
chamar um cangueiro que trouxesse a farinha. O plano estava executado. Apenas cruzou a porta, fechou-a e deu
volta ao cadeado, antes que Araújo se refizesse do assombro.
Foi somente quando ele viu a cilada em que caíra. Foi à porta. Bateu. Sacudiu-a. Tentou abri-la por dentro:
nada conseguiu. Chamou: - Júlia! Deixe-se de brincadeira, veja que me zango...
- Não se zangue, não, sozinho. Você está tornando vento nas celoura. Fique em paz e durma que passou
a noite mal.
- Júlia!
- Escute: vou almoçar. Não lhe mando o almoço porque lhe não faria bem: você está zangado...
- Júlia!
- Não grite; ande direito, que à tardinha venho lhe dar o resultado das eleições. Adeusinho. E foi-se embora,
sem se incomodar com ele. E só abriu a porta à 5 horas da tarde.
Quando abriu, Araújo saiu perfeitamente convencido de que era inútil revoltar-se. Tratou-se de ser mais
humilde.
Como havia, pois, de invocar em seu apoio as prerrogativas de dono de casa para obrigar, agora, a esposa
a fornecer-lhe explicações? Não podia. Tinha de ficar, e ficou, em dúvida, esperando que o acaso lhe desse a
chave do mistério.

CAPÍTULO VII
Aqui o autor cria situações para demonstrar o antagonismo que havia entre estudantes de direito formados
em Recife e a conservadora sociedade Teresinense.
Mais uma vez o autor critica o comportamento social do povo Piauiense que estava preocupado com a vida
alheia. Inventava situações num ato de “me disseram isto” que ninguém casar a filha com o Dr. Praxedes, o povo
acredita ser Praxedes o interessado no casamento fazendo desse um negócio num jogo de interesses.
O falatório da vida alheia chegava a tanto que ao invés de terem as moças, piedade de Mundoca que se
vestia mal, humilhavam-na em pleno público com risadas estrondosas, deixando-a muito sem ambiente nas
festas em que era obrigada pelo pai a ir.
Continuavam, entretanto, na sala, os comentários:
- Bonita mobília!
- Se fosse nova...
- Não é?
- Qual! Esta eu conheço muito. Era de um oficial do 35º. Faz um figurão! Está bem conservada, bem
limpa... E assim é o mais, tudo velho. Eu mesma não queria! E a Emília Figueiredo, que explicava isso a Rosinha,
afastou uma cortina e, debruçava na janela, ultimou, torcendo o beiço num gesto de desprezo: - Um doutor! Faz
até vergonha!! Comprar móveis usados!...
Quando se casou com Praxedes sentiu-se vingada das amigas que pilheriavam dela, agora morriam de
inveja deste casamento com o partido mais cobiçado de Teresina. O narrador também vinga-se da sociedade.
Piauiense casando Mundoca com Praxedes. O tempo todo ele critica o comportamento de todas as classes
sociais da capital do Piauí.

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“A PA Z E S T Á N A B O A E D U C A Ç Ã O ”
Freqüentava as reuniões dançantes apenas para satisfazer o velho. Retirava-se cedo, depois da primeira
quadrilha, ansiosa por voltar ao seu isolamento. É durante o pouco tempo que ficava nos salões, que martírio!
Sentia-se mal no meio da alegria ruidosa das companheiras, compreendendo, por instinto, que lhes era inferior
em beleza e em elegância, percebendo que a tomavam, sempre, para troça. Faltava-lhe, e sabia, o requinte, o
gosto estético que dá o trato da boa sociedade. Seus vestido ressentiam-se disto e, não raro, elas vinham em
grupos de duas e três, muito sérias, com um ar de novas perguntas, - com esse prazer que nós tempos de
atormentar a outrem, com esse gozo perverso que o trabalho de uma larga evolução histórica apenas atenuou,
não extinguiu. E o velho rancor do homem contra o homem. É ele que explode na gargalhada que soltamos
assistindo a uma queda. É ele que nos faz rir de certos defeitos que deveria, antes, causar piedade. É ele que nos
leva a procurar, sempre, em redor, - em casa, na rua, nos salões, na igreja, alguém sobre quem recaia o espírito
motejador que está no íntimo de cada um de nós.
A superstição que tomava conta da sociedade metida pelos padres católicos é criticado pelo narrador.
Calaram-se todos à espera de pormenores. Não queriam interromper o médico que concluiu, afinal, olhando-
os sempre por cima dos óculos: - É um casamento de interesse, mas permita Deus que eu me engane. Creio que
vai amargar. Logo em que dia se casam, - numa Sexta-feira! Por que não demoram um dia mais e não deixam
para amanhã que é Sábado?
- Porque o Dr. Praxedes entende que isto de casamento no Sábado é coisa de povinho. Quer ser original
até na escolha do dia do casamento! Explicou o Chaves.
- No Nepomuceno levantara-se. Relanceou a vista pela sala procurando a oculta originalidade e, sem a ver,
replicou: - Mas e a Mundoca e o coronel Machado que nasceram e foram neste costume, e sabem que a Sexta-
feira é um dia aziago?...
A visão anti-clerical de Praxedes, Luís Bastos e outros era abominada pelos católicos. Os padres instigavam
as velhas beatas contra todos aqueles difamadores do catolicismo, chamando-os de hereges.
Através do texto abaixo você perceberá que no final do século XIX havia quem ainda defendesse a “Inquisição”
executada pelo Tribunal do Santo Ofício.
Criou-se a famosa “exagese bíblica” e afirmou-se que Moisés não escreveu o Gênese, nem coisa nenhuma.
E ainda você admira-se! Jesus não é mais um Deus: os mais tímidos afirmam que é um homem notável: os mais
extravagantes, que é um doente, um degenerado “morto prematuramente, na cruz, por uma síncope facilitada
pela existência de uma expansão pleurética”, outros negam, mesmo que haja existido. Tudo isso nós, os católicos,
sofremos, de braços cruzados, sem poder reagir. Ah! Seu Chaves! Só a fogueira, só a Inquisição. Sem o Tribunal
do Santo Ofício estamos perdidos, porque caminhamos para a corrupção a passos agigantados.
O Chaves ouvia silencioso. – A inquisição? As fogueiras? O Santo Ofício? Soberbo. Os católicos, em
verdade, devem andar tristes. Se voltássemos à Idade Média, é indubitável, o catolicismo recuperaria o seu
esplendor. Ia chegar a casa. – O doutor não entra?
- Não.

CAPÍTULO VIII
A realização do casamento de Mundoca se dá, na igreja e no civil, neste capítulo. O narrador deixa-nos
cientes de todas conversas e pretensões dos convidados: observar os trajes de cada pessoa presente.
A questão dos disparates, das choramingações, do agouro que os pobres fazem quando casa-se alguém
na família.
Rosinha se não convencia. – Sim, lembrava-se. Qual, porém, o costume? A moça chora, agarra-se aos
irmãos, à mãe, ao pai, antes de sair pro casamento e entra na sala com uma fisionomia de causar dó. Fosse e
o juiz e perguntava se casava contra a vontade. Não pensam assim? É preciso que não tenha amizade ao noivo
para se entregar em prato.
Preso às convenções, Rosinha, aqui representando toda a sociedade Piauiense, pergunta-se Mundoca
não vai casar-se na Igreja. Ela, porém, diz que casamento na verdade é o civil. Observa-se que são palavras de
Praxedes que não perde oportunidade para criticar a Igreja Católica. Vilipendiá-la pelos seus interesses econômicos
únicos.
- Espera, disse Rosinha, muito admirada; as flores são distribuídas depois do casamento.
- E então? Perguntou-se ela.
- Não te casa na Igreja? Deixa para a volta.
- Já estou casada. A ida à igreja é um simples formalidade, sem valor. Quem casa é o juiz, não é o padre.
Vai. Distribui as flores. E foi sentar-se junto ao marido.
Dr. Nepomuceno, médico da cidade, também é criticado durante toda a obra por seu comportamento
beato.
O torrado era a sua mania. Dizia, sempre, que o usava desde os bancos da Faculdade. Era a sua panacéia,
o agente terapêutico de todas as doenças. E que gente! Capaz de elevar espírito às mais próximas vizinhanças
da genialidade. Não conhecia elemento mais poderoso. Era o seu grande auxiliar no estudo da medicina.
- Grande auxiliar, com efeito, costumava dizer o velho Machado. Tão grande que o nosso amigo aprendeu
demais.
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“A PA Z E S T Á N A B O A E D U C A Ç Ã O ” CAPÍTULO IX
O capítulo IX não passa de digressões que tratam do Sábado após o casamento (Sexta-feira) de Mundoca
e Praxedes. As pessoas começaram a aparecer na casa dos recém-casados a partir das nove horas. Almoçaram
e foram durante todo o dia, entrando noite-a-dentro no baile promovido por Praxedes com a banda de música da
política.

CAPÍTULO X
Este capítulo não passa de divagações superficiais e sem importâncias. Trata-se apenas da ilusão que
teve Antônio Araújo que D. Júlia estava grávida e por isto estava tão arredia com ele. Mas não passou de pura
ilusão que descobrira num dia pela manhã quando percebeu que a mulher menstruava. Ficou profundamente
cocado porque a esperança do filho era sua única alegria.
Uma hora, ainda, de espera, e preparava-se para sair, quando D. Júlia se ergueu. Aproximou-se dela.
Recuou, porém, no mesmo instante, imensamente pálido: vira-lhe no cambre a presença do fluxo catamenial.
Aquele sangue afogava o filho que a sua imaginação alimentara com o maior carinho durante alguns dias. Aproximou-
se novamente: lá ficavam as grandes nódoas rubras trazendo-a realidade. Sentiu uma comoção terrível. Viu
derrocar-se o seu castelo encantado. A sua ilusão desapareceu e ele se não conteve: caiu na rede, chorando
alto, soluçando desoladoramente.
- Credo! Exclamou D. Júlia, que não compreendia o que passava. Parece maluco! Que foi? Não respondeu:
soluçava.
- Hein? Que foi?
Não tinha coisa nenhuma, Deixasse-o, pediu, escondendo a cabeça entre os lençóis.
D. Júlia, antes de sair, olhou-o por algum tempo. – Ora que maluquice! Não tem nada e chora como menino
pagão! Compreenda-se isto!
Tinha embolado e atirado o chambre para um cesto de roupa suja. Saiu.

CAPÍTULO XI
Todo o capítulo trata da dor sentida por Antônio Araújo quanto ao abandono do quarto pela mulher indo
dormir em outro quarto e a tristeza da situação que encontrava sua saúde. A única esperança e única amiga de
verdade era a filha Miloca. A esposa Júlia queria vê-lo. A esposa Júlia morto o quanto antes.
O destino, a premunição que veio bater à sua porta trouxe-lhe profundas angústias, sofrimento e medo de
morrer e deixar Miloca ainda menina.
O outro escarrou, tossiu, tornou a escarrar. Araújo compreendeu que ele ia cantar e mais se aborreceu. –
Ainda esta.
Fora, sob o grande céu côncavo, pesado de estrelas, subiram duas vozes, acompanhadas a violão, cavaquinho
e flauta. Araújo ouviu:

“Do peito sinto desprender-se a vida


que me pungia com tamanha dor;
mas a minh ´alma não se vai sentida
nem o sepulcro me produz horror!”

Araújo estremeceu. Ergueu-se involuntariamente, de rede e passou a mão pela fronte alagada de suor. Era
seu destino que ouvia aqueles versos. Passou, novamente, a mão pela fronte, suspirou e ficou atento, agitado,
atraído para a modinha.
A flauta fez umas variações e o trovador recomeçou:

“Ai! Não me chores que não vale a pena,


não fui amado enquanto amor senti,
nem a existência me correu amena,
- pobre poeta que a cismar vivi”

CAPÍTULO XII
Meio lúdico, o narrador extrai de sua imaginação este capítulo que data-se de 1º de novembro, véspera de
finados. Percebe-se todo tipo de trama: a mulher do Chaves gorducha que vai visitar o doente e procura seduzi-la
à religião católica. Queria-o religioso. No entanto, com a chegada de Luís Borges, o amante de Júlia, com
finalidade de bisbilhotar se era ela, a mulher do Chaves a mandante da carta anônima, intitulada “Sentinela”.
É a carta anônima encontrada na janela que move todo o capítulo, além, é claro, a profunda comoção de
Júlia após a confissão de todas as suas culpas e dos maltratos e Antônio Araújo Arrependida de tratá-lo mal, até
que tentou se aproximar dele, mas o asco que este lhe causava não o permitiu.

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“A PA Z E S T Á N A B O A E D U C A Ç Ã O ”
No dia seguinte à discussão com o marido, ao abrir D. Júlia as janelas, pela manhã, encontrou uma carta
dirigida a Araújo. Apanhou-a curiosa, virou-a de um lado para outro, releu o sobrescrito procurando adivinhar a sua
procedência. Não conhecia a letra. Pareceu disfarçada. Mas, por que disfarçada? Teve uma suspeita. Veio-lhe a
idéia de um perigo desconhecido. Ficou pálida. Estava indecisa, posto, costumasse abrir as cartas de Araújo.
Virava, tornava a virar o envelope misterioso, com as mãos frias, tomada de receio. – Que será? Não é coisa boa.
E vinham os pensamentos em tropel, atordoando-a.
- Uma carta anônima? Devia ser. Abriu-se e coreu os olhos procurando a assinatura. La estava: Sentinela.
Não se enganara. Uma carta anônima. E lendo-a, rapidamente, parecia-lhe reconhecer a letra. Releu:
“Araújo,
Seu amigo, cumpro o penoso dever de chamar sua atenção para o que se dá, atualmente, em sua casa.
Ninguém o ignora mais. Comenta-se a sua enorme desgraça. Encha-se, portanto, de coragem para saber que
seu sócio abusa da sua boa fé, tornou-o o amante de sua esposa.
Se quer conhecer a verdade, vigie, espreite os dois como Sentinela”.

CAPÍTULO XIII
Além do dia dos finados concorridissimo num ir e vir ao cemitério como se fosse um passeio normal e
agradável para os habitantes de Teresina. Era a falta de diversão. Poucas festas, bailes e comemorações. As
mulheres ainda tinham menos que fazer ainda tinham menos que fazer ainda já que, os bailes eram coisas
apenas dos solteiros. Uma forma de arranjar casamento.
Outro fator concomitante para o fleumático fanatismo das mulheres era o pouco que fazer na capital
Piauiense. Os padres, no entanto, sabendo disso usava da boa fé e da carência das senhores, pondo-as a serviço
da igreja.
- Exagero? É a lição dos fatos, acredite. Quer saber? O Praxedes não perde a ocasião de pregar contra o
fanatismo.
Outra carta anônima, via correio aparece na casa de Antônio Araújo, mas Luís Borges a recebendo não se
contém e a lê num frêmito de medo e revolta quanto àquele ato covarde do mandante.
E as suas previsões realizaram-se. Um tarde, trouxe o correio uma carta dirigida a Araújo. Luís Borges
recebeu-a e, apenas viu a letra do envelope, empalideceu: era a da outra. Na vacilou. Abriu-a e leu-a de um fôlego.
Era mais extensa e mais incisiva. Citava fatos. Referia-se à primeira e onde fora deixada, tendo dúvidas se
chegara ao destino. Prometia fazer outra, dez, vinte, quantas julgasse preciso, até certificar-se que iam à suas
mãos. Esperava o seu procedimento “de marido ultrajado, duplamente ferido pela infâmia da mulher e pela deslealdade
do amigo”. Não vacile, dizia o Sentinela, terminando. Desafronte-se. Dê a sociedade um exemplo duradouro que
não seja esquecido. Não se acovarde e nem perdoe. Expulse-a. Seja homem, ao menos, uma vez em sua vida.
Júlia de tanto martelar o pensamento consegue juntar as aparências das letras e compara as cartas ao
bilhete que recebera do padre, desculpando-se pelo mal entendido do dia da unida confissão que Júlia fez com
ele. Padre Jacinto.
Alta noite, entretanto, fez-se, de repente, a luz em seu espírito. Sentou-se na rede. Coordenou lembranças.
E pareceu-lhe que descobrira o anônimo. Não podia se outro. Era ele mesmo, tinha maiúsculas o atraiçoavam.
Não pudera disfarçá-las o bastante para não serem reconhecidas. Era o padre Jacinto. Guardara dois bilhetes
que lhe fizera depois da cena da confissão. Lá estavam os mesmos traços finos, cheios de rabiscos, empinados
para trás. Era ele. Havia de fazer o confronto e expor o canalha, Bandido! Abusando do segredo da confissão,
vingava-se do seu desprezo, do seu silêncio, do seu orgulho, na esperança, talvez, de possuí-la depois. – Padre
infame! Abusa da confissão que, levianamente, lhe fiz, num momento de loucura, e quer praticar comigo o que
parece tem feito com outras desgraçadas!
O rapaz pensou um instante. Um meio... Ah! Espere! Disse ele, mais calmo. Há um, de resultado seguro.
Vou usar o mesmo expediente. Amanhã ele recebeu uma carta anônima dizendo-lhe que, se continua, alguém
lhe tomará uma destas madrugadas. Verá se continua. E agora veja lá se ainda arranja outra confissão.
Admoestações já comentadas nos capítulos anteriores, tais como: a questão da opressão do catolicismo
a seus súditos e antagonismo de Praxedes, de Ernesto, de Chaves e de Luís Bastos contra a hipocrisia e
despotismo religioso da igreja abusando da boa fé e ingenuidade da população.
Outro fato ocorrido no capítulo, é a morte da Candoca, a filha mais velha de João Souza. Beata e religiosa,
adorava a religião católica fazendo todos os pedidos de padre Jacinto. Via-o como a um Deus, pois ele assim se
portava.

CAPÍTULO XV
Neste capítulo Antônio Araújo descobre por si mesmo a traição de Júlia e Luís Borges a ele. Teve ímpetos
de matá-los. Porém, como o próprio título da obra refere-se a seu caráter fraco e imbecil (manicaca) perdoou a
mulher pensando que ela só fez aquilo num momento de muita fraqueza. Para vingar-se e retomar o seu direito de
marido, resolveu liquidar a loja e ir morar na fazenda que possuía no Angelim de Baixo. A surpresa aconteceu
com o balanço da loja constando um prejuízo (débito) de 31 contos. Estava falido. Luís Borges havia fugido porque

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“A PA Z E S T Á N A B O A E D U C A Ç Ã O ”
noticiaram que atravessara o rio Paraíba. Era o fim. Perdera a mulher e a fortuna de uma só vez. Era a vitória do
inescrupuloso Luís Borges o qual fora confiado tudo que Antônio tinha.
Estremeceu. Voltou-se para a porta e foi quando viu que, nas trevas, luminoso e rubro, o pequeno orifício da
fechadura. No mesmo instante, chegaram-lhe aos ouvidos palavras dispersas de uma conversa travada à meia-
voz. Estavam, dentro, duas pessoas; mas, o que acabou de pasmá-lo, foi aparecer-lhe que uma das vozes era de
homem e que a conhecia.
De repente teve uma idéia que não o deixou mais: - Se morresse? Se suicidasse? Esquecera a filha.
Desprendia-se do mundo, sentindo cortados os elos que o prendiam. A imensidade de sua desdita absorvera-o.
A morte era o consolo supremo, a redenção de todas as desventuras. E não teve a menor vacilação: tateou as
trevas, empunhou a pajeú e ergueu o braço...

Ninguém deu notícias. O Leônidas não vira desde a véspera.


- Mas então desapareceu? Perguntou, sem esconder a surpresa.
À tarde, o rapazinho voltou, depois de haver, novamente, percorrido a cidade. Não obtivera informações. Só
à noite, soube Araújo, por um cangueiro, que Luís Borges atravessara o Parnaíba e tomara o trem de Caxias. –
Fugiu, pensou ele. Mas, por que fugiu? Saberá que descobri a sua infâmia?
Espreitou D. Júlia por duas noites, esperando descobrir a razão daquela fuga inesperada. Alegre. Continuava,
porém, a evitá-lo – o que não era difícil porque ele passava o dia inteiro atarefado com o balanço.
A liquidação ia prosseguindo, em boa ordem. Estava a terminar. Dois dias mais e terminaria.
Só nessa ocasião conheceu Araújo a brutalidade do golpe que o ferira. O balanço acusou a existência de
12:000$000 em mercadorias e 14:000$000 em dívidas, o que dava a soma total de vinte e seis contos. O débito
era de trinta e um contos. Todo o lucro, verificado, ainda, há poucos meses, desaparecera.
Estava roubado,

CAPÍTULO XVI
O décimo sexto e último capítulo trata da mudança de Antônio para a fazenda do Angelim de Baixo.
Porém como a mulher não quis ir com eles alegando não poder montar, que fossem sozinhos e que no Sábado,
Luís Bastos havia carregado com Júlia e as malas que restavam. Era o fim para Antônio que, sentindo-se traído,
afinal a mudança para a fazenda era uma forma de punir a mulher pela tração e ao mesmo tempo resgatá-la para
si.
Contou, porém, muito com as forças esgotadas. Cansou, rapidamente. Quase não podia andar. Era por um
esforço sobre-humano que se arrastava quando avistou a casa. Mas, Júlia estava ali. Chamou o resto das forças
e apressou os passos...
Era tarde, Tintou a sineta. A locomotiva soltou um ronco surdo. Apitou. Abriu as válvulas e partiu afano o
peito monstro de ferro e aço. Araújo escutou, ainda, os gemidos da máquina e viu, ao longe, o fumo negro que ela
mandava ao céu azul. Não deu uma palavra. Não soltou um grito: levou as mãos ao peito, cambaleou e caiu.

FOCO NARRATIVO – a obra em 3ª pessoa, com narrador onisciente. Trata de contar a vida pacata, sem o
que fazer do Teresinense no final do século XIX.

A Igreja é constantemente criticada. Aliás é alvo de ataques de uma minoria (Dr. Ernesto, Dr. Praxedes,
Luís Bastos, Sr. Chaves) atéia contra uma maioria católica fanática.

TEMPO CRONOLÓGICO – inicia-se falando do mês de Maria, Maio, e termina com a passagem de Natal
e início do século XX.

ESPAÇO NARRATIVA

ABERTO – ruas e praças de Teresina.


FECHADO – são dois espaços fechados da obra: casas e igrejas de Teresina. Além do espaço psicológico,
representado pelo fanatismo (Candoca, Rosinha, Marieta, Dona Eufrasina) das mulheres Teresinenses.

CLÍMAX DA OBRA – não há um clímax na obra, porque a fatalidade era já esperado acontecimento:
separação de Júlia de Antônio Araújo, indo morar com o seu primeiro homem. Aliás não era para Júlia Ter se
casado com Antônio, porque, quando seu pai, ao voltar às 11:00 de uma festa e pegá-la na cama com Luís
Bastos, após proibi-la de namorar o rapaz, era para tê-la casado com ele. Mas a teimosia e vingança do pai,
terminou com o trágico fim de arranjar um marido com poder aquisitivo para ela. É o casamento arranjado, de
interesses. Além disso era a forma dele mostrar sua força e o domínio patriarcal daquele final de século.

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“A PA Z E S T Á N A B O A E D U C A Ç Ã O ” PERSONAGENS
1 – Júlia – filha de Pedro Gomes. Casou-se com Antônio Araújo por imposição do Pai, apesar de amar Luís
Borges. Logo que casou morre o pai. Após a morte deste, Luís Borges retorna a Teresina, porque havia fugido da
cidade com medo de Pedro Gomes, após, este tê-lo encontrado na cama com Júlia na noite em que foi à festa
comemorativa de ser mais um remediado do Piauí. Antônio Araújo adoeceu e com recomendação médica foi para
uma cidade do interior tomar ares frescos na roça, deixando sua família e seus negócios na mão de Luís Borges.
Era para ele tomar conta. E tomou mesmo. Amasiou-se com Júlia e começou a roubar visivelmente ao sócio.
Júlia abandonou o marido para ir morar com Luís Borges fora de Teresina.

2 – ANTÔNIO ARAÚJO – “o manicaca” – frouxo, de pouco força no trato ao domínio da família porque
considera muito velho e feio, além de doente para ser-se o marido de Júlia. Para fazê-la sua mulher e conquistar
seu amor, fazia tudo que ela queria o que determinou na perda domínio da família. Terminou seus dias lamuriando
pelos cantos devido ao fato da tuberculose que o enfraquecia e principalmente porque se considerava uma
moleirão sem iniciativas e forças contra o domínio pleno da mulher sobre ele. Foi abandonado pela mulher Júlia,
que foi morar com Luís Bastos de Teresina.

3 – RD. PRAXEDES – é através de Praxedes que no narrador Abdias Neves mostra seus pensamentos
quanto à Igreja e quanto à sociedade Teresinense do final do século XIX.
A revolta de Praxedes contra o catolicismo e sua repressão contra tudo que pudesse contrariar seus
preceitos morais, éticos, filosóficos e ideológicos. Praxedes faz constantes digressões. Contra a igreja e
encontrando em seu caminho toda uma gama de fanáticos que submetem-se cegamente à Igreja.
4 – DR. ERNESTO – também estudava na escola de direito de Recife, assim como Praxedes. Tinha as
mesmas filosofias do amigo Praxedes: contrariar a ideologia e os princípios católicos opressores da sociedade
Teresinense.
5 – LUIS BASTOS – foi o primeiro homem a se deitar com Júlia (ainda com 18 anos). Fugiu de Teresina
para Belém do Pará. Com a morte do pai de Júlia voltou a Teresina e recebeu como árdua tarefa a de ser sócio do
marido da amada Júlia, o que ela nada protestou. Aliás foi a única vez que ela não protestou contra Antônio, seu
marido. Com a ida deste se tratar no interior recebeu como incumbência tomar conta de Júlia, Miloca e da venda.
Roubou-lhe a mulher e a fortuna, pois deixou-lhe 31 contos de Réis em dívida, obrigando Antônio a entregar a asa
onde morava e a venda com tudo que havia dentro em troca da dívida, obrigando-o a ir morar na fazenda que
possuía no interior do estado.

6 – MILOCA – filha de Antônio Araújo. Foi exilada pelo pai no início do casamento, porque Júlia sua mulher
tinha implicâncias contra menina. Foi a salvação do pai em seus dias de delírio devido à tuberculoso que enfestou
nele.
7 – MUNDOCA – filha do rico comerciante Antônio Machado. Sem expressões de beleza, mas com uma
alma e espírito diferentes das outras mulheres que habitavam Teresina naquela época. Não metia com a vida
alheia a fazer críticas e observações. Como prêmio recebeu como marido simplesmente o melhor partido da
cidade: Dr. Praxedes. Considerado o homem mais esclarecido da época. Foi invejada por todas que não acreditavam
inicialmente naquele namoro.
8 – ANTÔNIO MACHADO – pai de Mundoca. Ficou muito feliz com o casamento da filha. Afinal queria
casá-la com um homem sábio, capaz de tocar seus negócios.
9 – DR. NEPOMUCENO – (médico) O único citado na obra. Não era fervoroso, mas acreditava na seita.
Era velho. Talvez por isso. Não tinha mais a energia vitalizante da juventude que quer contrariar tudo e todos.
Talvez possuísse o mesmo fim de Abdias Neves que, na velhice converteu-se ao catolicismo.
10 – EUFRASINA – era a esposa de Chaves – fanática ao catolicismo. Portanto muito criticado pelo
narrador que, cruelmente expõe todos os seus defeitos (fanatismo e pouca espiritualidade e cultura ) e exteriores
(gorducha, feiosa e faladeira da vida alheia).
11 – CHAVES – homem simples que se não era católico e sim, maçom, no entanto impedia a mulher de
ser.
12 – JOÃO SOUZA – viúvo. Certamente funcionário público. Pai de Candoca, Rosinha, Marieta e Miloca.
13 – CANDOCA – fanática ao catolicismo, teve um triste fim, como Praxedes a condena e a todas que
subservem a uma seita com tamanho fanatismo. Morreu de menigite.
14 – ROSINHA – filha de João Souza – regateira, coviteira e bonitinha.
15 – MARIETA – também filha de João de Souza. Era menos regateira que a irmã Rosinha.
16 - ZECA - pretendente a namorado de Rosinha. Também era como as mulheres: fofoqueiro, boateiro e
mexeriqueiro.
17 – MILOCA – também filha de João de Souza.

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“A PA Z E S T Á N A B O A E D U C A Ç Ã O ” QUESTÕES DE VESTIBULAR

Marque a alternativa CORRETA quanto à obra UM MANICACA, de Abdias Neves, nas questões seguintes.

QUESTÃO 01

a) é narrada em primeira pessoa;


b) apresente o espaço da narrativa apenas como pano de fundo;
c) é narrada em poesia;
d) tem como função literária principal o ludismo;
e) Todas INCORRETAS.

QUESTÃO 02

a) tem como cenário a cidade de Teresina e este tem importância apenas como pano de fundo para
apresentar os personagens;
b) a narrativa em primeira pessoa tem em Júlia a personagem central, concorrendo com ela: Araújo e a
Igreja católica;
c) a função “catarse” é a que exerce o maior poder.
d) A função social tem papel muito importante na obra de Abdias Neves.

QUESTÃO 03
a) o estilo a que pertence a obra é o naturalismo;
b) a constante luta: catolicismo / maçonaria, representado por homem / mulher, discute o comportamento
de cada personagem na obra;
c) Luís Borges representa um personagem bestial querendo discutir a ideologia do catolicismo junto ao
bacharéis: Praxedes, Ernesto e João Souza;
d) Mundoca é a personagem presenteada no casamento com Praxedes, afinal era ela, além de muito bela,
inteligente e recatada.

QUESTÃO 04

a) a obra tem como função, além de mostrar a Teresina dos anos de 1900, tem pretensão em inseri-la no
século XX;
b) o grande propósito de Abdias Neves era colocar em discussão os males que a Igreja Católica causava
na população, instigando falatórios de pessoas alheias, preocupação com a vida social do povo; representado
aqui por padre Jacinto:
c) Padre, Jacinto, conforme é mostrado na obra, utiliza-se do confessionário para delatar a vida alheia;
d) A vida pacata da capital Piauiense no final do século XIX, o crescente comércio e o êxodo rural tem
importante papel para com o empobrecimento do estado do Piauí;
e) A-B e CC são CORRETAS.

QUESTÃO 05

a) a maior briga entre católicos e maçons era política;


b) a maior questão entre católicos e maçons era a ideologia;
c) Candoca morreu de menigite. Tinha como função maior a veneração ao Pai, João Souza;
d) Abdias Neves pretende com a obra elevar sua cidade a um pólo crescente da literatura nacional.

GABARITO: 1-E, 2-D, 3-A, 4-E, 5-B.

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